Figuras de linguagem versos drummondianos

FIGURAS DE LINGUAGEM
Com exemplos transcritos de versos de Carlos Drummond de Andrade

Prof. Kleber Brito

Definição:

Recurso de expressão que consiste
no emprego da linguagem em um
contexto inesperado, seja no que
diz respeito ao sentido, à posição
ou à combinação das palavras.

Tipos:
Figuras de Figuras de Figuras de Figuras sonoras
Tipos Palavras ou Pensamento Construção ou
tropos de sintaxe
Transposição Introdução de Mudança na Geração de
do sentido uma ideia estrutura da efeitos sonoros.
Caracterização literal das diferente oração.
palavras para o daquela que a
sentido palavra
figurado. apresenta.

Figuras de Palavras ou tropos
Comparação
Ocorre quando, por meio de um termo
comparativo explícito (como, tal qual, assim
como etc.), se estabelece uma relação de
semelhança entre dois seres diferentes a que
se pode atribuir algo em comum.
“Eu não devia te dizer/ mas essa lua/ mas esse
conhaque / botam a gente comovido como o
diabo.”

Metáfora
É o emprego de uma palavra fora de seu
sentido próprio, podendo ter como base
uma comparação subentendida, em que o
elemento comparativo está implícito, ou ser
motivada por nosso conhecimento prévio.
“À sombra do mundo errado/ murmuraste um
protesto tímido”.
“Vinde lavar os vossos pecados”.
“Os tiros na madrugada / liquidaram meu leiteiro”.

Catacrese
É a utilização de um termo fora de seu
sentido literal, por não haver uma palavra
apropriada para expressar o que se
pretende. É, na verdade, uma metáfora de
uso corrente.
“Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro”.

Metonímia
É o emprego de um termo por outro, com o
qual mantém uma relação de contiguidade,
de inclusão, de interdependência ou de
coexistência.
“O bonde passa cheio de pernas. / Pernas brancas
pretas amarelas”.

“Os tiros na madrugada / liquidaram meu leiteiro”.

Antonomásia
É a substituição de um nome por uma
expressão que identifica a coisa ou pessoa,
salientando suas qualidades ou um fato
notável pelo qual ela e conhecida.
“Não é o canto da andorinha, debruçada nos
telhados da Lapa, / anunciando que tua vida
passou à toa, à toa”
Alusão à Manuel Bandeira e seu poema “Andorinha”.

Sinestesia
Consiste na mistura de sensações originárias
de diferentes órgãos do sentido.
“Porém meus olhos / não perguntam nada”.

“Já nem se escuta a poeira/ que o gesto espalha
no chão”.

Figuras de Pensamento
Antítese
É o destaque de uma ideia ou de um
conceito por meio de palavras de sentido
oposto. Em geral, seu objetivo é enfatizar a
diferença entre os termos.
“Então o moço que é leiteiro/ de madrugada com
sua lata/ sai correndo e distribuindo/ leite bom
para gente ruim”.
“O mais é jeito humano ou desumano,/ conforme
a inclinação do meu engano”.

Paradoxo
Representa a aproximação de termos ou
ideias contraditórios associados a uma só
ideia.
“Estou cego e vejo,/ arranco os olhos e vejo”.

“O que se desatou num só momento/ não cabe
no infinito, e é fuga e vento”.
“Jesus meu Deus pregado na cruz,/ me dá
coragem pra eu matar”.

Eufemismo
Consiste no emprego de palavras ou
expressões suaves no lugar de outras
consideradas desagradáveis ou chocantes.

“Deus me deu um amor no tempo de madureza”.
“Os tiros na madrugada / liquidaram meu
leiteiro”.

Ironia
Consiste em afirmar o oposto do que se quer
dizer.

“mas o leiteiro/ estatelado, ao relento,/perdeu a
pressa que tinha”.

“Minhas filhas, procurei/ aquela mulher do
demo. / E lhe roguei que aplacasse/ de meu
marido a vontade”.

Hipérbole
É o uso de uma expressão exagerada, em
geral para enfatizar uma ideia.

“Mundo, mundo, vasto mundo/ mais vasto é meu
coração”.

“A chuva era maria. E cada pingo / de maria
ensopava o meu domingo”.

Personificação
Ocorre quando se atribuem ações,
sentimentos, qualidades e linguagem
próprios do ser humano a seres inanimados
ou irracionais.
“O revólver da gaveta/ saltou para sua mão.”

“As casas espiam os homens/ que correm atrás de
mulheres”
“Devagar... As janelas olham/ Eta vida besta, meu Deus”

Gradação
É a organização de uma sequencia de
palavras ou expressões que exprimem a
redução ou intensificação progressiva
(crescente ou decrescente) de uma ideia.
“E agora, José? / A festa acabou, / a luz apagou, /
o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora José?”
“avancemos por esse beco,/ peguemos o corredor,
depositemos o litro...”.

Apóstrofe
É a invocação ou chamamento de alguém ou
alguma coisa. Corresponde estilisticamente
ao vocativo.
“ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu
bigode caminham numa estrada de pó e
esperança”
“disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida”

“Acorda, Luis Maurício. Vou te mostrar o mundo”

Hipálage
Se caracteriza pelo desajustamento entre a
função gramatical e a função lógica das
palavras, quanto à semântica, de forma a
criar uma transposição de sentidos.

“Vou subir a ladeira lenta”

Figuras de Construção ou de Sintaxe
Hipérbato
É a inversão da ordem direta dos termos em
uma oração, que pode ocorrer de forma
simples ou mais expressiva, como também a
intercalação de palavras ou de frases no
meio das expressões.
“Tem poucos, raros amigos/ o homem atrás do óculos
e do bigode”.
“Da garrafa estilhaçada,/ no ladrilho já sereno/
escorre uma coisa espessa”.

Elipse
Consiste na omissão de uma ou mais
palavras, sem prejudicar o sentido da frase.
“[Eu] Perdi o bonde e a esperança./ [Eu] Volto pálido
para casa”.

Zeugma
É a supressão de palavras expressas
anteriormente e que se encontram
subentendidas

“o medo grande dos sertões, [o medo] dos mares, [o
medo] dos desertos”.

Pleonasmo
Consiste no uso simultâneo de termos
diferentes, porém com o mesmo
sentido, para realçar uma ideia ou deixá-la
mais clara.
“Nossa mãe, dizei depressa/ que vestido é esse
vestido”.

Polissíndeto
É a repetição constante de uma conjunção
entre orações ou termos coordenados..
“ e sob as ondas ritmadas / e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis / e sob as labaredas e
sob o sarcasmo / e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido /
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate /
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes /
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros”

Assíndeto
É a ausência de conectivo entre termos ou
orações.
“O barulho da comida/ na boca, me acalentava,/
me dava uma grande paz,/ um sentimento
esquisito”.

Anacoluto
Ocorre quando há modificação na estrutura
regular de uma oração em que se introduz
uma palavra ou expressão que fica solta,
sem ligação sintática com os outros termos.

É tudo certo e prescrito /em nebuloso estatuto./
O homem, chamar-lhe mito / não passa de
anacoluto.

Anáfora
É a repetição enfática de uma ou mais
palavras.
“Se era noivo, se era virgem,/ se era alegre, se era
bom,/ não sei,/ é tarde pra saber ”.
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido /
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate /
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes /
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros

Silepse
É a concordância feita com um termo que
está subentendido, e não com o termo que
aparece na frase.
“Botam a gente comovido como o diabo”.

Figuras Sonoras
Aliteração
Repetição de fonemas consonantais para
realçar determinado som ou dar ritmo à
oração ou verso..

“Se você gritasse,/ se você gemesse,/ se você
tocasse,/ a valsa vienense,/ se você dormisse,/ se
você cansasse,/ se você morresse...”.

Figuras Sonoras
Assonância
É a repetição de fonemas vocálicos
acentuados (com maior ênfase).

“O primeiro amor passou./ O segundo amor
passou./ O terceiro amor passou./ Mas o coração
continua”.

Figuras Sonoras
Onomatopeia
É a utilização de palavras cuja pronúncia
imita ou representa certos sons ou ruídos.
“pisando a areia que canta, o barro que clapeclape,/
a poça d'água que rebrilha”

“o pacapá dos cavalinhos brincando de Derby”

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