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ESPIRITUALIDADE
SÉC. XV - XVI
Pe. José Carlos A.A. Martins
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1. Introdução
2. Gerson
3. Devotio Moderna
4. Alguns escritores da Devotio Moderna
5. A Devotio e outras espiritualidades
6. Espiritualidade feminina
7. A religiosidade popular
8. Savonarola e o Humanismo Renascentista
9. Erasmo e o Protestantismo Luterano
10. Tomás Moro
11. João d’Ávila
12. Inácio de Loyola
13. Teresa de Jesus
14. João da Cruz
15. Filipe de Neri e o Oratório
16. Carlos Borromeu e a Reforma Tridentina
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Introdução
A fé cristã como história de salvação realiza-se no tempo, como um
interlaçar-se entre o eterno divino com o tempo histórico, um diálogo de aliança
entre a iniciativa de Deus e a livre resposta do homem. Isto que no evento
Cristo tem o seu ponto culminante, continua com a ação do Espírito Santo na
história. Assim Deus guia a Igreja e a humanidade de idade em idade, através
de etapas e horas únicas (Kairós), particularmente suscitando figuras e
movimentos de renovação.
A exigência de renovação da cristandade dá-se sobretudo nos séculos
XV e XVI. Uma multiplicidade de fatores põe em crise a vida cristã; muitas
eram ainda as sequelas do cisma do Ocidente (1378-1414) com três Papas
que lutavam entre si, mesmo com armas e exércitos, pelo Papado; a voz
profética de Catarina de Sena (1347-1389), pedindo aos Papas a reforma da
Igreja, mostra a gravidade do momento. Desde o Concílio de Viena (1311-
1312) e daí para a frente que se reclamava uma reforma da Igreja. Eram
sobretudo dois os âmbitos da reforma:
1) Os comportamentos morais (reforma dos costumes);
2) Os mecanismos institucionais que geram corrupção (reforma estrutural).
O conceito de reforma implica sempre uma vontade de melhorar. É
muito notado o ditado: “Ecclesia semper reformanda”, ou seja a fé da Igreja é
uma realidade sempre viva! Ela conhece a necessidade contínua de se renovar
de se revitalizar (Nova evangelização!). A reforma estrutural não teria muito
sucesso se se esquecesse a auto reforma, a reforma singular de cada crente à
luz do evangelho. Foi precisamente isso que recordou Catarina de Sena e que
depois continuarão a recordar Gerson, o movimento da “devotio moderna”,
Inácio de Loyola, Teresa de Jesus e outros, como veremos.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
É por isso uma vontade geral de uma religiosidade interior, longe dos
formalismos da oração, de práticas exteriores populares (peregrinações,
cerimónias), do abstratistismo teológico e jurídico. Trata-se de um aproximar-se
de novo à simplicidade de uma vida cristã segundo o Evangelho, como já o
tentaram fazer nos três séculos anteriores, S. Francisco e S. Domingos com a
fundação das ordens mendicantes, mas que agora têm também uma nova
necessidades reforma.
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JOÃO GERSON
Jean de Charlier, conhecido com o nome de Gerson, torna-se Prelado e
Chanceler da Universidade de Paris, onde estudou. Não obstante a grande
carga académica e teológica, desenvolve trabalhos pastorais na paróquia,
pregou na língua do povo e ocupou-se com intensidade na vida espiritual.
Gerson, desenha, pensando nas suas irmãs, um programa de vida
espiritual muito simples: fazia-se uma oração comum, a horas estabelecidas e
sempre às mesmas horas (para se disciplinarem), mais vezes ao dia, recebia-
se os sacramentos (da confissão e da comunhão) frequentemente; estavam
juntamente em paz, exortando à vivência e à prática do bem e consideravam-
se todos iguais; o vivido no quotidiano pode conduzir à santidade, sem
necessidade de fazer escolhas particularmente radicais.
Não pensando só nas irmãs, mas voltando-se em particular para os
leigos, Gerson escreve em francês duas obras importantes para a vida
espiritual: “Montanha da contemplação” e “ Mendicidade espiritual”. Estava
animado pela convicção de que cada batizado fosse chamado à perfeição do
amor e à santidade. Assim transparece o esforço de tornar acessível a todos
também os temas mais profundos da espiritualidade e da teologia: todos, por
isso devem pôr-se a caminho sobre o monte da contemplação, mesmo as
crianças.
Por isso tudo o que respeita ao início deste caminho, Gerson,
recomenda o conhecimento de si mesmo: cada um deve dar-se conta do
próprio carater. Uma pessoa que tende para a atividade, através do seu próprio
temperamento, não deve pretender forçar a sua natureza buscando uma forma
de vida espiritual em total retiro e silêncio.
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A ideia da montanha sugere um itinerário ascensional que ocorre para
chegar ou conseguir chegar à meta, escalando com fadiga as diversas etapas
da subida, até à contemplação (fase mais perfeita). O monte, a montanha é por
isso um lugar privilegiado para se fazer a experiência de Deus na Bíblia e
também noutras religiões.
A primeira etapa deste itinerário sublinha o aspeto penitencial que
consiste no “distanciar-se” no “apartar-se”, na libertação do “apego” a si mesmo
e às coisas. Trata-se por isso de iniciar um processo de autoconhecimento,
constatando os apegos que impedem o progredir do imperfeito ao perfeito com
gradualidade de modo semelhante ao que a natureza usa para fazer a sua
obra, levando ou passando da imperfeição à perfeição.
Só depois de ter percorrido o caminho da perfeição, se pode iniciar a
segunda etapa que consiste no estar “separado”, no silêncio. Isto é, trata-se
dum deserto espiritual interior; pode de facto estar-se sozinho exteriormente,
ou num deserto físico, mas cheio de recordações, de pensamentos, de rostos,
de lugares; e estas representações provocam no ser orante uma grande
perturbação!
A terceira etapa vem caracterizada por uma “forte perseverança”, que
dispõe a pessoa “para aquele estado perfeito” no qual se pode dizer que vive
do amor divino. “ Quem acredita não chegará ao cume da montanha sem uma
forte perseverança; é semelhante àquele que escala uma grande montanha e
desce sempre. Mesmo que esteja já no alto ou encontre alguma dificuldade ou
impedimento”.
Fica assim claro que segundo Gerson o amor divino é o início e o fim da
contemplação; por consequência, diz, o maior mestre de teologia é aquele que
mais ama a Deus, Quem mais ama Deus, conduz uma vida mais cristã. Neste
sentido a vida contemplativa é certamente a mais perfeita, como mostra a
palavra de Jesus a Marta, afirmando que Maria escolheu a melhor parte.
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É também verdade, afirma Gerson, que se se pode amar a Deus na
vida ativa, muito mais se pode na vida contemplativa. Alcança-se o estado de
maior perfeição a partir dum estado de menor perfeição: estar no “estado de
perfeição” (vida consagrada, consagração sacerdotal) não significa viver
plenamente a perfeição cristã, mas tender para esta com mais empenho!
A doutrina espiritual de Gerson, conduz à mística, como mostra a sua
obra de arte “ De mística theologia”, na qual analisa com profundidade a união
da alma com Deus. Nesta união, o crente é elevado à oração perfeita e
encontra nesta a sua plena realização. Entre os autores mais citados encontra-
se Dionísio Areopagita, Ricardo de S. Vítor, Hugo de Balma. Nesta obra a
mística assume a dimensão de uma “ciência” mas em estreita relação com a
vida da fé. Gerson não refuta a especulação teológica, como farão alguns
autores da “Devitio Moderna” mas procura estabelecer uma relação
complementar entre teologia e experiência religiosa.
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GERARDO GROOTE (1340-1384) E A DEVOTIO
MODERNA
Em sentido cristão “devoção” é uma palavra quase exclusivamente
usada pela vida de fé. Com S. Bernardo e com a Cartuxa de S. Bruno, vem
usada para exprimir o fervor interior da caridade, da qual nasce a
contemplação, isto é a devoção entre aderir e repousar em Deus. Segundo S.
Tomás de Aquino, “devoção é o acto interior de cada religião, por meio do qual
o crente se doa, alegremente ao serviço de Deus”. Esta doutrina reencontramo-
la em S. Boaventura, com a acentuação sobre Cristo e os seus mistérios.
“Moderna” é o adjectivo diferencial que, etimologicamente equivale a
“novo”, “actual”. A “Devoção Moderna”, quer propor um modo de piedade
actualizado, “aggiornato” ao seu tempo. O acento é posto na interioridade
afectiva.
Nascido em Deventer ( Países Baixos), Gerardo Groote é o iniciador
principal deste movimento; estudou em Paris. Uma doença, quase que o levou
à morte, e fê-lo mudar de vida(conversão); renuncia às prebendas eclesiásticas
e inicia um retiro nos Cartuxos (Munnikshuizen, Arnhem), onde permanece
cerca de três anos e onde sente a exigência de uma vida cristã mais autêntica,
mais apostólica, sobretudo. Torna-se um ardente reformador do clero de Utrcht.
Entre os diversos livros, que encontrou na Cartuxa, estavam os de beato
Johannes Ruusbroeck (1283-1381) grande místico, prior do convento agostinho
de Groenendael perto de Bruxelas. Entre os seus escritos encontra-se o
“Ornamento das núpcias espirituais”, uma mística esponsal da qual Sta. Teresa
e S. João da Cruz, darão, como veremos mais tarde, um profundo
ensinamento.
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Groote, concebe a mística esponsal e especulativa, mas dessa toma
acima de tudo os conselhos ascéticos e práticos. As razões são várias e
diversas; uma é certamente a situação originada pelas epidemias, como a
peste e as calamidades físicas. Diante da dor, das doenças, das guerras, e.t.c.,
a espiritualidade inspirada na metafísica neoplatónica, parecia muito
complicada para a gente comum. Ponto de referência para a reforma espiritual,
é a Sagrada Escritura e, unida com ela, a pessoa de Jesus, a sua vida e a sua
mensagem; descobre-se como “mestre interior”, do qual já tinha falado Sto.
Agostinho. Propõe-se a configuração a Cristo que implica o baptismo: despojar-
se do homem velho para se revestir do homem novo, Cristo. Neste sentido a
meditação da paixão, morte e ressurreição de Cristo, tem um papel central para
a Devotio Moderna.
O livro de Groote “De quattor generibus meditabilium” (quattro géneros
de argumentos ou razões para meditar) propõe isto:
1) O que a escritura diz sobre a vida de Cristo;
2) O que é revelado privadamente aos santos sobre os mistérios da vida de
Cristo;
3) O que sobre isto dizem os teólogos;
4) O que construímos com a nossa imaginação, as imagens que possamos
fazer-nos sobre a vida de Cristo;
Os argumentos dignos de meditação são para ele dados pela Sagrada
Escritura, mas o quarto é reconduzível à Sagrada Escritura, pois como ele
argumenta, também a Sagrada Escritura usa imagens e figurações para
transmitir a Palavra de Deus. Assim é legítimo servir-se da imaginação para a
oração, mas sem nos determos em demasia no sensível que esqueceria o
supra sensível transcendente, o divino. Por outras palavras: na vida de fé deve
ter-se um equilíbrio justo entre as forças da imaginação e as da razão, evitando
tanto o racionalismo abstracto (mística especulativa) quanto a ingenuidade de
uma religiosidade demasiado antropomórfica.
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A Devotio Moderna mostra-nos uma espiritualidade que sabe ser fiel à
humanidade de Jesus, à sua vida, morte e ressurreição, unida à sua divindade,
evitando todo o espiritualismo de uma piedade desencarnada, neoplatónica,
ascética própria da mística especulativa que atravessa o Jesus histórico,
quanto o é objectivismo ingénuo de uma fé grosseira.
A estrutura central da Devotio Moderna é iniciada por Groote, não só
com os seus ensinamentos, mas também de modo concreto; fundou “As irmãs
da vida comum”. “Comum” significa não só vida em comum, juntos, mas uma
forma de vida “ordinária”, comum a todos, que gera comunhão, um estilo de
vida “íntimo” com Deus (contemplativo), fundamento da vida comum com os
outros. Esta é a única comunidade nascida sob a orientação de Groote, pois
sob os seus sucessores, em particular F. Radewijns(1350-1400), desenvolveu-
se uma forma de comunidade mais organizada mas ainda sem votos solenes,
contudo vivendo em pobreza, castidade e obediência. Renunciavam aos bens
patrimoniais, e dedicavam-se à cura dos doentes e ensinavam às raparigas os
trabalhos domésticos.
Os “Irmãos de vida comum”, fundados por Radewijns, estavam
organizados de forma semelhante às “Irmãs”, sem votos solenes e sem regras
monásticas. Alem da oração, trabalhavam nas transcrições e nas miniaturas de
livros, trabalho considerado importante para a propagação da fé. Ocupavam-se
também no ensino, aos jovens nos colégios, nos quais encontravam um
espaço amplo para as práticas espirituais, próprias da Devotio. Um destes foi o
colégio de Montaigu em Paris, onde estudaram Erasmus, Calvino e Sto. Inácio.
Também Lutero frequentou as escolas destes “Irmãos” que não têm regras
mas “consuetudines”. Trata-se essencialmente de organização da vida interna
da casa: horário e demais ocupações do dia. A sua casa não tem nada de
Mosteiro ou de Convento: é uma casa de dia a dia comum, “ordinária” sob a
orientação dum sacerdote, que fazia de superior e seguia o dia da casa, a
oração e o trabalho, a mesa comum, e praticavam a correcção fraterna e outros
exercícios de caridade. Sobretudo cultivavam a leitura da Sagrada Escritura.
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Os grupos de irmãos da vida comum aumentaram rapidamente, porque
os próprios jovens dos seus colégios lhes pediam a admissão. Assim, por
exemplo, o jovem Tomás de Kempes fez parte de uma destas comunidades em
Deventer (de 1392 a 1397). A experiência feita pelos jovens que frequentavam
as escolas dos Irmãos, mostrou a Radewijns que entre eles marcavam aqueles
que buscavam uma forma de vida mais monástica, capaz de unir a vida
contemplativa com a vida activa. Portanto a partir desta ideia ele fundou a
comunidade dos Cónegos regulares de Sto Agostinho em Windesheim(1387),
terceira forma de vida comum da Devotio.
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ESCRITORES DA DEVOTIO, “DE IMATATIONE CHRISTI
Os devotos amavam os livros e juntamente com as simples cópias
emergiam aqueles que escreviam livros próprios:
Gerardo Zerbolt (1367-1398), Irmão e Johan Mombaer, último dos
mestres flamengos da Devotio, caracterizam-se por uma excessiva
metodização formalista da vida espiritual, como mostra o “Rosetum exercitorum
spiritualium et sacrarum meditationum (1494) de Mauburnus, que se apresenta
como uma enorme enciclopédia; isto recorda-nos as meditações afectivas e
experiências místicas de que falava Groote.
Assim, a característica mais importante da Devotio consiste no colocar
um método à vida espiritual, em particular à oração mental, à meditação e ao
exame de consciência. Isto praticava-se também antes, mas não de um modo
assim tão claro e central. Mas por outro lado o interesse excessivo pelo
método, trazia uma complicação progressiva de regras, sobejando a
espontaneidade afectiva na relação com Deus.
Certamente o autor de maior influência da Devotio é Tomás Kempes,
pois foi considerado o autor mais provável do livro “De imitatione Christi”. Ele
foi Cónego regular da Congregação de Windesheim; além da sua actividade de
copista, escreveu cerca de quarenta escritos espirituais. Kempes encontrou a
sua inspiração na meditação do Evangelho e com coragem enfrentou uma
nova visão Cristocêntrica da fé no meio de um ambiente metafísico-platónico.
Só partindo de Cristo se pode verificar, segundo Kempes, com a ajuda da
graça, uma verdadeira experiência divina.
O protagonista da “Imitação de Cristo” é uma pessoa que, desiludida
com a vida mundana, se põe no caminho do seguimento de Cristo. O cristão
deve partir do conhecimento de si mesmo, reconhecendo a sua fraqueza, e
para fazer isto volta-se para Jesus.
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O cristão não se deve envolver com as coisas temporais esquecendo as
eternas, mas como Jesus, deve estar disposto a libertar-se destas( sejam as
honras, o saber, ou as coisas materiais) em particular de tudo o que impede de
seguir Jesus. No livro 2º, apresenta de modo mais imediato a iniciação à “vida
interior”: deve descobrir o Reino de Deus que está em nós, colocando-se em
íntimo contacto com Cristo, para que Ele substituía o nosso “eu” pelo seu. No
3º livro, que é o mais longo, a contemplação centra-se sobre a amizade com
Cristo, sobre o seu amor e a sua consolação, em particular diante da dor e da
desolação; o estilo é dialogal. O 4º livro é como que o vértice dos três
precedentes. A mesma ideia guia do terceiro livro são transportadas e
aplicadas a Jesus-eucaristia. União espiritual ou mística com Cristo e união
sacramental, longe de se excluírem, completam-se.
Assim, espiritualidade como apelo à imitação de Cristo, não significa
tomar um modelo imposto, estranho ao homem. Não é uma reprodução
(fotocópia), não substitui o esforço criativo pessoal pedido a cada um. Em
Cristo o homem descobre a verdadeira imagem de Deus à qual foi criado. Por
consequência, imitação de Cristo, quer dizer auto-realização plena do ser
humano: isto aprece particularmente nos santos.
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A DEVOTIO NAS OUTRAS ESPIRITUALIDADES
Contemporaneamente à difusão da Devotio também as ordens religiosas
directamente ou indirectamente, sentem a necessidade de renovar a sua vida
religiosa. Na Ordem Dominicana encontramos um retorno à observância: aqui a
perspectiva da espiritualidade dominicana afasta-se da influência da mística
eckhartiana de impressão neoplatónica, favorecendo uma religiosidade
“devota”, de acordo com a humanidade de Cristo.
Na Ordem da Cartuxa, este repensar a espiritualidade deve-se
particularmente a um cartuxo que antes era dominicano, Ludolfo de Saxónia
(+1378), com a sua monumental obra “Vita Christi”, iniciada quando ainda era
dominicano; imprime-se depois da sua morte em 1472; esta não foi pensada
somente para os monges, mas para todos aqueles que queriam aprofundar a
sua vida espiritual. Ludolfo tem a formação teológica de um dominicano, à qual
junta a espiritualidade contemplativa dos Cartuxos.
Os Cartuxos, foram fundados por S. Bruno, que nasceu em Colónia
(1036) e morreu no sul de Itália (Calábia), têm um papel importante no séc. XV
e XVI, porque aparecem como Ordem na qual a vida religiosa se pode
reencontrar na sua plena autenticidade.
Os cartuxos, seguindo a espiritualidade dos monges do deserto (Egipto,
Síria, Palestina) vivem nos ermos remotos: a solidão-deserto, e o silêncio para
viver plenamente na presença de Deus são um princípio fundamental da sua
forma de vida. A vida monástica é para eles uma oração ininterrupta;
contemplar, amar e empenhar-se na imitação de Cristo, a vida do Verbo unido
ao Pai, vida silenciosa do Filho. Contemplar Jesus na verdade do mistério
trinitário, o Cristo silencioso no divino mistério do Pai no amor do Espírito. Mas
também contemplando-a desde quando estava no seio de sua Mãe, na vida
escondida, na sua pregação, paixão, morte e ressurreição e ascensão.
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Em Itália e Espanha a Devotio foi introduzida através da influência de
Barbo (1382-1443), reformador do mosteiro de Justina de Pádua e depois
bispo de Treviso.
Henrique Herp (+1478), de origem holandesa, adere à Devotio Moderna;
vem de Roma, torna-se franciscano e volta à pátria, onde foi guardião do
convento de Malinnes. Nas sua obras, encontra-se uma união de Devotio e
espiritualidade franciscana. Assim, ele revela-se discípulo de S. Boaventura e
ao mesmo tempo deixa entrever uma influência de alguns outros autores como
Ruusbroeck. Do qual tomou a distinção de vida activa (purgativa e apostólica),
vida contemplativa espiritual (via iluminativa), vida contemplativa (via unitiva).
Os seus escritos espirituais foram recolhidos sob o título: “Theologia
mística”, e tiveram uma forte influência nos Países Baixos, na Alemanha, em
França, Itália e Espanha.
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ESPIRITUALIDADE FEMENINA
A espiritualidade feminina não a encontramos somente nos conventos,
mas também na vida civil, onde se encontram mulheres que trabalham, indo
para além dos próprios países, como Sta. Brígida da Suécia, esposa, mãe,
viúva religiosa e escritora; ou como a já mencionada Sta Catarina de Sena. A
história da espiritualidade mostra, na mulher, um tipo de experiência pessoal da
fé, da qual Sta Teresa de Ávila representa, como veremos, uma das mais
importantes.
RITA DE CÁSSIA(1370-1447)
Nasce em Roccaporena (Umbria); segundo a vontade dos pais casa-se
com um jovem da sua terra, conhecido pelo seu carácter colérico, mas que
depois é assassinado. Os seus dois filhos, que se assemelhavam no carácter
ao pai, procuravam ser vedetas. Rita no entanto rezava dizendo:” Senhor,
melhor estes filhos mortos, que manchados por um crime grave”. Os dois
rapazes foram mortos durante uma luta. Afrontada pela dor, Rita amadureceu a
sua vocação à vida religiosa; torna-se monja agostiniana no convento de
Cássia. A sua intensa devoção a Cristo crucificado valeu-lhe um estigma na
testa, que lhe fez uma chaga para sempre, muito dolorosa. Popularmente foi
invocada muito depressa como “santa dos impossíveis”, porque tinha a
capacidade de superar situações humanamente muito complicadas.
JOANA D’ARC (1447-1431)
A sua vocação é qualquer coisa de surpreendente. Ela ouve “vozes” (S.
Miguel, Sta Catarina e Santa Margarida) que lhe disseram para se dirigir ao rei
de França; vestida com um hábito masculino cavalga até Orleans, que livra em
29 de Abril de 1429 do assédio dos Ingleses. Joana é ferida e presa. Depois de
torturas e ameaças é condenada. Antes de morrer repete muitas vezes o
grito:”Jesus”. A sua missão e o seu martírio mostram a autenticidade do seu
dom incondicional a Deus e ao seu povo, que sucessivamente a declarou
padroeira de França. Por isso é a fé que a move e não a política.
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Teve que resolver o dilema entre a sua escolha pessoal e a autoridade
eclesiástica. Preferiu esta.
CATARINA DE GÉNOVA (1447-1510)
Recebeu uma educação humanista e uma boa formação cristã. Aos
dezasseis anos, por conveniências familiares, casa com um homem violento e
dissipador, que depois de um período de matrimónio, decide conceder a
liberdade e Catarina. Ela consagra-se à oração, à penitência e ao serviço dos
necessitados. O marido, Adorno, vencido pela nova vida de Catarina, converte-
se. Depois de tudo isto, os dois cônjuges trabalham pelo grande hospital de
Génova. Morto o marido, ela dedica-se mais intensamente à vida
contemplativa. O sacerdote Caetano Marabutto, fazendo uso das suas
confidências, redige A Vida e mais dois tratados, o Purgatório e o Dialogo. Aqui
se percebe uma espiritualidade de anulamento do amor próprio, que encontra
na experiência do Purgatório a sua expressão mais intensa.
Constitui um conjunto de colaboradores, religiosos, e leigos à volta de
Catarina e nasce assim a “Companhia do Divino Amor”, mais um entre os
“oratórios” que germinam naquele tempo, dos quais o mais conhecido é o de
Filipe de Neri, como adiante veremos.
ÂNGELA MERICI (1474-1540)
Funda em Brécia em 1535 A “Companhia de Santa Úrsula”, composta
por mulheres sem votos, sem hábito, sem vínculos na vida comum. Elas,
vivendo em família e do seu próprio trabalho, sentiam-se chamadas a ser sinal
de “separação das trevas deste mundo”.
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A RELIGIOSIDADE POPULAR, OS PREGADORES
A influência da “Devotio” domina os movimentos espirituais e as práticas
da vida dos religiosos, do clero e dos leigos durante o séc. XV. Um profundo
desconcerto verificava-se naquele tempo por parte de um grande número de
cristãos. As muitas crises que agitam a Europa, como as guerras e as
epidemias, aumentam o medo colectivo. Assim, a morte, representada pelo
cadáver putrefacto e cheio de vermes, a caveira, é um facto recorrente a nível
popular. A consciência da caducidade do ser humano está prevista até aos
nossos dias na liturgia de quarta feira de cinzas. O luto exagerado pela morte
de familiares, a cor negra na liturgia de defuntos. As danças da morte,
sublinhavam a vaidade das distinções sociais e das honras e a igualdade de
todos os mortais. Não era pois uma pia exortação sobre a transitoriedade das
coisas terrenas, mas também uma sátira, uma crítica social.
Ligada à esperança da vida depois da morte, busca-se o modo de se
preparar para isso. Aqui se apresentam as tentações que provavelmente olham
o moribundo, isto é a dúvida sobre a fé, o desespero pelos pecados, o apego
às coisas terrenas, o desespero pelo sofrimento e o orgulho pelas próprias
virtudes. Era necessário estar preparado para este momento assim decisivo
para o ser humano: o seu destino eterno. Com o tema da morte desenvolve-se,
de modo exagerado, a descrição do tormento do inferno, do purgatório, etc.
Olhando para o mistério de Cristo, sublinha-se a sua paixão, em
particular a crucifixão, que não aparecia simplesmente como a expiação da
culpa de Adão, mas também como expressão do amor de Deus pelo homem. A
cruz, assim, é vista como sinal deste amor divino ao qual o homem responde
com a sua compaixão. Para ajudar a esta piedade popular fizeram as suas
aparições a imagem de crucifixos não serenos e reais, mas representando um
homem sofredor, atormentado. Os crentes para receberem mais intensamente
a paixão de Cristo recorriam à flagelação. Começou aqui a utilizar-se a oração
da via sacra, a devoção às cinco chagas, às sete palavras de Cristo na cruz.
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Neste contexto também Maria aparece, preferencialmente, como
“dolorosa” aos pés da cruz, às vezes representada desnuda, sobretudo no
modo de Pietà; também a Assunção de Maria foram verdades familiares na fé
deste tempo. A mãe de Jesus é assim aquela que intercede junto de Seu filho
pela humanidade, aquela para a qual os crentes se voltam para obter graças e
milagres, como mostram os muitos santuários dedicados a Nossa Senhora.
No que diz respeito aos santos, estes eram vistos como figuras notáveis,
dos quais se conhecia particularmente o seu martírio e os seus estupendos
milagres; eram vestidos como o povo e podiam encontrar-se entre os
peregrinos. Cada figura de santo tinha uma imagem bem delineada, com a sua
individualidade. E por isso tendo em conta as suas particularidade as pessoas
invocavam mais um santo que outro.
Uma menção particular merecem os santos pregadores: A pregação era
desenvolvida sobretudo pelos mendicantes, franciscanos e dominicanos, que
andavam de terra em terra, sempre vivendo em grande pobreza. Este tipo de
pregação exigia uma mudança no modo de viver. Na prática apelava a um
exame de consciência a cada indivíduo e à própria sociedade. Assim os
pregadores assumiram um papel de reformadores sociais e transformaram-se
também num grande movimento de reconciliação. Entre os pregadores deste
tempo deve mencionar-se, Vicennzo Ferrer de Valência, Espanha (+ 1414),
teólogo dominicano. No centro da sua pregação encontra-se a figura de Cristo,
expressa particularmente no seu nome (IHS) ; e também o anticristo, do qual
se esperava a vinda eminente, um tom apocalíptico que fez com que muitas
pessoas se voltassem, se aproximassem seriamente à prática da vida cristã.
Também o franciscano S. Bernardino de Sena (1380-1444) emerge
como pregador. Depois de ter sido professor durante um breve período,
percorre toda a Itália setentrional e central. Enquanto Vicente insistia na vinda
do anticristo, Bernardino reorienta a sua pregação para Cristo, deixando o
apocalipse em favor do evangelho, centra-se sobre a devoção ao nome de
Jesus.
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JOÃO CAPRISTANO (ÁQUILA 1368-1456)
Frade menor, pregador ambulante, dedicou particular atenção à Odem
Terceira. Ele tinha o laicado no coração. Os seus sermões não procuravam
tanto a moralização teórica, mas mais apresentar a vida dos santos como
exemplos de vida cristã. Os seus termos preferidos eram a teologia de Cristo
Rei e a devoção ao nome de Jesus (IHS). É de sublinhar o movimento de
reforma laical, do qual nasceram as confrarias e os institutos laicais.
Jesus ocupa-se desde o início ao fim da realidade pobre e sofredora da
humanidade. Isso passa a ser um empenho total, fazendo do necessitado a
imagem do próprio Cristo. Esta mensagem tem sido levada muito em conta e
muito a sério por muitos cristãos de todos os tempos. Vejamos o empenho e o
discurso do Papa Francisco! Neste período a pobreza era uma chaga, para
tentar resolver o problema, criaram-se associações, confrarias, que
desenvolviam várias formas de solidariedade: no caso dos cegos, por exemplo,
havia aqueles que os acompanhavam, a mútua assistência no caso de doença
e também os locais onde se davam esmolas.
Os grandes pregadores de que falámos não cessavam de chamar à
atenção dos cristãos para o serviço dos pobres. Bernardino de Sena dizia: “ Tu
não sentes o grito dos pobres! E sabes porquê? Porque para ti não faz muito
frio: tu tens a barriga cheia, bebes bem, comes bem... corpo bem composto e
alma bem consolada!”
Savoranola dizia: “vós os ricos... ajudai os pobres!”
A Instituição que manifesta mais preocupação pelos necessitados é o
Hospital. Os hospitais fundados pelos cristãos eram lugares de terapia, mas
também de acolhimento. A expressão francesa para hospital é “Hotel”.
Hospitais especializados eram as leprosarias, para as pestes e epidemias,
refúgios para as prostitutas. Tudo isto mostra bem como a fé cristã criava
sempre Instituições novas, organizações humanitárias segundo as
necessidades dos necessitados e tinha para eles a respectiva espiritualidade.
Depois virão as escolas, etc.
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JERÓNIMO SAVONAROLA (1452-1498) E O HUMANISMO
RENASCENTISTA
A sua vida dividiu e divide a opinião geral das pessoas. Para alguns é
um santo, para outros um impostor, um exaltado ou até um iludido reformador.
Nasceu em Ferrara em 1452, entrou na Ordem Dominicana em Bolonha (1475)
e uma vez ordenado sacerdote, dedica-se à pregação com especial interesse
por temas apocalípticos e proféticos. Em 1492 num sermão diz que a Igreja
está construída sobre um monte, mas pouco a pouco de está a desmoronar;
importava reconstruí-la a pulso, como a Igreja dos apóstolos. Incitou à reforma
dos costumes, ao fervor, à extirpação dos vícios (vaidade, jogo, luxo, usura,
imoralidade) e à rebelião social contra as “tiranias” dos senhores de Florença.
Na sua pregação criticava os religiosos, os clérigos, os bispos e o Papa.
Fezterríveis investidas contra Roma.
Estando num ambiente renascentista, que tanto tinha reprimido o
paganismo greco-romano sobretudo no âmbito moral, Savonarola não se quer
apegar ao conformismo da mentalidade do Renascimento, como faziam tantos
cristãos, começando pelos Papas, cardeais bispos, que deixavam as
exigências do Evangelho, vivendo ao estilo dos pagãos. O seu programa
ascético era muito rigoroso, mas não se discutia. Em cada caso importa dizer
que a mensagem da sua vida cristã era essencialmente sobre a “imitação de
Cristo” e por isso não permite uma conformação ao ambiente circunstante sem
um discernimento, permanece válido, para não confundir “actualização” ou
“inculturação” com “secularização”. Entre os seus escritos devemos mencionar
“O triunfo da Cruz”.
O caso Savonarola, mostra que a relação da fé cristã com a nova visão
da vida, que o Renascimento comportava, não era fácil. Não se pode dar uma
definição que o caracterize completamente, mas podemos afirmar que no
Renascimento se encontra uma concepção da vida, em cujo centro se constrói
a partir do homem e não tanto de Deus e da religião, como na Idade Média.
O homem com a sua força e a sua racionalidade é capaz de escolher o
seu destino e a sua postura no mundo (embora haja o perigo de exagerar).
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Mas estava neste antropocentrismos renascentista também uma redescoberta
do protagonismo que o homem tem na concepção cristã: à sua volta roda toda
a reacção porque ele foi feito à imagem e semelhança de Deus. A partir de
Itália o humanismo renascentista difundiu-se por toda a Europa.
NICOLAU CUSANO (1401-1464)
Nicolau, nasceu perto de Treviri na Alemanha, e teve uma primeira
educação na Holanda junto dos Irmãos da Vida Comum ( Devotio); estuda na
universidade de Heidelberg e Pádua; ordena-se padre, depois bispo e é feito
cardeal; é uma das mais importantes personalidades intelectuais do seu
século. Trabalha pela reforma religiosa e formula, retomando temas típicos da
mística medieval, a doutrina da “douta ignorância”; os grandes fenómenos
naturais fogem à natureza humana e a maior razão foge-nos porque Deus é
infinito. É típico dos ignorantes torrarem-se Sábios.
ERASMO (1466-1536) E O PROTESTANTISMO LUTERANO
Formado junto dos “irmãos de vida comum” é ordenado sacerdote. Era
entusiasta dos ideais do humanismo renascentista e sente grande aversão
pelas coisas que aos seus olhos de humanista eram velhas. As peregrinações,
o culto dos santos e as suas relíquias. Em parte tinha razão quando afirmava:”
nós beijamos os sapatos dos santos e esquecemos os seus escritos que são
as suas mais santas relíquias”.
O pensamento de Erasmo é uma mistura de clássico (Platão, Plutarco,
Cícero) e de fé bíblica. Por isso, ainda que tenha sido precedido de todo um
século de humanismo, representa um elemento novo. Todo o Renascimento
tinha o desejo de uma vida piedosa, alegre, idílica, que procura ideais de
unidade, sinceridade, verdade, serenidade, e harmonia. Erasmo amava o “dizer
bem”, a expressão literária e o bem estar no sentido material e moral, com
grande vontade de liberdade de não querer tomar posição a favor ou contra,
mas de ser independente. Mas, liberdade significa também capacidade de
tomar decisões importantes: Erasmo procura a liberdade, “de” e esquece a
liberdade “para”.
Por outro lado, segundo Erasmo, a vida cristã encontra-se
sobrecarregada de Instituições humanas e oprimida pelo poder das Ordens
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Religiosas, e por isso a forma do Evangelho vai-se perdendo. Aqui
encontramos uma nova expressão programática de Erasmo: voltar às fontes
bíblicas da fé: “ eu queria que o Evangelho e as cartas de S. Paulo fossem
lidas pela gente simples”. Aquilo que lhe repugna é que se queira estudar a
Escritura a partir do texto latino, da Vulgata. Nele encontramos uma forte
tensão: por um lado, ele aspira a uma fé cristã sentida, simples e íntima; por
outro lado encontramos a sua irresistível necessidade estética, que o levava a
um estilo de vida segundo a concepção greco-romana do humanismo.
Com o seu livro “ O Manual do perfeito militar cristão” quer mostrar que a
fé não se mede somente a partir do hábito ou da Congregação a que se
pertence; trata-se de apresentar um ensinamento adaptado às pessoas que se
propõem conduzir na vida quotidiana uma autêntica vida de fé. O cristianismo,
vê-se sob o aspecto da “luta” no sentido Paulino do “miles Christi”. Mais, o
cristianismo empenha-se em viver o seguimento de Cristo, apesar dos ataques
das tentações e dos vícios, mas com a ajuda da graça não será vencido
totalmente; poderá perder algumas batalhas mas não a guerra. Pois
apresentam-se as duas “armas” essenciais nesta luta: a oração e a meditação
da Escritura. Nos outros capítulos sublinha-se a importância de formar o
homem interior em sentido Paulino ( o homem segundo o Espírito, Gál. 5, 16-
26), mas também em sentido socrático (conhece-te a ti mesmo); dá alguns
conselhos práticos para se não encontrar diante do pecado como a avareza, a
impureza, o desejo da vaidade.
No que diz respeito à vida monástica, Erasmo permanece sempre critico.
Ele recorda que os monges não têm o exclusivo da santidade. Traz assim um
juízo critico.
Esquece no entanto o valor objectivo da vida consagrada, só porque os
monges ou monjas não vivem segundo as exigências da vida religiosa ou a
vivem somente segundo um modo formalístico, não quer dizer que a vida
religiosa como tal não seja um valor fundamental. A critica à vida religiosa
contrasta com o entusiasmo com o qual Erasmo fala do leigo e da vida
matrimonial. Uma contraposição entre as duas vocações é hoje, ao menos
teologicamente, superada a partir do momento em que se fala da chamada
universal à santidade.
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A relação com Lutero(1483-1546) ajuda-nos a conhecer melhor a sua
postura doutrinal e espiritual. Erasmo sentia desde o início uma certa simpatia
por Lutero que em Outubro de 1517 afixa as 95 teses contra as indulgências,
transformadas neste período num grande negócio financeiro. Mas a reacção de
Lutero não é somente contra os abusos relativos às indulgências, mas contra
as indulgências como tal. Como chegou Lutero a isto? Educado também nos
“Irmãos de vida comum” tinha levado muito a sério a vida monástica, mas não
encontrava a perfeição que procurava. Isto levou-o a uma profunda crise
espiritual e existencial. Assim, reflectindo sobre a sua crise, ele mesmo diz:
“Estou a martirizar-me; que coisa procuro senão Deus? Ele sabe como
observei a minha regra e que vida tenho conduzido”. Mas em tudo isto, ele não
encontrava a paz, nem com Deus nem com a sua consciência. Por outro lado a
teologia Ocamista, que tinha estudado, longe de o ajudar agravava o seu
problema, pois essa pedia-lhe uma predisposição perfeita para receber a
graça, e é precisamente aqui que ele se sentia impotente. A crise de Lutero
resolve-se por volta de 1513 com uma experiência particular, “experiência da
torre”, meditando Rom. 1,17.
Assim a justiça divina não é uma justiça formal, distributiva como a
humana, mas aquela pela qual Deus, na sua misericórdia, justifica mediante a
fé, sem as nossas obras. Para Lutero, esta era a revelação de Deus
misericordioso que ele procurava, manifestado no amor redentor de Cristo.
Lutero tem razão enquanto sublinha o primado da graça na vida cristã para lá
de cada obra(indulgências, penitências, e.t.c.), mas falha quando exclui o valor
das obras humanas como resposta à graça de Deus. Não obstante de Erasmo
ter querido permanecer espectador diante da grande questão luterana, toma
posição. Fixou-se no ponto sobre o qual existia uma clara disparidade, isto é
sobre o conceito de liberdade. Erasmo escreveu o livro “ De librero arbítrio”,
defendendo o valor da liberdade humana, por outras palavras das obras, para
juntar à salvação eterna.
Lutero respondia de modo violento com a obra “De servo arbítrio”,
declarando que, depois do pecado original, a vontade humana é escrava
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(serva) do mal e somente pode ser libertada com a graça da redenção de
Cristo. O pecado original, responderia Erasmo, enfraquece mas não anula
totalmente a liberdade humana para fazer o bem.
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TOMÁS MORO (1478-1535)
Em amigável relação com Erasmo, Tomás Moro apresenta uma visão
mais autêntica do Humanismo em sentido cristão. Eleito deputado do
parlamento inglês é nomeado chanceler do reino (1529). Pela sua recusa de
reconhecer a supremacia religiosa do Rei (Henrique VIII) foi condenado à pena
de morte. A Igreja católica declarou-o santo e patrono dos políticos. O seu
conceito de Homem leva-o a reflectir também sobre a ordem social em sentido
cristão, analisando qual poderia ser a óptima constituição social que pode
efectivamente garantir a plena liberdade do Homem. Isto desenvolveu-o no seu
conhecido escrito “Utopia”(1516). Aqui ele faz uma critica à sociedade do seu
tempo, partindo da sociedade inglesa.
Por exemplo, no que diz respeito à delinquência, diz que as punições
não servem muito porque o furto é provocado por uma profunda injustiça que
consente ao rico explorar, e desfrutar do pobre. Segundo a “Utopia”, todos
devem trabalhar, mas não mais de seis horas por dia: três antes do meio dia e
três depois, o resto deve ser tempo livre. A vida das pessoas desenvolve-se
tanto quanto é possível, num ambiente comunitário, e deve ser dirigida para
encontrar um harmónico equilíbrio entre prazer do corpo e do espírito.
A religião na “Utopia” é fundada sobre a crença de uma divindade
inconcebível, eterna, acima de cada sociedade, e cada indivíduo é livre de
adorar esta divindade com o culto que preferir. Estes termos, que hoje são de
todo actuais, mostram a modernidade do humanismo cristão, que o Vaticano II
revelou: a liberdade de consciência, o diálogo inter religioso, a igualdade
fundamental de todas as pessoas, a justiça social,, e assim, construir a
“sociedade do amor”, como antecipação e participação do Reino escatológico,
de verdade, de justiça, amor e paz. Em resumo, na “Utopia” Tomás Moro
apresenta-nos a vida do céu como um modelo para a vida sobre a terra.
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II – De INÁCIO DE LOYOLA A CARLOS BORROMEU
Em 1515 o humanismo renascentista e a Devotio Moderna encontram-se
num movimento chamado “Evangelismo” que se propõe a reforma da vida
cristã através do estudo e do retorno às fontes: o Evangelho e Paulo. O seu
representante mais importante é Le Févre d’Etapes (1455-1536). O Concílio
Latranense V (1512-1517) reforçou a necessidade da reforma da vida cristã, e
se não teve resultados avultados foi porque os seus decretos ficaram letra
morta. Propostas audazes, que pouco depois Lutero colocará em prática, tais
como a de traduzir a Bíblia para as línguas modernas, a reforma do Código de
Direito Canónico, a formação do clero. Pouco depois do seu encerramento, um
leigo de profunda cultura humanista, Pico de Mirandola(1469-1533) faz ouvir a
sua voz, revelando, diante da assembleia conciliar, a exigência de um clero
bem formado, de vida sóbria, atento à cura pastoral; assim era mais fácil estar
atento à luxúria que grassava, à ambição e ao luxo. Isto, dizia o Papa, vale
mais do que qualquer cruzada e exortava ao empenho pessoal nesta tarefa.
Tudo isto permanecerá ineficaz até ao Concílio de Trento (1545). O Papa
Adriano VI escreveu em 1522:”Todos nós prelados e eclesiásticos desviámo-
nos da estrada do justo e são raros os que procedem bem”.
Em Espanha, por seu lado, crescia e intensificava-se o esforço por uma
vida cristã mais autêntica. O Cardeal Francisco Jimenez de Cisneros,(1436-
1515), animado e apoiado pela Rainha Isabel de Castela, reforçou uma reforma
estrutural e espiritual da Igreja em Espanha: reforma do episcopado, do clero
secular e regular. Tal reforma começava com coisas muito concretas, entre as
quais a celebração anual do sínodo diocesano, a obrigação de cada sacerdote
em ter um confessor; cada pároco devia explicar a doutrina cristã ao menos
uma vez por semana.
Ordenar e proibir não chegam para uma reforma eficaz, era necessário
formar clérigos e leigos de modo a melhorar e para aprofundar as questões do
momento.
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Assim, Cisneros projectou e organizou diversas casas de formação; a
intervenção cultural mais importante foi a fundação da Universidade de Alcalà
(perto de Madrid). Fez vir óptimos professores humanistas (Erasmo) e fez
publicar a “Bíblia Poliglota Complutensis”: uma obra monumental, que mostra
bem como o desejo de voltar às fontes da Revelação não pertencia só à
vontade de Lutero ou de Erasmo. Voltar à origem da fé cristã era uma vontade
muito cara a todos aqueles que procuravam reformas, ainda que de formas e
maneiras diferentes.
À Universidade de Salamanca, Francisco de Vitória, dominicano, tentou
dar uma resposta teológica ao problema da descoberta da América, levando a
sério os protestos dos missionários, como Las Casas, contra a brutalidade da
conquista. Na Abadia Beneditina de Monssserat (Barcelona) o Abade, Garcia
de Cisneros (+1510) introduzirá a Devotio. Este clima de renovação originou
uma “primavera” religiosa, teológica, literária e artística, que faz do séc. XVI
uma época de grande esplendor espiritual e cultural em Espanha, chamado
“Século de Ouro”. De particular importância é o complexo movimento dos
“Alumbrados”, nascido nos anos 1507-1512) com grande vontade de perfeição,
aberto à doutrina da “Devotio moderna” e ao “cristianismo interior” de Erasmo,
mas que progressivamente cai em alguns excessos de misticismo iluminístico.
Detenhamo-nos agora em algumas figuras espirituais relevantes deste período.
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JOÃO D´ÁVILA
S. João d’Ávila estuda em Alcalà e Salamanca e torna-se sacerdote.
Depois da morte dos seus pais, vende as suas ricas posses para ir como
missionário para a América, mas por diversas causas é impedido de realizar o
seu desejo. O arcebispo de Sevilha pede-lhe para trabalhar na diocese, na
reforma da vida cristã e particularmente na reforma do clero. O seu modelo de
vida espiritual e apostólica era S. Paulo. S. João organiza a catequese para as
crianças e adultos, cria missões populares e a ajuda aos enfermos.
Foi acusado de heresia e foi processado pela Inquisição e metido na
cadeia (1531-1533), onde escreveu a sua obra principal “Audi Figlia”. Com
outros sacerdotes forma um grupo de oração, de estudo e de ascese, que dá
origem à chamada “Escola sacerdotal S. João de Ávila”. Renunciou a dois
episcopados e ao cardinalato. O seu grande magistério espiritual e teológico é
chamado “Mestre d´Ávila”. Relacionou-se com Sto Inácio e S. Francisco de
Bórgia e com Sta Teresa e foi canonizado por Paulo VI em 31 de Maio de
1970.
Os temas fundamentais da sua obra são:
1) O mistério de Cristo: Cristo é a Palavra de Deus, o esposo, que dá
significado à perfeição cristã;
2) A Igreja como esposa de Cristo;
3) A vida em Cristo é marcada pela fé, esperança e caridade. Na “Audi
Figlia” utiliza o colóquio entre Cristo e o crente para descrever como se
vive a união com Cristo. Para começar o cristão deve tornar-se
consciente da sua situação; assim, o exercício da própria consciência
como ponto de partida. Para este fim é necessário fazer silêncio, exterior
e interior.
A espiritualidade sacerdotal é centrada, segundo S. João de Ávila, na pregação
e na Eucaristia, no orientar os crentes para o seguimento de Cristo, com uma
vida de oração e de penitência; não procurando cargos ou lugares importantes,
mas revelando o sentir com a Igreja, a direcção espiritual, por outras palavras:
a conformação a Cristo esposo e pastor dá a razão de ser ao ministério
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sacerdotal. Assim aparece uma clara semelhança com a Exortação Apostólica
pós sinodal “Pastores Dabo Vovis” (1992).
INÁCIO DE LOYOLA (1491-1556)
A opinião geral é a de que o santo de Loyola era soldado de profissão.
Mas isto não é bem assim. A sua formação antes de se ter convertido era antes
de mais administrativa como cortesão e cavaleiro. O cavaleiro, sobretudo no
Renascimento, é muito diferente de um militar sobretudo no sentido actual.
Próprio do ambiente cortesão renascentista, no qual o jovem Inácio cresceu era
normal um forte desejo que se vivia por um estilo de vida alegre e livre. A auto
afirmação do eu, o orgulho desmesurado a vontade de fama e de honras, eram
valores fundamentais daquela sociedade renascentista.
A este ambiente faz referencia a sua biografia quando ele mesmo
afirma:” Até aos 26 anos fui um homem do mundo, absorvido pela vaidade.
Amava sobretudo exercitar-me no uso das armas, atraído por uma imensa
vontade de conquistar honras vãs”.
A ferida de Pamplona, isto é o desabar de projectos importantes e o
facto de ter estado próximo da morte levou-o a fazer uma longa reflexão. A
leitura de livros espirituais (A vida de Cristo e a vida dos santos) leva-o a mudar
de vida:” E se também eu fizesse o que fizeram Francisco e Domingos”?
Inácio encontra-se numa situação de escolha, na qual a sua liberdade de
decisão é posta à prova. Sente-se interiormente dividido, inseguro. Contudo
havia uma diferença: pensando nas coisas do mundo isso dava-lhe muito
prazer, mas quando por cansaço as abandonava sentia-se desiludido e vazio;
enquanto pensava em viver como os santos fazendo penitências permanecia
alegre. O ideal de perfeição segundo a vida de Cristo e dos santos colocava-o
em confronto com a sua vida antiga.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
Um profundo sentido de culpa e de pecado apareciam na sua
consciência. Depois de tomar consciência da infinita misericórdia de Deus
encontra a iluminação mística, e torna-se um conhecedor experimentado da
vida espiritual. (Ter em conta sobretudo os “Exercícios Espirituais”- um mês...)
Mais à frente se houver tempo falaremos do esquema completo das quatro
semanas!
Em resumo, a espiritualidade inaciana é trinitária, porque se insere na
história da salvação; é cristocêntrica porque leva o crente ao seguimento de
Cristo; é pneumática porque se realiza como discernimento no Espírito e
segundo o Espírito; é eclesial porque se sente em comunhão particularmente
com o vigário de Cristo e ao seu serviço (quarto voto dos jesuítas); é apostólica
porque se santifica santificando os outros.
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TERESA DE JESUS (1515-1582)
Entre as diversas formas de espiritualidade feminina, a de Santa Teresa
teve um relevo particular. Seguindo os seus escritos auto-biográficos, em
particular o “Livro da Vida”, constata-se que na sua infância teve uma formação
cristã recebida dos seus pais. A jovem Teresa, lia a vida dos santos,
provavelmente o “Flos Santorum”. Aos oito anos, fervorosa a partir dos
exemplos heróicos de santidade, vai juntamente com o seu irmão para a “terra
dos mouros” para se tornar mártir. Depois da morte da mãe,(1528), Teresa
confia-se à Virgem da Caridade. Nos anos seguintes lê apaixonadamente livros
sobre romances cavaleirescos, alimenta amizades precoces com seus primos e
dedica-se a vida pouco recomendada.
A vaidade e o demonstrar publicamente a sua feminilidade que espicaça
neste tempo, impedem-na de levar uma vida cristã sadia, para grande
desagrado do pai, que para a proteger a leva ao mosteiro das Agostinianas em
Ávila. Ali conhece uma monja que a ajuda a descobrir a profundidade do
Evangelho. Durante todo este tempo amadurece a sua vocação à vida
religiosa.
Em Novembro de 1535 foge de casa para se refugiar no mosteiro
carmelita da Encarnação em Ávila, onde apesar de tudo é admitida como
postulante. Em 3 de Novembro de 1537 faz a sua profissão religiosa, mas
depressa teve que deixar o convento por causa duma doença; é conduzida a
casa de um tio. Neste período lê o “terceiro Abecedário” de Francisco Osuna,
um livro que a ajuda muito na sua meditação. Em Julho deste mesmo ano, e
porque as anteriores doenças são mal curadas, Teresa é conduzida,
gravemente doente, a casa de seu pai. Permanece três dias em estado de
coma, a ponto de a darem como morta. Volta quase curada ao convento da
Encarnação.
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Não obstante a sua precária saúde, durante quase três anos, confia-se
em tudo a S. José, ao qual atribui a sua cura. Em 1543 morre o pai. De 1544-
54 Teresa sofre uma penosa crise espiritual. Debate-se entre as suas amigas,
os relacionamentos humanos e as exigências da vida consagrada. Durante
este período sente-se só, árida, dividida, infiel ao Senhor.
Na Quaresma de 1544 sente um chamamento especial diante da
estátua do “Hecce Homo”: cai de joelhos chorando e suplica ao Senhor que a
ajude a não o ofender mais.
Em seguida lê as “Confissões” de Sto. Agostinho e que lhe responderam
a muitas das suas questões. No fim deste período começa a experimentar
numerosas graças místicas. Teresa cola em dúvida a origem destas
experiências, que culminam na visão de Cristo ressuscitado. Tranquilizada pelo
franciscano P. D’Alcântara no que diz respeito à visão do inferno e encorajada
por algumas irmãs da Encarnação, decide fundar um novo mosteiro com base
na oração e no silêncio; um mosteiro pobre, pequeno a que porá o nome de S.
José. Em 1567 encontra João da Cruz, que ganha para a reforma do Carmelo,
ainda que ele pensasse entrar na Cartuxa. Em Novembro de 1568 Teresa de
visita a Duruelo, fica contente pelo que fez João da Cruz. Em 14 de Maio de
1569 santa Teresa funda um outro mosteiro em Toledo.
O P. Geral pede-lhe para acabar a fundação e para se retirar para o
mosteiro de Toledo; isto também por causa de uma acusação junto do tribunal
da Inquisição. Na sua defesa, ou para sua defesa escreve a quarta “relação”
onde se vê a sua fidelidade à Igreja. No meio destas peripécias, encontra
pessoas que são para ela de grande conforto como J. Grazian, amigo fiel de
toda a sua vida. Em 1573, por ordem do P. Risalda, começa a escrever as
“Fundações”. Leva a termo a segunda redacção do comentário ao “Cântico dos
Cânticos”.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
Por volta do fim de 1575 no capítulo geral carmelita é preso S. João da
Cruz e seus novos companheiros. Teresa é forçada a retirar-se para um
convento de Castela. Em Junho de 1576 Teresa chega a Toledo onde redige o
“Modo de visitar os conventos dos carmelitas descalços” e inicia o “Castelo
interior”, obra prima dos seus escritos espirituaias. Entretanto continuam as
perseguições contra a reforma Teresiana. S. João da Cruz foge da cadeia de
Toledo. No mesmo ano de 1578 o P. Grazian é preso. Graças às mediações do
rei de Espanha (Filipe II) obtém-se a aprovação pontifícia.
A noite de 20 de Setembro, depois de diversas viagens extenuantes,
Teresa chega fatigada a Alba de Tormes (entre Ávila e Salamanca). Em 4 de
Outubro de 2582 morre dizendo:”Enfim, Senhor, morro filha da Igreja”.
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JOÃO DA CRUZ (1542-1591)
S. João da Cruz nasceu em Fontiveros, perto de Ávila. Cedo fica órfão
de pai e vive na miséria com a mãe e os seus três irmãos; desde muito jovem
que se interessa pelos doentes, trabalhando num hospital ate aos 21 anos em
Medina del campo, onde frequenta também o colégio dos jesuítas, estudando
os clássicos latinos. Entra depois no noviciado carmelita desta cidade. Depois
da profissão e dos votos (1564), dirige-se à Universidade de Salamanca, onde
estuda filosofia e teologia. Aqui ensinava o grande biblista e literato Fr. Luís de
Leon, que era Agostiniano.
O desejo de perfeição evangélica leva-o a entrar na Cartuxa. Um
encontro casual com Teresa (1567), que também procurava a reforma do
Carmelo, fá-lo descobrir a direcção definitiva da sua vida, empenhando-se na
reforma dos Carmelitas. Isto levá-lo-á a não poucas tensões e conflitos. A
actividade exterior de João na reforma do carmelo não esteve no primeiro
plano, mas a interna essa sim foi de primeiríssimo plano. Ele foi o plasmador e
o moderador do espírito do carmelo reformado, sobretudo através da direcção
espiritual, que se desenvolve principalmente entre os religiosos e as religiosas
carmelitas, mas estende-se também aos sacerdotes e leigos.
A parte melhor da sua obra é escrita em poesia, obra prima da literatura
lírica em espanhol. Só depois de muitas insistências decide explicar alguns
versos. A exposição da sua experiência e doutrina torna-se mais clara na “
Subida ao monte Carmelo”, que com a “Noite escura” constitui uma doutrina
bem articulada. Muitos factos diz João no Prólogo da Subida, acontecem na
subida àqueles que a percorrem: alegrias, penas, desejos, dores que possa,
proceder do espírito perfeito e também do imperfeito. João quer ajudar o
religioso para que “possa conhecer o caminho que segue e aquele que lhe
convém escolher, se tem como intenção chegar ao cimo do monte”.
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O principiante começa um caminho de purificação de todos os aspectos
sensitivos e busca as coisas exteriores, Chamada “noite dos sentidos”, activa e
passiva. “noite” designa o caminho que se deve percorrer para chegar à
libertação total da união com Deus.
Este caminho é feito sobretudo de privações, porque, “como a noite não
é outra coisa que a privação da luz e, por consequência, leva a que
conheçamos todos os objectos que mediante a luz se vêem, o mesmo se pode
dizer da mortificação dos apetites, noite para a alma: quando esta se priva do
gosto e do apetite em cada situação, permanece na escuridão e privado de
tudo”.
O apetite que olha para o seu objecto só para o engolir, para o devorar;
um desejo que fecha o homem em si mesmo, confinando-o à sua própria
esfera, fazendo-o escravo de si mesmo. Para subir ao “Monte da Perfeição”,
para se dar ao eterno convencido do amor divino, para juntar ao “Tudo” da
liberdade infinita que é Deus, é necessário ainda descer à “noite do espírito”,
activa e passiva, purificando a memoria, o intelecto e a vontade; a vida é
sempre um “nada”. Ou seja e em súmula: para chegar à purificação é preciso
passar pela “noite”, pela experiência da Kenosis a fim de se chegar à Luz, à
Plenitude; ser “Nada” para ser “Tudo”.
O objectivo é sempre: a união plena com deus que tem como
consequência a paz e a tranquilidade, um conhecimento mais profundo do
homem e de Deus.
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FILIPE DE NERI [E O ORATÓRIO]. (1515-1595)
Nasce em Florença numa família modesta embora da nobreza
provincial. Rapaz alegre, simpático, pacífico nos seus modos, dificilmente se
enraivecia. Pela bondade da sua natureza era chamado de “Filipe Bom”. A
estas qualidades de temperamento juntava uma espontânea religiosidade. Aos
18 anos Filipe deixa Florença e transfere-se para junto de um tio paterno, muito
rico, que habita junto a Montecassino. Aqui conhece os monges beneditinos: a
sua vida é de oração e de silêncio. Nele começam a surgir também os desejos
próprios da idade juvenil. Por um lado a vida monacal e por outro a vida que
tinha o seu tio como rico.
Durante esta estadia de alguns meses, outro lugar que teve muita
importância para as suas escolhas futuras, foi o monte chamado de “Montanha
parada” esse lugar beneditino, com o santuário da Trindade, onde Filipe se
recolhia somente para rezar e meditar sobre a paixão e o crucifixo.
Um dia ele sente-se como que iluminado e comovido e decide voltar as
costas à riqueza e decide ir a Roma e ali encontrar uma resposta para a sua
inquietação vocacional. Hospedado numa família Florentina, trabalha como
preceptor dos seus filhos e ao mesmo tempo frequenta alguns cursos de
filosofia e teologia na Universidade de Roma.
Mais de que se dedicar à vida intelectual, ele queria ajudar o próximo.
Encontrou-se com Inácio, Francisco Xavier e outros jesuítas que em 1538
chegaram a Roma para se colocarem ao serviço da Igreja. As sua relações
mais estáveis foram com o Oratório ou Companhia do Divino Amor.
Sob este nome existiam várias associações e confrarias que em
diversas cidades de Itália tinham uma singular importância no movimento de
espiritualidade e de actividade caritativa até ao fim do séc. XV e início do XVI.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
O mais conhecido de entre todos é o romano S. Jerónimo da caridade.
Este nasce por volta de 1515 com sede na igreja de Santa Doroteia, de qual
um dos seus principais membros senão mesmo fundador, foi S. Caetano, que
depois fundará a ordem dos clérigos regulares, os Teatinos. O Oratório de
Roma contou entre os seus membros os principais promotores da reforma da
Cúria Pontifícia, mais tarde eleito Papa com o nome de Paulo IV.
Estas associações tinham como ideal a santificação, favorecendo uma
sólida piedade e um exercício prático do amor para com Deus e para com o
próximo, em particular nos hospitais. Neste ambiente de oração e de serviço
Filipe vive alguns anos. No Pentecostes de 1544, nas catacumbas de S.
Sebastião, teve uma profunda experiência mística. Em Maio de 1551 foi
ordenado sacerdote e foi habitar para o Oratório de S. Jerónimo da caridade,
onde já moravam alguns sacerdotes. “S. Jerónimo” converte-se num centro
comunitário para os sacerdotes seculares. Rezava-se e celebrava-se a missa e
faziam-se obras de caridade, tudo isto livremente sem uma regra determinada.
Este centro comunitário torna-se a base para a “Congregação do Oratório”.
Filipe amava condividir a sua vida com os outros. Não lhe agradava que os
padres vivessem sozinhos e por isso começa a reagrupar e a reunir, a gerar os
fundamentos de uma vida em comum, familiar, que pudesse servir à perfeição
humana e cristã.
Participavam na vida destes grupos sacerdotais também pessoas leigas
e de diversos estratos sociais. O Oratório de S. Filipe apresenta-se como uma
unidade livre de vários cristãos, chamados a várias funções em horas
determinadas por práticas religiosas em comum e pela escuta da Palavra de
Deus, tudo de modo muito familiar. Na espiritualidade do Oratório mostrou-se
patente a personalidade viva de Filipe e isto levou a que se tornasse numa das
personalidades mais populares de Roma.
Pela sua originalidade e espontaneidade e pelo sigilo da autenticidade
cristã, o Oratório Filipino torna-se um maravilhoso instrumento de reforma da
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
vida cristã; isto parecia renovar o espírito da primeira comunidade cristã, onde
todos eram um só coração e uma só alma.
Era uma sua convicção que a vida espiritual, considerada
particularmente como algo de aborrecido, se tornasse familiar e doméstica em
cada pessoa, que se tornasse grata e fácil em casa de cada um, clérigo ou
leigo, prelado, príncipe, pai de família ou consagrado, artesão ou erudito, de
modo que todos eram capazes de a viver.
Os escritos de Filipe (cartas, poesias, fragmentos) são poucos e quase
todos redigidos por outros, tendo dele praticamente só mesmo a sua
assinatura. De destacar, a sua profunda devoção a Maria, invocando-a com o
título de “Mater Gratiae”.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
CARLOS BORROMEU (1538-1584) E A REFORMA
TRIDENTINA
Entre aqueles que durante a segunda metade do Séc. XVI, se
empenham na acção de reforma apresentada pelo Concílio de Trento (1545-
1563), encontra-se em primeiro lugar S. Carlos Borromeu. Nascido em Milão
numa família de tradição pontifícia como eram os Medici, foi destinado à vida
eclesiástica; assim, aos sete anos recebeu a tonsura eclesial. Estuda em
Pádua. O seu tio foi eleito Papa, Pio IV, e fez cardeal o seu sobrinho Carlos
com apenas 22 anos. Trabalhou muito perto do seu tio, para colocar em prática
as reformas do Concílio de Trento. Sendo ainda diácono quer ser ordenado
presbítero em Julho de 1563. Para a ordenação faz os exercícios espirituais de
Sto Inácio, que o influenciarão durante toda a sua vida espiritual. Em Dezembro
do mesmo ano foi consagrado arcebispo de Milão com 25 anos.
Durante todo o seu episcopado, Carlos Borromeu foi um grande
pregador. Geralmente pregava todos os domingos pelo menos uma vez. Por
dia tinha discursos três ou quatro vezes diferentes para abordar vários temas.
Preparava-se sempre muito bem. É importante salientar como ele fazia as
visitas pastorais às paroquias; a sua chegada era sempre precedida por alguns
dias em que primeiro um grupo de sacerdotes pregavam e confessavam. As
visitas pastorais eram minuciosas a ponto de terem relatórios detalhados, e de
decretos para que estes não ficassem letra morta! Para isso mandava
inspectores para averiguar do seu cumprimento. Assim a maior diocese do
mundo foi sendo aos poucos organizada segundo as reformas saídas do
Concílio de Trento.
O Seminário, fundado durante o seu episcopado, foi confiado a um corpo
de sacerdotes diocesanos (com este fim fundou os “Oblatos de Sto. Ambrósio)
com o objectivo de dar ao clero de Milão unidade de formação espiritual e
intelectual.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
A essência principal da espiritualidade sacerdotal de Carlos Borromeu é
o de Cristo Bom Pastor. Os passos bíblicos onde podemos encontrar isto nos
seus escritos são frequentes, como o mostram muitas das suas obras.
O objectivo principal das suas preocupaçoes era o de dar à sua diocese
padres excelentes, elevar em todos os sentidos a qualidade do clero, insistir
continuamente na sua responsabilidade e, em primeiro lugar, tender à
perfeição apostólica. S. Carlos compreende rápido que o impulso renovador
era em vão sem a reforma daqueles que teriam a responsabilidade de a
colocar em prática. A primeira reforma foi para os cónegos da sua catedral.
Depois procedeu a uma nova organização territorial e administrativa da diocese
e uma reforma da prática da vida da fé. Começou a reforma por si próprio, isso
mesmo o disse numa carta ao tio, Papa.
Outra característica da pastoral de Carlos Borromeu é o seu carácter
comunitário, centrado sobre o valor humano e cristão da família, em particular o
papel dos pais. S. Carlos é incansável no chamar os pais e em lembrar-lhes a
sua grande responsabilidade na educação dos filhos.
S. Carlos salienta a importância do ministério apostólico dos leigos.
Assim ele soube valorizar as numerosas associações de fieis leigos e
movimentos laicais que existiam.
Carlos Borromeu é sem dúvida o melhor exemplo para reconhecer a
vasta e longa acção reformadora iniciada pelo Concílio de Trento. Aqui as
diversas tendências reformadoras ja existentes, com excepção das Luteranas,
uniram-se. Nas suas 25 sessões, o Concílio afronta as questões colocadas
pelos Protestantes, entre as quais as que dizem respeito à Sagrada Escritura e
à Tradição, com uma particular atenção à interpretação e à leitura da dos
textos bíblicos, para melhorar a formação do clero e a pregação.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
O Concílio evita o pessimismo antropológico que já Erasmo tinha
observado na teologia Luterana. Descrevendo, depois, o dinamismo da vida
cristã, que não se limita à confiança na fé, mas compreende uma complexidade
de comportamentos da liberdade humana, o Concílio releva que o pecador está
sempre justificado pela fé, porque a fé em Cristo “é o princípio de uma
salvação, o fundamento é a raiz de cada justificação, sem a qual é impossível
agradar a Deus” e fomentar a comunhão com Ele.
A Reforma protestante não teve muito efeito em Espanha nem em Itália
graças ao fermento renovador e operante, em especial através das figura aqui
tratada.
O Concílio de Trento deu à vida Cristã um robusto ancoramento
teológico, sacramental e espiritual. No seu centro colocou-se a Eucaristia,
entendida sobretudo como “Presença Real” de Cristo o que favoreceu o culto
eucarístico fora das celebrações, a adoração ao Santíssimo Sacramento, em
paralelo com a prática da confissão frequente.
Trento relançou a catequese e a importância dos santos como reflexo
humano da santidade divina, como intercessores na obra salvífica de Cristo e
ajuda moral, encorajante, no seu seguimento. Infelizmente, a esperança da
reforma tridentina foi depressa uma desilusão no “depois” Trento, por causa da
polarização dada entre Reforma e Contra Reforma, que durou até ao fim com
Concílio Vaticano II, ou seja até aos nossos dias.

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Sebenta espiritualidade versão integral

  • 1. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) ESPIRITUALIDADE SÉC. XV - XVI Pe. José Carlos A.A. Martins
  • 2. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) 1. Introdução 2. Gerson 3. Devotio Moderna 4. Alguns escritores da Devotio Moderna 5. A Devotio e outras espiritualidades 6. Espiritualidade feminina 7. A religiosidade popular 8. Savonarola e o Humanismo Renascentista 9. Erasmo e o Protestantismo Luterano 10. Tomás Moro 11. João d’Ávila 12. Inácio de Loyola 13. Teresa de Jesus 14. João da Cruz 15. Filipe de Neri e o Oratório 16. Carlos Borromeu e a Reforma Tridentina
  • 3. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Introdução A fé cristã como história de salvação realiza-se no tempo, como um interlaçar-se entre o eterno divino com o tempo histórico, um diálogo de aliança entre a iniciativa de Deus e a livre resposta do homem. Isto que no evento Cristo tem o seu ponto culminante, continua com a ação do Espírito Santo na história. Assim Deus guia a Igreja e a humanidade de idade em idade, através de etapas e horas únicas (Kairós), particularmente suscitando figuras e movimentos de renovação. A exigência de renovação da cristandade dá-se sobretudo nos séculos XV e XVI. Uma multiplicidade de fatores põe em crise a vida cristã; muitas eram ainda as sequelas do cisma do Ocidente (1378-1414) com três Papas que lutavam entre si, mesmo com armas e exércitos, pelo Papado; a voz profética de Catarina de Sena (1347-1389), pedindo aos Papas a reforma da Igreja, mostra a gravidade do momento. Desde o Concílio de Viena (1311- 1312) e daí para a frente que se reclamava uma reforma da Igreja. Eram sobretudo dois os âmbitos da reforma: 1) Os comportamentos morais (reforma dos costumes); 2) Os mecanismos institucionais que geram corrupção (reforma estrutural). O conceito de reforma implica sempre uma vontade de melhorar. É muito notado o ditado: “Ecclesia semper reformanda”, ou seja a fé da Igreja é uma realidade sempre viva! Ela conhece a necessidade contínua de se renovar de se revitalizar (Nova evangelização!). A reforma estrutural não teria muito sucesso se se esquecesse a auto reforma, a reforma singular de cada crente à luz do evangelho. Foi precisamente isso que recordou Catarina de Sena e que depois continuarão a recordar Gerson, o movimento da “devotio moderna”, Inácio de Loyola, Teresa de Jesus e outros, como veremos.
  • 4. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) É por isso uma vontade geral de uma religiosidade interior, longe dos formalismos da oração, de práticas exteriores populares (peregrinações, cerimónias), do abstratistismo teológico e jurídico. Trata-se de um aproximar-se de novo à simplicidade de uma vida cristã segundo o Evangelho, como já o tentaram fazer nos três séculos anteriores, S. Francisco e S. Domingos com a fundação das ordens mendicantes, mas que agora têm também uma nova necessidades reforma.
  • 5. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) JOÃO GERSON Jean de Charlier, conhecido com o nome de Gerson, torna-se Prelado e Chanceler da Universidade de Paris, onde estudou. Não obstante a grande carga académica e teológica, desenvolve trabalhos pastorais na paróquia, pregou na língua do povo e ocupou-se com intensidade na vida espiritual. Gerson, desenha, pensando nas suas irmãs, um programa de vida espiritual muito simples: fazia-se uma oração comum, a horas estabelecidas e sempre às mesmas horas (para se disciplinarem), mais vezes ao dia, recebia- se os sacramentos (da confissão e da comunhão) frequentemente; estavam juntamente em paz, exortando à vivência e à prática do bem e consideravam- se todos iguais; o vivido no quotidiano pode conduzir à santidade, sem necessidade de fazer escolhas particularmente radicais. Não pensando só nas irmãs, mas voltando-se em particular para os leigos, Gerson escreve em francês duas obras importantes para a vida espiritual: “Montanha da contemplação” e “ Mendicidade espiritual”. Estava animado pela convicção de que cada batizado fosse chamado à perfeição do amor e à santidade. Assim transparece o esforço de tornar acessível a todos também os temas mais profundos da espiritualidade e da teologia: todos, por isso devem pôr-se a caminho sobre o monte da contemplação, mesmo as crianças. Por isso tudo o que respeita ao início deste caminho, Gerson, recomenda o conhecimento de si mesmo: cada um deve dar-se conta do próprio carater. Uma pessoa que tende para a atividade, através do seu próprio temperamento, não deve pretender forçar a sua natureza buscando uma forma de vida espiritual em total retiro e silêncio.
  • 6. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) A ideia da montanha sugere um itinerário ascensional que ocorre para chegar ou conseguir chegar à meta, escalando com fadiga as diversas etapas da subida, até à contemplação (fase mais perfeita). O monte, a montanha é por isso um lugar privilegiado para se fazer a experiência de Deus na Bíblia e também noutras religiões. A primeira etapa deste itinerário sublinha o aspeto penitencial que consiste no “distanciar-se” no “apartar-se”, na libertação do “apego” a si mesmo e às coisas. Trata-se por isso de iniciar um processo de autoconhecimento, constatando os apegos que impedem o progredir do imperfeito ao perfeito com gradualidade de modo semelhante ao que a natureza usa para fazer a sua obra, levando ou passando da imperfeição à perfeição. Só depois de ter percorrido o caminho da perfeição, se pode iniciar a segunda etapa que consiste no estar “separado”, no silêncio. Isto é, trata-se dum deserto espiritual interior; pode de facto estar-se sozinho exteriormente, ou num deserto físico, mas cheio de recordações, de pensamentos, de rostos, de lugares; e estas representações provocam no ser orante uma grande perturbação! A terceira etapa vem caracterizada por uma “forte perseverança”, que dispõe a pessoa “para aquele estado perfeito” no qual se pode dizer que vive do amor divino. “ Quem acredita não chegará ao cume da montanha sem uma forte perseverança; é semelhante àquele que escala uma grande montanha e desce sempre. Mesmo que esteja já no alto ou encontre alguma dificuldade ou impedimento”. Fica assim claro que segundo Gerson o amor divino é o início e o fim da contemplação; por consequência, diz, o maior mestre de teologia é aquele que mais ama a Deus, Quem mais ama Deus, conduz uma vida mais cristã. Neste sentido a vida contemplativa é certamente a mais perfeita, como mostra a palavra de Jesus a Marta, afirmando que Maria escolheu a melhor parte.
  • 7. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) É também verdade, afirma Gerson, que se se pode amar a Deus na vida ativa, muito mais se pode na vida contemplativa. Alcança-se o estado de maior perfeição a partir dum estado de menor perfeição: estar no “estado de perfeição” (vida consagrada, consagração sacerdotal) não significa viver plenamente a perfeição cristã, mas tender para esta com mais empenho! A doutrina espiritual de Gerson, conduz à mística, como mostra a sua obra de arte “ De mística theologia”, na qual analisa com profundidade a união da alma com Deus. Nesta união, o crente é elevado à oração perfeita e encontra nesta a sua plena realização. Entre os autores mais citados encontra- se Dionísio Areopagita, Ricardo de S. Vítor, Hugo de Balma. Nesta obra a mística assume a dimensão de uma “ciência” mas em estreita relação com a vida da fé. Gerson não refuta a especulação teológica, como farão alguns autores da “Devitio Moderna” mas procura estabelecer uma relação complementar entre teologia e experiência religiosa.
  • 8. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) GERARDO GROOTE (1340-1384) E A DEVOTIO MODERNA Em sentido cristão “devoção” é uma palavra quase exclusivamente usada pela vida de fé. Com S. Bernardo e com a Cartuxa de S. Bruno, vem usada para exprimir o fervor interior da caridade, da qual nasce a contemplação, isto é a devoção entre aderir e repousar em Deus. Segundo S. Tomás de Aquino, “devoção é o acto interior de cada religião, por meio do qual o crente se doa, alegremente ao serviço de Deus”. Esta doutrina reencontramo- la em S. Boaventura, com a acentuação sobre Cristo e os seus mistérios. “Moderna” é o adjectivo diferencial que, etimologicamente equivale a “novo”, “actual”. A “Devoção Moderna”, quer propor um modo de piedade actualizado, “aggiornato” ao seu tempo. O acento é posto na interioridade afectiva. Nascido em Deventer ( Países Baixos), Gerardo Groote é o iniciador principal deste movimento; estudou em Paris. Uma doença, quase que o levou à morte, e fê-lo mudar de vida(conversão); renuncia às prebendas eclesiásticas e inicia um retiro nos Cartuxos (Munnikshuizen, Arnhem), onde permanece cerca de três anos e onde sente a exigência de uma vida cristã mais autêntica, mais apostólica, sobretudo. Torna-se um ardente reformador do clero de Utrcht. Entre os diversos livros, que encontrou na Cartuxa, estavam os de beato Johannes Ruusbroeck (1283-1381) grande místico, prior do convento agostinho de Groenendael perto de Bruxelas. Entre os seus escritos encontra-se o “Ornamento das núpcias espirituais”, uma mística esponsal da qual Sta. Teresa e S. João da Cruz, darão, como veremos mais tarde, um profundo ensinamento.
  • 9. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Groote, concebe a mística esponsal e especulativa, mas dessa toma acima de tudo os conselhos ascéticos e práticos. As razões são várias e diversas; uma é certamente a situação originada pelas epidemias, como a peste e as calamidades físicas. Diante da dor, das doenças, das guerras, e.t.c., a espiritualidade inspirada na metafísica neoplatónica, parecia muito complicada para a gente comum. Ponto de referência para a reforma espiritual, é a Sagrada Escritura e, unida com ela, a pessoa de Jesus, a sua vida e a sua mensagem; descobre-se como “mestre interior”, do qual já tinha falado Sto. Agostinho. Propõe-se a configuração a Cristo que implica o baptismo: despojar- se do homem velho para se revestir do homem novo, Cristo. Neste sentido a meditação da paixão, morte e ressurreição de Cristo, tem um papel central para a Devotio Moderna. O livro de Groote “De quattor generibus meditabilium” (quattro géneros de argumentos ou razões para meditar) propõe isto: 1) O que a escritura diz sobre a vida de Cristo; 2) O que é revelado privadamente aos santos sobre os mistérios da vida de Cristo; 3) O que sobre isto dizem os teólogos; 4) O que construímos com a nossa imaginação, as imagens que possamos fazer-nos sobre a vida de Cristo; Os argumentos dignos de meditação são para ele dados pela Sagrada Escritura, mas o quarto é reconduzível à Sagrada Escritura, pois como ele argumenta, também a Sagrada Escritura usa imagens e figurações para transmitir a Palavra de Deus. Assim é legítimo servir-se da imaginação para a oração, mas sem nos determos em demasia no sensível que esqueceria o supra sensível transcendente, o divino. Por outras palavras: na vida de fé deve ter-se um equilíbrio justo entre as forças da imaginação e as da razão, evitando tanto o racionalismo abstracto (mística especulativa) quanto a ingenuidade de uma religiosidade demasiado antropomórfica.
  • 10. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) A Devotio Moderna mostra-nos uma espiritualidade que sabe ser fiel à humanidade de Jesus, à sua vida, morte e ressurreição, unida à sua divindade, evitando todo o espiritualismo de uma piedade desencarnada, neoplatónica, ascética própria da mística especulativa que atravessa o Jesus histórico, quanto o é objectivismo ingénuo de uma fé grosseira. A estrutura central da Devotio Moderna é iniciada por Groote, não só com os seus ensinamentos, mas também de modo concreto; fundou “As irmãs da vida comum”. “Comum” significa não só vida em comum, juntos, mas uma forma de vida “ordinária”, comum a todos, que gera comunhão, um estilo de vida “íntimo” com Deus (contemplativo), fundamento da vida comum com os outros. Esta é a única comunidade nascida sob a orientação de Groote, pois sob os seus sucessores, em particular F. Radewijns(1350-1400), desenvolveu- se uma forma de comunidade mais organizada mas ainda sem votos solenes, contudo vivendo em pobreza, castidade e obediência. Renunciavam aos bens patrimoniais, e dedicavam-se à cura dos doentes e ensinavam às raparigas os trabalhos domésticos. Os “Irmãos de vida comum”, fundados por Radewijns, estavam organizados de forma semelhante às “Irmãs”, sem votos solenes e sem regras monásticas. Alem da oração, trabalhavam nas transcrições e nas miniaturas de livros, trabalho considerado importante para a propagação da fé. Ocupavam-se também no ensino, aos jovens nos colégios, nos quais encontravam um espaço amplo para as práticas espirituais, próprias da Devotio. Um destes foi o colégio de Montaigu em Paris, onde estudaram Erasmus, Calvino e Sto. Inácio. Também Lutero frequentou as escolas destes “Irmãos” que não têm regras mas “consuetudines”. Trata-se essencialmente de organização da vida interna da casa: horário e demais ocupações do dia. A sua casa não tem nada de Mosteiro ou de Convento: é uma casa de dia a dia comum, “ordinária” sob a orientação dum sacerdote, que fazia de superior e seguia o dia da casa, a oração e o trabalho, a mesa comum, e praticavam a correcção fraterna e outros exercícios de caridade. Sobretudo cultivavam a leitura da Sagrada Escritura.
  • 11. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Os grupos de irmãos da vida comum aumentaram rapidamente, porque os próprios jovens dos seus colégios lhes pediam a admissão. Assim, por exemplo, o jovem Tomás de Kempes fez parte de uma destas comunidades em Deventer (de 1392 a 1397). A experiência feita pelos jovens que frequentavam as escolas dos Irmãos, mostrou a Radewijns que entre eles marcavam aqueles que buscavam uma forma de vida mais monástica, capaz de unir a vida contemplativa com a vida activa. Portanto a partir desta ideia ele fundou a comunidade dos Cónegos regulares de Sto Agostinho em Windesheim(1387), terceira forma de vida comum da Devotio.
  • 12. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) ESCRITORES DA DEVOTIO, “DE IMATATIONE CHRISTI Os devotos amavam os livros e juntamente com as simples cópias emergiam aqueles que escreviam livros próprios: Gerardo Zerbolt (1367-1398), Irmão e Johan Mombaer, último dos mestres flamengos da Devotio, caracterizam-se por uma excessiva metodização formalista da vida espiritual, como mostra o “Rosetum exercitorum spiritualium et sacrarum meditationum (1494) de Mauburnus, que se apresenta como uma enorme enciclopédia; isto recorda-nos as meditações afectivas e experiências místicas de que falava Groote. Assim, a característica mais importante da Devotio consiste no colocar um método à vida espiritual, em particular à oração mental, à meditação e ao exame de consciência. Isto praticava-se também antes, mas não de um modo assim tão claro e central. Mas por outro lado o interesse excessivo pelo método, trazia uma complicação progressiva de regras, sobejando a espontaneidade afectiva na relação com Deus. Certamente o autor de maior influência da Devotio é Tomás Kempes, pois foi considerado o autor mais provável do livro “De imitatione Christi”. Ele foi Cónego regular da Congregação de Windesheim; além da sua actividade de copista, escreveu cerca de quarenta escritos espirituais. Kempes encontrou a sua inspiração na meditação do Evangelho e com coragem enfrentou uma nova visão Cristocêntrica da fé no meio de um ambiente metafísico-platónico. Só partindo de Cristo se pode verificar, segundo Kempes, com a ajuda da graça, uma verdadeira experiência divina. O protagonista da “Imitação de Cristo” é uma pessoa que, desiludida com a vida mundana, se põe no caminho do seguimento de Cristo. O cristão deve partir do conhecimento de si mesmo, reconhecendo a sua fraqueza, e para fazer isto volta-se para Jesus.
  • 13. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) O cristão não se deve envolver com as coisas temporais esquecendo as eternas, mas como Jesus, deve estar disposto a libertar-se destas( sejam as honras, o saber, ou as coisas materiais) em particular de tudo o que impede de seguir Jesus. No livro 2º, apresenta de modo mais imediato a iniciação à “vida interior”: deve descobrir o Reino de Deus que está em nós, colocando-se em íntimo contacto com Cristo, para que Ele substituía o nosso “eu” pelo seu. No 3º livro, que é o mais longo, a contemplação centra-se sobre a amizade com Cristo, sobre o seu amor e a sua consolação, em particular diante da dor e da desolação; o estilo é dialogal. O 4º livro é como que o vértice dos três precedentes. A mesma ideia guia do terceiro livro são transportadas e aplicadas a Jesus-eucaristia. União espiritual ou mística com Cristo e união sacramental, longe de se excluírem, completam-se. Assim, espiritualidade como apelo à imitação de Cristo, não significa tomar um modelo imposto, estranho ao homem. Não é uma reprodução (fotocópia), não substitui o esforço criativo pessoal pedido a cada um. Em Cristo o homem descobre a verdadeira imagem de Deus à qual foi criado. Por consequência, imitação de Cristo, quer dizer auto-realização plena do ser humano: isto aprece particularmente nos santos.
  • 14. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) A DEVOTIO NAS OUTRAS ESPIRITUALIDADES Contemporaneamente à difusão da Devotio também as ordens religiosas directamente ou indirectamente, sentem a necessidade de renovar a sua vida religiosa. Na Ordem Dominicana encontramos um retorno à observância: aqui a perspectiva da espiritualidade dominicana afasta-se da influência da mística eckhartiana de impressão neoplatónica, favorecendo uma religiosidade “devota”, de acordo com a humanidade de Cristo. Na Ordem da Cartuxa, este repensar a espiritualidade deve-se particularmente a um cartuxo que antes era dominicano, Ludolfo de Saxónia (+1378), com a sua monumental obra “Vita Christi”, iniciada quando ainda era dominicano; imprime-se depois da sua morte em 1472; esta não foi pensada somente para os monges, mas para todos aqueles que queriam aprofundar a sua vida espiritual. Ludolfo tem a formação teológica de um dominicano, à qual junta a espiritualidade contemplativa dos Cartuxos. Os Cartuxos, foram fundados por S. Bruno, que nasceu em Colónia (1036) e morreu no sul de Itália (Calábia), têm um papel importante no séc. XV e XVI, porque aparecem como Ordem na qual a vida religiosa se pode reencontrar na sua plena autenticidade. Os cartuxos, seguindo a espiritualidade dos monges do deserto (Egipto, Síria, Palestina) vivem nos ermos remotos: a solidão-deserto, e o silêncio para viver plenamente na presença de Deus são um princípio fundamental da sua forma de vida. A vida monástica é para eles uma oração ininterrupta; contemplar, amar e empenhar-se na imitação de Cristo, a vida do Verbo unido ao Pai, vida silenciosa do Filho. Contemplar Jesus na verdade do mistério trinitário, o Cristo silencioso no divino mistério do Pai no amor do Espírito. Mas também contemplando-a desde quando estava no seio de sua Mãe, na vida escondida, na sua pregação, paixão, morte e ressurreição e ascensão.
  • 15. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Em Itália e Espanha a Devotio foi introduzida através da influência de Barbo (1382-1443), reformador do mosteiro de Justina de Pádua e depois bispo de Treviso. Henrique Herp (+1478), de origem holandesa, adere à Devotio Moderna; vem de Roma, torna-se franciscano e volta à pátria, onde foi guardião do convento de Malinnes. Nas sua obras, encontra-se uma união de Devotio e espiritualidade franciscana. Assim, ele revela-se discípulo de S. Boaventura e ao mesmo tempo deixa entrever uma influência de alguns outros autores como Ruusbroeck. Do qual tomou a distinção de vida activa (purgativa e apostólica), vida contemplativa espiritual (via iluminativa), vida contemplativa (via unitiva). Os seus escritos espirituais foram recolhidos sob o título: “Theologia mística”, e tiveram uma forte influência nos Países Baixos, na Alemanha, em França, Itália e Espanha.
  • 16. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) ESPIRITUALIDADE FEMENINA A espiritualidade feminina não a encontramos somente nos conventos, mas também na vida civil, onde se encontram mulheres que trabalham, indo para além dos próprios países, como Sta. Brígida da Suécia, esposa, mãe, viúva religiosa e escritora; ou como a já mencionada Sta Catarina de Sena. A história da espiritualidade mostra, na mulher, um tipo de experiência pessoal da fé, da qual Sta Teresa de Ávila representa, como veremos, uma das mais importantes. RITA DE CÁSSIA(1370-1447) Nasce em Roccaporena (Umbria); segundo a vontade dos pais casa-se com um jovem da sua terra, conhecido pelo seu carácter colérico, mas que depois é assassinado. Os seus dois filhos, que se assemelhavam no carácter ao pai, procuravam ser vedetas. Rita no entanto rezava dizendo:” Senhor, melhor estes filhos mortos, que manchados por um crime grave”. Os dois rapazes foram mortos durante uma luta. Afrontada pela dor, Rita amadureceu a sua vocação à vida religiosa; torna-se monja agostiniana no convento de Cássia. A sua intensa devoção a Cristo crucificado valeu-lhe um estigma na testa, que lhe fez uma chaga para sempre, muito dolorosa. Popularmente foi invocada muito depressa como “santa dos impossíveis”, porque tinha a capacidade de superar situações humanamente muito complicadas. JOANA D’ARC (1447-1431) A sua vocação é qualquer coisa de surpreendente. Ela ouve “vozes” (S. Miguel, Sta Catarina e Santa Margarida) que lhe disseram para se dirigir ao rei de França; vestida com um hábito masculino cavalga até Orleans, que livra em 29 de Abril de 1429 do assédio dos Ingleses. Joana é ferida e presa. Depois de torturas e ameaças é condenada. Antes de morrer repete muitas vezes o grito:”Jesus”. A sua missão e o seu martírio mostram a autenticidade do seu dom incondicional a Deus e ao seu povo, que sucessivamente a declarou padroeira de França. Por isso é a fé que a move e não a política.
  • 17. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Teve que resolver o dilema entre a sua escolha pessoal e a autoridade eclesiástica. Preferiu esta. CATARINA DE GÉNOVA (1447-1510) Recebeu uma educação humanista e uma boa formação cristã. Aos dezasseis anos, por conveniências familiares, casa com um homem violento e dissipador, que depois de um período de matrimónio, decide conceder a liberdade e Catarina. Ela consagra-se à oração, à penitência e ao serviço dos necessitados. O marido, Adorno, vencido pela nova vida de Catarina, converte- se. Depois de tudo isto, os dois cônjuges trabalham pelo grande hospital de Génova. Morto o marido, ela dedica-se mais intensamente à vida contemplativa. O sacerdote Caetano Marabutto, fazendo uso das suas confidências, redige A Vida e mais dois tratados, o Purgatório e o Dialogo. Aqui se percebe uma espiritualidade de anulamento do amor próprio, que encontra na experiência do Purgatório a sua expressão mais intensa. Constitui um conjunto de colaboradores, religiosos, e leigos à volta de Catarina e nasce assim a “Companhia do Divino Amor”, mais um entre os “oratórios” que germinam naquele tempo, dos quais o mais conhecido é o de Filipe de Neri, como adiante veremos. ÂNGELA MERICI (1474-1540) Funda em Brécia em 1535 A “Companhia de Santa Úrsula”, composta por mulheres sem votos, sem hábito, sem vínculos na vida comum. Elas, vivendo em família e do seu próprio trabalho, sentiam-se chamadas a ser sinal de “separação das trevas deste mundo”.
  • 18. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) A RELIGIOSIDADE POPULAR, OS PREGADORES A influência da “Devotio” domina os movimentos espirituais e as práticas da vida dos religiosos, do clero e dos leigos durante o séc. XV. Um profundo desconcerto verificava-se naquele tempo por parte de um grande número de cristãos. As muitas crises que agitam a Europa, como as guerras e as epidemias, aumentam o medo colectivo. Assim, a morte, representada pelo cadáver putrefacto e cheio de vermes, a caveira, é um facto recorrente a nível popular. A consciência da caducidade do ser humano está prevista até aos nossos dias na liturgia de quarta feira de cinzas. O luto exagerado pela morte de familiares, a cor negra na liturgia de defuntos. As danças da morte, sublinhavam a vaidade das distinções sociais e das honras e a igualdade de todos os mortais. Não era pois uma pia exortação sobre a transitoriedade das coisas terrenas, mas também uma sátira, uma crítica social. Ligada à esperança da vida depois da morte, busca-se o modo de se preparar para isso. Aqui se apresentam as tentações que provavelmente olham o moribundo, isto é a dúvida sobre a fé, o desespero pelos pecados, o apego às coisas terrenas, o desespero pelo sofrimento e o orgulho pelas próprias virtudes. Era necessário estar preparado para este momento assim decisivo para o ser humano: o seu destino eterno. Com o tema da morte desenvolve-se, de modo exagerado, a descrição do tormento do inferno, do purgatório, etc. Olhando para o mistério de Cristo, sublinha-se a sua paixão, em particular a crucifixão, que não aparecia simplesmente como a expiação da culpa de Adão, mas também como expressão do amor de Deus pelo homem. A cruz, assim, é vista como sinal deste amor divino ao qual o homem responde com a sua compaixão. Para ajudar a esta piedade popular fizeram as suas aparições a imagem de crucifixos não serenos e reais, mas representando um homem sofredor, atormentado. Os crentes para receberem mais intensamente a paixão de Cristo recorriam à flagelação. Começou aqui a utilizar-se a oração da via sacra, a devoção às cinco chagas, às sete palavras de Cristo na cruz.
  • 19. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Neste contexto também Maria aparece, preferencialmente, como “dolorosa” aos pés da cruz, às vezes representada desnuda, sobretudo no modo de Pietà; também a Assunção de Maria foram verdades familiares na fé deste tempo. A mãe de Jesus é assim aquela que intercede junto de Seu filho pela humanidade, aquela para a qual os crentes se voltam para obter graças e milagres, como mostram os muitos santuários dedicados a Nossa Senhora. No que diz respeito aos santos, estes eram vistos como figuras notáveis, dos quais se conhecia particularmente o seu martírio e os seus estupendos milagres; eram vestidos como o povo e podiam encontrar-se entre os peregrinos. Cada figura de santo tinha uma imagem bem delineada, com a sua individualidade. E por isso tendo em conta as suas particularidade as pessoas invocavam mais um santo que outro. Uma menção particular merecem os santos pregadores: A pregação era desenvolvida sobretudo pelos mendicantes, franciscanos e dominicanos, que andavam de terra em terra, sempre vivendo em grande pobreza. Este tipo de pregação exigia uma mudança no modo de viver. Na prática apelava a um exame de consciência a cada indivíduo e à própria sociedade. Assim os pregadores assumiram um papel de reformadores sociais e transformaram-se também num grande movimento de reconciliação. Entre os pregadores deste tempo deve mencionar-se, Vicennzo Ferrer de Valência, Espanha (+ 1414), teólogo dominicano. No centro da sua pregação encontra-se a figura de Cristo, expressa particularmente no seu nome (IHS) ; e também o anticristo, do qual se esperava a vinda eminente, um tom apocalíptico que fez com que muitas pessoas se voltassem, se aproximassem seriamente à prática da vida cristã. Também o franciscano S. Bernardino de Sena (1380-1444) emerge como pregador. Depois de ter sido professor durante um breve período, percorre toda a Itália setentrional e central. Enquanto Vicente insistia na vinda do anticristo, Bernardino reorienta a sua pregação para Cristo, deixando o apocalipse em favor do evangelho, centra-se sobre a devoção ao nome de Jesus.
  • 20. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) JOÃO CAPRISTANO (ÁQUILA 1368-1456) Frade menor, pregador ambulante, dedicou particular atenção à Odem Terceira. Ele tinha o laicado no coração. Os seus sermões não procuravam tanto a moralização teórica, mas mais apresentar a vida dos santos como exemplos de vida cristã. Os seus termos preferidos eram a teologia de Cristo Rei e a devoção ao nome de Jesus (IHS). É de sublinhar o movimento de reforma laical, do qual nasceram as confrarias e os institutos laicais. Jesus ocupa-se desde o início ao fim da realidade pobre e sofredora da humanidade. Isso passa a ser um empenho total, fazendo do necessitado a imagem do próprio Cristo. Esta mensagem tem sido levada muito em conta e muito a sério por muitos cristãos de todos os tempos. Vejamos o empenho e o discurso do Papa Francisco! Neste período a pobreza era uma chaga, para tentar resolver o problema, criaram-se associações, confrarias, que desenvolviam várias formas de solidariedade: no caso dos cegos, por exemplo, havia aqueles que os acompanhavam, a mútua assistência no caso de doença e também os locais onde se davam esmolas. Os grandes pregadores de que falámos não cessavam de chamar à atenção dos cristãos para o serviço dos pobres. Bernardino de Sena dizia: “ Tu não sentes o grito dos pobres! E sabes porquê? Porque para ti não faz muito frio: tu tens a barriga cheia, bebes bem, comes bem... corpo bem composto e alma bem consolada!” Savoranola dizia: “vós os ricos... ajudai os pobres!” A Instituição que manifesta mais preocupação pelos necessitados é o Hospital. Os hospitais fundados pelos cristãos eram lugares de terapia, mas também de acolhimento. A expressão francesa para hospital é “Hotel”. Hospitais especializados eram as leprosarias, para as pestes e epidemias, refúgios para as prostitutas. Tudo isto mostra bem como a fé cristã criava sempre Instituições novas, organizações humanitárias segundo as necessidades dos necessitados e tinha para eles a respectiva espiritualidade. Depois virão as escolas, etc.
  • 21. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) JERÓNIMO SAVONAROLA (1452-1498) E O HUMANISMO RENASCENTISTA A sua vida dividiu e divide a opinião geral das pessoas. Para alguns é um santo, para outros um impostor, um exaltado ou até um iludido reformador. Nasceu em Ferrara em 1452, entrou na Ordem Dominicana em Bolonha (1475) e uma vez ordenado sacerdote, dedica-se à pregação com especial interesse por temas apocalípticos e proféticos. Em 1492 num sermão diz que a Igreja está construída sobre um monte, mas pouco a pouco de está a desmoronar; importava reconstruí-la a pulso, como a Igreja dos apóstolos. Incitou à reforma dos costumes, ao fervor, à extirpação dos vícios (vaidade, jogo, luxo, usura, imoralidade) e à rebelião social contra as “tiranias” dos senhores de Florença. Na sua pregação criticava os religiosos, os clérigos, os bispos e o Papa. Fezterríveis investidas contra Roma. Estando num ambiente renascentista, que tanto tinha reprimido o paganismo greco-romano sobretudo no âmbito moral, Savonarola não se quer apegar ao conformismo da mentalidade do Renascimento, como faziam tantos cristãos, começando pelos Papas, cardeais bispos, que deixavam as exigências do Evangelho, vivendo ao estilo dos pagãos. O seu programa ascético era muito rigoroso, mas não se discutia. Em cada caso importa dizer que a mensagem da sua vida cristã era essencialmente sobre a “imitação de Cristo” e por isso não permite uma conformação ao ambiente circunstante sem um discernimento, permanece válido, para não confundir “actualização” ou “inculturação” com “secularização”. Entre os seus escritos devemos mencionar “O triunfo da Cruz”. O caso Savonarola, mostra que a relação da fé cristã com a nova visão da vida, que o Renascimento comportava, não era fácil. Não se pode dar uma definição que o caracterize completamente, mas podemos afirmar que no Renascimento se encontra uma concepção da vida, em cujo centro se constrói a partir do homem e não tanto de Deus e da religião, como na Idade Média. O homem com a sua força e a sua racionalidade é capaz de escolher o seu destino e a sua postura no mundo (embora haja o perigo de exagerar).
  • 22. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Mas estava neste antropocentrismos renascentista também uma redescoberta do protagonismo que o homem tem na concepção cristã: à sua volta roda toda a reacção porque ele foi feito à imagem e semelhança de Deus. A partir de Itália o humanismo renascentista difundiu-se por toda a Europa. NICOLAU CUSANO (1401-1464) Nicolau, nasceu perto de Treviri na Alemanha, e teve uma primeira educação na Holanda junto dos Irmãos da Vida Comum ( Devotio); estuda na universidade de Heidelberg e Pádua; ordena-se padre, depois bispo e é feito cardeal; é uma das mais importantes personalidades intelectuais do seu século. Trabalha pela reforma religiosa e formula, retomando temas típicos da mística medieval, a doutrina da “douta ignorância”; os grandes fenómenos naturais fogem à natureza humana e a maior razão foge-nos porque Deus é infinito. É típico dos ignorantes torrarem-se Sábios. ERASMO (1466-1536) E O PROTESTANTISMO LUTERANO Formado junto dos “irmãos de vida comum” é ordenado sacerdote. Era entusiasta dos ideais do humanismo renascentista e sente grande aversão pelas coisas que aos seus olhos de humanista eram velhas. As peregrinações, o culto dos santos e as suas relíquias. Em parte tinha razão quando afirmava:” nós beijamos os sapatos dos santos e esquecemos os seus escritos que são as suas mais santas relíquias”. O pensamento de Erasmo é uma mistura de clássico (Platão, Plutarco, Cícero) e de fé bíblica. Por isso, ainda que tenha sido precedido de todo um século de humanismo, representa um elemento novo. Todo o Renascimento tinha o desejo de uma vida piedosa, alegre, idílica, que procura ideais de unidade, sinceridade, verdade, serenidade, e harmonia. Erasmo amava o “dizer bem”, a expressão literária e o bem estar no sentido material e moral, com grande vontade de liberdade de não querer tomar posição a favor ou contra, mas de ser independente. Mas, liberdade significa também capacidade de tomar decisões importantes: Erasmo procura a liberdade, “de” e esquece a liberdade “para”. Por outro lado, segundo Erasmo, a vida cristã encontra-se sobrecarregada de Instituições humanas e oprimida pelo poder das Ordens
  • 23. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Religiosas, e por isso a forma do Evangelho vai-se perdendo. Aqui encontramos uma nova expressão programática de Erasmo: voltar às fontes bíblicas da fé: “ eu queria que o Evangelho e as cartas de S. Paulo fossem lidas pela gente simples”. Aquilo que lhe repugna é que se queira estudar a Escritura a partir do texto latino, da Vulgata. Nele encontramos uma forte tensão: por um lado, ele aspira a uma fé cristã sentida, simples e íntima; por outro lado encontramos a sua irresistível necessidade estética, que o levava a um estilo de vida segundo a concepção greco-romana do humanismo. Com o seu livro “ O Manual do perfeito militar cristão” quer mostrar que a fé não se mede somente a partir do hábito ou da Congregação a que se pertence; trata-se de apresentar um ensinamento adaptado às pessoas que se propõem conduzir na vida quotidiana uma autêntica vida de fé. O cristianismo, vê-se sob o aspecto da “luta” no sentido Paulino do “miles Christi”. Mais, o cristianismo empenha-se em viver o seguimento de Cristo, apesar dos ataques das tentações e dos vícios, mas com a ajuda da graça não será vencido totalmente; poderá perder algumas batalhas mas não a guerra. Pois apresentam-se as duas “armas” essenciais nesta luta: a oração e a meditação da Escritura. Nos outros capítulos sublinha-se a importância de formar o homem interior em sentido Paulino ( o homem segundo o Espírito, Gál. 5, 16- 26), mas também em sentido socrático (conhece-te a ti mesmo); dá alguns conselhos práticos para se não encontrar diante do pecado como a avareza, a impureza, o desejo da vaidade. No que diz respeito à vida monástica, Erasmo permanece sempre critico. Ele recorda que os monges não têm o exclusivo da santidade. Traz assim um juízo critico. Esquece no entanto o valor objectivo da vida consagrada, só porque os monges ou monjas não vivem segundo as exigências da vida religiosa ou a vivem somente segundo um modo formalístico, não quer dizer que a vida religiosa como tal não seja um valor fundamental. A critica à vida religiosa contrasta com o entusiasmo com o qual Erasmo fala do leigo e da vida matrimonial. Uma contraposição entre as duas vocações é hoje, ao menos teologicamente, superada a partir do momento em que se fala da chamada universal à santidade.
  • 24. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) A relação com Lutero(1483-1546) ajuda-nos a conhecer melhor a sua postura doutrinal e espiritual. Erasmo sentia desde o início uma certa simpatia por Lutero que em Outubro de 1517 afixa as 95 teses contra as indulgências, transformadas neste período num grande negócio financeiro. Mas a reacção de Lutero não é somente contra os abusos relativos às indulgências, mas contra as indulgências como tal. Como chegou Lutero a isto? Educado também nos “Irmãos de vida comum” tinha levado muito a sério a vida monástica, mas não encontrava a perfeição que procurava. Isto levou-o a uma profunda crise espiritual e existencial. Assim, reflectindo sobre a sua crise, ele mesmo diz: “Estou a martirizar-me; que coisa procuro senão Deus? Ele sabe como observei a minha regra e que vida tenho conduzido”. Mas em tudo isto, ele não encontrava a paz, nem com Deus nem com a sua consciência. Por outro lado a teologia Ocamista, que tinha estudado, longe de o ajudar agravava o seu problema, pois essa pedia-lhe uma predisposição perfeita para receber a graça, e é precisamente aqui que ele se sentia impotente. A crise de Lutero resolve-se por volta de 1513 com uma experiência particular, “experiência da torre”, meditando Rom. 1,17. Assim a justiça divina não é uma justiça formal, distributiva como a humana, mas aquela pela qual Deus, na sua misericórdia, justifica mediante a fé, sem as nossas obras. Para Lutero, esta era a revelação de Deus misericordioso que ele procurava, manifestado no amor redentor de Cristo. Lutero tem razão enquanto sublinha o primado da graça na vida cristã para lá de cada obra(indulgências, penitências, e.t.c.), mas falha quando exclui o valor das obras humanas como resposta à graça de Deus. Não obstante de Erasmo ter querido permanecer espectador diante da grande questão luterana, toma posição. Fixou-se no ponto sobre o qual existia uma clara disparidade, isto é sobre o conceito de liberdade. Erasmo escreveu o livro “ De librero arbítrio”, defendendo o valor da liberdade humana, por outras palavras das obras, para juntar à salvação eterna. Lutero respondia de modo violento com a obra “De servo arbítrio”, declarando que, depois do pecado original, a vontade humana é escrava
  • 25. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) (serva) do mal e somente pode ser libertada com a graça da redenção de Cristo. O pecado original, responderia Erasmo, enfraquece mas não anula totalmente a liberdade humana para fazer o bem.
  • 26. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) TOMÁS MORO (1478-1535) Em amigável relação com Erasmo, Tomás Moro apresenta uma visão mais autêntica do Humanismo em sentido cristão. Eleito deputado do parlamento inglês é nomeado chanceler do reino (1529). Pela sua recusa de reconhecer a supremacia religiosa do Rei (Henrique VIII) foi condenado à pena de morte. A Igreja católica declarou-o santo e patrono dos políticos. O seu conceito de Homem leva-o a reflectir também sobre a ordem social em sentido cristão, analisando qual poderia ser a óptima constituição social que pode efectivamente garantir a plena liberdade do Homem. Isto desenvolveu-o no seu conhecido escrito “Utopia”(1516). Aqui ele faz uma critica à sociedade do seu tempo, partindo da sociedade inglesa. Por exemplo, no que diz respeito à delinquência, diz que as punições não servem muito porque o furto é provocado por uma profunda injustiça que consente ao rico explorar, e desfrutar do pobre. Segundo a “Utopia”, todos devem trabalhar, mas não mais de seis horas por dia: três antes do meio dia e três depois, o resto deve ser tempo livre. A vida das pessoas desenvolve-se tanto quanto é possível, num ambiente comunitário, e deve ser dirigida para encontrar um harmónico equilíbrio entre prazer do corpo e do espírito. A religião na “Utopia” é fundada sobre a crença de uma divindade inconcebível, eterna, acima de cada sociedade, e cada indivíduo é livre de adorar esta divindade com o culto que preferir. Estes termos, que hoje são de todo actuais, mostram a modernidade do humanismo cristão, que o Vaticano II revelou: a liberdade de consciência, o diálogo inter religioso, a igualdade fundamental de todas as pessoas, a justiça social,, e assim, construir a “sociedade do amor”, como antecipação e participação do Reino escatológico, de verdade, de justiça, amor e paz. Em resumo, na “Utopia” Tomás Moro apresenta-nos a vida do céu como um modelo para a vida sobre a terra.
  • 27. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) II – De INÁCIO DE LOYOLA A CARLOS BORROMEU Em 1515 o humanismo renascentista e a Devotio Moderna encontram-se num movimento chamado “Evangelismo” que se propõe a reforma da vida cristã através do estudo e do retorno às fontes: o Evangelho e Paulo. O seu representante mais importante é Le Févre d’Etapes (1455-1536). O Concílio Latranense V (1512-1517) reforçou a necessidade da reforma da vida cristã, e se não teve resultados avultados foi porque os seus decretos ficaram letra morta. Propostas audazes, que pouco depois Lutero colocará em prática, tais como a de traduzir a Bíblia para as línguas modernas, a reforma do Código de Direito Canónico, a formação do clero. Pouco depois do seu encerramento, um leigo de profunda cultura humanista, Pico de Mirandola(1469-1533) faz ouvir a sua voz, revelando, diante da assembleia conciliar, a exigência de um clero bem formado, de vida sóbria, atento à cura pastoral; assim era mais fácil estar atento à luxúria que grassava, à ambição e ao luxo. Isto, dizia o Papa, vale mais do que qualquer cruzada e exortava ao empenho pessoal nesta tarefa. Tudo isto permanecerá ineficaz até ao Concílio de Trento (1545). O Papa Adriano VI escreveu em 1522:”Todos nós prelados e eclesiásticos desviámo- nos da estrada do justo e são raros os que procedem bem”. Em Espanha, por seu lado, crescia e intensificava-se o esforço por uma vida cristã mais autêntica. O Cardeal Francisco Jimenez de Cisneros,(1436- 1515), animado e apoiado pela Rainha Isabel de Castela, reforçou uma reforma estrutural e espiritual da Igreja em Espanha: reforma do episcopado, do clero secular e regular. Tal reforma começava com coisas muito concretas, entre as quais a celebração anual do sínodo diocesano, a obrigação de cada sacerdote em ter um confessor; cada pároco devia explicar a doutrina cristã ao menos uma vez por semana. Ordenar e proibir não chegam para uma reforma eficaz, era necessário formar clérigos e leigos de modo a melhorar e para aprofundar as questões do momento.
  • 28. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Assim, Cisneros projectou e organizou diversas casas de formação; a intervenção cultural mais importante foi a fundação da Universidade de Alcalà (perto de Madrid). Fez vir óptimos professores humanistas (Erasmo) e fez publicar a “Bíblia Poliglota Complutensis”: uma obra monumental, que mostra bem como o desejo de voltar às fontes da Revelação não pertencia só à vontade de Lutero ou de Erasmo. Voltar à origem da fé cristã era uma vontade muito cara a todos aqueles que procuravam reformas, ainda que de formas e maneiras diferentes. À Universidade de Salamanca, Francisco de Vitória, dominicano, tentou dar uma resposta teológica ao problema da descoberta da América, levando a sério os protestos dos missionários, como Las Casas, contra a brutalidade da conquista. Na Abadia Beneditina de Monssserat (Barcelona) o Abade, Garcia de Cisneros (+1510) introduzirá a Devotio. Este clima de renovação originou uma “primavera” religiosa, teológica, literária e artística, que faz do séc. XVI uma época de grande esplendor espiritual e cultural em Espanha, chamado “Século de Ouro”. De particular importância é o complexo movimento dos “Alumbrados”, nascido nos anos 1507-1512) com grande vontade de perfeição, aberto à doutrina da “Devotio moderna” e ao “cristianismo interior” de Erasmo, mas que progressivamente cai em alguns excessos de misticismo iluminístico. Detenhamo-nos agora em algumas figuras espirituais relevantes deste período.
  • 29. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) JOÃO D´ÁVILA S. João d’Ávila estuda em Alcalà e Salamanca e torna-se sacerdote. Depois da morte dos seus pais, vende as suas ricas posses para ir como missionário para a América, mas por diversas causas é impedido de realizar o seu desejo. O arcebispo de Sevilha pede-lhe para trabalhar na diocese, na reforma da vida cristã e particularmente na reforma do clero. O seu modelo de vida espiritual e apostólica era S. Paulo. S. João organiza a catequese para as crianças e adultos, cria missões populares e a ajuda aos enfermos. Foi acusado de heresia e foi processado pela Inquisição e metido na cadeia (1531-1533), onde escreveu a sua obra principal “Audi Figlia”. Com outros sacerdotes forma um grupo de oração, de estudo e de ascese, que dá origem à chamada “Escola sacerdotal S. João de Ávila”. Renunciou a dois episcopados e ao cardinalato. O seu grande magistério espiritual e teológico é chamado “Mestre d´Ávila”. Relacionou-se com Sto Inácio e S. Francisco de Bórgia e com Sta Teresa e foi canonizado por Paulo VI em 31 de Maio de 1970. Os temas fundamentais da sua obra são: 1) O mistério de Cristo: Cristo é a Palavra de Deus, o esposo, que dá significado à perfeição cristã; 2) A Igreja como esposa de Cristo; 3) A vida em Cristo é marcada pela fé, esperança e caridade. Na “Audi Figlia” utiliza o colóquio entre Cristo e o crente para descrever como se vive a união com Cristo. Para começar o cristão deve tornar-se consciente da sua situação; assim, o exercício da própria consciência como ponto de partida. Para este fim é necessário fazer silêncio, exterior e interior. A espiritualidade sacerdotal é centrada, segundo S. João de Ávila, na pregação e na Eucaristia, no orientar os crentes para o seguimento de Cristo, com uma vida de oração e de penitência; não procurando cargos ou lugares importantes, mas revelando o sentir com a Igreja, a direcção espiritual, por outras palavras: a conformação a Cristo esposo e pastor dá a razão de ser ao ministério
  • 30. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) sacerdotal. Assim aparece uma clara semelhança com a Exortação Apostólica pós sinodal “Pastores Dabo Vovis” (1992). INÁCIO DE LOYOLA (1491-1556) A opinião geral é a de que o santo de Loyola era soldado de profissão. Mas isto não é bem assim. A sua formação antes de se ter convertido era antes de mais administrativa como cortesão e cavaleiro. O cavaleiro, sobretudo no Renascimento, é muito diferente de um militar sobretudo no sentido actual. Próprio do ambiente cortesão renascentista, no qual o jovem Inácio cresceu era normal um forte desejo que se vivia por um estilo de vida alegre e livre. A auto afirmação do eu, o orgulho desmesurado a vontade de fama e de honras, eram valores fundamentais daquela sociedade renascentista. A este ambiente faz referencia a sua biografia quando ele mesmo afirma:” Até aos 26 anos fui um homem do mundo, absorvido pela vaidade. Amava sobretudo exercitar-me no uso das armas, atraído por uma imensa vontade de conquistar honras vãs”. A ferida de Pamplona, isto é o desabar de projectos importantes e o facto de ter estado próximo da morte levou-o a fazer uma longa reflexão. A leitura de livros espirituais (A vida de Cristo e a vida dos santos) leva-o a mudar de vida:” E se também eu fizesse o que fizeram Francisco e Domingos”? Inácio encontra-se numa situação de escolha, na qual a sua liberdade de decisão é posta à prova. Sente-se interiormente dividido, inseguro. Contudo havia uma diferença: pensando nas coisas do mundo isso dava-lhe muito prazer, mas quando por cansaço as abandonava sentia-se desiludido e vazio; enquanto pensava em viver como os santos fazendo penitências permanecia alegre. O ideal de perfeição segundo a vida de Cristo e dos santos colocava-o em confronto com a sua vida antiga.
  • 31. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Um profundo sentido de culpa e de pecado apareciam na sua consciência. Depois de tomar consciência da infinita misericórdia de Deus encontra a iluminação mística, e torna-se um conhecedor experimentado da vida espiritual. (Ter em conta sobretudo os “Exercícios Espirituais”- um mês...) Mais à frente se houver tempo falaremos do esquema completo das quatro semanas! Em resumo, a espiritualidade inaciana é trinitária, porque se insere na história da salvação; é cristocêntrica porque leva o crente ao seguimento de Cristo; é pneumática porque se realiza como discernimento no Espírito e segundo o Espírito; é eclesial porque se sente em comunhão particularmente com o vigário de Cristo e ao seu serviço (quarto voto dos jesuítas); é apostólica porque se santifica santificando os outros.
  • 32. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) TERESA DE JESUS (1515-1582) Entre as diversas formas de espiritualidade feminina, a de Santa Teresa teve um relevo particular. Seguindo os seus escritos auto-biográficos, em particular o “Livro da Vida”, constata-se que na sua infância teve uma formação cristã recebida dos seus pais. A jovem Teresa, lia a vida dos santos, provavelmente o “Flos Santorum”. Aos oito anos, fervorosa a partir dos exemplos heróicos de santidade, vai juntamente com o seu irmão para a “terra dos mouros” para se tornar mártir. Depois da morte da mãe,(1528), Teresa confia-se à Virgem da Caridade. Nos anos seguintes lê apaixonadamente livros sobre romances cavaleirescos, alimenta amizades precoces com seus primos e dedica-se a vida pouco recomendada. A vaidade e o demonstrar publicamente a sua feminilidade que espicaça neste tempo, impedem-na de levar uma vida cristã sadia, para grande desagrado do pai, que para a proteger a leva ao mosteiro das Agostinianas em Ávila. Ali conhece uma monja que a ajuda a descobrir a profundidade do Evangelho. Durante todo este tempo amadurece a sua vocação à vida religiosa. Em Novembro de 1535 foge de casa para se refugiar no mosteiro carmelita da Encarnação em Ávila, onde apesar de tudo é admitida como postulante. Em 3 de Novembro de 1537 faz a sua profissão religiosa, mas depressa teve que deixar o convento por causa duma doença; é conduzida a casa de um tio. Neste período lê o “terceiro Abecedário” de Francisco Osuna, um livro que a ajuda muito na sua meditação. Em Julho deste mesmo ano, e porque as anteriores doenças são mal curadas, Teresa é conduzida, gravemente doente, a casa de seu pai. Permanece três dias em estado de coma, a ponto de a darem como morta. Volta quase curada ao convento da Encarnação.
  • 33. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Não obstante a sua precária saúde, durante quase três anos, confia-se em tudo a S. José, ao qual atribui a sua cura. Em 1543 morre o pai. De 1544- 54 Teresa sofre uma penosa crise espiritual. Debate-se entre as suas amigas, os relacionamentos humanos e as exigências da vida consagrada. Durante este período sente-se só, árida, dividida, infiel ao Senhor. Na Quaresma de 1544 sente um chamamento especial diante da estátua do “Hecce Homo”: cai de joelhos chorando e suplica ao Senhor que a ajude a não o ofender mais. Em seguida lê as “Confissões” de Sto. Agostinho e que lhe responderam a muitas das suas questões. No fim deste período começa a experimentar numerosas graças místicas. Teresa cola em dúvida a origem destas experiências, que culminam na visão de Cristo ressuscitado. Tranquilizada pelo franciscano P. D’Alcântara no que diz respeito à visão do inferno e encorajada por algumas irmãs da Encarnação, decide fundar um novo mosteiro com base na oração e no silêncio; um mosteiro pobre, pequeno a que porá o nome de S. José. Em 1567 encontra João da Cruz, que ganha para a reforma do Carmelo, ainda que ele pensasse entrar na Cartuxa. Em Novembro de 1568 Teresa de visita a Duruelo, fica contente pelo que fez João da Cruz. Em 14 de Maio de 1569 santa Teresa funda um outro mosteiro em Toledo. O P. Geral pede-lhe para acabar a fundação e para se retirar para o mosteiro de Toledo; isto também por causa de uma acusação junto do tribunal da Inquisição. Na sua defesa, ou para sua defesa escreve a quarta “relação” onde se vê a sua fidelidade à Igreja. No meio destas peripécias, encontra pessoas que são para ela de grande conforto como J. Grazian, amigo fiel de toda a sua vida. Em 1573, por ordem do P. Risalda, começa a escrever as “Fundações”. Leva a termo a segunda redacção do comentário ao “Cântico dos Cânticos”.
  • 34. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Por volta do fim de 1575 no capítulo geral carmelita é preso S. João da Cruz e seus novos companheiros. Teresa é forçada a retirar-se para um convento de Castela. Em Junho de 1576 Teresa chega a Toledo onde redige o “Modo de visitar os conventos dos carmelitas descalços” e inicia o “Castelo interior”, obra prima dos seus escritos espirituaias. Entretanto continuam as perseguições contra a reforma Teresiana. S. João da Cruz foge da cadeia de Toledo. No mesmo ano de 1578 o P. Grazian é preso. Graças às mediações do rei de Espanha (Filipe II) obtém-se a aprovação pontifícia. A noite de 20 de Setembro, depois de diversas viagens extenuantes, Teresa chega fatigada a Alba de Tormes (entre Ávila e Salamanca). Em 4 de Outubro de 2582 morre dizendo:”Enfim, Senhor, morro filha da Igreja”.
  • 35. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) JOÃO DA CRUZ (1542-1591) S. João da Cruz nasceu em Fontiveros, perto de Ávila. Cedo fica órfão de pai e vive na miséria com a mãe e os seus três irmãos; desde muito jovem que se interessa pelos doentes, trabalhando num hospital ate aos 21 anos em Medina del campo, onde frequenta também o colégio dos jesuítas, estudando os clássicos latinos. Entra depois no noviciado carmelita desta cidade. Depois da profissão e dos votos (1564), dirige-se à Universidade de Salamanca, onde estuda filosofia e teologia. Aqui ensinava o grande biblista e literato Fr. Luís de Leon, que era Agostiniano. O desejo de perfeição evangélica leva-o a entrar na Cartuxa. Um encontro casual com Teresa (1567), que também procurava a reforma do Carmelo, fá-lo descobrir a direcção definitiva da sua vida, empenhando-se na reforma dos Carmelitas. Isto levá-lo-á a não poucas tensões e conflitos. A actividade exterior de João na reforma do carmelo não esteve no primeiro plano, mas a interna essa sim foi de primeiríssimo plano. Ele foi o plasmador e o moderador do espírito do carmelo reformado, sobretudo através da direcção espiritual, que se desenvolve principalmente entre os religiosos e as religiosas carmelitas, mas estende-se também aos sacerdotes e leigos. A parte melhor da sua obra é escrita em poesia, obra prima da literatura lírica em espanhol. Só depois de muitas insistências decide explicar alguns versos. A exposição da sua experiência e doutrina torna-se mais clara na “ Subida ao monte Carmelo”, que com a “Noite escura” constitui uma doutrina bem articulada. Muitos factos diz João no Prólogo da Subida, acontecem na subida àqueles que a percorrem: alegrias, penas, desejos, dores que possa, proceder do espírito perfeito e também do imperfeito. João quer ajudar o religioso para que “possa conhecer o caminho que segue e aquele que lhe convém escolher, se tem como intenção chegar ao cimo do monte”.
  • 36. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) O principiante começa um caminho de purificação de todos os aspectos sensitivos e busca as coisas exteriores, Chamada “noite dos sentidos”, activa e passiva. “noite” designa o caminho que se deve percorrer para chegar à libertação total da união com Deus. Este caminho é feito sobretudo de privações, porque, “como a noite não é outra coisa que a privação da luz e, por consequência, leva a que conheçamos todos os objectos que mediante a luz se vêem, o mesmo se pode dizer da mortificação dos apetites, noite para a alma: quando esta se priva do gosto e do apetite em cada situação, permanece na escuridão e privado de tudo”. O apetite que olha para o seu objecto só para o engolir, para o devorar; um desejo que fecha o homem em si mesmo, confinando-o à sua própria esfera, fazendo-o escravo de si mesmo. Para subir ao “Monte da Perfeição”, para se dar ao eterno convencido do amor divino, para juntar ao “Tudo” da liberdade infinita que é Deus, é necessário ainda descer à “noite do espírito”, activa e passiva, purificando a memoria, o intelecto e a vontade; a vida é sempre um “nada”. Ou seja e em súmula: para chegar à purificação é preciso passar pela “noite”, pela experiência da Kenosis a fim de se chegar à Luz, à Plenitude; ser “Nada” para ser “Tudo”. O objectivo é sempre: a união plena com deus que tem como consequência a paz e a tranquilidade, um conhecimento mais profundo do homem e de Deus.
  • 37. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) FILIPE DE NERI [E O ORATÓRIO]. (1515-1595) Nasce em Florença numa família modesta embora da nobreza provincial. Rapaz alegre, simpático, pacífico nos seus modos, dificilmente se enraivecia. Pela bondade da sua natureza era chamado de “Filipe Bom”. A estas qualidades de temperamento juntava uma espontânea religiosidade. Aos 18 anos Filipe deixa Florença e transfere-se para junto de um tio paterno, muito rico, que habita junto a Montecassino. Aqui conhece os monges beneditinos: a sua vida é de oração e de silêncio. Nele começam a surgir também os desejos próprios da idade juvenil. Por um lado a vida monacal e por outro a vida que tinha o seu tio como rico. Durante esta estadia de alguns meses, outro lugar que teve muita importância para as suas escolhas futuras, foi o monte chamado de “Montanha parada” esse lugar beneditino, com o santuário da Trindade, onde Filipe se recolhia somente para rezar e meditar sobre a paixão e o crucifixo. Um dia ele sente-se como que iluminado e comovido e decide voltar as costas à riqueza e decide ir a Roma e ali encontrar uma resposta para a sua inquietação vocacional. Hospedado numa família Florentina, trabalha como preceptor dos seus filhos e ao mesmo tempo frequenta alguns cursos de filosofia e teologia na Universidade de Roma. Mais de que se dedicar à vida intelectual, ele queria ajudar o próximo. Encontrou-se com Inácio, Francisco Xavier e outros jesuítas que em 1538 chegaram a Roma para se colocarem ao serviço da Igreja. As sua relações mais estáveis foram com o Oratório ou Companhia do Divino Amor. Sob este nome existiam várias associações e confrarias que em diversas cidades de Itália tinham uma singular importância no movimento de espiritualidade e de actividade caritativa até ao fim do séc. XV e início do XVI.
  • 38. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) O mais conhecido de entre todos é o romano S. Jerónimo da caridade. Este nasce por volta de 1515 com sede na igreja de Santa Doroteia, de qual um dos seus principais membros senão mesmo fundador, foi S. Caetano, que depois fundará a ordem dos clérigos regulares, os Teatinos. O Oratório de Roma contou entre os seus membros os principais promotores da reforma da Cúria Pontifícia, mais tarde eleito Papa com o nome de Paulo IV. Estas associações tinham como ideal a santificação, favorecendo uma sólida piedade e um exercício prático do amor para com Deus e para com o próximo, em particular nos hospitais. Neste ambiente de oração e de serviço Filipe vive alguns anos. No Pentecostes de 1544, nas catacumbas de S. Sebastião, teve uma profunda experiência mística. Em Maio de 1551 foi ordenado sacerdote e foi habitar para o Oratório de S. Jerónimo da caridade, onde já moravam alguns sacerdotes. “S. Jerónimo” converte-se num centro comunitário para os sacerdotes seculares. Rezava-se e celebrava-se a missa e faziam-se obras de caridade, tudo isto livremente sem uma regra determinada. Este centro comunitário torna-se a base para a “Congregação do Oratório”. Filipe amava condividir a sua vida com os outros. Não lhe agradava que os padres vivessem sozinhos e por isso começa a reagrupar e a reunir, a gerar os fundamentos de uma vida em comum, familiar, que pudesse servir à perfeição humana e cristã. Participavam na vida destes grupos sacerdotais também pessoas leigas e de diversos estratos sociais. O Oratório de S. Filipe apresenta-se como uma unidade livre de vários cristãos, chamados a várias funções em horas determinadas por práticas religiosas em comum e pela escuta da Palavra de Deus, tudo de modo muito familiar. Na espiritualidade do Oratório mostrou-se patente a personalidade viva de Filipe e isto levou a que se tornasse numa das personalidades mais populares de Roma. Pela sua originalidade e espontaneidade e pelo sigilo da autenticidade cristã, o Oratório Filipino torna-se um maravilhoso instrumento de reforma da
  • 39. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) vida cristã; isto parecia renovar o espírito da primeira comunidade cristã, onde todos eram um só coração e uma só alma. Era uma sua convicção que a vida espiritual, considerada particularmente como algo de aborrecido, se tornasse familiar e doméstica em cada pessoa, que se tornasse grata e fácil em casa de cada um, clérigo ou leigo, prelado, príncipe, pai de família ou consagrado, artesão ou erudito, de modo que todos eram capazes de a viver. Os escritos de Filipe (cartas, poesias, fragmentos) são poucos e quase todos redigidos por outros, tendo dele praticamente só mesmo a sua assinatura. De destacar, a sua profunda devoção a Maria, invocando-a com o título de “Mater Gratiae”.
  • 40. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) CARLOS BORROMEU (1538-1584) E A REFORMA TRIDENTINA Entre aqueles que durante a segunda metade do Séc. XVI, se empenham na acção de reforma apresentada pelo Concílio de Trento (1545- 1563), encontra-se em primeiro lugar S. Carlos Borromeu. Nascido em Milão numa família de tradição pontifícia como eram os Medici, foi destinado à vida eclesiástica; assim, aos sete anos recebeu a tonsura eclesial. Estuda em Pádua. O seu tio foi eleito Papa, Pio IV, e fez cardeal o seu sobrinho Carlos com apenas 22 anos. Trabalhou muito perto do seu tio, para colocar em prática as reformas do Concílio de Trento. Sendo ainda diácono quer ser ordenado presbítero em Julho de 1563. Para a ordenação faz os exercícios espirituais de Sto Inácio, que o influenciarão durante toda a sua vida espiritual. Em Dezembro do mesmo ano foi consagrado arcebispo de Milão com 25 anos. Durante todo o seu episcopado, Carlos Borromeu foi um grande pregador. Geralmente pregava todos os domingos pelo menos uma vez. Por dia tinha discursos três ou quatro vezes diferentes para abordar vários temas. Preparava-se sempre muito bem. É importante salientar como ele fazia as visitas pastorais às paroquias; a sua chegada era sempre precedida por alguns dias em que primeiro um grupo de sacerdotes pregavam e confessavam. As visitas pastorais eram minuciosas a ponto de terem relatórios detalhados, e de decretos para que estes não ficassem letra morta! Para isso mandava inspectores para averiguar do seu cumprimento. Assim a maior diocese do mundo foi sendo aos poucos organizada segundo as reformas saídas do Concílio de Trento. O Seminário, fundado durante o seu episcopado, foi confiado a um corpo de sacerdotes diocesanos (com este fim fundou os “Oblatos de Sto. Ambrósio) com o objectivo de dar ao clero de Milão unidade de formação espiritual e intelectual.
  • 41. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) A essência principal da espiritualidade sacerdotal de Carlos Borromeu é o de Cristo Bom Pastor. Os passos bíblicos onde podemos encontrar isto nos seus escritos são frequentes, como o mostram muitas das suas obras. O objectivo principal das suas preocupaçoes era o de dar à sua diocese padres excelentes, elevar em todos os sentidos a qualidade do clero, insistir continuamente na sua responsabilidade e, em primeiro lugar, tender à perfeição apostólica. S. Carlos compreende rápido que o impulso renovador era em vão sem a reforma daqueles que teriam a responsabilidade de a colocar em prática. A primeira reforma foi para os cónegos da sua catedral. Depois procedeu a uma nova organização territorial e administrativa da diocese e uma reforma da prática da vida da fé. Começou a reforma por si próprio, isso mesmo o disse numa carta ao tio, Papa. Outra característica da pastoral de Carlos Borromeu é o seu carácter comunitário, centrado sobre o valor humano e cristão da família, em particular o papel dos pais. S. Carlos é incansável no chamar os pais e em lembrar-lhes a sua grande responsabilidade na educação dos filhos. S. Carlos salienta a importância do ministério apostólico dos leigos. Assim ele soube valorizar as numerosas associações de fieis leigos e movimentos laicais que existiam. Carlos Borromeu é sem dúvida o melhor exemplo para reconhecer a vasta e longa acção reformadora iniciada pelo Concílio de Trento. Aqui as diversas tendências reformadoras ja existentes, com excepção das Luteranas, uniram-se. Nas suas 25 sessões, o Concílio afronta as questões colocadas pelos Protestantes, entre as quais as que dizem respeito à Sagrada Escritura e à Tradição, com uma particular atenção à interpretação e à leitura da dos textos bíblicos, para melhorar a formação do clero e a pregação.
  • 42. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) O Concílio evita o pessimismo antropológico que já Erasmo tinha observado na teologia Luterana. Descrevendo, depois, o dinamismo da vida cristã, que não se limita à confiança na fé, mas compreende uma complexidade de comportamentos da liberdade humana, o Concílio releva que o pecador está sempre justificado pela fé, porque a fé em Cristo “é o princípio de uma salvação, o fundamento é a raiz de cada justificação, sem a qual é impossível agradar a Deus” e fomentar a comunhão com Ele. A Reforma protestante não teve muito efeito em Espanha nem em Itália graças ao fermento renovador e operante, em especial através das figura aqui tratada. O Concílio de Trento deu à vida Cristã um robusto ancoramento teológico, sacramental e espiritual. No seu centro colocou-se a Eucaristia, entendida sobretudo como “Presença Real” de Cristo o que favoreceu o culto eucarístico fora das celebrações, a adoração ao Santíssimo Sacramento, em paralelo com a prática da confissão frequente. Trento relançou a catequese e a importância dos santos como reflexo humano da santidade divina, como intercessores na obra salvífica de Cristo e ajuda moral, encorajante, no seu seguimento. Infelizmente, a esperança da reforma tridentina foi depressa uma desilusão no “depois” Trento, por causa da polarização dada entre Reforma e Contra Reforma, que durou até ao fim com Concílio Vaticano II, ou seja até aos nossos dias.