O documento discute a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e ações de Produção Mais Limpa (P+L) em uma indústria de confecção no Paraná para resolver problemas ambientais. Após a implementação do SGA, observou-se ganhos ambientais e sociais, como a destinação adequada de resíduos e o reaproveitamento de retalhos em novos produtos. O estudo mostrou a efetividade do SGA para cumprir a política ambiental da empresa e gerar benefícios sociais.
A economia circular para evitar a exaustão dos recursos naturais do planeta t...
ENEGEP 2022 - P+L na Confecçao.pdf
1. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
"Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira"
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022.
IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO
AMBIENTAL E AÇÕES DE P+L EM UMA INDÚSTRIA DE
CONFECÇÃO
Evandro Bezerra Soares (Universidade Estadual de Maringá)
Felipe Facco Mendes Ferreira (Universidade Estadual de Maringá)
Priscila Pasti Barbosa (Universidade Estadual de Maringá)
No cenário atual, o Brasil está enquadrado na posição de 5º maior
produtor têxtil do mundo, classificado atrás apenas da China, Índia,
Estados Unidos e Paquistão. Esse fator apresenta grande importância
com relação ao efetivo quadro de empregos disponibilizados pelo setor
em torno dos seus polos de fabricação. Por outro lado, o elevado índice
de produção que as empresas estão expondo acaba utilizando uma
grande quantidade de recursos naturais do País. No caso das indústrias
de confecção, seus resíduos podem causar significativos impactos
ambientais, no entanto, por meio de uso de Sistemas de Gestão Ambiental
é possível reduzir a degradação e poluição ambiental. Desta forma, o
presente estudo fez uso da aplicação do Sistema de Gestão Ambiental –
SGA atrelado a metodologia da Produção mais Limpa para sanar os
problemas ambientais de uma confecção situada no noroeste do estado
do Paraná. Após a implementação do SGA constatou-se importantes
ganhos ambientais e sociais, como a destinação de resíduos de papel,
papelão, plástico e de latas de tinta usadas em serigrafia para uma
Associação de coletores da cidade e utilização de retalhos de tecido em
confecção de produtos para petshop, resíduos estes destinados à um
grupo de mulheres artesãs também da cidade. O estudo também
promoveu a redução desperdícios de retalhos maiores da confecção, ao
destiná-los para a confecção de subprodutos que pudessem ser
comercializados a preços populares. Assim, pode-se constatar a
efetividade na implantação do SGA para a empresa fazendo-a cumprir
sua política ambiental e agregando ganhos sociais à mesma.
Palavras-chave: SGA, ganhos ambientais, produção mais limpa,
reciclagem têxtil.
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1. Introdução
O seguimento têxtil no Brasil começou no século XIX, conquistando um elevado crescimento,
devido ao aumento do mercado interno decorrente da Primeira Guerra Mundial. A fabricação
têxtil teve uma grande importância para o desenvolvimento da política industrial nacional,
atualmente composta por empresas de diversos portes (ARAUJO; FONTANA, 2017).
Segundo a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e Confecção – ABIT, o Brasil está
classificado como o 5º maior produtor de vestuários do mundo, com uma produção média de 9
bilhões de peças por ano. A concentração de empresas de confecção no Brasil ultrapassa o
número de 30 mil, espalhadas por todo o território nacional (ARAUJO; FONTANA, 2017).
O maior aglomerado dessas empresas é estabelecido nas regiões sul, no estado de Santa
Catarina; sudeste, nos estados de São Paulo e Minas Gerais; e Nordeste, nos estados de
Pernambuco, Bahia e Ceará. Apresentando com a união de todas as regiões, aproximadamente
10 milhões de empregos diretos e indiretos (ARAUJO; FONTANA, 2017).
As indústrias do ramo têxtil, estão definidas como uma das mais poluidoras do mundo. Esse
apontamento é reflexo do ciclo de vida dos materiais utilizados para a fabricação de vestuários,
que estão titulados como o quarto produto com maior impacto ao meio ambiente. Em uma visão
Global, 3% de todas as emissões de gases do efeito estufa são decorrentes da fabricação de
materiais têxteis (NORUP et al., 2018).
A produção de vestuários está diretamente envolvida com um importante custo em termos de
consumo de energia, água, produtos químicos e nutrientes, resultando também nos impactos
das áreas terrestres que estão relacionados ao cultivo do algodão (NORUP et al., 2018).
Diante do cenário ambiental apresentado no mundo atual, as indústrias de vestuário estão
procurando alternativas cada vez mais inovadoras para reduzir sua agressão ao meio ambiente.
Isso se deve por conta do impacto que o ramo têxtil causa no ecossistema, desde a extração da
matéria prima, seus processos de fabricação e manutenção, até originar o produto acabado
(ARMSTRONG et al., 2015).
O grande uso de recursos naturais, junto ao enorme desperdício e o elevado número de resíduos
sólidos que são gerados dentro dos processos de fabricação, são alguns dos principais desafios
enfrentados no desenvolvimento ambiental do setor (ARMSTRONG et al., 2015).
O mercado têxtil está muito saturado, no qual uma parcela dos resíduos gerados é destinada
para doações e empresas que comercializam uma linha de produtos não conformes. Devido ao
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baixo preço e a grande competição do ramo, as empresas voltam seu foco para o aumento da
produtividade. Por conta desse fator, muitos produtos não conseguem ser reutilizados e acabam
sendo descartados de forma incorreta (ARMSTRONG et al., 2015).
O processo de confecção é abordado como sendo a movimentação dos materiais em um tempo
e espaço, até que aconteça a transformação do insumo em um produto totalmente acabado
(SENAI, 2007).
A análise de um processo de produção verifica o fluxo do material ou produto, sua sequência
de operações, o trabalho desempenhado em relação aos produtos e os desperdícios que estão
sendo causados consequentemente por todos os processos envolvidos (SENAI, 2007).
Entre as principais etapas do processo de confecção, estão considerados as matérias primas
essenciais para a produção e seus principais resíduos gerados. A descrição dos processos
começa a ser definida a partir do planejamento do pedido, etapa que gera como resíduo o papel
do pedido e vias do cliente (SENAI, 2007).
Dentro da etapa de corte estão relacionados os processos de risco da modelagem de corte e
enfesto do tecido e o corte, gerando respectivamente como resíduos as sobras de papel Kraft,
tubetes de papel ou plástico e retalhos de tecido (SENAI, 2007).
Na sequência do processo, as peças cortadas entram para o setor de serigrafia ou sublimação,
no qual é realizado o processo de gravação da arte nas peças de vestuário. Dentro desse setor
de fabricação são gerados como resíduos o papel, descartado da sublimação, e as sobras de
tintas que saem na lavagem dos quadros (SENAI, 2007).
Por fim, o produto chega ao processo de costura, em que será realizado o fechamento da peça
tornando seu acabamento e originando ao produto final. Na etapa de costura são gerados
resíduos como peças com defeitos, rebarbas de tecido, sobras de linha e óleo. Depois do setor
de costura a peça está pronta para ser embalada e entregue para o cliente (SENAI, 2007).
Por outro lado, o desenvolvimento industrial incorporou padrões de geração de resíduos, por
conta de o grande volume descarregado na natureza ser menor do que a capacidade de absorção.
Uma vez que se torna impossível a absorção e reciclagem do meio ambiente, dessa imensa
quantidade de resíduos destinados (ARAUJO; FONTANA, 2017).
Amaral et al. (2018), em sua pesquisa intitulada “Reciclagem industrial e reuso têxtil no Brasil:
Estudo de caso e considerações referentes à economia circular”, ressalta que uma alternativa
que pode vir a ser extremamente viável tanto para os setores industriais quanto para o meio
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ambiente é a reciclagem dos resíduos têxteis, que ocorre por meio da trituração dos tecidos,
formando novamente a fibra, que pode ser reutilizado para fabricação de novos fios de tecidos.
2. Referencial Teórico
2.1 Histórico do desenvolvimento sustentável
O termo Sistema de Gestão Integrada – SGI, surgiu em 2000, atuando para a responsabilidade
da cadeia produtiva das organizações. Deste modo, a avaliação do ciclo de vida começou a ser
um novo parceiro tanto da indústria como da sociedade por conta do crescente ambiental do
momento. Isso ocasionou o surgimento de uma estrutura socialmente organizacional
(GUSMÃO; MARTINI, 2009).
A conferência de Bali, que ocorreu na Indonésia em 2007, estabeleceu propósitos ainda mais
ambiciosos do que o protocolo de Quioto com relação aos efeitos causados pelos gases do efeito
estufa. A conferência resultou no mapa do caminho, no qual ficou definido a data de dezembro
de 2009 para definir as porcentagens de redução e a concretização do acordo efetivo (BRASIL,
2012).
Em 2011, foi realizado em Durban, na África do Sul, um evento que reuniu representantes de
190 nações que possuíam o propósito de decidir a renovação do protocolo de Quioto. Ao final
foi lançado as bases de um futuro acordo que realizará o controle da poluição em 2015, entrando
em vigor a partir de 2020. Outro assunto definido foi a do Fundo Verde do Clima, que a partir
do mesmo ano, fornecerá suporte financeiro para iniciativas de combate às mudanças do clima
mundial (BRASIL, 2012).
Em 2012, mais de 45 mil constituintes entre chefes de governo e sociedade civil, se reuniram
na cidade do Rio de Janeiro. Os 188 países presentes na Rio +20 se comprometeram a investir
cerca de US$ 513 bilhões em projetos, programas e ações nos próximos dez anos nas áreas de
economia verde, transporte, proteção ambiental, mudanças climáticas, entre outras (BRASIL,
2012).
Neste âmbito surgiu uma série de normas que visam determinar diretrizes para garantir a gestão
ambiental dentro das empresas. Como dito anteriormente, na década de 90 a ISO (International
Organization for Standardization) viu a necessidade de se desenvolverem normas que tratassem
das questões ambientais e tivessem como intuito a padronização dos processos de empresas que
utilizassem recursos extraídos da natureza ou causassem algum dano ambiental recorrente de
suas atividades (CARDOSO; BRISOT, 2013).
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Em 1993, a ISO cria então um comitê intitulado Comitê Técnico TC 207 que teve como objetivo
desenvolver as normas da série 14.000. A ISO 14.000 trabalha como um conjunto de diretrizes
que estabelecem como princípio uma base comunitária para a gestão ambiental (CARDOSO;
BRISOT, 2013).
A aplicação de uma ISO 14.000 está fundamentada por conta da definição de metas que devem
ser atingidas em todos os setores do processo de produção da empresa, desde o administrativo
até o produtivo. Por meio da sua abrangência e complexidade, a ISO é direcionada para
empresas que já possuem um certo sistema de gestão (SEIFFERT, 2011).
O princípio da ISO 14.000 proporciona diretrizes completas para a implantação de um Sistema
de Gestão Ambiental (SGA) com relação ao atendimento e monitoramento de leis e
regulamentações ambientais. Deste modo, evidenciando que a grande maioria das instituições
estão com foco no processo de melhoria contínua (CARDOSO; BRISOT, 2013).
2.2 Sistema de Gestão Ambiental - SGA
Dentro dessa série de normas da 14.000, encontra-se a ISO 14.001, que trata sobre Sistema de
Gestão Ambiental e suas especificações e diretrizes para uso. Esta norma exige que a
organização estabeleça um procedimento para identificar e acessar a legislação e a outros
requisitos por ela subscrito, aplicáveis aos aspectos ambientais de suas atividades, produtos e
serviços (MACENO et al., 2013).
A primeira etapa do Sistema de Gestão Ambiental trata da definição da política ambiental da
empresa. Nesta etapa, existe um requisito específico para formalizar um compromisso em
atender à legislação relativa à organização. Todavia, os critérios de certificação exigem que a
empresa se adeque à legislação. Esta questão é tratada na etapa dois do SGA (CARDOSO;
BRISOT, 2013).
Um ponto de partida para qualquer empresa no Brasil são as leis federais, começando pela
constituição, as resoluções do CONAMA e as normas ABNT, que servem como base para
pesquisa e verificação da legislação aplicável ao empreendimento da empresa.
A Lei Federal n° 6938 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, de 31 de agosto de 1981,
juntamente com a Resolução n° 237 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA,
estabeleceu o Licenciamento como um dos instrumentos de Gestão Ambiental (BRASIL,
1981).
No entanto, para o caso das atividades de confecção de peças e acessórios do vestuário, roupas
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profissionais, peças interiores, fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos para vestuários,
estão dispensadas do licenciamento. Para tanto, os interessados precisam apenas comparecer ao
órgão ambiental e solicitar o Certificado de Dispensa de Licença – CDL.
Somente para o caso das malharias, ou seja, indústrias que fabricam tecidos de malha, que
contemplam outros materiais além da própria malha, estas requerem a Licença Ambiental, pois
são consideradas fontes poluidoras.
Quanto aos resíduos sólidos, a NBR 10.004/2004, estabelece que a periculosidade de um
resíduo é dividida em razão de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas,
podendo apresentar riscos à saúde pública (provocando mortalidade, incidência de doenças ou
acentuando seus índices) ou riscos ao meio ambiente (quando o resíduo for gerenciado de forma
incorreta) (ABNT, 2004).
A NBR 10.004/2004, também classifica os resíduos em Classe I – Perigosos, Classe II A – Não
inertes e Classe II B – inertes.
Os resíduos de Classe I – Perigosos são aqueles que apresentam risco a saúde pública, ou que
de alguma forma possam aumentar a taxa de mortalidade ou a incidência de doenças. Estes
resíduos podem apresentar características como inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade ou patogenicidade (ABNT, 2004).
Como resíduos sólidos de Classe I – Perigosos, provenientes do setor de confecção pode-se
destacar as lâmpadas, solventes usados para a limpeza de peças de maquinários, óleo
lubrificante das máquinas (costura ou corte) usado ou contaminado, panos e estopas
contaminadas com óleo lubrificante usado ou contaminado (ABNT, 2004).
Já os resíduos de Classe II A – Não Inertes, são aqueles que não se enquadram nas classificações
de resíduos de Classe I (perigosos) ou Classe II B (inertes), nos termos da norma 10.004/2004.
Estes resíduos possuem propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água.
Como resíduos Classe II A – Não Inertes, provenientes do setor de confecção pode-se destacar
os resíduos têxteis, como retalhos e aparas de tecidos, os resíduos plásticos de embalagens de
rolos de tecidos, por exemplo, os papeis e papelão, os resíduos de linhas de costuras e fios e
ainda os resíduos de restos de alimentos provenientes da cozinha ou refeitório da empresa
(ABNT, 2004).
E por fim, os resíduos de Classe II B – Inertes, que se trata de quaisquer resíduos que, quando
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amostrados de uma forma representativa, de acordo com a NBR 10.007/2004, e submetidos a
um contato dinâmico estático com a água destilada à temperatura ambiente, conforme NBR
10.006/2004, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e
sabor (ABNT, 2004).
Os resíduos Classe II B – Inertes, provenientes do setor de confecção são os resíduos de vidro
e sobras de botões (ABNT, 2004).
A Lei Estadual nº 19.261 de 07 de 2017, possui como principal atribuição os mesmos princípios
e diretrizes da Lei Federal no 12.305/2010, no qual seu principal objetivo é a gestão integrada
de resíduos, utilizando todas as ferramentas e instituições de controle e fiscalização para realizar
o desenvolvimento da gestão de resíduos.
Ainda dentro da segunda etapa do SGA, após se verificar a legislação, são definidas as metas
com base nos objetivos que se pretende alcançar. Posteriormente, a terceira etapa, trata da
execução do planejamento da etapa anterior. Na fase de execução encontra-se o treinamento de
todo pessoal envolvido e a preocupação com as informações, que será crucial para a fase de
coleta de dados (CARDOSO; BRISOT, 2013).
A quarta etapa, segue com a verificação do que foi implementado na fase anterior, nesta etapa
são avaliados os números apontados para cada indicador (meta), e assim, são analisadas e
definidas as ações corretivas necessárias (CARDOSO; BRISOT, 2013).
Por fim, a última etapa de um SGA trata da auditoria interna que deve ser realizada pela alta
gestão da empresa a fim de verificar o desempenho do sistema aplicado. Os principais dados a
serem avaliados nas auditorias internas estão associados às atividades executadas nos processos
que tenham influência sobre os aspectos ambientais e que possam gerar impacto ambientais
significativos ao meio (SEIFFER, 2011).
O sistema de gestão ambiental – SGA pode ser integrado a ações de Produção mais limpa –
P+L. Para tanto, pode-se fazer uso da metodologia de P+L logo após ser realizado o diagnóstico
ambiental da segunda fase do SGA. O alinhamento do padrão de desempenho do SGA à P+L é
um requisito indispensável para a redução efetiva dos impactos ambientais dos
empreendimentos, não só no que tange à redução da poluição (emissões atmosféricas, efluentes
hídricos, esgotos e resíduos sólidos), mas particularmente no nível de consumo dos recursos
naturais (MACENO et al., 2013).
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3. Metodologia
Na análise para determinar as oportunidades de otimização das atividades ambientais da
empresa foi utilizado um Sistema de Gestão Ambiental – SGA, em todos os processos. Deste
modo, foi exposto para os envolvidos, temas significativos sobre a relações com o meio
ambiente.
Posteriormente, foi abordado com os membros da alta gestão da empresa e responsáveis por
cada setor, um questionário constituído por meio das diretrizes de um sistema de gestão
ambiental.
Com isso, a metodologia de implantação do SGA foi elaborada diante das etapas da Figura 1.
Figura 1 - Metodologia SGA integrado à P+L
Fonte: O autor (2021).
Com relação a primeira etapa apresentada na Figura 1, refere-se a política ambiental. Nesta
etapa a alta gestão definiu qual seria o seu comprometimento com as questões ambientais.
Seguindo para a etapa 2, foi abordado o planejamento. Dentro do planejamento foi definido a
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aplicação de uma produção mais limpa, que terá como princípio atuar na otimização dos
desperdícios de recursos econômicos e ambientais da empresa.
Seguindo a Figura 1, na etapa 3 foi realizada a implantação da produção mais limpa em cada
um dos processos de fabricação da indústria. E posteriormente na etapa 4, foi aplicada a
verificação da efetividade desta implantação.
Por fim, na última etapa do SGA, foi exposto a análise crítica da alta gestão da empresa sobre
a apresentação dos dados anteriores a aplicação e dos resultados obtidos ao fim do trabalho.
4. Resultados e discussões
A empresa X abordada no estudo é uma indústria do ramo de confecção. Está situada na região
noroeste do estado do Paraná desde 2010, possuindo como principal atividade a produção de
vestuário personalizado.
O processo de produção funciona por meio de quatro setores, que estão definidos como: Corte,
serigrafia, sublimação e costura. Entre a gama de produtos da indústria estão: camisetas simples,
camisetas polo, conjuntos esportivos, shorts, coletes, calças, aventais, moletons, agasalhos,
jaquetas e jalecos.
O sistema de produção caracterizado na empresa X é a produção puxada, na qual o cliente
realiza e pedido e posteriormente o pedido segue para as etapas de fabricação, até ser
finalizando durante um determinado tempo de fabricação.
A empresa em questão não apresentava nenhuma Política Ambiental definida. Desta forma, a
primeira etapa tratou de elaborar uma Política Ambiental em conjunto com a Alta Gerência da
empresa.
A Política Ambiental definida foi: “A Empresa X tem o compromisso com a melhoria contínua
de seus processos e produtos. Como visão a empresa busca aplicar os princípios da gestão
ambiental, por meio da melhoria ambiental contínua. A partir do desenvolvimento sustentável,
está orientado seu plano estratégico de sustentabilidade, traçando objetivos, metas e indicadoras
para buscar novos resultados.”.
A segunda etapa de aplicação de um SGA trata da identificação dos aspectos ambientais,
requisitos legais e definição de objetivos e metas. Para este estudo, optou-se em fazer o uso da
metodologia da Produção mais Limpa (P+L) nesta etapa.
Desta forma, na terceira etapa que consiste na implementação e operações, foi realizada a
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identificação dos aspectos ambientais da empresa e em seguida determinado o plano de ação,
que consistiu na aplicação da P+L. Os aspectos ambientais encontrados na empresa se
encontram no Quadro 1.
Quadro 1 - Aspectos Ambientais identificados no estudo
Aspecto Ambiental Origem
Classificação na
NBR 10.004:2004
Impacto Ambiental Ação Proposta
Plástico
- Cones de linha
- Embalagens de
aviamentos
- Sacolas em geral
Classe II - A
- Ocupação de espaço
em aterros
- Contaminação de solo e
água
- Reciclagem Externa
Papel / papelão
- Tubetes de Tecido
- Caixas de papelão sem
uso
- Papel proveniente de
risco de enfesto
Classe II - A
- Ocupação de espaço
em aterros
- Contaminação de solo e
água
- Reciclagem Externa
Sobras de tecidos (em
tamanho ainda de
corte)
Setor de corte
Classe II - A
- Ocupação de espaço
em aterros
- Contaminação de solo e
água
- Reutilização Interna
Sobras de tecidos
(retalhos)
Classe II - A
- Ocupação de espaço
em aterros
- Contaminação de solo e
água
- Reciclagem Externa
Óleo lubrificante de
máquinas de costura
Setor de costura Classe I - Perigoso
- Ocupação de espaço
em aterros
- Contaminação de solo e
água
- Encaminhamento para
aterro industrial
Restos de tela
(madeira)
Setor de serigrafia
Classe I - Perigoso
- Ocupação de espaço
em aterros
- Contaminação de solo e
água
- Reciclagem Externa
Latas de tinta e
solventes
Classe I - Perigoso
- Ocupação de espaço
em aterros
- Contaminação de solo e
água
- Reciclagem Externa
Efluentes gerados Classe I - Perigoso
- Contaminação de solo e
água
- Construção de uma
estação de tratamento
Fonte: O autor (2021).
Para a aplicação da P+L, a primeira ação a ser tomada foi a de identificar os resíduos gerados
no processo e em seguida caracterizá-los de acordo com a Norma Brasileira NBR 10.004/ 2004.
De acordo com a norma em questão, os resíduos são classificados em Classe I – Perigosos e
Classe II A – Não Inerte e Classe II B – Inertes.
Na categoria de resíduos Classe I (Perigosos), foi encontrado na empresa: óleo lubrificante de
máquinas de costura, e retalhos de tecidos contaminados com óleo que foram usados para
limpeza das máquinas no momento de lubrificação, latas de tintas e solventes do setor de
estamparia e telas de serigrafia para descarte.
Na categoria de resíduos Classe II A (Não inerte), foram identificados resíduos têxteis, ou seja,
retalhos de tecidos provenientes do setor de corte da empresa; resíduos plásticos como sacos de
embalagem dos tecidos, cones de sustentação do rolo de tecido e sacolas em geral; resíduos de
papeis e papelão provenientes de caixas de papelão em desuso e papeis de riscos de enfestos do
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corte que foram descartados e resíduos de linhas e fios do setor da costura. Já para a categoria
de resíduos Classe II B (Inertes), nenhum resíduo foi identificado na empresa.
Seguindo então a metodologia da P+L após identificados os resíduos definiu-se dois caminhos
de ações para os mesmos: a redução desses resíduos e a reciclagem. E para auxiliar na triagem
destes resíduos, foi realizada a aplicação da metodologia Housekeeping.
O housekeeping trata-se de uma ferramenta utilizada pelas empresas para garantir um ambiente
mais agradável para os funcionários e trazer maior retorno de produtividade para empresa,
incluindo eliminação de desperdícios, limpeza e arrumação. O housekeeping é uma versão do
programa 5s consolidado no Japão.
Neste cenário, a primeira etapa do housekeeping trata da triagem para descarte. Nesta etapa os
resíduos foram separados em resíduos para reuso (reciclagem interna) e resíduos para
reciclagem. Para a reciclagem, foi determinado com a alta gerência da empresa quais os
resíduos seriam reciclados externamente e quais seria reciclado internamente, ou seja, voltariam
para o processo. A Figura 2, ilustra os resíduos levantados e definidos nesta etapa.
Figura 2 - P+L: Fase de destino dos resíduos.
Fonte: O autor (2021).
Assim, os retalhos de tecidos encontrados que possuíam um tamanho aceitável para corte de
peças voltaram para o processo de corte, com a finalidade de serem confeccionadas peças
pequenas para vendas em promoção. Já os demais retalhos, que não possuíam tamanho ideal
para aproveitamento foram destinados para a reciclagem externa. Os retalhos passaram a ser
doados para um grupo de mulheres da cidade que confeccionam artesanato e acessórios como
lacinhos e bandanas para venda nos petshops (Figura 3).
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Figura 3 - Produtos de petshop confeccionados com retalhos dos tecidos
Fonte: O autor (2021).
Os resíduos de plásticos como cones de linha e sacolas e embalagens, telas e as latas de tintas
da serigrafia (Figura 4) foram destinados à uma associação de coletores de Goioerê, a ATA
(Ação Tratamento Ambiental).
Figura 4 - Descarte de resíduos de papel, papelão e telas de serigrafia
Fonte: O autor (2021).
Já os resíduos de papel/ papelão, que eram os tubetes de tecidos, papelão de caixas e papel
resultante do processo de sublimação começaram a ser armazenados em big-bags e recolhido
diariamente por um coletor individual da cidade.
Figura 5 - Descarte de papeis do processo de sublimação
Fonte: O autor (2021).
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Por fim, o efluente gerado no processo de serigrafia, no qual é destinado à rede de esgoto da
cidade, foi realizada uma reunião com a alta gerência e explanado sobre os impactos ambientais
gerados por este efluente e sugerida a construção de uma estação pequena de tratamento na
empresa. Estes efluentes gerados apresentam uma alta concentração de cor presente em seus
efluentes, logo foi proposto um sistema de tratamento de efluentes por coagulação/ floculação.
Posteriormente a realização da implementação das ações propostas, foi realizada a quarta etapa
do SGA, que tratou da verificação e das ações corretivas.
Nesta etapa foi verificada pela alta gestão da empresa a efetividade do SGA implantado.
Constatou-se que em relação a segregação e destinação dos resíduos sólidos encaminhados para
a reciclagem, o programa apresentou um impacto positivo com relação a sustentabilidade e
começou assim, a atender a política ambiental proposta pela empresa.
Também é importante salientar o imenso ganho ambiental uma vez que antes da implantação
do SGA, os resíduos eram encaminhados para a coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos e
tinham como destino final o aterro.
Outro aspecto verificado pela alta gestão, foi a melhora na organização da empresa após a
aplicação do housekeeping, como ilustra a Figura 6.
Figura 6 - Organização da empresa após a aplicação do housekeeping
Fonte: O autor (2021).
Por fim, nesta etapa, salientou-se a importância de auditorias ambientais programadas para
serem realizadas ao longo do ano, e ainda ficou programada reuniões trimestrais da alta gerência
da empresa para efetuar a análise crítica do SGA, lembrando que o mesmo trata de um ciclo
contínuo que deve estar sempre sendo aprimorado.
14. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
"Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira"
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022.
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5. Conclusão
No presente estudo, foi abordado questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável de uma
indústria de confecção têxtil, evidenciando todos os pontos de fraquezas das etapas produtivas
da empresa.
A partir da análise dos resíduos e impactos negativos que estavam sendo gerados na fabricação
do produto final, foi aplicado a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental atrelado a
metodologia de produção mais limpa no processo, com a finalidade de atender a política
ambiental proposta pela empresa.
Após o levantamento dos aspectos ambientais, foi realizado a execução das melhorias
estruturais e organizacionais dos processos junto a base do housekeeping. O resultado obtido
com esse método foi extremamente efetivo, aumentando o tempo produtivo dos colaboradores
por conta da organização dos materiais utilizados nas operações e dos indicadores estabelecidos
com relação aos resíduos apontados dentro do processo e os impactos que estavam sendo
gerados por eles.
Também a partir dos aspectos ambientais e com o auxílio da metodologia da P+L, foram
direcionados resíduos tanto para reciclagem interna da empresa, quanto para a externa,
implicando em significativos ganhos ambientais e sociais.
Em suma, com este estudo foi possível concluir a efetividade da aplicação do Sistema de Gestão
Ambiental, até mesmo em microempresas, fazendo com que estas também possam cumprir suas
políticas ambientais e estarem de acordo com políticas públicas como a Política Nacional dos
Resíduos Sólidos de forma efetiva.
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15. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
"Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira"
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