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Sociologia da Edtlca~ao
Alberw Tosi Rodrigues
Colc~ao
[0 que voce preciSJ sJber sabre...]
COOIDENA<;:AO
Paulo Ghiralclelli Jr. e Nadja Herman
Esta cole~ao C ul11ainiciativa do GT-Filosofia da Educa~ao da rnped
na gcsr;io de Paulo Ghiralddli Jr. c Nadja Herlll"l
I~evisi1o de proVa5
Paulo Telles Ferreira
Andrb Carv;11ho
Sociologia da Educa<;ao
Projcw grdfico c diagrama~ao
Maria G,1bricla Delgado
Ca/Ja
Rodrigo Murtinho
Alberto Tosi Rodrigues
CIP-BRASIL.Cataloga~~o·na.fontc
Sindicato Nacionai (jos Ediwres de Livros, RJ
R611s
Rodrigues, Albeno Tosi
Sociologia da Educa,ao / Alberto Tosi Rodrigues. - Rio de
Janeiro: DP&A, 2004, 5. eeL
. - (0 que voc~ precisa saber sobre)
14 x 21 CI11
160 p.
Inc1ui bibliogrnfia
ISBN: 85- 7490-289-6
C00370.19
CDU37.015.'1
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edi1:ora.
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CAPiTULO II
-~ Sociedade, educac;ao e vida moral
N Ukl III SLUS S/~lI/S, P..UI.Ii'Jlll) 11: V I( 11.: 11:IIT:1 ; I r;ljcI (')ri; de IIIll
l11abndro do 1110rro, Chico Briw. N:l C<1I1~;'ill,ele c rna!andro,
sirn, vive no crime e e preso a wela hora. Padinho, porcrn, nao
atriblli sua condi~ao a uma falhZl de car~t(;r. Chico era, ern
principio, tao bom como qualquer outra pessoZl, mas "0 sistema"
nao [he deixZlL1 outrZl oportunicbele ell' sohrevivcricia que nao a
marginalidade. 0 Cdtirno verso eliz tudo: "Zl culpa c da sociecbde
que 0 trans(Llrl11au". J:', em outra CIl1t;;:lo, hem 111{isconhecicb,
Geraldo Vandrc cb 11111recado com semido 1l1'0stO: "quem sabe
faz a hora, nao espera acontecer".
Somos nos que fazemos a horZl) Ou a hora j<'i vem rnarcZlela,
pela socieclZlcle em que vivemc)s? 0 que, Zlfinal, 0 "sistema" nos
obriga Zlfazer em nossa viela) Qual ;1 nossa l11argem de m;lllobra)
Qual 0 wmanho cia nossa liberdacle)
DZlta c10s primeiros esfor~os, elos funcbclores c!a sociologia
C0l110 c1isciplina COI11pretensoes cientflk;IS a clificukbde el11 licbr
COI11essa tens5a existente entre, de Ui11bdo, a possibiliclacle ell'
ver <1sociedade C0l110 Ul11a estru tu 1'<1COI11poeler de coer~ao e ell'
deterl11ina<;ao sobre as <1~oes inelividuais e, de ourro, a de vcr 0
indivfduo como ;lgente cri;lelor e trans(orl11<1c[or cia vida coletiva.
Diante da necessidacle de dernarclr 1111 esl':U l'n')l'ril/ elentro
do campo cientffico p:lra CSr:1 nm'a discil1lin:1 :lCad":'micl, al.~:llns
se ernpenh;1ram ern dcmonstr:ll' :1 exislcnci: plena lie urna 'iela
coletiva com aIm;l pr6pria, acima e (or;l clas 111el1(CS GOS
indivfduos. Buscv:m com issu delirnit:lr 1111 (;III1I'U de
investiga<.;:ao que estivesse fora cla al<.;:aclacla psicologia (que ja
lidava com a mente do indivfcluo) ou de Olltra cicncia human3
qualquer. Outros pensaram em tratar a a<.;:50individual como 0
ponto de partida para 0 entendimento da realidade social e,
embora tambem fugissell1 do "psicologismo", colocaram a enfase
nao no peso da coletividadc sobre os homens, m;!s n3 C<1p:Kicbde
dos homens e1e (orjar a socicdade a partir de S'U:1Srcla<.;:0csuns
f'
com os outros.
E provavel que todos tivessem raz50. Os homens criam 0
mUl'ldb"s;cial em que vivem - de onde mais de viria? - e ao
mesmo tt:'h1ri.oesse mundo criado sobrevive ao tempo de vida de
cada indivicluo, influenciando os modos de vida das gera<.;:oes
seguintes. Como pensar a hist6ria humanJ sem resgat<1r a
biografia dos homens? Como escrever uma biografia sem
considerar a sociedade e 0 inomento hist6rico em que 0
biografado viveu? Portanto, a sociedade faz 0 homcm na mesma
nredida'em 'que 0 homem faz a sociedade. Prcferir uma parte do
problema em cletrimento da outra e apenas uma quest50 de
enfase.
No entanto, essa cnfasc e importante quando consicleral'nos
a concep<.;:50 que cacla um dos principais autores da sociologia
tinha sobre J ecluca<.;:ao. Ou, pelo menos, a concep<:;ao de
ecluca<.;:50que poclemos cleduzir de seus escritos sociologicos.
Fortemente influenciaclo pelo cientificismo clo scculo XIX,
principalmente pela biologia, c extrem:1mc.1le prcocllp;ldo com
uma clelimita<;:ao clara clo objeto e do metodo cla sociologia, 0
frances Emile Durkheim (1858-1917) vislumbrou em sua obra a
existcnciJ de um "reino socizd", que sui;l distinto do miner;ll e
clo vegetal.
Nao por coincidcnci:l, ele Ch:lI1L', eSle rcino soci:d, :S vczcs,
cle "reino moral". a reino mCH;l! seria 0 lug;H onde se
processariam justamente os "fenomenos morais", e seria composto
por ;lmbientes constituidos pcbs ·"idcias" ou pelos "iccais"
coletivos. Toda vida social se d5, p;lr:! Durk.heim, nesse "meio
moral", que esta P;lW as conscicncias inclivicuais assim como os
meios ffsicos estao par:l os org;:mismos 'ivos.
Entender que esta dimens:lo de fato exisw, qlle tal meio
coletivo sej::l real e cletennin:lnte na vich das pessoas, nao e
algo evidente por si mesmo, e nao e t::neb p:lr:l qU:llquer um,
achava Durkheim. a soci61ogo e 0 l'mico cientistZl preparaclo
par:l deteetar esses estados coletivos. Para tanto, ele deveria
enfrentar Sll:l:1ventura intelcctual com :I mesm;1 postura dos demais
cientisLas, coloc:lndo-se num estaclo de espirito semclhante ao
dos fisicos, qufmicos ou bi61og~)s em seus bbor::ltllri,)s. Se a lei Ja
nravidade ou a da inercia sao leis cb n;1tureZZl - n:-o se pocleb
qllestiona-bs, nao se pode muJ,i-Ias, e s6 nos resta conhece-las
pClra melhor viver -, do mesmo modo a socicdaclc, a vicla colctiv:l,
cleve ter suas leis pr6prias, independentes d:l vonwde humana,
que precisam ser conhecidas. A ([sica ne'toni:ln:l clescobriu as
leis cIa gravicbde c cb inerci:l dos corpos. Cabe ;1 sociologia,
na visao ce Durkhcim, clescobrir :IS leis ,b vicb soci:1!.
Sua pretensao c apresent;1r a sociologia como lima cicnCla
positiva. como um estuclo met6c1ico. Scgllindo os mc()(los certos,
portanto, 0 soci610go poclera c1escobrir ;1Sleis sociZlis. Durkheim
compreendia "lei" (lei cientffica, nestc c:lso) como umZl "reb;ao
Durkheim e 0 pensamento sociol6gico
Eclucar e conservar? all revolucionar? Edllcar e tirar a venca
dos OIIlOS ou impedir que 0 excesso de luz nos deixe cegos? Edllc;lr
e preparar pma a vida? Se for :lssim, para qU:l1 vicla?
Com a palavra, ess.es inquietos senhores, os formuladores da
teoria sociologica. E 'comecemos logo pOl' acjuelc que foi c
continua senclo um dos mais influentes pensadores da sociologi::l
e cia soc'iologia cia ecluca<;:50.
~,
, "
;.:./'
necessaria", como a clescoberta cia logica inscrita no proprio real
e apresentacl<l na (orma de llll1 enlll1ci:lL!o pelo ciClltist:. Esse
.positivismo c,' para ele, a unica posi<;:ao cognitiva possfveL
Na explica<;:50 que de proporciona, 0 "(ator social" c sempre 0
cleterminante. Em tal universo intelectual, a vereladclra CicnciCl
so aparece quando Ocorre a per(eit:l sep:u:lC::10 elll're teori:l C
·pr:'itica. 0 meio moral que SCI·ve de elll()J'I)O :H1Si;ldiviclll()s cleve
ser tdmado como um elado bruto a observarao do invcstioaclor:s- oJ,
qlie nao eleve em momenta algum assumir os v:llores ne1c
,contidos/.ourkheim escreve que as principais (e11omenos sociais,
como a religi50, a mora!, a direito, a economia ou a celucaC80
~ ,
sao na verdacle sistem:Js de valores. Se cstivermos colltaminados
com os valores que esses (enomenos exprcssam, 11;]0 teremos a
isen<;ao necessaria para cntendc-los.
A sociologia, enuncia Durkhcil11, eo estudo c10s fatas soci:Jis.
E (aeos socia is sao justamelltc aquclcs modos ell' agir que cxercem
sobJ:e a i!=lclivfduo uma cocrc;cio cx[crior, e que aprescntam uma
existcncia propria, independente das mani(esta<;:()es individuais
que possam ter. Os racos sociais, em sUl11a, devem ser consiclerJdos
C01110 coism. Durkheim nota que na vieb cmidiana tcmos uma
ideia vaga e confusa c10s (3'COS sociais - como 0 Estado, a
liberdadc, ou a que quer que scja - justamentc porque sendo
eles uma realidade vividCl, temos a ilusao de conhecC-los.
o senso comum, as maneiras habituais de pcnsar S;]O, portanto,
conrrarias ao estudo cientffico c10s fenomenos sociais. A mancit.a
da logica CdrtesiClnCl, ell' acln nccessario desconfiClr SCll1prc cbs
priml'iras impress6es. DClf a necessiclaele ele tratar os fCltOSsocia is
como coisas, para livrar-se c1as prc-no<;:6es, dos precanceitos naa
cil'ntfficas. Para conhece-Ias cientificaml'nte 0 fundamental c
estarmos canvencidos de que des n50 s50 inteligfveis
imediatamente.
Mas cuiclado af can1 as pabvras, cara 1citor. Veja 15 que
conclus6es vai tirar c1el~. Durkheim naa afirmou que os fatos
socialS sao de fata coisas maten~lIS, mas apenas que devem ser
I:r:1I:1L!os como se (()sscm (ois:!s 1:lis (()I1Hl ;IS ("is:IS m:lll'rI:!IS.
"Coisa" para de e tad a abjeto de conhccimcnlll que a
inleligcncia hum:lIIa nao penetr:l de modo imedi:llo,
necessitando a auxflio da cicncia. Tratar os (aeos saciais como
cois:ls, port:lnto, {: lIm:l pOSl:lIr:l inl'c1cClII:11, lima ~II'irll(1c mCIH:l1.
POl' oulro hdu, C plls~i"el rec(11111l'l:l'I' 0 (l'IIlllll:lltl s()ci:1!
parque de se impClc aos individuos, ou scjcl, os f<lwS sociais
exercem coen;;l0 sobre os com[~OJ'(amenlOS illdividuais, como 0
c!emanstram a moda, 0 casamento, as CotTeJ1lcs de opiniao. Um
crime, par cxcmplo, C rcconhcciclo como .tal porquc c de
conhecimellto cO!clivo que lodu crime slisciLI ullla S:IIl~;io, que
devl' ser punido pclas regras que a sociedade estabelccc
(no casa, pcbs leis juridicas). f lei esr;ILdece l'ulli~;IU porque
o crillle (ere a conscicncia co!etiva, conrrac!iz :lS cOIl"ic~C1CS mais
Vi";lS e pra(uncbmeillc comp:lrrilh:lc!:lS. No enLlIlto, 0 crime !lao
c um:l abe!TCl<;:50. Sc exislem rcgms SOCi:lis que prevcem a que
sera e a que n5a sera crime C porque 0 crime c algo normal.
o crime, partanto, c um faw soci,1I, assim comu a lei que pre"c
sua pUlli~a6. Sao (atas socia is Ilao s6 porquc S:la norma is, m<lS
parque s5a pcrcebidos como (:ltos sociais pelos membrClS da
socicdade; c porque exercclll algulll:l prcssao sobre os inc!idduos,
alguma coerC;,ao, alguJl1<1 obrigatoriedadc.
Ou seja, 0 rccado de DurkheiJl1, com ('SS:l COllvel·S:l loch
sabre como definir corretamcnce os (;ltUS sociais, c que naa
adiant:l simplcsmcnte dizcr que 0 hOJl1cm C UJl1 ser inscl·ic!o na
socil'dClde, ccrc<1c!o de Cacos sociais pOI' todos as lados. Issa n5.o
diria nacla. A caisa c mais complic(lch. 0 n::c;1do C 0 seguince:
a sociee/ae/e CS[C[ )1a cabcc;a e/os h01l1cns (' elm 11wlheres, de todos e
dc cuda 1m), Pais s6 existe um modo de cOllhecer os Cams que
l'st;O J nossa voll;1, scjam elcs pedr;ls, paus, C1S:lS, :'i,-)es,
einocoes, leis, delitos, pneus, rClUp;1S, pc~as de le:ltru, religic)es
au s~i 1<1 a quc. E criando em nOSS;1 mcntc um:l id~icl do que
...'..·;·;;i~'1.ft:~;:~.·
.:!A·
sejam ou um ideal que diga respeito ao modo como deveriam ser.
Em outras palavras, e gerando uma rejJrescntm;ao mental, uma
especie de chave interpretativa que construimos para lidar com
. aquilo que a principio nao conhecemos.
A sociedacle na cabe<;:a de cada Ulll
E, c af que a sociologia de Durkheim tem gra~a. Para cle, as
representa<;:6es podem ser individuais (pessaais) ou colctivas
(compartilhadas). As representa<;:6es sobre os fatos sociais saa
repreSci11'<1~6escoletiv<1s, san percebicbs em coletivo. l~ como se
houvesse dbis~de nos dentro de nos mesmos: um ser individual
em cuja cabe<;:a existem est<1dos ment<1is referentes apenas ;
nossa pessoa, <1nassa vid<1como indivfcluos, e, ao mesmo tempo,
um ser social.. Na cabe<;:<1desse ser social que habita em nos nao
. trafegam apenas estados mentais'pessoais, mas um conjunto de
:cren<;:as, de habitos, de valores, os quais nao revebm co isas que
"pensamas com nossa propriCl cabe<;:a" (se e que t<1]coisa poderia
existir, na visao de Durkheim). Tais cren<;:as e valarcs nao rcvebm
uma supasta personalidade privada. Revebm, sim, a quanto ki
dos outros em nos. De todos QS outros! Das pessoas que vivcm
conosco na saciedade em que vivemas e clas pessoas que nem
conhecemos, e inclusive das que nao vivem mais, que jj
~narreram, taIvez h:'i muitos anos. A sociedacle vive na cabe<;:a
de cad a um e, assim como 0 Cristo biblico, onde dois ou m~1is
estiverem reunidos em seu nome ela estar:'i no meio deles. Mais
do que isso ate, pois se dcstacarmos um lmico indivfduo da
sociedade ande ele vive e 0 levarmos para outra sociedade ou
mesmo para uma ilha desena, ele levara um pouco da sociecladc
consigo, dentro de sua cabc<;:a. Lcmbram-se do modo como
Robison Crusoe sobreviv;eu apos 0 naufragio? Pois e, foi gra<;:as a
sociedade e seus saberes, que viviam dcntro cle sua c1be~a, Clpesar
cia ausencia ([sica clas clemais pesSO~1s.Ponanto, nao apenas 0
inclivfcluo faz parte da spciedacle; uma parte cb socicdade hz
parte delco Ao mesmo tempo, par autro Iada, a sociedaclc s6
existe em sua plenitude se tomarmos 0 conjllnro, porque cia
naa cabc tocla, completa, na cabe~a dc clda um .
As representa<;:oes coletivas, assim, sao exreriores as
conscicncias individllZ',is; elas nfio clcrivam dos individuDS
consieler;-tc!os is();l(I;-tI11(~IHe, Jl);)S de SII:l c(J(J!Jcr!u:/io. N;)
constru<;:~l0 du rcsult;lelo CUl1111111elC~S;1 CULlb()r;I<;;lu, eli:
Durkhcim, cada um entra com sua quot;J-p;Jrte; mas os
sentimcntos privados s() se tornam SUCi;lisqll~1I1d()se c<1l11bin;ll11
entre si, SaG compartilk1dos c gcr;Jm, em dccmrcncia, al.l;o novo.
Par causa das combina~oes e cbs mlltac;6es que sofrcm ;)0 Sl.::
combinarem, as sentimentos inclivicluais 5C [ransJonl1ml1 em Olum
coisa. E como um<1sfntese quimic<1. 0 hiclrogenio c a oxigenio
saa dais gases di(erenres, mas se combinaclns cm cert<1 proporC;~lo
.determinada e sob certas conclic;.ClCS fisicas especfficZ!s,
transformam-se em algo complctamentc clifcrente: 8glla. Se
tomarmos as p;utes que compoem a :'igU<1,nao entendercmos ZI
8gllZ! jamais, pois que suas p;-trtes constitutivas S:1Ogases. Do
mesmo modo, se tam::nmas as inclivkluos, n;io cnlemkrcmus ,
socieclade jamais, pois se c vercbdc que ela existc em caclZ! um,
em cada um so existe um (ragmento clela. 0 toelo, para
Durkheim, tem preccclcncia sabre <1Spartes. A saciccbde tem
vantacle propria. Ela pensa, sente, c1cseja, embora nao possa
pensar, sentir, desejar e principalmcnrc agir sen50 atrZlves dos
inclivfduos. A conscicncia calctiva existe atr,wcs cbs conscienci;s
particulares. Cada uma nao c nada sem a outra.
Talvez a esta alrurZl, caro leitor, voce ja csteja um POllCO
ansioso. Talvez ja esteja sc perguntando: bem, mas 0 que tem
tudo isso a ver com educa<;:ao? Em que Durkhcim nos ajucla,
afinal, a pensar a ecluca<;:ao?
Calm;1, calma. Vamos cheg:lr L1 agor~l.
Disso que acabei de di:er, retcnha dois r<1ciocfnios
funclZlmentais. Primeiro, a conscicncia colerivZl, est:1 sociecbcle
viva na cabec;a de cada indivfduo e ao mesmo tempo exterior a
cad a pessoa e que a obriga a comportar-se Conforme 0 desejo c1;)
sociedade, nao existe individualmente, mas somente pela
cool)cra~ao entre osindivfduos. Segundo, essa existencia social,
essa vida coletiva, e obra nao apenas dos indivfduos que
cooperam entre si num dado momento da vich da sociedade,
11~::lStambcm clas gcra<;:()cs passad;ls, que ~ljudar,lm ; eriar as
, cren~as, os valores e as regras que ainda hoje estao presentes e
que nos obrigam de certo modo a nos comport::lrmos de acordo
com ~~a-.~ol1tade da sociedade".
desuso, obviamcme porque a sociedack c t;lmbcm as eondi~oes
economicas mUlbm. Pergunte :1 SCII p:li OIl ;IVl, (sc ek loi um
homem "hem edueaclo" eb primcira mctadc do scculo XX) ()
que se c1evia tazer ao cruzar, na calc;ada, com uma pessoa mais
vclha. A resposta c: oferecer 0 bdo de dentro cia calc;ada, fiGll1do
voce com 0 helo ch rua. Pr:1 que? Nan eSCJue~a que a maioria
cbs rll<Ser:1 de lerr:, e () risco de ul!:lll1c·:r II [el"l() dc· L::ISell1ir:1
branca era bem maior para os que ficassem perto da rua nos dias
de chuva. Com a urbaniza50 e 0 desenvolv.imento econ6mico,
a regra caducou. Alem elisso, 0 SWCllS c10s mais 'elhos er;1
difereme do que existe hoje. Esses cxemplo~ tomam apcnas
pequenos Ir::lgmenros (:1 teia ele nmm~lliza.6cs olerecielas pela
socieelade, mas s50 parte integrame de um determinado meio
·moral que compzlrtilhamos.
Ltc meio mor::ll, nos eliz Durkheim, C produzido peb
cooperac;:'io entre as inclivfduos, atr:1VCS de um processo dc
interZl~50 que chamou de divis50 do tr;lb:1lho social. Dito de
Outro modo: conforme 0 tipo de divis:'io do tr:1balho socia! que
predomina n<l vid::l eoktiv::l numa c!ctL'l'minacb CpOC::l, tcmos
UI11tipo difereme de cooper::l<;50 entre os indivfduos. E este tipo
diferente cle coopera<;50, pOI' SU::lve~, d:1 origem :1 um::l vich
moral clifcrel1te. Vicla moral que ser:j a base elos conteuc!os
tr::lnsl11itidos n::l (orma de cren<;as, valores e norm::lS cle gerac;50
para gera<;50. E que cacb nOV~1geraC;;1o, ao nasccr, rccebe pront::l
na forma de educ::lc;50.
N50 estou f::tlando apen::lS de educ3<;50 escol::lr, note bem.
Estou blando de aprcncler a viver. Estou fabndo clo modo como
somos ensinados a ser membros cia sociecbcle da qU::ll lazemos
parte. Cois::l que, voce ja cleve ter reparado, ningucm nasce
sabendo. Alias, alguns jam::lis aprcndcm.
Como j,1 limos, ;10 renetir suhre como, ;lfin;J!, um simples
con j u n to de in d iv felu 0 s po cle co 11S tit u irum::l so c ie ela dc,
Durkheim observ::l que um:-t condi<;;lO lundamental pJra que a
A diferenciac;~o da sociedade
Ora, se agimos segundo a vontade dJ sociedade, e porque
assim CllJrcn~emos. Porque fomos edIlcados para isso. Essa
educac;ao, naturalmente, n30 se faz no vacuo. Eta tem GonteCJc!os.
Tais conteudos sao dados pdo meio moral que compartilhamos,
quer dizeT, por este mar de crenc;as, v::llores c regras produzidos
pelas gerac;6es de indivfduos p::lssadas e presentes d::l sociedade
em que vivemos. Existe um numero quase infinito de regras
socia is que, de tao comuns, ate esquecemos que existem, mas
das quais imediatamente nos l~mbramos se colocados diamc de
uma situac;ao que as exija: e proibido matar seres hUI11::lnos,
e proibido fazer sexo corn 0 irmaozinho ou a irl11:1zinh::l,
e recomendaveI que 0 homem envie flores a mulher amada
(s6 na fase da conquista, claro), c pouco educado perpetrar urn
sonora arroto durante as refeic;6es ete. Isso parece 6bvio demais?
Entao veja estas outras duas regras socia is: c gentil arrotar durante
a refeic;ao, pois significa que estamos gostando d::l comida;
e gentil oferecer sua espos::l para uma noite de sexo com os
homens visitantes. Ben;, essas ja p::lrecem mais ex6ticas par::l
n6s, pelo menos alguns de n6s, mas ::lpril11eir::l vale para CCrt::lS
culturas de povos arabes, e a segunda v::llc para a cultUra
esquim6. Hc"i outras re~[as de "bo::l educaC;:lO" que caem em
sociedade possa existir c a presenr;:a de um conscnso. Pois sem
consenso nao hc'i cooperaS;ao entre os indivfduos e, portzll1to,
nao hc'i vida social.
Quando os homens possuem pouca divisao do trabalho em
• sua vida em comum, existe entre eles um tipo de solidariecbde
baseaclo na semelhanr;:;1 entre ;1Spessoas. NUIl1;1 triho de fndios,
por exelllplo, toclas as pcssoas (azclll pralicamc·nlc :IS mcsmas
tarefjls: car;:am, pescam, fazem cestos de vime, participam de
rituais religiosos ele. A liniel divisau llUC gcr:dmcl1L<.: CXiSlC_
alem ..cta~presenr;:a de indivfduos destacaclos, como 0 chefe ou 0
curaI1d'eir() -: C a divisao sexual de tarefas entre homens e
mulheres. b tipo de solidariedade que se cstabclece entre essas
pessoas e 0 que Durkheim chama de solidariedade mecal1ica.
As pessoas estao juntas porque fazem juntas as lllesmas coisas.
.Mas no caso radicalmente oposto, ou seja, na moderna sociedade
industrial, as tarefas SaG extremamente dividicbs. Com a divisao
do trabalho ~ocial, cada vez mais, os inc1ivfc1uos desempenhanl
fun-r;:6es diferentes umas das outras. Tal processo se radicalizou
com 0 capitalismo, que levou a uma superespecializar;:ao das
tarefas. Na fabrica moclerna, ha um homem para apertar 0
parafuso, outro para encaixar as per;:as, OLltro para pintar os
encaixes ete. Alem desses, que san todos oper:irios, ha outros
tipos de profissionais superespecializados: 0 medico, 0 professor,
o dentista, 0 carteiro, 0 ferreiro, ° ac;:ougueirq, ° comador ete.
Imagine 0 que diria a velha Durkheim se vivesse nos c1ias de
hoje, rodeado por tecnicos em informatica, consu[tores de
marketing, pHotos de conida, analistas cIe sistemas, tiidcomakcrs,
astronautas ... Talvez nem se espantasse. Talvez confinnasse com
um sorrisinho nos labios que tuda 0 que se fez desde °infcio do
seculo XIX foi 0 incremento cIe uma difcrcnciaqao social cada
vez maior.
o tipo de solidariedade que se.estabclece entre os indivfcIuos
com este e!evado grau ~e divisao cIo trabalho nao pode ser a
mesma solicIariecIade cIos fndios na tribo. Na socieclacle industrial
moderna ha uma solichrieclade par di(erci1c;a e n:u mais por
scmelhanc;:a. E 0 que Durkheilll cham:l de snUdwicdudc mganicu.
As pessoas nao estao juntas pOI'que fazem juntas as mcsmas
coisas, mas 0 contrario: cstao juntas pOl'que f;1zem coisas
diferentes e, portanto, p:na viver (inclusive para comer, heher e
vcslir) dcpcndcm d:IS uulr:ls, que (;Zelll c()is:IS qlle el:ls 1l;'I()
querem ou n3.o SaGmais capa:es de fazer. Como 0 alfai:tte comeri:1
e como 0 cozillhcim SL'vcsliri:l sc II:() (I.'SC:1 CxiSI('lll·i: ,1()(JlIl1"rl.
Se uma tribo (osse devastada por um ataque inimigo e Sl) restasse
uma peSSO<1,cia poderia J.inda sobreviver na m:.ta clc;:ando ou
pescando ou comendo frutos cbs :lrvorcs, cm.[,urd vivcr scm 0
grupo talvez nao fizesse m::ris scntido para cIa, tao lig::rda ao
coletivo ela e. Mas 0 que voce faria, c::rro kitor, se um;1 cxpediC;ao
de marcianos C<1pturasse tad a a populac;:3.o ela terra para
experiencias e s6 esquecesse voce par aqui? Como comeria?
Claro, voce pode assaI tar a balco frigorifico elo supermercado.
M<1squanto tempo a energia elCtrica elUl'aria sem a manutenc;:3.o
do pessoal cia comp::rnhia de forr;:a e luz? Quem pag<1ria seu
s<11ariol Quem lava ria suas cuecas ou calcinhas? E pr:1 que us~u
cuecas ou calcinhas se nfio h:i mais escritl1rio paw IT~1balhar ou
aula para ass~stir, nem ningucm para vcr voce pehdo ou pelaeb?
Qucm the ensin<1ria sociologia cia eelucac;:3.o na I ni versidaele?
Quem passaria aqucle filme rom~lntico e1e S:ib~IClo:1 lIoite?
L;1mento informar, mas voce depenele c10soutras. Sua relar;:Zio
com os GlItros toelos que estao a sua volta, mcsmo com aqueles
que voce odeia, sua rebC;ao com seu p::rtr3.o ou com sua sogra, C
lIm::r relac;3.o de solidariedade. De soliclarieclaclc org:'mica.
A diferenciac;:'io social, isto C, :1 pass~1gcm eb solicbriccbde
mecanica para a organica, C similar a luta pela sobrcvivencia no
reino animal. A divis3.o do trab~1Iho, P:H~1Durkheim. c a so[uc;ao
pacffic<1 cIa luta pcla vida. Em ve: de matar lIns aos outros par
causa cla competir;:50 que scriam obrigados a cmpreencler com
seus semelhantes na luta pela sobrevivencia, os seres humanos
diferenciam-se. Nas socicdades humanas e posslvel a 11111nllmero
maior de pessoas sobrevivcr, difcrenciando-sc Ul113Sdas Outras,
fazendo coisas que as outras n50 fazem p3ra tOrJ1dr-se parte cia
sociedade, e par consegllinte substituindo a s()lidaricd~lde
baseada na s~melh3n<;:a pel a solidariedade baseackt n:: diferene:'l.
M;ls h:l outro ponto illlPlll·Clllc. Durkhei';l ;lS:,ill;lla que
qu::ooo ha pouca divisao do trabalho e, em decorrcncia,
solidariedade mecanica, a conscicnci3 coktiva c mais forte c
exten...siy~ a um nLllnero maior de pessoas. Isso ocorre porquc
desempenhgmdo fun<;:6esSOCidismuito scmelhantes, os indivlduos
pcnsam "com' a mesma cabe<;a", por assim dizcr. Quando, ao
contrario, h5 muita divis50 do trabalho c, em dccorrcncia,
solidariedade organica, c<lda pessoa, em diversas cirCUi1StJllCias
da vida, tem 'Ulna margem maior de tiberdade, para pensar e
agir por conta pr6pria. H::l, portanto, um cnfraquecimenco
rela~ivo d.a consciencia coktiva nas sociedades complcxas, h5
um enfraquecimento c!as rea~6es da coletividade conte, :1qllebra
das regras estabelecidas e ha uma margem m;1ilH pdr;1 a
interpreta<;ao pessoal ou grupal clessas rcgrdS.
Assim, os meios morais, nas sociedacles com POUCd e nas
com muita divisao do trabalho·, sao bastante distintos. Os vatorcs,
as cren<;:as e as normas compartilhados no seio de uma cllitura
pelos indivfduos saG muito mais imperativos, obrigat6rios e
homogeneamente transmitidos de gera<;ao pard gera<;ao numa
sociedade pouco diferencidda, enquanto que, pelo contr::lrio,
sofrem interferencias de grupo, de SWtHS e de c1asse numa
sociedade ·muito diferenciada, como a sociedade industrial
moclerna. Quando todos sao rigid;1mente ei1Sinados a obcdecer
ct? mesmas normas, a comp,lrtilhar as mesmas crencas e os
mesmos valores, a tendehcia, pensa Durkheim, c 0 cl~nscnso.
Quando cada indivfduo, am (lln<;:ao da divisao cia trabalho e da
especializa<;ao, assume v't~ores, cren<;as c ~10rmas clifercnciadas
conforme 0 grupo ao qllal se vincub na vicb profissional, as
regras gerais Hcam relativiiadas, Hcam mais (r;lc1s. Pnde-se dar
intcrpreta<;6es cli(erentes a ebs conformc 0 lugar ell' onde sao
vistas. E quando h5 forte diferencia<;ao social h<1mllitos lug;1res
clifercntes de oncle se olhar :1Sregr;1S. r tcnc!cncia ser;1, entao,
o conflito, decorrcl1te da comretie:?io impost:l pcl:l c1i(erenci:lc}io.
Os intlivitilltlS P:ISS:111l: glli:tr-sc' 11c·LI '11:,(:1 ,LI .':III,I:II~>·ltl ,IL-
interesses que SClOcada ve: mais pessoais c «,da 'c mcnos
coletivos, na luta pcb sobre'ivC:ncia que ;lprendem n:l suciedClde
complexa em que nasccm. t assim que Durkheim vt?um (en()meno
extrcmamente c!isseminado nos di;IS e1e hoje:o. il1llividu:dismo.
E a c1ivisao do traGal ho cad i(ercnci<1s;:'1ll sucial que
possibilitam 0 surgimcnto da liberchc!e moc!erna. SCl numa
socieclacle complex<1 e elilcrcnci;lLh c que se turn:1 posslvcl
clim in u ir a rigiclez cbs regras soc ia is, sU;1 v:ll iebel e ge ra I c
indistinta, e s6 assim 0 inelivfduo pock tel' cerra liberd;1dc de
julg;1mento e de a~ao. Mas qUdl1tO m;is liberlladc individual,
mais indiviclualismo, entendido como ~1perda dc,:; sentimentos
grcg::lrios e de respeito JS norm,s gcr~lis cla socieclaclc,
Educac;:50 para a vi~a
Chamo cntflO sua atcn<;f1a para ;1 scguinte questao: quanto
mais individualista em termas de crcn~as e valorcs c uma
socied;1c1e, mais importante se tOrn:1 resolver 0 problema ele como
preservar uma parte da conscienci;1 colctiva, que era quase total
nas socieclaclcs pouco difcrenciachs. Pois qllilnto mais 0
individualismo cresce, mais a conscicncia colctiva eliminui.
E no entanto, paraeloxillmente, sem CC1l1scicncia colctiva, sem
lima moral coletiva, d sociedade n50 poele sobreviver.
A solidarieelacle c a cimento que d5 lig;, ; sociechcle. Se Fosse
cleix~1eh par3 scguir seu rumu scm cUl1trule, ; solie!;triecL!,le
organica (baseada na difcren<;a) pro'oc3ria a clesintegra~ao cia
socicdade, provocaria 0 que Durkheim chal1lou ele (11101Jliu,istu c,
a ausencia de regras, 0 caos. Se isso nao ocone por completo e
porque a conscicncia colctiva ainch se m:1ntcm ele ;llgum<1form:1.
Num meiO moral cm que 0 individualismo possibilitado peb
diferencia~ao social compete com a consciencia colctiva propria
a toda vida social, a eduGlI;;50 assume 0 significado de cduGI~ao
moral. Assumc a condi<;ao de peelr:1 funchmcnt:ll dc prescrv:1~?io
cia coesao social.
Assim, a educa<;ao, para Emile Durkheim, e csscncialmentc
o processo pelo qual aprendemos a ser mcmbros da sociedade.
Edu<3a<;50-e socializa<;50.
"E um-a ilusao acrcditar que iJodcmos cducar nossos filhos
como qucremos", sentencia Durkhcim no seu livro Eclucw;c1u C
sociologia. Existem ccrtos costumcs, ccrtas rcgras, que dcvem
ser obrigatoriamente transmitidos no processo celucacional,
gostemos deles ou nao. Se nao fizcrmos isso, a sociedadc se
" vingara de nossos mhos, pois nao estarao cm condi<;6es de viver
, em· meiO' aos' outros quando adultos. A cad a momcnto hist6rico,
acredita Durkheim, existc um tipo adequado de educa<;ao a ser
transmitida. Idcias educacionais muito ultrapassadas ou mUlto
a frente de seu tempo, diz nosso soci610go, nao SaG boas porque
nao permitem que 0 indivlduo educado tenha uma vida normal,
harmonica com seus conte'mporfll1eos.
Mas se, como dissemos antes, as socicclades moelcrnas SaG
m'iJito diferenciadas, devido a divisao do trabalho social, como
seria posslvel um unico tipo adcquado de cduca<;ao para welos)
Ora, nao seria posslvel. Para Durkheim, a cduca<;ao adequada
e a educa<;ao pr6pria ao meio moral quc cada um compartilha.
"Nas sociedadcs complexas existem muitos meios morais, con forme
'a divisao em classes, em castas, em grupos, em profissoes ete.
Assim, nao existe uma ~duca<;ao unica para que wdos aprcndam
a ser membros da sociedade., Voce aprendc a ser um membra de
sua classe, de seu grupo, de sua casta, de sua profiss<1o, enfim,
de seu meio moral. E~.este e 0 modo cspecffico, particular,
pelo qual voce sc t01'l1,1mcmbro eLl soci"chdc, ESLI n~Oe algo
que cstej; disponi"cl CIl) Sll: :lhr:l1.c:l'lh'i;; Illl;J! 1:r: II)l;l~ :~
pessoas. Sociali:ar-sc c aprender " ser mcmbru d;1 sociecbde, c
aprcncler a ser membra d" socieebclc c Zlprel1(kr ° seu devido
lug:1r neb. Sll assi!11e possi'c! preser":H :1sllcied<l,lc. l'rcsen';l-
h inclll~ivc de SII:I prt')pri: dirnl'llci:!I)",
:prender ;1 ser lIm cngcl1heirt), 1:1': UUI"i,hl'illl, 11;-111C
simplcsmcnte aprender :1 f:l:cr pbnt;lS ou Glcubr voilimes de
concreto. Assim como aprender Zlser mec!icl1 n;lo se limita ;1
aprcncler a COrl;lr h:nrig:ls (ll] serr;lI" ()sSll~,Iprellder :1 scr medico
ou engellheiro significa ,1prender : ;l,!.;ir11;1;id;1 cnl11n mcc!ico '
ou ellgcllheiro, :1 rclacion;1r-~e CO!11os ollros : p:nir desl:l (1]
cbquela prafiss:1o. Significa :lprellder : ;I,c:irC0l110 :) s()cied:de
cspera que um mcdico au um engcllhciro Zljam. Significa cntrZlr
num meio mor"I, an'aves cia aquisi<;ao de uma mur;t1 profissioll;'1.
POl' isso, as sistcmZlS CducKion:lis conlempur;ncos nao S:10
homogeneos. Educa~f1o homogC:lle;l, ;t1ijs, Sl) sc volt{issemos a
prc-hist6ria, em socied.ldcs sem cli(ercncia<;:-o,
No entanto, por mais especftkos que sej:lm os mcios morais
para os quais somas cduc:1c!os, sCl11prccxistir;m crcn~:1s c v;t1ores
b5sicos que dcvcm scr COInuns ;:I toelos, / eclucac;ao do
engenheiro pock ser Inuit,,) clifcrente eLldo mcdico, ou do liter:1to,
mas ,lltcs de serem edUClClos p,lra essas ativi,bdcs profission:lis,
passaram !)or uma educac<1o fundamental no crcral~ 1 b
compartilhZlcb com tuelos. Mesmo nUI11:1sociecbde rigidamentc
dividida em castas, como na fndi;l, ollde ZlSpcsso:S n:1sccm e
morreIn, gera<;:'io :lp6s ,c:cr:l<;:1o,sel11 ch:lncc de P:1SS:lrcle: UI11:l
(;:Ist,1 p;:Ira outra, existcm :11,f;unsvalorcs Cl1!11UnS:1 todos; par
excmplo, unn rcligi?io cOl11um. Assil11, mcsmo que IIcm toelos
n6s fumel110s um detcrminado Ci~;IITO, ":t1crum:l co is;, :l "elite'•.J u 0
tem quc tcr CI11comum". N:'io seri,l possi'c! cxistir sociecLlcle:
sem isso. E fundamcnt:ll que h:lj;1 certa homogelleid;lClc, c :l
ecluca<;:'io cleve pcrpctu;l-h c n.:(m<;{i-h n: :t1111;1da cri;1l1C;;1ljuc
e educada, insistiu 0 soci6!ogo frances, Assim como e
'fundamental para ele que, a partir de certo pomo, ;'1edUC1C)O
se diferencie, pilra adequar as cI'ian~as a seus meias especfficm
de vida,
CrPiTULO III
-~ Sociedade, edUG1<;:5.oe emallcipJ<;:50
Para resumir esta idci~l, permita-me cit~1r a defil1i;50 que LJ
pr()prio Durkheim eLl Il:1r:l ('LitICl,::l):
AlCdLlca~50 C a a~50 cxcrcicb pcbs gera<;iies adultas SOblT:IS ger;1~,-)eS
que n:1o se encontram aind:l prl'par:1<1:1$P:lr:1 :1'i":l S(lci;l]; tem p(lr
objcto suscitar c c1cscnvolvcr, n:1crian<;:l, CCI'lOI1l-lmerude c$!:ldos (isiCl)s,
int~lc~tuais e morais, rccl<1mados ,pcb socicd<1dc politica, IllYsell
conjunto: e Pclo meio moral:1 quc a crian~a, particLlbrmenrc, se dcstinc
(Eclllcar;do c socioloj;ia, c;lj), I),
Eisso quc nos permite viver cm sociecbde, c isso que permite
que a sociedade viva em n6s c c isso quc permite J socieclaclc
continual' viva: sennas igU:lis e c1i(eI'el1tes au meSI1H) l'empo, S-)
a ecluca<;ao pcb glial pass~ln:os C capaz de nus Lm::r :lssim, [ C
pOI' isso que a educa~ao c um pracesso sociaL
EST .. I3E11, r SOCII:D,DE ",os 11,)LLl .., i ClIUC1<;:-lOLjUc recehcmlls
tem pnr nhjetivo 110," cnqll:lllr:1r :lS eXllccr:lIi':lS ,1) ll1l'io $oci:t1
em que vivemllS -11,)SS:1 chsse, 11,)SS:l!)r)(i,;s:-Il), 11)SS)Illei,) 1111)1':11,
Cada gcI'ac;.:1o transmite J seguil1le, all'avcs d:l elluclC;:10, 1S
elemel1tos (ul1dament:lis p:1ra a m;llH1ten<;:l) JI eS!:lhiliL!:llk' lL1S
ClllctiviL!:lclcs hUJ)):lI1:1S, Esses :lch:l,llS ,Ie lJIII-kh.:illl S..'111d(I'i.l:l
clc-'cm scr consiclcra.los como um imp.lrl:ll1le pomp de p:lrtida
d:l socio!ogia, c t:lInhcll1 d: sucio!ugi,l ll:l CdUClt;,-IP,
1"bs nos ljucsrinnemos um plllIC,) :'l,~OI':1sl1hre 11Ii.') que exisie
nos P.)J'(-)CSeh socie(Llclc, 0 que cxi~t., Illlr tr:s ,Lls :lp:lrcnci:ls
dess:1 110va, ma 1':1'il hosa e te rrf vel I'e:1Iichde !l;nid" a (CHceps
pel" modern:1 oI'dcm il1dustri:1! clpir:1Iisi;l' QIl:lis ns mcclI1ismos
de cl1quaLlramcnto sohre, ns in,livlclu)S e : que ini,;I'l'SSl'S ele:.;
de (;HO Scrvel11? Que (Jr~:lS $1Ci:lis l'mcrgentcs llL'sie 11')1'1
mOI1lCl1ro hisCl)ricu S,-IPC1Il,l:es ,Ie ClllllTO!:lr :IS Cl1I1,ciC'l1ci:IS lips
homensl
Mais que i~~n: diante dn ,lCllmull1 ,Lls m:l:el:l~ SPCi:lis
j: c!es,!c 0 ber<;o LIZ!socied:1dc capil;1Ii~ra, comu tI'al1sformar CS[;1
I'ealidaLlc? Como impcdir que os muitos que est:io por b,lixu scjam
csm8gaclos pclos poucos que cst;1U POI' cima' ScI', que 0 aeo'de
educar pode scr algo mais do que um mecmismo de m;muteI1C;:lo
cia ol'c1em? Ser:i posslvel ecluc1I' !1<lra a emancip'ls;.:1l) llo homem,
para livI':-I() de LOci,) ;1 "preSS:10 que u esm:lg:1?
Mitrx C 0 pl'ns;lml'nlo sociol6gico
, obra do alcm;1u Karl Heimich brx (1018-1803) marCUl!
como um corte de 11<l'alha 0 pCl1samel1to ocidel1tal do scculo XIX,
Seu objeto de pesquisa fundlmenral, para n:io dizer U lll1ico, fui
a sociedade capitalism de seu tempo. Ele olhou 8 sua volta e
percebeu que,' para' alem clos sinais aparentes de miscri~1 e
sofrimento das classes trabalhadoras - esses qualqucr um que
caminhasse pcbs ruas das gran des cidades industriais podi~1 ver
- havia um processo hist6rico em curso que, enquanto levava a
blrglesi~1 ~I cllndi~;iu de CLISSCd)lllin:1I1Il:, CXpr)11I'i;v;dIS
trabaihaclores manuais seus instrumentos de produc;:ao e seus
saberes, 'transmitidos com zelo de gewc;:ao para gcrac;:50 ~:ltravcs
c10ss~q*)s, ao tempo da velha ordem feudal. Perceber este ponto
talvez seja,o grande diferencial cia sociologia de M~1rx.
Mas devo adverti-lo desde logo, caro Icitor, que 0 pcnsamento
de Karl Marx nao se adapta facilmente ao r6tulo de "sociologia".
Pois a sociologia e uma discip!ina ciemffica e empfrica, de car5ter
analftico. E Marx combinoll em seu pensamcnto duas
perspectivas dife~entes, dois modos diversos de cncar;H a
reaJidad~. Por um lado s~.~pens~~er.t? .L~n~Ut.ic<?,., isto ~-'_
,pretende ver a realid~le CO}11Oelac, dissecanc!o:<;J e
recon~truiI.:!c1.2-a concei~~,~~nelHe para entend0-la. Nesse
sentido, de foi um praticante das ciencias sociais (a sociologiZl,
a hist6ria e a economi3 polftii::a). Por outro Iado, seu pensamento
e normativo, isto e, pretende vislumbrZlr como a realicbde
deveria ser, construindo uma utopia em nome da qual seria
necessario agir para transformar esta realidade, valorativamente
caracterizada por ele como infqua. Nesse senticlo, de fazia
filosofia. Alias, Marx nao era apenas un~J2..~nsad()r. Er~..JaLUk~1)
um militante polItico, que prete~,-<;,lia_c.91oc.0r.s,qas,id(ias.em
pratica atra~cs de_.!!.n:!...p_artido polftico. Mas nao se conformava
em propor 0 socialismo como uma opc;:ao entre tantas oun'as.
Seu socialismo era "cientffico", e sua ciencia Ihe dizia que 0
socialismo estava fadado a triunfar.
Para de nao havia contradiC;:50 entre tcoria e pratlCa, nem
entre 0 modo como as coisas SaG e 0 modo como elevem ser.
~.
Pelo contr,1['10, sc :<s()cied~llk verd:ldciL1Il1Cl1le hUIl1:l1:<"dc'e
ser" um di:< um:< socicdaelc scm cxplc)r:lc;:;ioe nprcssf'lu, C porC]ue
est:< possibililbdc CSt:1dad: j:l <1gl)L,I1Umodo mesmo como ~1
socieclaclc presente "C". A c()!.~~L:<liis0o.par<1Ma~x l~?iOC um::1
h!h~do r~~.sio.~[l1~()!Clgic:,l2!c,() modo peo qU:lI.~ rc:;Ii~cLids-,'ie_
expreSS::1,e 0 futuro cksejac!o est~1cOl1tido no presente oclioso.
'L' Lllll(lIo,)! C;I!IILI. l'lI cXJlliLll.
P<1rachegar ao entendimento da socidacle c<lpit~1Iist<1,lvl.!Jrx
jLIIgou necess5rio dcscobrir COml) ~ hist6ria hUIl1:ll1: (unciun:l,
dc""di2 as primClrdios da civiliwc;:ao ate seus elias. N~1~@,..!l'..enc~
~e iss<;J,E :<creditou de (;uo h:wcr dcscuberto este mecll1ismo.
Como disse 0 ~1mig()e parccil'O il1telccni<1l Friedrich Engels (1820-
1895), num discurso proferido no enrerro e1e M:lr:-.:,~lssim como
Darwin havia descoberto as leis c]a evoluc;:io das espccies. M:<rx
h:<via clescoberto as leis cia histc')ri:. Ncssc scntidu. : pretensJu
de M:rx se assemclh:< muito ;1 de Durkhcim: 0 flll1d;1mCl1l':1l
pJra as cicncias soci:<is c que scj:<m capa:es ele enunciar leis
que tenham tama valiclacle gcr:1! quanto as leis cI<1fbic:1 ou c]a
bio!ogia.
Bem, mas que "descobert:1" era ess,l? 0 enunci:ldu cia lei d:
historia, segundo )vbrx, scri~1algu cumo 0 scguintc: "0 que move
<1hist6ria e a luta entre as classes sociais". Comprcenclenclo estJ
chave, 0 investigaclor (e, pril1cipzl!mcl1tc, 0 tr:<nsfonnador) social
compreencleria a naturcw da s.Kied<1dc Glpit;l!ista e a direc;ao
na qual ela estaria se transformz1l1do, gr<1c;as<1suas contradic;ClCs
intcrnas. Como a luta entre as classes chegou em5o:< constituir-
se em motor cia muelanc;:a hist6ric<1?
Marx e Engd~_cs,~J:~~~.r;,l!.l!..Ql~.;).hist.Clli~J.~~II.1.l-'--'-laC a historia
g,a relac;ao clos homens com ..a nature:<1 e dos homens.(::l)tr.e .si.
Nesses dais tipos de relac;:ao <1parece como intermeck1rio um
e!cmento essencial: 0 tr<1b:llho hum<1no.
E atraves do trabalho ~c 0 homcm mllda ~1naturcZ'l
colocal.:!d~=-a a S~U.Ji~!:,::,js;;;·~lc1;1;:;,'1ta,c~'~'I;~',:C'~~:lLl~~~CIj~~l(iI;;:
vive aU'aves de sell traball~o. Na mcclicla em que (l scr hUlllano
se reproduz, aU'aves das rel:locs sexuais entre homem e mulher,
~Q!:2cesso se expande~lo aumentQ. natlII~,l popula<;.J..9.
Ao mesmo tempo, para melhor desencumhir-se de sua tarch
de prodll~;o da vid: IlLllL'ri:d (l llllllClll lkscllvll1VCl1
inSl'rumentos de trabalho, que cada vez mais (oram (uncionando
como cxtens6es e COIllO aumento cbs c1pacidades do coqX)
hun.lano.-Em vez de cortar ou qu.ebrar com as proprias Ill:JOS,
inventou; a ·machadinha de peck1, clepois de Illetal cort:<nte
cte. Domcsticou animais' para (azer (l tr:1b:dho IlL1is pes:ldu,
desenvolvcu tecnicas de cultivo (como irriga<;ao ou eseolha
cle tcrrenos) para potenclalizar os resultados de seus es(on;os.
Com scu genio, com a capacidadc dc raciocinar que (alta aos
outros animais, 0 homcm (oi cada vez mais sendo capaz de
'lL,!ment,ar e melhorar os resultados obtidos pclo tr:lballw que
realizava com 0 suor de seu rosto. Nesse processo, trabalho
manual c rcflexao intelcctual jamais se separ:lram, cmhOLl _
como apontarci mais abaixo - 0 predomfnio de eel'LOSgrupos
dc homens sobrc outros ao longo cia hist6ria tenh:< gerado
uma diston;ao no modo yclo qu~d os homens tomam
consciencia cia rclac;:50 entrc 0 mundo material e 0 mundo
das ideias. 0 ser humano, assim, clescnvolveu 80 longo d~l
hist6ria, cada vez mais, aquilo a que M8rx e Engels cler<1m 0
nome de "(orc;:as, proclutivas". 0 desenvolvimcnto das (orcas
produtivas (oi oresponsavcl pelo incremento cb proclutivid,;cle
e pdo aumcnto do clomfnlo do homcm sobrc a naturezZl, bem
como pelo con(orto e pela riqueza matcrial dccorrentes, que
as sociedades acumularam ao longo cia historiZl. E, note bcm
. (or<;as produtivas nao;sao apenZls m8chadinh8s C ZHZlc!OS,nL1~
tambcm as tecnologias clcsenvolvidas pela capacidZlde
reflexiva do homem.
~,
M:lS niio :lpen:lS isso. Ao mesmo rem!',) l'm que 0 IT,1h:llho C
o il1termedi~lrio cl:1rclZl<;;:iodo homcm C,lm ~1 n<llureZ<l, elc c,
tambem, 0 intermediario cb relac;:50 c10s homens uns com os
OlltrOS, Porque 0 trabalho que sao obrigados Zlclcsenvolver par"
sobreviver clita 0 modo pelo qual CISsocieclacles humanas se
cSI!"llIII!":III. 1':lr:1 :1111111'111:11':1 l'r.,.llllivi.l:lIk .,,,<,i:ll, I':<!":<
5bcnvol vcr as forS8s C!'Uclllti:::l~!~)1'!111~I1~Y1I1AlCI1:.foi.,tlD,;ani:::llld<L
~produ<;flo junto com seus scmclkllltes, distribuinclo tZlrc(as c
b.c.l.1cfkios.entre as membros cb sociedadc. Foi cstc 0 ponto de
paaida do proccsso ele divis?io cia trZlblho, Primeiro, :<divisiio
sexu:11, entre 0 IT,'lb~dhode humens e 11H11hL'r·cs.DCl'uis, :1 divis;(}
entre a ZlgriculturZl c a criZl<;Ciode :lnim~lis. E, ~Issim pur c1iZllltC,
(oi se dando Zldivis:lo entre ,) clmpo C:1ci,LJdc, entrC:1 prodLJ(;ao
8grfcob e ZlindustriZll, entrc estz1e 0 comcrcio cte. Nesse senticlo,
como est" org8ni::a<;;ao cb produ<;ao advcm cia cap8cicbde
hllm:lna de r:lCiunZlli::ar clrcLls nu scntidu do :llImcnto d,l
prodlltivicbcle social, Zldivisao do tr8blho C tambcm pZlrte do
conjunto cbs for<;ZlsproelutivZls, Ambas, elivisao do trZlbalho e
forS:1s proellltivZlS, ao mesmo tempo determin~lm-se to: SaG
determinacbs uma peb outra.
;vbs Zldivisao social do Lr~lkJ!ho n:lo C 1I11FIsimplc:s clivisao
de t:<refZls:fllbno fa: isso, beltrane> :lqUi!O. N:lo. ELl C l"<1mbcma
expressao ela existcnciZl de di(c:rentes (orm~ls de propriecbde no
seio de lImZlcbcb sociedadc num e!Zldotempo historico ..As reb<;0es
cle propried8e1e, par SUZlvez, di:em respeito 80S tipos dc rclas;oes
sociais preclominantes nllm:< sociechde a partir elos tipos de
proprieclade ·igentes. Do ponto de_~~i:s.t~nd.~_l'hrx,. ebs il~~plicZlm
.nlll~U.scpara<;CiobJ~i<;.8:CI~[1S.()Sin~.tr.~IIi1Cntos o~~m2i(!.s.u~i!i:~L.los
pZlrZl0 trZlbalho, de um bdo, e 0 proprio tr8h:J!ho, de outro. Isso. - . ... _ .. _. - ..... --'
2ig~litka quc.nO.l'rllCCSSO de clivisao do tr:lb:llho.ncnuempre ..os
hc~~ns.9..u'::J?'?.ssuem ~")s.m~~:~l:~~~,lre~di~.'l.!·._C2tr.~'.aU~~~~.0~1II-am
e_llel::...~ell~pl:e()~.CJt~e_t:.'·.Zllxdh<1lnpo.sSL1CI1lesscs meios, As rebs;6cs
ele propriecl:1dl.:, portZlnto, s:o ; base liaS c1csiguakLldcs soci<lis,
na medida em que a divisao do trabalho possibilitou a cxistencia
de homens que trabalham para os outros, porque 0 fazem com
os meios de outr?s; e de homens que nao trabalham porquc
tem· meios e podemfazer com que OlltFOS trabalhem para si.
A esses modos espedficos de organiza~ao do trabalho e cia
proprierbde M;1rx c Engels dCFall1 0 nOIl{' dc "rd:l'-'CS SO,i:lis
de produC;;JO".f .
.C::lda epoca hist6rica possui um conjunto de for~as produtivas
desenv,'?~vj~l()s, sob 0 connole dos homens que nesta epoca vivem
e, ao mesmo tc.mpo, um conjunto institufdo de reb~6es sociais
de produ~ao: que san 0 modo pelo· qual os homcns assumem 0
controle sobre as for~as produtivas, isto C, as rclacoes de
propriedade. A este conjunto total Marx e Engels ch;maram
"modo de produ~ao".
Assim, as grandes transforma~6es pelas quais passou J hist6ri::l
da I:umal;ida.de foram as transforma~6es de um modo de
produ~50 a outro. Simplificadamente, podemos dizer que nossos
autores descrevem tres difercntes mod os de produ~8.o ;10 longo
da hist6ria: 0 modo de proc!u<;ao escravista antigo (Grccia e
Roma antigas, onde 0 trabalho era rcalizado pOI' escravos), 0
modo de produ~50 feudal (vigente no mundo medieval) e 0
modo de produ~50 capitalista. A cada um desses mod os de
produ~50 correspondem diferentes estagios de desenvolvimento
das for~as produtivas materiais e diferentes formas de org8niza~ao
da propriedade (ou rela~6es socia is de produ~ao). No primeiro,
a rela~50 social b,asica c a escravidao, que op6e escravos e
senhores de escraVOSj no segundo, a rela~ao social b5sica e a de
servidao, que op6e servos de glcba e senhores feudais; e no
terceiro, a rela~ao social fundamental e a de assalariamento,
que op6e capitalistas e operarios, isto e, burgueses e prolet<lrios.
Dessas diferentes rela~6e~ de propriedade, ou melhor, da posi~ao
dos homens com rela~ao as formas de propriedade vigenres num
dado modo de produ~adf c que surgem as classes SOCi'lis.
A transforma~ao de uma forma a outra, de um modo de
produ~50 ::loutro, se da pelos conflitos ::lbertos POl' Glllsa da lut<1
entre ;1 cbsse clomin;lda e ;) chssc L!omin;lIIte em cl(h cpoca.
Marx diz que as rela~6es sociais de proclu<;ao, isto C, as formas
de propriedadc, quando se cstabelccem, funcion8m como um::l
forma de desenvolvimento das (orC,;1Sproclutivas, mas cheg;1 um
1l1lll11CIllll CI11 lllC :IS (,'I<.;:S l'I",II'lil':I 11:11' 111:li:, l·'II:'l"I~IIL·111 sv
desenvolver sob a vigcnci;) daquel;1s rela<;:6cs de propriecl<1de .
Abre-se entJo um perfodu de convulsall sllcial, no qual ;IS
rcla<;:6es de propriedade vigentes san contest;1c!as. A classe
opril11icb, polftic;1 c/ou econOl11iCarnenlc c!omin;IL!:l, sc insup'cb
contra 0 predomfnio cia cbsse dominante. t.l"lur isso que nossos
autores 8finnal11 que aquilo que move ,1 historia c a luta entre
as classes.
Nessa cxplicac;:ao generic8 cia teori:l cla histol·ia de Marx eu
56 Ihc o;pus, atc ;1qui, 0 a~pcctn lel:1Cion;Kln com as (OrJ)l;lSde
produc;:ao material e c!e org;mi=a~:io L!; cstrutur;1 social debs
decorrentes. lvbs como 0 trab<1lho e a rencx8.o c1ohomel11, como
ja sublinhei, sao (aces da mcsl11a 1110ecb ZlO longo cla hist6ria, <1
tcoria dc Marx se propoc tambcm a explicar de que modo 0
mundo c!as ickias, do conhecimento, das crcnC;::ls e d~1Sopini(les
se relaciona com este mundo nnterial, cia proclu<;:IO:do tr::lbalho.
Jvbrx e Engels se veem entao diante cia seguinte pergunt8: como
explicar (1 conscicncia que os homens tcm ou cleixam cle tel' a
respeito de seu pr6prio modo de vida, cia produ<;ao material de
sua socieclade e cbs rebc;:6es de cbsse, sejam cbs cconomicas
ou polfticas!
A conscicncia esta lig8da ?is condic;:6cs materiais de vida,
;10intercambio economico entrc os homens, como j;i vimos. M<1S
a consciencia que os homens tcm dessas reb~()eSI "firmam nossos
autores, nao concliz com as rcbc;:(ks l11;lteri:lis reais que cle f:lto
vivem. As ideias, as concep~6es sobre como funciona 0 mundo
sao representa~6es que os homens fazem a respcito cle Silas vichs,
do modo como as rela~oes ajJCLTccem n3 sua cxpericncia
cotidiana. Essas representa~6cs s50, partama, aparcncia. P<ua
Marx essas represcnta~6es implicam, num primciro momcnto,
numafalsa conscicncia, numa comcicncia invertida, pois se prcnclcm
~ aparcncia e n:o s50 capaz('s de clptar ; cssC:nci:1 lLtS I'C!:l;C)CS
as quat's os homens estao de fato submetidos. .
'Se estiver muito complicado, nao c1csanime agora. Vou lhe
dar unr·ex~nlplo pratico e cbra dcssa falsa conscicncia CJueacabei
de mencionar no paragrafo acima. Quando sc cstabelccc na
hist6ria uma determinada forma de divisao do trabalho, qu:-mc!o
cia se torna dominante e generalizada dentro de uma socieclacle,
cia estabclece 0 lugar de cada um clentro do proccsso proclutivo.
Assim, as rcia~6es de propriedadevigcntes, 0 pocler polftico de
certos grupos sobre outros e as formas de explora~50 do trabalho
que uma determinada c1asse social consegue implancar numa
determinada epoca hist6rica, estabeleccm e clcterminam 0 que
cad a indivfduo esta obrigado a fazel', 0 modo como esta obrigado
a trabalhar e viver. No capitalismo, diz Marx, existcm os
proprietarios dos meios de produ<;ao (as fabricas, as mjquinas e
a pr6pria for~a de trabalho do trabalhadar). Estes sao obviamentc
os burgueses. E existem aqudcs a quem naa rcsta Outra
alternativa de vida a nao ser vender 0 unico bem de que clisp6em:
sua for~a de trabalho, em troca do pagamento de UI11salc'irio.
No entanto, na cabe~a dos homens que vivem sob este sistema,
isso e percebido, no, plano das ideias, como algo normal, natural.
Ao trabalhador Ihe parece natural que certas pessoas tenham
que trabalhar em troca de um salario para viver, como sc isso
scmpre houvesse existido e, mais ainda, como se tivcsse que
continual' existindo par'a sempre. Esse indivfduo n50 ve a
sociedade capitalista como uma sociedade historicamente
construfda pel a luta ent~~ uma c1asse com inten~ao de scr a
classe dominante (a burguesia) e outr"s ch~:ses, que aC:1baram
sendll suhmetid,s ; cst;] c;sse dllmin:lIte, tr:tllsrlrlll;ndo-se
em prolet:1riado. N50. A medich que 0 tempo p:1SS:1e ;1sociedade
capitalista se estabiliza, cta c percebida pcbs pessoClS, na vida
cotidi:1na, como ;1 uniC<l socieclade possfvcl. Assim como em
olll'ros tempos, ;1 s<lcicd:lde (l'lIl:d, !)<l[' C:l'111111<l,((Ii !)(:rcl'l)id:
pelos homcns C01110a Lll1ica socied;lde possivel (dur;1I1te scculos,
num intervalo de tcmpo, :1]i5s, bC111m;lior do Cjue :1dur<1~ao do
capitalismo).
Rep:1re :1qui um:1 cli(crcn~:l (uncl<1ment;1! entre Durkhei111 e
M:1rx. Durkhci111 nos mostr; () peso cb so'cicchclc sobre os
indivfeluos, :1pont:1 que ; conscicncia il1Llividu;t1 C llalb pcb
preponderancia ele um:1 conscicnci:l coleti,,;, Cjue us indivfcluos
nao pensam com sua pr6pria cabe<;;1. Ivlarx, pOI' sua 'e:, mosua
quc isso nao c assim simpksmcme porClue CIu:11qucr socieelade
de homens cleve necessariamente ser exterior e coercitiva sobre
os indivfduos. Ele mostr,l que 0 car5ter coercitivo, dominador,
nao se manifesra igu;11mente pur parte "cia sociedade em geral"
sobre todos os h0111ens inclistint:1mente, mas sim dc umZl parte
da sociedadc sobre outra, ou melhar, de uma cbsse social que
aSSU111e0 papel de domin:1nte sobre as outras, Cjue se tornam
dominadas. E que est:1 situ:1<;:lo n50 est5 :1li clcsclc Cjue 0 mundo
e mundo, mas que ela (oi criacla pcb luta hist6ricl entre as
classes sociais. Marx 8firma que se :1S rcb~6cs de domina<;:ao
existem em toda e qualquersociecl:1de e porque e1as s50
social mente construfclas. E, ponamo, nZlOprecisam existir p:1ra
semprc, pois 0 homem pock construir outros tipos de rela~6es,
sem ;1 domina<;50 de U111;1classe sobre outra. lvlas percebe, no
entanto, que os homcns, no seu uni'erso coticli;l1o, c1entro clo
qld estao submeticlos a este processo de clomina<;:lo. n50 tcm
uma conscicnci; real eLl clomin;ao de que s:io objclO.
Pensemos no processo de passagcm do modo de produ<;:ao
feuclal par:1 0 modo ele proclu<;:io Glpitalista, p;1ra que n50 reste
duvidas sobre isso. A forma de produ~ao de mercaclorias no
mundo feudal er~ 0 artesanato. Como resultado de uma enorme
gama de transforma~6es ocorriclas entre os scculos XVI e XIX,
o artesanato s~ transformou em grande inclustri::l. Como isso se
deu, do ponto de ,vista clas rela~6es de proprieclacle? No
artesanato, 0 Mestre de Offcio - por exemp]o, lI!11s:lpateiro -
reaHzava tad as as etapas cia produc;:ia de seu produto. 0 Mestrc
Sapate(ro curtia 0 couro clos animais, cortava, tingia, construfa
as f6rmas de madeira para a fabrica~ao dos sapatos, casturava-os,
pregava-6s"'s6Iados, fazia 0 acabamento e, aincb, os vendia em
seu estabelecimcnto. E claro que esre era um processo lento, e
lIm numero reduzido de pares de sapatos era produzido. Mas 0
Mestre Sapateiro tinha 0 controle de cacla detalhe. Eie, como
pessoa, sabia fazcr sapatos e era este saber (somado aos meios
materiais necess5.rios para a fabrica~ao de sapatos) que determinava
o lugar que este homem ocupava no mundo e suas rela~6es com
sells contemporaneos. E de onde veio este saber? Ele aprendeu
de um outro Mestre, muitas vezes seu pai, com 0 qual exercitou
o offcio desde crian~a, na condi~ao de aprendiz. Do mesmo modo
ele ensinaria, depois de Mestre formado, 0 offcio a seus
aprendizes" muitas vezes seus mhos.
Com 0 desenvolvimento do comcrcio, no entanto, uma
nascente classe de comerciantes come~ou a ter pressa. Quanto
mais sapatos vendidos, mais luero. Os comerciantes passaram
entao a contratar fabricantes de sapatos e reuni-los en'. galp6es
onde pudessem fiscalizar a produ~ao e cobrar a acrilidade, 0
necessaria. Ao fazerem isso, come~aram a entender 0 processo
de fabrica~ao do sapato e perceberam que seria possive! agilizar
a produ<;:ao se as tarefas fossem divididas entre os trabalhadores.
Cada um Faria apenas uma etapa, po is seria bem mais ;,rril apenas, 0
co'rtar 0 couro, ou apenas costurar, repetidas vezes, em vez de
todos realizarem todas as etapas e passarem de uma tarefa a
outra. E seria bem ma~s simples, tambem, que os novos
trabalhadores q'ue iam sendo contratac!os tivcssem que aprcnder
lima so tareCa, em vcz ele ;lprcnelcr 0 proCCSSl)lodo, jllntou-sc ;1
esta mudanc,;a um outm chelo fllnelamental. Com II dcscnvolvimento
tecno16gico daqueles scclllos, 0 XVIII e 0 XIX principalmeme,
foram criadas maqllinas novas p;na aumentar a proelu~ao.
A princfpio eSS:lSm{iC]lin:ls elepencli:lIn clo ISOqle () IT:lkdklc1nr
LlZi:l dcLis, I:S cum SCII ;lpcr(ci<;ll;lllCIlU, ;S m;'lljllin;IS
come~aram a ditm 0 ritmo cia prodll~80, sendo 0 tr:lbZllhador
obrigaclo Zl operar no ritmo da m{)qllina, e nao Zl m;quin;) ZlO
ritmo do trabalhador.
Agora pense 0 que acontecel1, nao so com os sapZlteiros do
exemplo, mas com toclos os ramos cia proclu~:io 'm;1terial, entre 0
tempo do mteS:lnZlto e 0 cb grZlncle incllistri:l. 0 que ;1Conteceu,
para Marx, c que os trabZllhac!ores foram cluplamente cXjJ1'ojJriudos
pelos capitalist;)s, isto c, deles foram subtrafcbs clllas COiSZlS:os
meios de jJrodw;clo cb vida mZlteriat e 0 .)(lhcr clo qllZlI cIependiZl ;)
fabricZlc;ao de um produLO e Zlpropria posic;iio social do artesao.
EIes cram Zluto-suficientes e passaram a se torn;)r clepenelentes
dos capitZl!ist;IS. Primeiro, porque n50 tinham mais os meios
materiais de vida, e forZlm obrigados ;) vender sua for~Zl de
trabalho em troca de um sZlI;'rio.E depois, porqlle nao saberiam
mais como produzir por contZl prCJpria sc tivcsscm esses meios
mZlteriais, j{) que foram obrigados Zl rcduzir SUZlcapacidade de
trabalho Zltarefas simples e parciZlis. Este saber foi apropriado e
controlado pelo capitalista, que 0 desenvoIveu e rZlcionaIizou.
AU'aves cla maquinZlria industri:ll moelerna e de posse dcssc saber,
o capitalista recluziu 0 trabalhaclor Zl exccll;;ao clas tarehs
simplificadas, parciZlis e repetitivas 11Zlinha de procIu~ao cla
f{)brica. Assim, ZlS fOr<;:ZlSprodutivas forZlm enormemente
desenvolvidas, mas Zltravcs de um proccsso social ele cXjJrojJri(l~clo
de bens materiais e de saberes.
ExplicZldo assim, numZl perspectiva historica, pocle :ltc pZlrecer
convinccnte, m8S Zlperccp~ao dessZlexpropriZlc;ao e 0 entendimento
de suas consequencias para cada um fica bloqueacla pdo modo
como 0 indivfduo aclquire conscicncia do munclo social em que
nasce c no quai cresce e morre. Ele s6 aprencle que cleve
trabalhar para receber 0 salo1rio e viver, pois esta c a pcrcep~50
. 'que tem da realiclacle na vicla coticliana. Existem as fjbricas c
stus clonos. E ao trZlbalh;1clor, que nao C clcl110de c.nisa ~dglIm;l,
cabe trabZllhZlr nelas e ponto-final. Por causa clo saL.lrio pago; 0
trabalh~, que cobra de cada ser humano, c compreendiclo
com'o algo que nao pertence a este ser humano. Qtrab31h9,
9.l:!esemp1'~' foi 0 meio £<:l2....9~I.al0 hom~~1 relaciOI]OU-,?e CO,!11.a
natureza e com Os outros homens, e 'individ,~Ja!mente percebido
c-;~Tg~;~-;;--qu8IcCLtrab;-] Ih<c!oU1ao tem_cQl1.1r:9-k.
o trabalhador foi separado, pclo capitalismo, clo controle
aut6nomo que exercb sobre seu trabalho e tambem do (ruto
deste trabalho. '0 trabalho c cntfio RercebLcl9 pelo trabalhaclor
como algo fora cle si, que pertence a outras. A is_so,lvIarxcli 0
nome-de alicna-qao. Par causa do trab~ho alicl~Zl.slo_aquecstao
submetidos, os l1.omen~ admlil:~lli1fLCon,s...ci¢_n~ia_falsa_clo
munclo em que vivem, vcem 0 trab_a.1b9_<l)ien~~J.ge_a...d.ol!lin.zl<;50
de uma cJasse social sobre;, OlIq-~.£.Q,m.o(atp.sllaJL,Ir.;liLeOo
,paSSCll1l,
portanto, a compartilhar um8 concep~fio de munclo cJentro cia
lli@l~6._ t-eJ}.L~~sso_as ap~:~·cnci~~_s~,;.1~~~~~J: c,ap.·az.C'.S-.d.e
comDrcenc!er 0 pr.Qcesso hist6rico real. A isso Marx do10 nomc
cleidcologia. A ideologia, portanto, is aquele sistema ordenaclo
de ideias, de concep~6es, de normas e de regras (com base no
qual as leis juridicas sao kitas) que obriga os homens a
comportarem-se segundo a vontade "clo sistema", mas - e isso
e importante - como sc cscivcsscm sc co1lljJOrwnclo scgl!lldo SlW
jn6j;ria voncadc. Esta coer~ao "do sistema" sobre os indivfduos,
revela Marx, na verclade e a coer~ao da classe dominante
sobre as classes clominadas. POl' isso Marx afirma que a
ideologia dominante numa dada cpoca hist6rica c a icleologia
da classe dominante nes~a cpoca.
ExpIQ_Gl0lQ...C:S:..Q.[10mi~ae opressao l!olfticu.ln hO!l1Cm pC(l..
h.Q111.CJIL~~Ju.p..Le_IlQlly_<;_e_11.Lt.Qd.;).s-.iLs_s.o..ci.l:,;I<1~k4.ill...s:I1LCJ1Q
C;1pi ~a1ismo h ;l,~,cLi£e rc..!l.~!.l:JI11..Jl)(I,;),s_;l::i__.<,.UltI:<1s.J()m1as .cLc
d_QQliD.fi.<;..;;lgJ.lLsJ.Oric_aanJ~l:io.L<;.~J.Q. ciQll!.i.!)~1ct.0salJ50.,9.~e_~G'1
®!l1jpadCL~ ,~0.biaSWS.DL~:£l.S.~L!_d9.l:Qll1..,!ds~I:.0 CSWlvn sabia g,L~
sell sel1hor 0 mantinha em cativeiro~_()brig.w~ trahalhar
-'j;;lra XiI (;~;'~:l,-~'~~r;'(;~;;I~i;l <Jl~-~~_l,~t.)!:(_)d<.'J.l:::..l(~lllJbY_:.(.!:!.::II1C:1V:l
a maior parte do que plant;lIa e Clllhi:l. No clpitaJ.02.:~~)
contI'ario,o trabalhaclor acha que c justo qLJ~"c1,~scja_~.pa,r;:~lc:
d;--~~w~f;~,t~:~;E;ll~o ~~~'cdiZl;1t~ '~. l~agZll11C11to...':~~~~~.0.~o,
o m::1ximo dc il1jLJsti~aC~~~t~0'1.~j~~{~~r:lhZllT1~~ll;;~~~'l:r-.!.11:,llnleI1t.c
se ~~-i~~·~i.~;:~;;it~~'.!.0.L::iZ!..L6x.i0J);1i.::OS_i.:-i!s:C:(1J.1d i.~l)CS,I'll!I1S
de tra ba Iho (jornZlclas IOl:g,0.~.._~~111ai:',J!.I~aJ ~Ib~i.d:,~~_~,t:.c.).
MZlr~IZ2.;-;·Z;~<--~I~'·~ ~a'l::1rion:lo r.cmul1cr0.t<~dQ_LU!·i:.b;!.lho
l-:-;;li;J~, l11ZlSapenas uma partc dele, f outr:1 P;1rtc c
;;;;;~)riada~} capitZllista e sc transforma el11Iucru. EI11rcsumo,
a teoria de lvlarx c Engels afil'l11:1que <jll:'dqucr s:ll:1riu ~ injusro
porque a reh~ao de assalarial11el1lo C il1jllst~1 ern si. E il1just~1
porquc sepZlra 0 trZlkdkc!or do reslIll;1(/o de ~ell li'~lb~l!ho, e
isso 0 ~1!icn;1c 0 deSG1I":1cterizZlCllmo ~er hUll1al1u. [ 111:1is;lind:l:
cssa injusti~Zl n50 pock scr percebill:l pclo traktlh~ldor (corn
base el11 sua propria cxpericncia l1a vjd~1 cotidi:1I1:1) por GllIS;
cia ideologia, que C ul11a conccp<;:lo de I1llll1do .~cr:1da pcb
C!ZlSSCdominantc c Zlssumilb pcb chssc d0l11in~1d~1C0l110 se
fosse suZl. A-.illJ:u:.eJl"Ltiron iaJkLGWi.t:l U::;.Il1.U_~_(Jll1'-Q_d.QIn,in~d.o
pen sZl co l11,il.C::~~bcc;a.._l~lg_~L0.111in alIl,?r, _~.C~";1.~ 0_J:~lL~11a d c
elOI11il~.0(U.D~i.s.. ..,~i.s..~..ra[. HO._Glpira.li.suill ...Os__tr<1b.~1hadc)rcs
cl;";~1;e111COI110 inj.D..lig9l~()_!.!f.9!tZlve 1!11C!1JC_iu.sJalad.cUDLS_UJ
pr6pri~,t.:t,,-~_n~c.., welos os dias SCI11saber. E.l[UilSC ..~()111().~c:..
~I~sse ern SCtl ccrchro urn ciIiL!.l!.';:t:.~::~D..Ld_ccU.Jl.1p~!tad0f,
elesses de filrnc ele ficc50 cientf(icZl,.quc 0 obrig0sse alcv.an~ar
no OLltro elia ~'h~:L1;'-;i~I~~ ~b .!l1_~SJ1.1~1_JQ.IJ)!!}QtIC,11Q....QiZl
anterior.
·::';"~r'~f~t.·.
",J
Mas Marx e Engels nao faziam fic<.;:aocientffica. Eles, ao
mesmo tempo, tinham fe na ciencia e alimentavam uma utopia.
POI' abra da cicncia, acreclitaram haver clescoberro ~1Sleis cla
hist6ria. Essas leis lhes diziam que chegaria um momenta em
~ue a desenvolvimento clas for~as produtivas proporcion;1Clo peln
capitalismo inevitavelmente entraria em contr<ldic;ao com <lS
(orn1<1Sclpit,llistas de propried<lde e quc, qU:lI1c1llCSSCllllllllClllll
chegasse, se abriria uma epoca de revoluc;ao soci<ll e polftica.
E af entra sua utopia: acreelitavam que esta revolu<;ao - a
qual se ,.~e~liria uma fase de cransi<.;:aoem que os resqufcios da
sociedade capitaJista seriam clestrufdos (a fase do socialismo) _
daria origem' a uma nova sociedade, sem exploraelores nem
e~plorados, sem aliena<.;:aoe sem icleologia, sem classes sociais e
sem Estado (pOl'que 0 Esrado para des c uma manifestac;ao e1as
relac;6es de classe, e deixaria de e"istir quanelo as classes nao
existissem mais). Nessa nova sociedacle, a sociedade comunista,
sem dCtvicla a ~nais bela utopia do scculo XIX, 0 homcm se
recncontrarla consigo mesmo, seria um ser autonomo, autocentrado
e autoconsciente, trabalhador manual e intelectual aO mesmo
tempo. Daria a sociedade, pOI'sua propria vontade, rado 0 esforc;o
e trabalho que pudesse, e receberia deIa tudo 0 que prccisasse,
grac;as ao desenvolvimento matcri81 propiciado pelo capit<tlismo.
Os homcns e as mulheres seriam, cnfim, seres hum;:mos inteiros,
complctos. E, e claro, seriam fdizes para sempre.
Bem, e de se esperar que a cssa altura vocc jn esteja de novo
minhocando sobre 0 que toda essa conversa de explorac;ao,
dominaC;ao, alienaC;ao, ideo!ogia e comunismo tem a vcr com
educac;ao. Pois yOU the dizer 0 que eu acho e1isso.
Acho que Marx e Engels viam a educac;ao com os mcsmos
olhos com que viam 0 capitalismo. POI' um !ado, fazenclo uma
analise empfrica (ainda C1j.lepOLKO aprofllnelada) cia situac;ao
educacional dos filhos e10s oper5rios do nascente sistema fabril,
identi(icaram na edllcac;50 uma clas mais import::lntes formas de
perpetuac;ao cia explor,1c;:io de uma cbsse suhrc llutr,1, utili::1Cla
pelo capitalista para disseminar a ideologia dominante, para
inclllc~1r no trabalhador 0 modo hllrgucs de vcr 0 l11ul1llo. Pllr
outro lado, pens:lndo :l eeluc:lc,ao como parte cle SU;1UCOpi;1
revlllucilln;'tria, idcllli(ic;lralll Ill.:l:l 1l11l;1:tflll;1 v;tli".,;t ;1 "cr
empreg;1da em favor da emancipaC;ao clo ser humano, de sua
liberwc;:o cia explura<;ao c do jugo do C<lpit:d. Oll scj,l, para
Marx e Engels nao existe "educac;ao" em ger:11. Confonnc 0
contdLdo de clQS5C ao qual C5tivcr eX/lo5w, cia /loclc ser W)W cclucw;ao
/laJ'(l a alicnaqao ou W11a CclllCOqcio /lC1W ([ c1l1cl1lci/JCl';;c/o.
Em seu livro mais conhecido. 0 Ca/liCdI (de 1867), lvlarx fa:
um:1 ancllise clas condic;6es cle viela elm trabalh;1dores inglcses
na cpoca clas rapiclas transformac;6es econ(mlic;1S c polfticas
provocadas pcb Revoluc,iio Industrial, justamcnte :1 fase de
afirmacao dei capitalismo industrial moderno. Ao comentar a
legisla;ao trabalhista e1aepoca, ele nota que a lei inglesa ;1nterior
a 1844 permitia ;1 contratac;ao de cri:,nc.:1s para trab~l1h;1r nas
fclbricas, com a concliC;:lo de que os p;1trCles :tpresenrassem um
atestado de que os 111eninos (reqi.'1cntav;1111a escola. Olhando
mais de perro, parc111, Marx concluill que 0 tipo ele ecluc<1C;ao
dado as crianc;as opcr6rias era tao preGlrio, que s6 pocleria scrvir
para perpetual' <1Srelac.Cles de oprcssao ZlSqU:lis CSS:1Scri:lnC;;1s e
seus pais oper6rios cstavam sujeitos. 0 descaso er:l t,1I1[Oque
qualqucr um que tivesse uma casa 12 alcgassc ser zdi um:1 escab
poderia fornecer os "atestados de freql',cncia as aulas" de que
as fabricas precis:1vam p:lra livrar-sc cia fisC<lli:ac.ao. Segundo
relato ele um inspetor do trabalho cia epnca, cit:1ClopOI' l·'l<uxem
sell livro, numa dessas "escolas" que visitou
a $,11:1de aLIb rinh:J 15 p~s de comprimenLO pm 10 p~s ele hrgur:J e
conrinha 75 cri,1n<;:1sque grunhi:1m,1lgoinii1rcligkcl. (...) Abn elissa,
o mobili<riocscobr ~pobrc. h,) (alta de livrllsc de materi:J1de cnsino e
utHa atmosfera viciada e fctieb exerce efcitOdeprimcntc sobl'c as infclizes
crian<;as, Estive em tHuitas dessas escolas e nclas vi filas intcir<ls de
c'rian<;as que n~o faziam abso!utamcntc InL!;,c a istD sc lLi () ;llcsWL!D
de frequcnci<l escobr; e esses mcninQS figuram na catcgmia de instruidos
de nossas estatisticas ofici<lis (0 CalJiwl, cap. XIII, itcm 9). '
A legisla~ao inglesa de 1344 mudou as regras. A partir de
entiio s6 poderiam ser contr;lradas para ;$ Ljhrics' cri;1I1S;;s ljllC
ja tive5,liem pelo menos a instru~ao primaria, e que j~1 tivessem
aprendido as primeiras lell'as e nlImeros. Marx consickrava isso
utn avan~9 importante, pois acreditava que todas as crian~as
deveria;'~l 'c~mbinar, em sua forma~ao como pessoa, a educa~;lo
formal escol'ar "e a trabalho manual nas Llbricas. Nao nos
esque~amos de que Marx era um entusiasta dos aVC1n~os do
capitalismo. Ele lembrou em v<'irios de seus tcxtos que 0
capitalismo havia mclhorado a ,nivcl material de vida cla
sociedade humana, em menos de cem ,mos, muit"s Ve2es m~lis
do que a sistema anterior havi" feito em m~li$ de mil. / critic
de Marx ao capitalismo dirigia-se contra a apropria~ao privacla
do lucro, eo nao contra a existcncia da civiliza~ao industrial.
Pelo contrario, sua utopia coinunista seria impossive! sem a
desenvolvimento propiciado pclo capitalismo. Seu ideal era a
de que, no comunismo, todos diviclissem 0 trabalho manual nas
fabricas com 0 trabalho intelectual e com 0 lazer. Assim, toclos
seriam homens completos. Nesse sentido, Marx festcjou a
legisla~ao inglesa'de 1844, po is ela permitia combinar, na
forma~ao da crian~a, a ecluca~ao escobr e 0 trabalho na fabrica.
Marx afirma, inclusiye, que a escola em tempo integl'<1! e pouco
produtiva, porque, nao sendo combinada com a trabatho manual,
toma a dia da crian~a enfadonho, 0 trabalho do professor mais
duro e 0 rendimento escolar menor. "As crian~as com escola de
meio perfodo e trabalho no outro perfodo aprendem t,mto ou
mais que as crian~as que ficam na escola 0 dia todo", escreveu
Marx. Para ele, uma vez' conjugados 0 trab"lho e a cscola,
~.
uma atividade funcionaria como descanso p;:;'a a outra. Mas 0
fundament,, c qtlC, illr;Wl'S dCSS:l cunjlIgac;:-!u, sni: p)ssivel 11;
visao cle Marx romj)Cl', 11ClformCl~ao dClS fl£(11rOS gCf(l~OCS, com Cl
sel)am~ao entrc LTClbCllho ma1Hw! c inLc/ectHal, e tambem com a
parciaka~ao das tarefas impostas peb divisao do trabzdh,o na
LllJrica mClc!erna. E romper com C:SSilSejl;r;c::-()I'· 11m:)decllITl'nc;)
fUIlLbment~d dilS ;1I1:'t1iscsde M:lrx e LIlgel~, Ilurqlle C deb qlle
brotam a alienac;ao e a icleoogiil,
Talvcz 0 Clue vou dizer <1gora pClSsa chocn illguns de nlls,
CJue vivemos a beil" do scculo XXI, milS sq~t111du i Cllncep~il~l
de Marx, que era Ulll homelll do scculo XIX, 0 tr;tb<1lho 111f,1I1u
c desej;lvel, dcsde que 0 Est<1do garantil <10Stilhos dos operilrios
uma escob de meio perioclo que nao seja UI1l mero deposito ele
crian~as e clesde que <1superexplor<1C;;o clo trabalho infillltil sej"
controLlcb pela Icgisbc:;'io. E c desejiivel simplcsmente porC]t1e
M"rx n:lo "crec!itava que Ulll hOlllcm novo, r()m UIll novo cn:lter,
puelcsse ser forjado apenas COIll uma edUGlt;':O escuLlr, (orm~l.
Para ele, as maGS sujas de graxa e 0 suor do rosLO se!'lam ta~
ec!ucativos, do ponto de vista Illoral, quanLO os livms, os cadcrnos
e os lapis, Se c atravcs do trab::dho que 0 humelll PIOdlIZ para
viver, colocando a n"turcZCl " scu scrvic;o c iW mc:.smo tempo
relacionando-se COIll seu sClllclhante, 0 trabillho lllilI1ual cle'e
ser exercitac.lo por toc!os, e os resulwdos dos esforc:os colctivos
c1eveni ser compartilhados conformc as nccessiclaclcs de cada
um. Para que nao reste dllvida sobre. este pontO, vejamos 0 que
c1izMarx num texto intitulado 11lS!rl{(;C10 Cl()' ddcgac!()s do COrlSdho
Geml c!a lmcnwcio)lal ConllOlisw (de 1866), Oiz ele:
COllsideramos que c progrcssist;l, s:i c legitim:l : tcndC:nci; eLlindllstria
moderna de illcorporar as crian<;<1sc os jO'cns p:lr:l que coopercm no
gr;l11dcrrab:llho eLlproclu<;:ioSOCiil1,cmbor:l S( ,h () rcgil1~cc;q'it; Ii iSt;1eLl
tenh:t sido dcfonnaela ate chegar <1uma abomin;l~~l), Em todo rcgIme
soci<11razoavel, qualquer crianc;-;'1de 9 :lnos de iclade dcn: ser UIl1
trab::llhac!or produtivo, do mesmo mnc!o que redo aclulto :I!'l) p:tra 0
·,}~~~:~ ;;..:",y*{k; ..'.._ _'."__'_.
r':. ~,t
.~'...
trabalho deve obedecer a lei geral da natureza, a saber: trabalh;:lr para
poder comer, e trabalhar nao s6 com a cabe<;a,mas com ~smaos.
No sentido deregrar a superexplorac;50 da f5brica capitalista,
Marx prop6~ que as militantes de set! partido, 0 Partido
Comunista, lutem para que a lei cstabclec;a um ucltame;1to
clifcrcnci;:lclo conforme a falx;1 et:iri:1, prevendll jurn:1lhs tic
traball)O com durac;ao diferenci,lCb p;1r;1cri;1n<:;;1se jovcns: de 9
a 12 anos, des deveriam trabalhar 2 horas pOl' dia; de 13 a 15
anos, 4}'..0.~as; e as de 16 e 17 ,mos, 6 horas. Sem um8 lcgislac;ao
c1esse tipo, c1iz0arx, nao haveria (reios para a g::ll1JnCi,1burguesa
e as pais op~rarios, premidos pcb 'pobreza, seriam obrigados a
trans(onnar-se em agenciaclores cla escravid50 (abril dos pr6prios
filhos, comprometendo set! futuro. E conclui: "n50 se deve
pennitir em nenhum caso aos pais e patroes 0 emprego do
trabalho das crianc;as e jovens se este emprego nao estiver
conj~gado. C01:1 a educac;ao".
E que educac;ao c essa? Dc que contclldos cleve ocupar-se!
Bem, Marx da poucas inclicac;6cs sobre isso, mas 0 que se pode
concluir de seus apontamentos e que a preocupac;ao cla educac;ao
deveria ser, (undament8lmente, 8 de romper com a alienac;ao
do tr8b8lho, provocada pcb divisao do tr8balho n<l Librica
capitalista. Pois este seria, em sua visao, 0 ponto' de partida para
romper com a passividade do trabalhador (rente a idcolooia dab
classe dominante. Para tanto, 0 caminho que Marx vislun~brava
contava com a contribuic;ao do processo educacional, e seria
por assim dizer inv~rso ao caminho da expropriac;ao dos saberes
produtivos das classes trabalhacloras, da qual serviu-se 0
capitalista industrial para constituir sua fabrica. N50 ~e tratava
de ensinar ao filho do operario que ele era uma vftima da
explorac;ao burguesa, l11'as sim ensina-Io a operar as f;ibricas
burguesas. Nao atraves ~e uma opcrac;ao circunscrita ilS tare(as
parciais, como ocorria, mas de um processo educacional que
lhe devolvesse, tanto qu~nto possfvel, a percepc;ao do conjunto
do processo produtivo moderno. Isso, para Marx, era objetivamente
possfvel, pOl'que ele acreditava CJue;1 mesm;1 divis::o do tr:lkllho
eo me sma avanc;o tecno16gico que trans(ormavam a tr;1balhador
num trabalhador parcial silll/!lifi((l'V(lll1 :lS tard:ls produtivas c,
portanto, tornZlvam essas tare(8s ;1cessfveis a qualquer um. Esse
novo s:lher seri;1 0 fllm!:lmcnto de SlI:l nll~rllr:l com :l :dicn;1C::1o
do tr;:lb;:llho e, portanlU, uma d:s ch:lvcs lie Sll: Clll:llKip:I<:;;IU
como ser humano. Em outr:1S palavras, nenhum contclldo
educacional doutrinario muclaria a vis:io de mundo L!os filhos
c!os opcr:lrios se :l ecluc;1~;l() n:l0 lhes dcssc meios p:lr:1 super:lr
sua conc!ic;ao de trab;1lhador parci;ll, Clp:l: de executar uma
unica carda simpliFicada, clitada pcbs exigend:ls clo capital.
E pOl' isso que Marx di: que os contellL!os Cduc;1cionais dc"em
contemplar trcs dimensi:'es: uma educa<;::io mcncll, uma
cducac;ao ffsica e uma educac;ao tecnologica. Elc n50 explicita,
no texto citado acima, 0 que scria essa educac;ao mental, mas
pocle-se dcduzir do contcxto que seria uma eclucaczlo elementar
para 0 trabalho intclcctual. A cducaC;ao ({sica seria a cllucac;ao
do corpo tal como ofcrecicla nos ginjsios esportivos e no
treinamento militar. E, finalmentc, a educacao tecnolorrica scria
o '"'
a inicia<;:ao das crianc;as e jovens no manejo clos instrumcntos e
das maquinas dos difercntes ramos cla indllstria, cHcfa que
cleve ria oconer em concomitfmcia com 0 trabzdho cbs "crianc;as"
na (abrica, dos 9 aos 17 anos. Com tal (ormac;50, pensava, os
filhos de operarios poderiam estar em nfvel muito superior 80
clos burgueses e aristocraws, uma vez que estes li!timos tambcm
jamais seriam homens complctos, a me!1OS que rompcssem com
a separac;ao entre trabalho intelcctual e I11:1nual. Em sua vis50,
pOl·tanto, e preciso substituir 0 indivfcluo parcial, "mero
(ragmento humano que repete sempre uma operac;fto parcial,
pclo inclivfduo integralmente dcsenvolvido, para 0 qual as
diferentcs (unc;6es sociais n50 passariam de (onnas diferentes e
sucessivas de sua ativicbdc" (1n511"1((;;OCS ... , 0/;. ciL). Del1t!·o de
tal concep~ao, as escolas politecnicas e as escolas agronomicas
eram consideradas aliadas importantes do processo de
transforma~ao, assim como as escolas profissionais da cpoca, que
davam algum ensino tecnol6gico aos filhos de oper6rios, e nas
quais eram iiliciados no manejo pr6tico de diferentes
'instrumentos de prodll<;:ao.
, A leflisla~ao de 1844 havia arrancado do capit;:d, na Visao
de Marx, uma primeir<1, mas muito insuficiente, concessao, na
medida em sue obrigava 0 c<1pitalista a permitir que se
conjugas'scil1 0 trabalho e 0 ensino para os filhos de oper;jrios.
No entanto, derj.ois da inevit,jvel conquista do podcr politico
pelos operarios comunistas, 0 que Marx antevia era a acloc;:aodo
"ensino tecnol6gico, te6rico e pr6tico nas escolas dos
traba!hadores". Note Gem: "nas escolas dos trabalhadores", pois no
comunismo nao haveria mais burgueses. Todos, indistincamente,
seriam trabalhadores. 0 ensino, entao, seria publico e igual para
todos,-mas tsso 'f<1zia parte da utopia de Marx, de seu projeto
para 0 futuro. Ele nao era, ao contrario do que se possa pensar,
um entusiasta do ensino oferecido pelo Estado capitalist:1. Sim,
porque 0 Estado capitalista, como 0 nome ja diz, era em sua
coilCepc;:ao uma forma politica de perpetual' a exp!oraC;:;lO
economica de uma c1asse sobre outra. POI' esta r<1zao rechac;:ava
propostas genericas de adoc;:ao de um ensino publico e gratuito
"para todos" e oferecido pelo Estado, Para dc, nao fazia sentido: .
se 0 Estado e llm Estado de classe e se a classe dominante
precisa disseminar ao maximo sua icleologia para manter sua
dominac;:50, a ele parecia 6bvio que um ensino ofere cicio pOI'
este Estado burgues s6 pocleria ensinar os (ilhos dos oper6rios <1
moldarem-se a dominac;:ao. Debatendo com seus aclvcrs6rios
internos do Partido Comur)ista, ele deixou essa visao bem clara.
Num texto ch<1mado Critica do Prograrna de Gotha, de 1875,
escreveu: "lsso de uma edLicac;:ao popular a cargo do 'Est,lc1o' e
absolutamente inadmissfvfI. (...) E preciso livrar a escola de
toda innucncia pOI' parte do goverlll) e ch Igrej;1. (... ) t <10
contrario, 0 Estado que ncccssiLl receber do pon> um:1 educaC;:<lo
muito severa",
A titulo de ilustr:1c;:ao, porem, e preciso ZlssinZl!ar que M;1rx
e Engels, quando escrever,lm separacbmente sobreo assunto,
deixZlr:1m indicacoes contrZlc!itt'iriZls. Num [ext·u cktm,ldu
Prillcij!i(). c/() Ui1IlI;lli.lI!(),de I(i'17, LJlI:l~e II illl: :I1l()~ :lIlies ll:
passagem de Marx que acabei de citar, Engels havia escrito que
umZl clas reivinclicac;:ClCs cia cl:tsse opcdria ;linchdllr:1nte 0
capitZllismo deveria ser a "educZlC;:;1~ele codas as cri,1I1;as em
. estabelccimentos estatais e ;1 clrgo do [stado, ;1 p;lrtir do
momento em que possal11 prescinc!ir do cuicbdu 'c!,l m<1e". 13em,
mas esses sao detalhes, que servem apenas par,llembr:1r-nus como
era complexo, mesmo par:1 esses soci()!ogm- (ikiso!()s-ccono!11ist:1s-
milit::mtes, 0 trabalho ele articular propostas ec!uclCion:1is pr{)ticZls
que tivcssem um carMer liben{)rio.
Resta saber ent,10, para encelT:1rmus este ponto, () Cjuc scri,l
da eelucac;:ao pLlblica c1epois que 0 Estado rec:ebcsse dos opel'{)rios
arn1:1dos, no momento cIa rcvulu~;1U comllnisLl, SU:I deIT~ldeir;l
lic;:ao. Comu seria Zl educaC;::lo no comuni~mo? C0!110 M,nx e
Engels viam, nesta nova sociccbele que dct'encli:lm, lIm proccsso
educacional que contribufsse cfetivZlmclHe pZlr:1 emancipar 0
ser humano?
Acho que aqui h;j duas questoes import;1I1tes, ambas
relacionadas ao perfil do "novo homem" que 0 comunismo
cleveria gerZlr.
A primeira c que, alem ele mudar :1 forma ele cxpIOr;l;:iO
econ6mica, eles acredit:1V,lm ser precisCl muchr ;1 forma de
organizac;:ao social, p:1ra que um;l nOV,l CclUC<1<;:<10puc!cssc se
desenvolver. Nesse aspecto c central a critica de M,lrx c Engels
a familia. No celebre Manifesto co1Jlllnisw, ele 1848, lembram
que a famfliZl burguesa se apoi<1 no capital c no lucro priv:1clo e
que sua existenci:1 Zlparentemente virtl!OS;l sustent;l-se na
supressao da familia proletaria, mergulhada na clesagregac;ao
causacla pela miseria, pdo vicio e pela prostitui~fio. A f;1mflia C
o lugar por excclencia cia clifusao e do enraizamento clos valores
capitalistas e burgueses, e 0 espac;o social onde as crianc;as
° aiJrendem clesde a terl'ra idack a pensar com a cabec:;a cia classe
d~minante, achavam. E 0 lugar oncle ocone a explorac:;ao c10s
filhos pclos pais, reproduzil1du : CXpIOL1<;:iUdus 0PL'L'IIOi()spclos
patr6es .••.Razao pcb qual a familia, nos moldes que conhecemos,
deveria ser radicalmente suprimicIa, na proposta politicl dc M;1rx
e Engel~:oA,EQrma de inverter 0 conteCido de cbsse da cducac;ao
burguesa, portan~o, seria Sllbstiwir ll1J1{l CdllC{l~aO domestiC([ 1)or Ll17W
cducQI;ao de c~rater socicr!, {a qual os valores da nov::l sociedadc
solid aria pudessem clesenvolvcr-se scm a influcncia'deldcria cla
estreiteza do espac;o privado represent::ldo peb (amfli::l.
A segunda questao importante c que, com 0 comunismo,
conforme j~ vimos, terminariam ::ldivisao da sociedade em classcs
ea (o!ma cflpita[ista de clivisao do trab::llho. Na visao d"Cnossos
aotores nao bastava ao comunismo, portanto, aproveitar-se do
progresso material proporcionaclo pelo desenvolvimento do
capitalismo. Seria preciso educar 0 "novo homcm" comunista
de tal modo que ele puclesse de fato superar a divisao do trabalho
que 0 alicnava sob 0 capitalismo. Nao seria suficiente a revoluc;ao
polftica, e 0 controlc do poder do Estado pe[os operarios
decorrente dela, para socializar os meios dc produ<;ao, pcnsavam
Mflrx e Engels. Seria necessario que, ao socializar os meios de
produc;ao, a nova forma de organizac;ao industrial encontrasse
um homem preparado para dcsempenhar um trabalho que nao
Fosse alienado, parcial, restritivo de suas potencialidades. Seria
preciso, pois, uma mudanc;a de atitude frente a produ<:;i'io, para
viabilizar 0 controle coletivo de scus beneffcios. No jc1 citado
PrinC£pios do comunismo, E~gels explicita de modo bastante claro
o que esperavam afinal d~ nova educac;ao. Oiz cle:
A eclUGH;aOdara aos jovens a possibilic!ackde as'il11ihrrapidal11cnlena
pr:tica todoo sistema de pnxlu<;:-()e Ihl:spnl11iliLl!),bs:lrsllcl'ssiV;1l11Cl1ll:
de um mmo de prcxlu<;;'oa outro, segundo asneccssicbdcs d:lsociccbde
ou suas proprias inclina<;flcs,Pm cOl1segllinte,a cc!lIcac;:io110Slibcrtar{,
ckste carateI' unilateral que a divis:io :llu;11do trah:dho iml'llC:1 cada
imlivfduo, Assim, a socieclademgani:ad:l sohrl:h1SCSc(,mlll1ist;1Sc!;lraa
St.:1S 11lt.:lllhr,, a 1,,,ihili..1:lk lie- l'lllJrq~;1 lO1I Il'..1"o' I" ;"'I("lOI'o' 1:1
bculdades descnvol 'idas univcrsalml:l1ll:.
Basta olharmos, nus di;s qUl: currl:I11, p;r; u perfil du
"trabalhacfor polivZllcntc" exigido pcbs indClstri;lScontel11por:'lI1eZlS
_ em func;ao cia reestruturac;ao produtiva que ocon'c na esteira
da chZlmada lcrccira Rcvouc;i'io InduslriaI- para comprcenclcrmos
que Zll1111dZlnc;aseria bcm mais cOl11plicada do quc faz crer este
espcr,mc;oso paragrafo escrito em 1847. foi 0 prClprio capital
(e nao nenhul11a revoluc;ao comunistZl) que rcvolucionou a
clivisao do trabalho na linha clc produ<;ao. Haje, 0 descnvolvimento
tecno6gico, com 0 advento cia rob6tica c da inforl11:tica, permite
ao capitalista realizar a mesma proc!uc;ao que antes 0 obrigava a
cmpregar milhares de opedrios, agora com Zlpcnas :l!gul11as
dczenas de trabalhadorcs superqu<1lificados c, portZlnto,
cducados. Educados, mas nem pOl' isso cmancipaclos. Vivemos
hofe os dias cla "sociedadc dZl informac;ao", dZl "sociecbcle do
conhecimento", mas 0 fosso social que scp;1ra as classcs continua
a aumentar. Talvez por isso mesmo os instrumentos cIa rcflex;o
sociol6gica sobre a educac;ao scjam cada vez mais importantes.
CAPiTULO IV
-[ISociedade, educa<;:5.o e desencantamento
As SUUULl.)(:INi IlL UUJU;IILl~1 I: Ivl:I.', j,'1 Vill()S, p,lrlil',II cLI idei,
de que s6 c possive] compreenckr <IS rela<;:oes entre os homcns
se comprccnclcrmos <I sociccbdc que os obrig;1, em niveis e em
meelicbs elivcrs;ts, <l :1.~irele ;1cordo com 1~)r<;:;1sestr;1nh:!S ;1 SU:1S
vuntades individuais, e impositiv;1S COI11rel;1(/lO :1 ebs. P,l1'<10
primciro, a educ<l<;.:ioC 0 mecanismo pelo qual 0 indivicluo tOrl1a-se
membro da sociecbde. se "socialiw"; p;1r;10 segundo, eb C lIm
mec<lnismo que, con(orme sell C(1l1lclldll de CLISSC,puck ser
utili:aclo par:1 oprimir ou 1~:lr;lCI11:1I1ciI1,r(1 hUI11eI11.
M:1S h:'i outl"O ponto de p'lI·tid'l posslvel. i socil1logia do
alem.:io 111:1::Weber 0864-1920) tcm COI11(lpremiss:! <lidci;1 ele
que:! sociedJck n:10 C apcnas um:1 "COiS:1"exterior c cllcrcitiv;1
que determina 0 comportamentlJ dos indivilillos, m:b sim 0
resulLado de ul11a cnorme e inesgot,lvcl nllvcm de intera<;Cles
interindi:::iduais. A sociccbde p:ra 'Veher nao C ;Iqllilo que
}Jcsa sabrc os individuos, mas ,1quilo que sc WiCll/d Clllrc eles.
As conseqi.icncias dessa vis:io p:l1';1a sociologi: d" educlc;:io, c
cbro, scrao bast:mtc signi(icaliv'ls.
M<ls antes de continu<lr, dcixe-me dar-Ihe um ,wiso.
Os r<lciocfnios quc 'cber descnvolvc n:'io sau muitu simples a
primeira vista. E poclcm parecer um pouco intrinc:lclos. E Cju::1I1do
voce fur ciaI' um<l olhacb num texto escrito pclo prc)prio Veber,
vera que dc n50 e muito "t1uemc", digamos assim. No cntanto,
embor<l os tcxtos pare<;am um pOLICOlTlIncaclos, ;1Sic!ci;1S'<llem
muito a pena. 'Veber C 1I111autor de uma enl1r111eorigin;11icbde
e sua tcoria socio16gica, que c muito poueo clisclltida n~ ,'irC:t
cb educ<1<;50. tem contriblli<;Cles impmt,1I1llssim:s ;1 ll:lL
Entao, vamos'la. Respirc fundo, rcgulc 0 scu grau de aten<.;:ao
e prepare-se para entrar num mundo bem diferente do de
Durkheilll e Marx. 0 que vou tentar fazer a seguir c introduzi-
10 aos rudimencos mais elementares da sociologia de Weber e,
em seguida, discutir um pouco sua teoria da hist6ria, que tem
pontos de contato. e distanciamento com a de MJrx, para
finalmente levantar algumas implica<;6cs que cstc' modclo tem
para a ,educa<.;:ao.
Weber ..~_q,p.ensamento sociol6gico
o ponto ,de. partida de toda sociologiZl weberianZl reside no
conceito de "a<.;:aosocial" e no postulado de que a sociologia c
uma ciencia "compreensiva".
Tanto 0 mundo naturalquanto a realidacle cia vicla SOCiZlI
SaG concebidos' por Weber como (1m conjunto inesgot,'ivel de
acontecimentos. Ao contra:io cle Durkheim, ele postula que,
difercntemente das ciencias naturais, para as quais os
acontecilllentos SaG relativamente independentes clo cientista
que os analisa, nas cicncias sociais - entendiclas por ele como
aquelas que dizelll respeito a vida cultural - os acontecimentos
clependem fundamentalmente cla postura e cia pr6pria ac;:50 do
investigador. A realidade n50 e uma coisa em si. Ela garfha Ulll
determinado wsto conforme 0 olhar que voce lan<.;:asobre cia.
As a<.;:6essociais praticadas pdo cientista social em seu trabalho
de investiga<.;:ao, que SaG de mesma natureza das a<.;:6espraticadas
por qualquer homem ou grupo de homens por cle investigado,
sao, portanto, fundamentais.
Ja de safda recusa tratar as "btos" socia is como se fossem
"coisas". Para ele, isso simplesmente n50 C possfvel, porque as
"coisas" que eu vejo pode~l ser diferentes das "coisas" que voce
ve, embora vivamos na mesma socieclade na lllesma epoca
. hist6rica. Alias, pode ser que as "coisas" que eu vejo nem sejam
"coisas" pra voce. E par q~~? Porque os homens veem 0 mundo
que os cerca a panir de seus vu[())"cs. Os v;l!ores S:1O
compartilhados, c claro, mas s50 inculcaclo~, introjetados (sZio
5I(ojeci'vados) de moclos distintos, con(ormc 0 processo cle
intera<.;:8.o em que 0 inclivfduo csta inscrido. Um mcsmo meio
cultural poclc assumir significaclos clifcrentes para os difcrentes
inclivfduos nelc imersos e, no momento da ac;:;'io, ocasionar
diferen<.;:as cle comporwmcntu con(ormc 0 mudu de ;lssimibc;Zio
cIessa cultura, e sobretudo c011formc os elifcrentcs tijJOS ele
racio11aliclaele emjJrcgaelo5 jJclos inc!i11[elllOS.
A realidacle c concebicb por X!eber, ent:'io, como () encontro
entre os homens e os vu[orcs aos quais cles se vincllhm c os
quais articulam cle mocIos clistintos no plano subjctivo. As cicncias
socia is (que elc preferc chamaI' de ci0ncias cla cultura) s50
vistas como a possibilidadc cle capta<.;:Jo cla intera~Jo entre
homens c valores no seio c1:1vida cultural, isto c, ;1 capL1~,IO
cla a<.;:50 social. Como a realiclade c infinita, apcnas um
fragmento dc cad a vez poclc ser objeto de conhecimento.
o "wclo" (a sociedade) que supostamcnte pcsaria sobre as
partes (os individuos), para Vebcr, c literalmcntc incomprcensivel
se for trataclo como um todo, como uma coisa. Pcb simples
razao de que este todo reside 11a intcrcl~iio entre as jJartcs e n50 e
possivel conhccer todas cbs ao mesmo tempo, porqlle SJOmuitas
e porque se renovam a cada dia. Fluxos cIa mudan<.;:a e
cristaliza<.;:oes cia permanencia se combinam na vida social.
A sociedaele, IJara W/cber, nao c wn bloco, C I07W tcia. Na selcc;:50
do fragmemo a ser investigado estar50 presentes os val ores
clo investigaclor, que faz parte dessa sociedade ou de alguma
outra. Trata-se de um processo subjetivo, 0 que, no entanto,
n50 comprometc a objetivicIade clo conhecimento, desde que
o investigaclor leve em conta, na interpreta~;'io cbs ac;:6es e
relac;:6es, os valores que de atribui ao pr6prio ator social, isto
c, aqude que pratica a a<.;:Zio,e n50 os seus pr6prios valores
(clo investigador).
Assim como Ourkheim, Weber destaca 0 pape! dc
dcs'vendamento do rea! desempenhado pelo pensamento cientffico,
que segundo cle faz aquilo que e cvidente por conVCl1Cl0 ser
vis to como um problema. 0 trabalho cicntffico c ~assim
ii1esgotavel, pQrqueo' rea! 0 e, bem como fragmel~t<'!rio ~
especializado. A produc;ao cientffica teode a disseminar-se pela
sociedadc atraves da educaC;50, e voce ja pock ir minhocando
desdc j;'i fluais seriam na visao dc Wcber as rehc;ues entre a
educac;ao c a vida social.
Mas la.o~.v(Ju colocar ° carro adiante dos bois. Tudo 0 que
lhe digo por eI1ql!anto e que 0 objctp c/as cicncias cia cultura
sed. a decifrac;50' da significac;ao (0 scntido) da ac;ao social
(as condutas humanas). E a unica maneira de estudar esse objeto
e a compreeosao, que voce j<'!vai saber 0 que e. E clirei tambcm
que Weber era um pessimista inveter.~1do: ele achava que 0 tipo
de vida imposto as pes,soas no mundo l1lodcrno fazi<1com quc a
educaC;~lo de.ixa~se de formar 0. homcl1l, para sil1lpk~l1lcnte
prepara-lo para desempenhar t<1rcfas na vida.
Mas tente acompanhar agor:! a linha de argul1lcntaC;,lo b,'!sica
desenvolvida pOI' Weber na definic;ao de sua SOCil)logia
compreensiva,
POnto de partida: 0 que e a~~aosocial? Para Veher, cia Ocone
quando um indivfduo leva os outros em considerac:io no
momento de tomar uma atitudc, de praticar uma ac;.:io.~
Antes de Ihe explicar em detalhe vou reprodllZir uma
passagem de um texto chamado Sabre algumas CCltcgorim da
sociologia comlJrCc115iva (de 1913), onde Weber define ac;ao e 0
tipo de ac;ao que interessa a S1l0 sociologia. Oiz clc quc:
por "ac;50"(incluinclo a omissao c a tolcrancia) cntenckl110ssempre um
comportal11cnto cOl11prccn~lvclCOI11rclac;.'1oa "ohjetos", isttl C, um
comportamcnto cspcci(ic1do Oll cal:<lctcriz;ldo por UI11,cmido
(subjetivo) "rcal" ou "mcntal", I11csmo que de n;'1osej:! Cjuase
~.
pcrccbiclo. (...) A ac;ao que cspcciricamentc tel11il11port<inciapar:! a
sociologia cOl11prccnsiva C, cm p<1rticuhr, 11111COlllj"..,rr:lIl1ento quc:
1.cst,'!rcbcionado '10scntido suhjelivo pcns;ldo daquek que age com
rc(crcncia ao comportamcnto dc outros; 2. cst;'!co-c!cterminado no seu
c1ccursopar csta rcfcrcnci<1signiFic<1tivac, pmt;l1lto,3. pock scrcxplicaclo
pcla comprccnsao a partir dcstc scnticlo mcnt<1](subjcti'<1mcntc).
Di (fei!! Vej~ll11lls.
Quando vocevai a escola, isto C lima ac;;1osoci:l!. Nao apenas
porquc ali voce encontra SCliS profcssores, seus colcgas, seu
grupo. Estar junto com outras pessoas, apen,lS, nZiu faz de voce
um anirmd socia!. Ir a cscola c uma ac;:ao social l,orCjue aginc10
assim voce cst:'1 (nlcll/undo (mesmo C]ue nao pense nisso
conscientemente todos os dias) os custos e os benc!fcios Cjue
voce ter,l, indo ou, no caso inverso, deixando dc ir. An ir a
escola VOCl:emprcga sua ruci01wliclUi/L e IcV,1l'm C(1n~illcr~I,lu ;1
raciOn,llilbele c10s outros C 0 modo C(llllO el: interfere (lU !1(lllc
vii' a intcrtcrir solxe seu pr6prio cOmporl;lmcnto. Se V(lCl:(ossc
pur,1mente racional, pocleria e1i:cr: "lllinha finali(hdc n,l 'iLia c
ter dinhciro, mulhcres (ou homem) a dispusiC;,"lo e carros do
'1no, mas para isso precise escolher a proCiss;'to que me de: mais
renda 0 lllais r;'ipielo posslve!; co Illeio m,li5 aclcCju,ldo p;1r,l ,ltingir
cste Cim ~ ir il cscola".
Mas n,lO precisa ser um dlculo C]ue vise mCr;ll11CnrC sells
interesses pessoais "egofstas", suas finzdiclaeles "cxclusivamcnte
indi'iduais". Voce pock calcular tambcm com b:1sc, par exclllplo,
no valor que sua (amilia d:'i a educac;ao. Se em SU,l Clsa toclos
prezarem uma boa educ'1C;;lo ~1Cima ell' tudo, ser;l lllulto diffcil
pra voce deixar de ir a escola, ceno? Se um dia voce cogitar
abandonar os estudos, a primeira coisa que vai pensar ser,'!:
"0 que 0 pessoal 1:'1em casa vai di:er disso)" Ali:'1s (alve: '()(l:
nem cogite abanc!onar a escola, porqlle fl)i ensinadu em Clsa
descle crianc;a que estudar ou que formar-se era al,C:oill1port:mte.
Levar isso em comiderac;Zio talllhclll C um,l form;l de dlcu!o.
Mas voce pode calcular tambem com base, por exemplo, na
satisfaC;ao ou no conforto pessoal que sente em ir a escola, mesmo
que essa sa tisfac;ao nao es tej a ligada d ireta men te a su as
atividades estudantis. Voce pode gostar da escob porque tem
~l1nizade con1' professores e colegas, ou porque arra njou uma
n:.l111orada ou namorado la.
A~ir em sociedade, portanto, implica em ~dgum gl'<1Ude
racionalidadc (inclusive a tot31 irracionalidade) por parte de quem
age, e implica no fato de que esta racionalidade de cada
indivfcf~~' sempre est<1 rde:rida aos outros inclivfcluos que as
cercam. Iss6 {.fundamental para cntender Veber.
Partindo do exemplo acima, quando voce vai a escob
pensando em se formar e ganhar dinheiro, csta praticando 0
que Weber chama de a~iio social racional com rcl(l~iio a fins. Um
comportamento racional com relaC;ao a fins c aquelc que: se
orienta por meios tidos como adequados (subjctivamente) para
obter firls d~terminados, fins estes tidos por voce como
indiscutfveis (subjetivamentc). ]a se voce for a cscola porquc
sua formac;ao familiar deu muita import5ncia ::lOSestudos, ent50
est~1 praticando uma a~ao sociill mciond com rclw;cio a t1alorcs.
No caso, trata-se dos valores d~ sua famnia, ou entao do modo
como voce os incorporou a sua pr6pria hicrarquia de valores.
Finalmentc, se voce vai a escola apenas por causa dos amigos,
dos professores ou da namorada ou namorado, para Veber voce
pratica uma aqiio spcial afctiva. Neste tipo de comportamento,
voce estaria sendo irracional, po is 0 que Vcber chama de
"racionalidade pe'rfcita" c a adequac;ao entre os meios de que
voce se vale para agir e os fins que voce objetiva alcanc;ar com
esta ac;ao. Na ac;ao afetiva, voce nao leva em consideraC;ao
objetivos a serem alcanC;pdos nem busca utilizar-se dos melhores
meios para isso e, portanto, esta sendo irracional. Suponha,
finalmente, que voce Fosse a escola apenas porque todo mundo
vai, e ficaria chato pra v.pce, dentro do seu cfrculo de amizades,
dizer que nao frequenta a escola. Nesse caso vocC: volta a ser
racional, pratic:1ndo um:1 w;:cio .wciil[ mC;IJllal cum rclaqci() a()
regular. Voce estaria calculando com relac;ao a media de
comportamentos aceitos em sell grupo especffico.
Repare que Veber gosta de estabclecer ti/JOS de ac;50. S6 no
p::lI'<lgrafo acima Cll citei CjII<'lIrolipos difnentes de :Jc:io soci:t1,
selldo lres r~lciUllais e UI1l irraciun:". M:s, rcp;lrc LlInhcl1 que
no dia-a-dia esses tipos n50 aparecem scparadamcnte. Ningucm,
na pratica, vai a escola tlniea e exclusivarnente para namorar,
nern mcsmo so paLl g<1l1h:,r() diplnma c g:lI1h;H dinheiro. E"s;1s
co isas todas se eanfunclem, se cncai:-.:am umas ZlSoutras. E muito
possfvel quc voce V<1Zlescal::l pOl' toclas ou quase tod;)s cssas
razoes que eu citei no exemplo. As raZ(lCS se misturam. No
encanto, c absolutamente fundamental isolar esses tipos "puros"
de COl11port:1mcnto. Alias, este C 0 mctodo de Vchcr. Ele s;)bc
perfeitamcnte que na pr<1tica empfriea os tipos !Juras nao existem,
mas os constr6i par:1 CJue SirVZll1de refcrC:neia.
Ei, alegre-se! Voce esta sendo aprcsent~lelo ::l Ul11dm m;)is
il11parL;)ntcs mctodos de investigas;:'io clas eiC:ncias soci;)is.
A receit<l metodol6gica, passo <Ip;1SS0,C <I"cguinl'c:
1u. Construa um (i/JO idcal "pura" (Veber construfa v:S.rios: tipos
de ac;ao social, tipos de domin;)C;ao po!ftiea etc.). 0 tipo c
uma construc;ao mental,. feita na eabec;a elo investigador, a
partir de v:S.rios exemplos hist6ricos. Ele c um cxagero de
perfeic;ao, que jamais ser:S. encontrado na vida pr::l.tic;).
2u
. O/hc ° munelo socd que 0 cerea, eSl'a l'cia inesgol':1vel de
evcntos e processos, e selccione dele 0 aSllecto a scr
investigado (n50 cIa pra ser ['udo, l'em Cjue ser um:l eoisa de
cada vez).
3". C01Jl!x/rc 0 muncIo soci;)1 ernpfrieo com 0 tipo ideal que voce
construiu. Mas note bcm: "icleal" ;)qui nao significa "desejado",
nao significa "idealizado", como par exemplo i(It~::l!i:ar 0 que
seria uma "sociedade perreita". Significa apenas que voce
escolhe as caracterfsticas mais "puras" dos tipos, e Veber
achava que os ti'pos de conduta malS puros S:10os 111;1is r;lcionais,
no sen'tido de adequ,a~50 entre meios e fins,
4u. A medida q~ie voce descreve 0 quanto a realiclacle sc cl/Jroxima
ou se c1iswllcia do tipo "puro" que voce construiu, eSS;lrealichde
se apresenta a voce, se reveb el11seu CH;ter l11ais Clll11p!cXO;
: os CO(11portamentos vcm a [uz revelando a racionaliJade e a
irracionalidade que os tornou possfveis.
E as'si~1~'q~ea a~ao social raetonal com reb<;50 a fins (aquele
caso hipote(jc6 em que 0 inclivfduo rcalizaria UI11dlculo
perfeitamente racional) serve exatamentc para que se possa
avaliar 0 a!cance, na pr5tica, daquilo que c irracional com
rela=50 aos fins a que se prop6e aqucle que pratic;t ;1 ac;:ao.
Ressalto novamente: quando falainos de um comport;1I11ento
Sl'lbjcCivo, no contexto cia sociologia de Veber, nao estamos
falarrdo l1um' comportamento cxclusivClmente /)s/qllico,
Comportamento subjetivo C 0 comportamento do s!(jciw cia a<;ao,
e nenhuma a=50 c social se n50 se referir 30 comportamcnto dos
outros sujeitos e dos obstcculos que todos en(rentClm para leva I'
suas a=oes atc as ultimas conscqLiencias. Aquila que c ment;11,
exclusivamente psfquico, par;t (/eber c incom/Jrccns/vd do ponto
de vista da sociologia.
Oaf chegamos a um entendimento melhor clo que seja a
sociologia que ele chama de com/JTccnsiva: trata-se daqucla que
se refeTe a analise dos comportamentos movidos pcb, I
racionalidade clos sujeitos com rela~50 aos outros.
Para Weber, os comportamentos dos atores sao intcrpretados
como sendo dotados de intencionalidade c, assim, como sendo
a<;6es propria mente ditas; embora certos elementos dessas a=oes
(a estrutura=ao do sistema de prefcrcncias, a escolha dos meios
para obter os fins descjados, a habiliclade de cada indivfduo na
utiliza~50 dos meios ct&'.) sc:jam cleterminaclos par elementos
t;. ":..
.>~
;ll1teriores ~1prclpria a<;:Jo. 0 mctodo de Weher c individual iSla
n50 porque ele prefira 0 inclivfcluo, nem mlJii:1 mcnnS;l j1sico!ogi:l
individual, em dClrimento da SOciclbde, n1;1Sj10rque para elc ()
indivic/zLO conscicui 0 Itnico [JOrcac/or dc IOI1 com/J()l'Cml1cnco /Jroviclo
c/e senticlo, ele incenci01lClliclclCie. Em conseCjL'lcnci;l, conccitos COli1(),
Estaclo, capit;1lismo ou Igrej;l, j1;tra SII;l s()ci)]()gi:J, rcdllLem-se ;1
categori:lS que 5C re(crcm ; dl'{'cl'lllin;,d'ls lIlIlIilJs de () !IIHIIClil
agir em socieclaele. A t;1I'ef;) cia sociologia c interprelc1l' este ;lgir
de modo que ele se tome um agir compreensivel, e isto significa,
sem exce~50, um agir de homens que se re!:1cilln;lm uns com os
ou eros.
o individuo e as institui~6cs sociais
11;lS seria um g['ancle erro pens;1I' que Durkheim c u homem
que acha que ;1 socieclade uhriga 0 inelivkluo a a,gir e Vcber,
pdo contr{]rio, C 0 homel11 que ;1Cha que u inclividuo ;l,ge como
Cluer. N;lo c n;llh dissu. 0 indiv/cluo, p;lr; lchl'l', lev;! em
consielera~;lO, no mumenlo de ;lgir, 0 compUrL;mel1('o tlos CHIITOS,
e c isso que fa: ele sua ;1~50 um;l ;1~50 suCi;ll. Mas n:lO so: ek c
obrigaclo ;1 relacilln;u-se t;tmbcm cum ;IS norm;lS soei;lis
consolicbcl;ts, inslitucion;lli:;lcl;lS, que (em inllu('nci; slbre sell
agir. Ou, melhor cli:endo, essas normas inf/ucnciw1! () cwir elo
inelill/clLlo l1a mcs))w medicla em quc Scl() rc.lilcaclo elo ogir dn5 /)):~/Jrios
inclivicll£OS llO fango clo tcm/JO,
QueI' en tender como isso (uneiona) Entao vej;l como Veber
distingue os conceitos ele "conllll1iclade" e "socicclacle". Eu vou
simpliEicar bastantc a c1eEini~:io do nosso autor, que c detalhada,
s6 para que possamos en tender esta Vi8 de m;1o cluph que, n(
cabcc;:a de V'eber, liga 0 inelivfduo as estruturas SOCi;1ise estas
;10 indivfduo.
fie die, basic;1l11enec, que u (/gir cm ((mll/nidwl" C ;Ique!c
agir que se basei;l nas cxpectativ;ls que ,emos com reLlClO ;Hl
compOrt;lmcntu dm outros, Se tli:el11o,-;"hom-eli;I" ;1ll l'nC~)Jltr;lr
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Sociologia da Educação: Conhecendo as Teorias

  • 1. Sociologia da Edtlca~ao Alberw Tosi Rodrigues Colc~ao [0 que voce preciSJ sJber sabre...] COOIDENA<;:AO Paulo Ghiralclelli Jr. e Nadja Herman Esta cole~ao C ul11ainiciativa do GT-Filosofia da Educa~ao da rnped na gcsr;io de Paulo Ghiralddli Jr. c Nadja Herlll"l I~evisi1o de proVa5 Paulo Telles Ferreira Andrb Carv;11ho Sociologia da Educa<;ao Projcw grdfico c diagrama~ao Maria G,1bricla Delgado Ca/Ja Rodrigo Murtinho Alberto Tosi Rodrigues CIP-BRASIL.Cataloga~~o·na.fontc Sindicato Nacionai (jos Ediwres de Livros, RJ R611s Rodrigues, Albeno Tosi Sociologia da Educa,ao / Alberto Tosi Rodrigues. - Rio de Janeiro: DP&A, 2004, 5. eeL . - (0 que voc~ precisa saber sobre) 14 x 21 CI11 160 p. Inc1ui bibliogrnfia ISBN: 85- 7490-289-6 C00370.19 CDU37.015.'1 G ~ DP&A. edi1:ora. PASTA N° _ TEXTO N:; .= FLS. Y fA. _
  • 2. .Jr." I· I I ,. I i I I I : i, I J ., ! "f ...•.. -. ~., 'i I , .; Ij I I :, :!~ I j IJ I I 1" , I I [ II -l '; r l ~' i! -i1 CAPiTULO II -~ Sociedade, educac;ao e vida moral N Ukl III SLUS S/~lI/S, P..UI.Ii'Jlll) 11: V I( 11.: 11:IIT:1 ; I r;ljcI (')ri; de IIIll l11abndro do 1110rro, Chico Briw. N:l C<1I1~;'ill,ele c rna!andro, sirn, vive no crime e e preso a wela hora. Padinho, porcrn, nao atriblli sua condi~ao a uma falhZl de car~t(;r. Chico era, ern principio, tao bom como qualquer outra pessoZl, mas "0 sistema" nao [he deixZlL1 outrZl oportunicbele ell' sohrevivcricia que nao a marginalidade. 0 Cdtirno verso eliz tudo: "Zl culpa c da sociecbde que 0 trans(Llrl11au". J:', em outra CIl1t;;:lo, hem 111{isconhecicb, Geraldo Vandrc cb 11111recado com semido 1l1'0stO: "quem sabe faz a hora, nao espera acontecer". Somos nos que fazemos a horZl) Ou a hora j<'i vem rnarcZlela, pela socieclZlcle em que vivemc)s? 0 que, Zlfinal, 0 "sistema" nos obriga Zlfazer em nossa viela) Qual ;1 nossa l11argem de m;lllobra) Qual 0 wmanho cia nossa liberdacle) DZlta c10s primeiros esfor~os, elos funcbclores c!a sociologia C0l110 c1isciplina COI11pretensoes cientflk;IS a clificukbde el11 licbr COI11essa tens5a existente entre, de Ui11bdo, a possibiliclacle ell' ver <1sociedade C0l110 Ul11a estru tu 1'<1COI11poeler de coer~ao e ell' deterl11ina<;ao sobre as <1~oes inelividuais e, de ourro, a de vcr 0 indivfduo como ;lgente cri;lelor e trans(orl11<1c[or cia vida coletiva. Diante da necessidacle de dernarclr 1111 esl':U l'n')l'ril/ elentro do campo cientffico p:lra CSr:1 nm'a discil1lin:1 :lCad":'micl, al.~:llns se ernpenh;1ram ern dcmonstr:ll' :1 exislcnci: plena lie urna 'iela coletiva com aIm;l pr6pria, acima e (or;l clas 111el1(CS GOS indivfduos. Buscv:m com issu delirnit:lr 1111 (;III1I'U de
  • 3. investiga<.;:ao que estivesse fora cla al<.;:aclacla psicologia (que ja lidava com a mente do indivfcluo) ou de Olltra cicncia human3 qualquer. Outros pensaram em tratar a a<.;:50individual como 0 ponto de partida para 0 entendimento da realidade social e, embora tambem fugissell1 do "psicologismo", colocaram a enfase nao no peso da coletividadc sobre os homens, m;!s n3 C<1p:Kicbde dos homens e1e (orjar a socicdade a partir de S'U:1Srcla<.;:0csuns f' com os outros. E provavel que todos tivessem raz50. Os homens criam 0 mUl'ldb"s;cial em que vivem - de onde mais de viria? - e ao mesmo tt:'h1ri.oesse mundo criado sobrevive ao tempo de vida de cada indivicluo, influenciando os modos de vida das gera<.;:oes seguintes. Como pensar a hist6ria humanJ sem resgat<1r a biografia dos homens? Como escrever uma biografia sem considerar a sociedade e 0 inomento hist6rico em que 0 biografado viveu? Portanto, a sociedade faz 0 homcm na mesma nredida'em 'que 0 homem faz a sociedade. Prcferir uma parte do problema em cletrimento da outra e apenas uma quest50 de enfase. No entanto, essa cnfasc e importante quando consicleral'nos a concep<.;:50 que cacla um dos principais autores da sociologia tinha sobre J ecluca<.;:ao. Ou, pelo menos, a concep<:;ao de ecluca<.;:50que poclemos cleduzir de seus escritos sociologicos. Fortemente influenciaclo pelo cientificismo clo scculo XIX, principalmente pela biologia, c extrem:1mc.1le prcocllp;ldo com uma clelimita<;:ao clara clo objeto e do metodo cla sociologia, 0 frances Emile Durkheim (1858-1917) vislumbrou em sua obra a existcnciJ de um "reino socizd", que sui;l distinto do miner;ll e clo vegetal. Nao por coincidcnci:l, ele Ch:lI1L', eSle rcino soci:d, :S vczcs, cle "reino moral". a reino mCH;l! seria 0 lug;H onde se processariam justamente os "fenomenos morais", e seria composto por ;lmbientes constituidos pcbs ·"idcias" ou pelos "iccais" coletivos. Toda vida social se d5, p;lr:! Durk.heim, nesse "meio moral", que esta P;lW as conscicncias inclivicuais assim como os meios ffsicos estao par:l os org;:mismos 'ivos. Entender que esta dimens:lo de fato exisw, qlle tal meio coletivo sej::l real e cletennin:lnte na vich das pessoas, nao e algo evidente por si mesmo, e nao e t::neb p:lr:l qU:llquer um, achava Durkheim. a soci61ogo e 0 l'mico cientistZl preparaclo par:l deteetar esses estados coletivos. Para tanto, ele deveria enfrentar Sll:l:1ventura intelcctual com :I mesm;1 postura dos demais cientisLas, coloc:lndo-se num estaclo de espirito semclhante ao dos fisicos, qufmicos ou bi61og~)s em seus bbor::ltllri,)s. Se a lei Ja nravidade ou a da inercia sao leis cb n;1tureZZl - n:-o se pocleb qllestiona-bs, nao se pode muJ,i-Ias, e s6 nos resta conhece-las pClra melhor viver -, do mesmo modo a socicdaclc, a vicla colctiv:l, cleve ter suas leis pr6prias, independentes d:l vonwde humana, que precisam ser conhecidas. A ([sica ne'toni:ln:l clescobriu as leis cIa gravicbde c cb inerci:l dos corpos. Cabe ;1 sociologia, na visao ce Durkhcim, clescobrir :IS leis ,b vicb soci:1!. Sua pretensao c apresent;1r a sociologia como lima cicnCla positiva. como um estuclo met6c1ico. Scgllindo os mc()(los certos, portanto, 0 soci610go poclera c1escobrir ;1Sleis sociZlis. Durkheim compreendia "lei" (lei cientffica, nestc c:lso) como umZl "reb;ao Durkheim e 0 pensamento sociol6gico Eclucar e conservar? all revolucionar? Edllcar e tirar a venca dos OIIlOS ou impedir que 0 excesso de luz nos deixe cegos? Edllc;lr e preparar pma a vida? Se for :lssim, para qU:l1 vicla? Com a palavra, ess.es inquietos senhores, os formuladores da teoria sociologica. E 'comecemos logo pOl' acjuelc que foi c continua senclo um dos mais influentes pensadores da sociologi::l e cia soc'iologia cia ecluca<;:50. ~,
  • 4. , " ;.:./' necessaria", como a clescoberta cia logica inscrita no proprio real e apresentacl<l na (orma de llll1 enlll1ci:lL!o pelo ciClltist:. Esse .positivismo c,' para ele, a unica posi<;:ao cognitiva possfveL Na explica<;:50 que de proporciona, 0 "(ator social" c sempre 0 cleterminante. Em tal universo intelectual, a vereladclra CicnciCl so aparece quando Ocorre a per(eit:l sep:u:lC::10 elll're teori:l C ·pr:'itica. 0 meio moral que SCI·ve de elll()J'I)O :H1Si;ldiviclll()s cleve ser tdmado como um elado bruto a observarao do invcstioaclor:s- oJ, qlie nao eleve em momenta algum assumir os v:llores ne1c ,contidos/.ourkheim escreve que as principais (e11omenos sociais, como a religi50, a mora!, a direito, a economia ou a celucaC80 ~ , sao na verdacle sistem:Js de valores. Se cstivermos colltaminados com os valores que esses (enomenos exprcssam, 11;]0 teremos a isen<;ao necessaria para cntendc-los. A sociologia, enuncia Durkhcil11, eo estudo c10s fatas soci:Jis. E (aeos socia is sao justamelltc aquclcs modos ell' agir que cxercem sobJ:e a i!=lclivfduo uma cocrc;cio cx[crior, e que aprescntam uma existcncia propria, independente das mani(esta<;:()es individuais que possam ter. Os racos sociais, em sUl11a, devem ser consiclerJdos C01110 coism. Durkheim nota que na vieb cmidiana tcmos uma ideia vaga e confusa c10s (3'COS sociais - como 0 Estado, a liberdadc, ou a que quer que scja - justamentc porque sendo eles uma realidade vividCl, temos a ilusao de conhecC-los. o senso comum, as maneiras habituais de pcnsar S;]O, portanto, conrrarias ao estudo cientffico c10s fenomenos sociais. A mancit.a da logica CdrtesiClnCl, ell' acln nccessario desconfiClr SCll1prc cbs priml'iras impress6es. DClf a necessiclaele ele tratar os fCltOSsocia is como coisas, para livrar-se c1as prc-no<;:6es, dos precanceitos naa cil'ntfficas. Para conhece-Ias cientificaml'nte 0 fundamental c estarmos canvencidos de que des n50 s50 inteligfveis imediatamente. Mas cuiclado af can1 as pabvras, cara 1citor. Veja 15 que conclus6es vai tirar c1el~. Durkheim naa afirmou que os fatos socialS sao de fata coisas maten~lIS, mas apenas que devem ser I:r:1I:1L!os como se (()sscm (ois:!s 1:lis (()I1Hl ;IS ("is:IS m:lll'rI:!IS. "Coisa" para de e tad a abjeto de conhccimcnlll que a inleligcncia hum:lIIa nao penetr:l de modo imedi:llo, necessitando a auxflio da cicncia. Tratar os (aeos saciais como cois:ls, port:lnto, {: lIm:l pOSl:lIr:l inl'c1cClII:11, lima ~II'irll(1c mCIH:l1. POl' oulro hdu, C plls~i"el rec(11111l'l:l'I' 0 (l'IIlllll:lltl s()ci:1! parque de se impClc aos individuos, ou scjcl, os f<lwS sociais exercem coen;;l0 sobre os com[~OJ'(amenlOS illdividuais, como 0 c!emanstram a moda, 0 casamento, as CotTeJ1lcs de opiniao. Um crime, par cxcmplo, C rcconhcciclo como .tal porquc c de conhecimellto cO!clivo que lodu crime slisciLI ullla S:IIl~;io, que devl' ser punido pclas regras que a sociedade estabelccc (no casa, pcbs leis juridicas). f lei esr;ILdece l'ulli~;IU porque o crillle (ere a conscicncia co!etiva, conrrac!iz :lS cOIl"ic~C1CS mais Vi";lS e pra(uncbmeillc comp:lrrilh:lc!:lS. No enLlIlto, 0 crime !lao c um:l abe!TCl<;:50. Sc exislem rcgms SOCi:lis que prevcem a que sera e a que n5a sera crime C porque 0 crime c algo normal. o crime, partanto, c um faw soci,1I, assim comu a lei que pre"c sua pUlli~a6. Sao (atas socia is Ilao s6 porquc S:la norma is, m<lS parque s5a pcrcebidos como (:ltos sociais pelos membrClS da socicdade; c porque exercclll algulll:l prcssao sobre os inc!idduos, alguma coerC;,ao, alguJl1<1 obrigatoriedadc. Ou seja, 0 rccado de DurkheiJl1, com ('SS:l COllvel·S:l loch sabre como definir corretamcnce os (;ltUS sociais, c que naa adiant:l simplcsmcnte dizcr que 0 hOJl1cm C UJl1 ser inscl·ic!o na socil'dClde, ccrc<1c!o de Cacos sociais pOI' todos as lados. Issa n5.o diria nacla. A caisa c mais complic(lch. 0 n::c;1do C 0 seguince: a sociee/ae/e CS[C[ )1a cabcc;a e/os h01l1cns (' elm 11wlheres, de todos e dc cuda 1m), Pais s6 existe um modo de cOllhecer os Cams que l'st;O J nossa voll;1, scjam elcs pedr;ls, paus, C1S:lS, :'i,-)es, einocoes, leis, delitos, pneus, rClUp;1S, pc~as de le:ltru, religic)es au s~i 1<1 a quc. E criando em nOSS;1 mcntc um:l id~icl do que
  • 5. ...'..·;·;;i~'1.ft:~;:~.· .:!A· sejam ou um ideal que diga respeito ao modo como deveriam ser. Em outras palavras, e gerando uma rejJrescntm;ao mental, uma especie de chave interpretativa que construimos para lidar com . aquilo que a principio nao conhecemos. A sociedacle na cabe<;:a de cada Ulll E, c af que a sociologia de Durkheim tem gra~a. Para cle, as representa<;:6es podem ser individuais (pessaais) ou colctivas (compartilhadas). As representa<;:6es sobre os fatos sociais saa repreSci11'<1~6escoletiv<1s, san percebicbs em coletivo. l~ como se houvesse dbis~de nos dentro de nos mesmos: um ser individual em cuja cabe<;:a existem est<1dos ment<1is referentes apenas ; nossa pessoa, <1nassa vid<1como indivfcluos, e, ao mesmo tempo, um ser social.. Na cabe<;:<1desse ser social que habita em nos nao . trafegam apenas estados mentais'pessoais, mas um conjunto de :cren<;:as, de habitos, de valores, os quais nao revebm co isas que "pensamas com nossa propriCl cabe<;:a" (se e que t<1]coisa poderia existir, na visao de Durkheim). Tais cren<;:as e valarcs nao rcvebm uma supasta personalidade privada. Revebm, sim, a quanto ki dos outros em nos. De todos QS outros! Das pessoas que vivcm conosco na saciedade em que vivemas e clas pessoas que nem conhecemos, e inclusive das que nao vivem mais, que jj ~narreram, taIvez h:'i muitos anos. A sociedacle vive na cabe<;:a de cad a um e, assim como 0 Cristo biblico, onde dois ou m~1is estiverem reunidos em seu nome ela estar:'i no meio deles. Mais do que isso ate, pois se dcstacarmos um lmico indivfduo da sociedade ande ele vive e 0 levarmos para outra sociedade ou mesmo para uma ilha desena, ele levara um pouco da sociecladc consigo, dentro de sua cabc<;:a. Lcmbram-se do modo como Robison Crusoe sobreviv;eu apos 0 naufragio? Pois e, foi gra<;:as a sociedade e seus saberes, que viviam dcntro cle sua c1be~a, Clpesar cia ausencia ([sica clas clemais pesSO~1s.Ponanto, nao apenas 0 inclivfcluo faz parte da spciedacle; uma parte cb socicdade hz parte delco Ao mesmo tempo, par autro Iada, a sociedaclc s6 existe em sua plenitude se tomarmos 0 conjllnro, porque cia naa cabc tocla, completa, na cabe~a dc clda um . As representa<;:oes coletivas, assim, sao exreriores as conscicncias individllZ',is; elas nfio clcrivam dos individuDS consieler;-tc!os is();l(I;-tI11(~IHe, Jl);)S de SII:l c(J(J!Jcr!u:/io. N;) constru<;:~l0 du rcsult;lelo CUl1111111elC~S;1 CULlb()r;I<;;lu, eli: Durkhcim, cada um entra com sua quot;J-p;Jrte; mas os sentimcntos privados s() se tornam SUCi;lisqll~1I1d()se c<1l11bin;ll11 entre si, SaG compartilk1dos c gcr;Jm, em dccmrcncia, al.l;o novo. Par causa das combina~oes e cbs mlltac;6es que sofrcm ;)0 Sl.:: combinarem, as sentimentos inclivicluais 5C [ransJonl1ml1 em Olum coisa. E como um<1sfntese quimic<1. 0 hiclrogenio c a oxigenio saa dais gases di(erenres, mas se combinaclns cm cert<1 proporC;~lo .determinada e sob certas conclic;.ClCS fisicas especfficZ!s, transformam-se em algo complctamentc clifcrente: 8glla. Se tomarmos as p;utes que compoem a :'igU<1,nao entendercmos ZI 8gllZ! jamais, pois que suas p;-trtes constitutivas S:1Ogases. Do mesmo modo, se tam::nmas as inclivkluos, n;io cnlemkrcmus , socieclade jamais, pois se c vercbdc que ela existc em caclZ! um, em cada um so existe um (ragmento clela. 0 toelo, para Durkheim, tem preccclcncia sabre <1Spartes. A saciccbde tem vantacle propria. Ela pensa, sente, c1cseja, embora nao possa pensar, sentir, desejar e principalmcnrc agir sen50 atrZlves dos inclivfduos. A conscicncia calctiva existe atr,wcs cbs conscienci;s particulares. Cada uma nao c nada sem a outra. Talvez a esta alrurZl, caro leitor, voce ja csteja um POllCO ansioso. Talvez ja esteja sc perguntando: bem, mas 0 que tem tudo isso a ver com educa<;:ao? Em que Durkhcim nos ajucla, afinal, a pensar a ecluca<;:ao? Calm;1, calma. Vamos cheg:lr L1 agor~l. Disso que acabei de di:er, retcnha dois r<1ciocfnios funclZlmentais. Primeiro, a conscicncia colerivZl, est:1 sociecbcle
  • 6. viva na cabec;a de cada indivfduo e ao mesmo tempo exterior a cad a pessoa e que a obriga a comportar-se Conforme 0 desejo c1;) sociedade, nao existe individualmente, mas somente pela cool)cra~ao entre osindivfduos. Segundo, essa existencia social, essa vida coletiva, e obra nao apenas dos indivfduos que cooperam entre si num dado momento da vich da sociedade, 11~::lStambcm clas gcra<;:()cs passad;ls, que ~ljudar,lm ; eriar as , cren~as, os valores e as regras que ainda hoje estao presentes e que nos obrigam de certo modo a nos comport::lrmos de acordo com ~~a-.~ol1tade da sociedade". desuso, obviamcme porque a sociedack c t;lmbcm as eondi~oes economicas mUlbm. Pergunte :1 SCII p:li OIl ;IVl, (sc ek loi um homem "hem edueaclo" eb primcira mctadc do scculo XX) () que se c1evia tazer ao cruzar, na calc;ada, com uma pessoa mais vclha. A resposta c: oferecer 0 bdo de dentro cia calc;ada, fiGll1do voce com 0 helo ch rua. Pr:1 que? Nan eSCJue~a que a maioria cbs rll<Ser:1 de lerr:, e () risco de ul!:lll1c·:r II [el"l() dc· L::ISell1ir:1 branca era bem maior para os que ficassem perto da rua nos dias de chuva. Com a urbaniza50 e 0 desenvolv.imento econ6mico, a regra caducou. Alem elisso, 0 SWCllS c10s mais 'elhos er;1 difereme do que existe hoje. Esses cxemplo~ tomam apcnas pequenos Ir::lgmenros (:1 teia ele nmm~lliza.6cs olerecielas pela socieelade, mas s50 parte integrame de um determinado meio ·moral que compzlrtilhamos. Ltc meio mor::ll, nos eliz Durkheim, C produzido peb cooperac;:'io entre as inclivfduos, atr:1VCS de um processo dc interZl~50 que chamou de divis50 do tr;lb:1lho social. Dito de Outro modo: conforme 0 tipo de divis:'io do tr:1balho socia! que predomina n<l vid::l eoktiv::l numa c!ctL'l'minacb CpOC::l, tcmos UI11tipo difereme de cooper::l<;50 entre os indivfduos. E este tipo diferente cle coopera<;50, pOI' SU::lve~, d:1 origem :1 um::l vich moral clifcrel1te. Vicla moral que ser:j a base elos conteuc!os tr::lnsl11itidos n::l (orma de cren<;as, valores e norm::lS cle gerac;50 para gera<;50. E que cacb nOV~1geraC;;1o, ao nasccr, rccebe pront::l na forma de educ::lc;50. N50 estou f::tlando apen::lS de educ3<;50 escol::lr, note bem. Estou blando de aprcncler a viver. Estou fabndo clo modo como somos ensinados a ser membros cia sociecbcle da qU::ll lazemos parte. Cois::l que, voce ja cleve ter reparado, ningucm nasce sabendo. Alias, alguns jam::lis aprcndcm. Como j,1 limos, ;10 renetir suhre como, ;lfin;J!, um simples con j u n to de in d iv felu 0 s po cle co 11S tit u irum::l so c ie ela dc, Durkheim observ::l que um:-t condi<;;lO lundamental pJra que a A diferenciac;~o da sociedade Ora, se agimos segundo a vontade dJ sociedade, e porque assim CllJrcn~emos. Porque fomos edIlcados para isso. Essa educac;ao, naturalmente, n30 se faz no vacuo. Eta tem GonteCJc!os. Tais conteudos sao dados pdo meio moral que compartilhamos, quer dizeT, por este mar de crenc;as, v::llores c regras produzidos pelas gerac;6es de indivfduos p::lssadas e presentes d::l sociedade em que vivemos. Existe um numero quase infinito de regras socia is que, de tao comuns, ate esquecemos que existem, mas das quais imediatamente nos l~mbramos se colocados diamc de uma situac;ao que as exija: e proibido matar seres hUI11::lnos, e proibido fazer sexo corn 0 irmaozinho ou a irl11:1zinh::l, e recomendaveI que 0 homem envie flores a mulher amada (s6 na fase da conquista, claro), c pouco educado perpetrar urn sonora arroto durante as refeic;6es ete. Isso parece 6bvio demais? Entao veja estas outras duas regras socia is: c gentil arrotar durante a refeic;ao, pois significa que estamos gostando d::l comida; e gentil oferecer sua espos::l para uma noite de sexo com os homens visitantes. Ben;, essas ja p::lrecem mais ex6ticas par::l n6s, pelo menos alguns de n6s, mas ::lpril11eir::l vale para CCrt::lS culturas de povos arabes, e a segunda v::llc para a cultUra esquim6. Hc"i outras re~[as de "bo::l educaC;:lO" que caem em
  • 7. sociedade possa existir c a presenr;:a de um conscnso. Pois sem consenso nao hc'i cooperaS;ao entre os indivfduos e, portzll1to, nao hc'i vida social. Quando os homens possuem pouca divisao do trabalho em • sua vida em comum, existe entre eles um tipo de solidariecbde baseaclo na semelhanr;:;1 entre ;1Spessoas. NUIl1;1 triho de fndios, por exelllplo, toclas as pcssoas (azclll pralicamc·nlc :IS mcsmas tarefjls: car;:am, pescam, fazem cestos de vime, participam de rituais religiosos ele. A liniel divisau llUC gcr:dmcl1L<.: CXiSlC_ alem ..cta~presenr;:a de indivfduos destacaclos, como 0 chefe ou 0 curaI1d'eir() -: C a divisao sexual de tarefas entre homens e mulheres. b tipo de solidariedade que se cstabclece entre essas pessoas e 0 que Durkheim chama de solidariedade mecal1ica. As pessoas estao juntas porque fazem juntas as lllesmas coisas. .Mas no caso radicalmente oposto, ou seja, na moderna sociedade industrial, as tarefas SaG extremamente dividicbs. Com a divisao do trabalho ~ocial, cada vez mais, os inc1ivfc1uos desempenhanl fun-r;:6es diferentes umas das outras. Tal processo se radicalizou com 0 capitalismo, que levou a uma superespecializar;:ao das tarefas. Na fabrica moclerna, ha um homem para apertar 0 parafuso, outro para encaixar as per;:as, OLltro para pintar os encaixes ete. Alem desses, que san todos oper:irios, ha outros tipos de profissionais superespecializados: 0 medico, 0 professor, o dentista, 0 carteiro, 0 ferreiro, ° ac;:ougueirq, ° comador ete. Imagine 0 que diria a velha Durkheim se vivesse nos c1ias de hoje, rodeado por tecnicos em informatica, consu[tores de marketing, pHotos de conida, analistas cIe sistemas, tiidcomakcrs, astronautas ... Talvez nem se espantasse. Talvez confinnasse com um sorrisinho nos labios que tuda 0 que se fez desde °infcio do seculo XIX foi 0 incremento cIe uma difcrcnciaqao social cada vez maior. o tipo de solidariedade que se.estabclece entre os indivfcIuos com este e!evado grau ~e divisao cIo trabalho nao pode ser a mesma solicIariecIade cIos fndios na tribo. Na socieclacle industrial moderna ha uma solichrieclade par di(erci1c;a e n:u mais por scmelhanc;:a. E 0 que Durkheilll cham:l de snUdwicdudc mganicu. As pessoas nao estao juntas pOI'que fazem juntas as mcsmas coisas, mas 0 contrario: cstao juntas pOl'que f;1zem coisas diferentes e, portanto, p:na viver (inclusive para comer, heher e vcslir) dcpcndcm d:IS uulr:ls, que (;Zelll c()is:IS qlle el:ls 1l;'I() querem ou n3.o SaGmais capa:es de fazer. Como 0 alfai:tte comeri:1 e como 0 cozillhcim SL'vcsliri:l sc II:() (I.'SC:1 CxiSI('lll·i: ,1()(JlIl1"rl. Se uma tribo (osse devastada por um ataque inimigo e Sl) restasse uma peSSO<1,cia poderia J.inda sobreviver na m:.ta clc;:ando ou pescando ou comendo frutos cbs :lrvorcs, cm.[,urd vivcr scm 0 grupo talvez nao fizesse m::ris scntido para cIa, tao lig::rda ao coletivo ela e. Mas 0 que voce faria, c::rro kitor, se um;1 cxpediC;ao de marcianos C<1pturasse tad a a populac;:3.o ela terra para experiencias e s6 esquecesse voce par aqui? Como comeria? Claro, voce pode assaI tar a balco frigorifico elo supermercado. M<1squanto tempo a energia elCtrica elUl'aria sem a manutenc;:3.o do pessoal cia comp::rnhia de forr;:a e luz? Quem pag<1ria seu s<11ariol Quem lava ria suas cuecas ou calcinhas? E pr:1 que us~u cuecas ou calcinhas se nfio h:i mais escritl1rio paw IT~1balhar ou aula para ass~stir, nem ningucm para vcr voce pehdo ou pelaeb? Qucm the ensin<1ria sociologia cia eelucac;:3.o na I ni versidaele? Quem passaria aqucle filme rom~lntico e1e S:ib~IClo:1 lIoite? L;1mento informar, mas voce depenele c10soutras. Sua relar;:Zio com os GlItros toelos que estao a sua volta, mcsmo com aqueles que voce odeia, sua rebC;ao com seu p::rtr3.o ou com sua sogra, C lIm::r relac;3.o de solidariedade. De soliclarieclaclc org:'mica. A diferenciac;:'io social, isto C, :1 pass~1gcm eb solicbriccbde mecanica para a organica, C similar a luta pela sobrcvivencia no reino animal. A divis3.o do trab~1Iho, P:H~1Durkheim. c a so[uc;ao pacffic<1 cIa luta pcla vida. Em ve: de matar lIns aos outros par causa cla competir;:50 que scriam obrigados a cmpreencler com
  • 8. seus semelhantes na luta pela sobrevivencia, os seres humanos diferenciam-se. Nas socicdades humanas e posslvel a 11111nllmero maior de pessoas sobrevivcr, difcrenciando-sc Ul113Sdas Outras, fazendo coisas que as outras n50 fazem p3ra tOrJ1dr-se parte cia sociedade, e par consegllinte substituindo a s()lidaricd~lde baseada na s~melh3n<;:a pel a solidariedade baseackt n:: diferene:'l. M;ls h:l outro ponto illlPlll·Clllc. Durkhei';l ;lS:,ill;lla que qu::ooo ha pouca divisao do trabalho e, em decorrcncia, solidariedade mecanica, a conscicnci3 coktiva c mais forte c exten...siy~ a um nLllnero maior de pessoas. Isso ocorre porquc desempenhgmdo fun<;:6esSOCidismuito scmelhantes, os indivlduos pcnsam "com' a mesma cabe<;a", por assim dizcr. Quando, ao contrario, h5 muita divis50 do trabalho c, em dccorrcncia, solidariedade organica, c<lda pessoa, em diversas cirCUi1StJllCias da vida, tem 'Ulna margem maior de tiberdade, para pensar e agir por conta pr6pria. H::l, portanto, um cnfraquecimenco rela~ivo d.a consciencia coktiva nas sociedades complcxas, h5 um enfraquecimento c!as rea~6es da coletividade conte, :1qllebra das regras estabelecidas e ha uma margem m;1ilH pdr;1 a interpreta<;ao pessoal ou grupal clessas rcgrdS. Assim, os meios morais, nas sociedacles com POUCd e nas com muita divisao do trabalho·, sao bastante distintos. Os vatorcs, as cren<;:as e as normas compartilhados no seio de uma cllitura pelos indivfduos saG muito mais imperativos, obrigat6rios e homogeneamente transmitidos de gera<;ao pard gera<;ao numa sociedade pouco diferencidda, enquanto que, pelo contr::lrio, sofrem interferencias de grupo, de SWtHS e de c1asse numa sociedade ·muito diferenciada, como a sociedade industrial moclerna. Quando todos sao rigid;1mente ei1Sinados a obcdecer ct? mesmas normas, a comp,lrtilhar as mesmas crencas e os mesmos valores, a tendehcia, pensa Durkheim, c 0 cl~nscnso. Quando cada indivfduo, am (lln<;:ao da divisao cia trabalho e da especializa<;ao, assume v't~ores, cren<;as c ~10rmas clifercnciadas conforme 0 grupo ao qllal se vincub na vicb profissional, as regras gerais Hcam relativiiadas, Hcam mais (r;lc1s. Pnde-se dar intcrpreta<;6es cli(erentes a ebs conformc 0 lugar ell' onde sao vistas. E quando h5 forte diferencia<;ao social h<1mllitos lug;1res clifercntes de oncle se olhar :1Sregr;1S. r tcnc!cncia ser;1, entao, o conflito, decorrcl1te da comretie:?io impost:l pcl:l c1i(erenci:lc}io. Os intlivitilltlS P:ISS:111l: glli:tr-sc' 11c·LI '11:,(:1 ,LI .':III,I:II~>·ltl ,IL- interesses que SClOcada ve: mais pessoais c «,da 'c mcnos coletivos, na luta pcb sobre'ivC:ncia que ;lprendem n:l suciedClde complexa em que nasccm. t assim que Durkheim vt?um (en()meno extrcmamente c!isseminado nos di;IS e1e hoje:o. il1llividu:dismo. E a c1ivisao do traGal ho cad i(ercnci<1s;:'1ll sucial que possibilitam 0 surgimcnto da liberchc!e moc!erna. SCl numa socieclacle complex<1 e elilcrcnci;lLh c que se turn:1 posslvcl clim in u ir a rigiclez cbs regras soc ia is, sU;1 v:ll iebel e ge ra I c indistinta, e s6 assim 0 inelivfduo pock tel' cerra liberd;1dc de julg;1mento e de a~ao. Mas qUdl1tO m;is liberlladc individual, mais indiviclualismo, entendido como ~1perda dc,:; sentimentos grcg::lrios e de respeito JS norm,s gcr~lis cla socieclaclc, Educac;:50 para a vi~a Chamo cntflO sua atcn<;f1a para ;1 scguinte questao: quanto mais individualista em termas de crcn~as e valorcs c uma socied;1c1e, mais importante se tOrn:1 resolver 0 problema ele como preservar uma parte da conscienci;1 colctiva, que era quase total nas socieclaclcs pouco difcrenciachs. Pois qllilnto mais 0 individualismo cresce, mais a conscicncia colctiva eliminui. E no entanto, paraeloxillmente, sem CC1l1scicncia colctiva, sem lima moral coletiva, d sociedade n50 poele sobreviver. A solidarieelacle c a cimento que d5 lig;, ; sociechcle. Se Fosse cleix~1eh par3 scguir seu rumu scm cUl1trule, ; solie!;triecL!,le organica (baseada na difcren<;a) pro'oc3ria a clesintegra~ao cia socicdade, provocaria 0 que Durkheim chal1lou ele (11101Jliu,istu c,
  • 9. a ausencia de regras, 0 caos. Se isso nao ocone por completo e porque a conscicncia colctiva ainch se m:1ntcm ele ;llgum<1form:1. Num meiO moral cm que 0 individualismo possibilitado peb diferencia~ao social compete com a consciencia colctiva propria a toda vida social, a eduGlI;;50 assume 0 significado de cduGI~ao moral. Assumc a condi<;ao de peelr:1 funchmcnt:ll dc prescrv:1~?io cia coesao social. Assim, a educa<;ao, para Emile Durkheim, e csscncialmentc o processo pelo qual aprendemos a ser mcmbros da sociedade. Edu<3a<;50-e socializa<;50. "E um-a ilusao acrcditar que iJodcmos cducar nossos filhos como qucremos", sentencia Durkhcim no seu livro Eclucw;c1u C sociologia. Existem ccrtos costumcs, ccrtas rcgras, que dcvem ser obrigatoriamente transmitidos no processo celucacional, gostemos deles ou nao. Se nao fizcrmos isso, a sociedadc se " vingara de nossos mhos, pois nao estarao cm condi<;6es de viver , em· meiO' aos' outros quando adultos. A cad a momcnto hist6rico, acredita Durkheim, existc um tipo adequado de educa<;ao a ser transmitida. Idcias educacionais muito ultrapassadas ou mUlto a frente de seu tempo, diz nosso soci610go, nao SaG boas porque nao permitem que 0 indivlduo educado tenha uma vida normal, harmonica com seus conte'mporfll1eos. Mas se, como dissemos antes, as socicclades moelcrnas SaG m'iJito diferenciadas, devido a divisao do trabalho social, como seria posslvel um unico tipo adcquado de cduca<;ao para welos) Ora, nao seria posslvel. Para Durkheim, a cduca<;ao adequada e a educa<;ao pr6pria ao meio moral quc cada um compartilha. "Nas sociedadcs complexas existem muitos meios morais, con forme 'a divisao em classes, em castas, em grupos, em profissoes ete. Assim, nao existe uma ~duca<;ao unica para que wdos aprcndam a ser membros da sociedade., Voce aprendc a ser um membra de sua classe, de seu grupo, de sua casta, de sua profiss<1o, enfim, de seu meio moral. E~.este e 0 modo cspecffico, particular, pelo qual voce sc t01'l1,1mcmbro eLl soci"chdc, ESLI n~Oe algo que cstej; disponi"cl CIl) Sll: :lhr:l1.c:l'lh'i;; Illl;J! 1:r: II)l;l~ :~ pessoas. Sociali:ar-sc c aprender " ser mcmbru d;1 sociecbde, c aprcncler a ser membra d" socieebclc c Zlprel1(kr ° seu devido lug:1r neb. Sll assi!11e possi'c! preser":H :1sllcied<l,lc. l'rcsen';l- h inclll~ivc de SII:I prt')pri: dirnl'llci:!I)", :prender ;1 ser lIm cngcl1heirt), 1:1': UUI"i,hl'illl, 11;-111C simplcsmcnte aprender :1 f:l:cr pbnt;lS ou Glcubr voilimes de concreto. Assim como aprender Zlser mec!icl1 n;lo se limita ;1 aprcncler a COrl;lr h:nrig:ls (ll] serr;lI" ()sSll~,Iprellder :1 scr medico ou engellheiro significa ,1prender : ;l,!.;ir11;1;id;1 cnl11n mcc!ico ' ou ellgcllheiro, :1 rclacion;1r-~e CO!11os ollros : p:nir desl:l (1] cbquela prafiss:1o. Significa :lprellder : ;I,c:irC0l110 :) s()cied:de cspera que um mcdico au um engcllhciro Zljam. Significa cntrZlr num meio mor"I, an'aves cia aquisi<;ao de uma mur;t1 profissioll;'1. POl' isso, as sistcmZlS CducKion:lis conlempur;ncos nao S:10 homogeneos. Educa~f1o homogC:lle;l, ;t1ijs, Sl) sc volt{issemos a prc-hist6ria, em socied.ldcs sem cli(ercncia<;:-o, No entanto, por mais especftkos que sej:lm os mcios morais para os quais somas cduc:1c!os, sCl11prccxistir;m crcn~:1s c v;t1ores b5sicos que dcvcm scr COInuns ;:I toelos, / eclucac;ao do engenheiro pock ser Inuit,,) clifcrente eLldo mcdico, ou do liter:1to, mas ,lltcs de serem edUClClos p,lra essas ativi,bdcs profission:lis, passaram !)or uma educac<1o fundamental no crcral~ 1 b compartilhZlcb com tuelos. Mesmo nUI11:1sociecbde rigidamentc dividida em castas, como na fndi;l, ollde ZlSpcsso:S n:1sccm e morreIn, gera<;:'io :lp6s ,c:cr:l<;:1o,sel11 ch:lncc de P:1SS:lrcle: UI11:l (;:Ist,1 p;:Ira outra, existcm :11,f;unsvalorcs Cl1!11UnS:1 todos; par excmplo, unn rcligi?io cOl11um. Assil11, mcsmo que IIcm toelos n6s fumel110s um detcrminado Ci~;IITO, ":t1crum:l co is;, :l "elite'•.J u 0 tem quc tcr CI11comum". N:'io seri,l possi'c! cxistir sociecLlcle: sem isso. E fundamcnt:ll que h:lj;1 certa homogelleid;lClc, c :l ecluca<;:'io cleve pcrpctu;l-h c n.:(m<;{i-h n: :t1111;1da cri;1l1C;;1ljuc
  • 10. e educada, insistiu 0 soci6!ogo frances, Assim como e 'fundamental para ele que, a partir de certo pomo, ;'1edUC1C)O se diferencie, pilra adequar as cI'ian~as a seus meias especfficm de vida, CrPiTULO III -~ Sociedade, edUG1<;:5.oe emallcipJ<;:50 Para resumir esta idci~l, permita-me cit~1r a defil1i;50 que LJ pr()prio Durkheim eLl Il:1r:l ('LitICl,::l): AlCdLlca~50 C a a~50 cxcrcicb pcbs gera<;iies adultas SOblT:IS ger;1~,-)eS que n:1o se encontram aind:l prl'par:1<1:1$P:lr:1 :1'i":l S(lci;l]; tem p(lr objcto suscitar c c1cscnvolvcr, n:1crian<;:l, CCI'lOI1l-lmerude c$!:ldos (isiCl)s, int~lc~tuais e morais, rccl<1mados ,pcb socicd<1dc politica, IllYsell conjunto: e Pclo meio moral:1 quc a crian~a, particLlbrmenrc, se dcstinc (Eclllcar;do c socioloj;ia, c;lj), I), Eisso quc nos permite viver cm sociecbde, c isso que permite que a sociedade viva em n6s c c isso quc permite J socieclaclc continual' viva: sennas igU:lis e c1i(eI'el1tes au meSI1H) l'empo, S-) a ecluca<;ao pcb glial pass~ln:os C capaz de nus Lm::r :lssim, [ C pOI' isso que a educa~ao c um pracesso sociaL EST .. I3E11, r SOCII:D,DE ",os 11,)LLl .., i ClIUC1<;:-lOLjUc recehcmlls tem pnr nhjetivo 110," cnqll:lllr:1r :lS eXllccr:lIi':lS ,1) ll1l'io $oci:t1 em que vivemllS -11,)SS:1 chsse, 11,)SS:l!)r)(i,;s:-Il), 11)SS)Illei,) 1111)1':11, Cada gcI'ac;.:1o transmite J seguil1le, all'avcs d:l elluclC;:10, 1S elemel1tos (ul1dament:lis p:1ra a m;llH1ten<;:l) JI eS!:lhiliL!:llk' lL1S ClllctiviL!:lclcs hUJ)):lI1:1S, Esses :lch:l,llS ,Ie lJIII-kh.:illl S..'111d(I'i.l:l clc-'cm scr consiclcra.los como um imp.lrl:ll1le pomp de p:lrtida d:l socio!ogia, c t:lInhcll1 d: sucio!ugi,l ll:l CdUClt;,-IP, 1"bs nos ljucsrinnemos um plllIC,) :'l,~OI':1sl1hre 11Ii.') que exisie nos P.)J'(-)CSeh socie(Llclc, 0 que cxi~t., Illlr tr:s ,Lls :lp:lrcnci:ls dess:1 110va, ma 1':1'il hosa e te rrf vel I'e:1Iichde !l;nid" a (CHceps pel" modern:1 oI'dcm il1dustri:1! clpir:1Iisi;l' QIl:lis ns mcclI1ismos de cl1quaLlramcnto sohre, ns in,livlclu)S e : que ini,;I'l'SSl'S ele:.; de (;HO Scrvel11? Que (Jr~:lS $1Ci:lis l'mcrgentcs llL'sie 11')1'1 mOI1lCl1ro hisCl)ricu S,-IPC1Il,l:es ,Ie ClllllTO!:lr :IS Cl1I1,ciC'l1ci:IS lips homensl Mais que i~~n: diante dn ,lCllmull1 ,Lls m:l:el:l~ SPCi:lis j: c!es,!c 0 ber<;o LIZ!socied:1dc capil;1Ii~ra, comu tI'al1sformar CS[;1 I'ealidaLlc? Como impcdir que os muitos que est:io por b,lixu scjam csm8gaclos pclos poucos que cst;1U POI' cima' ScI', que 0 aeo'de educar pode scr algo mais do que um mecmismo de m;muteI1C;:lo cia ol'c1em? Ser:i posslvel ecluc1I' !1<lra a emancip'ls;.:1l) llo homem, para livI':-I() de LOci,) ;1 "preSS:10 que u esm:lg:1? Mitrx C 0 pl'ns;lml'nlo sociol6gico , obra do alcm;1u Karl Heimich brx (1018-1803) marCUl! como um corte de 11<l'alha 0 pCl1samel1to ocidel1tal do scculo XIX,
  • 11. Seu objeto de pesquisa fundlmenral, para n:io dizer U lll1ico, fui a sociedade capitalism de seu tempo. Ele olhou 8 sua volta e percebeu que,' para' alem clos sinais aparentes de miscri~1 e sofrimento das classes trabalhadoras - esses qualqucr um que caminhasse pcbs ruas das gran des cidades industriais podi~1 ver - havia um processo hist6rico em curso que, enquanto levava a blrglesi~1 ~I cllndi~;iu de CLISSCd)lllin:1I1Il:, CXpr)11I'i;v;dIS trabaihaclores manuais seus instrumentos de produc;:ao e seus saberes, 'transmitidos com zelo de gewc;:ao para gcrac;:50 ~:ltravcs c10ss~q*)s, ao tempo da velha ordem feudal. Perceber este ponto talvez seja,o grande diferencial cia sociologia de M~1rx. Mas devo adverti-lo desde logo, caro Icitor, que 0 pcnsamento de Karl Marx nao se adapta facilmente ao r6tulo de "sociologia". Pois a sociologia e uma discip!ina ciemffica e empfrica, de car5ter analftico. E Marx combinoll em seu pensamcnto duas perspectivas dife~entes, dois modos diversos de cncar;H a reaJidad~. Por um lado s~.~pens~~er.t? .L~n~Ut.ic<?,., isto ~-'_ ,pretende ver a realid~le CO}11Oelac, dissecanc!o:<;J e recon~truiI.:!c1.2-a concei~~,~~nelHe para entend0-la. Nesse sentido, de foi um praticante das ciencias sociais (a sociologiZl, a hist6ria e a economi3 polftii::a). Por outro Iado, seu pensamento e normativo, isto e, pretende vislumbrZlr como a realicbde deveria ser, construindo uma utopia em nome da qual seria necessario agir para transformar esta realidade, valorativamente caracterizada por ele como infqua. Nesse senticlo, de fazia filosofia. Alias, Marx nao era apenas un~J2..~nsad()r. Er~..JaLUk~1) um militante polItico, que prete~,-<;,lia_c.91oc.0r.s,qas,id(ias.em pratica atra~cs de_.!!.n:!...p_artido polftico. Mas nao se conformava em propor 0 socialismo como uma opc;:ao entre tantas oun'as. Seu socialismo era "cientffico", e sua ciencia Ihe dizia que 0 socialismo estava fadado a triunfar. Para de nao havia contradiC;:50 entre tcoria e pratlCa, nem entre 0 modo como as coisas SaG e 0 modo como elevem ser. ~. Pelo contr,1['10, sc :<s()cied~llk verd:ldciL1Il1Cl1le hUIl1:l1:<"dc'e ser" um di:< um:< socicdaelc scm cxplc)r:lc;:;ioe nprcssf'lu, C porC]ue est:< possibililbdc CSt:1dad: j:l <1gl)L,I1Umodo mesmo como ~1 socieclaclc presente "C". A c()!.~~L:<liis0o.par<1Ma~x l~?iOC um::1 h!h~do r~~.sio.~[l1~()!Clgic:,l2!c,() modo peo qU:lI.~ rc:;Ii~cLids-,'ie_ expreSS::1,e 0 futuro cksejac!o est~1cOl1tido no presente oclioso. 'L' Lllll(lIo,)! C;I!IILI. l'lI cXJlliLll. P<1rachegar ao entendimento da socidacle c<lpit~1Iist<1,lvl.!Jrx jLIIgou necess5rio dcscobrir COml) ~ hist6ria hUIl1:ll1: (unciun:l, dc""di2 as primClrdios da civiliwc;:ao ate seus elias. N~1~@,..!l'..enc~ ~e iss<;J,E :<creditou de (;uo h:wcr dcscuberto este mecll1ismo. Como disse 0 ~1mig()e parccil'O il1telccni<1l Friedrich Engels (1820- 1895), num discurso proferido no enrerro e1e M:lr:-.:,~lssim como Darwin havia descoberto as leis c]a evoluc;:io das espccies. M:<rx h:<via clescoberto as leis cia histc')ri:. Ncssc scntidu. : pretensJu de M:rx se assemclh:< muito ;1 de Durkhcim: 0 flll1d;1mCl1l':1l pJra as cicncias soci:<is c que scj:<m capa:es ele enunciar leis que tenham tama valiclacle gcr:1! quanto as leis cI<1fbic:1 ou c]a bio!ogia. Bem, mas que "descobert:1" era ess,l? 0 enunci:ldu cia lei d: historia, segundo )vbrx, scri~1algu cumo 0 scguintc: "0 que move <1hist6ria e a luta entre as classes sociais". Comprcenclenclo estJ chave, 0 investigaclor (e, pril1cipzl!mcl1tc, 0 tr:<nsfonnador) social compreencleria a naturcw da s.Kied<1dc Glpit;l!ista e a direc;ao na qual ela estaria se transformz1l1do, gr<1c;as<1suas contradic;ClCs intcrnas. Como a luta entre as classes chegou em5o:< constituir- se em motor cia muelanc;:a hist6ric<1? Marx e Engd~_cs,~J:~~~.r;,l!.l!..Ql~.;).hist.Clli~J.~~II.1.l-'--'-laC a historia g,a relac;ao clos homens com ..a nature:<1 e dos homens.(::l)tr.e .si. Nesses dais tipos de relac;:ao <1parece como intermeck1rio um e!cmento essencial: 0 tr<1b:llho hum<1no.
  • 12. E atraves do trabalho ~c 0 homcm mllda ~1naturcZ'l colocal.:!d~=-a a S~U.Ji~!:,::,js;;;·~lc1;1;:;,'1ta,c~'~'I;~',:C'~~:lLl~~~CIj~~l(iI;;: vive aU'aves de sell traball~o. Na mcclicla em que (l scr hUlllano se reproduz, aU'aves das rel:locs sexuais entre homem e mulher, ~Q!:2cesso se expande~lo aumentQ. natlII~,l popula<;.J..9. Ao mesmo tempo, para melhor desencumhir-se de sua tarch de prodll~;o da vid: IlLllL'ri:d (l llllllClll lkscllvll1VCl1 inSl'rumentos de trabalho, que cada vez mais (oram (uncionando como cxtens6es e COIllO aumento cbs c1pacidades do coqX) hun.lano.-Em vez de cortar ou qu.ebrar com as proprias Ill:JOS, inventou; a ·machadinha de peck1, clepois de Illetal cort:<nte cte. Domcsticou animais' para (azer (l tr:1b:dho IlL1is pes:ldu, desenvolvcu tecnicas de cultivo (como irriga<;ao ou eseolha cle tcrrenos) para potenclalizar os resultados de seus es(on;os. Com scu genio, com a capacidadc dc raciocinar que (alta aos outros animais, 0 homcm (oi cada vez mais sendo capaz de 'lL,!ment,ar e melhorar os resultados obtidos pclo tr:lballw que realizava com 0 suor de seu rosto. Nesse processo, trabalho manual c rcflexao intelcctual jamais se separ:lram, cmhOLl _ como apontarci mais abaixo - 0 predomfnio de eel'LOSgrupos dc homens sobrc outros ao longo cia hist6ria tenh:< gerado uma diston;ao no modo yclo qu~d os homens tomam consciencia cia rclac;:50 entrc 0 mundo material e 0 mundo das ideias. 0 ser humano, assim, clescnvolveu 80 longo d~l hist6ria, cada vez mais, aquilo a que M8rx e Engels cler<1m 0 nome de "(orc;:as, proclutivas". 0 desenvolvimcnto das (orcas produtivas (oi oresponsavcl pelo incremento cb proclutivid,;cle e pdo aumcnto do clomfnlo do homcm sobrc a naturezZl, bem como pelo con(orto e pela riqueza matcrial dccorrentes, que as sociedades acumularam ao longo cia historiZl. E, note bcm . (or<;as produtivas nao;sao apenZls m8chadinh8s C ZHZlc!OS,nL1~ tambcm as tecnologias clcsenvolvidas pela capacidZlde reflexiva do homem. ~, M:lS niio :lpen:lS isso. Ao mesmo rem!',) l'm que 0 IT,1h:llho C o il1termedi~lrio cl:1rclZl<;;:iodo homcm C,lm ~1 n<llureZ<l, elc c, tambem, 0 intermediario cb relac;:50 c10s homens uns com os OlltrOS, Porque 0 trabalho que sao obrigados Zlclcsenvolver par" sobreviver clita 0 modo pelo qual CISsocieclacles humanas se cSI!"llIII!":III. 1':lr:1 :1111111'111:11':1 l'r.,.llllivi.l:lIk .,,,<,i:ll, I':<!":< 5bcnvol vcr as forS8s C!'Uclllti:::l~!~)1'!111~I1~Y1I1AlCI1:.foi.,tlD,;ani:::llld<L ~produ<;flo junto com seus scmclkllltes, distribuinclo tZlrc(as c b.c.l.1cfkios.entre as membros cb sociedadc. Foi cstc 0 ponto de paaida do proccsso ele divis?io cia trZlblho, Primeiro, :<divisiio sexu:11, entre 0 IT,'lb~dhode humens e 11H11hL'r·cs.DCl'uis, :1 divis;(} entre a ZlgriculturZl c a criZl<;Ciode :lnim~lis. E, ~Issim pur c1iZllltC, (oi se dando Zldivis:lo entre ,) clmpo C:1ci,LJdc, entrC:1 prodLJ(;ao 8grfcob e ZlindustriZll, entrc estz1e 0 comcrcio cte. Nesse senticlo, como est" org8ni::a<;;ao cb produ<;ao advcm cia cap8cicbde hllm:lna de r:lCiunZlli::ar clrcLls nu scntidu do :llImcnto d,l prodlltivicbcle social, Zldivisao do tr8blho C tambcm pZlrte do conjunto cbs for<;ZlsproelutivZls, Ambas, elivisao do trZlbalho e forS:1s proellltivZlS, ao mesmo tempo determin~lm-se to: SaG determinacbs uma peb outra. ;vbs Zldivisao social do Lr~lkJ!ho n:lo C 1I11FIsimplc:s clivisao de t:<refZls:fllbno fa: isso, beltrane> :lqUi!O. N:lo. ELl C l"<1mbcma expressao ela existcnciZl de di(c:rentes (orm~ls de propriecbde no seio de lImZlcbcb sociedadc num e!Zldotempo historico ..As reb<;0es cle propried8e1e, par SUZlvez, di:em respeito 80S tipos dc rclas;oes sociais preclominantes nllm:< sociechde a partir elos tipos de proprieclade ·igentes. Do ponto de_~~i:s.t~nd.~_l'hrx,. ebs il~~plicZlm .nlll~U.scpara<;CiobJ~i<;.8:CI~[1S.()Sin~.tr.~IIi1Cntos o~~m2i(!.s.u~i!i:~L.los pZlrZl0 trZlbalho, de um bdo, e 0 proprio tr8h:J!ho, de outro. Isso. - . ... _ .. _. - ..... --' 2ig~litka quc.nO.l'rllCCSSO de clivisao do tr:lb:llho.ncnuempre ..os hc~~ns.9..u'::J?'?.ssuem ~")s.m~~:~l:~~~,lre~di~.'l.!·._C2tr.~'.aU~~~~.0~1II-am e_llel::...~ell~pl:e()~.CJt~e_t:.'·.Zllxdh<1lnpo.sSL1CI1lesscs meios, As rebs;6cs ele propriecl:1dl.:, portZlnto, s:o ; base liaS c1csiguakLldcs soci<lis,
  • 13. na medida em que a divisao do trabalho possibilitou a cxistencia de homens que trabalham para os outros, porque 0 fazem com os meios de outr?s; e de homens que nao trabalham porquc tem· meios e podemfazer com que OlltFOS trabalhem para si. A esses modos espedficos de organiza~ao do trabalho e cia proprierbde M;1rx c Engels dCFall1 0 nOIl{' dc "rd:l'-'CS SO,i:lis de produC;;JO".f . .C::lda epoca hist6rica possui um conjunto de for~as produtivas desenv,'?~vj~l()s, sob 0 connole dos homens que nesta epoca vivem e, ao mesmo tc.mpo, um conjunto institufdo de reb~6es sociais de produ~ao: que san 0 modo pelo· qual os homcns assumem 0 controle sobre as for~as produtivas, isto C, as rclacoes de propriedade. A este conjunto total Marx e Engels ch;maram "modo de produ~ao". Assim, as grandes transforma~6es pelas quais passou J hist6ri::l da I:umal;ida.de foram as transforma~6es de um modo de produ~50 a outro. Simplificadamente, podemos dizer que nossos autores descrevem tres difercntes mod os de produ~8.o ;10 longo da hist6ria: 0 modo de proc!u<;ao escravista antigo (Grccia e Roma antigas, onde 0 trabalho era rcalizado pOI' escravos), 0 modo de produ~50 feudal (vigente no mundo medieval) e 0 modo de produ~50 capitalista. A cada um desses mod os de produ~50 correspondem diferentes estagios de desenvolvimento das for~as produtivas materiais e diferentes formas de org8niza~ao da propriedade (ou rela~6es socia is de produ~ao). No primeiro, a rela~50 social b,asica c a escravidao, que op6e escravos e senhores de escraVOSj no segundo, a rela~ao social b5sica e a de servidao, que op6e servos de glcba e senhores feudais; e no terceiro, a rela~ao social fundamental e a de assalariamento, que op6e capitalistas e operarios, isto e, burgueses e prolet<lrios. Dessas diferentes rela~6e~ de propriedade, ou melhor, da posi~ao dos homens com rela~ao as formas de propriedade vigenres num dado modo de produ~adf c que surgem as classes SOCi'lis. A transforma~ao de uma forma a outra, de um modo de produ~50 ::loutro, se da pelos conflitos ::lbertos POl' Glllsa da lut<1 entre ;1 cbsse clomin;lda e ;) chssc L!omin;lIIte em cl(h cpoca. Marx diz que as rela~6es sociais de proclu<;ao, isto C, as formas de propriedadc, quando se cstabelccem, funcion8m como um::l forma de desenvolvimento das (orC,;1Sproclutivas, mas cheg;1 um 1l1lll11CIllll CI11 lllC :IS (,'I<.;:S l'I",II'lil':I 11:11' 111:li:, l·'II:'l"I~IIL·111 sv desenvolver sob a vigcnci;) daquel;1s rela<;:6cs de propriecl<1de . Abre-se entJo um perfodu de convulsall sllcial, no qual ;IS rcla<;:6es de propriedade vigentes san contest;1c!as. A classe opril11icb, polftic;1 c/ou econOl11iCarnenlc c!omin;IL!:l, sc insup'cb contra 0 predomfnio cia cbsse dominante. t.l"lur isso que nossos autores 8finnal11 que aquilo que move ,1 historia c a luta entre as classes. Nessa cxplicac;:ao generic8 cia teori:l cla histol·ia de Marx eu 56 Ihc o;pus, atc ;1qui, 0 a~pcctn lel:1Cion;Kln com as (OrJ)l;lSde produc;:ao material e c!e org;mi=a~:io L!; cstrutur;1 social debs decorrentes. lvbs como 0 trab<1lho e a rencx8.o c1ohomel11, como ja sublinhei, sao (aces da mcsl11a 1110ecb ZlO longo cla hist6ria, <1 tcoria dc Marx se propoc tambcm a explicar de que modo 0 mundo c!as ickias, do conhecimento, das crcnC;::ls e d~1Sopini(les se relaciona com este mundo nnterial, cia proclu<;:IO:do tr::lbalho. Jvbrx e Engels se veem entao diante cia seguinte pergunt8: como explicar (1 conscicncia que os homens tcm ou cleixam cle tel' a respeito de seu pr6prio modo de vida, cia produ<;ao material de sua socieclade e cbs rebc;:6es de cbsse, sejam cbs cconomicas ou polfticas! A conscicncia esta lig8da ?is condic;:6cs materiais de vida, ;10intercambio economico entrc os homens, como j;i vimos. M<1S a consciencia que os homens tcm dessas reb~()eSI "firmam nossos autores, nao concliz com as rcbc;:(ks l11;lteri:lis reais que cle f:lto
  • 14. vivem. As ideias, as concep~6es sobre como funciona 0 mundo sao representa~6es que os homens fazem a respcito cle Silas vichs, do modo como as rela~oes ajJCLTccem n3 sua cxpericncia cotidiana. Essas representa~6cs s50, partama, aparcncia. P<ua Marx essas represcnta~6es implicam, num primciro momcnto, numafalsa conscicncia, numa comcicncia invertida, pois se prcnclcm ~ aparcncia e n:o s50 capaz('s de clptar ; cssC:nci:1 lLtS I'C!:l;C)CS as quat's os homens estao de fato submetidos. . 'Se estiver muito complicado, nao c1csanime agora. Vou lhe dar unr·ex~nlplo pratico e cbra dcssa falsa conscicncia CJueacabei de mencionar no paragrafo acima. Quando sc cstabelccc na hist6ria uma determinada forma de divisao do trabalho, qu:-mc!o cia se torna dominante e generalizada dentro de uma socieclacle, cia estabclece 0 lugar de cada um clentro do proccsso proclutivo. Assim, as rcia~6es de propriedadevigcntes, 0 pocler polftico de certos grupos sobre outros e as formas de explora~50 do trabalho que uma determinada c1asse social consegue implancar numa determinada epoca hist6rica, estabeleccm e clcterminam 0 que cad a indivfduo esta obrigado a fazel', 0 modo como esta obrigado a trabalhar e viver. No capitalismo, diz Marx, existcm os proprietarios dos meios de produ<;ao (as fabricas, as mjquinas e a pr6pria for~a de trabalho do trabalhadar). Estes sao obviamentc os burgueses. E existem aqudcs a quem naa rcsta Outra alternativa de vida a nao ser vender 0 unico bem de que clisp6em: sua for~a de trabalho, em troca do pagamento de UI11salc'irio. No entanto, na cabe~a dos homens que vivem sob este sistema, isso e percebido, no, plano das ideias, como algo normal, natural. Ao trabalhador Ihe parece natural que certas pessoas tenham que trabalhar em troca de um salario para viver, como sc isso scmpre houvesse existido e, mais ainda, como se tivcsse que continual' existindo par'a sempre. Esse indivfduo n50 ve a sociedade capitalista como uma sociedade historicamente construfda pel a luta ent~~ uma c1asse com inten~ao de scr a classe dominante (a burguesia) e outr"s ch~:ses, que aC:1baram sendll suhmetid,s ; cst;] c;sse dllmin:lIte, tr:tllsrlrlll;ndo-se em prolet:1riado. N50. A medich que 0 tempo p:1SS:1e ;1sociedade capitalista se estabiliza, cta c percebida pcbs pessoClS, na vida cotidi:1na, como ;1 uniC<l socieclade possfvcl. Assim como em olll'ros tempos, ;1 s<lcicd:lde (l'lIl:d, !)<l[' C:l'111111<l,((Ii !)(:rcl'l)id: pelos homcns C01110a Lll1ica socied;lde possivel (dur;1I1te scculos, num intervalo de tcmpo, :1]i5s, bC111m;lior do Cjue :1dur<1~ao do capitalismo). Rep:1re :1qui um:1 cli(crcn~:l (uncl<1ment;1! entre Durkhei111 e M:1rx. Durkhci111 nos mostr; () peso cb so'cicchclc sobre os indivfeluos, :1pont:1 que ; conscicncia il1Llividu;t1 C llalb pcb preponderancia ele um:1 conscicnci:l coleti,,;, Cjue us indivfcluos nao pensam com sua pr6pria cabe<;;1. Ivlarx, pOI' sua 'e:, mosua quc isso nao c assim simpksmcme porClue CIu:11qucr socieelade de homens cleve necessariamente ser exterior e coercitiva sobre os indivfduos. Ele mostr,l que 0 car5ter coercitivo, dominador, nao se manifesra igu;11mente pur parte "cia sociedade em geral" sobre todos os h0111ens inclistint:1mente, mas sim dc umZl parte da sociedadc sobre outra, ou melhar, de uma cbsse social que aSSU111e0 papel de domin:1nte sobre as outras, Cjue se tornam dominadas. E que est:1 situ:1<;:lo n50 est5 :1li clcsclc Cjue 0 mundo e mundo, mas que ela (oi criacla pcb luta hist6ricl entre as classes sociais. Marx 8firma que se :1S rcb~6cs de domina<;:ao existem em toda e qualquersociecl:1de e porque e1as s50 social mente construfclas. E, ponamo, nZlOprecisam existir p:1ra semprc, pois 0 homem pock construir outros tipos de rela~6es, sem ;1 domina<;50 de U111;1classe sobre outra. lvlas percebe, no entanto, que os homcns, no seu uni'erso coticli;l1o, c1entro clo qld estao submeticlos a este processo de clomina<;:lo. n50 tcm uma conscicnci; real eLl clomin;ao de que s:io objclO. Pensemos no processo de passagcm do modo de produ<;:ao feuclal par:1 0 modo ele proclu<;:io Glpitalista, p;1ra que n50 reste
  • 15. duvidas sobre isso. A forma de produ~ao de mercaclorias no mundo feudal er~ 0 artesanato. Como resultado de uma enorme gama de transforma~6es ocorriclas entre os scculos XVI e XIX, o artesanato s~ transformou em grande inclustri::l. Como isso se deu, do ponto de ,vista clas rela~6es de proprieclacle? No artesanato, 0 Mestre de Offcio - por exemp]o, lI!11s:lpateiro - reaHzava tad as as etapas cia produc;:ia de seu produto. 0 Mestrc Sapate(ro curtia 0 couro clos animais, cortava, tingia, construfa as f6rmas de madeira para a fabrica~ao dos sapatos, casturava-os, pregava-6s"'s6Iados, fazia 0 acabamento e, aincb, os vendia em seu estabelecimcnto. E claro que esre era um processo lento, e lIm numero reduzido de pares de sapatos era produzido. Mas 0 Mestre Sapateiro tinha 0 controle de cacla detalhe. Eie, como pessoa, sabia fazcr sapatos e era este saber (somado aos meios materiais necess5.rios para a fabrica~ao de sapatos) que determinava o lugar que este homem ocupava no mundo e suas rela~6es com sells contemporaneos. E de onde veio este saber? Ele aprendeu de um outro Mestre, muitas vezes seu pai, com 0 qual exercitou o offcio desde crian~a, na condi~ao de aprendiz. Do mesmo modo ele ensinaria, depois de Mestre formado, 0 offcio a seus aprendizes" muitas vezes seus mhos. Com 0 desenvolvimento do comcrcio, no entanto, uma nascente classe de comerciantes come~ou a ter pressa. Quanto mais sapatos vendidos, mais luero. Os comerciantes passaram entao a contratar fabricantes de sapatos e reuni-los en'. galp6es onde pudessem fiscalizar a produ~ao e cobrar a acrilidade, 0 necessaria. Ao fazerem isso, come~aram a entender 0 processo de fabrica~ao do sapato e perceberam que seria possive! agilizar a produ<;:ao se as tarefas fossem divididas entre os trabalhadores. Cada um Faria apenas uma etapa, po is seria bem mais ;,rril apenas, 0 co'rtar 0 couro, ou apenas costurar, repetidas vezes, em vez de todos realizarem todas as etapas e passarem de uma tarefa a outra. E seria bem ma~s simples, tambem, que os novos trabalhadores q'ue iam sendo contratac!os tivcssem que aprcnder lima so tareCa, em vcz ele ;lprcnelcr 0 proCCSSl)lodo, jllntou-sc ;1 esta mudanc,;a um outm chelo fllnelamental. Com II dcscnvolvimento tecno16gico daqueles scclllos, 0 XVIII e 0 XIX principalmeme, foram criadas maqllinas novas p;na aumentar a proelu~ao. A princfpio eSS:lSm{iC]lin:ls elepencli:lIn clo ISOqle () IT:lkdklc1nr LlZi:l dcLis, I:S cum SCII ;lpcr(ci<;ll;lllCIlU, ;S m;'lljllin;IS come~aram a ditm 0 ritmo cia prodll~80, sendo 0 tr:lbZllhador obrigaclo Zl operar no ritmo da m{)qllina, e nao Zl m;quin;) ZlO ritmo do trabalhador. Agora pense 0 que acontecel1, nao so com os sapZlteiros do exemplo, mas com toclos os ramos cia proclu~:io 'm;1terial, entre 0 tempo do mteS:lnZlto e 0 cb grZlncle incllistri:l. 0 que ;1Conteceu, para Marx, c que os trabZllhac!ores foram cluplamente cXjJ1'ojJriudos pelos capitalist;)s, isto c, deles foram subtrafcbs clllas COiSZlS:os meios de jJrodw;clo cb vida mZlteriat e 0 .)(lhcr clo qllZlI cIependiZl ;) fabricZlc;ao de um produLO e Zlpropria posic;iio social do artesao. EIes cram Zluto-suficientes e passaram a se torn;)r clepenelentes dos capitZl!ist;IS. Primeiro, porque n50 tinham mais os meios materiais de vida, e forZlm obrigados ;) vender sua for~Zl de trabalho em troca de um sZlI;'rio.E depois, porqlle nao saberiam mais como produzir por contZl prCJpria sc tivcsscm esses meios mZlteriais, j{) que foram obrigados Zl rcduzir SUZlcapacidade de trabalho Zltarefas simples e parciZlis. Este saber foi apropriado e controlado pelo capitalista, que 0 desenvoIveu e rZlcionaIizou. AU'aves cla maquinZlria industri:ll moelerna e de posse dcssc saber, o capitalista recluziu 0 trabalhaclor Zl exccll;;ao clas tarehs simplificadas, parciZlis e repetitivas 11Zlinha de procIu~ao cla f{)brica. Assim, ZlS fOr<;:ZlSprodutivas forZlm enormemente desenvolvidas, mas Zltravcs de um proccsso social ele cXjJrojJri(l~clo de bens materiais e de saberes. ExplicZldo assim, numZl perspectiva historica, pocle :ltc pZlrecer convinccnte, m8S Zlperccp~ao dessZlexpropriZlc;ao e 0 entendimento
  • 16. de suas consequencias para cada um fica bloqueacla pdo modo como 0 indivfduo aclquire conscicncia do munclo social em que nasce c no quai cresce e morre. Ele s6 aprencle que cleve trabalhar para receber 0 salo1rio e viver, pois esta c a pcrcep~50 . 'que tem da realiclacle na vicla coticliana. Existem as fjbricas c stus clonos. E ao trZlbalh;1clor, que nao C clcl110de c.nisa ~dglIm;l, cabe trabZllhZlr nelas e ponto-final. Por causa clo saL.lrio pago; 0 trabalh~, que cobra de cada ser humano, c compreendiclo com'o algo que nao pertence a este ser humano. Qtrab31h9, 9.l:!esemp1'~' foi 0 meio £<:l2....9~I.al0 hom~~1 relaciOI]OU-,?e CO,!11.a natureza e com Os outros homens, e 'individ,~Ja!mente percebido c-;~Tg~;~-;;--qu8IcCLtrab;-] Ih<c!oU1ao tem_cQl1.1r:9-k. o trabalhador foi separado, pclo capitalismo, clo controle aut6nomo que exercb sobre seu trabalho e tambem do (ruto deste trabalho. '0 trabalho c cntfio RercebLcl9 pelo trabalhaclor como algo fora cle si, que pertence a outras. A is_so,lvIarxcli 0 nome-de alicna-qao. Par causa do trab~ho alicl~Zl.slo_aquecstao submetidos, os l1.omen~ admlil:~lli1fLCon,s...ci¢_n~ia_falsa_clo munclo em que vivem, vcem 0 trab_a.1b9_<l)ien~~J.ge_a...d.ol!lin.zl<;50 de uma cJasse social sobre;, OlIq-~.£.Q,m.o(atp.sllaJL,Ir.;liLeOo ,paSSCll1l, portanto, a compartilhar um8 concep~fio de munclo cJentro cia lli@l~6._ t-eJ}.L~~sso_as ap~:~·cnci~~_s~,;.1~~~~~J: c,ap.·az.C'.S-.d.e comDrcenc!er 0 pr.Qcesso hist6rico real. A isso Marx do10 nomc cleidcologia. A ideologia, portanto, is aquele sistema ordenaclo de ideias, de concep~6es, de normas e de regras (com base no qual as leis juridicas sao kitas) que obriga os homens a comportarem-se segundo a vontade "clo sistema", mas - e isso e importante - como sc cscivcsscm sc co1lljJOrwnclo scgl!lldo SlW jn6j;ria voncadc. Esta coer~ao "do sistema" sobre os indivfduos, revela Marx, na verclade e a coer~ao da classe dominante sobre as classes clominadas. POl' isso Marx afirma que a ideologia dominante numa dada cpoca hist6rica c a icleologia da classe dominante nes~a cpoca. ExpIQ_Gl0lQ...C:S:..Q.[10mi~ae opressao l!olfticu.ln hO!l1Cm pC(l.. h.Q111.CJIL~~Ju.p..Le_IlQlly_<;_e_11.Lt.Qd.;).s-.iLs_s.o..ci.l:,;I<1~k4.ill...s:I1LCJ1Q C;1pi ~a1ismo h ;l,~,cLi£e rc..!l.~!.l:JI11..Jl)(I,;),s_;l::i__.<,.UltI:<1s.J()m1as .cLc d_QQliD.fi.<;..;;lgJ.lLsJ.Oric_aanJ~l:io.L<;.~J.Q. ciQll!.i.!)~1ct.0salJ50.,9.~e_~G'1 ®!l1jpadCL~ ,~0.biaSWS.DL~:£l.S.~L!_d9.l:Qll1..,!ds~I:.0 CSWlvn sabia g,L~ sell sel1hor 0 mantinha em cativeiro~_()brig.w~ trahalhar -'j;;lra XiI (;~;'~:l,-~'~~r;'(;~;;I~i;l <Jl~-~~_l,~t.)!:(_)d<.'J.l:::..l(~lllJbY_:.(.!:!.::II1C:1V:l a maior parte do que plant;lIa e Clllhi:l. No clpitaJ.02.:~~) contI'ario,o trabalhaclor acha que c justo qLJ~"c1,~scja_~.pa,r;:~lc: d;--~~w~f;~,t~:~;E;ll~o ~~~'cdiZl;1t~ '~. l~agZll11C11to...':~~~~~.0.~o, o m::1ximo dc il1jLJsti~aC~~~t~0'1.~j~~{~~r:lhZllT1~~ll;;~~~'l:r-.!.11:,llnleI1t.c se ~~-i~~·~i.~;:~;;it~~'.!.0.L::iZ!..L6x.i0J);1i.::OS_i.:-i!s:C:(1J.1d i.~l)CS,I'll!I1S de tra ba Iho (jornZlclas IOl:g,0.~.._~~111ai:',J!.I~aJ ~Ib~i.d:,~~_~,t:.c.). MZlr~IZ2.;-;·Z;~<--~I~'·~ ~a'l::1rion:lo r.cmul1cr0.t<~dQ_LU!·i:.b;!.lho l-:-;;li;J~, l11ZlSapenas uma partc dele, f outr:1 P;1rtc c ;;;;;~)riada~} capitZllista e sc transforma el11Iucru. EI11rcsumo, a teoria de lvlarx c Engels afil'l11:1que <jll:'dqucr s:ll:1riu ~ injusro porque a reh~ao de assalarial11el1lo C il1jllst~1 ern si. E il1just~1 porquc sepZlra 0 trZlkdkc!or do reslIll;1(/o de ~ell li'~lb~l!ho, e isso 0 ~1!icn;1c 0 deSG1I":1cterizZlCllmo ~er hUll1al1u. [ 111:1is;lind:l: cssa injusti~Zl n50 pock scr percebill:l pclo traktlh~ldor (corn base el11 sua propria cxpericncia l1a vjd~1 cotidi:1I1:1) por GllIS; cia ideologia, que C ul11a conccp<;:lo de I1llll1do .~cr:1da pcb C!ZlSSCdominantc c Zlssumilb pcb chssc d0l11in~1d~1C0l110 se fosse suZl. A-.illJ:u:.eJl"Ltiron iaJkLGWi.t:l U::;.Il1.U_~_(Jll1'-Q_d.QIn,in~d.o pen sZl co l11,il.C::~~bcc;a.._l~lg_~L0.111in alIl,?r, _~.C~";1.~ 0_J:~lL~11a d c elOI11il~.0(U.D~i.s.. ..,~i.s..~..ra[. HO._Glpira.li.suill ...Os__tr<1b.~1hadc)rcs cl;";~1;e111COI110 inj.D..lig9l~()_!.!f.9!tZlve 1!11C!1JC_iu.sJalad.cUDLS_UJ pr6pri~,t.:t,,-~_n~c.., welos os dias SCI11saber. E.l[UilSC ..~()111().~c:.. ~I~sse ern SCtl ccrchro urn ciIiL!.l!.';:t:.~::~D..Ld_ccU.Jl.1p~!tad0f, elesses de filrnc ele ficc50 cientf(icZl,.quc 0 obrig0sse alcv.an~ar no OLltro elia ~'h~:L1;'-;i~I~~ ~b .!l1_~SJ1.1~1_JQ.IJ)!!}QtIC,11Q....QiZl anterior.
  • 17. ·::';"~r'~f~t.·. ",J Mas Marx e Engels nao faziam fic<.;:aocientffica. Eles, ao mesmo tempo, tinham fe na ciencia e alimentavam uma utopia. POI' abra da cicncia, acreclitaram haver clescoberro ~1Sleis cla hist6ria. Essas leis lhes diziam que chegaria um momenta em ~ue a desenvolvimento clas for~as produtivas proporcion;1Clo peln capitalismo inevitavelmente entraria em contr<ldic;ao com <lS (orn1<1Sclpit,llistas de propried<lde e quc, qU:lI1c1llCSSCllllllllClllll chegasse, se abriria uma epoca de revoluc;ao soci<ll e polftica. E af entra sua utopia: acreelitavam que esta revolu<;ao - a qual se ,.~e~liria uma fase de cransi<.;:aoem que os resqufcios da sociedade capitaJista seriam clestrufdos (a fase do socialismo) _ daria origem' a uma nova sociedade, sem exploraelores nem e~plorados, sem aliena<.;:aoe sem icleologia, sem classes sociais e sem Estado (pOl'que 0 Esrado para des c uma manifestac;ao e1as relac;6es de classe, e deixaria de e"istir quanelo as classes nao existissem mais). Nessa nova sociedacle, a sociedade comunista, sem dCtvicla a ~nais bela utopia do scculo XIX, 0 homcm se recncontrarla consigo mesmo, seria um ser autonomo, autocentrado e autoconsciente, trabalhador manual e intelectual aO mesmo tempo. Daria a sociedade, pOI'sua propria vontade, rado 0 esforc;o e trabalho que pudesse, e receberia deIa tudo 0 que prccisasse, grac;as ao desenvolvimento matcri81 propiciado pelo capit<tlismo. Os homcns e as mulheres seriam, cnfim, seres hum;:mos inteiros, complctos. E, e claro, seriam fdizes para sempre. Bem, e de se esperar que a cssa altura vocc jn esteja de novo minhocando sobre 0 que toda essa conversa de explorac;ao, dominaC;ao, alienaC;ao, ideo!ogia e comunismo tem a vcr com educac;ao. Pois yOU the dizer 0 que eu acho e1isso. Acho que Marx e Engels viam a educac;ao com os mcsmos olhos com que viam 0 capitalismo. POI' um !ado, fazenclo uma analise empfrica (ainda C1j.lepOLKO aprofllnelada) cia situac;ao educacional dos filhos e10s oper5rios do nascente sistema fabril, identi(icaram na edllcac;50 uma clas mais import::lntes formas de perpetuac;ao cia explor,1c;:io de uma cbsse suhrc llutr,1, utili::1Cla pelo capitalista para disseminar a ideologia dominante, para inclllc~1r no trabalhador 0 modo hllrgucs de vcr 0 l11ul1llo. Pllr outro lado, pens:lndo :l eeluc:lc,ao como parte cle SU;1UCOpi;1 revlllucilln;'tria, idcllli(ic;lralll Ill.:l:l 1l11l;1:tflll;1 v;tli".,;t ;1 "cr empreg;1da em favor da emancipaC;ao clo ser humano, de sua liberwc;:o cia explura<;ao c do jugo do C<lpit:d. Oll scj,l, para Marx e Engels nao existe "educac;ao" em ger:11. Confonnc 0 contdLdo de clQS5C ao qual C5tivcr eX/lo5w, cia /loclc ser W)W cclucw;ao /laJ'(l a alicnaqao ou W11a CclllCOqcio /lC1W ([ c1l1cl1lci/JCl';;c/o. Em seu livro mais conhecido. 0 Ca/liCdI (de 1867), lvlarx fa: um:1 ancllise clas condic;6es cle viela elm trabalh;1dores inglcses na cpoca clas rapiclas transformac;6es econ(mlic;1S c polfticas provocadas pcb Revoluc,iio Industrial, justamcnte :1 fase de afirmacao dei capitalismo industrial moderno. Ao comentar a legisla;ao trabalhista e1aepoca, ele nota que a lei inglesa ;1nterior a 1844 permitia ;1 contratac;ao de cri:,nc.:1s para trab~l1h;1r nas fclbricas, com a concliC;:lo de que os p;1trCles :tpresenrassem um atestado de que os 111eninos (reqi.'1cntav;1111a escola. Olhando mais de perro, parc111, Marx concluill que 0 tipo ele ecluc<1C;ao dado as crianc;as opcr6rias era tao preGlrio, que s6 pocleria scrvir para perpetual' <1Srelac.Cles de oprcssao ZlSqU:lis CSS:1Scri:lnC;;1s e seus pais oper6rios cstavam sujeitos. 0 descaso er:l t,1I1[Oque qualqucr um que tivesse uma casa 12 alcgassc ser zdi um:1 escab poderia fornecer os "atestados de freql',cncia as aulas" de que as fabricas precis:1vam p:lra livrar-sc cia fisC<lli:ac.ao. Segundo relato ele um inspetor do trabalho cia epnca, cit:1ClopOI' l·'l<uxem sell livro, numa dessas "escolas" que visitou a $,11:1de aLIb rinh:J 15 p~s de comprimenLO pm 10 p~s ele hrgur:J e conrinha 75 cri,1n<;:1sque grunhi:1m,1lgoinii1rcligkcl. (...) Abn elissa, o mobili<riocscobr ~pobrc. h,) (alta de livrllsc de materi:J1de cnsino e
  • 18. utHa atmosfera viciada e fctieb exerce efcitOdeprimcntc sobl'c as infclizes crian<;as, Estive em tHuitas dessas escolas e nclas vi filas intcir<ls de c'rian<;as que n~o faziam abso!utamcntc InL!;,c a istD sc lLi () ;llcsWL!D de frequcnci<l escobr; e esses mcninQS figuram na catcgmia de instruidos de nossas estatisticas ofici<lis (0 CalJiwl, cap. XIII, itcm 9). ' A legisla~ao inglesa de 1344 mudou as regras. A partir de entiio s6 poderiam ser contr;lradas para ;$ Ljhrics' cri;1I1S;;s ljllC ja tive5,liem pelo menos a instru~ao primaria, e que j~1 tivessem aprendido as primeiras lell'as e nlImeros. Marx consickrava isso utn avan~9 importante, pois acreditava que todas as crian~as deveria;'~l 'c~mbinar, em sua forma~ao como pessoa, a educa~;lo formal escol'ar "e a trabalho manual nas Llbricas. Nao nos esque~amos de que Marx era um entusiasta dos aVC1n~os do capitalismo. Ele lembrou em v<'irios de seus tcxtos que 0 capitalismo havia mclhorado a ,nivcl material de vida cla sociedade humana, em menos de cem ,mos, muit"s Ve2es m~lis do que a sistema anterior havi" feito em m~li$ de mil. / critic de Marx ao capitalismo dirigia-se contra a apropria~ao privacla do lucro, eo nao contra a existcncia da civiliza~ao industrial. Pelo contrario, sua utopia coinunista seria impossive! sem a desenvolvimento propiciado pclo capitalismo. Seu ideal era a de que, no comunismo, todos diviclissem 0 trabalho manual nas fabricas com 0 trabalho intelectual e com 0 lazer. Assim, toclos seriam homens completos. Nesse sentido, Marx festcjou a legisla~ao inglesa'de 1844, po is ela permitia combinar, na forma~ao da crian~a, a ecluca~ao escobr e 0 trabalho na fabrica. Marx afirma, inclusiye, que a escola em tempo integl'<1! e pouco produtiva, porque, nao sendo combinada com a trabatho manual, toma a dia da crian~a enfadonho, 0 trabalho do professor mais duro e 0 rendimento escolar menor. "As crian~as com escola de meio perfodo e trabalho no outro perfodo aprendem t,mto ou mais que as crian~as que ficam na escola 0 dia todo", escreveu Marx. Para ele, uma vez' conjugados 0 trab"lho e a cscola, ~. uma atividade funcionaria como descanso p;:;'a a outra. Mas 0 fundament,, c qtlC, illr;Wl'S dCSS:l cunjlIgac;:-!u, sni: p)ssivel 11; visao cle Marx romj)Cl', 11ClformCl~ao dClS fl£(11rOS gCf(l~OCS, com Cl sel)am~ao entrc LTClbCllho ma1Hw! c inLc/ectHal, e tambem com a parciaka~ao das tarefas impostas peb divisao do trabzdh,o na LllJrica mClc!erna. E romper com C:SSilSejl;r;c::-()I'· 11m:)decllITl'nc;) fUIlLbment~d dilS ;1I1:'t1iscsde M:lrx e LIlgel~, Ilurqlle C deb qlle brotam a alienac;ao e a icleoogiil, Talvcz 0 Clue vou dizer <1gora pClSsa chocn illguns de nlls, CJue vivemos a beil" do scculo XXI, milS sq~t111du i Cllncep~il~l de Marx, que era Ulll homelll do scculo XIX, 0 tr;tb<1lho 111f,1I1u c desej;lvel, dcsde que 0 Est<1do garantil <10Stilhos dos operilrios uma escob de meio perioclo que nao seja UI1l mero deposito ele crian~as e clesde que <1superexplor<1C;;o clo trabalho infillltil sej" controLlcb pela Icgisbc:;'io. E c desejiivel simplcsmente porC]t1e M"rx n:lo "crec!itava que Ulll hOlllcm novo, r()m UIll novo cn:lter, puelcsse ser forjado apenas COIll uma edUGlt;':O escuLlr, (orm~l. Para ele, as maGS sujas de graxa e 0 suor do rosLO se!'lam ta~ ec!ucativos, do ponto de vista Illoral, quanLO os livms, os cadcrnos e os lapis, Se c atravcs do trab::dho que 0 humelll PIOdlIZ para viver, colocando a n"turcZCl " scu scrvic;o c iW mc:.smo tempo relacionando-se COIll seu sClllclhante, 0 trabillho lllilI1ual cle'e ser exercitac.lo por toc!os, e os resulwdos dos esforc:os colctivos c1eveni ser compartilhados conformc as nccessiclaclcs de cada um. Para que nao reste dllvida sobre. este pontO, vejamos 0 que c1izMarx num texto intitulado 11lS!rl{(;C10 Cl()' ddcgac!()s do COrlSdho Geml c!a lmcnwcio)lal ConllOlisw (de 1866), Oiz ele: COllsideramos que c progrcssist;l, s:i c legitim:l : tcndC:nci; eLlindllstria moderna de illcorporar as crian<;<1sc os jO'cns p:lr:l que coopercm no gr;l11dcrrab:llho eLlproclu<;:ioSOCiil1,cmbor:l S( ,h () rcgil1~cc;q'it; Ii iSt;1eLl tenh:t sido dcfonnaela ate chegar <1uma abomin;l~~l), Em todo rcgIme soci<11razoavel, qualquer crianc;-;'1de 9 :lnos de iclade dcn: ser UIl1 trab::llhac!or produtivo, do mesmo mnc!o que redo aclulto :I!'l) p:tra 0
  • 19. ·,}~~~:~ ;;..:",y*{k; ..'.._ _'."__'_. r':. ~,t .~'... trabalho deve obedecer a lei geral da natureza, a saber: trabalh;:lr para poder comer, e trabalhar nao s6 com a cabe<;a,mas com ~smaos. No sentido deregrar a superexplorac;50 da f5brica capitalista, Marx prop6~ que as militantes de set! partido, 0 Partido Comunista, lutem para que a lei cstabclec;a um ucltame;1to clifcrcnci;:lclo conforme a falx;1 et:iri:1, prevendll jurn:1lhs tic traball)O com durac;ao diferenci,lCb p;1r;1cri;1n<:;;1se jovcns: de 9 a 12 anos, des deveriam trabalhar 2 horas pOl' dia; de 13 a 15 anos, 4}'..0.~as; e as de 16 e 17 ,mos, 6 horas. Sem um8 lcgislac;ao c1esse tipo, c1iz0arx, nao haveria (reios para a g::ll1JnCi,1burguesa e as pais op~rarios, premidos pcb 'pobreza, seriam obrigados a trans(onnar-se em agenciaclores cla escravid50 (abril dos pr6prios filhos, comprometendo set! futuro. E conclui: "n50 se deve pennitir em nenhum caso aos pais e patroes 0 emprego do trabalho das crianc;as e jovens se este emprego nao estiver conj~gado. C01:1 a educac;ao". E que educac;ao c essa? Dc que contclldos cleve ocupar-se! Bem, Marx da poucas inclicac;6cs sobre isso, mas 0 que se pode concluir de seus apontamentos e que a preocupac;ao cla educac;ao deveria ser, (undament8lmente, 8 de romper com a alienac;ao do tr8b8lho, provocada pcb divisao do tr8balho n<l Librica capitalista. Pois este seria, em sua visao, 0 ponto' de partida para romper com a passividade do trabalhador (rente a idcolooia dab classe dominante. Para tanto, 0 caminho que Marx vislun~brava contava com a contribuic;ao do processo educacional, e seria por assim dizer inv~rso ao caminho da expropriac;ao dos saberes produtivos das classes trabalhacloras, da qual serviu-se 0 capitalista industrial para constituir sua fabrica. N50 ~e tratava de ensinar ao filho do operario que ele era uma vftima da explorac;ao burguesa, l11'as sim ensina-Io a operar as f;ibricas burguesas. Nao atraves ~e uma opcrac;ao circunscrita ilS tare(as parciais, como ocorria, mas de um processo educacional que lhe devolvesse, tanto qu~nto possfvel, a percepc;ao do conjunto do processo produtivo moderno. Isso, para Marx, era objetivamente possfvel, pOl'que ele acreditava CJue;1 mesm;1 divis::o do tr:lkllho eo me sma avanc;o tecno16gico que trans(ormavam a tr;1balhador num trabalhador parcial silll/!lifi((l'V(lll1 :lS tard:ls produtivas c, portanto, tornZlvam essas tare(8s ;1cessfveis a qualquer um. Esse novo s:lher seri;1 0 fllm!:lmcnto de SlI:l nll~rllr:l com :l :dicn;1C::1o do tr;:lb;:llho e, portanlU, uma d:s ch:lvcs lie Sll: Clll:llKip:I<:;;IU como ser humano. Em outr:1S palavras, nenhum contclldo educacional doutrinario muclaria a vis:io de mundo L!os filhos c!os opcr:lrios se :l ecluc;1~;l() n:l0 lhes dcssc meios p:lr:1 super:lr sua conc!ic;ao de trab;1lhador parci;ll, Clp:l: de executar uma unica carda simpliFicada, clitada pcbs exigend:ls clo capital. E pOl' isso que Marx di: que os contellL!os Cduc;1cionais dc"em contemplar trcs dimensi:'es: uma educa<;::io mcncll, uma cducac;ao ffsica e uma educac;ao tecnologica. Elc n50 explicita, no texto citado acima, 0 que scria essa educac;ao mental, mas pocle-se dcduzir do contcxto que seria uma eclucaczlo elementar para 0 trabalho intclcctual. A cducaC;ao ({sica seria a cllucac;ao do corpo tal como ofcrecicla nos ginjsios esportivos e no treinamento militar. E, finalmentc, a educacao tecnolorrica scria o '"' a inicia<;:ao das crianc;as e jovens no manejo clos instrumcntos e das maquinas dos difercntes ramos cla indllstria, cHcfa que cleve ria oconer em concomitfmcia com 0 trabzdho cbs "crianc;as" na (abrica, dos 9 aos 17 anos. Com tal (ormac;50, pensava, os filhos de operarios poderiam estar em nfvel muito superior 80 clos burgueses e aristocraws, uma vez que estes li!timos tambcm jamais seriam homens complctos, a me!1OS que rompcssem com a separac;ao entre trabalho intelcctual e I11:1nual. Em sua vis50, pOl·tanto, e preciso substituir 0 indivfcluo parcial, "mero (ragmento humano que repete sempre uma operac;fto parcial, pclo inclivfduo integralmente dcsenvolvido, para 0 qual as diferentcs (unc;6es sociais n50 passariam de (onnas diferentes e sucessivas de sua ativicbdc" (1n511"1((;;OCS ... , 0/;. ciL). Del1t!·o de
  • 20. tal concep~ao, as escolas politecnicas e as escolas agronomicas eram consideradas aliadas importantes do processo de transforma~ao, assim como as escolas profissionais da cpoca, que davam algum ensino tecnol6gico aos filhos de oper6rios, e nas quais eram iiliciados no manejo pr6tico de diferentes 'instrumentos de prodll<;:ao. , A leflisla~ao de 1844 havia arrancado do capit;:d, na Visao de Marx, uma primeir<1, mas muito insuficiente, concessao, na medida em sue obrigava 0 c<1pitalista a permitir que se conjugas'scil1 0 trabalho e 0 ensino para os filhos de oper;jrios. No entanto, derj.ois da inevit,jvel conquista do podcr politico pelos operarios comunistas, 0 que Marx antevia era a acloc;:aodo "ensino tecnol6gico, te6rico e pr6tico nas escolas dos traba!hadores". Note Gem: "nas escolas dos trabalhadores", pois no comunismo nao haveria mais burgueses. Todos, indistincamente, seriam trabalhadores. 0 ensino, entao, seria publico e igual para todos,-mas tsso 'f<1zia parte da utopia de Marx, de seu projeto para 0 futuro. Ele nao era, ao contrario do que se possa pensar, um entusiasta do ensino oferecido pelo Estado capitalist:1. Sim, porque 0 Estado capitalista, como 0 nome ja diz, era em sua coilCepc;:ao uma forma politica de perpetual' a exp!oraC;:;lO economica de uma c1asse sobre outra. POI' esta r<1zao rechac;:ava propostas genericas de adoc;:ao de um ensino publico e gratuito "para todos" e oferecido pelo Estado, Para dc, nao fazia sentido: . se 0 Estado e llm Estado de classe e se a classe dominante precisa disseminar ao maximo sua icleologia para manter sua dominac;:50, a ele parecia 6bvio que um ensino ofere cicio pOI' este Estado burgues s6 pocleria ensinar os (ilhos dos oper6rios <1 moldarem-se a dominac;:ao. Debatendo com seus aclvcrs6rios internos do Partido Comur)ista, ele deixou essa visao bem clara. Num texto ch<1mado Critica do Prograrna de Gotha, de 1875, escreveu: "lsso de uma edLicac;:ao popular a cargo do 'Est,lc1o' e absolutamente inadmissfvfI. (...) E preciso livrar a escola de toda innucncia pOI' parte do goverlll) e ch Igrej;1. (... ) t <10 contrario, 0 Estado que ncccssiLl receber do pon> um:1 educaC;:<lo muito severa", A titulo de ilustr:1c;:ao, porem, e preciso ZlssinZl!ar que M;1rx e Engels, quando escrever,lm separacbmente sobreo assunto, deixZlr:1m indicacoes contrZlc!itt'iriZls. Num [ext·u cktm,ldu Prillcij!i(). c/() Ui1IlI;lli.lI!(),de I(i'17, LJlI:l~e II illl: :I1l()~ :lIlies ll: passagem de Marx que acabei de citar, Engels havia escrito que umZl clas reivinclicac;:ClCs cia cl:tsse opcdria ;linchdllr:1nte 0 capitZllismo deveria ser a "educZlC;:;1~ele codas as cri,1I1;as em . estabelccimentos estatais e ;1 clrgo do [stado, ;1 p;lrtir do momento em que possal11 prescinc!ir do cuicbdu 'c!,l m<1e". 13em, mas esses sao detalhes, que servem apenas par,llembr:1r-nus como era complexo, mesmo par:1 esses soci()!ogm- (ikiso!()s-ccono!11ist:1s- milit::mtes, 0 trabalho ele articular propostas ec!uclCion:1is pr{)ticZls que tivcssem um carMer liben{)rio. Resta saber ent,10, para encelT:1rmus este ponto, () Cjuc scri,l da eelucac;:ao pLlblica c1epois que 0 Estado rec:ebcsse dos opel'{)rios arn1:1dos, no momento cIa rcvulu~;1U comllnisLl, SU:I deIT~ldeir;l lic;:ao. Comu seria Zl educaC;::lo no comuni~mo? C0!110 M,nx e Engels viam, nesta nova sociccbele que dct'encli:lm, lIm proccsso educacional que contribufsse cfetivZlmclHe pZlr:1 emancipar 0 ser humano? Acho que aqui h;j duas questoes import;1I1tes, ambas relacionadas ao perfil do "novo homem" que 0 comunismo cleveria gerZlr. A primeira c que, alem ele mudar :1 forma ele cxpIOr;l;:iO econ6mica, eles acredit:1V,lm ser precisCl muchr ;1 forma de organizac;:ao social, p:1ra que um;l nOV,l CclUC<1<;:<10puc!cssc se desenvolver. Nesse aspecto c central a critica de M,lrx c Engels a familia. No celebre Manifesto co1Jlllnisw, ele 1848, lembram que a famfliZl burguesa se apoi<1 no capital c no lucro priv:1clo e que sua existenci:1 Zlparentemente virtl!OS;l sustent;l-se na
  • 21. supressao da familia proletaria, mergulhada na clesagregac;ao causacla pela miseria, pdo vicio e pela prostitui~fio. A f;1mflia C o lugar por excclencia cia clifusao e do enraizamento clos valores capitalistas e burgueses, e 0 espac;o social onde as crianc;as ° aiJrendem clesde a terl'ra idack a pensar com a cabec:;a cia classe d~minante, achavam. E 0 lugar oncle ocone a explorac:;ao c10s filhos pclos pais, reproduzil1du : CXpIOL1<;:iUdus 0PL'L'IIOi()spclos patr6es .••.Razao pcb qual a familia, nos moldes que conhecemos, deveria ser radicalmente suprimicIa, na proposta politicl dc M;1rx e Engel~:oA,EQrma de inverter 0 conteCido de cbsse da cducac;ao burguesa, portan~o, seria Sllbstiwir ll1J1{l CdllC{l~aO domestiC([ 1)or Ll17W cducQI;ao de c~rater socicr!, {a qual os valores da nov::l sociedadc solid aria pudessem clesenvolvcr-se scm a influcncia'deldcria cla estreiteza do espac;o privado represent::ldo peb (amfli::l. A segunda questao importante c que, com 0 comunismo, conforme j~ vimos, terminariam ::ldivisao da sociedade em classcs ea (o!ma cflpita[ista de clivisao do trab::llho. Na visao d"Cnossos aotores nao bastava ao comunismo, portanto, aproveitar-se do progresso material proporcionaclo pelo desenvolvimento do capitalismo. Seria preciso educar 0 "novo homcm" comunista de tal modo que ele puclesse de fato superar a divisao do trabalho que 0 alicnava sob 0 capitalismo. Nao seria suficiente a revoluc;ao polftica, e 0 controlc do poder do Estado pe[os operarios decorrente dela, para socializar os meios dc produ<;ao, pcnsavam Mflrx e Engels. Seria necessario que, ao socializar os meios de produc;ao, a nova forma de organizac;ao industrial encontrasse um homem preparado para dcsempenhar um trabalho que nao Fosse alienado, parcial, restritivo de suas potencialidades. Seria preciso, pois, uma mudanc;a de atitude frente a produ<:;i'io, para viabilizar 0 controle coletivo de scus beneffcios. No jc1 citado PrinC£pios do comunismo, E~gels explicita de modo bastante claro o que esperavam afinal d~ nova educac;ao. Oiz cle: A eclUGH;aOdara aos jovens a possibilic!ackde as'il11ihrrapidal11cnlena pr:tica todoo sistema de pnxlu<;:-()e Ihl:spnl11iliLl!),bs:lrsllcl'ssiV;1l11Cl1ll: de um mmo de prcxlu<;;'oa outro, segundo asneccssicbdcs d:lsociccbde ou suas proprias inclina<;flcs,Pm cOl1segllinte,a cc!lIcac;:io110Slibcrtar{, ckste carateI' unilateral que a divis:io :llu;11do trah:dho iml'llC:1 cada imlivfduo, Assim, a socieclademgani:ad:l sohrl:h1SCSc(,mlll1ist;1Sc!;lraa St.:1S 11lt.:lllhr,, a 1,,,ihili..1:lk lie- l'lllJrq~;1 lO1I Il'..1"o' I" ;"'I("lOI'o' 1:1 bculdades descnvol 'idas univcrsalml:l1ll:. Basta olharmos, nus di;s qUl: currl:I11, p;r; u perfil du "trabalhacfor polivZllcntc" exigido pcbs indClstri;lScontel11por:'lI1eZlS _ em func;ao cia reestruturac;ao produtiva que ocon'c na esteira da chZlmada lcrccira Rcvouc;i'io InduslriaI- para comprcenclcrmos que Zll1111dZlnc;aseria bcm mais cOl11plicada do quc faz crer este espcr,mc;oso paragrafo escrito em 1847. foi 0 prClprio capital (e nao nenhul11a revoluc;ao comunistZl) que rcvolucionou a clivisao do trabalho na linha clc produ<;ao. Haje, 0 descnvolvimento tecno6gico, com 0 advento cia rob6tica c da inforl11:tica, permite ao capitalista realizar a mesma proc!uc;ao que antes 0 obrigava a cmpregar milhares de opedrios, agora com Zlpcnas :l!gul11as dczenas de trabalhadorcs superqu<1lificados c, portZlnto, cducados. Educados, mas nem pOl' isso cmancipaclos. Vivemos hofe os dias cla "sociedadc dZl informac;ao", dZl "sociecbcle do conhecimento", mas 0 fosso social que scp;1ra as classcs continua a aumentar. Talvez por isso mesmo os instrumentos cIa rcflex;o sociol6gica sobre a educac;ao scjam cada vez mais importantes.
  • 22. CAPiTULO IV -[ISociedade, educa<;:5.o e desencantamento As SUUULl.)(:INi IlL UUJU;IILl~1 I: Ivl:I.', j,'1 Vill()S, p,lrlil',II cLI idei, de que s6 c possive] compreenckr <IS rela<;:oes entre os homcns se comprccnclcrmos <I sociccbdc que os obrig;1, em niveis e em meelicbs elivcrs;ts, <l :1.~irele ;1cordo com 1~)r<;:;1sestr;1nh:!S ;1 SU:1S vuntades individuais, e impositiv;1S COI11rel;1(/lO :1 ebs. P,l1'<10 primciro, a educ<l<;.:ioC 0 mecanismo pelo qual 0 indivicluo tOrl1a-se membro da sociecbde. se "socialiw"; p;1r;10 segundo, eb C lIm mec<lnismo que, con(orme sell C(1l1lclldll de CLISSC,puck ser utili:aclo par:1 oprimir ou 1~:lr;lCI11:1I1ciI1,r(1 hUI11eI11. M:1S h:'i outl"O ponto de p'lI·tid'l posslvel. i socil1logia do alem.:io 111:1::Weber 0864-1920) tcm COI11(lpremiss:! <lidci;1 ele que:! sociedJck n:10 C apcnas um:1 "COiS:1"exterior c cllcrcitiv;1 que determina 0 comportamentlJ dos indivilillos, m:b sim 0 resulLado de ul11a cnorme e inesgot,lvcl nllvcm de intera<;Cles interindi:::iduais. A sociccbde p:ra 'Veher nao C ;Iqllilo que }Jcsa sabrc os individuos, mas ,1quilo que sc WiCll/d Clllrc eles. As conseqi.icncias dessa vis:io p:l1';1a sociologi: d" educlc;:io, c cbro, scrao bast:mtc signi(icaliv'ls. M<ls antes de continu<lr, dcixe-me dar-Ihe um ,wiso. Os r<lciocfnios quc 'cber descnvolvc n:'io sau muitu simples a primeira vista. E poclcm parecer um pouco intrinc:lclos. E Cju::1I1do voce fur ciaI' um<l olhacb num texto escrito pclo prc)prio Veber, vera que dc n50 e muito "t1uemc", digamos assim. No cntanto, embor<l os tcxtos pare<;am um pOLICOlTlIncaclos, ;1Sic!ci;1S'<llem muito a pena. 'Veber C 1I111autor de uma enl1r111eorigin;11icbde e sua tcoria socio16gica, que c muito poueo clisclltida n~ ,'irC:t cb educ<1<;50. tem contriblli<;Cles impmt,1I1llssim:s ;1 ll:lL
  • 23. Entao, vamos'la. Respirc fundo, rcgulc 0 scu grau de aten<.;:ao e prepare-se para entrar num mundo bem diferente do de Durkheilll e Marx. 0 que vou tentar fazer a seguir c introduzi- 10 aos rudimencos mais elementares da sociologia de Weber e, em seguida, discutir um pouco sua teoria da hist6ria, que tem pontos de contato. e distanciamento com a de MJrx, para finalmente levantar algumas implica<;6cs que cstc' modclo tem para a ,educa<.;:ao. Weber ..~_q,p.ensamento sociol6gico o ponto ,de. partida de toda sociologiZl weberianZl reside no conceito de "a<.;:aosocial" e no postulado de que a sociologia c uma ciencia "compreensiva". Tanto 0 mundo naturalquanto a realidacle cia vicla SOCiZlI SaG concebidos' por Weber como (1m conjunto inesgot,'ivel de acontecimentos. Ao contra:io cle Durkheim, ele postula que, difercntemente das ciencias naturais, para as quais os acontecilllentos SaG relativamente independentes clo cientista que os analisa, nas cicncias sociais - entendiclas por ele como aquelas que dizelll respeito a vida cultural - os acontecimentos clependem fundamentalmente cla postura e cia pr6pria ac;:50 do investigador. A realidade n50 e uma coisa em si. Ela garfha Ulll determinado wsto conforme 0 olhar que voce lan<.;:asobre cia. As a<.;:6essociais praticadas pdo cientista social em seu trabalho de investiga<.;:ao, que SaG de mesma natureza das a<.;:6espraticadas por qualquer homem ou grupo de homens por cle investigado, sao, portanto, fundamentais. Ja de safda recusa tratar as "btos" socia is como se fossem "coisas". Para ele, isso simplesmente n50 C possfvel, porque as "coisas" que eu vejo pode~l ser diferentes das "coisas" que voce ve, embora vivamos na mesma socieclade na lllesma epoca . hist6rica. Alias, pode ser que as "coisas" que eu vejo nem sejam "coisas" pra voce. E par q~~? Porque os homens veem 0 mundo que os cerca a panir de seus vu[())"cs. Os v;l!ores S:1O compartilhados, c claro, mas s50 inculcaclo~, introjetados (sZio 5I(ojeci'vados) de moclos distintos, con(ormc 0 processo cle intera<.;:8.o em que 0 inclivfduo csta inscrido. Um mcsmo meio cultural poclc assumir significaclos clifcrentes para os difcrentes inclivfduos nelc imersos e, no momento da ac;:;'io, ocasionar diferen<.;:as cle comporwmcntu con(ormc 0 mudu de ;lssimibc;Zio cIessa cultura, e sobretudo c011formc os elifcrentcs tijJOS ele racio11aliclaele emjJrcgaelo5 jJclos inc!i11[elllOS. A realidacle c concebicb por X!eber, ent:'io, como () encontro entre os homens e os vu[orcs aos quais cles se vincllhm c os quais articulam cle mocIos clistintos no plano subjctivo. As cicncias socia is (que elc preferc chamaI' de ci0ncias cla cultura) s50 vistas como a possibilidadc cle capta<.;:Jo cla intera~Jo entre homens c valores no seio c1:1vida cultural, isto c, ;1 capL1~,IO cla a<.;:50 social. Como a realiclade c infinita, apcnas um fragmento dc cad a vez poclc ser objeto de conhecimento. o "wclo" (a sociedade) que supostamcnte pcsaria sobre as partes (os individuos), para Vebcr, c literalmcntc incomprcensivel se for trataclo como um todo, como uma coisa. Pcb simples razao de que este todo reside 11a intcrcl~iio entre as jJartcs e n50 e possivel conhccer todas cbs ao mesmo tempo, porqlle SJOmuitas e porque se renovam a cada dia. Fluxos cIa mudan<.;:a e cristaliza<.;:oes cia permanencia se combinam na vida social. A sociedaele, IJara W/cber, nao c wn bloco, C I07W tcia. Na selcc;:50 do fragmemo a ser investigado estar50 presentes os val ores clo investigaclor, que faz parte dessa sociedade ou de alguma outra. Trata-se de um processo subjetivo, 0 que, no entanto, n50 comprometc a objetivicIade clo conhecimento, desde que o investigaclor leve em conta, na interpreta~;'io cbs ac;:6es e relac;:6es, os valores que de atribui ao pr6prio ator social, isto c, aqude que pratica a a<.;:Zio,e n50 os seus pr6prios valores (clo investigador).
  • 24. Assim como Ourkheim, Weber destaca 0 pape! dc dcs'vendamento do rea! desempenhado pelo pensamento cientffico, que segundo cle faz aquilo que e cvidente por conVCl1Cl0 ser vis to como um problema. 0 trabalho cicntffico c ~assim ii1esgotavel, pQrqueo' rea! 0 e, bem como fragmel~t<'!rio ~ especializado. A produc;ao cientffica teode a disseminar-se pela sociedadc atraves da educaC;50, e voce ja pock ir minhocando desdc j;'i fluais seriam na visao dc Wcber as rehc;ues entre a educac;ao c a vida social. Mas la.o~.v(Ju colocar ° carro adiante dos bois. Tudo 0 que lhe digo por eI1ql!anto e que 0 objctp c/as cicncias cia cultura sed. a decifrac;50' da significac;ao (0 scntido) da ac;ao social (as condutas humanas). E a unica maneira de estudar esse objeto e a compreeosao, que voce j<'!vai saber 0 que e. E clirei tambcm que Weber era um pessimista inveter.~1do: ele achava que 0 tipo de vida imposto as pes,soas no mundo l1lodcrno fazi<1com quc a educaC;~lo de.ixa~se de formar 0. homcl1l, para sil1lpk~l1lcnte prepara-lo para desempenhar t<1rcfas na vida. Mas tente acompanhar agor:! a linha de argul1lcntaC;,lo b,'!sica desenvolvida pOI' Weber na definic;ao de sua SOCil)logia compreensiva, POnto de partida: 0 que e a~~aosocial? Para Veher, cia Ocone quando um indivfduo leva os outros em considerac:io no momento de tomar uma atitudc, de praticar uma ac;.:io.~ Antes de Ihe explicar em detalhe vou reprodllZir uma passagem de um texto chamado Sabre algumas CCltcgorim da sociologia comlJrCc115iva (de 1913), onde Weber define ac;ao e 0 tipo de ac;ao que interessa a S1l0 sociologia. Oiz clc quc: por "ac;50"(incluinclo a omissao c a tolcrancia) cntenckl110ssempre um comportal11cnto cOl11prccn~lvclCOI11rclac;.'1oa "ohjetos", isttl C, um comportamcnto cspcci(ic1do Oll cal:<lctcriz;ldo por UI11,cmido (subjetivo) "rcal" ou "mcntal", I11csmo que de n;'1osej:! Cjuase ~. pcrccbiclo. (...) A ac;ao que cspcciricamentc tel11il11port<inciapar:! a sociologia cOl11prccnsiva C, cm p<1rticuhr, 11111COlllj"..,rr:lIl1ento quc: 1.cst,'!rcbcionado '10scntido suhjelivo pcns;ldo daquek que age com rc(crcncia ao comportamcnto dc outros; 2. cst;'!co-c!cterminado no seu c1ccursopar csta rcfcrcnci<1signiFic<1tivac, pmt;l1lto,3. pock scrcxplicaclo pcla comprccnsao a partir dcstc scnticlo mcnt<1](subjcti'<1mcntc). Di (fei!! Vej~ll11lls. Quando vocevai a escola, isto C lima ac;;1osoci:l!. Nao apenas porquc ali voce encontra SCliS profcssores, seus colcgas, seu grupo. Estar junto com outras pessoas, apen,lS, nZiu faz de voce um anirmd socia!. Ir a cscola c uma ac;:ao social l,orCjue aginc10 assim voce cst:'1 (nlcll/undo (mesmo C]ue nao pense nisso conscientemente todos os dias) os custos e os benc!fcios Cjue voce ter,l, indo ou, no caso inverso, deixando dc ir. An ir a escola VOCl:emprcga sua ruci01wliclUi/L e IcV,1l'm C(1n~illcr~I,lu ;1 raciOn,llilbele c10s outros C 0 modo C(llllO el: interfere (lU !1(lllc vii' a intcrtcrir solxe seu pr6prio cOmporl;lmcnto. Se V(lCl:(ossc pur,1mente racional, pocleria e1i:cr: "lllinha finali(hdc n,l 'iLia c ter dinhciro, mulhcres (ou homem) a dispusiC;,"lo e carros do '1no, mas para isso precise escolher a proCiss;'to que me de: mais renda 0 lllais r;'ipielo posslve!; co Illeio m,li5 aclcCju,ldo p;1r,l ,ltingir cste Cim ~ ir il cscola". Mas n,lO precisa ser um dlculo C]ue vise mCr;ll11CnrC sells interesses pessoais "egofstas", suas finzdiclaeles "cxclusivamcnte indi'iduais". Voce pock calcular tambcm com b:1sc, par exclllplo, no valor que sua (amilia d:'i a educac;ao. Se em SU,l Clsa toclos prezarem uma boa educ'1C;;lo ~1Cima ell' tudo, ser;l lllulto diffcil pra voce deixar de ir a escola, ceno? Se um dia voce cogitar abandonar os estudos, a primeira coisa que vai pensar ser,'!: "0 que 0 pessoal 1:'1em casa vai di:er disso)" Ali:'1s (alve: '()(l: nem cogite abanc!onar a escola, porqlle fl)i ensinadu em Clsa descle crianc;a que estudar ou que formar-se era al,C:oill1port:mte. Levar isso em comiderac;Zio talllhclll C um,l form;l de dlcu!o.
  • 25. Mas voce pode calcular tambem com base, por exemplo, na satisfaC;ao ou no conforto pessoal que sente em ir a escola, mesmo que essa sa tisfac;ao nao es tej a ligada d ireta men te a su as atividades estudantis. Voce pode gostar da escob porque tem ~l1nizade con1' professores e colegas, ou porque arra njou uma n:.l111orada ou namorado la. A~ir em sociedade, portanto, implica em ~dgum gl'<1Ude racionalidadc (inclusive a tot31 irracionalidade) por parte de quem age, e implica no fato de que esta racionalidade de cada indivfcf~~' sempre est<1 rde:rida aos outros inclivfcluos que as cercam. Iss6 {.fundamental para cntender Veber. Partindo do exemplo acima, quando voce vai a escob pensando em se formar e ganhar dinheiro, csta praticando 0 que Weber chama de a~iio social racional com rcl(l~iio a fins. Um comportamento racional com relaC;ao a fins c aquelc que: se orienta por meios tidos como adequados (subjctivamente) para obter firls d~terminados, fins estes tidos por voce como indiscutfveis (subjetivamentc). ]a se voce for a cscola porquc sua formac;ao familiar deu muita import5ncia ::lOSestudos, ent50 est~1 praticando uma a~ao sociill mciond com rclw;cio a t1alorcs. No caso, trata-se dos valores d~ sua famnia, ou entao do modo como voce os incorporou a sua pr6pria hicrarquia de valores. Finalmentc, se voce vai a escola apenas por causa dos amigos, dos professores ou da namorada ou namorado, para Veber voce pratica uma aqiio spcial afctiva. Neste tipo de comportamento, voce estaria sendo irracional, po is 0 que Vcber chama de "racionalidade pe'rfcita" c a adequac;ao entre os meios de que voce se vale para agir e os fins que voce objetiva alcanc;ar com esta ac;ao. Na ac;ao afetiva, voce nao leva em consideraC;ao objetivos a serem alcanC;pdos nem busca utilizar-se dos melhores meios para isso e, portanto, esta sendo irracional. Suponha, finalmente, que voce Fosse a escola apenas porque todo mundo vai, e ficaria chato pra v.pce, dentro do seu cfrculo de amizades, dizer que nao frequenta a escola. Nesse caso vocC: volta a ser racional, pratic:1ndo um:1 w;:cio .wciil[ mC;IJllal cum rclaqci() a() regular. Voce estaria calculando com relac;ao a media de comportamentos aceitos em sell grupo especffico. Repare que Veber gosta de estabclecer ti/JOS de ac;50. S6 no p::lI'<lgrafo acima Cll citei CjII<'lIrolipos difnentes de :Jc:io soci:t1, selldo lres r~lciUllais e UI1l irraciun:". M:s, rcp;lrc LlInhcl1 que no dia-a-dia esses tipos n50 aparecem scparadamcnte. Ningucm, na pratica, vai a escola tlniea e exclusivarnente para namorar, nern mcsmo so paLl g<1l1h:,r() diplnma c g:lI1h;H dinheiro. E"s;1s co isas todas se eanfunclem, se cncai:-.:am umas ZlSoutras. E muito possfvel quc voce V<1Zlescal::l pOl' toclas ou quase tod;)s cssas razoes que eu citei no exemplo. As raZ(lCS se misturam. No encanto, c absolutamente fundamental isolar esses tipos "puros" de COl11port:1mcnto. Alias, este C 0 mctodo de Vchcr. Ele s;)bc perfeitamcnte que na pr<1tica empfriea os tipos !Juras nao existem, mas os constr6i par:1 CJue SirVZll1de refcrC:neia. Ei, alegre-se! Voce esta sendo aprcsent~lelo ::l Ul11dm m;)is il11parL;)ntcs mctodos de investigas;:'io clas eiC:ncias soci;)is. A receit<l metodol6gica, passo <Ip;1SS0,C <I"cguinl'c: 1u. Construa um (i/JO idcal "pura" (Veber construfa v:S.rios: tipos de ac;ao social, tipos de domin;)C;ao po!ftiea etc.). 0 tipo c uma construc;ao mental,. feita na eabec;a elo investigador, a partir de v:S.rios exemplos hist6ricos. Ele c um cxagero de perfeic;ao, que jamais ser:S. encontrado na vida pr::l.tic;). 2u . O/hc ° munelo socd que 0 cerea, eSl'a l'cia inesgol':1vel de evcntos e processos, e selccione dele 0 aSllecto a scr investigado (n50 cIa pra ser ['udo, l'em Cjue ser um:l eoisa de cada vez). 3". C01Jl!x/rc 0 muncIo soci;)1 ernpfrieo com 0 tipo ideal que voce construiu. Mas note bcm: "icleal" ;)qui nao significa "desejado", nao significa "idealizado", como par exemplo i(It~::l!i:ar 0 que
  • 26. seria uma "sociedade perreita". Significa apenas que voce escolhe as caracterfsticas mais "puras" dos tipos, e Veber achava que os ti'pos de conduta malS puros S:10os 111;1is r;lcionais, no sen'tido de adequ,a~50 entre meios e fins, 4u. A medida q~ie voce descreve 0 quanto a realiclacle sc cl/Jroxima ou se c1iswllcia do tipo "puro" que voce construiu, eSS;lrealichde se apresenta a voce, se reveb el11seu CH;ter l11ais Clll11p!cXO; : os CO(11portamentos vcm a [uz revelando a racionaliJade e a irracionalidade que os tornou possfveis. E as'si~1~'q~ea a~ao social raetonal com reb<;50 a fins (aquele caso hipote(jc6 em que 0 inclivfduo rcalizaria UI11dlculo perfeitamente racional) serve exatamentc para que se possa avaliar 0 a!cance, na pr5tica, daquilo que c irracional com rela=50 aos fins a que se prop6e aqucle que pratic;t ;1 ac;:ao. Ressalto novamente: quando falainos de um comport;1I11ento Sl'lbjcCivo, no contexto cia sociologia de Veber, nao estamos falarrdo l1um' comportamento cxclusivClmente /)s/qllico, Comportamento subjetivo C 0 comportamento do s!(jciw cia a<;ao, e nenhuma a=50 c social se n50 se referir 30 comportamcnto dos outros sujeitos e dos obstcculos que todos en(rentClm para leva I' suas a=oes atc as ultimas conscqLiencias. Aquila que c ment;11, exclusivamente psfquico, par;t (/eber c incom/Jrccns/vd do ponto de vista da sociologia. Oaf chegamos a um entendimento melhor clo que seja a sociologia que ele chama de com/JTccnsiva: trata-se daqucla que se refeTe a analise dos comportamentos movidos pcb, I racionalidade clos sujeitos com rela~50 aos outros. Para Weber, os comportamentos dos atores sao intcrpretados como sendo dotados de intencionalidade c, assim, como sendo a<;6es propria mente ditas; embora certos elementos dessas a=oes (a estrutura=ao do sistema de prefcrcncias, a escolha dos meios para obter os fins descjados, a habiliclade de cada indivfduo na utiliza~50 dos meios ct&'.) sc:jam cleterminaclos par elementos t;. ":.. .>~ ;ll1teriores ~1prclpria a<;:Jo. 0 mctodo de Weher c individual iSla n50 porque ele prefira 0 inclivfcluo, nem mlJii:1 mcnnS;l j1sico!ogi:l individual, em dClrimento da SOciclbde, n1;1Sj10rque para elc () indivic/zLO conscicui 0 Itnico [JOrcac/or dc IOI1 com/J()l'Cml1cnco /Jroviclo c/e senticlo, ele incenci01lClliclclCie. Em conseCjL'lcnci;l, conccitos COli1(), Estaclo, capit;1lismo ou Igrej;l, j1;tra SII;l s()ci)]()gi:J, rcdllLem-se ;1 categori:lS que 5C re(crcm ; dl'{'cl'lllin;,d'ls lIlIlIilJs de () !IIHIIClil agir em socieclaele. A t;1I'ef;) cia sociologia c interprelc1l' este ;lgir de modo que ele se tome um agir compreensivel, e isto significa, sem exce~50, um agir de homens que se re!:1cilln;lm uns com os ou eros. o individuo e as institui~6cs sociais 11;lS seria um g['ancle erro pens;1I' que Durkheim c u homem que acha que ;1 socieclade uhriga 0 inelivkluo a a,gir e Vcber, pdo contr{]rio, C 0 homel11 que ;1Cha que u inclividuo ;l,ge como Cluer. N;lo c n;llh dissu. 0 indiv/cluo, p;lr; lchl'l', lev;! em consielera~;lO, no mumenlo de ;lgir, 0 compUrL;mel1('o tlos CHIITOS, e c isso que fa: ele sua ;1~50 um;l ;1~50 suCi;ll. Mas n:lO so: ek c obrigaclo ;1 relacilln;u-se t;tmbcm cum ;IS norm;lS soei;lis consolicbcl;ts, inslitucion;lli:;lcl;lS, que (em inllu('nci; slbre sell agir. Ou, melhor cli:endo, essas normas inf/ucnciw1! () cwir elo inelill/clLlo l1a mcs))w medicla em quc Scl() rc.lilcaclo elo ogir dn5 /)):~/Jrios inclivicll£OS llO fango clo tcm/JO, QueI' en tender como isso (uneiona) Entao vej;l como Veber distingue os conceitos ele "conllll1iclade" e "socicclacle". Eu vou simpliEicar bastantc a c1eEini~:io do nosso autor, que c detalhada, s6 para que possamos en tender esta Vi8 de m;1o cluph que, n( cabcc;:a de V'eber, liga 0 inelivfduo as estruturas SOCi;1ise estas ;10 indivfduo. fie die, basic;1l11enec, que u (/gir cm ((mll/nidwl" C ;Ique!c agir que se basei;l nas cxpectativ;ls que ,emos com reLlClO ;Hl compOrt;lmcntu dm outros, Se tli:el11o,-;"hom-eli;I" ;1ll l'nC~)Jltr;lr