1. AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PORTELA E MOSCAVIDE
Português 12.º ano – 2012/13
Prof.ª Carla F. Barreto
Escola Secundária da Portela
Escola EB 2,3 Gaspar Correia
Escola EB1 Catela Gomes
Escola EB1/JI Quinta da Alegria
Escola EB1/JI Portela
Correção - Ficha de Trabalho n.º3
A poesia de Fernando Pessoa
I - Atente nas afirmações seguintes e indique se são verdadeiras ou falsas,
corrigindo as falsas:
1.As temáticas da poesia de Fernando Pessoa ortónimo e as dos seus heterónimos
são idênticas. F
A poesia de Fernando Pessoa ortónimo e de cada um dos seus heterónimos são
distintas apesar de alguns temas ou abordagens apresentarem finidades entre si,
como a nostalgia da infância em Pessoa ortónimo e Álvaro de Campos.
2.Alberto Caeiro era considerado como mestre devido ao seu domínio das formas
poéticas clássicas. F
Alberto Caeiro era considerado o mestre por Pessoa, Ricardo Reis e Álvaro de
Campos, mas não pelo motivo apontado na afirmação. Na realidade, Alberto Caeiro
era admirado e exaltado pelos restantes poetas pela sua autenticidade e pela
capacidade revelada no seguimento de uma poesia que refletisse a pureza da
natureza e o primado da sensação, sem necessitar da complexidade formal ou
filosófica, constituindo-se assim como lição e exemplo para todos. É, pois, importante
realçar que a sua naturalidade e os princípios por que rege a sua arte da poesia se
encontram espelhados nos seus poemas.
3.A poesia de Fernando Pessoa ortónimo reflete o tratamento dos temas do
“fingimento poético”, “nostalgia da infância”, “dor de pensar”, “fragmentação do eu”,
“angústia existencial”. V
4.Os poemas de Fernando Pessoa ortónimo seguem muitas vezes uma métrica
tradicional, com versos de redondilha e esquema rimático definido. V
5.Podemos considerar Alberto Caeiro como um sensacionista puro e calmo. V
6.Alberto Caeiro tinha na cidade e na construção humana as principais fontes de
inspiração poética. F
Pelo contrário, Alberto Caeiro sentia e revelava uma aversão relativamente à cidade,
deixando-a anotada em vários dos seus poemas. Ele encontrava inspiração nas leis
da natureza, defendendo que ao homem não cabia intervir na natureza, mas sim
respeitá-la e admirá-la, através dos seus sentidos e não projetando sobre ela o seu
pensamento.
7.A escrita de Alberto Caeiro é uma escrita torrencial, de ritmo alucinante. F
A escrita de Alberto Caeiro é uma escrita singela, cujo estilo lembra a naturalidade do
discurso infantil e estabelece uma afinidade com a mensagem/conteúdo poético.
Encontramos, assim, nos seus poemas, recursos estilísticos como a comparação e a
metáfora, o privilégio do presente do indicativo ou o polissíndeto, bem como uma
variedade métrica e o verso solto. O ritmo alucinante e torrencial poderemos encontrálo de forma marcante nos poemas de Álvaro de Campos.
8.O “carpe diem” desenvolve-se como tema da poesia de Ricardo Reis como forma de
descrever uma atitude ansiosa e dinâmica perante a vida. F
O “carpe diem” apresenta-se, de facto, como um dos motivos primordiais da poesia de
Ricardo Reis, evidenciando a clara influência do Epicurismo na sua poesia. No
2. entanto, este princípio reflete a passividade defendida pelo sujeito poético face ao
destino certo da vida – a morte – e à consequente fugacidade da vida, recusando
dessa forma o sujeito poético as emoções ou ansiedades fortes, capazes de
perturbarem o espírito humano. O "carpe diem" desenvolve-se, pois, como forma de
descrever uma atitude comedida e receosa perante a vida, sem ceder ao impulso dos
instintos, evitando qualquer tipo de dor e desconforto.
9.Ricardo Reis recusa em absoluto a influência dos Clássicos. F
Ricardo Reis apresenta, na sua produção poética, uma evidente influência da cultura
clássica, quer nos princípios filosóficos em que sustenta as temáticas abordadas nos
seus poemas, quer nos aspetos formais, tendo em Horácio uma fonte de ensinamento
e influência. Assim, os seus poemas refletem o epicurismo e estoicismo e, do ponto de
vista formal, é evidente a influência da ode horaciana.
10.Álvaro de Campos tem na sua terceira fase uma atitude serena de vida interior
pacificada de acordo com as leis da natureza. F
Na sua terceira fase – denominada de intimista ou pessimista – Álvaro de Campos
apresenta um pessimismo extremo. Os poemas desta fase são marcados pela
exposição de um sujeito poético em desespero que se autoanalisa de forma
desesperada e pessimista, não reconhecendo em si ou no seu percurso de vida
qualquer aspeto positivo, assumindo-se como um falhado, um frustrado e um ser que
revela um cansaço extremo da sua existência. A infância e a sua memória desse
tempo constituem o único tópico positivo dos poemas desta fase, sendo lembrados
pelo sujeito de forma nostálgica e servindo o propósito de reafirmar a sua angústia e o
seu percurso falhado enquanto ser humano.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------II – Responda às questões seguintes:
1. Desenvolva o tratamento do fingimento poético em Fernando Pessoa ortónimo.
O fingimento poético é uma das temáticas integradas na poesia de Fernando
Pessoa. Esta teoria consiste na transformação intelectual do sentimento, ou seja, o
poeta finge completamente a dor que sente. Ao utilizar os dois tipos de emoções que
estão por detrás da poesia, emoções que se encontram presentes na memória e
aquelas que são imaginadas, o sujeito poético não reflete o seu estado de alma atual
nem o seu próprio sentimento, apenas realiza um processo de intelectualização
através da memória. Desta forma, o Eu lírico escreve um poema com base no seu
processo criativo, resultando assim uma dor imaginada. Segundo a teoria do
fingimento, o leitor é o único sujeito que sente uma emoção verdadeira. Através do ato
da leitura interpretativa, cabe ao leitor emocionar-se e, contrariamente ao sujeito
poético, sentir verdadeiramente a dor.
Poderemos, então, resumir que a poética do fingimento se desenvolve em quatro
estádios distintos: o de uma dor vivida/conhecida algures; o de uma dor
intelectualizada; o de uma dor escrita expressa na mensagem poética; o de uma dor
sentida, correspondente ao ato de interpretação do leitor.
2. Explicite em que medida a poesia de Alberto Caeiro reflete o sensacionismo e o
neopaganismo.
Para Alberto Caeiro, o ato de pensar ou refletir é efémero, uma vez que impede
a verdadeira observação do mundo, turvando-a com subjetividade. Esta aversão ao
pensamento revela o propósito de Caeiro: a pura observação da Natureza, sem
intervenção de qualquer formulação filosófica ou do pensamento. O sujeito poético
evita, afirmando de forma assertiva essa intenção, qualquer influência da
subjetividade, limitando-se às sensações puras, dependentes unicamente dos cinco
3. sentidos, com privilégio da visão. O paganismo manifesta-se na sua poesia pois o
poeta observa toda a Natureza de forma maravilhada pois, para ele, tudo isso é divino,
logo, tudo é Deus. (Luís Franco, 12ºA)
Alberto Caeiro é um sensacionista que capta da Natureza toda a realidade
imediata que as sensações lhe oferecem. É este realismo sensacional que lhe permite
viver de acordo com a Natureza, no seio de toda a sua simplicidade e paz. Este
heterónimo de Pessoa defende também o neopaganismo. O paganismo, entre os
antigos, era o culto e o respeito pelas forças da Natureza viva e sagrada, sendo o
neopaganismo a afinidade e admiração pelos princípios dessa herança ligada à
compreensão da Natureza como verdadeira força criadora de tudo. Na sua poesia,
Caeiro afirma que a Natureza deve ser amada por aquilo que é e não por aquilo que
ela provoca no ser humano. (Cláudia Gomes, 12ºA)
3. Desenvolva o modo como o “tempo” surge tratado na poesia de Ricardo Reis e em
que medida nesta se reflete a influência do epicurismo e do estoicismo.
Na obra poética de Ricardo Reis verificam-se como evidentes as influências
exercidas por parte do estoicismo, do epicurismo, bem como da constância subjacente
ao tempo.
O estoicismo e o epicurismo denotam-se graça aos ideais que defendem,
nomeadamente o culto da ataraxia, no qual a vida deve ser vivida com a maior
serenidade possível, evitando grandes desconfortos, reforçado pela relevância
conferida ao “carpe diem”(“aproveita o dia”) e pela aponia(inexistência de dor). Deste
modo, o ser humano poderá viver sem preocupações, tranquilo, de modo a não sofrer
na hora da morte.
O Tempo é também elemento de reflexão por parte de Ricardo Reis, sendo
declarado como constante, como inevitável, como símbolo da degradação do ser,
enfatizando, por conseguinte, ideais como o mencionado “carpe diem” e sujeitando o
ser humano a agir em conformidade com aquilo que a realidade sugere, sem revelar
hipóteses para algo muito melhor em termos situacionais.
Sumarizando, Ricardo Reis era um Neoclassicista que idealizava a verdadeira
sabedoria sobre a forma como o Homem aproveitava a vida de uma forma tranquila,
sem grandes paixões, seguindo o caminho da razão e do corpo, obedecendo às leis
impostas pela constante que é o Tempo até à chegada do fim. (Vasco Martins, 12.ºA)
4. Explique como é encarada a infância na poesia de Álvaro de Campos.
A nostalgia da infância perdida ganha protagonismo sobretudo na terceira fase,
a intimista ou pessimista, da poesia de Álvaro de Campos.
No entanto, já na segunda fase, a memória da infância surge nas
emblemáticas composições da “Ode Triunfal” e “Ode Marítima” como forma de
acalmar o ritmo alucinante em que o eu lírico se debruça.
Depois deste sensacionismo extremo vivenciado na fase futurista, o eu lírico
revela uma depressão profunda e um estado de abulia que o aproxima de Fernando
Pessoa ortónimo, nos poemas que exprimem a angústia existencial vivida pelo eu
lírico.
A infância, irremediavelmente morta, surge como refúgio de um presente sem
expectativas. Este tempo passado representa a inconsciência, o sonho, a esperança,
portanto, a felicidade. No presente, surge como oposição à vivência desesperada do
eu lírico, que se encontra mergulhado numa profunda deceção consigo próprio, num
estremo cansaço e desilusão.
5. Explicite os tópicos essenciais da influência das vanguardas na poesia de Álvaro de
Campos.
4. As vanguardas em Álvaro de Campos estão representadas essencialmente na
segunda fase com o futurismo sensacionista.
O intuito dos modernistas era escandalizar e cortar com o passado, valorizando
o dinamismo da máquina e do progresso tecnológico, bem como do universo urbano.
Álvaro de Campos revela estes princípios de forma muito evidente no poema “Ode
Triunfal”, onde a presença obsessiva da civilização moderna e a identificação do
sujeito poético com a máquina estão presentes, numa expressão de emoção
excessiva, no sentido de acolher todas sensações possíveis. Deste modo, verifica-se a
articulação do real/exterior – marcadamente moderno – e o emocional/interior do
sujeito poético.
Com as vanguardas, o conceito de beleza alterou-se. O Belo, identificado com
a imitação da Natureza, foi substituído por outro em que a arte visa a força, o dinâmico
e o domínio mecânico.
Este heterónimo pessoano utiliza um estilo torrencial com a expressividade do
verso livre, das repetições, das expressões onomatopaicas, das aliterações, das
frases exclamativas e das apóstrofes, demonstrando assim um estilo original e até
escandaloso para a época. A ânsia pelo escândalo revela-se essencialmente pela
agressividade da linguagem utilizada, através da expressão de um sensacionismo
extremado, materializado pela ocorrência de onomatopeias, enumerações, gradações,
pontuação expressiva, orações nominais, tudo tentando traduzir a ânsia por tudo sentir
do eu lírico. (Leonor Lopes, 12.ºA, adapt.)