SlideShare a Scribd company logo
1 of 7
Download to read offline
10
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005
QUÍMICA E SOCIEDADE
A seção “Química e sociedade” apresenta artigos que focalizam diferentes inter-relações entre Ciência e sociedade,
procurando analisar o potencial e as limitações da Ciência na tentativa de compreender e solucionar problemas sociais.
Neste número a seção apresenta dois artigos.
L
L
Recebido em 29/4/04, aceito em 9/5/05
Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
T
odas as formas de vida exis-
tentes na Terra dependem da
água. Apesar da maior parte da
superfície do nosso planeta ser reco-
berta por água, 97,3% da água do
mundo é água salgada, inadequada
para beber e para a maioria dos usos
agrícolas. Os lagos e rios são as prin-
cipais fontes de água potável; porém,
constituem menos de 0,01% do su-
primento total de água (Baird, 2002;
Azevedo, 1999). Adicionando aos rios
e lagos a água subterrânea a menos
de 800 m da superfície, a água doce
facilmente disponível representa ape-
nas 0,3% do volume total na Terra.
Diante da disponibilidade restrita
de águas naturais para consumo hu-
mano e da sua crescente poluição, é
importante entender os processos
químicos que nelas ocorrem e como
o uso do conhecimento químico pode
ser empregado na avaliação da qua-
lidade da água. Pretende-se neste ar-
tigo, portanto, fornecer alguns subsí-
dios teóricos ao professor de Química
do Ensino Médio para a abordagem
do tema “água” numa perspectiva
ambiental, proposta esta já discutida
nesta revista (Silva, 2003).
Pode-se considerar a química das
águas naturais dividida em duas cate-
gorias de reações mais comuns: as
reações ácido-base e as de oxidação-
redução (redox). Os fenômenos áci-
do-base e de solubilidade controlam
o pH e as concentrações de íons inor-
gânicos dissolvidos na água, como
o carbonato e o hidrogenocarbonato,
enquanto o teor de matéria orgânica
e o estado de oxidação de elementos
como nitrogênio, enxofre e ferro, en-
tre outros presentes na água, são
dependentes da presença de oxigê-
nio e das reações redox.
Oxigênio dissolvido: propriedades e
solubilidade
O agente oxidante mais impor-
tante em águas naturais é o oxigênio
molecular dissolvido, O2
(Baird, 2002).
Em uma reação envolvendo transfe-
rência de elétrons, cada um dos áto-
mos da molécula é reduzido do esta-
do de oxidação zero até o estado de
oxidação -2, formando H2
O ou OH–
.
As semi-reações de redução do O2
em solução ácida e neutra são, res-
pectivamente:
O2
+ 4H+
+ 4e–
→ 2H2
O
E° = 1,229 V (1)
O2
+ 2H2
O + 4e–
→ 4OH–
E° = 0,401 V (2)
A concentração de oxigênio dis-
solvido (OD) em um corpo d’água1
qualquer é controlada por vários fato-
res, sendo um deles a solubilidade do
oxigênio em água.
A solubilidade do OD na água, co-
mo para outras moléculas de gases
apolares com interação intermolecu-
lar fraca com água, é pequena devido
à característica polar da molécula de
água (Tabela 1). A presença do O2
na
água se deve, em parte, à sua disso-
lução do ar atmosférico para a água:
O2
(g) O2
(aq) (3)
cuja constante de equilíbrio apropria-
da é a constante da Lei de Henry2
,
KH
. Outra fonte importante de oxigênio
para água é a fotossíntese.
Para o processo de dissolução do
O2
, KH
é definida como:
KH
= [O2
(aq)]/pO2
(4)
Antonio Rogério Fiorucci e Edemar Benedetti Filho
Nos ecossistemas aquáticos, as reações de oxidação e redução exercem papel primordial na manutenção da vida. No
presente artigo, são discutidos: a importância do oxigênio dissolvido como agente oxidante, os fatores que afetam sua
solubilidade, o balanço de oxigênio dissolvido nos sistemas aquáticos e suas variações com a profundidade da coluna
d’água. Essas informações podem ser utilizadas pelo professor do ensino médio na abordagem dos temas estruturadores
“Química e hidrosfera” e “Reconhecimento e caracterização das transformações químicas” descritos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais.
oxigênio dissolvido, ecossistemas aquáticos, oxidação-redução
11
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
onde pO2
é a pressão parcial do
oxigênio atmosférico.
O valor de KH
para o O2
a tempe-
ratura de 25 °C é de 1,29 x 10–3
mol L–1
atm–1
.
Desta forma, como no nível do mar
a pressão atmosférica é de 1 atm e a
composição média em volume ou
molar do ar seco é de 21% de O2
, po-
de-se estimar a pres-
são parcial do oxi-
gênio como sendo
0,21 atm. Substituin-
do esse valor de
pressão na expres-
são da constante de equilíbrio de
Henry rearranjada, tem-se:
[O2
] = KH
pO2
=
1,29 x 10–3
mol L–1
atm–1
x 0,21 atm
= 2,7 x 10–4
mol L–1
Portanto, estima-se a solubilidade
do O2
em água, a 25 °C e no nível do
mar, como sendo 8,6 mg L–1
. Esse va-
lor apresenta uma concordância
razoavelmente boa com o valor me-
dido de 8,11 mg L–1
mostrado na Ta-
bela 1 (Connell, 1997).
Como a solubilidade é proporcio-
nal à pressão parcial2
de O2
([O2
] =
KH
pO2
), pode-se inferir que a uma
dada temperatura a solubilidade do
oxigênio na água decresce com o au-
mento da altitude, pois com o aumen-
to da altitude há uma diminuição da
pressão atmosférica e o oxigênio,
sendo um dos componentes do ar,
terá sua pressão parcial também re-
duzida. Como a composição do ar se-
co em termos de O2
é praticamente
constante em altitudes modestas,
poderíamos dizer que a diminuição
da pressão parcial de O2
será prati-
camente proporcional à diminuição
da pressão atmosférica.
Um fator mais importante que a
altitude no controle da solubilidade do
O2
na água é a temperatura. Como a
solubilidade dos gases em água di-
minui com a elevação da temperatu-
ra3
, a quantidade de oxigênio que se
dissolve a 0 °C (14,2 mg L–1
) é mais
do que o dobro da que se dissolve a
35 °C (7,0 mg L–1
). A Figura 1 ilustra
esse fato. Deste modo, águas de rios
ou lagos aquecidas
artificialmente como
resultado de polui-
ção térmica contêm
menos OD. A polui-
ção térmica ocorre
freqüentemente como resultado da
operação de usinas geradoras de
energia elétrica, que retiram água fria
de um rio ou lago e a utilizam para
refrigeração, devolvendo continua-
mente água aquecida à sua origem.
Baseado na solubilidade do O2
,
fica notório que os organismos aquá-
ticos tropicais têm menos oxigênio
disponível do que os de ambientes
aquáticos de clima temperado. Essa
constatação assume importância
quando se considera que nos lagos
próximos ao Equador a temperatura
pode atingir até 38 °C (Esteves, 1998).
Isto não significa que os organismos
em um lago próximo do Equador irão
ter problemas para sobreviver, pois
estão adaptados para essas condi-
ções ambientais.
Embora insignificante quando
comparada à temperatura, a salini-
dade também influencia na capacida-
de da água em dissolver oxigênio. O
aumento da salinidade diminui a solu-
bilidade do O2
na água. Assim, a
quantidade de minerais ou a presen-
ça de elevadas concentrações de
sais dissolvidos na água em decor-
rência de atividades potencialmente
poluidoras podem, mesmo que em
pequena intensidade, influenciar o
teor de OD na água. Desta forma, a
salinidade é a principal causa do me-
nor valor de OD nas águas salgadas,
em relação ao mesmo valor em águas
doces em condições idênticas de
temperatura e pressão atmosférica.
Além da temperatura, pressão e
salinidade que controlam a solubili-
dade do oxigênio na água, existem
outros fatores bioquímicos e climáti-
cos que também influenciam o teor
de OD e que serão discutidos no texto
a seguir.
O balanço de oxigênio dissolvido
nos sistemas aquáticos
Dentre os gases dissolvidos na
água, o oxigênio é um dos mais im-
portantes na dinâmica e caracteriza-
ção dos ecossistemas aquáticos (Es-
teves, 1998). As principais fontes de
oxigênio para a água são a atmosfera
e a fotossíntese. Por outro lado, as
perdas de oxigênio são causadas pe-
lo consumo pela decomposição da
matéria orgânica (oxidação), por per-
das para a atmosfera, respiração de
organismos aquáticos, nitrificação4
e
oxidação química abiótica de subs-
tâncias como íons metálicos - ferro(II)
e manganês(II) -, por exemplo.
Essas diversas transformações do
O2
nos sistemas aquáticos são repre-
sentadas esquematicamente na Figu-
ra 2.
Nas condições naturais de um sis-
tema aquático não poluído, o mate-
rial mais habitualmente oxidado pelo
oxigênio dissolvido na água é a maté-
ria orgânica de origem biológica, co-
mo a procedente de plantas mortas
e restos de animais. Esse processo
de oxidação, chamado de degrada-
ção aeróbica, ocorre em água ricas
em oxigênio, ou seja, que possuem
níveis de oxigênio próximos de 100%
de saturação5
, e é mediado por micro-
organismos aeróbicos. A reação quí-
mica envolvida pode ser expressa de
forma simplificada supondo que a
matéria orgânica seja em sua totali-
dade carboidrato polimerizado
Tabela 1: Solubilidade de alguns gases
em água e constantes da Lei de Henrya
(adaptado de Connell, 1997).
Gás Solubilidade / KH
/
mg L–1
mol L–1
atm–1
O2
8,11 1,29 x 10–3
N2
13,4 6,21 x 10–4
CH4
24 1,34 x 10–3
a
Valores para pressão atmosférica de 1
atm e temperatura de 25 °C.
Figura 1: Solubilidade do gás oxigênio em
água a várias temperaturas, na pressão
atmosférica de 1 atm (760 mmHg). Os
valores de solubilidades para construção
do gráfico foram consultados no seguinte
sítio na Internet: http://www.tps.com.au/
handbooks/93BFDOv2_1.PDF).
No controle da
solubilidade do O2
na
água, a temperatura é o
fator mais importante
12
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005
(Guimarães e Nour, 2001), com uma
fórmula empírica aproximada de
CH2
O:
(CH2
O)n
+ nO2
→ nCO2
+ nH2
O (5)
Considerando a matéria orgânica
(MO) de uma forma mais complexa,
pode-se substituir a Eq. 5 pela Eq. 6:
MO(C,H,N,S) + 5O2
→ CO2
+
H2
O+ NO3
–
+ SO4
2–
(6)
O consumo de oxigênio por esses
processos, em condições naturais, é
compensado pelo oxigênio produzido
na fotossíntese e pelo “reabastecimen-
to” de oxigênio com a aeração da água
através do fluxo da água em cursos
d’água e rios pouco profundos. Porém,
a água estagnada ou a que está
situada próxima ao fundo de um lago
de grande profundidade está, com fre-
qüência, quase completamente sem
oxigênio, devido à sua reação com a
matéria orgânica e à falta de qualquer
mecanismo que possibilite sua repo-
sição com rapidez, já que a difusão,
possível forma de reposição de O2
, é
um processo lento.
Substanciais reduções no OD po-
dem ocorrer nos ambientes aquáticos,
com implicações ambientais severas,
se quantidades significativas de maté-
ria orgânica forem a eles incorporadas.
Essa situação ocorre normalmente
com o lançamento de esgotos domés-
ticos e de efluentes industriais ricos em
matéria orgânica nos corpos d’água.
O aumento da matéria orgânica resulta
na maior taxa de respiração de micro-
organismos, dando origem à elevação
das quantidades de CO2
e metano (o
último produzido apenas por degrada-
ção anaeróbica) e, principalmente, em
uma demanda de oxigênio, cuja dis-
ponibilidade é pequena devido à sua
solubilidade bastante limitada na água.
Para avaliar a qualidade da água
quanto à concentração de OD e a pre-
sença de cargas poluidoras ricas em
material orgânico, alguns parâmetros
como o teor de OD e a DBO (deman-
da bioquímica de oxigênio) devem ser
determinados. Uma descrição do sig-
nificado químico e biológico desses
parâmetros é apresentada na Tabela
2. Os valores de DBO de esgotos e
alguns efluentes industriais são mos-
trados na Tabela 3.
Não é raro que águas poluídas
com substâncias orgânicas associa-
das a resíduos de animais e de ali-
mentos ou a esgoto apresentem uma
demanda de oxigênio superior à solu-
bilidade de equilíbrio máxima de oxi-
gênio. Sob tais circunstâncias, a me-
nos que a água seja continuamente
aerada, a depleção de oxigênio será
alcançada rapidamente.
A construção de represas sobre
áreas de florestas também pode re-
sultar na formação de lagos com alta
demanda de oxigênio dissolvido.
Nessas represas, a grande quantida-
de de fitomassa inundada6
, ao se de-
compor, consome grande quantidade
de OD, gerando déficits altos de oxi-
gênio. Os primeiros anos após a inun-
dação correspondem ao período de
maior demanda de oxigênio. Assim,
não raramente, toda a coluna d’água7
pode tornar-se desoxigenada.
Decomposição anaeróbica da
matéria orgânica
Em baixa quantidade ou ausência
de OD, microorganismos anaeróbi-
cos e facultativos8
, principalmente as
bactérias, desenvolvem a degrada-
ção e decomposição da matéria orgâ-
nica, através do processo de degra-
dação anaeróbica. A reação de de-
gradação anaeróbica pode ser ex-
pressa de maneira simplificada:
(7)
Esse processo não requer nenhu-
ma demanda por OD presente no cor-
po d’água, sendo uma parte do
carbono oxidada (para CO2
) e a parte
restante reduzida9
(para CH4
). O
metano e o dióxido de carbono pro-
duzidos são liberados no interior da
massa de água e, posteriormente, na
atmosfera, resultando na remoção de
carbono orgânico e da demanda de
oxigênio do sistema. Esse processo
ocorre em pântanos, nos sedimentos
de fundo enriquecidos com matéria
orgânica, assim como em corpos
d’água impactados pela poluição de
resíduos orgânicos. Dado que o
metano produzido nesse processo é
praticamente insolúvel em água, ele
forma bolhas que podem ser obser-
vadas em zonas pantanosas. Por
esse motivo, o metano já foi conhe-
cido como “gás dos pântanos”.
Variações e perfis verticais de OD
Não é raro encontrar ao mesmo
tempo condições aeróbicas e anae-
róbicas em partes diferentes do mes-
mo lago, particularmente no verão,
devido à ocorrência de uma estratifi-
cação estável em camadas de água
diferenciadas, como representado na
Figura 3. A água próxima da superfície
do lago é aquecida através da absor-
ção de luz solar por materiais bioló-
gicos, enquanto a parte que está
abaixo do nível de penetração da luz
solar permanece fria. Como a água
morna é menos densa que a água fria
(a temperaturas próximas dos 4 °C10
),
a camada superior “flutua” sobre a
camada inferior, ocorrendo pouca
transferência de massa entre elas. A
camada superior geralmente contém
Figura 2: Balanço de oxigênio dissolvido nos sistemas aquáticos; os processos acele-
rados ou aumentados pela descarga de materiais orgânicos são indicados por setas
verdes (adaptado de Connell, 1997).
Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
13
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005
• A dificuldade de usar a
DQO como índice para a
demanda de oxigênio é que
a solução ácida de dicro-
mato é um oxidante tão for-
te que oxida substâncias
que consumiriam oxigênio
muito lentamente em águas
naturais, e que, portanto,
não constituem uma amea-
ça real para seu conteúdo
de oxigênio.
Tabela 2: Alguns parâmetros para avaliação da qualidade de uma água relacionados com a química de oxidação-redução (adaptação
da tabela disponível em sítio do Ministério do Meio Ambiente na Internet: http://www.mma.gov.br/port/srh/acervo/publica/doc/zoneamen/
anexo2.pdf).
Parâmetro
Oxigênio
dissolvido
(OD)
Demanda
bioquímica
de oxigênio
(DBO)
Demanda
química de
oxigênio
(DQO)
Características gerais
• Representa a quantidade de oxigênio molecular (O2
) dissol-
vido na água;
• Expresso, geralmente, em mg L-1
ou porcentagem de satu-
ração em uma dada temperatura e pressão.
• Provém naturalmente de processos de
dissolução/aeração das águas e como
produto da reação de fotossíntese;
• Varia em função da temperatura e sali-
nidade da água e da pressão atmosférica;
• Reduções significativas nos teores de
OD podem ser provocadas por despejos
de origem orgânica (esgotos e alguns
efluentes industriais) e/ou com elevada
temperatura, que pode diminuir a solubi-
lidade do oxigênio na água.
Origem na água e fatores de alteração
• Ocorre naturalmente nas águas em ní-
vel reduzido em função da degradação
de matéria orgânica (folhas, animais mor-
tos, fezes de animais);
• Aumentos de DBO são provocados por
efluentes de origem predominantemente
orgânica;
• A DBO média para água superficial não
poluída nos EUA é cerca de 0,7 mg L–1
,
que é consideravelmente menor que a
solubilidade do O2
em água (8,1 mg L–1
a
25 °C);
• Valores de DBO de águas residuais,
efluentes ou esgotos de indústrias são
em geral de várias centenas de mg L-1
;
• Águas seriamente poluídas apresentam
DBO maior que 10 mg L-1
.
• Parâmetro mais usual de indicação da poluição por matéria
orgânica;
• A determinação envolve a medida do oxigênio dissolvido
utilizado pelos microrganismos na oxidação bioquímica da
matéria orgânica;
• A DBO é avaliada experimentalmente determinando a con-
centração de OD antes e após um período durante o qual uma
amostra de água é mantida no escuro a temperatura de 20 ou
25 °C. A DBO é igual à quantidade de oxigênio consumida como
resultado da oxidação de matéria orgânica dissolvida da amostra.
As reações de oxidação são catalisadas pela ação de bactérias
já presentes na amostra de água natural;
• Usualmente, permite-se que a reação se prolongue por 5 dias
antes da determinação do oxigênio residual. A demanda deter-
minada por este tipo de teste (DBO5
) corresponde a cerca de
80% do que seria determinada se o experimento fosse realizado
após um período de tempo muito longo - o que naturalmente
não é prático,
• A DBO é expressa em mg L-1
(miligramas de O2
por litro de H2
O);
• A DBO é empregada na determinação da quantidade aproxi-
mada de oxigênio que será necessária para oxidar biologica-
mente a matéria orgânica presente na água.
• Possibilita uma determinação mais rápida da demanda de
oxigênio de uma amostra de água do que a DBO;
• Representa a quantidade de oxigênio necessária para oxidação
da matéria orgânica através de um agente químico;
• É um parâmetro utilizado no monitoramento de sistemas de
tratamento de efluentes e na caracterização de efluentes indus-
triais;
• Usualmente o íon dicromato, Cr2
O7
2–
, na forma de um de seus
sais, como o Na2
Cr2
O7
, é dissolvido em ácido sulfúrico, resul-
tando em um poderoso agente oxidante. Esta solução preparada
é usada no lugar do O2
para oxidar a matéria orgânica presente
na amostra. A semi-reação de redução do íon dicromato duran-
te a oxidação da matéria orgânica é: Cr2
O7
2–
+ 14H+
+ 6e–
→
2Cr3+
+ 7H2
O. A DQO também é expressa em mg L-1
;
• A DQO está relacionada com a matéria orgânica total - não
biodegradável e biodegradável. O teste de DQO é importante
na medida da matéria orgânica em despejos que contenham
substâncias tóxicas à vida, inclusive as bactérias e outros micro-
organismos que oxidam a matéria orgânica biodegradável;
• A diferença entre DBO e DQO é que a última refere-se à oxi-
dação de matéria orgânica e outros compostos através de rea-
gentes químicos, enquanto na DBO essa oxidação é realizada
por microorganismos.
• Aumentos de DQO decorrem principal-
mente de despejos de origem industrial;
• O teste é valioso na medida de matéria
orgânica em efluentes que contenham
substâncias tóxicas. Neste caso, valores
de DBO baixos são encontrados mesmo
na presença de grande quantidade de ma-
téria orgânica, pois as substâncias tóxicas
levam à morte os microorganismos que
catalisam a decomposição aeróbica da
matéria orgânica;
• A DQO em um efluente industrial, em
geral, é mais alta que a DBO, em virtude
da maior facilidade com que grande nú-
mero de compostos pode ser oxidado por
via química em vez da via biológica. Esses
compostos que são oxidados apenas por
via química são os chamados não biode-
gradáveis.
Potencial
de oxi-
redução
(POR ou
pE)
• Mede a capacidade de oxidação ou redução de uma subs-
tância ou amostra;
• A medida do potencial de oxi-redução de uma amostra é feita
por meio de dois eletrodos que medem uma diferença de
potencial que é correlacionável com o grau de oxidabilidade ou
redutibilidade de uma amostra;
• Diferenças de potencial positivas entre 200 mV e 600 mV indi-
cam um meio fortemente oxidante. Diferenças de potencial en-
tre -100 mV e -200 mV revelam meios redutores.
• As condições de um rio não poluído são
fracamente oxidantes, graças à presença
de quantidades limitadas de oxigênio dis-
solvido.
Inconvenientes
• Apesar de essencial à vi-
da, o oxigênio é fator signi-
ficativo na corrosão de
tubulações de ferro e aço.
• Altos índices podem gerar
a diminuição e até a elimi-
nação do oxigênio presente
nas águas. Nessas condi-
ções, os processos aeróbi-
cos de degradação orgâ-
nica podem ser substituí-
dos pelos anaeróbicos,
gerando alterações subs-
tanciais no ecossistema, in-
clusive extinção das formas
de vida aeróbicas;
• O tempo elevado de de-
terminação da DBO é um
inconveniente deste parâ-
metro.
Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
14
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005
níveis de oxigênio dissolvido próximos
à saturação (solubilidade), condição
que se deve tanto ao seu contato com
o ar quanto à presença de O2
produzi-
do na fotossíntese das algas e plantas
aquáticas. As condições da camada
superior são aeróbicas e, conseqüen-
temente, os elementos dessa região
existem em suas for-
mas mais oxidadas9
:
ocarbonocomoCO2
,
H2
CO3
ou HCO3
–
; o
enxofre como SO4
2–
;
o nitrogênio como
NO3
–
e o ferro como
Fe(OH)3
insolúvel (estado de oxidação:
+3). Perto do fundo ocorre depleção11
do oxigênio, visto que não existe conta-
to com o ar e que o O2
é consumido na
decomposição de material biológico
abundante. Sob tais condições anae-
róbicas, os elementos químicos exis-
tem em suas formas mais reduzidas9
:
o carbono como metano, CH4
; o enxo-
fre como gás sulfídrico, H2
S; o nitrogê-
nio como NH3
e NH4
+
e o ferro como
Fe2+
solúvel.
Éimportantetambémlevaremcon-
ta o efeito da sazonalidade no perfil de
Tabela 3: Valores típicos de DBO5
de al-
guns efluentes industriais e domésticos
sem tratamento (adaptado de Mota, 1995).
Fonte poluidora DBO5
/ mg L–1
Esgotos domésticos 300
Engenhos de açúcar 1000
Destilarias de álcool > 7000
Cervejaria (maltaria) 400-1500
Cervejaria 1000-2000
Curtumes 1000-1500
Matadouros e frigoríficos 800-32000
Laticínios 500-2000*
*Quando não há recuperação do soro do
leite, a DBO5
pode atingir até 3000 mg L–1
.
Tabela 4: Concentrações mínimas de oxi-
gênio dissolvido (OD) e de temperatura
necessárias à existência continuada de al-
guns peixes (Connell, 1997, p. 347).
Organismo Temperatura / OD /
°C mg L–1
Truta marrom 6-24 1,3-2,9
(Salmo trutta)
Salmão de Coho 16-24 1,3-2,0
(Oncohynchus kisutch)
Truta arco-íris 11-20 1,1-3,7
(Salmo gairdnerii)
Figura 3: Representação esquemática da estratificação térmica e química das águas
de um lago no verão, mostrando as principais espécies químicas presentes (adaptado
de Baird, 2002).
OD com a profundidade. Normalmen-
te, as condições anaeróbicas das re-
giões mais profundas de um lago de
clima temperado não perduram indefi-
nidamente. Durante o outono e o inver-
no, a camada superior da água é
resfriada pelo ar frio que passa sobre
ela, de modo que, finalmente, a água
rica em oxigênio da parte superior
torna-se mais densa que a da parte
inferior e ocorre uma mistura por con-
vecção das camadas de água com
diferentes temperaturas, ou seja, a ca-
mada superior mais fria e densa tende
a se deslocar para o fundo, ao mesmo
tempo que a camada inferior mais
quente e menos densa tende a se mo-
ver para a superfície. Assim, durante o
inverno e primeiros dias da primavera,
o ambiente próximo ao fundo de um
lago é, em geral, aeróbico.
Diferentemente, condições de hipo-
xia(baixaconcentraçãodeoxigênio)ou
mesmo anoxia12
podem ocorrer na su-
perfície de lagos tropicais, totalmente
livres de poluição. Em
ecossistemas da re-
gião amazônica e do
Pantanal, observa-se
o fenômeno da “fria-
gem” ou “dequada”,
respectivamente.Nes-
ses fenômenos, há a queda de tem-
peraturadaáguade atécercade20 °C,
como conseqüência do vento e da
chuva fria. Como resultado da queda
datemperatura,háumamisturatotalda
massa d’água de diferentes profundi-
dades, com conseqüente redução da
concentração de oxigênio na partes
superiores até níveis de 10% de satu-
ração. Esse fenômeno pode persistir
portrêsdiaseésuficienteparaprovocar
intensa mortandade de peixes e causar
a redução acentuada da população de
fitoplâncton13
e zooplâncton14
.
Importância do oxigênio dissolvido
O OD é necessário para a respi-
ração de microorganismos aeróbicos,
bem como outras formas aeróbicas de
vida. A sobrevivência dos peixes, por
exemplo, requer concentrações mí-
nimas de OD entre a 10% e 60% de
saturação, dependendo da espécie e
outras características do sistema
aquático. A Tabela 4 mostra exemplos
de concentrações mínimas de OD ne-
cessárias à sobrevivência de algumas
espécies de peixes.
A importância do OD não se res-
tringe apenas à sobrevivência dos
seres aquáticos. A presença de OD em
águas residuárias (águas servidas)
industriais ricas em material orgânico
é desejável por prevenir a formação de
substâncias com odores desagradá-
veis que comprometem os diversos
usos da água como, por exemplo,
fonte de água potável ou meio de re-
creação. Em condições anaeróbicas,
a decomposição de matéria orgânica
contendo enxofre leva à formação de
gás sulfrídrico (H2
S) e mercaptanas15
,
enquanto a decomposição de mate-
rial protéico produz, entre outros, o in-
dol16
e o escatol17
(compostos deriva-
dos da decomposição do aminoácido
triptofano18
). Todas essas substâncias
apresentam odores desagradáveis (vi-
de Figura 4). A Figura 5 apresenta vias
biossintéticas que têm o aminoácido
triptofano como precursor do indol e
do escatol e de outras substâncias de
relevância biológica, como o neuro-
transmissor serotonina e os hormônios
melatonina e ácido 5-hidroxiindola-
cético.
Apesar de desejável nos sistemas
aquáticos naturais, a presença de altas
concentrações de OD não é conveni-
Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
Em condições anaeróbicas,
a decomposição de
matéria orgânica contendo
enxofre leva à formação de
gases fétidos
15
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005
ente em águas que percorrem tubu-
lações de ferro e aço, por favorecer a
corrosão. Esse fato resulta do poder
oxidante do O2
(Eq. 1) e, por esse moti-
vo, em águas tratadas é recomendado
que os valores de OD sejam menores
que 2,5 mg L–1
.
Considerações finais
As informações apresentadas no
presente artigo evidenciam como o
uso do conhecimento químico pode
ser usado na avaliação da qualidade
da água do ponto de vista ambiental
(Tabela 2). Essas informações podem
ser utilizadas pelo professor de Quí-
mica no Ensino Médio para contex-
tualização de conceitos de oxidação
e redução e na abordagem dos temas
estruturadores “Química e hidrosfera”
e “Reconhecimento e caracterização
das transformações químicas” descri-
tos nos Parâmetros Curriculares Na-
cionais (Brasil, 2002).
Notas
1. Também denominado de corpo
hídrico, refere-se a uma denominação
genérica para rio, ribeirão, riacho, cór-
rego, lago, reservatório, laguna ou
aqüífero.
2. William Henry, amigo pessoal de
John Dalton, dispensou muito tempo
estudando a solubilidade de gases
re alta taxa de fotossíntese.
6. É a quantidade de matéria orgâ-
nica submersa que pode ser expressa
por toneladas de carbono por hec-
tare, indicando a carga orgânica pre-
sente no corpo d’água.
7. Perfil de espessura de um lago,
rio ou oceano, desde o leito até a su-
perfície do corpo d’água.
8. Microorganismos anaeróbicos
é o termo que designa qualquer orga-
nismo inferior que consegue viver na
ausência de oxigênio e microorga-
nismos anaeróbicos facultativos são
organismos que podem viver em am-
bientes com ou sem oxigênio (Lincoln
et al., 1982).
9. Os conceitos de oxidação e re-
dução no texto também se relacio-
nam a perda e ganho de elétrons,
porém com certa especificidade para
compostos orgânicos. Um elemento
ou composto é oxidado quando liga-
se ou adquire átomos de oxigênio. Um
composto é oxidado quando perde
átomos de hidrogênio e é reduzido
quando ganha átomos de hidrogênio
(Hill et al., 1993).
10. A temperatura na qual a água
apresenta sua densidade máxima é
de 3,94 °C (Esteves, 1998).
11. Termo usado para designar a
diminuição do teor de certas substân-
cias ou de íons em uma solução (Lin-
coln et al., 1982).
12. Insuficiência ventilatória de
uma célula ou de um tecido celular;
pouco ou nenhum oxigênio disponível
para uso celular, o que implica o acú-
mulo de íons hidrogênio no protoplas-
ma e conseqüente acidose metabó-
lica, com morte da célula (Soares,
1993).
13. No século 19, o fisiologista ale-
mão Johannes Müller, ao filtrar água do
maratravésdeumarededemalhafina,
descobriu uma comunidade cons-
tituída de pequenos animais e plantas.
Em 1887, Viktor Hensen (outro fisiolo-
gista), denominou essa comunidade
de “plâncton” e a definiu como sendo
o conjunto de organismos que não dis-
põe de movimentos próprios capazes
de se opor ao movimento da água. O
plâncton é constituído pelo fitoplâncton
(algas), pelo zooplâncton (pequenos
animais) e pelo bacterioplâncton
(Esteves, 1998).
em líquidos. Em 1801, ele resumiu
suas descobertas na lei que conhe-
cemos hoje como Lei de Henry. Ele
descobriu que a solubilidade de um
gás dissolvido em um líquido a uma
dada temperatura é diretamente pro-
porcional à pressão do gás na super-
fície do líquido (Hill et al., 1993).
3. Diferentemente da maioria dos
solutos sólidos, os gases se tornam
menos solúveis quando a tempera-
tura aumenta. O calor aumenta a mo-
bilidade das moléculas de soluto e
solvente. Em oposição aos solutos
sólidos, as moléculas de gases po-
dem escapar da solução quando es-
tas atingem a superfície de um líquido
em um sistema aberto.
4. Em decorrência da decompo-
sição da matéria orgânica em siste-
mas aquáticos, há formação de com-
postos nitrogenados reduzidos, por
exemplo, a amônia e o íon amônio. A
oxidação biológica desses compos-
tos a nitrato (NO3
–
) é denominada nitri-
ficação.
5. Entende-se 100% de saturação
de oxigênio a quantidade máxima de
oxigênio que pode ser dissolvida na
água em determinada pressão, tem-
peratura e salinidade. Valores de OD
acima de 100% de saturação podem
ocorrer em águas naturais durante al-
guns períodos do dia, nos quais ocor-
Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
Figura 4: Vista parcial da Lagoa da Jansen, mais famosa lagoa de São Luís, capital do
Maranhão. Localizada no bairro Ponta D’Areia, sua beleza tem sido ofuscada pelo mal
cheiro que de suas águas exala, fruto da decomposição anaeróbica de matéria orgânica.
Esse problema pode ser minimizado, ou quiçá até eliminado, arejando-se a água da lagoa.
16
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005
Referências bibliográficas
AZEVEDO, E.B. Poluição vs. tratamen-
to de água: duas faces de uma mesma
moeda. Química Nova na Escola, n. 10,
p. 21-25, 1999.
BAIRD, C. Química Ambiental. 2ª ed.
Trad. M.A.L. Recio e L.C.M Carrera.
Porto Alegre: Bookman, 2002.
BRASIL, MINISTERIO DA EDUCA-
ÇÃO, SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO
MÉDIA E TECNOLÓGICA. PCN+ Ensino
Médio: Orientações educacionais com-
plementares aos Parâmetros Curricu-
lares Nacionais - Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias. Brasília:
MEC, SEMTEC, 2002. Disponível no
sítio: http://cenp.edunet.sp.gov.br/
Ens_medio/em_pcn.htm
CONNELL, D.W. Basic concepts of en-
vironmental chemistry. Boca Raton:
Lewis, 1997.
Abstract: The Importance of Dissolved Oxygen in Aquatic Ecosystems – Oxidation and reduction reactions play a prime role in the sustenance of life in aquatic ecosystems. In this paper the
importance of dissolved oxygen as an oxidizing agent, the factors that affect its solubility, the dissolved-oxygen balance in aquatic ecosystems and its variations with water column depth are
discussed. High-school teachers can use this information when dealing with the structuring themes “chemistry and the hydrosphere” and “recognition and characterization of chemical transforma-
tions” described in the National Curricular Parameters.
Keywords: dissolved oxygen, aquatic ecosystems, oxidation-reduction
ESTEVES, F.A. Fundamentos de Limno-
logia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interciência,
1998.
GUIMARÃES, J.R. e NOUR, E.A.A.
Tratando nossos esgotos: Processos que
imitam a natureza. Em: GIORDAN, M. e
JARDIM, W.F. (Eds.). Cadernos Temáticos
de Química Nova na Escola, n. 1, p. 19-
30, 2001.
HILL, J.W.; FEIGL, D.M. e BAUM, S.J.
Chemistry and life. An introduction to gen-
eral, organic, and biological chemistry. 4ª
ed. Nova Iorque: Macmillan, 1993.
LINCOLN, R.J.; BOXSHALL, G.A. e
CLARK, P.F. A dictionary of ecology, evo-
lution and systematics. Cambridge: Cam-
bridge University Press, 1982.
MOTA, S. Preservação e conservação
de recursos hídricos. Rio de Janeiro:
ABES, 1995.
PARKER, S.P. (Ed.). McGraw-Hill dictio-
nary of chemistry. Nova Iorque: McGraw-
Hill, 1997.
SILVA, R.M.G. Contextualizando
aprendizagens em Química na formação
escolar. Química Nova na Escola, n. 18,
p. 26-30, 2003.
SOARES, J.L. Dicionário etimológico
e circunstanciado de Biologia. São
Paulo: Scipione, 1993.
Para saber mais
Sobre o uso de experimentação sim-
ples para determinação do oxigênio dis-
solvido em água, recomendamos a
leitura do artigo:
FERREIRA, L.H.; DE ABREU, D.G.; IA-
MAMOTO, Y. e ANDRADE, J.F. Experi-
mentação em sala de aula e meio am-
biente: Determinação simples de
oxigênio dissolvido em água. Química
Nova na Escola, n. 19, p. 32-35, 2004.
14. Zooplâncton é o termo genéri-
co para um grupo de animais de dife-
rentes categorias sistemáticas, tendo
como característica comum a coluna
d’água como seu habitat principal. Na
grande maioria dos ambientes aquá-
ticos, o zooplâncton é formado por
protozoários e por vários grupos de
metazoários (Esteves, 1998).
15. Um grupo de compostos orga-
nossulforados que são derivados do
sulfeto de hidrogênio (H2
S), da mes-
Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
Figura 5: Biossíntese de diversas moléculas de relevância biológica a partir do aminoácido
triptofano como precursor (adaptado de Hill et al., 1993).
ma forma que os álcoois são deriva-
dos da água. Têm um odor desagra-
dável característico. São também
chamados de tióis, com uma fórmula
genérica R-SH, na qual R é um grupo
alquila.
16. Também conhecido como 2,3-
benzopirrol. É um sólido cangerígeno
de cor branca amarelada e de aroma
desagradável. Usado como um rea-
gente químico para as indústrias de
perfume e medicamentos (Parker,
1997). Também pode ser formado em
ambientes naturais pela degradação
do aminoácido triptofano.
17. Também conhecido como 3-
metilindol. É um sólido branco que
funde a 93-95 °C. É responsável pelo
odor característico das fezes, apesar
de sua estrutura química ser muito
semelhante à do indol usado na com-
posição de perfumes.
18. Aminoácido essencial da dieta
dos seres humanos. É precursor de
substâncias biológicas relevantes
como o neurotransmissor serotonina
(Figura 5).
Antonio Rogério Fiorucci (arfiorucci@uems.br),
licenciado e bacharel em Química (com Atribuições
Tecnológicas) e doutor em Ciências (Química Analí-
tica) pela Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), é docente do Curso de Química na Uni-
versidade Estadual de Mato Grosso do Sul (CQ-
UEMS), em Dourados - MS. Edemar Benedetti Filho
(edemar@uems.br), licenciado e bacharel em
Química, mestre e doutor em Ciências (Química Ana-
lítica) pela UFSCar, também é docente do CQ-UEMS.

More Related Content

What's hot

Avaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da águaAvaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da águaSafia Naser
 
Qualidade da água
Qualidade da águaQualidade da água
Qualidade da águaLimnos Ufsc
 
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDO
 RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDO RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDO
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDOEzequias Guimaraes
 
Tecnologia tratamento de aguas (2)
Tecnologia tratamento de aguas (2)Tecnologia tratamento de aguas (2)
Tecnologia tratamento de aguas (2)Jupira Silva
 
Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)
Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)
Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)Natan Pires
 
54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidos
54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidos54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidos
54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidosLéo Morais
 
Trabalho de conclusão de curso avaliação da qualidade da água
Trabalho de conclusão de curso  avaliação da qualidade da águaTrabalho de conclusão de curso  avaliação da qualidade da água
Trabalho de conclusão de curso avaliação da qualidade da águaRodrigo Aquino
 
Relatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscina
Relatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscinaRelatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscina
Relatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscinaarceariane87
 
3º Experimento - pH da Água
 3º Experimento - pH da Água  3º Experimento - pH da Água
3º Experimento - pH da Água PIBID Joel Job
 
Agentes alternativos
Agentes alternativosAgentes alternativos
Agentes alternativosdcfabcf
 
Relatório sobre esteres
Relatório sobre esteres Relatório sobre esteres
Relatório sobre esteres nataschabraga
 

What's hot (18)

Avaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da águaAvaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da água
 
Qualidade da água
Qualidade da águaQualidade da água
Qualidade da água
 
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDO
 RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDO RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDO
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: EXTRAÇÃO LÍQUIDO - LÍQUIDO
 
Soluções share
Soluções shareSoluções share
Soluções share
 
Tecnologia tratamento de aguas (2)
Tecnologia tratamento de aguas (2)Tecnologia tratamento de aguas (2)
Tecnologia tratamento de aguas (2)
 
Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)
Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)
Nitrogênio amônia-etanol-biodiesel (salvo automaticamente)
 
54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidos
54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidos54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidos
54302847 relatorio-acidos-bases-e-oxidos
 
DISPERSÕES REVISÃO ENEM
DISPERSÕES REVISÃO ENEMDISPERSÕES REVISÃO ENEM
DISPERSÕES REVISÃO ENEM
 
Soluções
SoluçõesSoluções
Soluções
 
concentração soluções
concentração soluçõesconcentração soluções
concentração soluções
 
Trabalho de conclusão de curso avaliação da qualidade da água
Trabalho de conclusão de curso  avaliação da qualidade da águaTrabalho de conclusão de curso  avaliação da qualidade da água
Trabalho de conclusão de curso avaliação da qualidade da água
 
Chuvanormalechuvaacida
ChuvanormalechuvaacidaChuvanormalechuvaacida
Chuvanormalechuvaacida
 
Relatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscina
Relatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscinaRelatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscina
Relatorio analitica 2 determinação de cloro ativo em produto para piscina
 
3º Experimento - pH da Água
 3º Experimento - pH da Água  3º Experimento - pH da Água
3º Experimento - pH da Água
 
Agentes alternativos
Agentes alternativosAgentes alternativos
Agentes alternativos
 
Gases exercícios
Gases exercíciosGases exercícios
Gases exercícios
 
Propriedades coligativas
Propriedades coligativasPropriedades coligativas
Propriedades coligativas
 
Relatório sobre esteres
Relatório sobre esteres Relatório sobre esteres
Relatório sobre esteres
 

Similar to Artigo oxigenio dissolvido

Similar to Artigo oxigenio dissolvido (20)

Geoquímica das águas usp
Geoquímica das águas   uspGeoquímica das águas   usp
Geoquímica das águas usp
 
Características Físicas e Químicas da Água.pdf
Características Físicas e Químicas da Água.pdfCaracterísticas Físicas e Químicas da Água.pdf
Características Físicas e Químicas da Água.pdf
 
Lixiviacao
LixiviacaoLixiviacao
Lixiviacao
 
Hidrosfera priscila
Hidrosfera   priscilaHidrosfera   priscila
Hidrosfera priscila
 
Tipos de àgua
Tipos de àguaTipos de àgua
Tipos de àgua
 
Roteiros de estudos volume 3 unidade 2
Roteiros de estudos volume 3 unidade 2Roteiros de estudos volume 3 unidade 2
Roteiros de estudos volume 3 unidade 2
 
Química Geral II - O mar oceano
Química Geral II - O mar oceanoQuímica Geral II - O mar oceano
Química Geral II - O mar oceano
 
Iii relacoes hidricas
Iii relacoes hidricasIii relacoes hidricas
Iii relacoes hidricas
 
Obtenção de hidrogenio
Obtenção de hidrogenioObtenção de hidrogenio
Obtenção de hidrogenio
 
Adaptações de plantas submersas à absorção do carbono inorgânico
Adaptações de plantas submersas à absorção do carbono inorgânicoAdaptações de plantas submersas à absorção do carbono inorgânico
Adaptações de plantas submersas à absorção do carbono inorgânico
 
Conteúdo 9° - Recursos Naturais (Água)
Conteúdo 9° - Recursos Naturais (Água)Conteúdo 9° - Recursos Naturais (Água)
Conteúdo 9° - Recursos Naturais (Água)
 
PoluiçãO Da áGua
PoluiçãO Da áGuaPoluiçãO Da áGua
PoluiçãO Da áGua
 
Quimica ambiental
Quimica ambientalQuimica ambiental
Quimica ambiental
 
CARBONO.pptx
CARBONO.pptxCARBONO.pptx
CARBONO.pptx
 
pH e pOH_Martha Reis
pH e pOH_Martha ReispH e pOH_Martha Reis
pH e pOH_Martha Reis
 
Fisiologia vegetal
Fisiologia vegetalFisiologia vegetal
Fisiologia vegetal
 
Relações hídricas
Relações hídricasRelações hídricas
Relações hídricas
 
Propriedades da água
Propriedades da águaPropriedades da água
Propriedades da água
 
Relacoes hidricas
Relacoes hidricasRelacoes hidricas
Relacoes hidricas
 
Chuvas ácidas
Chuvas ácidasChuvas ácidas
Chuvas ácidas
 

More from Sergio murilo Zacconi de souza

More from Sergio murilo Zacconi de souza (20)

Massa mais catálogo (1)
Massa mais   catálogo (1)Massa mais   catálogo (1)
Massa mais catálogo (1)
 
Armonia brochure warren street 5 12-2012
Armonia brochure warren street 5 12-2012Armonia brochure warren street 5 12-2012
Armonia brochure warren street 5 12-2012
 
Artigo oxigenio dissolvido
Artigo oxigenio dissolvidoArtigo oxigenio dissolvido
Artigo oxigenio dissolvido
 
Nano bolhas
Nano bolhasNano bolhas
Nano bolhas
 
Armonia contract restaurants (1)
Armonia contract restaurants (1)Armonia contract restaurants (1)
Armonia contract restaurants (1)
 
Boa tarde sr sergio
Boa tarde sr sergioBoa tarde sr sergio
Boa tarde sr sergio
 
Armonia company profile 2(1) (1)
Armonia  company profile 2(1) (1)Armonia  company profile 2(1) (1)
Armonia company profile 2(1) (1)
 
Armonia contract restaurants
Armonia contract restaurantsArmonia contract restaurants
Armonia contract restaurants
 
Armonia contract restaurants (1)
Armonia contract restaurants (1)Armonia contract restaurants (1)
Armonia contract restaurants (1)
 
Nano bolhas
Nano bolhasNano bolhas
Nano bolhas
 
Ozon pet novo
Ozon pet novoOzon pet novo
Ozon pet novo
 
Turbomax geart machine
Turbomax  geart machineTurbomax  geart machine
Turbomax geart machine
 
Artigo oxigenio dissolvido
Artigo oxigenio dissolvidoArtigo oxigenio dissolvido
Artigo oxigenio dissolvido
 
Apartamento budapest (1)
Apartamento budapest (1)Apartamento budapest (1)
Apartamento budapest (1)
 
Folder armonia interni(5)
Folder armonia interni(5)Folder armonia interni(5)
Folder armonia interni(5)
 
Monofit comparativo massa corrida
Monofit comparativo massa corridaMonofit comparativo massa corrida
Monofit comparativo massa corrida
 
Informaçõ.. (1)
Informaçõ.. (1)Informaçõ.. (1)
Informaçõ.. (1)
 
Armonia company profile 2(1)
Armonia  company profile 2(1)Armonia  company profile 2(1)
Armonia company profile 2(1)
 
Armonia brochure warren street 5 12-2012
Armonia brochure warren street 5 12-2012Armonia brochure warren street 5 12-2012
Armonia brochure warren street 5 12-2012
 
Ai002 cartão visita 1 (1)
Ai002 cartão visita 1 (1)Ai002 cartão visita 1 (1)
Ai002 cartão visita 1 (1)
 

Artigo oxigenio dissolvido

  • 1. 10 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005 QUÍMICA E SOCIEDADE A seção “Química e sociedade” apresenta artigos que focalizam diferentes inter-relações entre Ciência e sociedade, procurando analisar o potencial e as limitações da Ciência na tentativa de compreender e solucionar problemas sociais. Neste número a seção apresenta dois artigos. L L Recebido em 29/4/04, aceito em 9/5/05 Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos T odas as formas de vida exis- tentes na Terra dependem da água. Apesar da maior parte da superfície do nosso planeta ser reco- berta por água, 97,3% da água do mundo é água salgada, inadequada para beber e para a maioria dos usos agrícolas. Os lagos e rios são as prin- cipais fontes de água potável; porém, constituem menos de 0,01% do su- primento total de água (Baird, 2002; Azevedo, 1999). Adicionando aos rios e lagos a água subterrânea a menos de 800 m da superfície, a água doce facilmente disponível representa ape- nas 0,3% do volume total na Terra. Diante da disponibilidade restrita de águas naturais para consumo hu- mano e da sua crescente poluição, é importante entender os processos químicos que nelas ocorrem e como o uso do conhecimento químico pode ser empregado na avaliação da qua- lidade da água. Pretende-se neste ar- tigo, portanto, fornecer alguns subsí- dios teóricos ao professor de Química do Ensino Médio para a abordagem do tema “água” numa perspectiva ambiental, proposta esta já discutida nesta revista (Silva, 2003). Pode-se considerar a química das águas naturais dividida em duas cate- gorias de reações mais comuns: as reações ácido-base e as de oxidação- redução (redox). Os fenômenos áci- do-base e de solubilidade controlam o pH e as concentrações de íons inor- gânicos dissolvidos na água, como o carbonato e o hidrogenocarbonato, enquanto o teor de matéria orgânica e o estado de oxidação de elementos como nitrogênio, enxofre e ferro, en- tre outros presentes na água, são dependentes da presença de oxigê- nio e das reações redox. Oxigênio dissolvido: propriedades e solubilidade O agente oxidante mais impor- tante em águas naturais é o oxigênio molecular dissolvido, O2 (Baird, 2002). Em uma reação envolvendo transfe- rência de elétrons, cada um dos áto- mos da molécula é reduzido do esta- do de oxidação zero até o estado de oxidação -2, formando H2 O ou OH– . As semi-reações de redução do O2 em solução ácida e neutra são, res- pectivamente: O2 + 4H+ + 4e– → 2H2 O E° = 1,229 V (1) O2 + 2H2 O + 4e– → 4OH– E° = 0,401 V (2) A concentração de oxigênio dis- solvido (OD) em um corpo d’água1 qualquer é controlada por vários fato- res, sendo um deles a solubilidade do oxigênio em água. A solubilidade do OD na água, co- mo para outras moléculas de gases apolares com interação intermolecu- lar fraca com água, é pequena devido à característica polar da molécula de água (Tabela 1). A presença do O2 na água se deve, em parte, à sua disso- lução do ar atmosférico para a água: O2 (g) O2 (aq) (3) cuja constante de equilíbrio apropria- da é a constante da Lei de Henry2 , KH . Outra fonte importante de oxigênio para água é a fotossíntese. Para o processo de dissolução do O2 , KH é definida como: KH = [O2 (aq)]/pO2 (4) Antonio Rogério Fiorucci e Edemar Benedetti Filho Nos ecossistemas aquáticos, as reações de oxidação e redução exercem papel primordial na manutenção da vida. No presente artigo, são discutidos: a importância do oxigênio dissolvido como agente oxidante, os fatores que afetam sua solubilidade, o balanço de oxigênio dissolvido nos sistemas aquáticos e suas variações com a profundidade da coluna d’água. Essas informações podem ser utilizadas pelo professor do ensino médio na abordagem dos temas estruturadores “Química e hidrosfera” e “Reconhecimento e caracterização das transformações químicas” descritos nos Parâmetros Curriculares Nacionais. oxigênio dissolvido, ecossistemas aquáticos, oxidação-redução
  • 2. 11 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos onde pO2 é a pressão parcial do oxigênio atmosférico. O valor de KH para o O2 a tempe- ratura de 25 °C é de 1,29 x 10–3 mol L–1 atm–1 . Desta forma, como no nível do mar a pressão atmosférica é de 1 atm e a composição média em volume ou molar do ar seco é de 21% de O2 , po- de-se estimar a pres- são parcial do oxi- gênio como sendo 0,21 atm. Substituin- do esse valor de pressão na expres- são da constante de equilíbrio de Henry rearranjada, tem-se: [O2 ] = KH pO2 = 1,29 x 10–3 mol L–1 atm–1 x 0,21 atm = 2,7 x 10–4 mol L–1 Portanto, estima-se a solubilidade do O2 em água, a 25 °C e no nível do mar, como sendo 8,6 mg L–1 . Esse va- lor apresenta uma concordância razoavelmente boa com o valor me- dido de 8,11 mg L–1 mostrado na Ta- bela 1 (Connell, 1997). Como a solubilidade é proporcio- nal à pressão parcial2 de O2 ([O2 ] = KH pO2 ), pode-se inferir que a uma dada temperatura a solubilidade do oxigênio na água decresce com o au- mento da altitude, pois com o aumen- to da altitude há uma diminuição da pressão atmosférica e o oxigênio, sendo um dos componentes do ar, terá sua pressão parcial também re- duzida. Como a composição do ar se- co em termos de O2 é praticamente constante em altitudes modestas, poderíamos dizer que a diminuição da pressão parcial de O2 será prati- camente proporcional à diminuição da pressão atmosférica. Um fator mais importante que a altitude no controle da solubilidade do O2 na água é a temperatura. Como a solubilidade dos gases em água di- minui com a elevação da temperatu- ra3 , a quantidade de oxigênio que se dissolve a 0 °C (14,2 mg L–1 ) é mais do que o dobro da que se dissolve a 35 °C (7,0 mg L–1 ). A Figura 1 ilustra esse fato. Deste modo, águas de rios ou lagos aquecidas artificialmente como resultado de polui- ção térmica contêm menos OD. A polui- ção térmica ocorre freqüentemente como resultado da operação de usinas geradoras de energia elétrica, que retiram água fria de um rio ou lago e a utilizam para refrigeração, devolvendo continua- mente água aquecida à sua origem. Baseado na solubilidade do O2 , fica notório que os organismos aquá- ticos tropicais têm menos oxigênio disponível do que os de ambientes aquáticos de clima temperado. Essa constatação assume importância quando se considera que nos lagos próximos ao Equador a temperatura pode atingir até 38 °C (Esteves, 1998). Isto não significa que os organismos em um lago próximo do Equador irão ter problemas para sobreviver, pois estão adaptados para essas condi- ções ambientais. Embora insignificante quando comparada à temperatura, a salini- dade também influencia na capacida- de da água em dissolver oxigênio. O aumento da salinidade diminui a solu- bilidade do O2 na água. Assim, a quantidade de minerais ou a presen- ça de elevadas concentrações de sais dissolvidos na água em decor- rência de atividades potencialmente poluidoras podem, mesmo que em pequena intensidade, influenciar o teor de OD na água. Desta forma, a salinidade é a principal causa do me- nor valor de OD nas águas salgadas, em relação ao mesmo valor em águas doces em condições idênticas de temperatura e pressão atmosférica. Além da temperatura, pressão e salinidade que controlam a solubili- dade do oxigênio na água, existem outros fatores bioquímicos e climáti- cos que também influenciam o teor de OD e que serão discutidos no texto a seguir. O balanço de oxigênio dissolvido nos sistemas aquáticos Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio é um dos mais im- portantes na dinâmica e caracteriza- ção dos ecossistemas aquáticos (Es- teves, 1998). As principais fontes de oxigênio para a água são a atmosfera e a fotossíntese. Por outro lado, as perdas de oxigênio são causadas pe- lo consumo pela decomposição da matéria orgânica (oxidação), por per- das para a atmosfera, respiração de organismos aquáticos, nitrificação4 e oxidação química abiótica de subs- tâncias como íons metálicos - ferro(II) e manganês(II) -, por exemplo. Essas diversas transformações do O2 nos sistemas aquáticos são repre- sentadas esquematicamente na Figu- ra 2. Nas condições naturais de um sis- tema aquático não poluído, o mate- rial mais habitualmente oxidado pelo oxigênio dissolvido na água é a maté- ria orgânica de origem biológica, co- mo a procedente de plantas mortas e restos de animais. Esse processo de oxidação, chamado de degrada- ção aeróbica, ocorre em água ricas em oxigênio, ou seja, que possuem níveis de oxigênio próximos de 100% de saturação5 , e é mediado por micro- organismos aeróbicos. A reação quí- mica envolvida pode ser expressa de forma simplificada supondo que a matéria orgânica seja em sua totali- dade carboidrato polimerizado Tabela 1: Solubilidade de alguns gases em água e constantes da Lei de Henrya (adaptado de Connell, 1997). Gás Solubilidade / KH / mg L–1 mol L–1 atm–1 O2 8,11 1,29 x 10–3 N2 13,4 6,21 x 10–4 CH4 24 1,34 x 10–3 a Valores para pressão atmosférica de 1 atm e temperatura de 25 °C. Figura 1: Solubilidade do gás oxigênio em água a várias temperaturas, na pressão atmosférica de 1 atm (760 mmHg). Os valores de solubilidades para construção do gráfico foram consultados no seguinte sítio na Internet: http://www.tps.com.au/ handbooks/93BFDOv2_1.PDF). No controle da solubilidade do O2 na água, a temperatura é o fator mais importante
  • 3. 12 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005 (Guimarães e Nour, 2001), com uma fórmula empírica aproximada de CH2 O: (CH2 O)n + nO2 → nCO2 + nH2 O (5) Considerando a matéria orgânica (MO) de uma forma mais complexa, pode-se substituir a Eq. 5 pela Eq. 6: MO(C,H,N,S) + 5O2 → CO2 + H2 O+ NO3 – + SO4 2– (6) O consumo de oxigênio por esses processos, em condições naturais, é compensado pelo oxigênio produzido na fotossíntese e pelo “reabastecimen- to” de oxigênio com a aeração da água através do fluxo da água em cursos d’água e rios pouco profundos. Porém, a água estagnada ou a que está situada próxima ao fundo de um lago de grande profundidade está, com fre- qüência, quase completamente sem oxigênio, devido à sua reação com a matéria orgânica e à falta de qualquer mecanismo que possibilite sua repo- sição com rapidez, já que a difusão, possível forma de reposição de O2 , é um processo lento. Substanciais reduções no OD po- dem ocorrer nos ambientes aquáticos, com implicações ambientais severas, se quantidades significativas de maté- ria orgânica forem a eles incorporadas. Essa situação ocorre normalmente com o lançamento de esgotos domés- ticos e de efluentes industriais ricos em matéria orgânica nos corpos d’água. O aumento da matéria orgânica resulta na maior taxa de respiração de micro- organismos, dando origem à elevação das quantidades de CO2 e metano (o último produzido apenas por degrada- ção anaeróbica) e, principalmente, em uma demanda de oxigênio, cuja dis- ponibilidade é pequena devido à sua solubilidade bastante limitada na água. Para avaliar a qualidade da água quanto à concentração de OD e a pre- sença de cargas poluidoras ricas em material orgânico, alguns parâmetros como o teor de OD e a DBO (deman- da bioquímica de oxigênio) devem ser determinados. Uma descrição do sig- nificado químico e biológico desses parâmetros é apresentada na Tabela 2. Os valores de DBO de esgotos e alguns efluentes industriais são mos- trados na Tabela 3. Não é raro que águas poluídas com substâncias orgânicas associa- das a resíduos de animais e de ali- mentos ou a esgoto apresentem uma demanda de oxigênio superior à solu- bilidade de equilíbrio máxima de oxi- gênio. Sob tais circunstâncias, a me- nos que a água seja continuamente aerada, a depleção de oxigênio será alcançada rapidamente. A construção de represas sobre áreas de florestas também pode re- sultar na formação de lagos com alta demanda de oxigênio dissolvido. Nessas represas, a grande quantida- de de fitomassa inundada6 , ao se de- compor, consome grande quantidade de OD, gerando déficits altos de oxi- gênio. Os primeiros anos após a inun- dação correspondem ao período de maior demanda de oxigênio. Assim, não raramente, toda a coluna d’água7 pode tornar-se desoxigenada. Decomposição anaeróbica da matéria orgânica Em baixa quantidade ou ausência de OD, microorganismos anaeróbi- cos e facultativos8 , principalmente as bactérias, desenvolvem a degrada- ção e decomposição da matéria orgâ- nica, através do processo de degra- dação anaeróbica. A reação de de- gradação anaeróbica pode ser ex- pressa de maneira simplificada: (7) Esse processo não requer nenhu- ma demanda por OD presente no cor- po d’água, sendo uma parte do carbono oxidada (para CO2 ) e a parte restante reduzida9 (para CH4 ). O metano e o dióxido de carbono pro- duzidos são liberados no interior da massa de água e, posteriormente, na atmosfera, resultando na remoção de carbono orgânico e da demanda de oxigênio do sistema. Esse processo ocorre em pântanos, nos sedimentos de fundo enriquecidos com matéria orgânica, assim como em corpos d’água impactados pela poluição de resíduos orgânicos. Dado que o metano produzido nesse processo é praticamente insolúvel em água, ele forma bolhas que podem ser obser- vadas em zonas pantanosas. Por esse motivo, o metano já foi conhe- cido como “gás dos pântanos”. Variações e perfis verticais de OD Não é raro encontrar ao mesmo tempo condições aeróbicas e anae- róbicas em partes diferentes do mes- mo lago, particularmente no verão, devido à ocorrência de uma estratifi- cação estável em camadas de água diferenciadas, como representado na Figura 3. A água próxima da superfície do lago é aquecida através da absor- ção de luz solar por materiais bioló- gicos, enquanto a parte que está abaixo do nível de penetração da luz solar permanece fria. Como a água morna é menos densa que a água fria (a temperaturas próximas dos 4 °C10 ), a camada superior “flutua” sobre a camada inferior, ocorrendo pouca transferência de massa entre elas. A camada superior geralmente contém Figura 2: Balanço de oxigênio dissolvido nos sistemas aquáticos; os processos acele- rados ou aumentados pela descarga de materiais orgânicos são indicados por setas verdes (adaptado de Connell, 1997). Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
  • 4. 13 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005 • A dificuldade de usar a DQO como índice para a demanda de oxigênio é que a solução ácida de dicro- mato é um oxidante tão for- te que oxida substâncias que consumiriam oxigênio muito lentamente em águas naturais, e que, portanto, não constituem uma amea- ça real para seu conteúdo de oxigênio. Tabela 2: Alguns parâmetros para avaliação da qualidade de uma água relacionados com a química de oxidação-redução (adaptação da tabela disponível em sítio do Ministério do Meio Ambiente na Internet: http://www.mma.gov.br/port/srh/acervo/publica/doc/zoneamen/ anexo2.pdf). Parâmetro Oxigênio dissolvido (OD) Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) Demanda química de oxigênio (DQO) Características gerais • Representa a quantidade de oxigênio molecular (O2 ) dissol- vido na água; • Expresso, geralmente, em mg L-1 ou porcentagem de satu- ração em uma dada temperatura e pressão. • Provém naturalmente de processos de dissolução/aeração das águas e como produto da reação de fotossíntese; • Varia em função da temperatura e sali- nidade da água e da pressão atmosférica; • Reduções significativas nos teores de OD podem ser provocadas por despejos de origem orgânica (esgotos e alguns efluentes industriais) e/ou com elevada temperatura, que pode diminuir a solubi- lidade do oxigênio na água. Origem na água e fatores de alteração • Ocorre naturalmente nas águas em ní- vel reduzido em função da degradação de matéria orgânica (folhas, animais mor- tos, fezes de animais); • Aumentos de DBO são provocados por efluentes de origem predominantemente orgânica; • A DBO média para água superficial não poluída nos EUA é cerca de 0,7 mg L–1 , que é consideravelmente menor que a solubilidade do O2 em água (8,1 mg L–1 a 25 °C); • Valores de DBO de águas residuais, efluentes ou esgotos de indústrias são em geral de várias centenas de mg L-1 ; • Águas seriamente poluídas apresentam DBO maior que 10 mg L-1 . • Parâmetro mais usual de indicação da poluição por matéria orgânica; • A determinação envolve a medida do oxigênio dissolvido utilizado pelos microrganismos na oxidação bioquímica da matéria orgânica; • A DBO é avaliada experimentalmente determinando a con- centração de OD antes e após um período durante o qual uma amostra de água é mantida no escuro a temperatura de 20 ou 25 °C. A DBO é igual à quantidade de oxigênio consumida como resultado da oxidação de matéria orgânica dissolvida da amostra. As reações de oxidação são catalisadas pela ação de bactérias já presentes na amostra de água natural; • Usualmente, permite-se que a reação se prolongue por 5 dias antes da determinação do oxigênio residual. A demanda deter- minada por este tipo de teste (DBO5 ) corresponde a cerca de 80% do que seria determinada se o experimento fosse realizado após um período de tempo muito longo - o que naturalmente não é prático, • A DBO é expressa em mg L-1 (miligramas de O2 por litro de H2 O); • A DBO é empregada na determinação da quantidade aproxi- mada de oxigênio que será necessária para oxidar biologica- mente a matéria orgânica presente na água. • Possibilita uma determinação mais rápida da demanda de oxigênio de uma amostra de água do que a DBO; • Representa a quantidade de oxigênio necessária para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico; • É um parâmetro utilizado no monitoramento de sistemas de tratamento de efluentes e na caracterização de efluentes indus- triais; • Usualmente o íon dicromato, Cr2 O7 2– , na forma de um de seus sais, como o Na2 Cr2 O7 , é dissolvido em ácido sulfúrico, resul- tando em um poderoso agente oxidante. Esta solução preparada é usada no lugar do O2 para oxidar a matéria orgânica presente na amostra. A semi-reação de redução do íon dicromato duran- te a oxidação da matéria orgânica é: Cr2 O7 2– + 14H+ + 6e– → 2Cr3+ + 7H2 O. A DQO também é expressa em mg L-1 ; • A DQO está relacionada com a matéria orgânica total - não biodegradável e biodegradável. O teste de DQO é importante na medida da matéria orgânica em despejos que contenham substâncias tóxicas à vida, inclusive as bactérias e outros micro- organismos que oxidam a matéria orgânica biodegradável; • A diferença entre DBO e DQO é que a última refere-se à oxi- dação de matéria orgânica e outros compostos através de rea- gentes químicos, enquanto na DBO essa oxidação é realizada por microorganismos. • Aumentos de DQO decorrem principal- mente de despejos de origem industrial; • O teste é valioso na medida de matéria orgânica em efluentes que contenham substâncias tóxicas. Neste caso, valores de DBO baixos são encontrados mesmo na presença de grande quantidade de ma- téria orgânica, pois as substâncias tóxicas levam à morte os microorganismos que catalisam a decomposição aeróbica da matéria orgânica; • A DQO em um efluente industrial, em geral, é mais alta que a DBO, em virtude da maior facilidade com que grande nú- mero de compostos pode ser oxidado por via química em vez da via biológica. Esses compostos que são oxidados apenas por via química são os chamados não biode- gradáveis. Potencial de oxi- redução (POR ou pE) • Mede a capacidade de oxidação ou redução de uma subs- tância ou amostra; • A medida do potencial de oxi-redução de uma amostra é feita por meio de dois eletrodos que medem uma diferença de potencial que é correlacionável com o grau de oxidabilidade ou redutibilidade de uma amostra; • Diferenças de potencial positivas entre 200 mV e 600 mV indi- cam um meio fortemente oxidante. Diferenças de potencial en- tre -100 mV e -200 mV revelam meios redutores. • As condições de um rio não poluído são fracamente oxidantes, graças à presença de quantidades limitadas de oxigênio dis- solvido. Inconvenientes • Apesar de essencial à vi- da, o oxigênio é fator signi- ficativo na corrosão de tubulações de ferro e aço. • Altos índices podem gerar a diminuição e até a elimi- nação do oxigênio presente nas águas. Nessas condi- ções, os processos aeróbi- cos de degradação orgâ- nica podem ser substituí- dos pelos anaeróbicos, gerando alterações subs- tanciais no ecossistema, in- clusive extinção das formas de vida aeróbicas; • O tempo elevado de de- terminação da DBO é um inconveniente deste parâ- metro. Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos
  • 5. 14 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005 níveis de oxigênio dissolvido próximos à saturação (solubilidade), condição que se deve tanto ao seu contato com o ar quanto à presença de O2 produzi- do na fotossíntese das algas e plantas aquáticas. As condições da camada superior são aeróbicas e, conseqüen- temente, os elementos dessa região existem em suas for- mas mais oxidadas9 : ocarbonocomoCO2 , H2 CO3 ou HCO3 – ; o enxofre como SO4 2– ; o nitrogênio como NO3 – e o ferro como Fe(OH)3 insolúvel (estado de oxidação: +3). Perto do fundo ocorre depleção11 do oxigênio, visto que não existe conta- to com o ar e que o O2 é consumido na decomposição de material biológico abundante. Sob tais condições anae- róbicas, os elementos químicos exis- tem em suas formas mais reduzidas9 : o carbono como metano, CH4 ; o enxo- fre como gás sulfídrico, H2 S; o nitrogê- nio como NH3 e NH4 + e o ferro como Fe2+ solúvel. Éimportantetambémlevaremcon- ta o efeito da sazonalidade no perfil de Tabela 3: Valores típicos de DBO5 de al- guns efluentes industriais e domésticos sem tratamento (adaptado de Mota, 1995). Fonte poluidora DBO5 / mg L–1 Esgotos domésticos 300 Engenhos de açúcar 1000 Destilarias de álcool > 7000 Cervejaria (maltaria) 400-1500 Cervejaria 1000-2000 Curtumes 1000-1500 Matadouros e frigoríficos 800-32000 Laticínios 500-2000* *Quando não há recuperação do soro do leite, a DBO5 pode atingir até 3000 mg L–1 . Tabela 4: Concentrações mínimas de oxi- gênio dissolvido (OD) e de temperatura necessárias à existência continuada de al- guns peixes (Connell, 1997, p. 347). Organismo Temperatura / OD / °C mg L–1 Truta marrom 6-24 1,3-2,9 (Salmo trutta) Salmão de Coho 16-24 1,3-2,0 (Oncohynchus kisutch) Truta arco-íris 11-20 1,1-3,7 (Salmo gairdnerii) Figura 3: Representação esquemática da estratificação térmica e química das águas de um lago no verão, mostrando as principais espécies químicas presentes (adaptado de Baird, 2002). OD com a profundidade. Normalmen- te, as condições anaeróbicas das re- giões mais profundas de um lago de clima temperado não perduram indefi- nidamente. Durante o outono e o inver- no, a camada superior da água é resfriada pelo ar frio que passa sobre ela, de modo que, finalmente, a água rica em oxigênio da parte superior torna-se mais densa que a da parte inferior e ocorre uma mistura por con- vecção das camadas de água com diferentes temperaturas, ou seja, a ca- mada superior mais fria e densa tende a se deslocar para o fundo, ao mesmo tempo que a camada inferior mais quente e menos densa tende a se mo- ver para a superfície. Assim, durante o inverno e primeiros dias da primavera, o ambiente próximo ao fundo de um lago é, em geral, aeróbico. Diferentemente, condições de hipo- xia(baixaconcentraçãodeoxigênio)ou mesmo anoxia12 podem ocorrer na su- perfície de lagos tropicais, totalmente livres de poluição. Em ecossistemas da re- gião amazônica e do Pantanal, observa-se o fenômeno da “fria- gem” ou “dequada”, respectivamente.Nes- ses fenômenos, há a queda de tem- peraturadaáguade atécercade20 °C, como conseqüência do vento e da chuva fria. Como resultado da queda datemperatura,háumamisturatotalda massa d’água de diferentes profundi- dades, com conseqüente redução da concentração de oxigênio na partes superiores até níveis de 10% de satu- ração. Esse fenômeno pode persistir portrêsdiaseésuficienteparaprovocar intensa mortandade de peixes e causar a redução acentuada da população de fitoplâncton13 e zooplâncton14 . Importância do oxigênio dissolvido O OD é necessário para a respi- ração de microorganismos aeróbicos, bem como outras formas aeróbicas de vida. A sobrevivência dos peixes, por exemplo, requer concentrações mí- nimas de OD entre a 10% e 60% de saturação, dependendo da espécie e outras características do sistema aquático. A Tabela 4 mostra exemplos de concentrações mínimas de OD ne- cessárias à sobrevivência de algumas espécies de peixes. A importância do OD não se res- tringe apenas à sobrevivência dos seres aquáticos. A presença de OD em águas residuárias (águas servidas) industriais ricas em material orgânico é desejável por prevenir a formação de substâncias com odores desagradá- veis que comprometem os diversos usos da água como, por exemplo, fonte de água potável ou meio de re- creação. Em condições anaeróbicas, a decomposição de matéria orgânica contendo enxofre leva à formação de gás sulfrídrico (H2 S) e mercaptanas15 , enquanto a decomposição de mate- rial protéico produz, entre outros, o in- dol16 e o escatol17 (compostos deriva- dos da decomposição do aminoácido triptofano18 ). Todas essas substâncias apresentam odores desagradáveis (vi- de Figura 4). A Figura 5 apresenta vias biossintéticas que têm o aminoácido triptofano como precursor do indol e do escatol e de outras substâncias de relevância biológica, como o neuro- transmissor serotonina e os hormônios melatonina e ácido 5-hidroxiindola- cético. Apesar de desejável nos sistemas aquáticos naturais, a presença de altas concentrações de OD não é conveni- Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos Em condições anaeróbicas, a decomposição de matéria orgânica contendo enxofre leva à formação de gases fétidos
  • 6. 15 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005 ente em águas que percorrem tubu- lações de ferro e aço, por favorecer a corrosão. Esse fato resulta do poder oxidante do O2 (Eq. 1) e, por esse moti- vo, em águas tratadas é recomendado que os valores de OD sejam menores que 2,5 mg L–1 . Considerações finais As informações apresentadas no presente artigo evidenciam como o uso do conhecimento químico pode ser usado na avaliação da qualidade da água do ponto de vista ambiental (Tabela 2). Essas informações podem ser utilizadas pelo professor de Quí- mica no Ensino Médio para contex- tualização de conceitos de oxidação e redução e na abordagem dos temas estruturadores “Química e hidrosfera” e “Reconhecimento e caracterização das transformações químicas” descri- tos nos Parâmetros Curriculares Na- cionais (Brasil, 2002). Notas 1. Também denominado de corpo hídrico, refere-se a uma denominação genérica para rio, ribeirão, riacho, cór- rego, lago, reservatório, laguna ou aqüífero. 2. William Henry, amigo pessoal de John Dalton, dispensou muito tempo estudando a solubilidade de gases re alta taxa de fotossíntese. 6. É a quantidade de matéria orgâ- nica submersa que pode ser expressa por toneladas de carbono por hec- tare, indicando a carga orgânica pre- sente no corpo d’água. 7. Perfil de espessura de um lago, rio ou oceano, desde o leito até a su- perfície do corpo d’água. 8. Microorganismos anaeróbicos é o termo que designa qualquer orga- nismo inferior que consegue viver na ausência de oxigênio e microorga- nismos anaeróbicos facultativos são organismos que podem viver em am- bientes com ou sem oxigênio (Lincoln et al., 1982). 9. Os conceitos de oxidação e re- dução no texto também se relacio- nam a perda e ganho de elétrons, porém com certa especificidade para compostos orgânicos. Um elemento ou composto é oxidado quando liga- se ou adquire átomos de oxigênio. Um composto é oxidado quando perde átomos de hidrogênio e é reduzido quando ganha átomos de hidrogênio (Hill et al., 1993). 10. A temperatura na qual a água apresenta sua densidade máxima é de 3,94 °C (Esteves, 1998). 11. Termo usado para designar a diminuição do teor de certas substân- cias ou de íons em uma solução (Lin- coln et al., 1982). 12. Insuficiência ventilatória de uma célula ou de um tecido celular; pouco ou nenhum oxigênio disponível para uso celular, o que implica o acú- mulo de íons hidrogênio no protoplas- ma e conseqüente acidose metabó- lica, com morte da célula (Soares, 1993). 13. No século 19, o fisiologista ale- mão Johannes Müller, ao filtrar água do maratravésdeumarededemalhafina, descobriu uma comunidade cons- tituída de pequenos animais e plantas. Em 1887, Viktor Hensen (outro fisiolo- gista), denominou essa comunidade de “plâncton” e a definiu como sendo o conjunto de organismos que não dis- põe de movimentos próprios capazes de se opor ao movimento da água. O plâncton é constituído pelo fitoplâncton (algas), pelo zooplâncton (pequenos animais) e pelo bacterioplâncton (Esteves, 1998). em líquidos. Em 1801, ele resumiu suas descobertas na lei que conhe- cemos hoje como Lei de Henry. Ele descobriu que a solubilidade de um gás dissolvido em um líquido a uma dada temperatura é diretamente pro- porcional à pressão do gás na super- fície do líquido (Hill et al., 1993). 3. Diferentemente da maioria dos solutos sólidos, os gases se tornam menos solúveis quando a tempera- tura aumenta. O calor aumenta a mo- bilidade das moléculas de soluto e solvente. Em oposição aos solutos sólidos, as moléculas de gases po- dem escapar da solução quando es- tas atingem a superfície de um líquido em um sistema aberto. 4. Em decorrência da decompo- sição da matéria orgânica em siste- mas aquáticos, há formação de com- postos nitrogenados reduzidos, por exemplo, a amônia e o íon amônio. A oxidação biológica desses compos- tos a nitrato (NO3 – ) é denominada nitri- ficação. 5. Entende-se 100% de saturação de oxigênio a quantidade máxima de oxigênio que pode ser dissolvida na água em determinada pressão, tem- peratura e salinidade. Valores de OD acima de 100% de saturação podem ocorrer em águas naturais durante al- guns períodos do dia, nos quais ocor- Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos Figura 4: Vista parcial da Lagoa da Jansen, mais famosa lagoa de São Luís, capital do Maranhão. Localizada no bairro Ponta D’Areia, sua beleza tem sido ofuscada pelo mal cheiro que de suas águas exala, fruto da decomposição anaeróbica de matéria orgânica. Esse problema pode ser minimizado, ou quiçá até eliminado, arejando-se a água da lagoa.
  • 7. 16 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 22, NOVEMBRO 2005 Referências bibliográficas AZEVEDO, E.B. Poluição vs. tratamen- to de água: duas faces de uma mesma moeda. Química Nova na Escola, n. 10, p. 21-25, 1999. BAIRD, C. Química Ambiental. 2ª ed. Trad. M.A.L. Recio e L.C.M Carrera. Porto Alegre: Bookman, 2002. BRASIL, MINISTERIO DA EDUCA- ÇÃO, SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. PCN+ Ensino Médio: Orientações educacionais com- plementares aos Parâmetros Curricu- lares Nacionais - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002. Disponível no sítio: http://cenp.edunet.sp.gov.br/ Ens_medio/em_pcn.htm CONNELL, D.W. Basic concepts of en- vironmental chemistry. Boca Raton: Lewis, 1997. Abstract: The Importance of Dissolved Oxygen in Aquatic Ecosystems – Oxidation and reduction reactions play a prime role in the sustenance of life in aquatic ecosystems. In this paper the importance of dissolved oxygen as an oxidizing agent, the factors that affect its solubility, the dissolved-oxygen balance in aquatic ecosystems and its variations with water column depth are discussed. High-school teachers can use this information when dealing with the structuring themes “chemistry and the hydrosphere” and “recognition and characterization of chemical transforma- tions” described in the National Curricular Parameters. Keywords: dissolved oxygen, aquatic ecosystems, oxidation-reduction ESTEVES, F.A. Fundamentos de Limno- logia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interciência, 1998. GUIMARÃES, J.R. e NOUR, E.A.A. Tratando nossos esgotos: Processos que imitam a natureza. Em: GIORDAN, M. e JARDIM, W.F. (Eds.). Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, n. 1, p. 19- 30, 2001. HILL, J.W.; FEIGL, D.M. e BAUM, S.J. Chemistry and life. An introduction to gen- eral, organic, and biological chemistry. 4ª ed. Nova Iorque: Macmillan, 1993. LINCOLN, R.J.; BOXSHALL, G.A. e CLARK, P.F. A dictionary of ecology, evo- lution and systematics. Cambridge: Cam- bridge University Press, 1982. MOTA, S. Preservação e conservação de recursos hídricos. Rio de Janeiro: ABES, 1995. PARKER, S.P. (Ed.). McGraw-Hill dictio- nary of chemistry. Nova Iorque: McGraw- Hill, 1997. SILVA, R.M.G. Contextualizando aprendizagens em Química na formação escolar. Química Nova na Escola, n. 18, p. 26-30, 2003. SOARES, J.L. Dicionário etimológico e circunstanciado de Biologia. São Paulo: Scipione, 1993. Para saber mais Sobre o uso de experimentação sim- ples para determinação do oxigênio dis- solvido em água, recomendamos a leitura do artigo: FERREIRA, L.H.; DE ABREU, D.G.; IA- MAMOTO, Y. e ANDRADE, J.F. Experi- mentação em sala de aula e meio am- biente: Determinação simples de oxigênio dissolvido em água. Química Nova na Escola, n. 19, p. 32-35, 2004. 14. Zooplâncton é o termo genéri- co para um grupo de animais de dife- rentes categorias sistemáticas, tendo como característica comum a coluna d’água como seu habitat principal. Na grande maioria dos ambientes aquá- ticos, o zooplâncton é formado por protozoários e por vários grupos de metazoários (Esteves, 1998). 15. Um grupo de compostos orga- nossulforados que são derivados do sulfeto de hidrogênio (H2 S), da mes- Oxigênio dissolvido em sistemas aquáticos Figura 5: Biossíntese de diversas moléculas de relevância biológica a partir do aminoácido triptofano como precursor (adaptado de Hill et al., 1993). ma forma que os álcoois são deriva- dos da água. Têm um odor desagra- dável característico. São também chamados de tióis, com uma fórmula genérica R-SH, na qual R é um grupo alquila. 16. Também conhecido como 2,3- benzopirrol. É um sólido cangerígeno de cor branca amarelada e de aroma desagradável. Usado como um rea- gente químico para as indústrias de perfume e medicamentos (Parker, 1997). Também pode ser formado em ambientes naturais pela degradação do aminoácido triptofano. 17. Também conhecido como 3- metilindol. É um sólido branco que funde a 93-95 °C. É responsável pelo odor característico das fezes, apesar de sua estrutura química ser muito semelhante à do indol usado na com- posição de perfumes. 18. Aminoácido essencial da dieta dos seres humanos. É precursor de substâncias biológicas relevantes como o neurotransmissor serotonina (Figura 5). Antonio Rogério Fiorucci (arfiorucci@uems.br), licenciado e bacharel em Química (com Atribuições Tecnológicas) e doutor em Ciências (Química Analí- tica) pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é docente do Curso de Química na Uni- versidade Estadual de Mato Grosso do Sul (CQ- UEMS), em Dourados - MS. Edemar Benedetti Filho (edemar@uems.br), licenciado e bacharel em Química, mestre e doutor em Ciências (Química Ana- lítica) pela UFSCar, também é docente do CQ-UEMS.