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ALVARO SIZA·
Pavilhão de Portugal
EDUARDO 'SOUTO DE MOURA
Edição realizada com o patrocínio da
~FUNDAÇÃO ,
BAiCO CmlERCIAL PORTUGUES
o nascer de um monumento
S'MONETTA Luz AFONSO
Em 1994 recebo um telefonema do António Mega Ferreira e um desafio: quer pensar os contéudos do Pavilhão de Portugal na
Expo'98? Tema: os Oceanos e a celebração da viagem de Vasco da Gama! Tratava-se de um daqueles desafios a que não se con-
segue resistir. Havia dois caminllOs. O fácil seria pegar em património do tempo dos Descobrimentos e fazer mais uma
exposição. O mais difícil seria pegar no tema de uma forma abrangente e universalista, aproveitar a ocasião para deixar alguma
coisa que perdurasse além da efemeridade obrigatória do evento, descobrir fontes iconográficas menos divulgadas e dá-las a co-
nhecer ao grande público, usar as novas tecnologias e trazer à luz da ribalta peças novas do tempo dos Descobrimentos. A
primeira ideia que me surgiu foi uma daquelas que acalentava há anos e ficara "guardada" à espera de melhores dias! Partir da
riquíssima iconografia dos Biombos Namban, de que alguns dos melhores exemplares se guardam em museus portugueses,
dando vida às personagens que povoam aquele testemunho único e fidelíssimo da chegada dos portugueses aoJapão. Projecto de
dimensão lúdica - a animação, a construção de um mundo onde se misturavam elementos reais e virtuais - tinha também uma
indesmentível carga didáctica, pela possibilidade de restituição dos ambientes de época (o vestuário, a construção naval, a arqui-
tectura nipónica, os costumes) e de evocação da emoção espantada do homem oriental que pela primeira vez via aqueles seres de
compridos narizes, cOln as suas armas de fogo, os óculos e os trajes, acompanhados por uma fauna exótica e desconhecida naque-
las paragens.
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A ideia seguinte afigurava-se igualmente difícil, mas não menos aliciante: promover uma escavação de uma nau da Carreira da
Índia e, através dos objectos recuperados, dar força à ideia base do pavilhão, funcionando ao mesmo tempo como símbolo dos
momentos mais brilhantes das navegações portuguesas. A vantagem deste projecto residia ainda na possibilidade de se recons­
truir tanto a memória dos grandes navegadores como a da anónima "gente do mar", através dos objectos mais diversos do seu
quotidiano perdido; a sua dificuldade radicava no esforço de revolver arquivos em busca de informações sobre naufrágios, iden­
tificar locais prováveis da desgraça e pôr em marcha as equipas de arqueólogos subaquáticos, o que foi possível por ter tido a sorte
de trabalhar com o grupo mais experiente em Portugal.
Enfim, um desejo que acompanhou sempre a concepção do Pavilhão de Portugal, de dificuldade extrema, foi o de não apresen-
tal' uma versão passadista da História, saudosa de glórias antigas, mas - pelo contrário - dar ao público a ideia de um país com
um passado que sabe preparar o futuro. Este foi, na verdade, o tema mais difícil de materializar, para o qual os condicionantes
tempos de visita, número de visitantes e disponibilização de informação em tempo real constituiram os maiores obstáculos.
O projecto continuou depois com a formação de uma equipa. Discutiram-se conceitos e formas de os concretizar, aproximan­
do-nos da ideia de exposição-espectáculo. Sabia já, nessa altura, que o arquitecto do edifício era o Álvaro Siza, com quem nunca
tinha trabalhado e cuja obra muito admirava.
E assim, trabalhando em paralelo, um no Porto e outro em Lisboa, cá nos encontrámos emJulho de 1995. À vista dos primeiros
desenhos e da exposição clara do projecto fiquei logo rendida ao edifício e às possibilidades que ele permite, à sua flexibilidade
e localização simbólica, à luz! Mas a luz, criava, em simultâneo, um outro problema, pois precisava em absoluto de ser contro­
lada, por não caber na nossa aposta e""positiva. Confesso que não foi sem uma ponta de receio que lhe expliquei que, de forma
a evocar um percurso através do imaginário, do mundo dos sonhos e das fantasias próprias das grandes narrativas míticas ligadas
ao mar, a exposição não poderia ter luz natural. Acrescentei, ainda, que queria que o visitante, depois de ter visto o pavilhão por
fora, entrasse na exposição, esquecesse que estava num edifício e viajasse connosco! São as imagens que materializam as ideias e
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que o vão conduzir, lTIas é UlTI percurso de sonho até às realizações do passado e aos desafios do presente. Prometi-lhe que
teríalTIos talTIbém uma sala dele, muito dele, rigorosalTIente contemporânea e despojada, cuja silTIples visão desse a ideia do pre­
sente-futuro.
Apesar de já ter ilTIaginado um interior clássico para o espaço lTIuseológico, foi lTIuitíssilTIO receptivo, se bem que algo desconfiado
relativamente a tudo o que lhe contara sobre o conceito de eX'P0sição-espec
outras fatalidades que haverialTI de invadir a sua obra.
Pormenorizar um edifício desta dimensão, entregar o projecto a tempo para lançar a obra iria, certalTIente, ocupar lllUitO do seu
telTIpo, pelo que achei excelente que tivesse delegado a responsabilidade do trabalho de arquitectura da exposição no Eduardo
Souto de Moura. Foi a melhor escolha! Já o conhecia do projecto do Museu Grão-Vasco, elTI Viseu, e revelou-se depois nas
lTIúltiplas horas de trabalho que realizámos juntos COlTI a Anabela Carvalho, a Raffaella d'Intino, o Miguel Soromenho, o Rui
Afonso e o Johann Schelfout. Nenhum de nós se sentia "dono" da verdade absoluta e foi nascendo, entre todos, UlTIa soli-
dariedade pouco vulgar. Esta busca incessante de opiniões diferentes e de outros pontos de vista que enriquecesselTI os nossos,
procurálTIo-la COlTI hUlTIildade elTI todos aqueles que podialTI ter contributos válidos a dar ao Pavilhão de Portugal: foi sobretu­
do a diversidade de olhares que procurámos no António Manuel Hespanha, noJoaquilTI ROlTIero de Magalhães, no Mário Ruivo,
no Fernando Lopes, no Henrique Cayatte, na Patrícia Reis e no Francisco Andrade. E conseguimo-lo com êxito.
As vezes que se implantou o projecto ex'Positivo no espaço disponível não têm conta' O fluxo de visitantes tinha de ser constante,
a visita não podia delTIoral' mais de 25 lTIinutos, e, para cOlTIplicar tudo, alterou-se o nÚlTIero, já grande, de II mil visitantes diários
para 20 mil! Não podia, de lTIodo algulTI, haver barreiras arquitectónicas, nem escadas, nem elevadores, nelTI ralTIpas! O que
ganharíalTIos elTI espaço perderíamos em fluidez! O que então adlTIirei no Eduardo Souto de Moura foi sobretudo a capacidade
de ouvir e de realizar. Entretanto, Álvaro Siza ia passeando pela exposição, desconhado a princípio, curioso depois e rendido
por hm.
A solução arquitectónica a que chegámos para a implantação dos conteúdos foi aquela que nos permitia um edifício que ia ter
uma função transitória Ce depois dehnitiva, quando se concluísse sobre a sua utilização futura), articulando as exigências de segu­
rança, insonorização, instalação de equipamento de projecção e fluidez de circulação com um mínimo de custos e de alterações
na segunda fase. Optou-se, assim, por trabalhar no projecto expositivo com as paredes em tosco e com um piso único, per­
mitindo os pilares existentes na última sala ancorar no futuro o piso intermédio.
Entretanto, a construção do edifício ia progredindo e o Álvaro Siza ia hcando mais livre de espírito e menos angustiado com os pra­
zos. Pudemos aqui começar a sonhar com os interiores da ala protocolar, dos restaurantes e da livraria. Como mobilá-los? Indo bus­
car peças e objectos aos museus? Nunca! Indo comprar móveis às lojas de decoração, maioritariamente estrangeiros? Também não!
Sobretudo tendo o design português a qualidade que tem! Aqui entrou de novo a generosidade do arquitecto Siza. Lancei-lhe o desaho
de desenhar os móveis para o pavilhão, criando uma linha de mobiliário, arranjando um fabricante e um produtor e fazendo-os
entrar no mercadoI A linha foi baptizada de MARE, o produtor encontrou-se, dois jovens do Porto e a empresa D&D, o fabricante
também, o Sr.Sünões, velho conhecido do arquitecto Siza e grande entusiasta do projecto.. , E a promoção internacional está a
arrancar.
Mas ainda nos faltava a loiça! E de novo peço a Álvaro Siza para a desenhar. Como ahnal uma sorte nunca vem só - ao contrário
do ditado fatalista - encontro na Helena Bernarda, da SPAL, uma interlocutora que em tempo record nos produziu um serviço
para 800 pessoas! Enhm, o problema dos talheres. Para eles não havia já tempo para serem desenhados, mas o Siza escolheu, e
bem, um faqueiro de recente criação da Cutipol. Pensado para se chamar "Michigan", foi por nós rebaptizado de "Atlântico",
uma derradeira homenagem ao lnar, nestes telnpos de Expo.
O hm do processo não é propriamente o último acto. Volta-se agora a um outro prólogo, o da história de um monumento que
acabou de nascer, e assinala-se o das equipas que nele trabalharam em dias e noites sem fim, preparando com certeza outros
encontros futuros.
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No princípio o futuro era um esquema
"Um arquitecto, normalmente, trabaU,a com um programa e uma série de condicionantes. Uma das condicionantes é o sítio. O
facto de ser uma paisagem natural ou o interior de uma cidade tem as suas implicações, mas é também aqui que se procura o estí­
mulo pal'a iniciar o trabalho. A primeira ideia com possibilidades de seI' desenvolvida, tendo em vista determinados objectivos e
limitada por certas condicionantes, é muitas vezes impossível de se materializar. Outras vezes não. No caso da ExpO'98, os arqui­
tectos começaram a trabaU,ar ao mesmo tempo nos diversos pavilhões sem saber exactalnente que construções é que iam ter por
vizinhos. Sabia-se que ia haver um futuro, mas o futuro ainda era um escluema. Faltavam informações sobl'e os elementos exteriores:
o sítio, as grandes construções vizinhas, a utilização futura, os contéudos. Com estas dificuldades especiais - não é a situação nor­
mal - el'a fundamental estabelecer uma estratégia de funcionamento e deixar ao edifício várias possibilidades de aproveitamento.
No futuro, este edifício podia ser um museu, mas também podia ser um escritório". ÁLvARO SIZA
"Se a opção for utilizar este espaço para escritórios - ao contrário do que sucede num museu - é preciso partir o pavilhão em
divisões pequenas. Esta possibilidade provocou, por exemplo, o aparecimento de pátios. . . A profundidade grande necessária
para o fim imediato - a Expo'g8 - no futuro podia limitar a entrada de luz no edifício, daí a construção de dois pátios e uma
implantação de janelas muito regular". ÁLVARO SIZA
Pensar como uma dona de c
"Um arquitecto quando trabalha tem de se imaginar dentro do projecto como se fosse uma casa. O arquitecto deverá desdo-
brar-se em dona ela casa, porteiro, criança, mulher solteira, cozinheiro, rei... testando mentalmente como é que a construção
serve as pessoas". ÁLVARO SIZA
"No plano inicial deveria fazer um edifício no eixo da doca. Esta posição de eixo faz lembrar o Terreiro do Paço com o Arco
de Triunfo da Rua Augusta como elemento dominador e dois b"aços laterais relacionados com a quadrícula da Baixa. Um
grande espaço sobre o rio. Neste caso nilo se previam esses braços. Assim, sem saber como pegar nisto, pensei em mover o edifí-
cio, retirá-lo do eixo da doca e colocá-lo numa posição de assimetria, ancorá-lo a um lado da doca. Como se fosse um barco.
A partir daí estabeleceu-se uma relação que já nào é de simetria, mas de tensão com o que sabia já existir na doca: o Oceanário.
A.l'ranjámos uma maior liberdade de actuação para os arquitectos, criando uma situação de tensão, mas também de dinamis-
mo, aberta à utilização futura do edifício. Este foi o aspecto fundamental do trabalho inicial". ÁLVARO SIZA
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Atracar o edifício como um barco
-
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, I I I ., . I  I I I I I I ' I I I l .
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À procura da fórmula mais que perfeita
"Há uma parte do trabalho em que o desenvolvimento e arrumação do programa passa a ser cOlno organizar o espaço interno
num outro edifício. Já se pode trabalhar de uma forma quase isolada na divisão dos espaços interiores destinados mais tarde
não se sabe a quê. Logo, numa primeira fase, houve ensaios, algumas hipóteses. A pala esteve em vários lados e é o resultado
de uma série de conversas sobre outros aspectos do funcionamento do recinto da Expo'g8 e das sugestões que me foram feitas
pelos engenheiros, os homens das estruturas. São eles que dizem que se pode fazer uma determinada coisa. Alertam para
dificuldades, explicam se é caro ou barato. Foi com eles que fiz várias experiências até se encontrar a fórmula ideal, aquela que
dá uma imagem apropriada às funções do edifício (pavilhão do país anfitrião) e, ao mesmo tempo, não constrangedora em
relação a um sector da cidade em funcionamento normal". ÁLVARO SIZA
"Este não é um projecto que se pense em casa, enquanto se está sentado a olhar para a janela. O objectivo final tinha uma
data marcada. Os condicionamentos avolumavam-se e, muitas vezes, eram contraditórios. A concepção foi difícil. Era pre­
Ideias que conduzem e são conduzidas
ciso respondeI' a interesses diferentes de vários sectores: engenheiros, agentes do protocolo, direcção da área expositiva, os
agentes dos restaurantes.. , Tratou-se, portanto, de um projecto com uma fOl'lna que simultaneamente conduz e é con-
duzida". ÁLVARO SIZA
"O aumento da complexidade do projecto começa quando chegamos ao detalhe. Por exemplo, decidir quantos centímetros é
que um rodapé vai ter ... Geralmente, as pessoas nào se apercebem, quando entram num edifício, que há muitas razões para o
A importância dos detalhes e rodapés
"odapé ter.r centímetros. Nào é um mero capricho, embora possam existir caprichos na arquitectura". ÁlVARO SrZA
"Um capricho não é uma coisa alheia a um processo de reflexão e consenso. O capricho é o compromisso. Não pode haver
racionalidade sem capricho. No meu entender são complementares. Cada vez mais, na arquitectura, é difícil fazer passar capri-
chos. Numa situação destas é ainda mais difícil. No Pavilhão de Portugal c]uase que não há caprichos". ÁLVARO SrZA
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"A pala é de betão e tem 20 centímetros. Sólida. A forma física da pala obedece ao cálculo do cair natural de uma tela. Se a
curva não fosse calculada devidamente haveria uma pressão e partia - disso tratam os engenheiros. Tenho a ideia da pala e per­
A ideia da pala
gunto aos engenheiros se é um disparate. Os engenheiros - e neste projecto há bons engenheiros - disseram que se podia fazer.
Estudaram inúmeras hipóteses, fOl'am falando comigo para, em conjunto, estudarmos as possibilidades. Não é a pala que vai
diferenciar o Pavilhão de Portugal dos outros, é antes o contraste enlre a pala - que é pouco usual - associada a um edifício
com janelas iguais. É isso que lhe dá carácter". ÁLVARO S'ZA
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"Não sei se a pala surgiu como analogia dos toldos da praia, considerando a proximidade da água. Não sei. Quando estamos
na fase nebulosa de pré-criação vamos experimentando, procuramos ideias, formas, aparecem muitas referências sem tel'lTIOS
O papel único da memória
consciência do porquê de determinada ideia. Na tentativa de encontrar um caminho não dizemos: vamos experimentar A ou
B. É um processo mais instantâneo e, pOl'lanto, passa por um certo inconsciente. Um dos aspectos importantes na formação
de um arquitecto é desenvolver essa capacidade de registar experiências e de recorrer a elas naturalmente. Na minha opinião,
o arquitecto não pode saber a fundo de nada. O arquitecto é especialista em não ser especialista de coisa nenhuma. Não é pos-
sível criar uma plasticidade em que vão entrando todos os aspectos técnicos e outros se se for um especialista. Não sei dizer qual
é o significado da pala, terá muitos, não sinto necessidade de justificar a sua existência. A arquitectuI'a não é como um texto
p,'agmático ou explicativo". ÁLVARO SrZA
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"Quando fui ver a pala pela priIneira vez não Ine acbnirei grandemente. Os esquiços, os desenhos rigorosos, as maquetes...
Nada nos dá garantias sobre o que vai dar uma ideia depois de construída. Usamos muitos instrumentos, muitas técnicas de
apuramento de uma ideia, uma quantidade de instrumentos de trabalho que nunca nos dão por inteiro a tranquilidade de
saber logo o que nos espera. Pensei sempre que a pala deveria produzir um impacto muito grande. Será que esta impressão não
é demasiada? Quando cheguei ao recinto e vi finalmente a pala, achei naturalíssimo. Não me impressionou nada, não tive von­
A intranquilidade de uma ideia
tade de dizer: olha a pala. Nada. Achei natural. Era o que pretendia, mas não estava seguro de o ter conseguido. Há uma
margem de receio, de dúvida muito grande numa construção destas dimensões". ÁLVARO SIZA
"O que me faz impressão na pala é o facto de um objecto que deveria ser feito com materiais leves ser feito de betão e ter um
A pala vista por Souto de Moura
ar perene. O facto de ser em betão (contra-natura) é o que produz a surpresa". EDUARDO SOUTO DE MOURA
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"O engenheiro estava aborrecido porque gostava que a pala tivesse uma espessura menor. Dizia ele: isto ainda está muito espes­
Um engenheiro il15atisfeita
soo Eu já estava satisfeito com os 20 centímetros". ÁLVARO SIZA
"Há coisas que se aprendem com a experiência. Pensar, ver, comparar. Não existelTI lTIuitas oportunidades de fazer um edifí­
Trabalhar com umjogo de medidas
cio com estas dimensões e com estas características, mas em qualquer projecto há dúvidas sobre a escala e as proporções, por
mais experiência que se tenha. Trabalhar com o grande - a construção - e o pequeno - as maquetes, por exelTIplo - é um jogo
de medidas. A experiência não chega". ÁLVARO SIZA
"O Souto de Moura desenvolveu uma ideia autónoma para a parte expositiva. Acho que houve no trabalho dele a preocupação de
Escolher um arquitecto para a exposição
avançar C01TI algo que nào fosse contra a arquitectura do autor. Perguntou-1TIe várias vezes a minha opiniào, mas eu estava numa
posição de extrema confiança. Ao fim de uns anos, descobri que é impossível este arquitecto fazer uma coisa de que eu não goste.
Por outro lado, fui ganhando connança na capacidade do espaço de receber várias intervenções. Quando escolhi este arquitecto n-
-lo exactamente por não fazer C01TIO eu, ou seja, escolhi-o pela diferença. Não sendo eu a fazer os interiores, não queria U1TI sub-
eu. Queria alguém que assumisse todas as contradições e com capacidade para isso. O Souto de Moura teve UlTIa grande dinculdade
em acompanhar o ritmo da evolução dos núcleos expositivos do pavilhão, ao mesmo tempo que foi confrontado com proble-
mas inerentes à exposição e ao facto de existir uma grande máquina a trabalhar com um objectivo a prazo. Trata-se de um evento
que implicou um investimento financeiro muito grande e que tem uma faceta pública bastante visível. Tive a percepção imediata
disso e pressenti que seria importante descentralizar. Ter outro arquitecto a olhar pelos interiores e}cpositivos era uma opção.
Disseram-me para escolher. Eu escolhi. Restava saber se ele aceitaria". ÁLVARO SlZA
-
27
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"Aceitei ser o arquitecto das exposições porque nào era a primeira vez clue trabalhava com o Siza e sei que a relaçào pessoal é
Procurar um discurso não perturbador
boa. Não há complexos, o que é fundamental nestas situações. Pensei também que seria bom trabalhar na Expo'g8. Não é todos
os dias que aparece a oportunidade de trabalhar num edifício com esta escala. No capítulo das dificuldades, a maior foi a tran-
quilidade por parte do Siza. É muito responsabilizante o facto de ele se mostrar tranquilo em relação ao meu trabalho. A prova
de amizade e de confiança profissional aumenta as preocupações e a responsabilidade. A dificuldade reside no facto de eu não
ser ele e ter de procurar um compromisso, em vez de me remeteI' para uma linguagem que é só minha. Uma das condições que
o Siza colocou desde o início era que deveriamos entender este edifício como um espaço que - de passagem - serve para a
Expo'g8, ou seja, tem uma ocupação temporária, mas é essencial que tenha uma carga cultural em relação à geografia e à cidade
no futuro. Hoje estamos mais esclarecidos c[uanto às funções definitivas". EDUARDO SOUTO DE MOURA
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o �'-"-I'.
�(fI t�j�··.L-.r wth. 1/
(j. �)r
"Os contéudos são de grande qualidade e implicam uma série de novas tecnologias e, por isso, quanto melhores são, mais difí­
Como 05 malabaristas no circo
cil é a passagem para a materialização. Com um bom edifício e um bom guião expositivo maior é a dificuldade. O facto de não
existir uma fórmula rígida veio acrescentar dificuldades óbvias para se chegar a uma forma definitiva. Como todos os espaços
expositivos têm um determinado significado e pretende-se que tenham um efeito concreto, as soluções tinham de ser eficazes.
Era importante que o espaço expositivo não fosse um objecto estranho dentro do edifício. Isso era uma missão quase impos-
sível. O edifício vive de janelas e não era possível ter excesso de luz nas três salas dos núcleos expositivos por causa da projecção
dos filmes. Assim, fui obrigado a fechar todas as janelas. Não queria que a exposição fosse contra natura em relação ao edifí-
cio. Isto fez com que trabalhasse quase no fio da navalha e acabei por fazer um segundo edifício encostado ao edifício princi-
pai, embora os visitantes não tenham essa percepção nem à entrada, nem à saída. As pessoas não se apercebem que aquelas pare-
des não correspondem às do edifício principal, têm apenas 70 centímetros. Penso que há um prolongamento da escala e da
forma. O que me deu mais gozo foi poder trabalhar por sobreposições. Como aqueles senhores no circo que põem uma série
de pratos no ar e andam a correr de um.a lado para o outro". EDUARDO SOUTO DE MOURA
"Um arquitecto faz objectos cuja escala é variável. Há hoje uma tendência em todos os campos para a especialização. A tendên­
A arquitectura não é estanque
cia para a especialização numa profissão onde o que interessa são as relações, as coisas em si, é contra natura. Um arquitecto
de interiores, que é COlno nos referünos ao Souto de Moura neste caso, não faz sentido, porque a relação com o espaço está na
rua, na praça, na praia, depois no átrio, nas salas, etc. Não há zonas estanques. Não é possível tratar o interior de uma casa
sem se considerar o exterior. No caso do Pavilhão de Portugal, o Souto de Moura teve de trabalhar o interior. É uma condi-
cionante muito especial. Teve de trabalhar só o interior, mas - porque é Ulll arquitecto - não perdendo a relação COlll o resto".
ÁLVARO SIZA
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3T
I
,
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A apologia do trabalho invisível
" AB contradições e o conjunto de informações complexas não podem ser visíveis. Nào podem massaCI'ar as pessoas. Se o públi-
co têm a mínima percepção do esforço, o meu trabalho nào está bem feito. Falhou. É como num livro, quando o leitor percebe
exactamente que livros é que o autol' leu. O leitor fica desiludido. Aqui o grande esforço foi exactamente esconder o esforço".
EDUARDO SOUTO DE J1.0URA
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"Pareceu-me que a minha intervenção deveria ser inteligente e a inteligência neste caso seria não ter grande protagonismo.
Era preciso encontrar os meios necessários para reforçar a obra e os contéudos. É como um texto: são tão importantes as
palavras e a sintaxe como os espaços deixados entre elas para facilitar a leitura. Achei que deveria entender a minha tarefa como
uma exposição que fazia a ligação entre o hau do Siza e a saída. Trabalhei muito no hal!, alterei as proporções, desenhei por-
tas, tirei pilares, fechei uma parte extel'ior do edifício, escondi janelas para criar uma nova sala. Os contéudos expositivos pas­
sam essencialmente por imagens e, tendo isso em conta, era preciso desenhar quase pela negativa, ou seja, não criar mais ele­
mentos, mas sim eliminá-los. Era uma questão de bom senso. Se ficar bem e resultar, é o maior elogio. Com um ecrà de 15
metros e um filme altamente sofisticado, todos os pormenores ficam diluídos. Fiquei com a responsabilidade das proporções
e das ligações técnicas. Parece uma coisa simples e, na verdade, é muito complicado. Pode não ser visível, mas existe a memória
e há um conjunto de códigos que nào têm de ser narrativos, mas que o visitante do pavilhão "sente". Isso é o mais importante.
Quando a exposição aposta no virtual não tem de haver uma leitura de arquitectura interior, caso contrário estariamos a criar
ruído que iria dificultar a compreensão dos visitantes". EDUARDO SOUTO DE MOURA
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Fugir ao protagonismo
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"Sabia que era necessário ter um atmosfera autónoma na exposição. As pessoas têlTI de para,', concentrar-se e perceber que
aquilo é uma coisa diferente. Há uma transição do edifício para a parte expositiva e o visitante pode esquecer-se do resto".
ÁLVARO S'ZA
Os núcleos expositivos
"A primeira sala tem imagens enormes. Trata-se da projecção de um filme muito forte. A segunda sala foi dividida em duas:
por um lado, há a sensação de mergulho no mar e, por outro, há a possibilidade de ver de perto objectos relacionados com O
mar e com a navegação, resultado da escavação subaquática na barra do Tejo. Há uma separação física, mas não há portas. É
sempre o mesmo espaço. A cor joga um papel importante, há variações que ajudam a entender as diferenças entre os espaços
expositivos. A passagem para o futuro não é uma ruptura, é gradual. O terceiro núcleo p"essupõe um hiato em relação ao
segundo, contudo não há uma limitação física, trata-se de um p"ocesso contínuo. Houve uma preocupação de relacionamen-
to das peças e dos filmes com o som. Havia um problema de alternância se não queriamos que o espaço expositivo funcionasse
como um funil, onde as pessoas são bombardeadas com informação. O visitante vai perceber que há claramente três núcleos,
construídos de forma distinta e com mensagens diversificadas". EDUARDO SOUTO DE MOURA
"Os interiores do edifício são dois: o expositivo e o de representação, onde há uma área de restaurante e a recepção aos chama­
O interior do edifício
dos vips, os serviços de apoio, as cozinhas, um bar e a livraria. Para conceber estes espaços fiz um esforço para me ver na pele
de um cozinheiro, de um rei, enl comprador de catálogo. . . " ÁLVARO SIZA
'uto de Moura
"J ulgo que o arquitecto Souto de Moura preferia não ter pilares no interior. Acontece que os pilares moldam O edifício e isso
é intencional. O trabalho do Souto de Moura foi o de arranjar soluções que fizessem do espaço um espaço melhor também
por causa dos pilares. Este é o trabalho do arquitecto. Dizia Bernini que a grande função do arquitecto é transformar em belos
os espaços feios. Perante uma coisa aborrecida, o arquitecto tem por função procurar a beleza... Quer dizer, não estou
arrependido de ter lá posto os três pilares". ÁLVARO SIZA
"Pois. . . " EDUARDO SOUTO DE MOURA
"O espaço exterior da Praça Cerimonial estava para ser branco, lnas em conjunto concluímos sobre a ilnportância de ter ali
A Praça Cerimonial e a palavra Portugal
um sinal. Assim surgiu uma caravela e a palavra Portugal escrita da forma quinhentista e da forma contemporânea. Havia a ten-
taçào de põr mais coisas, mas acontece que a circunstância da exposição obriga a certas limitações". ÁLVARO SrZA
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Pensar os elementos exteriores
"A Praça Cerimonial é um elemento que fica. Não é um espaço fechado, está subordinado à pala. À partida havia uma exigên-
cia para se fazer urna praça de recepção de grupos, e esse espaço deveria estar disponível noutros momentos. Não convinha ([ue
houvesse pilares ou apoios a servil' de obstáculos. Não há muitas maneiras de cobrir um espaço desta dimensão. A primeira
ideia foi a de fazer um negativo do que lá está, uma cúpula. Pensei numa curva ao contrário, mas isso era um bocado desabri-
gado e a altura seria exagerada. Um elemento importante na Praça Cerimonial é a força nos pórticos de entrada, tinham de ser
peças potentes de fOl'lua a suportar a tensão que a pala provoca". ÁLVARO SIZA
"Num acontecimento de grandes dimensões como uma exposição desta natureza, que vai deixar um património significativo
A exposição cama obra por acabar
na cidade, é preciso que o projecto nào seja estanque e que não se faça tudo de imediato. Um dos grandes problemas com que
nós, arquitectos, nos debatemos hoje é a ideia de ([ue, como há cOluputadores, técnicas e outros recursos - ferramentas muito
mais rápidas - tudo pode ser acelerado. Não pode. Há uma ferramenta que tem de funcionar que é a cabeça. O amadureci-
mento de um projecto é importante, mas depois a continuação é um percurso que nào pára e é igualmente precioso. Mais do
que o habitual há um certo inacabado no recinto de uma exposição. Isto não se prende COIU atrasos, antes sim com necessi-
dades, as formas de viver com e no edifício". ÁLVARO SIZA
"A relação com o exterior não é uma coisa menor, é indissociável do projecto. Por exemplo, à saída existem uns jardins mura­
A saída do edifício
dos que fazem o prolongamento do edifício por um lado, mas que são, por outro, uma forma mais natural de cada um dos
visitantes se diluir no recinto nas diversas direcções possíveis". .ÁLvARO SIZA
"A maioria das crianças quando forem grandes querem ser bombeiros, aviadores, palhaços. Eu queria ser uma quantidade de
Quando era pequeno...
coisas, mas lembro-me que, com 12 anos, queria ser escultor e quase que fui... Não sou, mas hei-de ser... Se calhar, se fosse
escultor queria ser arquitecto". .ÁLVARO SIZA
"Se bem me lembro queria ser engenheiro de máquinas. Tinha o fascínio pelas máquinas. E agora quero ser fotógrafo. É uma
... queria ser ...
actividade que depende muito do próprio, onde os alibis de outros são pouco convincentes". EDUARDO SOUTO DE MOURA
"Eu relaciono-me com os computadores tendo colaboradores que trabalham muito bem com computadores. Julgo que no meu
Estar ligado ao tempo
atelier o uso dos computadores é elementar, permite uma economia de tempo fundamental. Tenho consciência de que deverá
haver possibilidades que eu não imagino. A criatividade pode ser potencializada com o computador e há muitas pessoas a tra-
balhar nesse campo, mas isso não substitui o desenho, o gesto. O computador tem uma rapidez muito grande. Quem tiver os
programas todos e se organizar tem uma capacidade de resposta muitíssimo maior. Está ligado ao tempo. O absurdo é pensar
que o computador, que é muito rápido, não obriga a pensaI'. E pensar demora tempo... Em vez de ampliar as possibilidades a
informática pode limitar. É uma das perversões possíveis. . Se nós deixarmos". ÁLVARO SIZA
42
"Eu não sei nada... nem mesmo ligar o computador. É um grande auxílio, mas não há nada como o papel e o lápis. Claro que
Não há como o papel e o lápis
aderimos aos computadores... Os meus colaboradores fazem maravilhas. Eu é que não. Concordo com o Siza. É preciso pen-
sal' nas coisas e os computadores nào fazem isso. Podeluos fazer um projecto em dois dias, luas estamos sujeitos ao que está pré-
fabricado no universo da informática, nào apelamos aos nossos sentidos, à memória..." EDUARDO SOUTO DE MOURA
43
"Pensei no edifício para ser o Pavilhão de Portugal, nus não só, porque este edifício é para ficar depois do encerramento da
ExpO'98. Sendo o Pavilhão de Portugal teria de ter um destaque. Por razões de tipologia, todos os edifícios têm uma vocação
de forma, percorrem o seu destino. Neste caso não era uma via fácil, o destino era um futuro que não se conhecia. Há uma
encomenda de uma igreja, faz-se uma igreja que se perceba imediatamente que é uma igreja. Às vezes, a preocupação é tanta
(lue I'esulta num monstro. As fixações tipológicas podem significaI' algum conservadorismo e comodismo. A estratégia para
conceber este edifício foi, depois de tel' percebido que os outros edifícios no recinto tinham uma certa ambição em altura, a
de dar destaque pela horizontalidade, apostar no reflexo na água". ÁLVARO SIZA
Ser o Pavilhão de Portugal
"Ao nível do estilo não lne preocupei com os elementos marcadamente portugueses. No Estado Novo, por exemplo, fez-se .1m
Fatalmente português
gl'ande esforço para reflectir uma identidade. Aqui há coisas portuguesas que surgem de uma forma não óbvia. Ser português
e desenhar um edifício em Portugal implica fatalmente alguma coisa de português. Há um discurso com O rio que não tem a
ver com O facto de se ser português, mas com a posição geográfica. Há marcas que nos ultrapassam, nào vale a pena fazer
esforços especiais para explicar". ÁLVARO SIZA
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"O trabalho do arquitecto nunca termina. Um edifício - mesmo que não mude de mãos - vai val'iando. Uma família compra
As casas mudam. . .
uma casa e, nessa altura, tem quatro filhos pequenos. A casa vai sofrendo modificações porque o tempo passa, os filhos crescem,
mudam de casa, têm filhos que ficam em casa dos avós..." ÁLVARO SIZA
"Mais do que a antecipação de problemas, o arquitecto deve procul'ar a maleabilidade, ou seja, a capacidade de inverter per-
cursos. O exemplo clássico é o do convento que é projectado para uma comunidade com regras muito rígidas e depois pode
Oexemplo do convento...
servir para outras funções: hotel, universidade, museu, biblioteca... De certa maneira, qualquer projecto deve ter este pressu-
posto. O aprofundamento até ao detalhe não é só fazer uma lista sobre o edifício dizendo que este espaço pode fazer as vezes
de A B C oU D. Isso não chega, porque a realidade pode ultrapassar largamente o que se antecipa. Encarar atempadamente
determinados problemas leva a um distanciamento da função imediata, tornando o edifício mais abe1'lO, logo mais fácil de
entendeI' por qualquer utilizador". ÁLVARO SIZA
47
"AJ; linhas simples do pavilhão podem pressupor alguma frieza. Já me aconteceu acabar um edifício e ser acusado disso. Ora,
A suposta frieza do edifício
um edifício faz-se para ser habitado: pessoas, móveis, cortinas, tapetes. Tem de haver espaço de manobra para o utilizador
imprimir o seu cunho. O edifício tem de estar preparado para isso, para ser vivido. A apreciação de urna arcluitectura nua é
apenas académica, tem de haver lugar para outras coisas. Não acho o Pavilhão de Portugal um edifício frio. A luz, pela variação
que os espaços sofrem, dá - por si só -- vida ao edifício". ÁLVARO SIZA
"A escolha da cor e do material na parede interior da Praça Cerimonial não foi simples. Estou muito interessado no azule-
jo há uns tempos , prende-se COIU o ITleU interesse pelo desenho e , por isso, achei cjue neste caso era UITl ITlaterial a utilizar.
O azulejo é um material que está ligado à história da cidade de Lisboa, mas apresenta hoje dihculdades. No que diz respeito
Os azulejos e a derrota da timidez
à cor, provavelmente sou um pouco sensível a críticas que oiço e que dizem que faço tudo branco. Talvez tenha decidido
que aqui apostaria na cor como reacçiio. Passeando no recinto da exposição descobri que há urna predominância grande do
branco e, talvez por contradição, optei pela cor na parede de suporte da pala. Esta estrutura não se compadece com um tom
creme ou branco, era melhor apostar noutra cor, forte, e ficou a cor de vinho. Para miIu, a cor tem sido basicamente a cor
dos materiais, mas neste caso nào podia ser tímido. No princípio nào estava cOIupletamente descansado, mas acho que
resultou". ÁLVARO SIZA
---
49
"Um bom arquitecto, competente dentro do seu campo de responsabilidade, é aquele que dá uma resposta eficaz. Circunstâncias
Um bom arquitecto?
várias, entre as quais o empenho, a convicção e a resistência podem facilitar um salto qualitativo, traduzindo-se num edifício
brilhante que se destaca ou que se torna invisível. É, muitas vezes, mais difícil de conceber um edifício que se apaga. Um bom
arquitecto não é apenas aquele que faz o edifício brilhante. O arquitecto tem de falar com pessoas, fazer de psicólogo, de
l'elações públicas, fazer cedências, cont.rapôr... Não é um ditador". ÁLVARO SIZA
50
"A questão central é acreditar no trabalho do outro, sem cerimónia... O que faz um trabalho de equipa resultar é o facto de as
O trabalho de equipa. . .
pessoas discordarem e conversarem abertamente, sem pedras nos sapatos. Nas visitas clandestinas que o Siza fazia ao pavilhão
ia-me dizendo algumas coisas: mas por dentro o pavilhão vai ser todo preto? Não se vai ver nem um bocadinho?" EDUARDO
SOUTO DE MOURA
"É difícil trabalhar com muitas condicionantes, mas é igualmente motivador. É como os pilares. Não podemos viver sem eles,
Os pilares outra vez
mas a ideia era fazer com que os pilares ficassem belll, fossem quase imprescindíveis. No último núcleo expositivo optámos por
exibir um filme e, de repente, o único sítio onde se podia projectar o filme tinha na sua frente três pilares. Ora, se não os
podelllos vencer, juntemo-nos a eles... " EDUARDO SOUTO DE MOURA
52
Retratos
SIMONETTA Luz AFONSO
Nasceu em Lisboa, em 1946. É licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Conservadora de
museu, iniciou a sua actividade profissional em 197� , no Palácio Nacional da Pena e transitou , em 1974, para o Palácio Nacional de
Queluz, que dirigiu entre 1983 e 1991.
De 1980 a 1983, dirigiu o Instituto de Conservação e Restauro Dr. José de Figueiredo. É nomeada, em 1991, directora geral do
Instituto Português de Museus, cargo que desempenhou atéJ unho de 1996, data em que assumiu as funções de Comissária da Secção
Portuguesa para a Expo'98.
Foi comissária das exposições do Festival EUl'opália Portugal/91 , realizado na Bélgica, e das exposições de Lisboa/94 Capital Europeia
da Cultura. Foi também comissária de inúmeras outras exposições de artes plásticas em Portugal e em diversas capitais europeias,
nos Estados Unidos, no Brasil e no Japão.
Leccionou no curso de Gestão dasArtes do Instituto Nacional de Administração . Tem mantido actividade regular de conferencista
em seminários e colóquios de História da Arte, Conservação e Museologia ou de temas patrimoniais, bem como colaboração escri-
ta em publicações especializadas.
55
l'
< '
56
ÁLVARO S'ZA
Nasceu em Matosinhos, em 1 9 3 3 . Estudou Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 19'1·9 e 1955. Foi
colaborador do Prof. Fernando Távora entre 1 955 e 1958. Foi Professor Visitante na Escola Politécnica de Lausanne, na
Universidade de Pensilvânia, na Escola de Los Andes em Bogotá, na Graduate School of Design of Harvard University.
Continua a leccionar na Universidade do Porto.
É autor de inúmeros projectos, de onde se destacam o Plano ela Malagueira em Évora, a Faculdade de Arquitectura do Porto,
a reconstrução do Chiado, entre outras. As suas obras foram expostas em vários países e foi premiado diversas vezes a nível
nacional e internacional. Tem sido convidado a participar em várias conferências e seminários. É membro ela Arnerican
Academy of Arls and Science e "Honorary Fellow" do Royal Institute of Bristish Architects, do American Institute of
Architects, da Académie d'Architeclure de France e da European Academy of Sciences and Arts.
57
---
58
EDUARDO SOUTO DE MOURA
Nasceu no Porto, em 1952. Começou por colaborar com o Arquitecto Siza Vieira. Licenciou-se em Arquitectura pela Escola
Superior de Belas Artes do Porto em 1980. Iniciou a sua actividade como profissional liberal em 1980. Leccionou em várias
escolas nacionais e estrangeiras. Das suas obras destacam-se a Casa das Artes, Centro Cultural da Secretaria de Estado da
Cultura, departamento de Geociências da Unive,·sidade de Aveiro. Ganhou diversos prémios, nacionais e estrangeiros.
59
Desenhos
ÁLVARO SIZA
EDUARDO SOUTO DE MOURA
Recolha de textos
PATRÍCIA REIS
FRANCISCO GUEDES
HENRIQUE CAYATTE
Design
ATELIER HENRIQUE CAYATTE /004 (LuÍsA BARRETO)
Pré-impressão, i1npressão e acabamento
CRITÉRIO - PRODUÇÃO GRÁFICA, LDA
Depósito Legal 1 2 6 427/98
ISBN 972-97893-0-4
)
PARQUE DAS NAÇÕES

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Pavilhão de Portugal na Expo'98

  • 1. " ALVARO SIZA· Pavilhão de Portugal EDUARDO 'SOUTO DE MOURA
  • 2. Edição realizada com o patrocínio da ~FUNDAÇÃO , BAiCO CmlERCIAL PORTUGUES
  • 3. o nascer de um monumento S'MONETTA Luz AFONSO Em 1994 recebo um telefonema do António Mega Ferreira e um desafio: quer pensar os contéudos do Pavilhão de Portugal na Expo'98? Tema: os Oceanos e a celebração da viagem de Vasco da Gama! Tratava-se de um daqueles desafios a que não se con- segue resistir. Havia dois caminllOs. O fácil seria pegar em património do tempo dos Descobrimentos e fazer mais uma exposição. O mais difícil seria pegar no tema de uma forma abrangente e universalista, aproveitar a ocasião para deixar alguma coisa que perdurasse além da efemeridade obrigatória do evento, descobrir fontes iconográficas menos divulgadas e dá-las a co- nhecer ao grande público, usar as novas tecnologias e trazer à luz da ribalta peças novas do tempo dos Descobrimentos. A primeira ideia que me surgiu foi uma daquelas que acalentava há anos e ficara "guardada" à espera de melhores dias! Partir da riquíssima iconografia dos Biombos Namban, de que alguns dos melhores exemplares se guardam em museus portugueses, dando vida às personagens que povoam aquele testemunho único e fidelíssimo da chegada dos portugueses aoJapão. Projecto de dimensão lúdica - a animação, a construção de um mundo onde se misturavam elementos reais e virtuais - tinha também uma indesmentível carga didáctica, pela possibilidade de restituição dos ambientes de época (o vestuário, a construção naval, a arqui- tectura nipónica, os costumes) e de evocação da emoção espantada do homem oriental que pela primeira vez via aqueles seres de compridos narizes, cOln as suas armas de fogo, os óculos e os trajes, acompanhados por uma fauna exótica e desconhecida naque- las paragens. 5
  • 4. A ideia seguinte afigurava-se igualmente difícil, mas não menos aliciante: promover uma escavação de uma nau da Carreira da Índia e, através dos objectos recuperados, dar força à ideia base do pavilhão, funcionando ao mesmo tempo como símbolo dos momentos mais brilhantes das navegações portuguesas. A vantagem deste projecto residia ainda na possibilidade de se recons­ truir tanto a memória dos grandes navegadores como a da anónima "gente do mar", através dos objectos mais diversos do seu quotidiano perdido; a sua dificuldade radicava no esforço de revolver arquivos em busca de informações sobre naufrágios, iden­ tificar locais prováveis da desgraça e pôr em marcha as equipas de arqueólogos subaquáticos, o que foi possível por ter tido a sorte de trabalhar com o grupo mais experiente em Portugal. Enfim, um desejo que acompanhou sempre a concepção do Pavilhão de Portugal, de dificuldade extrema, foi o de não apresen- tal' uma versão passadista da História, saudosa de glórias antigas, mas - pelo contrário - dar ao público a ideia de um país com um passado que sabe preparar o futuro. Este foi, na verdade, o tema mais difícil de materializar, para o qual os condicionantes tempos de visita, número de visitantes e disponibilização de informação em tempo real constituiram os maiores obstáculos. O projecto continuou depois com a formação de uma equipa. Discutiram-se conceitos e formas de os concretizar, aproximan­ do-nos da ideia de exposição-espectáculo. Sabia já, nessa altura, que o arquitecto do edifício era o Álvaro Siza, com quem nunca tinha trabalhado e cuja obra muito admirava. E assim, trabalhando em paralelo, um no Porto e outro em Lisboa, cá nos encontrámos emJulho de 1995. À vista dos primeiros desenhos e da exposição clara do projecto fiquei logo rendida ao edifício e às possibilidades que ele permite, à sua flexibilidade e localização simbólica, à luz! Mas a luz, criava, em simultâneo, um outro problema, pois precisava em absoluto de ser contro­ lada, por não caber na nossa aposta e""positiva. Confesso que não foi sem uma ponta de receio que lhe expliquei que, de forma a evocar um percurso através do imaginário, do mundo dos sonhos e das fantasias próprias das grandes narrativas míticas ligadas ao mar, a exposição não poderia ter luz natural. Acrescentei, ainda, que queria que o visitante, depois de ter visto o pavilhão por fora, entrasse na exposição, esquecesse que estava num edifício e viajasse connosco! São as imagens que materializam as ideias e 6
  • 5. que o vão conduzir, lTIas é UlTI percurso de sonho até às realizações do passado e aos desafios do presente. Prometi-lhe que teríalTIos talTIbém uma sala dele, muito dele, rigorosalTIente contemporânea e despojada, cuja silTIples visão desse a ideia do pre­ sente-futuro. Apesar de já ter ilTIaginado um interior clássico para o espaço lTIuseológico, foi lTIuitíssilTIO receptivo, se bem que algo desconfiado relativamente a tudo o que lhe contara sobre o conceito de eX'P0sição-espec outras fatalidades que haverialTI de invadir a sua obra. Pormenorizar um edifício desta dimensão, entregar o projecto a tempo para lançar a obra iria, certalTIente, ocupar lllUitO do seu telTIpo, pelo que achei excelente que tivesse delegado a responsabilidade do trabalho de arquitectura da exposição no Eduardo Souto de Moura. Foi a melhor escolha! Já o conhecia do projecto do Museu Grão-Vasco, elTI Viseu, e revelou-se depois nas lTIúltiplas horas de trabalho que realizámos juntos COlTI a Anabela Carvalho, a Raffaella d'Intino, o Miguel Soromenho, o Rui Afonso e o Johann Schelfout. Nenhum de nós se sentia "dono" da verdade absoluta e foi nascendo, entre todos, UlTIa soli- dariedade pouco vulgar. Esta busca incessante de opiniões diferentes e de outros pontos de vista que enriquecesselTI os nossos, procurálTIo-la COlTI hUlTIildade elTI todos aqueles que podialTI ter contributos válidos a dar ao Pavilhão de Portugal: foi sobretu­ do a diversidade de olhares que procurámos no António Manuel Hespanha, noJoaquilTI ROlTIero de Magalhães, no Mário Ruivo, no Fernando Lopes, no Henrique Cayatte, na Patrícia Reis e no Francisco Andrade. E conseguimo-lo com êxito. As vezes que se implantou o projecto ex'Positivo no espaço disponível não têm conta' O fluxo de visitantes tinha de ser constante, a visita não podia delTIoral' mais de 25 lTIinutos, e, para cOlTIplicar tudo, alterou-se o nÚlTIero, já grande, de II mil visitantes diários para 20 mil! Não podia, de lTIodo algulTI, haver barreiras arquitectónicas, nem escadas, nem elevadores, nelTI ralTIpas! O que ganharíalTIos elTI espaço perderíamos em fluidez! O que então adlTIirei no Eduardo Souto de Moura foi sobretudo a capacidade de ouvir e de realizar. Entretanto, Álvaro Siza ia passeando pela exposição, desconhado a princípio, curioso depois e rendido por hm.
  • 6. A solução arquitectónica a que chegámos para a implantação dos conteúdos foi aquela que nos permitia um edifício que ia ter uma função transitória Ce depois dehnitiva, quando se concluísse sobre a sua utilização futura), articulando as exigências de segu­ rança, insonorização, instalação de equipamento de projecção e fluidez de circulação com um mínimo de custos e de alterações na segunda fase. Optou-se, assim, por trabalhar no projecto expositivo com as paredes em tosco e com um piso único, per­ mitindo os pilares existentes na última sala ancorar no futuro o piso intermédio. Entretanto, a construção do edifício ia progredindo e o Álvaro Siza ia hcando mais livre de espírito e menos angustiado com os pra­ zos. Pudemos aqui começar a sonhar com os interiores da ala protocolar, dos restaurantes e da livraria. Como mobilá-los? Indo bus­ car peças e objectos aos museus? Nunca! Indo comprar móveis às lojas de decoração, maioritariamente estrangeiros? Também não! Sobretudo tendo o design português a qualidade que tem! Aqui entrou de novo a generosidade do arquitecto Siza. Lancei-lhe o desaho de desenhar os móveis para o pavilhão, criando uma linha de mobiliário, arranjando um fabricante e um produtor e fazendo-os entrar no mercadoI A linha foi baptizada de MARE, o produtor encontrou-se, dois jovens do Porto e a empresa D&D, o fabricante também, o Sr.Sünões, velho conhecido do arquitecto Siza e grande entusiasta do projecto.. , E a promoção internacional está a arrancar. Mas ainda nos faltava a loiça! E de novo peço a Álvaro Siza para a desenhar. Como ahnal uma sorte nunca vem só - ao contrário do ditado fatalista - encontro na Helena Bernarda, da SPAL, uma interlocutora que em tempo record nos produziu um serviço para 800 pessoas! Enhm, o problema dos talheres. Para eles não havia já tempo para serem desenhados, mas o Siza escolheu, e bem, um faqueiro de recente criação da Cutipol. Pensado para se chamar "Michigan", foi por nós rebaptizado de "Atlântico", uma derradeira homenagem ao lnar, nestes telnpos de Expo. O hm do processo não é propriamente o último acto. Volta-se agora a um outro prólogo, o da história de um monumento que acabou de nascer, e assinala-se o das equipas que nele trabalharam em dias e noites sem fim, preparando com certeza outros encontros futuros. 8
  • 7.
  • 9. 3-0 * .2.z l .J � .""7 ti Ó . J- á . h- -
  • 10. No princípio o futuro era um esquema
  • 11. "Um arquitecto, normalmente, trabaU,a com um programa e uma série de condicionantes. Uma das condicionantes é o sítio. O facto de ser uma paisagem natural ou o interior de uma cidade tem as suas implicações, mas é também aqui que se procura o estí­ mulo pal'a iniciar o trabalho. A primeira ideia com possibilidades de seI' desenvolvida, tendo em vista determinados objectivos e limitada por certas condicionantes, é muitas vezes impossível de se materializar. Outras vezes não. No caso da ExpO'98, os arqui­ tectos começaram a trabaU,ar ao mesmo tempo nos diversos pavilhões sem saber exactalnente que construções é que iam ter por vizinhos. Sabia-se que ia haver um futuro, mas o futuro ainda era um escluema. Faltavam informações sobl'e os elementos exteriores: o sítio, as grandes construções vizinhas, a utilização futura, os contéudos. Com estas dificuldades especiais - não é a situação nor­ mal - el'a fundamental estabelecer uma estratégia de funcionamento e deixar ao edifício várias possibilidades de aproveitamento. No futuro, este edifício podia ser um museu, mas também podia ser um escritório". ÁLvARO SIZA
  • 12. "Se a opção for utilizar este espaço para escritórios - ao contrário do que sucede num museu - é preciso partir o pavilhão em divisões pequenas. Esta possibilidade provocou, por exemplo, o aparecimento de pátios. . . A profundidade grande necessária para o fim imediato - a Expo'g8 - no futuro podia limitar a entrada de luz no edifício, daí a construção de dois pátios e uma implantação de janelas muito regular". ÁLVARO SIZA Pensar como uma dona de c "Um arquitecto quando trabalha tem de se imaginar dentro do projecto como se fosse uma casa. O arquitecto deverá desdo- brar-se em dona ela casa, porteiro, criança, mulher solteira, cozinheiro, rei... testando mentalmente como é que a construção serve as pessoas". ÁLVARO SIZA
  • 13.
  • 14. "No plano inicial deveria fazer um edifício no eixo da doca. Esta posição de eixo faz lembrar o Terreiro do Paço com o Arco de Triunfo da Rua Augusta como elemento dominador e dois b"aços laterais relacionados com a quadrícula da Baixa. Um grande espaço sobre o rio. Neste caso nilo se previam esses braços. Assim, sem saber como pegar nisto, pensei em mover o edifí- cio, retirá-lo do eixo da doca e colocá-lo numa posição de assimetria, ancorá-lo a um lado da doca. Como se fosse um barco. A partir daí estabeleceu-se uma relação que já nào é de simetria, mas de tensão com o que sabia já existir na doca: o Oceanário. A.l'ranjámos uma maior liberdade de actuação para os arquitectos, criando uma situação de tensão, mas também de dinamis- mo, aberta à utilização futura do edifício. Este foi o aspecto fundamental do trabalho inicial". ÁLVARO SIZA 16
  • 15. Atracar o edifício como um barco - 17
  • 16. --�� , I I I ., . I I I I I I I ' I I I l . 18 À procura da fórmula mais que perfeita
  • 17. "Há uma parte do trabalho em que o desenvolvimento e arrumação do programa passa a ser cOlno organizar o espaço interno num outro edifício. Já se pode trabalhar de uma forma quase isolada na divisão dos espaços interiores destinados mais tarde não se sabe a quê. Logo, numa primeira fase, houve ensaios, algumas hipóteses. A pala esteve em vários lados e é o resultado de uma série de conversas sobre outros aspectos do funcionamento do recinto da Expo'g8 e das sugestões que me foram feitas pelos engenheiros, os homens das estruturas. São eles que dizem que se pode fazer uma determinada coisa. Alertam para dificuldades, explicam se é caro ou barato. Foi com eles que fiz várias experiências até se encontrar a fórmula ideal, aquela que dá uma imagem apropriada às funções do edifício (pavilhão do país anfitrião) e, ao mesmo tempo, não constrangedora em relação a um sector da cidade em funcionamento normal". ÁLVARO SIZA "Este não é um projecto que se pense em casa, enquanto se está sentado a olhar para a janela. O objectivo final tinha uma data marcada. Os condicionamentos avolumavam-se e, muitas vezes, eram contraditórios. A concepção foi difícil. Era pre­ Ideias que conduzem e são conduzidas ciso respondeI' a interesses diferentes de vários sectores: engenheiros, agentes do protocolo, direcção da área expositiva, os agentes dos restaurantes.. , Tratou-se, portanto, de um projecto com uma fOl'lna que simultaneamente conduz e é con- duzida". ÁLVARO SIZA
  • 18. "O aumento da complexidade do projecto começa quando chegamos ao detalhe. Por exemplo, decidir quantos centímetros é que um rodapé vai ter ... Geralmente, as pessoas nào se apercebem, quando entram num edifício, que há muitas razões para o A importância dos detalhes e rodapés "odapé ter.r centímetros. Nào é um mero capricho, embora possam existir caprichos na arquitectura". ÁlVARO SrZA "Um capricho não é uma coisa alheia a um processo de reflexão e consenso. O capricho é o compromisso. Não pode haver racionalidade sem capricho. No meu entender são complementares. Cada vez mais, na arquitectura, é difícil fazer passar capri- chos. Numa situação destas é ainda mais difícil. No Pavilhão de Portugal c]uase que não há caprichos". ÁLVARO SrZA 20
  • 19.
  • 20. "A pala é de betão e tem 20 centímetros. Sólida. A forma física da pala obedece ao cálculo do cair natural de uma tela. Se a curva não fosse calculada devidamente haveria uma pressão e partia - disso tratam os engenheiros. Tenho a ideia da pala e per­ A ideia da pala gunto aos engenheiros se é um disparate. Os engenheiros - e neste projecto há bons engenheiros - disseram que se podia fazer. Estudaram inúmeras hipóteses, fOl'am falando comigo para, em conjunto, estudarmos as possibilidades. Não é a pala que vai diferenciar o Pavilhão de Portugal dos outros, é antes o contraste enlre a pala - que é pouco usual - associada a um edifício com janelas iguais. É isso que lhe dá carácter". ÁLVARO S'ZA 22
  • 21. "Não sei se a pala surgiu como analogia dos toldos da praia, considerando a proximidade da água. Não sei. Quando estamos na fase nebulosa de pré-criação vamos experimentando, procuramos ideias, formas, aparecem muitas referências sem tel'lTIOS O papel único da memória consciência do porquê de determinada ideia. Na tentativa de encontrar um caminho não dizemos: vamos experimentar A ou B. É um processo mais instantâneo e, pOl'lanto, passa por um certo inconsciente. Um dos aspectos importantes na formação de um arquitecto é desenvolver essa capacidade de registar experiências e de recorrer a elas naturalmente. Na minha opinião, o arquitecto não pode saber a fundo de nada. O arquitecto é especialista em não ser especialista de coisa nenhuma. Não é pos- sível criar uma plasticidade em que vão entrando todos os aspectos técnicos e outros se se for um especialista. Não sei dizer qual é o significado da pala, terá muitos, não sinto necessidade de justificar a sua existência. A arquitectuI'a não é como um texto p,'agmático ou explicativo". ÁLVARO SrZA 23
  • 22. "Quando fui ver a pala pela priIneira vez não Ine acbnirei grandemente. Os esquiços, os desenhos rigorosos, as maquetes... Nada nos dá garantias sobre o que vai dar uma ideia depois de construída. Usamos muitos instrumentos, muitas técnicas de apuramento de uma ideia, uma quantidade de instrumentos de trabalho que nunca nos dão por inteiro a tranquilidade de saber logo o que nos espera. Pensei sempre que a pala deveria produzir um impacto muito grande. Será que esta impressão não é demasiada? Quando cheguei ao recinto e vi finalmente a pala, achei naturalíssimo. Não me impressionou nada, não tive von­ A intranquilidade de uma ideia tade de dizer: olha a pala. Nada. Achei natural. Era o que pretendia, mas não estava seguro de o ter conseguido. Há uma margem de receio, de dúvida muito grande numa construção destas dimensões". ÁLVARO SIZA "O que me faz impressão na pala é o facto de um objecto que deveria ser feito com materiais leves ser feito de betão e ter um A pala vista por Souto de Moura ar perene. O facto de ser em betão (contra-natura) é o que produz a surpresa". EDUARDO SOUTO DE MOURA 24
  • 23.
  • 24. "O engenheiro estava aborrecido porque gostava que a pala tivesse uma espessura menor. Dizia ele: isto ainda está muito espes­ Um engenheiro il15atisfeita soo Eu já estava satisfeito com os 20 centímetros". ÁLVARO SIZA "Há coisas que se aprendem com a experiência. Pensar, ver, comparar. Não existelTI lTIuitas oportunidades de fazer um edifí­ Trabalhar com umjogo de medidas cio com estas dimensões e com estas características, mas em qualquer projecto há dúvidas sobre a escala e as proporções, por mais experiência que se tenha. Trabalhar com o grande - a construção - e o pequeno - as maquetes, por exelTIplo - é um jogo de medidas. A experiência não chega". ÁLVARO SIZA "O Souto de Moura desenvolveu uma ideia autónoma para a parte expositiva. Acho que houve no trabalho dele a preocupação de Escolher um arquitecto para a exposição avançar C01TI algo que nào fosse contra a arquitectura do autor. Perguntou-1TIe várias vezes a minha opiniào, mas eu estava numa posição de extrema confiança. Ao fim de uns anos, descobri que é impossível este arquitecto fazer uma coisa de que eu não goste. Por outro lado, fui ganhando connança na capacidade do espaço de receber várias intervenções. Quando escolhi este arquitecto n- -lo exactamente por não fazer C01TIO eu, ou seja, escolhi-o pela diferença. Não sendo eu a fazer os interiores, não queria U1TI sub- eu. Queria alguém que assumisse todas as contradições e com capacidade para isso. O Souto de Moura teve UlTIa grande dinculdade em acompanhar o ritmo da evolução dos núcleos expositivos do pavilhão, ao mesmo tempo que foi confrontado com proble- mas inerentes à exposição e ao facto de existir uma grande máquina a trabalhar com um objectivo a prazo. Trata-se de um evento que implicou um investimento financeiro muito grande e que tem uma faceta pública bastante visível. Tive a percepção imediata disso e pressenti que seria importante descentralizar. Ter outro arquitecto a olhar pelos interiores e}cpositivos era uma opção. Disseram-me para escolher. Eu escolhi. Restava saber se ele aceitaria". ÁLVARO SlZA
  • 25. - 27
  • 26. �-kl ,)-� "Aceitei ser o arquitecto das exposições porque nào era a primeira vez clue trabalhava com o Siza e sei que a relaçào pessoal é Procurar um discurso não perturbador boa. Não há complexos, o que é fundamental nestas situações. Pensei também que seria bom trabalhar na Expo'g8. Não é todos os dias que aparece a oportunidade de trabalhar num edifício com esta escala. No capítulo das dificuldades, a maior foi a tran- quilidade por parte do Siza. É muito responsabilizante o facto de ele se mostrar tranquilo em relação ao meu trabalho. A prova de amizade e de confiança profissional aumenta as preocupações e a responsabilidade. A dificuldade reside no facto de eu não ser ele e ter de procurar um compromisso, em vez de me remeteI' para uma linguagem que é só minha. Uma das condições que o Siza colocou desde o início era que deveriamos entender este edifício como um espaço que - de passagem - serve para a Expo'g8, ou seja, tem uma ocupação temporária, mas é essencial que tenha uma carga cultural em relação à geografia e à cidade no futuro. Hoje estamos mais esclarecidos c[uanto às funções definitivas". EDUARDO SOUTO DE MOURA
  • 27. - -- - ' 29 , , o �'-"-I'. �(fI t�j�··.L-.r wth. 1/ (j. �)r
  • 28. "Os contéudos são de grande qualidade e implicam uma série de novas tecnologias e, por isso, quanto melhores são, mais difí­ Como 05 malabaristas no circo cil é a passagem para a materialização. Com um bom edifício e um bom guião expositivo maior é a dificuldade. O facto de não existir uma fórmula rígida veio acrescentar dificuldades óbvias para se chegar a uma forma definitiva. Como todos os espaços expositivos têm um determinado significado e pretende-se que tenham um efeito concreto, as soluções tinham de ser eficazes. Era importante que o espaço expositivo não fosse um objecto estranho dentro do edifício. Isso era uma missão quase impos- sível. O edifício vive de janelas e não era possível ter excesso de luz nas três salas dos núcleos expositivos por causa da projecção dos filmes. Assim, fui obrigado a fechar todas as janelas. Não queria que a exposição fosse contra natura em relação ao edifí- cio. Isto fez com que trabalhasse quase no fio da navalha e acabei por fazer um segundo edifício encostado ao edifício princi- pai, embora os visitantes não tenham essa percepção nem à entrada, nem à saída. As pessoas não se apercebem que aquelas pare- des não correspondem às do edifício principal, têm apenas 70 centímetros. Penso que há um prolongamento da escala e da forma. O que me deu mais gozo foi poder trabalhar por sobreposições. Como aqueles senhores no circo que põem uma série de pratos no ar e andam a correr de um.a lado para o outro". EDUARDO SOUTO DE MOURA "Um arquitecto faz objectos cuja escala é variável. Há hoje uma tendência em todos os campos para a especialização. A tendên­ A arquitectura não é estanque cia para a especialização numa profissão onde o que interessa são as relações, as coisas em si, é contra natura. Um arquitecto de interiores, que é COlno nos referünos ao Souto de Moura neste caso, não faz sentido, porque a relação com o espaço está na rua, na praça, na praia, depois no átrio, nas salas, etc. Não há zonas estanques. Não é possível tratar o interior de uma casa sem se considerar o exterior. No caso do Pavilhão de Portugal, o Souto de Moura teve de trabalhar o interior. É uma condi- cionante muito especial. Teve de trabalhar só o interior, mas - porque é Ulll arquitecto - não perdendo a relação COlll o resto". ÁLVARO SIZA 30
  • 30. A apologia do trabalho invisível " AB contradições e o conjunto de informações complexas não podem ser visíveis. Nào podem massaCI'ar as pessoas. Se o públi- co têm a mínima percepção do esforço, o meu trabalho nào está bem feito. Falhou. É como num livro, quando o leitor percebe exactamente que livros é que o autol' leu. O leitor fica desiludido. Aqui o grande esforço foi exactamente esconder o esforço". EDUARDO SOUTO DE J1.0URA . � [J__ .i _� --., ._- ------ 32
  • 31. / --..... . , --.-........- -�_..,.,......... ...._ . �....--�.,,,.... �, � vi ui .� I" ,;J"''' - 33
  • 32. "Pareceu-me que a minha intervenção deveria ser inteligente e a inteligência neste caso seria não ter grande protagonismo. Era preciso encontrar os meios necessários para reforçar a obra e os contéudos. É como um texto: são tão importantes as palavras e a sintaxe como os espaços deixados entre elas para facilitar a leitura. Achei que deveria entender a minha tarefa como uma exposição que fazia a ligação entre o hau do Siza e a saída. Trabalhei muito no hal!, alterei as proporções, desenhei por- tas, tirei pilares, fechei uma parte extel'ior do edifício, escondi janelas para criar uma nova sala. Os contéudos expositivos pas­ sam essencialmente por imagens e, tendo isso em conta, era preciso desenhar quase pela negativa, ou seja, não criar mais ele­ mentos, mas sim eliminá-los. Era uma questão de bom senso. Se ficar bem e resultar, é o maior elogio. Com um ecrà de 15 metros e um filme altamente sofisticado, todos os pormenores ficam diluídos. Fiquei com a responsabilidade das proporções e das ligações técnicas. Parece uma coisa simples e, na verdade, é muito complicado. Pode não ser visível, mas existe a memória e há um conjunto de códigos que nào têm de ser narrativos, mas que o visitante do pavilhão "sente". Isso é o mais importante. Quando a exposição aposta no virtual não tem de haver uma leitura de arquitectura interior, caso contrário estariamos a criar ruído que iria dificultar a compreensão dos visitantes". EDUARDO SOUTO DE MOURA 3+
  • 34. "Sabia que era necessário ter um atmosfera autónoma na exposição. As pessoas têlTI de para,', concentrar-se e perceber que aquilo é uma coisa diferente. Há uma transição do edifício para a parte expositiva e o visitante pode esquecer-se do resto". ÁLVARO S'ZA Os núcleos expositivos "A primeira sala tem imagens enormes. Trata-se da projecção de um filme muito forte. A segunda sala foi dividida em duas: por um lado, há a sensação de mergulho no mar e, por outro, há a possibilidade de ver de perto objectos relacionados com O mar e com a navegação, resultado da escavação subaquática na barra do Tejo. Há uma separação física, mas não há portas. É sempre o mesmo espaço. A cor joga um papel importante, há variações que ajudam a entender as diferenças entre os espaços expositivos. A passagem para o futuro não é uma ruptura, é gradual. O terceiro núcleo p"essupõe um hiato em relação ao segundo, contudo não há uma limitação física, trata-se de um p"ocesso contínuo. Houve uma preocupação de relacionamen- to das peças e dos filmes com o som. Havia um problema de alternância se não queriamos que o espaço expositivo funcionasse como um funil, onde as pessoas são bombardeadas com informação. O visitante vai perceber que há claramente três núcleos, construídos de forma distinta e com mensagens diversificadas". EDUARDO SOUTO DE MOURA "Os interiores do edifício são dois: o expositivo e o de representação, onde há uma área de restaurante e a recepção aos chama­ O interior do edifício dos vips, os serviços de apoio, as cozinhas, um bar e a livraria. Para conceber estes espaços fiz um esforço para me ver na pele de um cozinheiro, de um rei, enl comprador de catálogo. . . " ÁLVARO SIZA
  • 35.
  • 36.
  • 37. 'uto de Moura "J ulgo que o arquitecto Souto de Moura preferia não ter pilares no interior. Acontece que os pilares moldam O edifício e isso é intencional. O trabalho do Souto de Moura foi o de arranjar soluções que fizessem do espaço um espaço melhor também por causa dos pilares. Este é o trabalho do arquitecto. Dizia Bernini que a grande função do arquitecto é transformar em belos os espaços feios. Perante uma coisa aborrecida, o arquitecto tem por função procurar a beleza... Quer dizer, não estou arrependido de ter lá posto os três pilares". ÁLVARO SIZA "Pois. . . " EDUARDO SOUTO DE MOURA "O espaço exterior da Praça Cerimonial estava para ser branco, lnas em conjunto concluímos sobre a ilnportância de ter ali A Praça Cerimonial e a palavra Portugal um sinal. Assim surgiu uma caravela e a palavra Portugal escrita da forma quinhentista e da forma contemporânea. Havia a ten- taçào de põr mais coisas, mas acontece que a circunstância da exposição obriga a certas limitações". ÁLVARO SrZA 39
  • 38. Pensar os elementos exteriores "A Praça Cerimonial é um elemento que fica. Não é um espaço fechado, está subordinado à pala. À partida havia uma exigên- cia para se fazer urna praça de recepção de grupos, e esse espaço deveria estar disponível noutros momentos. Não convinha ([ue houvesse pilares ou apoios a servil' de obstáculos. Não há muitas maneiras de cobrir um espaço desta dimensão. A primeira ideia foi a de fazer um negativo do que lá está, uma cúpula. Pensei numa curva ao contrário, mas isso era um bocado desabri- gado e a altura seria exagerada. Um elemento importante na Praça Cerimonial é a força nos pórticos de entrada, tinham de ser peças potentes de fOl'lua a suportar a tensão que a pala provoca". ÁLVARO SIZA "Num acontecimento de grandes dimensões como uma exposição desta natureza, que vai deixar um património significativo A exposição cama obra por acabar na cidade, é preciso que o projecto nào seja estanque e que não se faça tudo de imediato. Um dos grandes problemas com que nós, arquitectos, nos debatemos hoje é a ideia de ([ue, como há cOluputadores, técnicas e outros recursos - ferramentas muito mais rápidas - tudo pode ser acelerado. Não pode. Há uma ferramenta que tem de funcionar que é a cabeça. O amadureci- mento de um projecto é importante, mas depois a continuação é um percurso que nào pára e é igualmente precioso. Mais do que o habitual há um certo inacabado no recinto de uma exposição. Isto não se prende COIU atrasos, antes sim com necessi- dades, as formas de viver com e no edifício". ÁLVARO SIZA
  • 39.
  • 40. "A relação com o exterior não é uma coisa menor, é indissociável do projecto. Por exemplo, à saída existem uns jardins mura­ A saída do edifício dos que fazem o prolongamento do edifício por um lado, mas que são, por outro, uma forma mais natural de cada um dos visitantes se diluir no recinto nas diversas direcções possíveis". .ÁLvARO SIZA "A maioria das crianças quando forem grandes querem ser bombeiros, aviadores, palhaços. Eu queria ser uma quantidade de Quando era pequeno... coisas, mas lembro-me que, com 12 anos, queria ser escultor e quase que fui... Não sou, mas hei-de ser... Se calhar, se fosse escultor queria ser arquitecto". .ÁLVARO SIZA "Se bem me lembro queria ser engenheiro de máquinas. Tinha o fascínio pelas máquinas. E agora quero ser fotógrafo. É uma ... queria ser ... actividade que depende muito do próprio, onde os alibis de outros são pouco convincentes". EDUARDO SOUTO DE MOURA "Eu relaciono-me com os computadores tendo colaboradores que trabalham muito bem com computadores. Julgo que no meu Estar ligado ao tempo atelier o uso dos computadores é elementar, permite uma economia de tempo fundamental. Tenho consciência de que deverá haver possibilidades que eu não imagino. A criatividade pode ser potencializada com o computador e há muitas pessoas a tra- balhar nesse campo, mas isso não substitui o desenho, o gesto. O computador tem uma rapidez muito grande. Quem tiver os programas todos e se organizar tem uma capacidade de resposta muitíssimo maior. Está ligado ao tempo. O absurdo é pensar que o computador, que é muito rápido, não obriga a pensaI'. E pensar demora tempo... Em vez de ampliar as possibilidades a informática pode limitar. É uma das perversões possíveis. . Se nós deixarmos". ÁLVARO SIZA 42
  • 41. "Eu não sei nada... nem mesmo ligar o computador. É um grande auxílio, mas não há nada como o papel e o lápis. Claro que Não há como o papel e o lápis aderimos aos computadores... Os meus colaboradores fazem maravilhas. Eu é que não. Concordo com o Siza. É preciso pen- sal' nas coisas e os computadores nào fazem isso. Podeluos fazer um projecto em dois dias, luas estamos sujeitos ao que está pré- fabricado no universo da informática, nào apelamos aos nossos sentidos, à memória..." EDUARDO SOUTO DE MOURA 43
  • 42. "Pensei no edifício para ser o Pavilhão de Portugal, nus não só, porque este edifício é para ficar depois do encerramento da ExpO'98. Sendo o Pavilhão de Portugal teria de ter um destaque. Por razões de tipologia, todos os edifícios têm uma vocação de forma, percorrem o seu destino. Neste caso não era uma via fácil, o destino era um futuro que não se conhecia. Há uma encomenda de uma igreja, faz-se uma igreja que se perceba imediatamente que é uma igreja. Às vezes, a preocupação é tanta (lue I'esulta num monstro. As fixações tipológicas podem significaI' algum conservadorismo e comodismo. A estratégia para conceber este edifício foi, depois de tel' percebido que os outros edifícios no recinto tinham uma certa ambição em altura, a de dar destaque pela horizontalidade, apostar no reflexo na água". ÁLVARO SIZA Ser o Pavilhão de Portugal "Ao nível do estilo não lne preocupei com os elementos marcadamente portugueses. No Estado Novo, por exemplo, fez-se .1m Fatalmente português gl'ande esforço para reflectir uma identidade. Aqui há coisas portuguesas que surgem de uma forma não óbvia. Ser português e desenhar um edifício em Portugal implica fatalmente alguma coisa de português. Há um discurso com O rio que não tem a ver com O facto de se ser português, mas com a posição geográfica. Há marcas que nos ultrapassam, nào vale a pena fazer esforços especiais para explicar". ÁLVARO SIZA
  • 43. � - ;- 1 - - t r_ t � ,.. ... ---===r� vi « - +5
  • 45. "O trabalho do arquitecto nunca termina. Um edifício - mesmo que não mude de mãos - vai val'iando. Uma família compra As casas mudam. . . uma casa e, nessa altura, tem quatro filhos pequenos. A casa vai sofrendo modificações porque o tempo passa, os filhos crescem, mudam de casa, têm filhos que ficam em casa dos avós..." ÁLVARO SIZA "Mais do que a antecipação de problemas, o arquitecto deve procul'ar a maleabilidade, ou seja, a capacidade de inverter per- cursos. O exemplo clássico é o do convento que é projectado para uma comunidade com regras muito rígidas e depois pode Oexemplo do convento... servir para outras funções: hotel, universidade, museu, biblioteca... De certa maneira, qualquer projecto deve ter este pressu- posto. O aprofundamento até ao detalhe não é só fazer uma lista sobre o edifício dizendo que este espaço pode fazer as vezes de A B C oU D. Isso não chega, porque a realidade pode ultrapassar largamente o que se antecipa. Encarar atempadamente determinados problemas leva a um distanciamento da função imediata, tornando o edifício mais abe1'lO, logo mais fácil de entendeI' por qualquer utilizador". ÁLVARO SIZA 47
  • 46. "AJ; linhas simples do pavilhão podem pressupor alguma frieza. Já me aconteceu acabar um edifício e ser acusado disso. Ora, A suposta frieza do edifício um edifício faz-se para ser habitado: pessoas, móveis, cortinas, tapetes. Tem de haver espaço de manobra para o utilizador imprimir o seu cunho. O edifício tem de estar preparado para isso, para ser vivido. A apreciação de urna arcluitectura nua é apenas académica, tem de haver lugar para outras coisas. Não acho o Pavilhão de Portugal um edifício frio. A luz, pela variação que os espaços sofrem, dá - por si só -- vida ao edifício". ÁLVARO SIZA "A escolha da cor e do material na parede interior da Praça Cerimonial não foi simples. Estou muito interessado no azule- jo há uns tempos , prende-se COIU o ITleU interesse pelo desenho e , por isso, achei cjue neste caso era UITl ITlaterial a utilizar. O azulejo é um material que está ligado à história da cidade de Lisboa, mas apresenta hoje dihculdades. No que diz respeito Os azulejos e a derrota da timidez à cor, provavelmente sou um pouco sensível a críticas que oiço e que dizem que faço tudo branco. Talvez tenha decidido que aqui apostaria na cor como reacçiio. Passeando no recinto da exposição descobri que há urna predominância grande do branco e, talvez por contradição, optei pela cor na parede de suporte da pala. Esta estrutura não se compadece com um tom creme ou branco, era melhor apostar noutra cor, forte, e ficou a cor de vinho. Para miIu, a cor tem sido basicamente a cor dos materiais, mas neste caso nào podia ser tímido. No princípio nào estava cOIupletamente descansado, mas acho que resultou". ÁLVARO SIZA
  • 48. "Um bom arquitecto, competente dentro do seu campo de responsabilidade, é aquele que dá uma resposta eficaz. Circunstâncias Um bom arquitecto? várias, entre as quais o empenho, a convicção e a resistência podem facilitar um salto qualitativo, traduzindo-se num edifício brilhante que se destaca ou que se torna invisível. É, muitas vezes, mais difícil de conceber um edifício que se apaga. Um bom arquitecto não é apenas aquele que faz o edifício brilhante. O arquitecto tem de falar com pessoas, fazer de psicólogo, de l'elações públicas, fazer cedências, cont.rapôr... Não é um ditador". ÁLVARO SIZA 50
  • 49.
  • 50. "A questão central é acreditar no trabalho do outro, sem cerimónia... O que faz um trabalho de equipa resultar é o facto de as O trabalho de equipa. . . pessoas discordarem e conversarem abertamente, sem pedras nos sapatos. Nas visitas clandestinas que o Siza fazia ao pavilhão ia-me dizendo algumas coisas: mas por dentro o pavilhão vai ser todo preto? Não se vai ver nem um bocadinho?" EDUARDO SOUTO DE MOURA "É difícil trabalhar com muitas condicionantes, mas é igualmente motivador. É como os pilares. Não podemos viver sem eles, Os pilares outra vez mas a ideia era fazer com que os pilares ficassem belll, fossem quase imprescindíveis. No último núcleo expositivo optámos por exibir um filme e, de repente, o único sítio onde se podia projectar o filme tinha na sua frente três pilares. Ora, se não os podelllos vencer, juntemo-nos a eles... " EDUARDO SOUTO DE MOURA 52
  • 51.
  • 52.
  • 53. Retratos SIMONETTA Luz AFONSO Nasceu em Lisboa, em 1946. É licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Conservadora de museu, iniciou a sua actividade profissional em 197� , no Palácio Nacional da Pena e transitou , em 1974, para o Palácio Nacional de Queluz, que dirigiu entre 1983 e 1991. De 1980 a 1983, dirigiu o Instituto de Conservação e Restauro Dr. José de Figueiredo. É nomeada, em 1991, directora geral do Instituto Português de Museus, cargo que desempenhou atéJ unho de 1996, data em que assumiu as funções de Comissária da Secção Portuguesa para a Expo'98. Foi comissária das exposições do Festival EUl'opália Portugal/91 , realizado na Bélgica, e das exposições de Lisboa/94 Capital Europeia da Cultura. Foi também comissária de inúmeras outras exposições de artes plásticas em Portugal e em diversas capitais europeias, nos Estados Unidos, no Brasil e no Japão. Leccionou no curso de Gestão dasArtes do Instituto Nacional de Administração . Tem mantido actividade regular de conferencista em seminários e colóquios de História da Arte, Conservação e Museologia ou de temas patrimoniais, bem como colaboração escri- ta em publicações especializadas. 55
  • 55. ÁLVARO S'ZA Nasceu em Matosinhos, em 1 9 3 3 . Estudou Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 19'1·9 e 1955. Foi colaborador do Prof. Fernando Távora entre 1 955 e 1958. Foi Professor Visitante na Escola Politécnica de Lausanne, na Universidade de Pensilvânia, na Escola de Los Andes em Bogotá, na Graduate School of Design of Harvard University. Continua a leccionar na Universidade do Porto. É autor de inúmeros projectos, de onde se destacam o Plano ela Malagueira em Évora, a Faculdade de Arquitectura do Porto, a reconstrução do Chiado, entre outras. As suas obras foram expostas em vários países e foi premiado diversas vezes a nível nacional e internacional. Tem sido convidado a participar em várias conferências e seminários. É membro ela Arnerican Academy of Arls and Science e "Honorary Fellow" do Royal Institute of Bristish Architects, do American Institute of Architects, da Académie d'Architeclure de France e da European Academy of Sciences and Arts. 57
  • 57. EDUARDO SOUTO DE MOURA Nasceu no Porto, em 1952. Começou por colaborar com o Arquitecto Siza Vieira. Licenciou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1980. Iniciou a sua actividade como profissional liberal em 1980. Leccionou em várias escolas nacionais e estrangeiras. Das suas obras destacam-se a Casa das Artes, Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, departamento de Geociências da Unive,·sidade de Aveiro. Ganhou diversos prémios, nacionais e estrangeiros. 59
  • 58. Desenhos ÁLVARO SIZA EDUARDO SOUTO DE MOURA Recolha de textos PATRÍCIA REIS FRANCISCO GUEDES HENRIQUE CAYATTE Design ATELIER HENRIQUE CAYATTE /004 (LuÍsA BARRETO) Pré-impressão, i1npressão e acabamento CRITÉRIO - PRODUÇÃO GRÁFICA, LDA Depósito Legal 1 2 6 427/98 ISBN 972-97893-0-4