DOENÇA DE JORGE LOBO E A IMPORTÂNCIA DE SEU ESTUDO PARA A PATOLOGIA ANIMAL E PARA A PATOLOGIA HUMANA - SOUZA et al. (2013)

Artigo científico de revisão sobre lacaziose. Disponível em: <https://riee.ufjf.emnuvens.com.br/riee/article/viewFile/2847/1058>. Acesso: 20 ago. 2017.

39
Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013
ARTIGO DE REVISÃO
DOENÇA DE JORGE LOBO E A IMPORTÂNCIA DE SEU
ESTUDO PARA A PATOLOGIA ANIMAL E PARA A PATOLOGIA
HUMANA
JORGE LOBO’S DISEASE AND ITS STUDY IMPORTANCE FOR HUMAN AND ANIMAL MEDICAL
CONDITIONS
Samara Pinheiro de Souza*
, Pedro Henrique Andrade Rizzutto*
, Renato Ferreira Silveira*
, Andressa Terra Paiva*
, Anna Marcella Neves Dias**
,
Pietro Mainenti***
Resumo
A Doença de Jorge Lobo é uma micose subcutânea que tem como agente etiológico o fungo Paracoccidioides loboi.
Este fungo pode infectar tanto humanos quanto golfinhos. O primeiro caso em humanos foi registrado no Brasil em
1931. A história natural da doença se inicia pela instalação do microorganismo nos tecidos subcutâneos e as lesões
são nodulares, isoladas, com aspecto queloideano, acometendo principalmente o pavilhão auricular e os membros
inferiores e superiores. Geograficamente, esta micose ocorre mais em regiões de florestas densas, quentes e úmidas.
O presente artigo teve por objetivo mostrar as características da doença em homens e em golfinhos.
Palavras-chave
Micose subcutânea. Blastomicose queloideana. Doença de Jorge Lobo.
Abstract
Jorge Lobo’s disease is a subcutaneous mycosis caused by the Paracoccidioides loboi, which can infect both humans
and dolphins. The first case in humans was described in Brazil, in 1931. The disease´s natural history initiates after
the infection by the microorganism. The lesions are solitary nodular keloid-looking that arises, mainly, in the ear
and in the upper and lower limbs. Geographically, this mycosis shows itself in dense, hot and humid forest regions.
This article aimed the presentation of the disease in humans and dolphins.
Keywords
Subcutaneous mycosis. Keloid blastomycosis. Jorge Lobo’s disease.
	 Correspondence author: Pietro Mainenti. pietromainenti@terra.com.br.
UNIPAC - Campus Juiz de Fora. Av. Juiz de Fora, 1100. Granjas Betania,
Juiz de Fora – MG. CEP 36047-362
*
	 Acadêmicos do Curso de Medicina. Universidade Presidente Antônio Carlos-
Unipac Juiz de Fora/MG. sampdesouza@yahoo.com.br
**
	 Mestre. Professora do Curso de Medicina. Universidade Presidente Antônio
Carlos-Unipac Juiz de Fora/MG. annamarcelladias@yahoo.com.br
***
	 Doutor. Professor do Curso de Medicina. Universidade Presidente Antônio
Carlos-Unipac Juiz de Fora/MG. pietromainenti@terra.com.br
	 Received: 04/2012
	 Accepted: 10/2012
1 INTRODUÇÃO
As micoses subcutâneas são causadas por agentes que vivem no
solo, em vegetais e em animais de vida livre que se implantam na
pele humana por meio de traumatismos com objetos e materiais
contaminados. A Doença de Jorge Lobo, também denominada
lacasioze, lobomicose e blastomicose queloideana, é uma micose
subcutânea que tem como agente etiológico o fungo Paracoccidioides
loboi, também denominado Lacazia loboi. Após instalação do
microorganismo, aparecem lesões nodulares isoladas e coalescentes
de aspecto queloideano, que acometem, principalmente, o pavilhão
auricular e os membros superiores e inferiores. A doença tem
evolução longa, durante a qual o estado geral do paciente não é
comprometido. (TABORDA et al, 1999; MCADAM; SHARPE,
2010)
O maior foco de incidência desta micose está em áreas das
Américas Central e do Sul, especialmente na bacia do Rio Amazonas
e ocorre, mais frequentemente, em indivíduos do sexo masculino
que trabalham como seringueiros, garimpeiros e lavradores, uma
vez que estes têm contato constante com solo e vegetais. No Brasil,
o primeiro caso da doença foi descrito em 1931, em Recife, pelo
dermatologista Jorge Lobo, de quem recebeu sua denominação
mais popular. O paciente, de 52 anos, era seringueiro na região
amazônica e apresentou, por 19 anos, os sintomas da doença. Em
1971, foi observado o primeiro caso em um golfinho na costa
atlântica da Flórida. A partir de então, vários casos em cetáceos têm
sido confirmados e vêem se tornando objeto de estudos. (GUEDES,
2010; TRABULSI et al, 2002; LACAZ et al, 1986)
O diagnóstico da Doença de Jorge Lobo se dá a partir da
realização de exame histopatológico da lesão, o qual revela,
microscopicamente, um infiltrado inflamatório granulomatoso rico
emhistiócitoscontendoparasitas.Nãoexiste,atéentão,comprovação
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Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013
da transmissão inter-humana desta doença, sendo que a maioria
dos casos descritos é de casos isolados, sem referências à doença em
indivíduos próximos. O tratamento consiste, principalmente, na
remoção cirúrgica da lesão e no uso do antifúngico cetoconazol.
(BRITO; QUARESMA, 2007; LACAZ et al, 1986)
O presente estudo em questão teve por objetivo discorrer sobre
as características clínicas e histopatológicas da Doença de Jorge
Lobo tanto em humanos quanto em golfinhos, bem como comentar
acerca dos métodos diagnósticos e tratamento descritos na literatura.
2 ETIOLOGIA
O agente etiológico da doença de Jorge Lobo levanta discussões,
porém, o fungo Paracoccidioides loboi (Loboa loboi, Genosorella loboi),
de classificação indeterminada, não cultivável, parece ser o principal
causador das lesões. Microscopicamente, esse fungo apresenta-se
sob a forma de células globosas e subglobosas, com parede de duplo
contorno, refringentes, medindo 6,0-13 x 5,0-11µm. Reproduzem-
se por gemulação simples e podem aparecer, também, em formas
catenuladas, de 3 a 6 células, muitas delas unidas por uma haste ou
haltere, formando estrutura em rosário. (TRABULSI et al, 2002;
LACAZ et al, 1986)
Estudo realizado por Lacaz et al em 1986 com o fungo,
proveniente de lesões cutâneas em índios Caiabis portadores da
Doença de Jorge Lobo revelaram que, após o P. loboi ser englobado
pela célula fagocitária, sua parede celular sofre espessamento e gera
projeções lameliformes radiais, o que amplifica a superfície de
interação entre células parasitária e do hospedeiro. Como resultado
dessa interação, partes das projeções radiadas da parede celular são
isoladas no citoplasma dos macrófagos, o que torna estas células
repositórios de restos parasitários.(LACAZ et al, 1986)
3 A DOENÇA DE JORGE LOBO EM HUMANOS
A Doença de Jorge Lobo acomete, em sua maioria, indivíduos
do sexo masculino que trabalham em contato constante com o solo
e residem em regiões de florestas densas, de clima quente e úmido. A
enfermidade foi encontrada em brancos, negros, índios e em grupos
tribais de agricultura bem desenvolvida. (TRABULSI et al, 2002)
O início da infecção pelo agente etiológico se dá a partir de
traumatismos cutâneos, que se manifestam clinicamente como lesões
nodulares queloideanas, frequentemente indolores, acometendo,
principalmente, pavilhões auriculares, face e membros. As lesões não
comprometem tecidos mucosos em geral. Ulcerações secundárias de
infecções bacterianas podem estar presentes como complicações do
trauma. (BRITO; QUARESMA, 2007)
Em 1931, na cidade de Recife, foi descrito o primeiro
caso da doença em um paciente do sexo masculino, de 52 anos,
que trabalhava como extrativista nos seringais amazônicos. Por
aproximadamente 19 anos, o indivíduo desenvolveu nódulos
coalescentes nas regiões lombossacral e glútea. A partir deste
primeiro diagnóstico,vários casos foram relatados, inclusive fora do
Brasil. Dentre estes, o primeiro caso descrito foi no Canadá, em
fevereiro de 2001, e acometeu uma geóloga de 42 anos, com lesão
de crescimento lento, de 1,5 cm de diâmetro, indolor e circundada
por tecido queloideano, na região posterior do braço direito.
Recentemente, em janeiro de 2011, mais um caso de lobomicose
foi descrito: um amazonense, seringueiro, de 37 anos, exibia há 12
anos lesões nodulares indolores, com superfície lisa e consistência
fibrosa, no pavilhão auricular direito. Após diagnóstico, o paciente se
recusou a realizar a remoção cirúrgica da lesão e esta não respondeu
ao tratamento com o antifúngico cetoconazol. (ELSAYED et al,
2010; FRANCESCONI; FRANCESCONI, 2011)
4 A DOENÇA DE JORGE LOBO EM GOLFINHOS
Um dos fatos mais curiosos no estudo da Doença de Jorge
Lobo foi o encontro da mesma em golfinhos, sob a forma de lesões
geralmente ulcerosas localizadas, mais comumente, na cauda ou no
dorso desses animais.(LACAZ et al, 1986)
O primeiro caso de ocorrência da lobomicose em golfinho
ocorreu em um animal capturado na costa da Flórida, e foi descrito
por Migaki et al (1971). Ao longo do tempo, casos semelhantes vêm
sendo relatados. O caso descrito por Symmers (1983) foi o primeiro
que ocorreu em águas européias, onde um funcionário de aquário
foi ferido por um golfinho e apresentou o diagnóstico da doença
três meses após a morte do animal. Em 2004, um cetáceo macho
adulto encontrado em praia venezuelana magro, com alguns dentes
esfoliados, apresentava lesões de cores branca, cinza e rosa, com áreas
hemorrágicas, bem como regiões semelhantes a quelóides e outras
com aspecto verrucoso, formando rosetas; as regiões acometidas
eram principalmente o bico e a cauda. (BERMUDEZ et al, 2009)
Embora os casos em humanos e golfinhos não terem sido
relacionados, eles sugerem o papel do ambiente úmido como provável
habitat natural para o P. loboi e como um reservatório para a infecção.
O surgimento aparente de lobomicose e outras doenças de pele em
cetáceos costeiros da América do Sul e do Oceano Índico é causa
de preocupação por poder ser indicativo de mudanças biológicas e
contaminação ambiental, incluindo alterações climáticas no mundo.
A falta de informações sobre a história natural e transmissão podem
representar um futuro problema à saúde humana. (BERMUDEZ
et al, 2009)
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Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013
5 ASPECTOS CLÍNICOS
Na Doença de Jorge Lobo, dois obstáculos competem para que
o diagnóstico dificilmente seja estabelecido em sua fase precoce.
Primeiro, a maioria dos pacientes busca assistência médica anos
após o aparecimento inicial da lesão cutânea. Segundo, a lesão
inicial não apresenta características específicas, podendo ser bastante
semelhante a doenças como hanseníase, paracoccidioidomicose
e tuberculose cutânea, dificultando o diagnóstico diferencial. De
maneira geral, quando os pacientes procuram recursos médicos,
eles referem a presença de uma ou mais lesões cutâneas, de evolução
lenta, que não responderam aos tratamentos realizados com o uso
de antifúngicos. Alguns pacientes apresentam queixas como ardor
ou prurido nas lesões iniciais e, posteriormente, parestesia. (LACAZ
et al, 1986)
Aexpressãoclínicamaiscomumdaenfermidadeéopolimorfismo
lesional, especialmente em casos crônicos. As possíveis lesões
fundamentais podem ser máculas discrômicas, pápulas, nódulos,
gomas, placas nodulares, lesões verrucosas, nódulos semelhantes
a cicatrizes queloideanas ou úlceras; dentre estas, predominam os
nódulos queloideanos. Assim, de acordo com o aspecto morfológico
clínico, as lesões receberam as seguintes classificações: infiltrativa,
queloidiforme, gomosa, ulcerada e verruciforme. O tipo infiltrativo
parece ser a forma inicial da micose e as ulcerações apresentam caráter
transitório, com cicatrização espontanea. Porém, essa classificação
sofre algumas restrições devido à dificuldade em se individualizar
cada uma das formas referidas anteriormente dado a presença de
dois ou mais tipos de lesões fundamentais em um mesmo paciente.
(BRITO; QUARESMA, 2007; LACAZ et al, 1986)
Os fatores que favorecem a disseminação da doença, e como esta
ocorre, ainda são desconhecidos. Existem pacientes que permanecem
por muito tempo com as formas isoladas ou localizadas da infecção,
sem disseminação das lesões, enquanto outros há disseminação
precoce. (BRITO; QUARESMA, 2007)
6 ANATOMIA PATOLÓGICA
Grande quantidade de parasitas sob forma de esférulas, com
espessa membrana birrefringente, de duplo contorno, são observados
dentro das lesões. Alguns fungos possuem núcleos arredondados,
outros em forma de meia lua. São observadas esférulas constituídas
apenas por cápsulas, opticamente vazias. O fungo forma cadeias
com aproximadamente oito esférulas dispostas lado a lado
formando, por vezes, estruturas tipo “halteres”, unidas por espécie
de trave curta; formas em “ampulheta”, com arranjos moriformes
ou, ainda, em arranjo de “cacho de uva”. Não há criptoesporulação
e as células filhas tendem a se afastar das células-mãe após atingir
diâmetro padrão da espécie ou muito próximo deste; ainda, as
esférulas podem ser encontradas no citoplasma de histiócitos. Logo,
o quadro histológico é, na maior parte das vezes, relativamente fácil
de caracterizar. (SILVA; MACEDO, 1997)
A epiderme, associada à lesão subcutânea, pode apresentar
aspecto normal, atrófico, hiperplásico ou ulcerado. Já no estrato
córneo observa-se, por mecanismo de eliminação transepidérmica,
presença do parasita entre as escamas e escamocrostas, identificados,
em histoquímica, por pontos negros na pele que recobre as lesões
do tipo úlcero-crostoso, como as de aspecto liso. Algumas vezes, a
epiderme é separada do infiltrado por uma faixa clara; noutras, a
reação produtiva se insinua na epiderme. O infiltrado inflamatório
é granulomatoso, nodular e difuso, constituído por macrófagos e
numerosas células multinucleadas, repletas de parasitos. Neutrófilos,
quando presentes, ocupam a derme superior nas lesões ulceradas. Nas
lesões de forma gomosa é possível registrar quadro histopatológico
característico das gomas, sendo identificado nas amostras
histopatologicas, a presença de parasitas nos limites das áreas de
necrose. (BRITO; QUARESMA, 2007; SILVA; MACEDO, 1997)
O conceito generalizado de que a lobomicose caracteriza-se por
certo monomorfismo é traduzido pela presença de lesões semelhantes
à quelóides, sugerindo a denominação de blastomicose queloideana.
Outras vezes, a lesão ulcerada é um fenômeno transitório no
quadro clínico, havendo cicatrização fácil, tal como acontece no
tipo queloideano, que pode apresentar ulcerações passageiras,
muitas vezes cicatrizando espontaneamente. Entretanto, devem-se
relatar casos que são francamente ulceradas, permanecendo como
tal durante longo tempo. O tipo infiltrativo parece a forma inicial
da micose e lembra as lesões de hanseníase, sobretudo quando
localizadas nas orelhas, não sendo o aspecto queloideano exclusivo
nesta doença. (SILVA; MACEDO, 1997)
7 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da Doença de Jorge Lobo deve ser feito a partir
do exame direto da lesão cutânea (por escarificação, raspagem ou
curetagem), de exame histopatológico, reações imunológicas e por
meio de alguns exames complementares. O exame direto de material
da lesão consiste em um procedimento simples que mostra a presença
de numerosos parasitos de forma arredondada com membrana de
duplo contorno. A riqueza de parasitas nas amostras de tecidos
ou em exsudatos corados por hematoxilina e eosina (HE) ou por
Grocott, desperta a atenção do observador. (BRITO; QUARESMA,
2007; TRABULSI et al, 2002)
Porém, existem outras doenças que apresentam morfologia
semelhante, ressaltando a necessidade da realização de diagnóstico
diferencial com hanseníase (em todas as suas formas), leishmaniose
42
Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013
tegumentar (em particular a forma difusa cutânea anérgica),
paracoccidioidomicose, cromoblastomicose, feohifomicose,
esporotricose, tuberculose cutânea, sarcoma de Kaposi,
dermatofibrossarcoma, dentre outras. (BRITO; QUARESMA,
2007)
8 TRATAMENTO
A cirurgia representa, até o momento, a melhor conduta
terapêutica, principalmente em lesões isoladas e circunscritas,
na fase inicial da Doença. Antifúngicos têm sido empregados
com resultados variáveis. Algumas drogas eficazes no tratamento
de micoses profundas mostraram resultados insatisfatórios na
lobomicose. (TRABULSI et al, 2002)
A falta de maiores conhecimentos a respeito da história natural
da doença limita uma ação preventiva. A princípio, deve-se atuar
sobre os fatores relacionados ao agente, hospedeiro e meio ambiente
a fim de se evitar a interação entre eles de forma que não ocorra
a invasão do organismo alvo à ser infectado e desenvolvimento da
infecção. (LACAZ et al, 1986)
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após os estudos sobre a Doença de Jorge Lobo pode-se afirmar
que seu diagnóstico ainda é impreciso devido ao fato dos pacientes
procurarem um médico quando a doença já se encontra em seu
estágio mais desenvolvido. O diagnostico clínico diferencial, em
humanos, é dificultado pela aparência clínica similar com outras
doenças. O tratamento ainda é pouco eficaz, tendo em vista que
poucos pacientes respondem bem aos antifúngicos e poucos aderem
ao tratamento cirúrgico. O tema, Doença de Jorge Lobo, gera
controvérsias, quer no estudo de doenças humanas, quer no estudo
da medicina veterinária visto que ainda são necessários maiores
conhecimentos sobre o assunto para que surjam tratamentos e
diagnósticos mais precisos e eficazes. A doença, em humanos e,
principalmente em golfinhos, é representada por informações
permeadas por hiatos ainda por ser desvendados.
10 REFERÊNCIAS
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Lobomicosys. Journal of Clinical Microbiology. V.37, n.6, p.
2031-2033, 1999.
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Janeiro: Elsevier. 2010.
GUEDES, A.C.M. Pele e anexos. In: BRASILEIRO FILHO G.
Bogliolo Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2010.
TRABULSI, L.R; ALTERTHUM, F.; GOMPERTZ, O.F;
CANDEIAS, J.A.N. Micoses subcutâneas. In: TRABULSI, L. R.
Microbiologia. 3a ed. São Paulo: Atheneu; 2002.
LACAZ, C.S.; BARUZZI, R.G.; ROSA, M.C.B. Doença de Jorge
Lobo. São Paulo: IPSIS Gráfica e Editora S.A.; 1986.
BRITO, A.C.; QUARESMA, J.A.S. Lacasioze: revisão e atualização.
Anais Brasileiros de Dermatologia. v.82, n.5, p.461-474, 2007.
ELSAYED et al. Human case of Lobomycosis. Emerging Infectious
Diseases. v.10, n.4, p.715-718, 2010.
FRANCESCONI, F.; FRANCESCONI, V. Lobomicosys. The
New England Journal of Medicine. Universidade do Estado do
Amazonas. v.364, n.1, 2011.
BERMUDEZ et al. Lobomicosys in Man and Lobomycosis-like
Disease in Bottlenose Dolphin, Venezuela. Emerging Infectious
Diseases. V.15, n.8, p.1301-1303, 2009.
SILVA, D.B.; MACEDO, R.C. Doença de Jorge Lobo. In: LEÃO,
R.N.Q. Doenças Infecciosas e Parasitárias, Enfoque Amazônico.
Belém: CEJUP: UEPA: Instituto Evandro Chagas. 1997.

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DOENÇA DE JORGE LOBO E A IMPORTÂNCIA DE SEU ESTUDO PARA A PATOLOGIA ANIMAL E PARA A PATOLOGIA HUMANA - SOUZA et al. (2013)

  • 1. 39 Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013 ARTIGO DE REVISÃO DOENÇA DE JORGE LOBO E A IMPORTÂNCIA DE SEU ESTUDO PARA A PATOLOGIA ANIMAL E PARA A PATOLOGIA HUMANA JORGE LOBO’S DISEASE AND ITS STUDY IMPORTANCE FOR HUMAN AND ANIMAL MEDICAL CONDITIONS Samara Pinheiro de Souza* , Pedro Henrique Andrade Rizzutto* , Renato Ferreira Silveira* , Andressa Terra Paiva* , Anna Marcella Neves Dias** , Pietro Mainenti*** Resumo A Doença de Jorge Lobo é uma micose subcutânea que tem como agente etiológico o fungo Paracoccidioides loboi. Este fungo pode infectar tanto humanos quanto golfinhos. O primeiro caso em humanos foi registrado no Brasil em 1931. A história natural da doença se inicia pela instalação do microorganismo nos tecidos subcutâneos e as lesões são nodulares, isoladas, com aspecto queloideano, acometendo principalmente o pavilhão auricular e os membros inferiores e superiores. Geograficamente, esta micose ocorre mais em regiões de florestas densas, quentes e úmidas. O presente artigo teve por objetivo mostrar as características da doença em homens e em golfinhos. Palavras-chave Micose subcutânea. Blastomicose queloideana. Doença de Jorge Lobo. Abstract Jorge Lobo’s disease is a subcutaneous mycosis caused by the Paracoccidioides loboi, which can infect both humans and dolphins. The first case in humans was described in Brazil, in 1931. The disease´s natural history initiates after the infection by the microorganism. The lesions are solitary nodular keloid-looking that arises, mainly, in the ear and in the upper and lower limbs. Geographically, this mycosis shows itself in dense, hot and humid forest regions. This article aimed the presentation of the disease in humans and dolphins. Keywords Subcutaneous mycosis. Keloid blastomycosis. Jorge Lobo’s disease. Correspondence author: Pietro Mainenti. pietromainenti@terra.com.br. UNIPAC - Campus Juiz de Fora. Av. Juiz de Fora, 1100. Granjas Betania, Juiz de Fora – MG. CEP 36047-362 * Acadêmicos do Curso de Medicina. Universidade Presidente Antônio Carlos- Unipac Juiz de Fora/MG. sampdesouza@yahoo.com.br ** Mestre. Professora do Curso de Medicina. Universidade Presidente Antônio Carlos-Unipac Juiz de Fora/MG. annamarcelladias@yahoo.com.br *** Doutor. Professor do Curso de Medicina. Universidade Presidente Antônio Carlos-Unipac Juiz de Fora/MG. pietromainenti@terra.com.br Received: 04/2012 Accepted: 10/2012 1 INTRODUÇÃO As micoses subcutâneas são causadas por agentes que vivem no solo, em vegetais e em animais de vida livre que se implantam na pele humana por meio de traumatismos com objetos e materiais contaminados. A Doença de Jorge Lobo, também denominada lacasioze, lobomicose e blastomicose queloideana, é uma micose subcutânea que tem como agente etiológico o fungo Paracoccidioides loboi, também denominado Lacazia loboi. Após instalação do microorganismo, aparecem lesões nodulares isoladas e coalescentes de aspecto queloideano, que acometem, principalmente, o pavilhão auricular e os membros superiores e inferiores. A doença tem evolução longa, durante a qual o estado geral do paciente não é comprometido. (TABORDA et al, 1999; MCADAM; SHARPE, 2010) O maior foco de incidência desta micose está em áreas das Américas Central e do Sul, especialmente na bacia do Rio Amazonas e ocorre, mais frequentemente, em indivíduos do sexo masculino que trabalham como seringueiros, garimpeiros e lavradores, uma vez que estes têm contato constante com solo e vegetais. No Brasil, o primeiro caso da doença foi descrito em 1931, em Recife, pelo dermatologista Jorge Lobo, de quem recebeu sua denominação mais popular. O paciente, de 52 anos, era seringueiro na região amazônica e apresentou, por 19 anos, os sintomas da doença. Em 1971, foi observado o primeiro caso em um golfinho na costa atlântica da Flórida. A partir de então, vários casos em cetáceos têm sido confirmados e vêem se tornando objeto de estudos. (GUEDES, 2010; TRABULSI et al, 2002; LACAZ et al, 1986) O diagnóstico da Doença de Jorge Lobo se dá a partir da realização de exame histopatológico da lesão, o qual revela, microscopicamente, um infiltrado inflamatório granulomatoso rico emhistiócitoscontendoparasitas.Nãoexiste,atéentão,comprovação
  • 2. 40 Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013 da transmissão inter-humana desta doença, sendo que a maioria dos casos descritos é de casos isolados, sem referências à doença em indivíduos próximos. O tratamento consiste, principalmente, na remoção cirúrgica da lesão e no uso do antifúngico cetoconazol. (BRITO; QUARESMA, 2007; LACAZ et al, 1986) O presente estudo em questão teve por objetivo discorrer sobre as características clínicas e histopatológicas da Doença de Jorge Lobo tanto em humanos quanto em golfinhos, bem como comentar acerca dos métodos diagnósticos e tratamento descritos na literatura. 2 ETIOLOGIA O agente etiológico da doença de Jorge Lobo levanta discussões, porém, o fungo Paracoccidioides loboi (Loboa loboi, Genosorella loboi), de classificação indeterminada, não cultivável, parece ser o principal causador das lesões. Microscopicamente, esse fungo apresenta-se sob a forma de células globosas e subglobosas, com parede de duplo contorno, refringentes, medindo 6,0-13 x 5,0-11µm. Reproduzem- se por gemulação simples e podem aparecer, também, em formas catenuladas, de 3 a 6 células, muitas delas unidas por uma haste ou haltere, formando estrutura em rosário. (TRABULSI et al, 2002; LACAZ et al, 1986) Estudo realizado por Lacaz et al em 1986 com o fungo, proveniente de lesões cutâneas em índios Caiabis portadores da Doença de Jorge Lobo revelaram que, após o P. loboi ser englobado pela célula fagocitária, sua parede celular sofre espessamento e gera projeções lameliformes radiais, o que amplifica a superfície de interação entre células parasitária e do hospedeiro. Como resultado dessa interação, partes das projeções radiadas da parede celular são isoladas no citoplasma dos macrófagos, o que torna estas células repositórios de restos parasitários.(LACAZ et al, 1986) 3 A DOENÇA DE JORGE LOBO EM HUMANOS A Doença de Jorge Lobo acomete, em sua maioria, indivíduos do sexo masculino que trabalham em contato constante com o solo e residem em regiões de florestas densas, de clima quente e úmido. A enfermidade foi encontrada em brancos, negros, índios e em grupos tribais de agricultura bem desenvolvida. (TRABULSI et al, 2002) O início da infecção pelo agente etiológico se dá a partir de traumatismos cutâneos, que se manifestam clinicamente como lesões nodulares queloideanas, frequentemente indolores, acometendo, principalmente, pavilhões auriculares, face e membros. As lesões não comprometem tecidos mucosos em geral. Ulcerações secundárias de infecções bacterianas podem estar presentes como complicações do trauma. (BRITO; QUARESMA, 2007) Em 1931, na cidade de Recife, foi descrito o primeiro caso da doença em um paciente do sexo masculino, de 52 anos, que trabalhava como extrativista nos seringais amazônicos. Por aproximadamente 19 anos, o indivíduo desenvolveu nódulos coalescentes nas regiões lombossacral e glútea. A partir deste primeiro diagnóstico,vários casos foram relatados, inclusive fora do Brasil. Dentre estes, o primeiro caso descrito foi no Canadá, em fevereiro de 2001, e acometeu uma geóloga de 42 anos, com lesão de crescimento lento, de 1,5 cm de diâmetro, indolor e circundada por tecido queloideano, na região posterior do braço direito. Recentemente, em janeiro de 2011, mais um caso de lobomicose foi descrito: um amazonense, seringueiro, de 37 anos, exibia há 12 anos lesões nodulares indolores, com superfície lisa e consistência fibrosa, no pavilhão auricular direito. Após diagnóstico, o paciente se recusou a realizar a remoção cirúrgica da lesão e esta não respondeu ao tratamento com o antifúngico cetoconazol. (ELSAYED et al, 2010; FRANCESCONI; FRANCESCONI, 2011) 4 A DOENÇA DE JORGE LOBO EM GOLFINHOS Um dos fatos mais curiosos no estudo da Doença de Jorge Lobo foi o encontro da mesma em golfinhos, sob a forma de lesões geralmente ulcerosas localizadas, mais comumente, na cauda ou no dorso desses animais.(LACAZ et al, 1986) O primeiro caso de ocorrência da lobomicose em golfinho ocorreu em um animal capturado na costa da Flórida, e foi descrito por Migaki et al (1971). Ao longo do tempo, casos semelhantes vêm sendo relatados. O caso descrito por Symmers (1983) foi o primeiro que ocorreu em águas européias, onde um funcionário de aquário foi ferido por um golfinho e apresentou o diagnóstico da doença três meses após a morte do animal. Em 2004, um cetáceo macho adulto encontrado em praia venezuelana magro, com alguns dentes esfoliados, apresentava lesões de cores branca, cinza e rosa, com áreas hemorrágicas, bem como regiões semelhantes a quelóides e outras com aspecto verrucoso, formando rosetas; as regiões acometidas eram principalmente o bico e a cauda. (BERMUDEZ et al, 2009) Embora os casos em humanos e golfinhos não terem sido relacionados, eles sugerem o papel do ambiente úmido como provável habitat natural para o P. loboi e como um reservatório para a infecção. O surgimento aparente de lobomicose e outras doenças de pele em cetáceos costeiros da América do Sul e do Oceano Índico é causa de preocupação por poder ser indicativo de mudanças biológicas e contaminação ambiental, incluindo alterações climáticas no mundo. A falta de informações sobre a história natural e transmissão podem representar um futuro problema à saúde humana. (BERMUDEZ et al, 2009)
  • 3. 41 Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013 5 ASPECTOS CLÍNICOS Na Doença de Jorge Lobo, dois obstáculos competem para que o diagnóstico dificilmente seja estabelecido em sua fase precoce. Primeiro, a maioria dos pacientes busca assistência médica anos após o aparecimento inicial da lesão cutânea. Segundo, a lesão inicial não apresenta características específicas, podendo ser bastante semelhante a doenças como hanseníase, paracoccidioidomicose e tuberculose cutânea, dificultando o diagnóstico diferencial. De maneira geral, quando os pacientes procuram recursos médicos, eles referem a presença de uma ou mais lesões cutâneas, de evolução lenta, que não responderam aos tratamentos realizados com o uso de antifúngicos. Alguns pacientes apresentam queixas como ardor ou prurido nas lesões iniciais e, posteriormente, parestesia. (LACAZ et al, 1986) Aexpressãoclínicamaiscomumdaenfermidadeéopolimorfismo lesional, especialmente em casos crônicos. As possíveis lesões fundamentais podem ser máculas discrômicas, pápulas, nódulos, gomas, placas nodulares, lesões verrucosas, nódulos semelhantes a cicatrizes queloideanas ou úlceras; dentre estas, predominam os nódulos queloideanos. Assim, de acordo com o aspecto morfológico clínico, as lesões receberam as seguintes classificações: infiltrativa, queloidiforme, gomosa, ulcerada e verruciforme. O tipo infiltrativo parece ser a forma inicial da micose e as ulcerações apresentam caráter transitório, com cicatrização espontanea. Porém, essa classificação sofre algumas restrições devido à dificuldade em se individualizar cada uma das formas referidas anteriormente dado a presença de dois ou mais tipos de lesões fundamentais em um mesmo paciente. (BRITO; QUARESMA, 2007; LACAZ et al, 1986) Os fatores que favorecem a disseminação da doença, e como esta ocorre, ainda são desconhecidos. Existem pacientes que permanecem por muito tempo com as formas isoladas ou localizadas da infecção, sem disseminação das lesões, enquanto outros há disseminação precoce. (BRITO; QUARESMA, 2007) 6 ANATOMIA PATOLÓGICA Grande quantidade de parasitas sob forma de esférulas, com espessa membrana birrefringente, de duplo contorno, são observados dentro das lesões. Alguns fungos possuem núcleos arredondados, outros em forma de meia lua. São observadas esférulas constituídas apenas por cápsulas, opticamente vazias. O fungo forma cadeias com aproximadamente oito esférulas dispostas lado a lado formando, por vezes, estruturas tipo “halteres”, unidas por espécie de trave curta; formas em “ampulheta”, com arranjos moriformes ou, ainda, em arranjo de “cacho de uva”. Não há criptoesporulação e as células filhas tendem a se afastar das células-mãe após atingir diâmetro padrão da espécie ou muito próximo deste; ainda, as esférulas podem ser encontradas no citoplasma de histiócitos. Logo, o quadro histológico é, na maior parte das vezes, relativamente fácil de caracterizar. (SILVA; MACEDO, 1997) A epiderme, associada à lesão subcutânea, pode apresentar aspecto normal, atrófico, hiperplásico ou ulcerado. Já no estrato córneo observa-se, por mecanismo de eliminação transepidérmica, presença do parasita entre as escamas e escamocrostas, identificados, em histoquímica, por pontos negros na pele que recobre as lesões do tipo úlcero-crostoso, como as de aspecto liso. Algumas vezes, a epiderme é separada do infiltrado por uma faixa clara; noutras, a reação produtiva se insinua na epiderme. O infiltrado inflamatório é granulomatoso, nodular e difuso, constituído por macrófagos e numerosas células multinucleadas, repletas de parasitos. Neutrófilos, quando presentes, ocupam a derme superior nas lesões ulceradas. Nas lesões de forma gomosa é possível registrar quadro histopatológico característico das gomas, sendo identificado nas amostras histopatologicas, a presença de parasitas nos limites das áreas de necrose. (BRITO; QUARESMA, 2007; SILVA; MACEDO, 1997) O conceito generalizado de que a lobomicose caracteriza-se por certo monomorfismo é traduzido pela presença de lesões semelhantes à quelóides, sugerindo a denominação de blastomicose queloideana. Outras vezes, a lesão ulcerada é um fenômeno transitório no quadro clínico, havendo cicatrização fácil, tal como acontece no tipo queloideano, que pode apresentar ulcerações passageiras, muitas vezes cicatrizando espontaneamente. Entretanto, devem-se relatar casos que são francamente ulceradas, permanecendo como tal durante longo tempo. O tipo infiltrativo parece a forma inicial da micose e lembra as lesões de hanseníase, sobretudo quando localizadas nas orelhas, não sendo o aspecto queloideano exclusivo nesta doença. (SILVA; MACEDO, 1997) 7 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da Doença de Jorge Lobo deve ser feito a partir do exame direto da lesão cutânea (por escarificação, raspagem ou curetagem), de exame histopatológico, reações imunológicas e por meio de alguns exames complementares. O exame direto de material da lesão consiste em um procedimento simples que mostra a presença de numerosos parasitos de forma arredondada com membrana de duplo contorno. A riqueza de parasitas nas amostras de tecidos ou em exsudatos corados por hematoxilina e eosina (HE) ou por Grocott, desperta a atenção do observador. (BRITO; QUARESMA, 2007; TRABULSI et al, 2002) Porém, existem outras doenças que apresentam morfologia semelhante, ressaltando a necessidade da realização de diagnóstico diferencial com hanseníase (em todas as suas formas), leishmaniose
  • 4. 42 Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 5, n. único, p. 39-42, 2013 tegumentar (em particular a forma difusa cutânea anérgica), paracoccidioidomicose, cromoblastomicose, feohifomicose, esporotricose, tuberculose cutânea, sarcoma de Kaposi, dermatofibrossarcoma, dentre outras. (BRITO; QUARESMA, 2007) 8 TRATAMENTO A cirurgia representa, até o momento, a melhor conduta terapêutica, principalmente em lesões isoladas e circunscritas, na fase inicial da Doença. Antifúngicos têm sido empregados com resultados variáveis. Algumas drogas eficazes no tratamento de micoses profundas mostraram resultados insatisfatórios na lobomicose. (TRABULSI et al, 2002) A falta de maiores conhecimentos a respeito da história natural da doença limita uma ação preventiva. A princípio, deve-se atuar sobre os fatores relacionados ao agente, hospedeiro e meio ambiente a fim de se evitar a interação entre eles de forma que não ocorra a invasão do organismo alvo à ser infectado e desenvolvimento da infecção. (LACAZ et al, 1986) 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após os estudos sobre a Doença de Jorge Lobo pode-se afirmar que seu diagnóstico ainda é impreciso devido ao fato dos pacientes procurarem um médico quando a doença já se encontra em seu estágio mais desenvolvido. O diagnostico clínico diferencial, em humanos, é dificultado pela aparência clínica similar com outras doenças. O tratamento ainda é pouco eficaz, tendo em vista que poucos pacientes respondem bem aos antifúngicos e poucos aderem ao tratamento cirúrgico. O tema, Doença de Jorge Lobo, gera controvérsias, quer no estudo de doenças humanas, quer no estudo da medicina veterinária visto que ainda são necessários maiores conhecimentos sobre o assunto para que surjam tratamentos e diagnósticos mais precisos e eficazes. A doença, em humanos e, principalmente em golfinhos, é representada por informações permeadas por hiatos ainda por ser desvendados. 10 REFERÊNCIAS TABORDA et al. Lacazia loboi gen. nov., the Etiologic Agent of Lobomicosys. Journal of Clinical Microbiology. V.37, n.6, p. 2031-2033, 1999. MCADAM, A.J; SHARPE, A.H. Doenças infecciosas. In: KUMAR et al. Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. Rio de Janeiro: Elsevier. 2010. GUEDES, A.C.M. Pele e anexos. In: BRASILEIRO FILHO G. Bogliolo Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2010. TRABULSI, L.R; ALTERTHUM, F.; GOMPERTZ, O.F; CANDEIAS, J.A.N. Micoses subcutâneas. In: TRABULSI, L. R. Microbiologia. 3a ed. São Paulo: Atheneu; 2002. LACAZ, C.S.; BARUZZI, R.G.; ROSA, M.C.B. Doença de Jorge Lobo. São Paulo: IPSIS Gráfica e Editora S.A.; 1986. BRITO, A.C.; QUARESMA, J.A.S. Lacasioze: revisão e atualização. Anais Brasileiros de Dermatologia. v.82, n.5, p.461-474, 2007. ELSAYED et al. Human case of Lobomycosis. Emerging Infectious Diseases. v.10, n.4, p.715-718, 2010. FRANCESCONI, F.; FRANCESCONI, V. Lobomicosys. The New England Journal of Medicine. Universidade do Estado do Amazonas. v.364, n.1, 2011. BERMUDEZ et al. Lobomicosys in Man and Lobomycosis-like Disease in Bottlenose Dolphin, Venezuela. Emerging Infectious Diseases. V.15, n.8, p.1301-1303, 2009. SILVA, D.B.; MACEDO, R.C. Doença de Jorge Lobo. In: LEÃO, R.N.Q. Doenças Infecciosas e Parasitárias, Enfoque Amazônico. Belém: CEJUP: UEPA: Instituto Evandro Chagas. 1997.