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ÇÕES
ÇA
MANUAL
DE MANIFESTACOES
NOBRASIL
DE SEGURANCA
PARA COBERTURA
NOTA
Este é um manual puramente indicativo, que
contém “dicas” de segurança. Foi elaborado com
base em protocolos internacionais e em entre-
vistas com repórteres agredidos, hostilizados ou
presos em protestos recentes no Brasil. As “di-
cas” devem ser lidas como quem ouve colegas
que passaram por situações semelhantes às que
o repórter pode vir a enfrentar – mas sempre de-
ve-se ter em mente que não há regras universais
que valem para todas as situações. Este manual
pode até ajudar o repórter a diminuir sua exposi-
ção ao risco, mas jamais vai eliminá-lo. Este ma-
nual, portanto, não substitui o bom senso e nem
esgota as situações de risco. Cada um é, em últi-
ma análise, responsável por suas decisões e ati-
tudes, que devem se adaptar às circunstâncias
de cada situação. Por isso, a primeira e principal
decisão do repórter é se ele se sente apto a acei-
tar a pauta que lhe deram.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO?
ANTES DE PARTIR: ANÁLISE DE RISCO
KIT DE PRIMEIROS SOCORROS
DURANTE A MANIFESTAÇÃO
EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO
SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
PRIMEIROS SOCORROS
APÓS A MANIFESTAÇÃO
INTRODUÇÃO
A cobertura de manifestações de rua envolve
riscos para os quais os jornalistas devem es-
tar preparados. Conhecimento, experiência
e planejamento podem ajudar a evitar estes
riscos. Por isso, a Abraji (Associação Brasilei-
ra de Jornalismo Investigativo) elaborou um
guia conciso, com dicas e relatos de profis-
sionais que viveram incidentes de segurança
enquanto cobriam protestos.
Entre maio de 2013 e maio de 2014, houve
pelo menos 171 casos de violações contra co-
municadores que cobriam protestos de rua.
Desse total, 112 foram agressões, detenções
ou hostilidade cometidas intencionalmente
– ou seja, o agressor mirou o jornalista que
estava identificado como tal. Uma análise
desses 112 casos mostra que policiais, guar-
das-civis e seguranças respondem por 77,7%
dos ataques, enquanto manifestantes agri-
dem e hostilizam em 22,3% dos casos. No
universo total de 171 violações intencionais e
não intencionais, São Paulo foi a cidade com
mais ocorrências (70), seguida do Rio de Ja-
neiro (30) e de Brasília (16). Neste período,
houve registro de violência em 16 cidades.
Aprendendo com a prática: relatos
de agressões e arbitrariedades
Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, morreu
nodia10defevereirode2014,emdecorrência
de um incidente ocorrido quatro dias antes,
quando registrava imagens do choque entre
a Polícia Militar e manifestantes, na Central
do Brasil, no Rio de Janeiro. Ele trabalhava na
TV Bandeirantes desde 2004. Profissional ex-
periente, havia participado de cursos de pre-
venção de riscos em coberturas de conflitos
armados. Santiago Andrade vinha de cobrir
uma outra pauta, quando foi chamado para
gravar imagens da manifestação contra o au-
mento das passagens de ônibus no centro do
Rio. Atuava como motorista e cinegrafista, e
trabalhava sem auxiliar ou repórter naquele
dia. Enquanto fazia seu trabalho, com a aten-
ção totalmente focada na lente da câmera, foi
atingido pelas costas por um rojão disparado
por um manifestante.
A morte do cinegrafista foi, até agora, o inci-
dente mais grave envolvendo os protestos e
a imprensa. Fotógrafos e operadores de câ-
mera, como Santiago Andrade, correm riscos
adicionais por manejar equipamentos pesa-
dos e manter a atenção focada na captação
das cenas, enquanto as condições de segu-
rança mudam rapidamente ao seu redor. Para
estes profissionais, o trabalho em equipe é
ainda mais importante, uma vez que não po-
dem voltar a atenção, ao mesmo tempo, para
dois ou mais lugares diferentes.
Um repórter cinematográfico do Ceará, por
exemplo, se colocou em situação de vulnera-
bilidade durante a cobertura de um protesto.
Não houve planejamento prévio nem distri-
buição de funções entre os três membros da
equipe. Além de gravar, ele mesmo exercia
a função de motorista e foi escalado sem sa-
ber que estava indo para uma manifestação.
Nenhum membro da equipe possuía equipa-
mentos de proteção pessoal.
Comportamentos imprudentes aumentam o
risco. Mas mesmo quando medidas de pre-
caução são tomadas, a cobertura de protes-
tos continua sendo perigosa. Em São Paulo,
um repórter fotográfico ficou cego de um olho
após ser atingido por uma bala de borracha
disparadaporpoliciais,emjunhode2013.Ele
considera que é preciso ir além da discussão
da proteção do jornalista e dizque problemas
estruturais impactam na falta de segurança.
No auge dos protestos, ele lembra, grandes
jornais publicaram editoriais cobrando uma
ação mais enérgica da polícia, mesmo quan-
do já se temia por consequênciasmaisgraves
destasaçõestruculentas.Porisso,eledizque
é preciso que a imprensa rediscuta a própria
pauta da violência e o seu papel nesta pauta.
“É importante ter equipamento de seguran-
ça, mas não é o principal”, observou. A partir
do incidente, ele mesmo passou a militar por
uma melhor regulação das munições menos
letais usadas pela polícia.
O temor e a desconfiança em relação à polí-
cia é um traço constante nos relatos. “Temos
de andar sempre juntos. A polícia tende a ser
mais agressiva quando pega um jornalista
sozinho”, constatou uma jornalista freelan-
ce que foi cercada por policiais numa marcha
pela educação em outubro de 2013, na Praça
da República, em São Paulo.
Em fevereiro de 2014, no Rio de Janeiro, um
repórter que cobria a manifestação contra o
aumento das passagens na Central do Bra-
sil foi agredido com cassetete por PMs. “Eu
me encostei na parede, levantei as mãos e
me identifiquei como jornalista quando vi
alguns policiais chegarem perto de mim. Le-
vava um bloco de anotações em uma mão e
uma caneta na outra. Fui atingido duas ve-
zes na perna direita pelos cassetetes de dois
policiais militares. Um dos golpes quebrou a
tela do meu celular, que estava no bolso da
calça”, descreveu. Freelancer, não usava cra-
chá, mas tinha um capacete com o símbolo
da empresa. “Como a ação intempestiva da
polícia desencadeou um caos generalizado,
todos os pontos dentro e fora da Central aca-
baram se tornando inseguros, o que inviabi-
lizou qualquer plano prévio. Mantive contato
com o fotógrafo e colegas de outros veícu-
los por celular, e julgo que isso foi útil para
tornar a nossa saída do local minimamente
mais segura”, acrescentou. “Prestei queixa
na Polícia Civil e fiz exame de corpo de deli-
to, mas como os policiais usavam máscaras e
não traziam identificação aparente, ficou im-
possível identificá-los”, disse.
Outro repórter do Rio conta que foi atacado
por PMs quando caminhava na direção da
Candelária, voltando de uma manifestação
na Prefeitura. “Os policiais estavam atirando
com balas de borracha, e não havia como dis-
persar, porque não havia ruas transversais.
Procureiabrigodentrodeumrestaurantepara
me afastar da multidão e esperar o tumulto
passar. Foi quando policiais arriaram a porta
e jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo.
Pensei que ia me asfixiar. Muita gente pas-
sou mal e vomitou. Eu era o único com másca-
ra. Quando conseguimos abrir a porta, achei
que os policiais estariam ali para nos matar.
Tirei a máscara, joguei no chão. Depois que
levantei e vi que não havia ninguém, conse-
gui que um camelô me jogasse água na cara.
Estava em estado de choque. Liguei para a
redação e disse que poderia haver uma tra-
gédia, era um clima de guerra. Considero que
tenho uma resistência grande, mas foi o dia
de maior tensão em 15 anos de jornalismo.”
Alertado pela possibilidade de enfrentar nu-
vens de gás lacrimogêneo na cobertura da
manifestação realizada em junho de 2013 em
São Paulo, e com a intenção de minimizar
seus efeitos, um repórter levou vinagre na
mochila e foi detido pela polícia. Em seu ar-
tigo para a revista onde trabalha, escreveu:
“Questionei algumas vezes qual lei, norma
ou portaria proibiria o porte de vinagre, mas
não obtive resposta. No caminho, tive a opor-
tunidade de ligar para uma amiga, também
jornalista, que estava indo ao ato. Disse a ela
que estava sendo levado à Praça do Patriar-
ca. Em seguida, continuei gravando. Foi este
meu último diálogo com os policiais antes de
ser colocado contra a parede de uma loja fe-
chada na praça.”
Mesmo repórteres que já haviam participado
decoberturasperigosasepassadoporcursos
de prevenção de riscos em ambientes hos-
tis, sentiram-se fragilizados. “A cobertura de
protestos é completamente diferente da co-
bertura de narcotráfico”, disse um experien-
te repórter fotográfico do Rio de Janeiro.
Ele fala da ameaça representada também pe-
los manifestantes hostis. “Não sabemos lidar
ainda com os integrantes de movimentos so-
ciais que não conseguem separar a figura do
profissional da empresa onde esse profissio-
nal trabalha”, lamentou. “Estamos aprenden-
do com essa nova realidade. Valem as dicas
doscursos:buscarrotasdefuga,estarsempre
ligado, procurar sempre ficar com uma equi-
pe porque se protege mais. Mas me preocupa
que eu não possa trabalhar com uma identi-
ficação de imprensa porque eles não gostam
da empresa onde eu trabalho. São mil pes-
soas filmando, fotografando, e xingando os
policiais, que raramente conseguem identi-
ficar quem é quem. Manifestantes colocam a
câmera na frente do rosto e começam a gritar
para que o policial os ataque, enquanto eles
filmam”, completou.
Outro repórter fotográfico do Rio de Janeiro
declarou: “Nas primeiras manifestações, eu
tentava ficar perto das zonas de confronto
para fazer vídeos com o celular. Era perigo-
so, porque eu ficava vulnerável não só aos
manifestantes, como às forças de segurança.
No front da batalha, o repórter é só mais um
manifestante, e a chance de se machucar é
grande. E nenhuma das imagens com o celu-
lar ficaram aproveitáveis, só me expus a ris-
co. Acho que com uma câmera é diferente.”
Agressões por manifestantes também foram
relatadas na frente da Prefeitura de São Pau-
lo no momento da depredação do prédio, em
junho de 2013. Uma repórter de televisão des-
creveu assim a situação: “Eu estava gravan-
do a passagem, agachei para pegar as pedras
que foram utilizadas na destruição, que ain-
da estavam no chão. Quando me levantei, um
manifestante com o rosto coberto jogou vina-
gre nos meus olhos. Eu tinha o microfone com
o logotipo da empresa na mão, além de estar
acompanhada de um cinegrafista e ilumina-
dor. Não tinha como não ser identificada. Até
aquele dia, as coberturas tinham sido calmas.
Depois disso, aumentaram as agressões con-
tra os jornalistas e fiquei com mais medo de ir
para a rua.”
O repórter fotográfico que cobria um protesto
popular em São José do Rio Preto, no interior
de São Paulo, para um jornal regionalimpres-
so, em junho de 2013, sentiu-se abandonado
pelapolícia:“Duranteoprotesto,manifestan-
tes passaram a depredar o terminal rodoviá-
rio. Policiais Militares que acompanhavam a
manifestação não fizeram nada para impedir.
Enquanto eu fotografava, fui cercado por cer-
ca de 30 manifestantes que tentaram roubar
meu equipamento e me agrediram com socos
e pontapés. Um jornalista correu para avisar
os policiais, mas eles se recusaram a entrar
no terminal para conter a agressão. Só não
fui roubado e ferido com gravidade graças à
intervenção de colegas que estavam por per-
to e me defenderam.”
No Espírito Santo, a agressão aconteceu
quando o repórter que fazia uma reporta-
gem sobre o protesto contra as condições
do transporte na cidade de Vila Velha foi
surpreendido, junto com o cinegrafista, pela
multidão que corria desesperada por causa
da ação de mais de 100 homens da polícia.
A PM atirava balas de borracha, bombas de
gás e de efeito moral. “Em um determinado
momento, nossa equipe foi atingida duas ve-
zes por bombas de efeito moral. Os artefatos
foram lançados de forma intencional a fim de
impedir a captação de imagens no ponto em
que estávamos. Nesse protesto eu também
fui atingido por um disparo de bala de borra-
cha na perna direita”, contou.
Em Brasília, um produtor de reportagem de
uma grande rede de TV usava máscara de pro-
teção contra gases e mantinha contato perma-
nente com outros colegas por um aplicativo
de celular, na manifestação de junho de 2013.
Quandoapolíciachegouparadispersarosma-
nifestantes, com veículos e cães, ele informou
que era jornalista. Foi orientado a se afastar.
Policiais continuaram a avançar sobre os ma-
nifestantes e um deles, sem identificação e de
dentro de um veículo, o cobriu com spray de
pimenta. Também em Brasília, outro repórter
foi cercado por policiais com cães e atingido
por gás de pimenta quando apurava a agres-
são a um transeunte que reclamara da polícia.
As violações ao trabalho da imprensa conti-
nuaram em 2014, apesar dos protestos das
entidades de classe e das empresas de comu-
nicação. Um repórter de São Paulo que esta-
va cobrindo a manifestação contra a Copa do
Mundo, próximo à estação do metrô Anhanga-
baú, em fevereiro, foi detido pela Polícia Mili-
tar. “Os manifestantes estavam bem perto da
polícia.Quandoaconfusãocomeçou,correram
para a frente, onde eu estava. Acabei detido
com sete ou oito manifestantes que tentavam
escapar. Colegas de outros veículos tenta-
ram argumentar com os policiais para que me
soltassem. Apesar de o apelo deles não sur-
tir efeito, os policiais entenderam que outros
membros da imprensa estavam de olho em
mim, o que me deixou maisseguro. Desde que
cubro manifestações, sempre me senti segu-
ro ao apresentar meu crachá para integrantes
do Estado (bombeiros, policiais militares, po-
liciais civis). Agora, sinto que devo ficar mais
atento e evitar ao máximo me expor. Não que-
ro ser pego no fogo cruzado novamente.”
Há várias hipóteses para explicar a causa das
agressões contra profissionais de comunica-
ção nestes protestos.
O professor Rafael Alcadipani, da Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da
Fundação Getúlio Vargas, fez uma pesquisa
com jovens, policiais e jornalistas durante as
manifestações. Na opinião dele, houve uma
mudança geral no nível de violência no Bra-
sil. “As pessoas estão querendo resolver os
problemas com as próprias mãos. Houve um
recrudescimento das relações sociais e há
uma sensação de que a polícia não resolve, a
justiça não resolve, a imprensa não mostra a
realidade. Hoje qualquer protesto é violento.
Asaídaéfazerumnovopactopelaconstrução
do Brasil e parar de buscar soluções paliati-
vas. Infelizmente, quem faz política social no
país ainda é a polícia”, analisa.
A pesquisadora Esther Solano Gallego, pro-
fessora do curso de Relações Internacionais
da Unifesp (Universidade Federal de São Pau-
lo), que estuda a violência ligada aos Black
Blocs, acredita que a população ainda não
se deu conta do risco que a sociedade corre
com as agressões aos jornalistas: “A violên-
cia dos Black Blocs contra os jornalistas co-
meçou em agosto de 2013 focada contra os
repórteres de grandes meios com os quais
eles não compactuam. Inicialmente era uma
agressão verbal, depois foi migrando e au-
mentando o nível de tensão. Já a Polícia Mili-
tar está aprendendo a lidar com as manifes-
tações. A única coisa a fazer é diminuir esse
clima de tensão. Sentar, conversar, mediar.”
A polícia pode impedir o jornalista de
ingressar em determinada área, ou
delimitar os espaços de locomoção?
O artigo 5º, parágrafo XV, da Constituição Fe-
deral do Brasil diz que “é livre a locomoção no
território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou dele sair com seus bens”.
O artigo 220 da Constituição Federal, diz: “A
manifestação do pensamento, a criação, a ex-
pressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer res-
trição, observado o disposto nesta Constitui-
ção.”
Os direitos de ir e vir, e de liberdade de im-
prensa, portanto, não podem ser impedidos.
Mas deve haver bom senso por parte do jor-
O QUE DIZ A
LEGISLAÇÃO?

Voltar para o topo
nalista para não se submeter a riscos desne-
cessários.
A Resolução do Conselho de Segurança das
Nações Unidas nº 1738 de 2006 e a Resolução
da Assembleia Geral das Nações Unidas de
18 de novembro de 2013 condenam ataques
a jornalistas em zonas de conflito e atribuem
esferas de responsabilidade.
O que diz a lei sobre o uso de força
pelos agentes de Segurança Pública?
A Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de
dezembro de 2010, estabelece 25 diretrizes
sobre o uso da força e armas de fogo pelos
agentes de segurança pública. Entre elas es-
tão:
XXOusodaforçapor agentesdesegurançapú-
blica deverá obedecer aos princípios da le-
galidade, necessidade, proporcionalidade,
moderação e conveniência.
XXOs agentes de segurança pública não de-
verão disparar armas de fogo contra pes-

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soas, exceto em casos de legítima defesa
própria ou de terceiro contra perigo imi-
nente de morte ou lesão grave.
XXNão é legítimo o uso de armas de fogo con-
tra pessoa em fuga que esteja desarma-
da ou que, mesmo na posse de algum tipo
de arma, não represente risco imediato de
morte ou de lesão grave aos agentes de se-
gurança pública ou terceiros.
XXNãoélegítimoousodearmasdefogocontra
veículo que desrespeite bloqueio policialem
via pública, a não ser que o ato represente
um risco imediato de morte ou lesão grave
aos agentes de segurança pública ou tercei-
ros.
XXOs chamados “disparos de advertência”
não são considerados prática aceitável,
por não atenderem aos princípios
elencados na Diretriz n.º 2 e em razão da
imprevisibilidade de seus efeitos.
XXO ato de apontar arma de fogo contra pes-
soas durante os procedimentos de aborda-

Voltar para o topo
gem não deverá ser uma prática rotineira e
indiscriminada.
A Resolução n° 6/2013 da Secretaria de Di-
reitos Humanos da Presidência da República
diz que “a atuação do Poder Público deverá
assegurar a proteção da vida, da incolumi-
dade das pessoas e os direitos humanos de
livre manifestação do pensamento e de reu-
nião essenciais ao exercício da democracia”.
E determina medidas de proteção para comu-
nicadores:
XXARTIGO 2°: Nas manifestações e eventos pú-
blicos, bem como na execução de mandados
judiciais de manutenção e reintegração de
posse, os agentes do Poder Público devem
orientar a sua atuação por meios não violen-
tos.
XXARTIGO 3º: Não devem ser utilizadas ar-
mas de fogo em manifestações e eventos
públicos, nem na execução de mandados
judiciais de manutenção e reintegração de
posse.

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XXARTIGO 4º: O uso de armas de baixa letali-
dade somente é aceitável quando compro-
vadamentenecessáriopararesguardarain-
tegridade física do agente do Poder Público
ou de terceiros, ou em situações extremas
em que o uso da força é comprovadamente
o único meio possível de conter ações vio-
lentas.
XXARTIGO 5º: As atividades exercidas por
repórteres, fotógrafos e demais profissio-
nais de comunicação são essenciais para
o efetivo respeito ao direito humano à li-
berdade de expressão, no contexto de ma-
nifestações e eventos públicos, bem como
na cobertura da execução de mandados
judiciais de manutenção e reintegração de
posse.
XXPARÁGRAFO ÚNICO: Os repórteres, fotó-
grafos e demais profissionais de comuni-
cação devem gozar de especial proteção
no exercício de sua profissão, sendo veda-
do qualquer óbice à sua atuação, em espe-

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cial mediante uso da força.
O coronel Eric Meier Júnior, da Polícia Militar
doDistritoFederal,lembraqueosórgãospoli-
ciais têm independência administrativa, por-
tanto as ações são delineadas e detalhadas
em cada Departamento Operacional. Caso
haja desvios de conduta, abusos, violência
desnecessária ou desproporcional, deve-se
buscar a Corregedoria do órgão para registrar
as queixas.

Voltar para o topo
XXPlaneje com antecipação a cobertura que
pretende realizar. Há alguma forma mais
segura de obter as informações e imagens
necessárias? Planeje o que fazer caso seja
agredido, detido ou roubado. Caso conhe-
ça o percurso da marcha, antecipe rotas
de fuga e combine isso previamente com
membros de sua equipe.
XXConheça o contexto social e político que
motiva os atores: que fatos recentes ante-
cederam esta manifestação, qual a atitude
geral em relação aos meios de comunica-
ção, o que pensam sobre o meio em que
você trabalha, você possui características
que podem gerar algum risco adicional
(como o fato de ser mulher, num contex-
to que envolva risco de violência sexual),
ANTES DE
PARTIR: ANÁLISE
DE RISCO

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existem grupos com antecedentes de vio-
lência contra jornalistas?
XXAntes de ir para o local, visualize em GPS ou
nainternetoterrenoondesedaráoprotesto,
identificando delegacias, locais de abrigo,
rotas de fuga, sentido das ruas, locais ele-
vados para boas imagens, ruas sem saída,
bloqueios, hospitais e locais de referência
para reorganização em caso de dispersão.
XXCalcule quanto tempo você e sua equipe
precisam estar no ambiente para conse-
guir o que precisam.
XXConheça a previsão do tempo para o perío-
do de cobertura. Se for o caso, leve capa
impermeável. Em alguns locais, a tempe-
ratura cai à noite. Previna-se. Preservati-
vos podem ser usados para guardar car-
tões de memória de máquinas fotográficas
em caso de chuva torrencial ou de uso de
canhões de água por parte da polícia.
XXMantenhaumalinhadecomunicaçãoperma-
nentecomasaladeredação.Combineconta-

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tosperiódicosacertointervalodetempo,por
meio de mensagensde texto pré-definidase,
se preciso, codificadas, tais como “Pneu fu-
rado”, equivalendo à mensagem real: “Fo-
mosdetidos”. Podem ser criadasdezenasde
mensagens para todas as hipóteses levanta-
dasduranteafasedeplanejamento,associa-
das a uma tabela com cópia na redação.
XXGrave em seu telefone mais de um número de
discagemdiretaemcasodeemergência.Insira
a letra “A” no início do nome destes contatos,
parasituá-losnotopodaagenda.Levebateria
reserva para o celular. Reduza o brilho da tela
e desabilite dispositivos desnecessários que
consumam energia excessiva do aparelho.
Prefira aparelhos que comportem dois chips.
Use chipsde duasoperadorasdiferentes.
XXRepórteres fotográficos e cinegrafistas de-
vemserauxiliadospelorepórterouassisten-
te,poiselesestarãofocadosnoseutrabalho
de colher imagens. Deve haver alguém com
visão ampliada e de todo o cenário, preocu-

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pado com a segurança da equipe. Combine
previamente a distribuição destas funções.
XXCasocontecomummotorista,certifique-sede
que ele conheça o local, seja capaz de prever
rotas de fuga, esteja sempre comunicável e
nãodeixeocarropresoemvagasinacessíveis.
XXSe você tem asma, problemas respiratórios
ou infecciosos, está grávida, tem imunida-
de baixa, infecção nos olhos, usa lentes de
contato e não tem óculos, evite engajar-se
em coberturas deste tipo. Assegure-se de
que está fisicamente capacitado para reali-
zar a tarefa: você tem condições de correr?
XXAssegure-se de que, em caso de que algu-
ma coisa lhe aconteça, você e sua família
estarão amparados com cobertura médi-
ca e de seguro.
XXUse identificação visível à distância se
considerar que isso representa maior pro-
teção. Esconda a identificação e mimetize-
se com as pessoas ao redor, se for o caso.
Saiba ler o contexto e o ânimo dos atores

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em relação à imprensa. Combine previa-
mente estes procedimentos com a equipe.
XXMantenhaodinheiroemdiferenteslugaresda
roupaeemcarteiraadicional,separadoempe-
quenasquantias,emlocalimpermeabilizado.
VEÍCULOS
XXReviseascondiçõesdeseuveículo:verifique
sempre, antes de sair, se tem o extintor de
incêndio do veículo válido e, mais importan-
te ainda, saiba como acessá-lo e utilizá-lo.
XXOs motoristas devem estar alertas. Veículos
de imprensa têm sido alvos de interesse de
manifestanteshostis.Leveemconsideração
as regras da sua empresa e discuta com a
equipe se é melhor o motorista ficar fora do
veículo, em contato visual com o mesmo, ou
dentro dele, com a chave na ignição, pronto
para sair rapidamente se for necessário.
XXDepois de estacionar, o motorista deve con-
tinuar atento e vigilante sobre as mudanças
no ânimo da massa e as alterações das con-

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diçõesdesegurançaaoredor.Senecessário,
podeconsiderarmudaroveículodeposição,
para evitar estar cercado, e deve certificar-se
de que a equipe que participa da cobertura
esteja informada do novo posicionamento.
XXUma chave reserva do carro deve ser pro-
videnciada e ficar de posse de outro inte-
grante da equipe, diferente do motorista,
também habilitado para dirigir.
XXAcúmulos de função, como um motorista/
cinegrafista, aumentam os riscos para os
profissionais.
KIT BÁSICO PARA MOCHILA
XXUse uma mochila leve, fácil de abrir e fe-
char e que se prenda bem ao corpo, facili-
tando seu deslocamento.
XXLeve água potável e alimentos energéticos
para o caso de a cobertura se estender. Se-
pare os alimentos em pequenas porções.
Você pode ter de manejá-los enquanto ca-
minha por muito tempo.

Voltar para o topo
XXSaiba ativar a função de lanterna do seu
celular. Caso não possua essa função, bai-
xe o aplicativo ou carregue uma pequena
lanterna consigo.
XXCaso não conheça o local, um mapa pode
ser útil. O GPS – tanto do carro quanto de
celular-também.Saibacomooperá-lo,tes-
te antes e familiarize-se com suas funções.
Você também pode, previamente, marcar
no mapa pontos de interesse, como áreas
elevadas para captação de imagem, hospi-
tais, delegacias e rotas de fuga.
XXEquipes de televisão devem preferir equi-
pamentos leves, que possam ser facilmen-
te carregados. Esteja preparado para deixá
-losparatrás,seprecisarsairrapidamente.
XXUtilize uma pulseira ou uma placa de aler-
ta médico indicando seu tipo sanguíneo
ou qualquer condição médica especial ou
de alergia.

Voltar para o topo
PESSOAL (PARA MOCHILA):
XXBactericida
XXCompressas de gaze esterilizadas
(mínimo de 1 pacote com 10 unidades)
XXAtadura de crepe (mínimo de
1 pacote com 4,5 X 10 cm)
XXEsparadrapo (3 m X 2 cm)
XXLuvas de procedimento (1 par)
XXAnti-histamínico (antialérgico)
(4 comprimidos)
XXAnalgésico (4 comprimidos)
XXAntidiarreico (4 comprimidos)
XXPinça
XXTesoura
XXProtetor solar
KIT DE
PRIMEIROS
SOCORROS

Voltar para o topo
PARA O VEÍCULO:
XX Luvas de procedimento
XX Esparadrapo
XX Ataduras de crepe
XX Curativos adesivos (para cortes e arranhões)
XX Gazes absorventes
XX MáscaradeReanimaçãoCardiopulmonar(RCP)
XX Sabonete bactericida
XX Antisséptico
XX Álcool gel
XX Pinça
XX Tesoura sem ponta
XX Isolante térmico aluminizado
(manta de emergência)
XX Fitas adesivas
XX Cotonetes
XX Compressas estéreis
XX Pacotinhos de açúcar: para hipoglicemia
(baixa de açúcar no sangue)
XX Pacotinhos de sal: para hipotensão
(pressão arterial baixa)
Observação: com sal e açúcar é possível fazer
soro caseiro, indicado para evitar desidratação -
em um copo de água, misture uma colher de sopa
de açúcar e uma colher de café de sal

Voltar para o topo
DURANTE A
MANIFESTAÇÃO
POSICIONAMENTO E AÇÃO
O Comitê de Proteção a Jornalistas sugere
que se pense no jornalista como se fosse um
árbitro em um campo de jogo: “Ele deve estar
suficientemente perto para observar o jogo
com precisão, mas ainda assim deve tomar
todas as precauções para evitar misturar-se
na ação”. Evite ficar encurralado ou preso en-
tre os grupos que se enfrentam, ou no meio
da multidão. Procure manter-se onde possa
ter uma visão mais ampla. Tenha uma rota de
fuga em mente, sempre. Ao chegar ao local,
antes de qualquer coisa, pense em como sair
dali em caso de emergência.
XXAo chegar ao local, faça um mapa mental,
identificando o posicionamento da Tropa

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de Choque e da Cavalaria. Estes grupos
especiais podem estar situados a uma ou
mais quadras de distância, fora da visão
dos manifestantes. É importante prever de
onde eles podem vir e em que direção cor-
rer caso haja ordem de dispersão.
XXEstejaatentoàsmudançasdeânimodama-
nifestação e mudanças de posicionamento
da polícia. Saiba interpretar os sinais do
contexto e se antecipe aos riscos. Normal-
mente, a formação da Tropa de Choque in-
dica intenção de dispersar. Anteveja a dire-
ção em que esse movimento acontecerá e
planeje seus movimentos em função disso.
XXEvite vagar aleatoriamente no meio da
massa, prefira investidas pontuais para re-
gistrar o que necessita.
XXConsidere filmar de um ponto mais distante,
nas laterais, ou no alto. Esse planejamento
pode ser feito no mapa, com imagens aéreas
ouinformaçõesobtidasporcontatosnolocal.
XXNunca recolha nada jogado durante uma

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manifestação. Pode tratar-se de um explo-
sivodefabricaçãocaseiraououtrodisposi-
tivo combustível, além de gerar suspeitas
para a polícia de que você também é um
manifestante; suspeite de todo e qualquer
material abandonado.
XXNão toque em invólucros deflagrados de
bombas lançadas pela polícia. Elas podem
estar quentes.
XXNão tome partido por nenhum dos grupos
envolvidos.
XXAo filmar abordagens policiais, evite acer-
car-se pelas costas de policiais envolvidos
nasituação.Prefiraaslaterais.Nuncatoque
policiais que tenham sacado armas – espe-
cialmente os fotógrafos, que costumam pe-
dir espaço para conseguir melhor ângulo.
Lembre-se que os envolvidos na situação
podem estar tensos e reagir de forma ines-
perada ao que considerarem uma ameaça.
XXRepórteres fotográficos e cinegrafistas de-
vem levar lentes com teleobjetiva que per-

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mitam chegar mais perto da ação sem ne-
cessitar se expor a maiores riscos.
XXTente evitar tirar muitas fotos, ou filmar por
períodosmuitolongosumaúnicapessoaou
um pequeno grupo de pessoas. Isso pode
causar uma impressão de que essa pessoa/
grupo pode estar sendo ameaçada/o.
XXSe decidir mudar de direção, peça conse-
lhos e dicas a pessoas que estejam vindo
do local para onde você está se dirigindo.
EM CASO DE AGRESSÃO
OU DETENÇÃO
XXSelhetiraremalgumobjetopessoal,incluin-
do gravações de vídeo ou anotações, de-
monstre sua inconformidade. Recorde-lhes
que é um ato de censura que está proibido
pela Constituição, mas não entre em discus-
sões acaloradas, nem toque as pessoas.
XXDependendo da situação, não é aconse-
lhável falar nada no momento. Não afron-
te pessoas em fúria e respeite o espaço de

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cada um. Observe a linguagem corporal.
Pessoas que gesticulam muito necessitam
de mais espaço livre a sua volta. O mesmo
acontece com pessoas armadas. Aceite in-
sultos e tenha paciência.
XXMantenha contato visual quando for inter-
pelado. Caso use óculos escuros, retire-os.
Olhe nos olhos do interlocutor, respire fun-
do e tente impor um ritmo pausado e calmo
à sua fala. Evite entrar em troca de acusa-
çõesouaceleraroritmodadiscussão.Mos-
tre que você não representa uma ameaça.
XXSe for preso, faça todos os esforços para
manter uma conduta profissional en-
quanto explica que é um repórter e está
informando a população; se mesmo as-
sim for mantida a detenção, cumpra as
ordens e espere uma oportunidade para
apresentar seu caso com calma diante de
uma autoridade superior.
XXGravar as conversas pode ser útil nesse
momento. Pequenos gravadores ou apli-

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cativos para smartphones podem ser uti-
lizados com cautela e servir de prova a seu
favor futuramente.
XXFale sempre a verdade e evite alterações.
Mantenha-se calmo e assuma uma pos-
tura subserviente. Lembre-se, seu único
objetivo nessa hora é sobreviver e sair
dessa situação.
XXSe for vítima de uma detenção ilegal por
membros da força pública, informe ime-
diatamente o Ministério Público ou autori-
dades municipais e as organizações de im-
prensa, e exija a presença de um delegado.
XXSe for agredido ou sofrer abuso, anote o nú-
mero de identificação ou nome do agressor e
denunciejuntoàsautoridades(polícia,Minis-
tério Público, Procuradoria), as organizações
de imprensa e aos superiores do agressor.
XXCaso seja colocado em um carro da polícia,
grite seu nome e o nome de seu veículo de
comunicação para que a informação sobre
sua detenção circule.

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XXConsidere a possibilidade de usar capacete
e colete,comidentificaçãodeIMPRENSA,de
acordocomaanálisederiscofeitanafasede
planejamento. Se você é correspondente es-
trangeiroepossuiseupróprioequipamento,
lembre-se que palavrascomo PRESSe PREN-
SA podem não fazer sentido para pessoas
que não conheçam inglês e espanhol.
XXCaso a sua empresa não forneça estes
equipamentos e você tenha de improvisar,
preste atenção nestas orientações:
ROUPAS
XXUse roupas confortáveis e de fibra natural.
XXAs roupas impermeáveis ajudam a prote-
ger a pele dos efeitos do gás lacrimogêneo,
mas, por outro lado, são inflamáveis em si-
EQUIPAMENTOS
DE SEGURANÇA E
PROTEÇÃO

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tuações nas quais haja uso de material in-
cendiário, como molotovs. Avalie o contex-
to e tome decisões em função dos fatos.
XXO mesmo vale para casacos de chuva ou te-
cidos à prova d’água – lavados com sabão
neutro, protegem contra agentes químicos
(ao contrário do cotton ou algodão).
XXLeve uma roupa extra na mochila para tro-
car, caso seja atingido pelo gás ou água,
principalmente em locais de clima frio. A
roupa atingida pelo gás fica contaminada,
por isso guarde-a numa sacola à parte, de
preferência de plástico, bem fechada.
XXNão use brincos, piercings, colares ou gra-
vatas que possam ser arrancados ou pro-
vocar estrangulamento.
XXNãouseroupasdecoressemelhantes àsde
manifestantes ou das forças de segurança.
CABELOS
XXCubra com boné, capacete, touca ou saco-
la, se possível à prova d’água.

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XXCabelos compridos devem ser mantidos
presos, para evitar maior área de contami-
nação por gases ou que sejam agarrados e
enrosquem em cercas ou pregos.
PELE
XXNão passe na pele: vaselina, detergente,
hidratantes, maquiagem, protetor solar
que contém óleo ou qualquer produto áci-
do que pode provocar reações fortes.
XXA reação aos efeitos químicos dos gases
será maior se houver alguma irritação na
pele, como acne ou irritações severas.
XXChuva e suor aumentam a sensação de
queimação provocada pelo gás na pele.
OLHOS
XXNão use lentes de contato. Elasretêm o gás
lacrimogêneo; caso isso ocorra, a desinto-
xicação dos materiais deve ser feita com
água abundante e corrente.
XXUsebandanaselençosembebidosemágua

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e toalhas úmidas para diminuir a inalação
dos gases e agentes químicos enquanto
deixa o local contaminado; não esfregue
nada contra o rosto - isso ativa ainda mais
os elementos do gás.
XXNão há comprovação científica de que o
vinagre neutraliza os efeitos dos gases.
Ele causa apenas uma sensação de alí-
vio momentânea. E como trata-se de um
ácido, pode provocar irritação no nariz,
boca e garganta. O ideal é usar um pano
embebido em água, que serve como um
filtro para impedir a passagem do gás,
dando tempo para que a equipe aban-
done o local. Mas lembre-se de que é
uma solução improvisada. Existem más-
caras à venda no mercado, semelhantes
às usadas pelas forças policiais, que
oferecem cobertura para os olhos, com
filtros. Em linhas gerais, máscaras pró-
prias para trabalhar com amônia funcio-
nam contra o gás lacrimogêneo.

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XXEvite tentar proteger apenas os olhos com
máscaras de natação ou de pintor. O ideal é
uma máscara para proteção com carvão ati-
vado.Seusá-las,combinecomasoluçãodes-
crita acima para nariz e boca. A máscara de
natação cobre apenas os olhos, deixando o
nariz descoberto. A pessoa vai começar a la-
crimejar, a lente vai embaçar devido ao suor
eàtensão,erapidamenteseráprecisotirá-la.
Máscara de pintor deixa os olhos desprotegi-
dos. Com a sufocação provocada pelos agen-
tesquímicos,atendênciaétirá-larapidamen-
tetambém.Seaconcentraçãodogásforbaixa,
o jornalista pode usá-las apenas para ganhar
algum tempo até sair da área contaminada.
PÉS
XXUse sapatos confortáveis, com solas anti-
derrapantes e que permitam correr e cami-
nhar por longos períodos.
XXExistem calçados que garantem uma pro-
teção maior aos dedos; são praticamente

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comocoturnos,mascomdesigndetênis,ge-
ralmente de couro (usados por profissionais
que precisam de segurança no trabalho).
XXTenha especial cuidado ao circular por
áreas onde haja barricadas em chamas,
destroços, vidros quebrados e outros ma-
teriais que possam varar a sola do tênis.

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TIROS DE BALA DE
BORRACHA
Não tente se aproximar, argumentar ou impe-
dir os disparos. Prefira sair do alcance dos ti-
ros o mais rápido possível e de forma segura.
A tendência da polícia é disparar na altura da
cintura para baixo, então a orientação é sair
do campo de ação, protegendo o rosto com os
braços e a lateral do corpo. Não superestime a
proteção do colete e do capacete, caso esteja
usando, porque as balas provocam ferimentos
em qualquer parte do corpo que, dependendo
da distância do disparo, podem ser graves. Na
primeiraoportunidade,procureumabrigo.Não
érecomendáveldeitarousentar,porque,neste
caso, o rosto ficará no ângulo do disparo.
SITUAÇÕES
ESPECÍFICAS

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SPRAY DE PIMENTA OU
GÁS LACRIMOGÊNEO
XXProcure afastar-se da área contaminada
pela substância o mais rápido possível,
mantendo a cabeça alta e sem esfregar
o rosto. Fique calmo, concentrado e ten-
te cadenciar a respiração. O pânico, a
hiperventilação e a transpiração fazem
os poros se abrir e aumentam a irritação
da pele. Acalme-se. Saiba que o efeito é
passageiro. Tente não sentar ou deitar
na área contaminada, já que os gases se
concentram em locais mais baixos.
XXPara limpar os resíduos do gás, vire a cabe-
ça lateralmente, jogue água corrente abun-
dante e deixe-a escorrer do olho para fora,
em um olho de cada vez; cuidado para que
a água escorra em direção ao chão, e não
contamine a pele, roupas ou cabelos. Esta
técnica funciona apenas caso exista água
corrente e abundante no local. Do contrário,
pouca água criará apenas mais irritação.

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XXAssoe o nariz e cuspa, isto ajudará a elimi-
nar os químicos.
XXSe sua pele tiver sido molhada com spray
de pimenta, limpe-a com roupa que não foi
contaminada. Se você espalhar o óleo quí-
mico pela pele, aumentará a dor.
XXParasedescontaminar,tomeumbanhofrioe
demorado;issovaimanterosporosfechados
e evitar que os químicos entrem pela pele.
XXColoque as roupas contaminadas numa
sacola e tire todo o ar. Depois, deixe a
roupa contaminada em local aberto,
para arejar; se você entrar em uma sala
com roupas, cabelo e pele contaminados
por químicos, você irá contaminar toda
a sala. Lave-a separadamente de outras
roupas não contaminadas, com água e
sabão. Se possível, troque de roupa an-
tes de entrar em locais fechados.
Observação: Dias chuvosos ou muito úmidos
favorecem a concentração do gás em zonas
baixas tornando seus efeitos ainda mais in-

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cômodos e persistentes. Procure sempre lo-
cais elevados e ventilados.
EMCASODECRISEDEPÂNICO
XXRespire lentamente pelo nariz, retenha o
ar e solte, repetindo mais de uma vez.
XXRepita para si mesmo: tudo vai ficar bem,
os sintomasvão passar, os efeitos são des-
confortáveis mas passageiros.
XXConverse, peça ajuda, afaste-se do foco de
tumulto e reavalie a situação.

Voltar para o topo
O Corpo de Bombeiros está treinado para
prestar os socorros de urgência com paramé-
dicos, enfermeiros e técnicos. Em geral, em
grandes manifestações, um carro dos Bom-
beiros fica próximo ao local e pode ser procu-
rado para os primeiros socorros. Nas Tropas
de Choque há um policial também capacita-
do para fazer este atendimento.
Pequenos procedimentos podem salvar vidas,
mas procedimentos errados podem causar da-
nos irreparáveis. Por isso é importante que as
empresas ofereçam treinamento com pessoal
especializado, como médicose paramédicos. E
que a equipe, na fase de planejamento, iden-
tifique hospitais e clínicas próximas ao local e
conheça o caminho até eles. Caso o motorista
seja o ferido, outro integrante da equipe deve
PRIMEIROS
SOCORROS

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estar preparado para realizar a evacuação (diri-
gir o carro, operar o GPS e chegar ao hospital).
SE FOR PRESTAR
AUXÍLIO A ALGUÉM
XXOlhe bem ao redor e certifique-se de que,
ao ajudar alguém, você não estará sujeito
a ferimentos também. Isso é muito comum
em situações nas quais o tráfego está ape-
nas parcialmente bloqueado.
XXExplique à pessoa ferida o que você fará,
antes de fazer.
XXSe possível, use luvas limpas, para evitar
contaminarasduaspartes,eproteçãopara
os olhos.
Em caso de ter de auxiliar alguém ferido, che-
que as funçõesvitais: consciência, circulação
e respiração.
CONSCIÊNCIA
Sabe-se que uma pessoa está inconsciente
porque não atende quando se fala com ela,

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não tem reflexos nem responde a estímulos,
como um aperto de mão ou um beliscão.
Se for comprovado que está inconsciente, co-
loque-a deitada de lado, para evitar que se en-
gasguecomalínguaouseasfixiecomovômito.
Certifique-se de que a pessoa não se engasga-
rá com chicletes, balas, dentaduras ou qualquer
outroobjetoqueestejanaboca.Passeodedoin-
dicador pela língua e gengivas em forma de an-
zol, caso precise desobstruir a passagem de ar.
CIRCULAÇÃO
XXTomaropulsonopescoço(regiãodacarótida).
XXObservar se está sangrando.
XXIdentificar onde está o ferimento.
XXFazer pressão sobre a hemorragia.
XXPedir ajuda para evacuação.
RESPIRAÇÃO
Uma pessoa que respira mal apresenta suor
intenso, extremidades (dedos das mãos,
boca, nariz) azuis e tentativas desesperadas

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de pegar ar. Afrouxe sua roupa; limpe a boca
e a garganta com um dedo em gancho; ponha
uma mão na nuca e outra na frente, e acomo-
de a cabeça com cuidado para trás.
O QUE FAZER:
XXSANGRAMENTONASAL:Pinçaronarizcomo
polegar e o indicador, logo abaixo do osso,
na cartilagem, manter a cabeça em posição
elevada, olhando para cima, e segurar por
10 minutos. Se continuar sangrando, enfie
um pedaço de algodão ou pano no nariz e
continueopinçamentopormais10minutos.
XXCORTES: Fazer compressão direta sobre a
hemorragia com um pano limpo, elevando
o membro ferido num nível mais alto que o
do coração.
XXOBJETO TRANSFIXADO: Mantê-lo fixo co-
locando algum pano em volta; colocar um
objeto leve tapando o que está transfixa-
do; prender com uma fita; pôr um pano em
cima e prender com uma faixa.

Voltar para o topo
Imediatamente após a manifestação e o en-
cerramento de seu trabalho de campo, confi-
ra todo o material e pessoal.Verifique se algo
foi perdido ou danificado antesde abandonar
o local e as condições de sua equipe.
Entre em contato com a redação e faça um
breve resumo de tudo.
Na primeira oportunidade, solicite relatório
do máximo de pessoas possível e explore os
seguintes aspectos:
1.	O que foi planejado
2.	O que foi executado
3.	O que deu certo
4.	O que deu errado
5.	O que você faria diferente
6.	Lições aprendidas para todos da empresa
XXSe possível, elabore um relatório detalha-
APÓS A
MANIFESTAÇÃO

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do com imagens para que sirva de material
de consulta futuramente.
DEPOIS DA AGRESSÃO:
ESTRESSEPÓS-TRAUMÁTICO
A pessoa pode apresentar ansiedade, hiper-
vigilância, desconexão com a realidade, in-
sônia, irritabilidade, distúrbios gastrointes-
tinais, falta de apetite ou excesso de ingestão
de alimentos, álcool, drogas, assim como cri-
ses de choro ou sensação de culpa em rela-
ção a ferimentos ou mortes presenciadas na
cobertura. Nestes casos:
XXConversecompessoaspróximas.Mesmoque
não tenha vontade, tente relatar o que viveu.
XXBusque ajuda profissional. Não tenha ver-
gonha, a ajuda é determinante para recu-
perar a estabilidade emocional.
XXEvite o consumo de álcool ou substâncias
psicoativas.
XXFaça exercícios, tire um tempo para des-
cansar, procure relaxar, mantenha-se ro-

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deado de amigos e familiares.
AOS FAMILIARES, AMIGOS
E COLEGAS DE TRABALHO
XXIncentive a pessoa a falar de sua experiên-
cia, esteja atento e disponível a escutar.
XXQuando ela falar, escute-a, sem fazer jul-
gamentos.
XXDê tempo aos silêncios, tenha paciência e
não interrompa.
XXNão se apresse em corrigir, dar respostas
ou retrucar o que esteja sendo dito.
ÀS EMPRESAS
XXEstejam atentas a identificar profissionais
afetados pessoalmente por experiências
traumáticas.
XXIncentivem jornalistas com cargo de che-
fia e colegas mais experientes a conversar
com repórteres mais jovens que tenham
passado por essas situações.
XXConcedam licenças médicas quando ne-

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cessárias ou discutam com as equipes es-
calas que favoreçam o descanso depois de
experiências traumáticas.
XXInvistam na compra de materiais de prote-
ção individual e na capacitação dos funcio-
nários envolvidos neste tipo de cobertura.
XXTenham planos de saúde e seguro de vida,
especialmente para profissionais que co-
brem situações de risco.

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FONTES:
XX Survival Guide for Journalists - (IFJ), 2014
XX Manual de Autoprotección para Periodistas - Fundación
para Libertad de Prensa (FLIP), 2013
XX Manual de Segurança para Jornalistas - Comitê para
Proteção de Jornalistas (CPJ), 2012
XX Mapa de Riscos para Jornalistas - Sociedade Interameri-
cana de Imprensa (SIP), 2006
XX ManualdoCentrodeMídiaIndependente(CMIBrasil),2001
AGRADECIMENTOS
XX Amilton Fernando Barbosa Moleta - Tenente Coronel de
Infantaria da Divisão de Avaliação do Centro Conjunto
de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB)
XX CláudiodosSantosFeoli-MajorespecialistanaáreadeCon-
trole de Distúrbiosda Brigada Militar do Rio Grande do Sul
XX EricMeierJúnior-CoroneldaPolíciaMilitardoDistritoFederal
XX Departamento Jurídico da Federação Nacional de Jorna-
listas (FENAJ)
E a todos os repórteres, editores, produtores, comunica-
dores que colaboraram preenchendo o questionário e for-
necendo informações através de entrevistas.
EXPEDIENTE
Pesquisa e redação: Clarinha Glock
Edição: João Paulo Charleaux
Projeto gráfico e diagramação: Bob Nogueira

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DIRETORIA DA ABRAJI:
Presidente
José Roberto de Toledo
Vice-Presidente
Thiago Herdy
Diretores
Alana Rizzo • Claudio Tognolli • Fernando Molica
Ivana Moreira • James Alberti • Maiá Menezes
Mauri König • Paulo Oliveira • Vladimir Netto
Conselho Fiscal
BrunoBoghossian • DanielaArbex • MarceloTräsel
Secretário-executivo
Guilherme Alpendre
Gerente-executiva
Marina Iemini Atoji

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Manual de conduta e reportagem ensina como cobrir um protesto com segurança

  • 2. NOTA Este é um manual puramente indicativo, que contém “dicas” de segurança. Foi elaborado com base em protocolos internacionais e em entre- vistas com repórteres agredidos, hostilizados ou presos em protestos recentes no Brasil. As “di- cas” devem ser lidas como quem ouve colegas que passaram por situações semelhantes às que o repórter pode vir a enfrentar – mas sempre de- ve-se ter em mente que não há regras universais que valem para todas as situações. Este manual pode até ajudar o repórter a diminuir sua exposi- ção ao risco, mas jamais vai eliminá-lo. Este ma- nual, portanto, não substitui o bom senso e nem esgota as situações de risco. Cada um é, em últi- ma análise, responsável por suas decisões e ati- tudes, que devem se adaptar às circunstâncias de cada situação. Por isso, a primeira e principal decisão do repórter é se ele se sente apto a acei- tar a pauta que lhe deram.
  • 3. SUMÁRIO INTRODUÇÃO O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO? ANTES DE PARTIR: ANÁLISE DE RISCO KIT DE PRIMEIROS SOCORROS DURANTE A MANIFESTAÇÃO EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO SITUAÇÕES ESPECÍFICAS PRIMEIROS SOCORROS APÓS A MANIFESTAÇÃO
  • 4. INTRODUÇÃO A cobertura de manifestações de rua envolve riscos para os quais os jornalistas devem es- tar preparados. Conhecimento, experiência e planejamento podem ajudar a evitar estes riscos. Por isso, a Abraji (Associação Brasilei- ra de Jornalismo Investigativo) elaborou um guia conciso, com dicas e relatos de profis- sionais que viveram incidentes de segurança enquanto cobriam protestos. Entre maio de 2013 e maio de 2014, houve pelo menos 171 casos de violações contra co- municadores que cobriam protestos de rua. Desse total, 112 foram agressões, detenções ou hostilidade cometidas intencionalmente – ou seja, o agressor mirou o jornalista que estava identificado como tal. Uma análise desses 112 casos mostra que policiais, guar- das-civis e seguranças respondem por 77,7% dos ataques, enquanto manifestantes agri- dem e hostilizam em 22,3% dos casos. No universo total de 171 violações intencionais e
  • 5. não intencionais, São Paulo foi a cidade com mais ocorrências (70), seguida do Rio de Ja- neiro (30) e de Brasília (16). Neste período, houve registro de violência em 16 cidades. Aprendendo com a prática: relatos de agressões e arbitrariedades Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, morreu nodia10defevereirode2014,emdecorrência de um incidente ocorrido quatro dias antes, quando registrava imagens do choque entre a Polícia Militar e manifestantes, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ele trabalhava na TV Bandeirantes desde 2004. Profissional ex- periente, havia participado de cursos de pre- venção de riscos em coberturas de conflitos armados. Santiago Andrade vinha de cobrir uma outra pauta, quando foi chamado para gravar imagens da manifestação contra o au- mento das passagens de ônibus no centro do Rio. Atuava como motorista e cinegrafista, e trabalhava sem auxiliar ou repórter naquele
  • 6. dia. Enquanto fazia seu trabalho, com a aten- ção totalmente focada na lente da câmera, foi atingido pelas costas por um rojão disparado por um manifestante. A morte do cinegrafista foi, até agora, o inci- dente mais grave envolvendo os protestos e a imprensa. Fotógrafos e operadores de câ- mera, como Santiago Andrade, correm riscos adicionais por manejar equipamentos pesa- dos e manter a atenção focada na captação das cenas, enquanto as condições de segu- rança mudam rapidamente ao seu redor. Para estes profissionais, o trabalho em equipe é ainda mais importante, uma vez que não po- dem voltar a atenção, ao mesmo tempo, para dois ou mais lugares diferentes. Um repórter cinematográfico do Ceará, por exemplo, se colocou em situação de vulnera- bilidade durante a cobertura de um protesto. Não houve planejamento prévio nem distri- buição de funções entre os três membros da equipe. Além de gravar, ele mesmo exercia
  • 7. a função de motorista e foi escalado sem sa- ber que estava indo para uma manifestação. Nenhum membro da equipe possuía equipa- mentos de proteção pessoal. Comportamentos imprudentes aumentam o risco. Mas mesmo quando medidas de pre- caução são tomadas, a cobertura de protes- tos continua sendo perigosa. Em São Paulo, um repórter fotográfico ficou cego de um olho após ser atingido por uma bala de borracha disparadaporpoliciais,emjunhode2013.Ele considera que é preciso ir além da discussão da proteção do jornalista e dizque problemas estruturais impactam na falta de segurança. No auge dos protestos, ele lembra, grandes jornais publicaram editoriais cobrando uma ação mais enérgica da polícia, mesmo quan- do já se temia por consequênciasmaisgraves destasaçõestruculentas.Porisso,eledizque é preciso que a imprensa rediscuta a própria pauta da violência e o seu papel nesta pauta. “É importante ter equipamento de seguran-
  • 8. ça, mas não é o principal”, observou. A partir do incidente, ele mesmo passou a militar por uma melhor regulação das munições menos letais usadas pela polícia. O temor e a desconfiança em relação à polí- cia é um traço constante nos relatos. “Temos de andar sempre juntos. A polícia tende a ser mais agressiva quando pega um jornalista sozinho”, constatou uma jornalista freelan- ce que foi cercada por policiais numa marcha pela educação em outubro de 2013, na Praça da República, em São Paulo. Em fevereiro de 2014, no Rio de Janeiro, um repórter que cobria a manifestação contra o aumento das passagens na Central do Bra- sil foi agredido com cassetete por PMs. “Eu me encostei na parede, levantei as mãos e me identifiquei como jornalista quando vi alguns policiais chegarem perto de mim. Le- vava um bloco de anotações em uma mão e uma caneta na outra. Fui atingido duas ve- zes na perna direita pelos cassetetes de dois
  • 9. policiais militares. Um dos golpes quebrou a tela do meu celular, que estava no bolso da calça”, descreveu. Freelancer, não usava cra- chá, mas tinha um capacete com o símbolo da empresa. “Como a ação intempestiva da polícia desencadeou um caos generalizado, todos os pontos dentro e fora da Central aca- baram se tornando inseguros, o que inviabi- lizou qualquer plano prévio. Mantive contato com o fotógrafo e colegas de outros veícu- los por celular, e julgo que isso foi útil para tornar a nossa saída do local minimamente mais segura”, acrescentou. “Prestei queixa na Polícia Civil e fiz exame de corpo de deli- to, mas como os policiais usavam máscaras e não traziam identificação aparente, ficou im- possível identificá-los”, disse. Outro repórter do Rio conta que foi atacado por PMs quando caminhava na direção da Candelária, voltando de uma manifestação na Prefeitura. “Os policiais estavam atirando com balas de borracha, e não havia como dis-
  • 10. persar, porque não havia ruas transversais. Procureiabrigodentrodeumrestaurantepara me afastar da multidão e esperar o tumulto passar. Foi quando policiais arriaram a porta e jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo. Pensei que ia me asfixiar. Muita gente pas- sou mal e vomitou. Eu era o único com másca- ra. Quando conseguimos abrir a porta, achei que os policiais estariam ali para nos matar. Tirei a máscara, joguei no chão. Depois que levantei e vi que não havia ninguém, conse- gui que um camelô me jogasse água na cara. Estava em estado de choque. Liguei para a redação e disse que poderia haver uma tra- gédia, era um clima de guerra. Considero que tenho uma resistência grande, mas foi o dia de maior tensão em 15 anos de jornalismo.” Alertado pela possibilidade de enfrentar nu- vens de gás lacrimogêneo na cobertura da manifestação realizada em junho de 2013 em São Paulo, e com a intenção de minimizar seus efeitos, um repórter levou vinagre na
  • 11. mochila e foi detido pela polícia. Em seu ar- tigo para a revista onde trabalha, escreveu: “Questionei algumas vezes qual lei, norma ou portaria proibiria o porte de vinagre, mas não obtive resposta. No caminho, tive a opor- tunidade de ligar para uma amiga, também jornalista, que estava indo ao ato. Disse a ela que estava sendo levado à Praça do Patriar- ca. Em seguida, continuei gravando. Foi este meu último diálogo com os policiais antes de ser colocado contra a parede de uma loja fe- chada na praça.” Mesmo repórteres que já haviam participado decoberturasperigosasepassadoporcursos de prevenção de riscos em ambientes hos- tis, sentiram-se fragilizados. “A cobertura de protestos é completamente diferente da co- bertura de narcotráfico”, disse um experien- te repórter fotográfico do Rio de Janeiro. Ele fala da ameaça representada também pe- los manifestantes hostis. “Não sabemos lidar ainda com os integrantes de movimentos so-
  • 12. ciais que não conseguem separar a figura do profissional da empresa onde esse profissio- nal trabalha”, lamentou. “Estamos aprenden- do com essa nova realidade. Valem as dicas doscursos:buscarrotasdefuga,estarsempre ligado, procurar sempre ficar com uma equi- pe porque se protege mais. Mas me preocupa que eu não possa trabalhar com uma identi- ficação de imprensa porque eles não gostam da empresa onde eu trabalho. São mil pes- soas filmando, fotografando, e xingando os policiais, que raramente conseguem identi- ficar quem é quem. Manifestantes colocam a câmera na frente do rosto e começam a gritar para que o policial os ataque, enquanto eles filmam”, completou. Outro repórter fotográfico do Rio de Janeiro declarou: “Nas primeiras manifestações, eu tentava ficar perto das zonas de confronto para fazer vídeos com o celular. Era perigo- so, porque eu ficava vulnerável não só aos manifestantes, como às forças de segurança.
  • 13. No front da batalha, o repórter é só mais um manifestante, e a chance de se machucar é grande. E nenhuma das imagens com o celu- lar ficaram aproveitáveis, só me expus a ris- co. Acho que com uma câmera é diferente.” Agressões por manifestantes também foram relatadas na frente da Prefeitura de São Pau- lo no momento da depredação do prédio, em junho de 2013. Uma repórter de televisão des- creveu assim a situação: “Eu estava gravan- do a passagem, agachei para pegar as pedras que foram utilizadas na destruição, que ain- da estavam no chão. Quando me levantei, um manifestante com o rosto coberto jogou vina- gre nos meus olhos. Eu tinha o microfone com o logotipo da empresa na mão, além de estar acompanhada de um cinegrafista e ilumina- dor. Não tinha como não ser identificada. Até aquele dia, as coberturas tinham sido calmas. Depois disso, aumentaram as agressões con- tra os jornalistas e fiquei com mais medo de ir para a rua.”
  • 14. O repórter fotográfico que cobria um protesto popular em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, para um jornal regionalimpres- so, em junho de 2013, sentiu-se abandonado pelapolícia:“Duranteoprotesto,manifestan- tes passaram a depredar o terminal rodoviá- rio. Policiais Militares que acompanhavam a manifestação não fizeram nada para impedir. Enquanto eu fotografava, fui cercado por cer- ca de 30 manifestantes que tentaram roubar meu equipamento e me agrediram com socos e pontapés. Um jornalista correu para avisar os policiais, mas eles se recusaram a entrar no terminal para conter a agressão. Só não fui roubado e ferido com gravidade graças à intervenção de colegas que estavam por per- to e me defenderam.” No Espírito Santo, a agressão aconteceu quando o repórter que fazia uma reporta- gem sobre o protesto contra as condições do transporte na cidade de Vila Velha foi surpreendido, junto com o cinegrafista, pela
  • 15. multidão que corria desesperada por causa da ação de mais de 100 homens da polícia. A PM atirava balas de borracha, bombas de gás e de efeito moral. “Em um determinado momento, nossa equipe foi atingida duas ve- zes por bombas de efeito moral. Os artefatos foram lançados de forma intencional a fim de impedir a captação de imagens no ponto em que estávamos. Nesse protesto eu também fui atingido por um disparo de bala de borra- cha na perna direita”, contou. Em Brasília, um produtor de reportagem de uma grande rede de TV usava máscara de pro- teção contra gases e mantinha contato perma- nente com outros colegas por um aplicativo de celular, na manifestação de junho de 2013. Quandoapolíciachegouparadispersarosma- nifestantes, com veículos e cães, ele informou que era jornalista. Foi orientado a se afastar. Policiais continuaram a avançar sobre os ma- nifestantes e um deles, sem identificação e de dentro de um veículo, o cobriu com spray de
  • 16. pimenta. Também em Brasília, outro repórter foi cercado por policiais com cães e atingido por gás de pimenta quando apurava a agres- são a um transeunte que reclamara da polícia. As violações ao trabalho da imprensa conti- nuaram em 2014, apesar dos protestos das entidades de classe e das empresas de comu- nicação. Um repórter de São Paulo que esta- va cobrindo a manifestação contra a Copa do Mundo, próximo à estação do metrô Anhanga- baú, em fevereiro, foi detido pela Polícia Mili- tar. “Os manifestantes estavam bem perto da polícia.Quandoaconfusãocomeçou,correram para a frente, onde eu estava. Acabei detido com sete ou oito manifestantes que tentavam escapar. Colegas de outros veículos tenta- ram argumentar com os policiais para que me soltassem. Apesar de o apelo deles não sur- tir efeito, os policiais entenderam que outros membros da imprensa estavam de olho em mim, o que me deixou maisseguro. Desde que cubro manifestações, sempre me senti segu-
  • 17. ro ao apresentar meu crachá para integrantes do Estado (bombeiros, policiais militares, po- liciais civis). Agora, sinto que devo ficar mais atento e evitar ao máximo me expor. Não que- ro ser pego no fogo cruzado novamente.” Há várias hipóteses para explicar a causa das agressões contra profissionais de comunica- ção nestes protestos. O professor Rafael Alcadipani, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, fez uma pesquisa com jovens, policiais e jornalistas durante as manifestações. Na opinião dele, houve uma mudança geral no nível de violência no Bra- sil. “As pessoas estão querendo resolver os problemas com as próprias mãos. Houve um recrudescimento das relações sociais e há uma sensação de que a polícia não resolve, a justiça não resolve, a imprensa não mostra a realidade. Hoje qualquer protesto é violento. Asaídaéfazerumnovopactopelaconstrução do Brasil e parar de buscar soluções paliati-
  • 18. vas. Infelizmente, quem faz política social no país ainda é a polícia”, analisa. A pesquisadora Esther Solano Gallego, pro- fessora do curso de Relações Internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Pau- lo), que estuda a violência ligada aos Black Blocs, acredita que a população ainda não se deu conta do risco que a sociedade corre com as agressões aos jornalistas: “A violên- cia dos Black Blocs contra os jornalistas co- meçou em agosto de 2013 focada contra os repórteres de grandes meios com os quais eles não compactuam. Inicialmente era uma agressão verbal, depois foi migrando e au- mentando o nível de tensão. Já a Polícia Mili- tar está aprendendo a lidar com as manifes- tações. A única coisa a fazer é diminuir esse clima de tensão. Sentar, conversar, mediar.”
  • 19. A polícia pode impedir o jornalista de ingressar em determinada área, ou delimitar os espaços de locomoção? O artigo 5º, parágrafo XV, da Constituição Fe- deral do Brasil diz que “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. O artigo 220 da Constituição Federal, diz: “A manifestação do pensamento, a criação, a ex- pressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer res- trição, observado o disposto nesta Constitui- ção.” Os direitos de ir e vir, e de liberdade de im- prensa, portanto, não podem ser impedidos. Mas deve haver bom senso por parte do jor- O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO?  Voltar para o topo
  • 20. nalista para não se submeter a riscos desne- cessários. A Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas nº 1738 de 2006 e a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas de 18 de novembro de 2013 condenam ataques a jornalistas em zonas de conflito e atribuem esferas de responsabilidade. O que diz a lei sobre o uso de força pelos agentes de Segurança Pública? A Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010, estabelece 25 diretrizes sobre o uso da força e armas de fogo pelos agentes de segurança pública. Entre elas es- tão: XXOusodaforçapor agentesdesegurançapú- blica deverá obedecer aos princípios da le- galidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência. XXOs agentes de segurança pública não de- verão disparar armas de fogo contra pes-  Voltar para o topo
  • 21. soas, exceto em casos de legítima defesa própria ou de terceiro contra perigo imi- nente de morte ou lesão grave. XXNão é legítimo o uso de armas de fogo con- tra pessoa em fuga que esteja desarma- da ou que, mesmo na posse de algum tipo de arma, não represente risco imediato de morte ou de lesão grave aos agentes de se- gurança pública ou terceiros. XXNãoélegítimoousodearmasdefogocontra veículo que desrespeite bloqueio policialem via pública, a não ser que o ato represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos agentes de segurança pública ou tercei- ros. XXOs chamados “disparos de advertência” não são considerados prática aceitável, por não atenderem aos princípios elencados na Diretriz n.º 2 e em razão da imprevisibilidade de seus efeitos. XXO ato de apontar arma de fogo contra pes- soas durante os procedimentos de aborda-  Voltar para o topo
  • 22. gem não deverá ser uma prática rotineira e indiscriminada. A Resolução n° 6/2013 da Secretaria de Di- reitos Humanos da Presidência da República diz que “a atuação do Poder Público deverá assegurar a proteção da vida, da incolumi- dade das pessoas e os direitos humanos de livre manifestação do pensamento e de reu- nião essenciais ao exercício da democracia”. E determina medidas de proteção para comu- nicadores: XXARTIGO 2°: Nas manifestações e eventos pú- blicos, bem como na execução de mandados judiciais de manutenção e reintegração de posse, os agentes do Poder Público devem orientar a sua atuação por meios não violen- tos. XXARTIGO 3º: Não devem ser utilizadas ar- mas de fogo em manifestações e eventos públicos, nem na execução de mandados judiciais de manutenção e reintegração de posse.  Voltar para o topo
  • 23. XXARTIGO 4º: O uso de armas de baixa letali- dade somente é aceitável quando compro- vadamentenecessáriopararesguardarain- tegridade física do agente do Poder Público ou de terceiros, ou em situações extremas em que o uso da força é comprovadamente o único meio possível de conter ações vio- lentas. XXARTIGO 5º: As atividades exercidas por repórteres, fotógrafos e demais profissio- nais de comunicação são essenciais para o efetivo respeito ao direito humano à li- berdade de expressão, no contexto de ma- nifestações e eventos públicos, bem como na cobertura da execução de mandados judiciais de manutenção e reintegração de posse. XXPARÁGRAFO ÚNICO: Os repórteres, fotó- grafos e demais profissionais de comuni- cação devem gozar de especial proteção no exercício de sua profissão, sendo veda- do qualquer óbice à sua atuação, em espe-  Voltar para o topo
  • 24. cial mediante uso da força. O coronel Eric Meier Júnior, da Polícia Militar doDistritoFederal,lembraqueosórgãospoli- ciais têm independência administrativa, por- tanto as ações são delineadas e detalhadas em cada Departamento Operacional. Caso haja desvios de conduta, abusos, violência desnecessária ou desproporcional, deve-se buscar a Corregedoria do órgão para registrar as queixas.  Voltar para o topo
  • 25. XXPlaneje com antecipação a cobertura que pretende realizar. Há alguma forma mais segura de obter as informações e imagens necessárias? Planeje o que fazer caso seja agredido, detido ou roubado. Caso conhe- ça o percurso da marcha, antecipe rotas de fuga e combine isso previamente com membros de sua equipe. XXConheça o contexto social e político que motiva os atores: que fatos recentes ante- cederam esta manifestação, qual a atitude geral em relação aos meios de comunica- ção, o que pensam sobre o meio em que você trabalha, você possui características que podem gerar algum risco adicional (como o fato de ser mulher, num contex- to que envolva risco de violência sexual), ANTES DE PARTIR: ANÁLISE DE RISCO  Voltar para o topo
  • 26. existem grupos com antecedentes de vio- lência contra jornalistas? XXAntes de ir para o local, visualize em GPS ou nainternetoterrenoondesedaráoprotesto, identificando delegacias, locais de abrigo, rotas de fuga, sentido das ruas, locais ele- vados para boas imagens, ruas sem saída, bloqueios, hospitais e locais de referência para reorganização em caso de dispersão. XXCalcule quanto tempo você e sua equipe precisam estar no ambiente para conse- guir o que precisam. XXConheça a previsão do tempo para o perío- do de cobertura. Se for o caso, leve capa impermeável. Em alguns locais, a tempe- ratura cai à noite. Previna-se. Preservati- vos podem ser usados para guardar car- tões de memória de máquinas fotográficas em caso de chuva torrencial ou de uso de canhões de água por parte da polícia. XXMantenhaumalinhadecomunicaçãoperma- nentecomasaladeredação.Combineconta-  Voltar para o topo
  • 27. tosperiódicosacertointervalodetempo,por meio de mensagensde texto pré-definidase, se preciso, codificadas, tais como “Pneu fu- rado”, equivalendo à mensagem real: “Fo- mosdetidos”. Podem ser criadasdezenasde mensagens para todas as hipóteses levanta- dasduranteafasedeplanejamento,associa- das a uma tabela com cópia na redação. XXGrave em seu telefone mais de um número de discagemdiretaemcasodeemergência.Insira a letra “A” no início do nome destes contatos, parasituá-losnotopodaagenda.Levebateria reserva para o celular. Reduza o brilho da tela e desabilite dispositivos desnecessários que consumam energia excessiva do aparelho. Prefira aparelhos que comportem dois chips. Use chipsde duasoperadorasdiferentes. XXRepórteres fotográficos e cinegrafistas de- vemserauxiliadospelorepórterouassisten- te,poiselesestarãofocadosnoseutrabalho de colher imagens. Deve haver alguém com visão ampliada e de todo o cenário, preocu-  Voltar para o topo
  • 28. pado com a segurança da equipe. Combine previamente a distribuição destas funções. XXCasocontecomummotorista,certifique-sede que ele conheça o local, seja capaz de prever rotas de fuga, esteja sempre comunicável e nãodeixeocarropresoemvagasinacessíveis. XXSe você tem asma, problemas respiratórios ou infecciosos, está grávida, tem imunida- de baixa, infecção nos olhos, usa lentes de contato e não tem óculos, evite engajar-se em coberturas deste tipo. Assegure-se de que está fisicamente capacitado para reali- zar a tarefa: você tem condições de correr? XXAssegure-se de que, em caso de que algu- ma coisa lhe aconteça, você e sua família estarão amparados com cobertura médi- ca e de seguro. XXUse identificação visível à distância se considerar que isso representa maior pro- teção. Esconda a identificação e mimetize- se com as pessoas ao redor, se for o caso. Saiba ler o contexto e o ânimo dos atores  Voltar para o topo
  • 29. em relação à imprensa. Combine previa- mente estes procedimentos com a equipe. XXMantenhaodinheiroemdiferenteslugaresda roupaeemcarteiraadicional,separadoempe- quenasquantias,emlocalimpermeabilizado. VEÍCULOS XXReviseascondiçõesdeseuveículo:verifique sempre, antes de sair, se tem o extintor de incêndio do veículo válido e, mais importan- te ainda, saiba como acessá-lo e utilizá-lo. XXOs motoristas devem estar alertas. Veículos de imprensa têm sido alvos de interesse de manifestanteshostis.Leveemconsideração as regras da sua empresa e discuta com a equipe se é melhor o motorista ficar fora do veículo, em contato visual com o mesmo, ou dentro dele, com a chave na ignição, pronto para sair rapidamente se for necessário. XXDepois de estacionar, o motorista deve con- tinuar atento e vigilante sobre as mudanças no ânimo da massa e as alterações das con-  Voltar para o topo
  • 30. diçõesdesegurançaaoredor.Senecessário, podeconsiderarmudaroveículodeposição, para evitar estar cercado, e deve certificar-se de que a equipe que participa da cobertura esteja informada do novo posicionamento. XXUma chave reserva do carro deve ser pro- videnciada e ficar de posse de outro inte- grante da equipe, diferente do motorista, também habilitado para dirigir. XXAcúmulos de função, como um motorista/ cinegrafista, aumentam os riscos para os profissionais. KIT BÁSICO PARA MOCHILA XXUse uma mochila leve, fácil de abrir e fe- char e que se prenda bem ao corpo, facili- tando seu deslocamento. XXLeve água potável e alimentos energéticos para o caso de a cobertura se estender. Se- pare os alimentos em pequenas porções. Você pode ter de manejá-los enquanto ca- minha por muito tempo.  Voltar para o topo
  • 31. XXSaiba ativar a função de lanterna do seu celular. Caso não possua essa função, bai- xe o aplicativo ou carregue uma pequena lanterna consigo. XXCaso não conheça o local, um mapa pode ser útil. O GPS – tanto do carro quanto de celular-também.Saibacomooperá-lo,tes- te antes e familiarize-se com suas funções. Você também pode, previamente, marcar no mapa pontos de interesse, como áreas elevadas para captação de imagem, hospi- tais, delegacias e rotas de fuga. XXEquipes de televisão devem preferir equi- pamentos leves, que possam ser facilmen- te carregados. Esteja preparado para deixá -losparatrás,seprecisarsairrapidamente. XXUtilize uma pulseira ou uma placa de aler- ta médico indicando seu tipo sanguíneo ou qualquer condição médica especial ou de alergia.  Voltar para o topo
  • 32. PESSOAL (PARA MOCHILA): XXBactericida XXCompressas de gaze esterilizadas (mínimo de 1 pacote com 10 unidades) XXAtadura de crepe (mínimo de 1 pacote com 4,5 X 10 cm) XXEsparadrapo (3 m X 2 cm) XXLuvas de procedimento (1 par) XXAnti-histamínico (antialérgico) (4 comprimidos) XXAnalgésico (4 comprimidos) XXAntidiarreico (4 comprimidos) XXPinça XXTesoura XXProtetor solar KIT DE PRIMEIROS SOCORROS  Voltar para o topo
  • 33. PARA O VEÍCULO: XX Luvas de procedimento XX Esparadrapo XX Ataduras de crepe XX Curativos adesivos (para cortes e arranhões) XX Gazes absorventes XX MáscaradeReanimaçãoCardiopulmonar(RCP) XX Sabonete bactericida XX Antisséptico XX Álcool gel XX Pinça XX Tesoura sem ponta XX Isolante térmico aluminizado (manta de emergência) XX Fitas adesivas XX Cotonetes XX Compressas estéreis XX Pacotinhos de açúcar: para hipoglicemia (baixa de açúcar no sangue) XX Pacotinhos de sal: para hipotensão (pressão arterial baixa) Observação: com sal e açúcar é possível fazer soro caseiro, indicado para evitar desidratação - em um copo de água, misture uma colher de sopa de açúcar e uma colher de café de sal  Voltar para o topo
  • 34. DURANTE A MANIFESTAÇÃO POSICIONAMENTO E AÇÃO O Comitê de Proteção a Jornalistas sugere que se pense no jornalista como se fosse um árbitro em um campo de jogo: “Ele deve estar suficientemente perto para observar o jogo com precisão, mas ainda assim deve tomar todas as precauções para evitar misturar-se na ação”. Evite ficar encurralado ou preso en- tre os grupos que se enfrentam, ou no meio da multidão. Procure manter-se onde possa ter uma visão mais ampla. Tenha uma rota de fuga em mente, sempre. Ao chegar ao local, antes de qualquer coisa, pense em como sair dali em caso de emergência. XXAo chegar ao local, faça um mapa mental, identificando o posicionamento da Tropa  Voltar para o topo
  • 35. de Choque e da Cavalaria. Estes grupos especiais podem estar situados a uma ou mais quadras de distância, fora da visão dos manifestantes. É importante prever de onde eles podem vir e em que direção cor- rer caso haja ordem de dispersão. XXEstejaatentoàsmudançasdeânimodama- nifestação e mudanças de posicionamento da polícia. Saiba interpretar os sinais do contexto e se antecipe aos riscos. Normal- mente, a formação da Tropa de Choque in- dica intenção de dispersar. Anteveja a dire- ção em que esse movimento acontecerá e planeje seus movimentos em função disso. XXEvite vagar aleatoriamente no meio da massa, prefira investidas pontuais para re- gistrar o que necessita. XXConsidere filmar de um ponto mais distante, nas laterais, ou no alto. Esse planejamento pode ser feito no mapa, com imagens aéreas ouinformaçõesobtidasporcontatosnolocal. XXNunca recolha nada jogado durante uma  Voltar para o topo
  • 36. manifestação. Pode tratar-se de um explo- sivodefabricaçãocaseiraououtrodisposi- tivo combustível, além de gerar suspeitas para a polícia de que você também é um manifestante; suspeite de todo e qualquer material abandonado. XXNão toque em invólucros deflagrados de bombas lançadas pela polícia. Elas podem estar quentes. XXNão tome partido por nenhum dos grupos envolvidos. XXAo filmar abordagens policiais, evite acer- car-se pelas costas de policiais envolvidos nasituação.Prefiraaslaterais.Nuncatoque policiais que tenham sacado armas – espe- cialmente os fotógrafos, que costumam pe- dir espaço para conseguir melhor ângulo. Lembre-se que os envolvidos na situação podem estar tensos e reagir de forma ines- perada ao que considerarem uma ameaça. XXRepórteres fotográficos e cinegrafistas de- vem levar lentes com teleobjetiva que per-  Voltar para o topo
  • 37. mitam chegar mais perto da ação sem ne- cessitar se expor a maiores riscos. XXTente evitar tirar muitas fotos, ou filmar por períodosmuitolongosumaúnicapessoaou um pequeno grupo de pessoas. Isso pode causar uma impressão de que essa pessoa/ grupo pode estar sendo ameaçada/o. XXSe decidir mudar de direção, peça conse- lhos e dicas a pessoas que estejam vindo do local para onde você está se dirigindo. EM CASO DE AGRESSÃO OU DETENÇÃO XXSelhetiraremalgumobjetopessoal,incluin- do gravações de vídeo ou anotações, de- monstre sua inconformidade. Recorde-lhes que é um ato de censura que está proibido pela Constituição, mas não entre em discus- sões acaloradas, nem toque as pessoas. XXDependendo da situação, não é aconse- lhável falar nada no momento. Não afron- te pessoas em fúria e respeite o espaço de  Voltar para o topo
  • 38. cada um. Observe a linguagem corporal. Pessoas que gesticulam muito necessitam de mais espaço livre a sua volta. O mesmo acontece com pessoas armadas. Aceite in- sultos e tenha paciência. XXMantenha contato visual quando for inter- pelado. Caso use óculos escuros, retire-os. Olhe nos olhos do interlocutor, respire fun- do e tente impor um ritmo pausado e calmo à sua fala. Evite entrar em troca de acusa- çõesouaceleraroritmodadiscussão.Mos- tre que você não representa uma ameaça. XXSe for preso, faça todos os esforços para manter uma conduta profissional en- quanto explica que é um repórter e está informando a população; se mesmo as- sim for mantida a detenção, cumpra as ordens e espere uma oportunidade para apresentar seu caso com calma diante de uma autoridade superior. XXGravar as conversas pode ser útil nesse momento. Pequenos gravadores ou apli-  Voltar para o topo
  • 39. cativos para smartphones podem ser uti- lizados com cautela e servir de prova a seu favor futuramente. XXFale sempre a verdade e evite alterações. Mantenha-se calmo e assuma uma pos- tura subserviente. Lembre-se, seu único objetivo nessa hora é sobreviver e sair dessa situação. XXSe for vítima de uma detenção ilegal por membros da força pública, informe ime- diatamente o Ministério Público ou autori- dades municipais e as organizações de im- prensa, e exija a presença de um delegado. XXSe for agredido ou sofrer abuso, anote o nú- mero de identificação ou nome do agressor e denunciejuntoàsautoridades(polícia,Minis- tério Público, Procuradoria), as organizações de imprensa e aos superiores do agressor. XXCaso seja colocado em um carro da polícia, grite seu nome e o nome de seu veículo de comunicação para que a informação sobre sua detenção circule.  Voltar para o topo
  • 40. XXConsidere a possibilidade de usar capacete e colete,comidentificaçãodeIMPRENSA,de acordocomaanálisederiscofeitanafasede planejamento. Se você é correspondente es- trangeiroepossuiseupróprioequipamento, lembre-se que palavrascomo PRESSe PREN- SA podem não fazer sentido para pessoas que não conheçam inglês e espanhol. XXCaso a sua empresa não forneça estes equipamentos e você tenha de improvisar, preste atenção nestas orientações: ROUPAS XXUse roupas confortáveis e de fibra natural. XXAs roupas impermeáveis ajudam a prote- ger a pele dos efeitos do gás lacrimogêneo, mas, por outro lado, são inflamáveis em si- EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO  Voltar para o topo
  • 41. tuações nas quais haja uso de material in- cendiário, como molotovs. Avalie o contex- to e tome decisões em função dos fatos. XXO mesmo vale para casacos de chuva ou te- cidos à prova d’água – lavados com sabão neutro, protegem contra agentes químicos (ao contrário do cotton ou algodão). XXLeve uma roupa extra na mochila para tro- car, caso seja atingido pelo gás ou água, principalmente em locais de clima frio. A roupa atingida pelo gás fica contaminada, por isso guarde-a numa sacola à parte, de preferência de plástico, bem fechada. XXNão use brincos, piercings, colares ou gra- vatas que possam ser arrancados ou pro- vocar estrangulamento. XXNãouseroupasdecoressemelhantes àsde manifestantes ou das forças de segurança. CABELOS XXCubra com boné, capacete, touca ou saco- la, se possível à prova d’água.  Voltar para o topo
  • 42. XXCabelos compridos devem ser mantidos presos, para evitar maior área de contami- nação por gases ou que sejam agarrados e enrosquem em cercas ou pregos. PELE XXNão passe na pele: vaselina, detergente, hidratantes, maquiagem, protetor solar que contém óleo ou qualquer produto áci- do que pode provocar reações fortes. XXA reação aos efeitos químicos dos gases será maior se houver alguma irritação na pele, como acne ou irritações severas. XXChuva e suor aumentam a sensação de queimação provocada pelo gás na pele. OLHOS XXNão use lentes de contato. Elasretêm o gás lacrimogêneo; caso isso ocorra, a desinto- xicação dos materiais deve ser feita com água abundante e corrente. XXUsebandanaselençosembebidosemágua  Voltar para o topo
  • 43. e toalhas úmidas para diminuir a inalação dos gases e agentes químicos enquanto deixa o local contaminado; não esfregue nada contra o rosto - isso ativa ainda mais os elementos do gás. XXNão há comprovação científica de que o vinagre neutraliza os efeitos dos gases. Ele causa apenas uma sensação de alí- vio momentânea. E como trata-se de um ácido, pode provocar irritação no nariz, boca e garganta. O ideal é usar um pano embebido em água, que serve como um filtro para impedir a passagem do gás, dando tempo para que a equipe aban- done o local. Mas lembre-se de que é uma solução improvisada. Existem más- caras à venda no mercado, semelhantes às usadas pelas forças policiais, que oferecem cobertura para os olhos, com filtros. Em linhas gerais, máscaras pró- prias para trabalhar com amônia funcio- nam contra o gás lacrimogêneo.  Voltar para o topo
  • 44. XXEvite tentar proteger apenas os olhos com máscaras de natação ou de pintor. O ideal é uma máscara para proteção com carvão ati- vado.Seusá-las,combinecomasoluçãodes- crita acima para nariz e boca. A máscara de natação cobre apenas os olhos, deixando o nariz descoberto. A pessoa vai começar a la- crimejar, a lente vai embaçar devido ao suor eàtensão,erapidamenteseráprecisotirá-la. Máscara de pintor deixa os olhos desprotegi- dos. Com a sufocação provocada pelos agen- tesquímicos,atendênciaétirá-larapidamen- tetambém.Seaconcentraçãodogásforbaixa, o jornalista pode usá-las apenas para ganhar algum tempo até sair da área contaminada. PÉS XXUse sapatos confortáveis, com solas anti- derrapantes e que permitam correr e cami- nhar por longos períodos. XXExistem calçados que garantem uma pro- teção maior aos dedos; são praticamente  Voltar para o topo
  • 45. comocoturnos,mascomdesigndetênis,ge- ralmente de couro (usados por profissionais que precisam de segurança no trabalho). XXTenha especial cuidado ao circular por áreas onde haja barricadas em chamas, destroços, vidros quebrados e outros ma- teriais que possam varar a sola do tênis.  Voltar para o topo
  • 46. TIROS DE BALA DE BORRACHA Não tente se aproximar, argumentar ou impe- dir os disparos. Prefira sair do alcance dos ti- ros o mais rápido possível e de forma segura. A tendência da polícia é disparar na altura da cintura para baixo, então a orientação é sair do campo de ação, protegendo o rosto com os braços e a lateral do corpo. Não superestime a proteção do colete e do capacete, caso esteja usando, porque as balas provocam ferimentos em qualquer parte do corpo que, dependendo da distância do disparo, podem ser graves. Na primeiraoportunidade,procureumabrigo.Não érecomendáveldeitarousentar,porque,neste caso, o rosto ficará no ângulo do disparo. SITUAÇÕES ESPECÍFICAS  Voltar para o topo
  • 47. SPRAY DE PIMENTA OU GÁS LACRIMOGÊNEO XXProcure afastar-se da área contaminada pela substância o mais rápido possível, mantendo a cabeça alta e sem esfregar o rosto. Fique calmo, concentrado e ten- te cadenciar a respiração. O pânico, a hiperventilação e a transpiração fazem os poros se abrir e aumentam a irritação da pele. Acalme-se. Saiba que o efeito é passageiro. Tente não sentar ou deitar na área contaminada, já que os gases se concentram em locais mais baixos. XXPara limpar os resíduos do gás, vire a cabe- ça lateralmente, jogue água corrente abun- dante e deixe-a escorrer do olho para fora, em um olho de cada vez; cuidado para que a água escorra em direção ao chão, e não contamine a pele, roupas ou cabelos. Esta técnica funciona apenas caso exista água corrente e abundante no local. Do contrário, pouca água criará apenas mais irritação.  Voltar para o topo
  • 48. XXAssoe o nariz e cuspa, isto ajudará a elimi- nar os químicos. XXSe sua pele tiver sido molhada com spray de pimenta, limpe-a com roupa que não foi contaminada. Se você espalhar o óleo quí- mico pela pele, aumentará a dor. XXParasedescontaminar,tomeumbanhofrioe demorado;issovaimanterosporosfechados e evitar que os químicos entrem pela pele. XXColoque as roupas contaminadas numa sacola e tire todo o ar. Depois, deixe a roupa contaminada em local aberto, para arejar; se você entrar em uma sala com roupas, cabelo e pele contaminados por químicos, você irá contaminar toda a sala. Lave-a separadamente de outras roupas não contaminadas, com água e sabão. Se possível, troque de roupa an- tes de entrar em locais fechados. Observação: Dias chuvosos ou muito úmidos favorecem a concentração do gás em zonas baixas tornando seus efeitos ainda mais in-  Voltar para o topo
  • 49. cômodos e persistentes. Procure sempre lo- cais elevados e ventilados. EMCASODECRISEDEPÂNICO XXRespire lentamente pelo nariz, retenha o ar e solte, repetindo mais de uma vez. XXRepita para si mesmo: tudo vai ficar bem, os sintomasvão passar, os efeitos são des- confortáveis mas passageiros. XXConverse, peça ajuda, afaste-se do foco de tumulto e reavalie a situação.  Voltar para o topo
  • 50. O Corpo de Bombeiros está treinado para prestar os socorros de urgência com paramé- dicos, enfermeiros e técnicos. Em geral, em grandes manifestações, um carro dos Bom- beiros fica próximo ao local e pode ser procu- rado para os primeiros socorros. Nas Tropas de Choque há um policial também capacita- do para fazer este atendimento. Pequenos procedimentos podem salvar vidas, mas procedimentos errados podem causar da- nos irreparáveis. Por isso é importante que as empresas ofereçam treinamento com pessoal especializado, como médicose paramédicos. E que a equipe, na fase de planejamento, iden- tifique hospitais e clínicas próximas ao local e conheça o caminho até eles. Caso o motorista seja o ferido, outro integrante da equipe deve PRIMEIROS SOCORROS  Voltar para o topo
  • 51. estar preparado para realizar a evacuação (diri- gir o carro, operar o GPS e chegar ao hospital). SE FOR PRESTAR AUXÍLIO A ALGUÉM XXOlhe bem ao redor e certifique-se de que, ao ajudar alguém, você não estará sujeito a ferimentos também. Isso é muito comum em situações nas quais o tráfego está ape- nas parcialmente bloqueado. XXExplique à pessoa ferida o que você fará, antes de fazer. XXSe possível, use luvas limpas, para evitar contaminarasduaspartes,eproteçãopara os olhos. Em caso de ter de auxiliar alguém ferido, che- que as funçõesvitais: consciência, circulação e respiração. CONSCIÊNCIA Sabe-se que uma pessoa está inconsciente porque não atende quando se fala com ela,  Voltar para o topo
  • 52. não tem reflexos nem responde a estímulos, como um aperto de mão ou um beliscão. Se for comprovado que está inconsciente, co- loque-a deitada de lado, para evitar que se en- gasguecomalínguaouseasfixiecomovômito. Certifique-se de que a pessoa não se engasga- rá com chicletes, balas, dentaduras ou qualquer outroobjetoqueestejanaboca.Passeodedoin- dicador pela língua e gengivas em forma de an- zol, caso precise desobstruir a passagem de ar. CIRCULAÇÃO XXTomaropulsonopescoço(regiãodacarótida). XXObservar se está sangrando. XXIdentificar onde está o ferimento. XXFazer pressão sobre a hemorragia. XXPedir ajuda para evacuação. RESPIRAÇÃO Uma pessoa que respira mal apresenta suor intenso, extremidades (dedos das mãos, boca, nariz) azuis e tentativas desesperadas  Voltar para o topo
  • 53. de pegar ar. Afrouxe sua roupa; limpe a boca e a garganta com um dedo em gancho; ponha uma mão na nuca e outra na frente, e acomo- de a cabeça com cuidado para trás. O QUE FAZER: XXSANGRAMENTONASAL:Pinçaronarizcomo polegar e o indicador, logo abaixo do osso, na cartilagem, manter a cabeça em posição elevada, olhando para cima, e segurar por 10 minutos. Se continuar sangrando, enfie um pedaço de algodão ou pano no nariz e continueopinçamentopormais10minutos. XXCORTES: Fazer compressão direta sobre a hemorragia com um pano limpo, elevando o membro ferido num nível mais alto que o do coração. XXOBJETO TRANSFIXADO: Mantê-lo fixo co- locando algum pano em volta; colocar um objeto leve tapando o que está transfixa- do; prender com uma fita; pôr um pano em cima e prender com uma faixa.  Voltar para o topo
  • 54. Imediatamente após a manifestação e o en- cerramento de seu trabalho de campo, confi- ra todo o material e pessoal.Verifique se algo foi perdido ou danificado antesde abandonar o local e as condições de sua equipe. Entre em contato com a redação e faça um breve resumo de tudo. Na primeira oportunidade, solicite relatório do máximo de pessoas possível e explore os seguintes aspectos: 1. O que foi planejado 2. O que foi executado 3. O que deu certo 4. O que deu errado 5. O que você faria diferente 6. Lições aprendidas para todos da empresa XXSe possível, elabore um relatório detalha- APÓS A MANIFESTAÇÃO  Voltar para o topo
  • 55. do com imagens para que sirva de material de consulta futuramente. DEPOIS DA AGRESSÃO: ESTRESSEPÓS-TRAUMÁTICO A pessoa pode apresentar ansiedade, hiper- vigilância, desconexão com a realidade, in- sônia, irritabilidade, distúrbios gastrointes- tinais, falta de apetite ou excesso de ingestão de alimentos, álcool, drogas, assim como cri- ses de choro ou sensação de culpa em rela- ção a ferimentos ou mortes presenciadas na cobertura. Nestes casos: XXConversecompessoaspróximas.Mesmoque não tenha vontade, tente relatar o que viveu. XXBusque ajuda profissional. Não tenha ver- gonha, a ajuda é determinante para recu- perar a estabilidade emocional. XXEvite o consumo de álcool ou substâncias psicoativas. XXFaça exercícios, tire um tempo para des- cansar, procure relaxar, mantenha-se ro-  Voltar para o topo
  • 56. deado de amigos e familiares. AOS FAMILIARES, AMIGOS E COLEGAS DE TRABALHO XXIncentive a pessoa a falar de sua experiên- cia, esteja atento e disponível a escutar. XXQuando ela falar, escute-a, sem fazer jul- gamentos. XXDê tempo aos silêncios, tenha paciência e não interrompa. XXNão se apresse em corrigir, dar respostas ou retrucar o que esteja sendo dito. ÀS EMPRESAS XXEstejam atentas a identificar profissionais afetados pessoalmente por experiências traumáticas. XXIncentivem jornalistas com cargo de che- fia e colegas mais experientes a conversar com repórteres mais jovens que tenham passado por essas situações. XXConcedam licenças médicas quando ne-  Voltar para o topo
  • 57. cessárias ou discutam com as equipes es- calas que favoreçam o descanso depois de experiências traumáticas. XXInvistam na compra de materiais de prote- ção individual e na capacitação dos funcio- nários envolvidos neste tipo de cobertura. XXTenham planos de saúde e seguro de vida, especialmente para profissionais que co- brem situações de risco.  Voltar para o topo
  • 58. FONTES: XX Survival Guide for Journalists - (IFJ), 2014 XX Manual de Autoprotección para Periodistas - Fundación para Libertad de Prensa (FLIP), 2013 XX Manual de Segurança para Jornalistas - Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 2012 XX Mapa de Riscos para Jornalistas - Sociedade Interameri- cana de Imprensa (SIP), 2006 XX ManualdoCentrodeMídiaIndependente(CMIBrasil),2001 AGRADECIMENTOS XX Amilton Fernando Barbosa Moleta - Tenente Coronel de Infantaria da Divisão de Avaliação do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) XX CláudiodosSantosFeoli-MajorespecialistanaáreadeCon- trole de Distúrbiosda Brigada Militar do Rio Grande do Sul XX EricMeierJúnior-CoroneldaPolíciaMilitardoDistritoFederal XX Departamento Jurídico da Federação Nacional de Jorna- listas (FENAJ) E a todos os repórteres, editores, produtores, comunica- dores que colaboraram preenchendo o questionário e for- necendo informações através de entrevistas. EXPEDIENTE Pesquisa e redação: Clarinha Glock Edição: João Paulo Charleaux Projeto gráfico e diagramação: Bob Nogueira  Voltar para o topo
  • 59. DIRETORIA DA ABRAJI: Presidente José Roberto de Toledo Vice-Presidente Thiago Herdy Diretores Alana Rizzo • Claudio Tognolli • Fernando Molica Ivana Moreira • James Alberti • Maiá Menezes Mauri König • Paulo Oliveira • Vladimir Netto Conselho Fiscal BrunoBoghossian • DanielaArbex • MarceloTräsel Secretário-executivo Guilherme Alpendre Gerente-executiva Marina Iemini Atoji  Voltar para o topo