A artista Ariella Marques descreve sua experiência com o xamanismo, incluindo sua primeira cerimônia xamânica no Encontro do Nova Consciência em Campina Grande, PB. Ela agora faz parte do grupo xamânico Águia do Norte em São Lourenço da Mata, PE, onde participa de cerimônias que envolvem o uso sagrado da Ayahuasca e do Rapé, medicinas produzidas pelo próprio grupo através de processos demorados.
1. Em entrevista exclusiva, a artista plástica Ariella Marques esclarece
dúvidas sobre a prática misteriosa do Xamanismo
Como você conheceu o xamanismo?
Eu já havia ouvido falar sobre xamanismo em livros e televisão, mas só conheci um
xamã ou uma prática xamânica mesmo quando fui para o Encontro do Nova
Consciência que acontece todos os anos na época do carnaval em Campina Grande -
PB. Lá participei da cerimônia xamânica Voo da Águia com o xamã Léo Artese de São
Paulo.
Porque você adotou essa religião, já que antes você fazia parte do grupo wicca?
Porque mesmo me identificando com a Wicca eu sentia que minha essência queria algo
mais profundo, que respondesse minhas buscas mais íntimas da minha alma.
Você já viveu alguma experiência de transe através do xamanismo?
Sim. Desde a primeira cerimônia xamânica que participei, pois no xamanismo é comum
entrar em contato com a espiritualidade através das plantas de poder, que são
consideradas plantas medicinais. No meu caso, minha experiência foi com a bebida
sagrada da Ayahuasca ou chá do Santo Daime como é popularmente conhecido.
E esse chá expande a consciência, expande os sentidos e te proporciona um contato
profundo com o teu Eu superior, que é o teu Eu mais sábio. Os yogues comparam uma
cerimônia de ayahuasca com o equivalente a 5 anos de meditação. E os terapeutas a 10
anos de terapia psicoterapêutica. É uma experiência muito transformadora, você jamais
será o mesmo após uma cerimônia de ayahuasca. São muitos os aprendizados e você
tem a certeza que tudo aquilo vem de Deus.
Você participa de algum grupo xamânico?
Sim, hoje faço parte do grupo Águia do Norte que fica em São Lourenço da Mata - PE.
E é um grupo de xamanismo universal, onde há a integração das religiões e isso é uma
das coisas que eu acho mais bonito no grupo, pois unimos cristianismo, umbanda,
hinduísmo e a espiritualidade indígena.
Como são as cerimônias?
No nosso grupo a cerimônia começa com uma oração feita pelo Mestre do grupo e
depois ele serve o copo com ayahuasca para todos. Após esse momento todos ficam
sentados em seus lugares aguardando o chá fazer efeito (dura entre 20 a 40min pra fazer
efeito) e enquanto isso o Mestre da cerimônia coloca para ouvirmos músicas
espiritualistas das religiões que falei anteriormente (cristianismo, umbanda, hinduísmo e
a espiritualidade indígena). Esse primeiro momento é um momento de introspecção,
todos ficam em seu lugar meditando sobre o efeito do chá, olhando para dentro de si
mesmo e buscando o autoconhecimento.
2. Depois de algumas horas, vem o segundo momento da cerimônia que é ao redor da
fogueira sagrada, onde é consagrada a medicina do rapé, que é uma medicina indígena
brasileira. E nesse momento há cantos ao vivo, toque de instrumentos como maracá e
tambor. E também é um momento em que as pessoas ficam a vontade para cantar e
dançar. Enquanto o primeiro momento da cerimônia é de introspecção, esse segundo
momento é um momento de celebração.
Como vocês adquirem as medicinas da Ayahuasca e do Rapé?
Nós mesmos que produzimos nossa Ayahuasca e nosso Rapé. É muito importante pra
gente ser auto sustentável, fazer a nossa própria medicina. O feitio da ayahuasca dá
muito trabalho pra fazer, o chá é feito com plantas específicas que são o cipó do jagube
e a folha da chacrona e é um processo muito demorado de vários dias. Levamos em
média de 5 a 15 dias para realizar um feitio de Ayahuasca, já o feitio do rapé que é feito
do tabaco macerado e da cinza do pau pereira dura de um a dois dias.