Este documento discute o feminismo negro e como ele desafia as definições tradicionais de feminismo propostas por feministas brancas. A autora bell hooks argumenta que o feminismo deve se concentrar em acabar com a opressão sexista em vez de buscar igualdade com os homens, reconhecendo que as mulheres negras enfrentam opressões adicionais de raça e classe. Ela defende uma perspectiva feminista que considera as diferentes experiências das mulheres.
2. Feminismo Negro
bell hooks é autora de vários livros sobre
raça, gênero, classe e cultura. Seu primeiro
livro, Ain’t I a woman: black women and
feminism (1981), foi considerado um dos
livros mais influentes nos últimos 20 anos
pelo Publishers Weekly, em 1992. Profere
palestras nos EUA e em outros países e é
Professora Emérita de Inglês na City College,
da Universidade de Nova Iorque.
Gloria Jean Watkins adotou o pseudônimo bell hooks em homenagem a seu avô
materno, Bell Blair Hooks. O pseudônimo é escrito em letras minúsculas para
diferenciá-lo do nome do avô e para exaltar sua obra, não sua personalidade.
3.
4. Capítulo 1
Black women: shaping feminist theory
Mulheres negras => maioria silenciosa do feminismo estadunidense
Feministas => não questionam se a perspectiva sobre a realidade
feminina abarca as diferentes experiências das mulheres,
reforçando a supremacia branca e negando a possibilidade de
unidade entre as mulheres
Em A mística feminina, Betty Friedan (1921-2006)
ignorou a realidade da opressão racial sofrida pelas
mulheres negras e mulheres brancas pobres. Ela não
discutiu a realidade das mulheres que tomariam conta
da casa e das crianças quando as mulheres brancas de
classe média fossem trabalhar, não mencionou as
mulheres sem maridos, sem crianças, sem lares.
Viés racial e de classe
5. Feminismo liberal
• Focaliza os direitos individuais das mulheres à liberdade e
autodeterminação, reduzindo o feminismo a um estilo de vida.
• “Todas as mulheres são oprimidas” => “O sofrimento não pode
ser medido” => artifícios retóricos
• Mascara os interesses de classe ao propor a unidade e a
solidariedade entre as mulheres.
• O oportunismo individual mina o apelo a uma luta coletiva.
• Interesses defendidos pelas feministas liberais: igualdade com
os homens da mesma classe, pagamento igual pelo mesmo
trabalho, modo de vida alternativo.
• Ignoram a diversidade de experiências das mulheres.
• Silencia a respeito de mulheres não brancas.
6. Todas as mulheres são dominadas numa sociedade
sexista, mas nem todas são oprimidas.
Sexismo
Sistema de dominação
institucionalizado
• Não determina o
destino de todas as
mulheres na sociedade.
• Restringe o comportamento das
mulheres em algumas esferas, mas
permite a liberdade limitada em
outras.
A ausência de restrições extremas
leva muitas mulheres a ignorar as
esferas onde elas são exploradas ou
discriminadas ou mesmo pensar que
as mulheres não são oprimidas.
Ser oprimida é não ter escolhas
7. Elas [as feministas brancas] não
entendem, nem podem imaginar,
que mulheres negras, assim como
outros grupos de mulheres que vivem
diariamente em situações opressivas,
frequentemente adquirem uma
consciência das políticas patriarcais a
partir de suas experiências vividas,
assim como desenvolvem estratégias
de resistência (mesmo quando não
podem resistir de uma forma
organizada). (p. 11)
8. Capitalismo
Racismo Sexismo
[...] identidades de raça e classe criam diferenças na qualidade de vida,
status social e estilo de vida que precedem a experiência comum às
mulheres – diferenças que raramente são transcendidas. (p. 4)
9. Mulheres negras, que não são “outros
institucionalizados” que podem discriminar,
explorar ou oprimir frequentemente, têm
vivido experiências que desafiam diretamente
a estrutura social classista, sexista, racista e sua
ideologia concomitante. Essas experiências
vividas podem moldar nossa consciência de
modo a que nossa visão de mundo difira
desses que têm algum grau de privilégio (por
mais que seja relativo no interior dos sistemas
existentes). É essencial para a luta feminista
que mulheres negras reconheçam a vantagem
especial que nossa marginalidade nos dá e
façam uso desta perspectiva para criticar a
hegemonia racista, classista e sexista assim
como imaginar e criar uma contra hegemonia.
(p. 16)
10. Capítulo 2
Feminism: a movement to end sexist oppression
• Problema central do feminismo: definir o que é e aceitar
definições que possam servir como ponto de unificação.
• Definição popular nos EUA: feminismo como um movimento
que busca a igualdade entre homens e mulheres.
Se os homens não são iguais numa estrutura de classe branca,
supremacista, capitalista, patriarcal, como as mulheres querem ser
iguais a que homens?
Raça, classe e sexismo são fatores que determinam a
extensão em que os indivíduos serão oprimidos
11. Definições de Feminismo
REFORMISTA RADICAL
Feminismo como luta
pela igualdade entre
homens e mulheres.
Definido como “estilo
de vida”.
Feminismo como luta
pela superação da
dominação e pela
transformação da
sociedade.
O feminismo não despertou o interesse das mulheres negras
devido a forma como foi definido pelas mulheres brancas
burguesas.
12. Feminismo é uma luta pelo fim da
opressão sexista. Portanto, é,
necessariamente, uma luta para
erradicar a ideologia de dominação
que permeia a cultura ocidental em
vários níveis, assim como um
compromisso com a reorganização
social em que o autodesenvolvimento
das pessoas deve ter precedência
sobre o imperialismo, a expansão
econômica e os desejos materiais. (p.
26)
13. Construindo outro Feminismo
• Deslocar o foco dos homens como inimigos e examinar como
as mulheres contribuem para a manutenção e perpetuação do
sistema de dominação.
• Rejeitar a noção de um estilo de vida feminista alternativo que
surge apenas quando mulheres criam uma subcultura.
• Considerar que a luta feminista pode se iniciar onde quer que
haja uma mulher.
• Sair da zona de conforto:
O movimento feminista pelo fim da opressão
sexista engaja ativamente as participantes numa
luta revolucionária. Essa luta é raramente
segura ou aprazível. (p. 30)
14. Construindo outro Feminismo
• Em vez de dizermos “Eu sou feminista”, devemos dizer “Eu
defendo o feminismo” para retirar a ênfase do feminismo como
identidade ou como estilo de vida e destacar o feminismo
como um ato político que não despreza o apoio a outros
movimentos políticos, como o antirracismo.
• A mudança de ênfase da igualdade entre homens e mulheres
para o fim da opressão sexista provoca mudanças na teorização
feminista.