O projeto Hundekpof (2005) em Berlim usou as linhas do metrô S41 e S42 para enviar mensagens SMS a participantes, criando uma narrativa imersiva sobre resistência e espionagem durante a Guerra Fria. As mensagens eram enviadas quando os participantes passavam por locais específicos ao longo da linha, desenvolvendo a história. O objetivo era manipular narrativas latentes na arquitetura urbana e integrar a experiência criativa à vida cotidiana.
1. Hundekpof
Projeto alemão, realizado em Berlin no ano de 2005, que utiliza as linhas do metrô e mensagens SMS
para constituir uma narrativa de perseguição e espionagem baseada em histórias da Guerra Fria.
Em Berlim, as linhas S41 e S42 do S-Bahn (metrô) são
conhecidas como o Ringbahn porque cercam a cidade central. De uma vista aérea do Ringbahn é
possível imaginar a forma de uma cabeça de cachorro, e, por isso, é coloquialmente conhecido como
Hundekopf - cabeça do cachorro, em alemão, daí o nome deste projeto.
2. O Ringbahn é parte integrante da rede de transportes da cidade, e sua recuperação em um círculo
completo após a queda do Muro de Berlim lhe deu significado simbólico entre os berlinenses. Das
janelas do Ringbahn pode se ter uma perspectiva completa da cidade como um todo, e a torre de TV
de Berlim (a mais emblemática da cidade histórica) está sempre na mira, ancorando a narrativa o
tempo todo.
3. O projeto Hundekpof, produzido pelo coletivo de artistas Knifeandfork, usa essas linhas circulares
do Ringbahn como um veículo de deslocamento através de mensagens de texto com base narrativa
que investigam a natureza das experiências privadas do espaço público.
4. A peça começa com flyers, distribuídos em Berlim, próximos às estações do metrô, que apresentam o
emblema de uma organização de resistência e instruções sobre como aderir a ela. Ao final deste texto,
que leva o nome de Manifesto Ringbahn, há o nome de uma estação do metrô e o número de um
telefone impresso no flyer, para o qual o participante deve mandar uma mensagem se quiser
participar. Se enviar a mensagem, o participante recebe então uma mensagem-resposta com
instruções para entrar em um trem específico que chegará nos próximos minutos.
5. Trens individuais são monitorados através da estação, e suas chegadas são publicadas em tempo real
no website do BVG (controle de trânsito de Berlin). Uma vez que o participante esteja em um trem, a
sua localização pode ser determinada, portanto, sem a utilização de tecnologias locativas avançadas,
como as que envolvem o uso de GPS. Usando um modem GSM, o sistema envia uma mensagem aos
participantes após cada estação que eles passam ao longo do Ringbahn.
6. As mensagens chegam exatamente quando o participante está passando por algum lugar específico da
cidade e buscam, através de seu conteúdo, construir uma certa qualidade cinematográfica da
experiência, que coloca a paisagem urbana sob um outro contexto de significação. Por exemplo, ao
passar por um prédio ou monumento histórico com determinadas características reconhecíveis pelo
participante, a mensagem leva a crer que alguém está vigiando o participante desde aquele local. A
estória se desenrola a cada estação, com sugestões de que inimigos e aliados da resistência,
misturados à população, estão por toda a parte.
7. Um dos principais objetivos do Hundekopf é o de construir uma narrativa específica que emerge
a partir da estrutura física do ambiente. Uma “hub narrativa” que não está vinculada diretamente
a uma série de eventos com um único início (ou final) pré-determinado, mas que permite a “entrada”
em diversos pontos, de acordo com as estações que os participantes escolherem para começar a
experiência. Ou seja, não existe começo e nem fim, de modo que as mensagens sempre adquirem
algum nível de coerência, independentemente do lugar onde o participante entra na narrativa.
Além disso, o tema da resistência é fundamental para a constituição de uma narrativa imersiva. De
fato, uma resistência contra os modos de habitar o espaço público. Com Hundekopf, o grupo
Knifeandfork está interessado em manipular as estruturas narrativas que estão latentes na arquitetura
do ambiente urbano. O projeto pretende lançar o poético sobre a vida quotidiana, com a ideia de que
a experiência criativa deve ser integrada – e não isolada – aos movimentos da vida quotidiana.