Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Brasivianos perspectivas de uma educação intercultural ana goncalves
1. Brasivianos: Perspectivas de uma Educação Intercultural
Ana Lúcia Novais Gonçalves
Introdução e Justificativa
A Globalização é conhecida como um fenômeno que vivenciamos atualmente,
nela são extintas fronteiras entre países numa tentativa de integração em aspectos
políticos, sociais, culturais, econômicos etc.
Este fenômeno ocorre pela necessidade da dinâmica do capitalismo, no qual os
países “desenvolvidos “ precisam expandir seu mercado interno aos mercados externos.
Os impactos produzidos pela globalização sobre as sociedades no cenário mundial, de
um modo geral, têm gerado diferentes processos de exclusão intensificando, assim, as
desigualdades entre povos. Tais reflexos podem ser sentidos tanto na esfera
socioeconômica, como no âmbito educacional e cultural.
De acordo com Candau, a globalização pode ser vista em vários ângulos entre os
quais o econômico, mostrando que:
a globalização no plano econômico é um processo de desfazer fronteiras e
pensar o mundo como um todo comunicável por regras e práticas comuns,
que devem ser adotadas por todos indistintamente. Nesta perspectiva,
muitas são as vantagens apregoadas a globalização: um mercado sem
limites entre nações, ideal de liberdade máxima que se auto-regula,
abrindo inúmeras perspectivas pros países de todos os “mundo.
(CANDAU, 2002, p. 13).
É importante ressaltar que, a globalização expandiu e destacou as desigualdades
sociais, tanto entre continentes e países, como no âmbito regional e local; ela acarretou
conseqüências tanto para o trabalho, como para educação e cultura.
No que se refere ao trabalho, a globalização foi ampliando o desemprego em
detrimento da empregabilidade, sobretudo, nos centros urbanos, onde se verifica a
expansão de crescentes problemas tais como: bolsões de miséria, pobreza e violência.
a globalização da economia torna cada vez mais visível o
terceiromundismo dos centros urbanos, revelando uma massa de
excluídos, a polarização de classes, gênero e raça, com crescente número
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de sem-terra, sem-habitação, carentes de serviços urbanos básicos. Se a
cidade global tem a face de muitos lugares, marcas de outros povos,
diferentes culturas, por ser lugar de imigração, é também espaço de não-
lugares, do transitório, do não-identitário e histórico. (VÉRAS, 1999,
p.13).
Neste contexto da globalização iremos analisar a educação Intercultural.
Entendemos que a educação faz parte da cultura e ela exerce um papel fundamental na
compreensão da realidade social. Faz-se, portanto, necessário empreender processos
educativos que procurem pensar uma sociedade em que cada sujeito social que nela
habita possa aprender a viver junto compartilhando saberes.
Deste modo, a cultura torna-se um dos elementos fundantes de compreensão do
mundo em que vivemos e do lugar no qual estamos inseridos. Por outro lado,
concordamos com Veiga-Neto quando afirma que: “a cultura é central não porque ocupe
um centro, uma posição única e privilegiada, mas porque perpassa tudo o que acontece
nas nossas vidas e todas as representações que fazemos desses acontecimentos”.
(VEIGANETO, 2003, p.6).
Definir cultura pode parecer bastante complexo, porém numa visão antropológica
entendemos como uma rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um
individuo. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores,
costumes, leis, moral, línguas etc.
Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a interculturalidade na educação,
tendo como referências as propostas de Freire de uma educação como cultura.
Salientamos que a educação intercultural possibilita uma prática pedagógica cuja
ação educativa, favorece o encontro entre culturas, viabilizando, dessa forma, o diálogo
entre os saberes.
Para tanto, faz-se necessária uma educação intercultural dentro do contexto da
globalização a fim de promover o respeito entre as diferentes culturas.
Contudo, trataremos neste projeto especificamente do município de São Paulo –
Brasil do qual observamos receber a cada ano maior número de estrangeiros bolivianos,
que já passam de 50 mil segundo o Consulado da Bolívia.
Nesta perspectiva iremos analisar o caso dos imigrantes bolivianos na cidade de
São Paulo especificamente na região central nos bairros do Brás e Pari.
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Este artigo tem o objetivo de analisar a educação brasileira numa perspectiva
intercultural, ou seja, entendendo o aluno como centro do processo educacional tendo
direito a sua vez e voz, que seja compreendido e possa compreender independentemente
de sua etnia.
Problematização
• As escolas com maior números de bolivianos levam em conta a
cultura desses alunos?
• Promovem uma educação Intercultural?
Categorias de análise
Imigração, Inserção, Interculturalidade, Educação.
Objeto
Por meio dos estudos já levantados, iremos investigar a inserção de bolivianos na
cidade de São Paulo.
Teremos como norteadores para tal pesquisa, as seguintes hipóteses:
• A busca de melhores condições de vida é o principal motivo para a
imigração ao Brasil.
• Quando chegam ao Brasil sofrem discriminações de várias espécies.
• A grande maioria dos bolivianos chega ao Brasil de maneira ilegal, não
conseguem emprego registrado e muitos realizam trabalho escravo.
• As crianças bolivianas recentemente chegadas ao Brasil, quando
matriculadas no ensino fundamental não conseguem acompanhar a
aprendizagem, não são compreendidas em sua língua materna e nem
compreendem a língua ministrada nas aulas( português).
• Crianças bolivianas deparam com fracasso escolar ao ingressarem no
Brasil.
Universo
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Imigrantes bolivianos na cidade de São Paulo especificamente na região central
nos bairros do Brás e Pari, sendo analisadas quatro escolas com maior número destes
alunos. Entre elas:
• E. E. Padre Anchieta;
• E.E Prudente de Morais;
• E.E Eduardo Prado;
• E. E. Marechal Deodoro.
Metodologia
Para realização do presente artigo, fizemos pesquisa de campo composta por
questionários abertos e fechados, entrevistas com alunos bolivianos e seus familiares e
análise dos projetos políticos pedagógicos das escolas citadas anteriormente.
Referencial Teórico
Numa perspectiva Intercultural da educação, teremos como referencial teórico as
idéias de Paulo Freire nos Círculos de Cultura em seu livro intitulado Educação como
prática da liberdade (1983), onde nos oferece uma explicação complexa sobre tais
Círculos :
Em lugar de escola, que nos parece um conceito, entre nós, demasiado
carregado de passividade, em face de nossa própria formação (mesmo
quando se lhe dá o atributo de ativa), contradizendo a dinâmica fase de
transição, lançamos o Círculo de Cultura. Em lugar do professor, com
tradições fortemente “doadoras”, o Coordenador de Debates. Em lugar de
aula discursiva, o diálogo. Em lugar de aluno, com tradições passivas, o
participante de grupo. Em lugar dos “pontos” e de programas alienados,
programação compacta, “reduzida” e “codificada” em unidades de
aprendizado (Freire, 1983:103).
Com isso, podemos compreender que o contexto destes Círculos de cultura
permitem a percepção da seriedade e da profundidade educacional com que os trabalhos
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são realizados, voltando-se à construção de um currículo com base na cultura dos
participantes.
Outra autora que irá nos nortear será Vera Maria Candau, pois a mesma tem
realizado diversos estudos acerca da Educação intercultural.
Nesse sentido, Candau (2000) entende a educação intercultural:
Um processo permanente, sempre inacabado, marcado por uma deliberada
intenção de promover uma relação dialógica e democrática entre culturas
e os grupos involucrados e não unicamente de uma coexistência pacífica
num mesmo território. Esta seria a condição fundamental para qualquer
processo ser qualificado de intercultural ( CANDAU, 2000, p. 56).
A partir dessa perspectiva a concepção de Educação é ampliada, passando a ser
entendida, como salienta Fleuri (2003, p. 20):
[...] como um processo construído pela relação tensa e intensa entre
diferentes sujeitos, criando contextos interativos que, justamente por se
conectarem dinamicamente com os diferentes contextos culturais em
relação aos quais os diferentes sujeitos desenvolvem suas respectivas
identidades, torna-se um ambiente criativo e propriamente formativo [...].
Para a escola, ficar alheia nesta problemática significaria praticamente como
tratá-la com seus meios e fins em si própria, destituindo seu valor como instituição
social, transmissora e produtora de cultura(s) que, juntamente com outros fatores, são a
base para a construção de novos conhecimentos e para a aprendizagem dos sujeitos
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