2. INTRODUÇÃO EM
PSICOPATOLOGIA
A Psicopatologia é a ciência que estuda as
anormalidades psíquicas do ser humano.
Para este fim podemos utilizar diferentes meios. O método
utilizado pela psiquiatria como ferramenta para
diagnóstico sindrômico e nosológico é a Fenomenologia
(do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou
que se mostra, e logos, explicação, estudo).
Afirma a importância dos fenômenos da
consciência os quais devem ser estudados em si
mesmos
Obs.: A nosologia é a parte da medicina que trata das
enfermidades em geral e as classifica do ponto de vista
explicativo
3. A Psicopatologia fenomenológica baseia-se
na descrição dos fenômenos psíquicos,
conforme são observados ou relatados. O
importante na fenomenologia é descrever o
que é vivido diretamente pelo indivíduo.
Existem dois meios de adoecer, segundo a
psicopatologia fenomenológica:
o desenvolvimento - o adoecer é
compreendido pela constituição,
personalidade e história do paciente;
o processo - algo diferente e novo na
constituição e história do paciente.
4. Normalmente, examina-se de forma isolada cada
função psíquica do paciente para depois formular
o todo psíquico. A Psicopatologia é uma abstração
analítica da realidade e da totalidade do
psiquismo humano, decompondo-o em conceitos
operativos para formular, mais tarde, os quadros
nosológicos (quadros classificatórios e explicativos
da doença)
A Psicopatologia importa-se fundamentalmente
com a forma de cada função psíquica; os
conteúdos têm uma importância secundária.
Exemplo: a forma de um livro é aquilo que faz
com que reconheçamos que se trata de um livro,
(a essência do objeto); o conteúdo é aquilo que
define tal livro (a mensagem).
5. Exame Psíquico
É o principal instrumento para a
realização do diagnóstico em Psiquiatria.
Visa o estabelecimento de um
diagnóstico psiquiátrico, criação e
desenvolvimento de aliança de trabalho
e prognóstico do paciente.
Deve-se fazer um corte longitudinal na
vida do paciente biografia e história de
sua doença atual. Através do corte
transversal estado do paciente no
momento do exame psíquico.
6. O exame psicopatológico,
correspondente a um corte transversal
na vida do paciente, compreende as
funções psíquicas que devem ser
observadas e/ou deduzidas para a
realização de um diagnóstico.
A caracterização das funções psíquicas
permite que se diferenciem os principais
quadros clínicos das diversas síndromes
mentais parâmetros para a adoção de
conduta terapêutica adequada
8. 1. SENSOPERCEPÇÃO
É uma atividade de incorporação das informações
do meio externo e corporais ao psiquismo
Sensopercepção: sensação + percepção
Sensação: fenômeno elementar resultante da
ação dos estímulos externos e internos sobre os
órgãos dos sentidos. Exemplo: sensação de calor
ao se aproximar a mão do fogo
Percepção: quando acrescentamos à sensação
uma interpretação que provém da memória e do
raciocínio. Exemplo: tocar o fogo é perigoso
porque causa dor
9. Na Psicopatologia da sensopercepção
existem as alucinações como principal
anormalidade (veremos adiante)
As variações sem caráter psicopatológico
são as ilusões e as pareidolias
Ilusões: percepções onde o objeto
reconhecido é diferente do real
Pareidolias: ilusões provocadas
voluntariamente. Exemplo: enxergar
figuras nas nuvens
10. 2. PSICOMOTRICIDADE
Função responsável pela
discriminação dos movimentos a
serem realizados em uma
determinada tarefa
Na Psicopatologia da
psicomotricidade existem:
11. Estereotipias (repetição automática de gestos,
movimentos, frases ou palavras sem razão
conhecida)
Ecopraxias: repetição de gestos de outras
pessoas
Ecolalia: repetição da fala de outra pessoa
Flexibilidade cérea: a pessoa permanece na
posição em que é colocado (“estátua de cera”)
Agitação psicomotora: movimentos múltiplos, às
vezes agressivos
Catatonia: quadro clínico caracterizado por
diversas alterações psicomotoras
12. 3. AFETIVIDADE
Atividade subjetiva e atemática onde se
incluem os sentimentos e as emoções
Sentimentos: são os “estados do eu” que
não são controlados pela vontade e são
provocados por impulsos internos e
externos. Exemplos: amor, raiva,
amizade
Emoções: são “estados afetivos”
provenientes de uma reação psíquica e
orgânica acompanhadas de reações
neuro-vegetativas. Exemplo: medo,
pânico, ansiedade
13. Os sentimentos e as emoções são
classificadas em:
Estabilidade: estáveis/instáveis
Ressonância: relacionado à amplitude
Tonicidade: tônus (força)
aumentado/diminuído
Coerência: se há dissociação ideo-afetiva
ou não. Exemplo: “quem ama não mata”
Humor: estado disposicional da
afetividade - expansivo/depressivo
14. 4. CONAÇÃO (VONTADE)
Volição ou vontade
Atividade de direcionamento da ação
Alterações:
Qualitativas: negativismo
(resistência/oposição para fazer algo)
Quantitativas: hiperbulia (qualquer
estímulo é uma motivação; quer fazer
tudo ao mesmo tempo); hipobulia ou
abulia (grande diminuição ou falta de
desejo e motivação para fazer algo)
15. 6. INTELIGÊNCIA
Capacidade de elaborar valores, adaptar-
se a novas situações; capacidade de
analisar, sintetizar, abstrair e processar
pensamentos e idéias; capacidade de
resolver problemas
Alterações psicopatológicas da
inteligência: oligofrenias (redução da
capacidade da inteligência), que variam
de leve à grave
16. 7. ORIENTAÇÃO
É o conjunto das funções psíquicas
responsáveis pela tomada de consciência, em
cada momento de nossa vida, da situação real
em que nos encontramos
A orientação está sempre relacionada às noções
de tempo e espaço.
São 4 as formas de orientação:
Temporal: relativa aos conceitos de tempo
(hora do dia, dia do mês, noite/dia)
Espacial: relativa aos conceitos de espaço
(onde está, dentro/fora)
17. Autopsíquica: relativa ao próprio
indivíduo - capacidade de fornecer
dados de sua identificação, saber quem
é, seu nome, idade, nacionalidade,
profissão, estado civil, etc.
Alopsíquica: relacionada ao tempo e
espaço - capacidade de estabelecer
informações corretas acerca do lugar
onde se encontra, tempo em que vive,
dia da semana, do mês, etc.
18. No Exame Psíquico é importante:
Observar desorientação no tempo, pelo
correto conhecimento do dia, mês, época
do ano, dia da semana e ano. Observar se
o paciente tem noção do tempo decorrido
no hospital ou entre eventos recentes.
Quanto ao espaço, perguntar sobre o
lugar (nome do hospital, andar, cidade,
endereço).
Quanto à pessoa, perguntar sobre dados
pessoais (nome, idade, data de
nascimento), bem como sobre familiares.
19. 10. PENSAMENTO
É o suceder de idéias
Divide-se em processo (forma) e conteúdo
Processo (forma): é o modo como uma pessoa reúne idéias e
associações. Pode ser: lógico/coerente ou ilógico/incoerente
Quanto à forma, podemos encontrar os seguintes formatos
psicopatológicos:
Fuga de idéias (a pessoa não consegue ter um pensamento
lógico)
Neologismos (criação de palavras inexistentes na linguagem
para se referir às suas idéias)
Lentificação / aceleração (opostos relacionados ao ritmo do
pensamento)
“Roubo de pensamento”
“Salada de palavras” ou incoerência (“não fala coisa com
coisa”)
Eco (repetição das idéias de outras pessoas)
20. Quanto ao conteúdo (idéias, crenças,
preocupações e obsessões da pessoa):
Delírios (veremos mais à frente)
Idéias de influência (a pessoa se percebe
como alguém de muita importância –
“Jesus”, “Napoleão”) e referência (tudo
diz respeito a ela)
Pobreza de conteúdo
21. 11. CONSCIÊNCIA
É a capacidade neurológica de captar o ambiente
e de se orientar de forma adequada, é estar
lúcido. A consciência pode ser considerada do
ponto de vista psiquiátrico, como um processo de
coordenação e de síntese da atividade psíquica.
É uma das funções psíquicas com a qual
estabelecemos contato com a realidade, através
do qual tomamos conhecimento direto e imediato
dos fenômenos que nos cercam.
Podemos ter alterações "fisiológicas" da
consciência, dentre elas, sono, sonho, hipnose e
cansaço.
22. 1. Alterações quantitativas: há variação do nível de
consciência, ou seja, da claridade com que os
fenômenos psíquicos são vivenciados, o indivíduo
apresenta fala, pensamento e emoções que dificilmente
podemos entender, confunde percepções, não
consegue fixar sua atenção e geralmente está
desorientado.
2. Alterações qualitativas: referem-se a variação de
amplitude do campo de consciência. Uma alteração
qualitativa é o estado crepuscular, onde há um
estreitamento do campo da consciência, o paciente
parece ter perdido o elo com o mundo exterior, quase
não fala e age como se estivesse psiquicamente
ausente. O estado crepuscular pode estar presente em
algumas doenças como a epilepsia e a histeria.
Leve torpor obnubilação coma
23. No Exame Psíquico é importante: Observar
modificações no nível de consciência, registrar
possíveis flutuações no nível de consciência e
observar se há estreitamento da amplitude do
campo de consciência. Isso pode ser observado
pela capacidade de responder ao ambiente, em
especial a participação no exame.
Duas outras funções auxiliam na avaliação da
consciência, pois já estão alteradas em
diminuições bem discretas do nível de
consciência, quando o indivíduo nem aparenta
estar sonolento ainda, que são: a atenção e a
orientação.
24. 12. ATENÇÃO
Considera-se a atenção como um processo psicológico
mediante o qual concentramos a nossa atividade psíquica
sobre o estímulo que a solicita, seja este uma sensação,
percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de fixar,
definir e selecionar as percepções, as representações, os
conceitos e elaborar o pensamento. Resumidamente pode-
se considerá-la como a capacidade de se concentrar, que
pode ser espontânea ou ativa; é um processo intelectivo,
afetivo e volitivo.
Distinguem-se duas formas de atenção:
1. Atenção voluntária: é aquela que exige certo esforço,
no sentido de orientar a atividade psíquica para
determinado fim.
2. Espontânea: é a tendência natural da atividade psíquica
orientar-se para os estímulos sensoriais e sensitivos
25. O grau de concentração da atenção sobre
determinado objeto não depende apenas do
interesse, mas do estado de ânimo e das
condições gerais do psiquismo.
O interesse e o pensamento são os dirigentes da
atenção, sendo que a intensidade com que a
efetuamos é o grau de concentração alcançado.
As alterações da atenção desempenham um
importante papel no processo de conhecimento.
Em geral estas alterações são secundárias,
decorrem de perturbações de outras funções das
quais depende o funcionamento normal da
atenção. A fadiga, os estados tóxicos e diversos
estados patológicos determinam uma
incapacidade de concentrar a atenção.
26. Hipoprosexia: é a diminuição da atenção, ou o enfraquecimento
acentuado da atenção em todos os seus aspectos. É observada em
estados infecciosos, embriaguez alcoólica, psicoses tóxicas,
esquizofrenia e depressão. Pode ocorrer por:
- falta de interesse (deprimidos e esquizofrênicos)
- déficit intelectual (oligofrenia e demência)
- alterações da consciência (delirium)
Os estados depressivos geralmente se acompanham de diminuição da
capacidade de concentrar a atenção como um todo. No entanto, têm
aumento da concentração ativa para temas depressivos
(hipertenacidade).
Hipotenacidade: diminuição da atenção "ativa".
Hipertenacidade: aumento da atenção "ativa"
Hipovigilância: diminuição da atenção "passiva"
Hipervigilância: "distratibilidade", ou aumento da atenção "passiva"
A Hipervigilância e Hipotenacidade podem ocorrer nos casos de mania.
A Hipovigilância e Hipertenacidade ocorrem nos casos de depressão.
27. No Exame Psíquico é importante:
Referir se o paciente está disperso ou
não, como se comporta em relação ao
que acontece no ambiente.
Descrever se responde às perguntas
prontamente ou é necessário repeti-las.
Pode-se pedir para que o paciente realize
operações aritméticas ou enumere dias da
semana ou meses, em ordem normal ou
inversa o que exigiria mais atenção.
28. ALUCINAÇÕES
As alucinações diferem das percepções normais
por não serem desencadeadas por um objeto
externo ou um estímulo sensorial
Tipos de alucinações:
Auditivas: ruídos, zumbidos e especialmente
vozes geralmente ameaçadoras (persecutórias),
raramente amigáveis, que se “comunicam”
através de frases e comentários curtos, em
forma de comandos
Visuais: produtos patológicos da percepção
perturbada; são referidas como visão
alucinatória de objetos ao redor da pessoa
29. Táteis: relacionam-se à esfera das sensações
corporais; podem incluir sensações alucinatórias de
mal-estar no corpo da pessoa: “eletricidade”,
sensações de ser atacados por radiações ou outros
processos físicos. Podem sentir os órgãos internos
repuxarem, serem cortados ou se corroerem.
Sensações de funcionamento alterado dos órgãos
especialmente os sexuais (homens sentem ardência
na região genital e as mulheres sentem-se
abusadas)
Olfato e paladar: relacionado com delírio de
perseguição. A pessoa teme ser envenenada e pode
sentir o paladar diferente em comidas e bebidas
30. DELÍRIOS
São falsos juízos da realidade, baseados
na projeção (a pessoa projeta no delírio o
conteúdo de sua idéias patológicas).
Possuem a mesma estrutura das
alucinações
Idéias delirantes: ocorrem na imaginação
da pessoa. Percepções delirantes: são
percepções verdadeiras que são
interpretadas de forma anormal
31. Temas mais comuns dos delírios:
Delírios de referência: forma mais comum. A pessoa
julga-se que tudo que ocorre ao seu redor tem relação
com ela, está ocorrendo devido a ela e tem a finalidade
de lhe comunicar alguma mensagem. Tem conteúdo de
perseguição e ameaça
Delírios de prejuízo: as coisas acontecem contra a
pessoa, que sempre está sendo prejudicada, ofendida
ou diminuída pelas outras
Delírio de perseguição: fatos inofensivos são
interpretados pela pessoa como sinais de ameaça e
perseguição. Inicia-se com um sentimento sinistro de
perseguição (“tensão de delírio”) e é seguido pela
interpretação concreta de que a pessoa é perseguida
ou vítima de complô
32. Delírio erótico:mais freqüente em mulheres. A pessoa sente-
se amada por um homem que conhece de passagem ou que
nunca falou com ela. Justifica que o homem não a procura
por laços de família ou posição social. Pode haver idéias de
perseguição
Delírio de ciúmes:mais frequente em homens. O homem
convence-se da infidelidade da mulher mesmo que não haja
provas ou indícios para tal. Acusa a mulher de vida
“desregrada”
Delírio de grandeza:o indivíduo superestima a sua própria
pessoa. Pode se sentir “escolhido” para realizar feitos
fantásticos.
Delírio de pequenês ou niilista:o indivíduo não vê mais nada
em si que não seja a impotência, nulidade e perda. No delírio
niilista o inidívuo pode sentir que não existe “realmente”, que
vive somente na aparência; nega a sua existência e de seus
familiares também.