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Agricultura de Baixa Emissão de Carbono:
Financiando a transição
Análise dos recursos do Programa ABC

SUMÁ RIO EXEC UT IV O

O relatório completo deste estudo está disponível no www.observatorioabc.com.br
Plano abc
S umári o
apresentação
1. PRINCIPAIS CONCLUSÕES DESTE ESTUDO
2. EVOLUÇÃO DAS LINHAS DE CRÉDITO
DO PROGRAMA ABC (2010-2013)
3. DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS DO PROGRAMA ABC POR SAFRA
4. O ABC E A RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS: POUCO ALCANCE
5. QUANTO A UNIÃO INVESTE NO PROGRAMA ABC
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Ex p e d ie n t e
Projeto:	

Observatório ABC
			
Aliança pelo Clima e Uso da Terra (CLUA)

Apoio:

	
Fundação Getulio Vargas
Centro de Agronegócio, Escola de Economia de São Paulo

Organização Responsável:

Coordenador do GV agro:

Roberto Rodrigues
Coordenação do Projeto:

Angelo Costa Gurgel
Cecília Fagan Costa
Felippe Serigati
Equipe Técnica do ESTUDO:

	

Fernanda Casagrande Rocha
Guarany Ipê do Sol Osório
Mario Monzoni
Susian Christian Martins
ColaboradorES:

Eduardo Delgado Assad
Sérvio Túlio Prado Júnior
edição do texto: Claudio Ângelo
Projeto gráfico: Vendo Editorial
Designer: Marcius Marques
Imagens: Shutterstock
Impressão: Pigma

4
6
10
12
35
37
41
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

AP RE S ENTA ÇÃ O

A

mudança no clima do planeta se apresenta
como um dos maiores desafios da humanidade no presente século. Os riscos que
essa mudança traz para o bem-estar dos
indivíduos, para as economias das nações
e para o equilíbrio do planeta impõem a necessidade de
ações urgentes e duradouras de mitigação desse problema. Nesse contexto, o Brasil assumiu internacionalmente
o compromisso de reduzir suas emissões de gases causadores do chamado efeito estufa. Parte considerável
desse compromisso precisa ser atendida pela agricultura
brasileira, o que aumenta a responsabilidade da mesma
para além do fornecimento de alimentos, matérias-primas, energia e de equilíbrio da balança comercial.
O setor agropecuário brasileiro tem plenas condições de responder a esse chamado. Possuímos conhecimento científico e tecnológico de práticas sustentáveis
e grande potencial de aumentar o aproveitamento dos
nossos recursos naturais e insumos produtivos. Contudo, o agricultor necessita adotar práticas e métodos de
produção que considerem um paradigma de sistemas
produtivos integrados e sustentáveis, a chamada agricultura de baixa emissão de carbono, ou agricultura ABC.
Diante dessa necessidade, uma boa notícia é clara:
o Programa ABC, instrumento pelo qual os agricultores
brasileiros podem tomar crédito para as ações previstas
no Plano ABC, foi plenamente incorporado ao crédito
agropecuário brasileiro. Os recursos disponibilizados à
agricultura de baixa emissão de carbono crescem a cada
ano, bem como a sua captação pelos produtores, evidenciando esforços das instituições responsáveis pela
distribuição dos recursos e de entidades preocupadas
com o treinamento e engajamento de técnicos e agricultores com o Plano.

Apesar das boas notícias, é necessário avaliar qual
tem sido a efetividade deste programa. Será que os recursos disponíveis estão chegando aos produtores? Será
que os produtores que têm contratado este crédito são
aqueles que realmente mais precisam desse recurso? A
distribuição espacial dos recursos pelo território brasileiro tem sido condizente com o potencial de redução de
emissões dos diferentes estados? Será que os créditos
concedidos foram alocados para atividades que efetivamente capturam carbono?
Estas são algumas das questões analisadas neste
terceiro estudo publicado pelo Observatório do Plano ABC. Enquanto o primeiro relatório apresentou um
diagnóstico do Plano ABC, discutindo os principais
avanços realizados e limitações encontradas, o segundo
estudo apontou fatores críticos para a governança do
Plano. Este terceiro estudo, que encerra a primeira série
de trabalhos publicados pelo Observatório, apresenta
um panorama de onde e de quais atividades propostas
pelo Plano ABC são financiadas, bem como indicativos
do seu alcance e de seus custos.
Fundamental para a realização do presente trabalho, bem como dos anteriores, tem sido o apoio
da CLUA (Aliança pelo Clima e Uso da Terra). Também, o esforço de todos os participantes da equipe do
projeto, e a contribuição de diversas instituições e
pessoas que ajudaram ao longo deste ano com o fornecimento de informações, dados, sugestões, comentários e participação ativa nos eventos promovidos
pelo Observatório. A todos, o nosso muito obrigado!
Esperamos que continuem contribuindo para que o
Observatório do Plano ABC possa cumprir seu papel
de influenciar o aprimoramento e efetividade dessa importante política.
Roberto Rodrigues
Coordenador do GV agro

4

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
5

SHUTTERSTOCK
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

PRINCIPAIS CONCLUSÕES
DESTE ESTUDO
O Programa ABC, instrumento pelo qual os agricultores brasileiros podem tomar
crédito para as ações previstas no Plano ABC, foi plenamente incorporado ao crédito agropecuário brasileiro. Ele teve um salto de dotação de R$ 2 bilhões, no ano
safra 2010/11, para R$ 4,5 bilhões, em 2013/14. Sua execução subiu de zero, em
2010, para R$ 418,5 milhões, em 2011, e R$ 2,7 bilhões, até maio de 2013.
O Banco do Brasil (BB) é o grande agente financiador das práticas preconizadas pelo Programa ABC. Na safra 2012/13, do total de recursos contratados para
execução do programa (até maio de 2013), 87,9% foram de responsabilidade do
BB e apenas 12,1%, do BNDES. O BB tem se esforçado para fazer deslanchar o
programa usando recursos próprios, provenientes da Poupança Rural. Isso tem
permitido executar financiamentos além da sua programação – R$ 905,5 milhões a
mais somente na safra 2012/13.
O avanço do BB no desembolso do ABC deveu-se, principalmente, a iniciativas
como a capacitação dos agentes financeiros (em parceria com a CNA), com o
apoio de cartilha que os orienta, e posterior treinamento dos principais atores
envolvidos no processo de tomada do crédito (agentes financeiros, cooperativas,
etc.), em cada estado, por técnicos do BB. A aprovação dos projetos no âmbito
do ABC está ocorrendo conforme a legislação ambiental estadual, flexibilizando,
em parte, o maior entrave dessa operação, uma vez que, em alguns casos, para a
aprovação destes projetos, o uso da legislação federal é mais rígido.
O BNDES segue tendo dificuldade em expandir o financiamento do Programa
ABC, como apontado em estudos anteriores, apesar da sua potencial capilaridade.
Segundo o banco, parte da razão está no rigor em relação ao licenciamento ambiental, não admitindo as legislações ambientais estaduais e municipais em substituição à legislação federal. Entre julho de 2012 e fevereiro de 2013, 878 municípios
captaram recursos do Programa ABC via BB e apenas cinco captaram via BNDES.
Os bancos privados têm demonstrado pouco interesse no Programa ABC. No
ano safra 2011/12, do R$ 1,51 bilhão utilizado, R$ 1,2 bilhão foi executado pelo
BB e apenas R$ 316,3 milhões, repassados pelas demais instituições financeiras –
públicas e privadas – com recursos do BNDES. A baixa participação dos bancos
privados deveu-se ao alto risco das operações envolvidas no Programa ABC, em
especial: (i) a longa maturidade da operação (até quinze anos para amortização
da dívida); (ii) o difícil acesso a informações por parte dos órgãos ambientais
competentes, como, por exemplo, a situação da regularização ambiental do proponente; e (iii) o alto custo de transação para a tomada do crédito ABC junto ao
BNDES. Todos esses riscos das operações realizadas pelos bancos privados não

6

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
são compartilhados com o BNDES, uma vez que o risco das operações do ABC
é integralmente da instituição bancária que repassou o recurso, caso o BNDES
desclassifique a operação.
O uso da Poupança Rural pelo BB para financiar ações do Programa ABC foi crucial
para deslanchar a execução do programa, mas tem um investimento embutido
que é pago pela União, na forma de equalização de juros em relação aos juros de
mercado. Tal investimento é oculto, mas precisa ser considerado para efeito do
cálculo do valor da tonelada de carbono mitigada pelo ABC. Este estudo calculou
em 43% do total desembolsado o investimento de equalização de juros, na safra
2011/12, e 48%, na safra 2012/13. O fato de o subsídio representar metade do valor do desembolso torna mais urgente a necessidade de monitoramento do ABC,
já que esta é uma conta que está sendo paga por toda a sociedade – e, até agora,
não se sabe quanto carbono está efetivamente sendo abatido.

SHUTTERSTOCK

A recuperação de pastagens degradadas é a principal linha de crédito do programa, concentrando 80,32% dos empréstimos feitos no ano safra 2012/13. No
entanto, a distribuição do recurso ainda é excessivamente concentrada em poucas
regiões, principalmente no Centro-Sul do País. Grande parte dos municípios com
pastagens degradadas, principais alvos do programa, não captou nenhum recurso
do ABC, como, por exemplo, Macururé-BA e Centro Novo do Maranhão-MA.

7
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

O quadro de distribuição dos recursos do Programa ABC para os anos-safra
2011/12 e 2012/13 mostra que grande parte dos recursos não foi alocada em
áreas prioritárias para a recuperação de pastos, principalmente nas regiões Norte
e Nordeste. De modo geral, os estados do Sul e do Sudeste concentram o maior
número de contratos e os do Centro-Oeste, o maior volume de recursos.
Isso fica claro em dois estudos de caso, os dos estados de Minas Gerais e Pará.
Minas, que possui o seu Plano ABC consolidado e publicado, é o principal tomador do crédito do Programa ABC para recuperação de pastagens e florestas
plantadas, o segundo para tratamento de dejetos e está sempre em posições
de destaque nas demais técnicas do programa. Já o estado do Pará, campeão
de emissões de CO2 por desmatamento e dono de uma das maiores áreas com
pastagens degradadas no País, teve, na safra 2011/12, um desembolso para as
práticas agropecuárias do Programa ABC baixo, chegando a apenas R$ 30,7 milhões (2,53% do total) e, na safra 2012/13, a pouco mais de R$ 52 milhões (1,9%
do total) até maio de 2013.
O principal entrave para a captação do recurso do Programa ABC no Pará é devido, principalmente, ao grande desconhecimento das práticas agrícolas e pecuárias
sustentáveis por parte dos produtores, como, por exemplo, a integração lavourapecuária-floresta, bem como dos processos de tomada do recurso do Programa
ABC. As questões fundiárias e ambientais ainda em processo de regularização
também acabam sendo entraves significativos para a captação dos recursos ABC,
bem como a burocracia para a aprovação do projeto para a tomada do recurso
junto aos agentes financeiros.
O alcance do Programa ABC, em geral, é baixo: considerando o total de pastagens degradadas no País, em média, foram alocados R$ 2,72 por hectare de pastagem degradada, na safra 2011/12, e R$ 5,25 por hectare de pastagem degradada,
na safra 2012/13, no Brasil, enquanto o valor mínimo necessário, em média, é de
R$ 300,00 por hectare, segundo cálculos da Embrapa. Tanto em 2011/12, quanto
em 2012/13, apenas seis municípios do País com pastagens degradadas captaram
recursos do programa em volume compatível com o necessário para promover
a recuperação do total das suas pastagens degradadas. Estes municípios foram:
safra 2011/12 – Fortaleza de Minas-MG, Onça de Pitangui-MG, Rio Sono-TO, Brasilândia do Tocantins-TO, São Joaquim-SC e Pirassununga-SP; e safra 2012/13 (até
fevereiro de 2013) – Baião-PA, Ribeiro Gonçalves-PI, Urupema-SC, Uruçuí-PI e, novamente, Pirassununga-SP e São Joaquim-SC.
O sistema de plantio direto, outra ação importante do ABC, ainda não decolou
na principal fronteira agrícola do País, o chamado Mapitoba (que abrange partes
dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). Segundo informação do BB, a
safra 2011/12 teve 220 contratos do Programa ABC para esta linha, sendo apenas
um no Tocantins; três no Piauí; e oito no Maranhão. A Bahia, com quatorze contratos, ficou ainda muito aquém do primeiro colocado, São Paulo (cinquenta e nove

8

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
contratos). O desempenho fraco repetiu-se em 2012/13, com o Mapitoba respondendo por apenas 23% do total desembolsado no País para plantio direto – com a
Bahia respondendo, sozinha, por 16% do total nacional.
A inclusão no Programa ABC de linhas de crédito para atividades que pouco ou
nada têm a ver com redução de emissões de carbono (Resolução 3.949/2011 do
Banco Central), até o momento, não teve grande impacto no total do recurso desembolsado, mas vem aumentando essa participação: o ABC Ambiental e o ABC
Orgânico, que financiam práticas como o plantio de lavouras orgânicas, recuperação de áreas degradadas e de preservação permanente (práticas que não fazem
parte do Plano ABC), corresponderam a apenas 0,28% do total de contratos aprovados em 2011/12, não comprometendo de forma significativa a quantidade de
recurso que deve ser alocada para as práticas do Plano ABC visando o atingimento
das metas de redução de gases de efeito estufa (GEE) divulgadas na Conferência
do Clima de Copenhague (COP-15). Na safra 2012/13, o número de contratos
nestas duas linhas foi significativamente maior e representou 1,44% do total do
Programa ABC.
Do ponto de vista do principal objetivo do Plano ABC, que é a redução das emissões de CO2 equivalente (eq.) na agropecuária brasileira, a inserção do crédito
para a plantação de arroz irrigado, ocorrida na safra 2011/12, pode comprometer
as metas do Plano ABC até 2020 caso venha a ocorrer novamente. A rizicultura é
uma atividade emissora de metano, portanto, contrária à finalidade do Plano ABC,
sendo a emissão de metano vinte e uma vezes mais prejudicial do que a emissão
do carbono para o meio ambiente. Na safra 2011/12, os recursos para o plantio de
arroz no Rio Grande do Sul corresponderam a R$ 2,8 milhões.
Os fundos constitucionais, em especial o FCO e o FNO, desenvolveram linhas
específicas também denominadas como Programa ABC, que financiam as mesmas
finalidades do Programa ABC do BB e do BNDES. No entanto, aos produtores
elegíveis a estas operações, a taxa de juros efetiva é substancialmente mais baixa,
podendo variar de 3,53% a 4,12%, comparada aos 5% do ABC. Assim como a Poupança Rural, apesar dessas fontes de recursos serem bem-vindas ao financiamento
do ABC no Brasil, elas não foram previstas na concepção do Programa ABC.
Outra preocupação é com linhas de financiamento afins que possam “canibalizar” o Programa ABC. A tomada de recurso do ABC é mais burocrática e trabalhosa por conta da exigência de elaboração de um projeto técnico sistêmico
– que alinhe produtividade e mitigação de GEE –, em comparação a outras linhas
de investimentos, orientadas apenas por uma lista de itens financiáveis. Linhas
como o Moderfrota, o Moderinfra e o Moderagro, que têm interseções com o
Programa ABC, hoje, praticam juros de 5,5%, apenas um pouco mais altos do
que os do ABC, mas com muito menos exigências técnicas e ambientais, o que
pode reduzir o apetite dos produtores pela linha. O mesmo ocorre com os fundos constitucionais.

9
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

EVOLUÇÃO DAS LINHAS DE CRÉDITO
DO PROGRAMA ABC (2010-2013)

A

linha de crédito do Plano ABC, chamada Programa ABC, foi criada
na safra 2010/11 pela Resolução BACEN nº 3.896, de 17/08/2010,
e vem sofrendo alterações no que diz respeito à inclusão de alguns
itens não contemplados inicialmente no Plano ABC. O Programa
ABC foi instituído com recursos do Sistema BNDES e, hoje, também
conta com recursos da Caderneta de Poupança Rural (MCR 6-4) do BB e de fundos
constitucionais.
O limite de crédito foi de R$ 1 milhão por beneficiário e por ano safra, independentemente de outros recursos concedidos ao produtor por meio do crédito rural,
com taxa de juros a 5% a.a. na safra 2012/13. Os prazos para amortização da dívida
vão de cinco a quinze anos.

No ano safra 2010/11, o Programa ABC teve R$ 2 bilhões, com juros de 5,5%
a.a. e uma execução de apenas 20% (R$ 418,5 milhões, quase tudo liberado entre
janeiro e julho de 2011) (Tabela 1). Entre as causas dessa pequena execução, está o
baixo conhecimento do programa por parte dos produtores, além das dificuldades
operacionais enfrentadas pelo BNDES na distribuição dos recursos (Observatório
ABC, 2013; GVces, 2013).
Em 2011/12, a dotação do ABC foi aumentada para R$ 3,15 bilhões, após a
incorporação dos Programas Produsa (R$ 1 bilhão) e Propflora (R$ 150 milhões)
ao Programa ABC, com juros ainda a 5,5% a.a. Nessa safra, foram utilizados 48%
dos recursos do Programa ABC, totalizando R$ 1,51 bilhão, o que corresponde
ao aumento de 262% em relação à safra anterior. Estes dois programas disponibilizam linhas de crédito para atividades isoladas, como plantio de dendê, recuperação de áreas degradadas e incentivo ao cultivo de produtos orgânicos. Embora
os Programas ABC, Produsa e Propflora apresentassem linhas financiáveis com
grande sinergia, a sua fusão acabou misturando práticas agropecuárias de baixa
emissão de carbono com outras não comprovadamente mitigadoras de emissão
de GEE.
Do ponto de vista do principal objetivo do Plano ABC, que é a redução das
emissões de CO2 eq. na agropecuária brasileira, a inserção de outras linhas de
financiamento não comprovadamente redutoras de emissões pode comprometer
as metas do Plano ABC até 2020. Até o momento, no entanto, poucos recursos do
Programa ABC têm sido efetivamente executados nas técnicas agrícolas remanescentes do Produsa e Propflora.
Em 2012/13, o Programa ABC teve R$ 3,4 bilhões, com juros de 5% ao ano

10

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
– uma redução de 0,5% em relação ao ano safra anterior –, prazo máximo de pagamento de quinze anos e carência de seis anos. Até maio de 2013, haviam sido
utilizados mais de R$ 2,5 bilhões (73,5% do programado).
No Plano Safra 2013/14, lançado em junho de 2013, o Programa ABC teve um
salto orçamentário: de R$ 3,4 bilhões para R$ 4,5 bilhões, com juros mantidos a
5% ao ano.

Tabela 1 Programação e aplicação efetiva de recursos do Programa ABC nas safras 2010/11,
2011/12 e 2012/13 até maio de 2013 (R$ milhões) (Adaptado: SPA/MAPA e BB).
PROGRAMA

2010/11

2011/12

2012/13

programado
ABC
BNDES
BB

APLICADO

programado

APLICADO

programado

APLICADO

2.000,00

418,50
304,90
113,60

3.150,00
2.300,00
850,00

1.526,10
310,00
1.216,10

3.400,00
1.900,00
1.500,00

2.736,60
331,10
2.405,50

SHUTTERSTOCK

O BB aplicou mais recursos para o Programa ABC do que o programado nas
safras 2011/12 e 2012/13. Isso foi possível graças à utilização de recursos próprios,
provenientes da Poupança Rural. O avanço do banco no desembolso do ABC,
mais evidente ainda na última safra, deveu-se, principalmente, a iniciativas como a
capacitação dos agentes financeiros (em parceria com a CNA), com o apoio de cartilha que orienta os agentes sobre o financiamento para o Plano ABC, e posterior
treinamento dos principais atores envolvidos no processo de tomada do crédito
(agentes financeiros, cooperativas, etc.), em cada estado, por técnicos do BB.

11
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS DO
PROGRAMA ABC POR SAFRA
3.1 Ano safra 2011/12
Em 2011/12, foram assinados 5.038 contratos para o Programa ABC, sendo que
3.527 (70% do total) foram via BB e 1.511, via BNDES, por meio de outros agentes
financeiros repassadores e fundos constitucionais. Juntas, as regiões Sul e Sudeste
representaram 65,4% do total de projetos aprovados no BB na safra 2011/12, porém com valores médios por contrato (R$ 245 mil e R$ 314 mil, respectivamente)
mais baixos do que os observados nas demais regiões, que variaram de R$ 451
mil a R$ 488 mil (Tabela 2). É importante salientar que os estados do Acre, Mato
Grosso e Pará apresentaram os maiores valores desembolsados por contrato, denotando uma alta concentração do recurso.

Tabela 2 Distribuição regional dos desembolsos do Programa ABC
pelo BANCO DO BRASIL na safra 2011/12 (Fonte: BB; Adaptado: SPA/MAPA).
REGIÃO/ESTADOS

Desembolso
(MIL R$)

no de contratos

Valor médio dos
contratos (MIL R$)

Centro-Oeste

374.689
122.438
115.649
136.601
89.747
63.091
12.229
13.870
500
47
10
99.553
46.285
30.738
17.905
2.734
1.852
39
393.852
203.652
159.419
29.152
1.629
258.304
114.000
113.126
31.178
1.216.145

829
337
282
210
188
123
36
26
1
1
1
204
113
49
33
4
4
1
1.254
614
557
76
7
1.052
494
406
152
3.527

451,98
363,32
410,11
650,48
477,38
512,94
339,72
533,48
500,00
46,80
9,50
488,01
409,60
627,31
542,57
683,47
462,88
39,83
314,08
331,68
286,21
383,58
232,79
245,54
230,77
278,64
205,12
344,81

GO
MS
MT
Nordeste
BA
MA
PI
CE
PE
AL
Norte
TO
PA
RO
AC
RR
AP
Sudeste
MG
SP
ES
RJ
Sul
PR
RS
SC
total

12

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
O estado de Minas Gerais é campeão em número de contratos e de tomada
de recursos do ABC. É líder em recuperação de pastagens e florestas plantadas,
segundo colocado em tratamento de dejetos animais e está sempre em posição
de destaque nas outras linhas do programa. A alternância da liderança entre os
estados não refletiu necessariamente as necessidades agropecuárias de cada um,
estando mais relacionada com uma boa governança do Plano ABC estadual, como
no caso de Minas, que tem seu plano estatual ABC publicado e em operação.
No outro extremo, está o Pará, estado que possui uma das maiores áreas com
pastagens degradadas no País. Na safra 2011/12, o desembolso para as práticas
agropecuárias do Programa ABC no Pará foi baixo, chegando a apenas 2,53% do
total de desembolsos, e, na safra 2012/13, representou apenas 1,9% do total de
projetos aprovados até maio de 2013.
A baixa participação das regiões Norte e Nordeste no panorama nacional de
contratações do ABC é o reflexo da escassez de assistência técnica, graves problemas fundiários, principalmente nos estados do Norte, comprometimento de grande parte dos produtores do Norte com o FNO (fundo constitucional para a região
Norte) e comprometimento dos produtores do Nordeste com o Pronaf (Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
Os gráficos abaixo mostram a participação de cada estado no percentual de
contratos e na quantidade de recursos tomados do programa (Figuras 1 e 2).

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DESEMBOLSADO (%)

Figura 1 Porcentagem de participação de cada Estado no
total de recurso desembolsado para o Programa ABC pelo
BANCO DO BRASIL na safra 2011/12 (bb).
18
MG

16
14
12
10

SP

MT
GO

MS

PR

RS

8
6
4

BA
TO
SC

PA

ES

2

RO

PI

MA
AC

0

RR

RJ

CE

PE

AP

AL

ESTADOS

13
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

Figura 2 Porcentagem de participação de cada estado nos contratos
aprovados para o Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL na safra 2011/12
(bb).

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE CONTRATOS (%)

20
18
16
14
12
10
8
6

MG
SP

PR

RS

GO
MS

MT

SC

4

BA

TO
ES

2

PA

0

MA

RO

PI

RJ

AC

RR

CE

PE

AP

AL

ESTADOS

SHUTTERSTOCK

A recuperação de pastagens encabeça a lista de práticas agropecuárias financiadas, com 76% do total de contratos aprovados na safra 2011/12 (ABC Recuperação),
principalmente no Centro-Sul do País (Figura 3). O SPD (sistema de plantio direto na
palha) correspondeu a 6% do total de contratos aprovados, principalmente no oeste
de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Mato Grosso e

14

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
sul do Maranhão; o plantio de florestas, a 7%, concentrados nos estados de Minas
Gerais, São Paulo e Paraná; a iLP/iLPF/SAF (integração lavoura-pecuária-floresta), a
3%, principalmente no Rio Grande do Sul e Paraná; e o tratamento de dejetos animais, a menos de 1%.
O ABC Ambiental e o ABC Orgânico, que financiam práticas que não fazem
parte do Plano ABC, corresponderam a apenas 0,28% do total de contratos aprovados, não comprometendo de forma significativa a quantidade de recurso visando o atingimento das metas de redução de GEE. O FCO Natureza, que financia
a regularização fundiária e ambiental e a implantação de sistemas produtivos e
tecnologias voltadas à mitigação da emissão de GEE na região Centro-Oeste, representou 6% desse total.

80

76

70
60
50
40
30
20

3

0,6

0,17

EN
AB

C

AM

BI

EJ
D
E

0,11

TA
L

S
ET

O

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LP
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O
FC

PF

ZA

D
SP

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D

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S

TA
G

EN

S

ST
AS

0

O

6

IC

6

ÂN

7

O
RG

10

AB
C

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE CONTRATOS (%)

Figura 3 Porcentagem de contratos aprovados pelo BANCO DO BRASIL
na safra 2011/12 por linha de financiamento do Programa ABC (BB)

ONDE OS RECURSOS DO PROGRAMA ABC FORAM USADOS EM 2011/12
RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS
Na Figura 4, é apresentada a distribuição espacial dos municípios tomadores do
crédito do Programa ABC para a recuperação de pastagens, com suas respectivas
somas dos valores desembolsados. A Figura 5 mostra a distribuição espacial das
pastagens degradadas no País (com índice de unidades animais por hectare, ou UA,
menor do que 0,7).

15
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

figura 4 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para a
recuperação de pastagens no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA RECUPERAÇÃO
(MILHÕES DE REAIS)

até 0,5
0,5 a 1,5
1,5 a 3,0
3,0 a 10,0
Ano Safra 2011/12

0

16

215

430

860
KM

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
figura 5 Distribuição espacial dos pastos degradados no Brasil,
com taxas de lotação variando de 0,1 a 0,7 UA/ha/ano (BB)

TAXA DE
LOTAÇÃO (UA)

ÁREA DE PASTO
DEGRADADO (HA)

0,0 - 0,1

780.579

0,1 - 0,2

1.660.086

0,2 - 0,3

4.591.399

0,3 - 0,4

6.501.900

0,4 - 0,5

8.988.377

0,5 - 0,6

10.223.809

0,6 - 0,7

19.578.175

TOTAL

52.324.324

0

500

1.000

2.000
KM

17
OBSERVATÓRIO ABC

1 Plano de Ação de Prevenção
e Controle do Desmatamento
na Amazônia

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

O cruzamento do mapa de distribuição do recurso para recuperar pastos e do mapa
de pastagens degradadas permite identificar lacunas importantes na aplicação do dinheiro do ABC para a recuperação de pastagens. O estado do Amazonas, por exemplo,
não teve nenhum contrato assinado, e, nos demais estados amazônicos, a adesão foi
baixa. Algumas regiões prioritárias para a recuperação de pastagens não foram atendidas: o sudoeste de Goiás; Gurupi, no sul do Tocantins; Norte Araguaia, no Mato Grosso,
São Félix do Xingu, no Pará, e a porção centro-sul de Minas Gerais. Estas apresentam
um alto efetivo bovino (2,0 a 3,5 milhões de cabeças de gado), combinado a grandes
extensões de pastagens degradadas, e deveriam ser um dos focos principais do Programa ABC para a recuperação de pastagens. É importante destacar que a priorização da
promoção do Programa ABC em municípios-chave da Amazônia Legal, no âmbito do
PPCDAm1 em sua terceira fase (2012-2015), não surtiu efeitos significativos no desembolso do Programa ABC para a recuperação de pastagens na região.

INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA (iLP/iLPF/SAF)
A distribuição espacial dos municípios tomadores do recurso para iLP/iLPF/SAF,
bem como os valores dos recursos desembolsados estão na Figura 6. Nota-se que
esta técnica ainda tem baixa adesão por parte dos pecuaristas, com um potencial
de crescimento grande diante dos mais de 50 milhões de hectares de pastagens
degradadas no Brasil.

PLANTIO DIRETO (SPD)
Mesmo diante dos mais de 53 milhões de hectares plantados com grãos no Brasil, nota-se uma grande concentração dos recursos do Programa ABC para SPD em
poucas regiões do País (Figura 7).
Uma região que abrange parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e da
Bahia, conhecida como Mapitoba, chamada de nova fronteira agrícola do País, apresentou volume de investimento em novas áreas com SPD via Programa ABC aquém
do seu potencial e de seu crescimento agrícola, principalmente no Tocantins, Piauí
e Maranhão. Segundo informação do BB, o total de contratos aprovados no País
via BB para a implantação do SPD na safra 2011/12 foi de 220, sendo que o estado de Tocantins apresentou apenas um contrato; Piauí. três contratos; e Maranhão,
oito contratos. O estado da Bahia apresentou um melhor desempenho, com quatorze contratos, mas, ainda assim, muito aquém de São Paulo, primeiro colocado no
ranking, com cinquenta e nove contratos.

18

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
figura 6 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para
a ILP/ILPF/SAF no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA INTEGRAÇÃO
(MILHÕES DE REAIS)

até 0,2
0,2 a 0,5
0,5 a 2,0
2,0 a 6,0
Ano Safra 2011/12

0

225

450

900
KM

19
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

figura 7 Distribuição espacial dos municípios com financiamento
para o SPD no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA PLANTIO DIRETO
(MILHÕES DE REAIS)

até 0,2
0,2 a 0,5
0,5 a 2,5
2,5 a 8,0
Ano Safra 2011/12

0

215

430

860
KM

FLORESTAS PLANTADAS
Para o plantio de florestas, os recursos desembolsados na safra 2011/12 (R$ 56,6
milhões) concentraram-se, principalmente, em municípios da faixa oeste do estado

20

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
de Minas Gerais e sul do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde a soma dos recursos desembolsados em cada uma destas localidades variou de R$ 700 mil a R$
1,9 milhão (Figura 8).

figura 8 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o
plantio de florestas no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA FLORESTAS
(MILHÕES DE REAIS)

até 0,1
0,1 a 0,2
0,2 a 0,7	
0,7 a 1,9
Ano Safra 2011/12

0

225

450

900
KM

21
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

TRATAMENTO DE DEJETOS ANIMAIS
No que diz respeito ao tratamento de dejetos animais, o Paraná foi o maior tomador do recurso (R$ 3,3 milhões), principalmente nos municípios da porção centro-sul
do estado, onde a soma dos valores dos contratos variou de R$ 650 mil a R$ 1,4 milhão. Em Minas Gerais (R$ 2,5 milhões) e Espírito Santo (R$ 2,2 milhões), os recursos
concentraram-se nas porções noroeste e sul dos estados, respectivamente. O total de
recurso do Programa ABC utilizado para o tratamento de dejetos animais foi de R$
9,7 milhões (Figura 9).

figura 9 Distribuição espacial dos municípios com financiamento
para o tratamento de dejetos no âmbito do Programa ABC na
safra 2011/12 (BB)

VALOR
CONTRATADO PARA
TRAT. DE DEJETOS
(MIL REAIS)

até 150
150 a 400
400 a 650	
0 62,5 125

250
KM

650 a 1.474
Ano Safra 2011/12

O estado de Santa Catarina teve participação irrelevante no uso do crédito ABC
para o tratamento de dejetos animais, apesar do seu importante papel no cenário
nacional de produção de suínos e aves. Isso corrobora, mais uma vez, a constatação
de discrepância entre a distribuição do recurso e a real necessidade de cada região ou
estado do País. O principal entrave é a falta de equipamentos biodigestores no mer-

22

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
cado que evitem a sazonalidade da temperatura no interior do equipamento a preços
competitivos. Em média, um biodigestor com essas características custa por volta de
R$ 1 milhão (o teto de desembolso do Programa ABC).

3.2 Ano safra 2012/13
Até maio de 2013, foram implantados 9.473 projetos para o Programa ABC via BB
e BNDES (Tabela 3), sendo que 6.548 contratos foram repassados pelo BB. Novamente, a região Sudeste foi a maior tomadora do crédito, com o estado de Minas Gerais
em primeiro lugar no ranking de participação no desembolso e de contratos efetuados. Entre os projetos implantados, 3.822 foram na região Sudeste; 2.022, na região
Sul; 2.133, na região Centro-Oeste; 887, na região Norte; e 609, na região Nordeste.
Juntas, as regiões Sul e Sudeste representaram 61,69% do total de projetos apro-

Tabela 3 Distribuição regional dos desembolsos do Programa ABC
entre julho de 2012 a maio de 2013 (em R$ mil) (Adaptado: SPA/MAPA).
REGIÃO/ESTADOS
Centro-Oeste
DF
GO
MT
MS
Nordeste
BA
MA
PI
AL
PE
SE
Norte
AC
AP
AM
PA
RO
TO
RR
Sudeste
ES
MG
RJ
SP
Sul
PR
RS
SC
total

Desembolso
(Mil R$)

no de contratos

Valor médio dos
contratos (MIL R$)

885.662
1.081
271.805
284.700
328.076
200.208
147.147
28.740
22.935
809
46
531
210.625
15.738
600
200
52.420
32.064
106.669
2.934
1.000.237
29.018
527.480
10.452
433.287
439.662
179.043
221.329
39.290
2.736.394

2.133
6
899
542
686
609
382
169
42
2
1
13
887
110
1
1
184
135
445
11
3.822
130
2.146
50
1.496
2.022
869
861
292
9.473

415,22
180,17
302,34
525,28
478,25
328,75
385,20
170,05
546,07
404,50
46,00
40,85
237,46
143,07
600,00
200,00
284,89
237,51
239,71
266,73
261,71
223,22
245,79
209,04
289,63
217,44
206,03
257,06
134,55
288,86

23
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

vados na safra 2012/13, mantendo praticamente o mesmo percentual de aprovação da safra anterior. Isso demonstra, novamente, a falta de capilaridade do Plano
e Programa ABC nos estados da Amazônia Legal e Nordeste do Brasil, bem como a
ausência de medidas efetivas para solucionar essa baixa participação no panorama

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DESEMBOLSADO (%)

Figura 10 Porcentagem de participação de cada Estado nos
desembolsos para o Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL e BNDES
na safra 2012/13 até maio de 2013 (bb e bndEs)
25

20

MG

SP

15
MS
MT

10

GO
RS
PR
BA

5

TO
PA

SC

RO

ES

MA

PI

AC

RJ

0

RR

df

al

AP

se

am

ESTADOS

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE contratos (%)

Figura 11 Porcentagem de participação de cada Estado nos
contratos aprovados para o Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL
e BNDES na safra 2012/13 até maio de 2013 (bb e bndEs)
25
MG

20

SP

15

10

GO

PR

RS
MS
MT

5

TO

BA
SC
PA

MA

0
ESTADOS

24

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC

RO

ES

AC

RJ

PI

se

RR

df

al

pe

ap
nacional de contratações do ABC destas regiões, principalmente no que diz respeito
à escassez de assistência técnica e problemas fundiários, especialmente nos estados
do Norte (Figuras 10 e 11).
Com relação às linhas de financiamento do Programa ABC do BB, verifica-se que
a recuperação de pastagens encabeça, novamente, a lista de práticas agropecuárias
financiadas, com 80,32% do total de contratos aprovados na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (Figura 12). Neste mesmo período, o SPD correspondeu a 7,44% do
total de contratos aprovados. O total de desembolso para o SPD foi da ordem de
R$ 161 milhões entre julho de 2012 e fevereiro de 2013. O plantio de florestas representou 4,50% do crédito ABC desembolsado; a iLP/iLPF, 2,50%; e o tratamento
de dejetos animais, apenas 0,25%, neste mesmo período.
O ABC Ambiental e o ABC Orgânico, que financiam as práticas não inclusas
no Plano ABC, corresponderam a apenas 1,44% do total de contratos aprovados,
não comprometendo de forma significativa a quantidade de recurso que deve ser
alocada para o atingimento das metas de redução de GEE. O FCO Natureza, que
financia a regularização ambiental e fundiária e a implantação de sistemas produtivos e tecnologias voltadas à mitigação da emissão de GEE na região Centro-Oeste,
representou 3,51% desse total.

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE CONTRATOS (%)

Figura 12 Porcentagem de contratos aprovados pelo BANCO DO BRASIL
na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 por linha de financiamento do
Programa ABC (BB)
90
80,32

80
70
60
50
40
30
20

E
AT
.D
TR

AM
C

O
IC
ÂN

0,04

O
RG

BI
E

/S
F
AB

/i
LP

O
S

N
TA
L

AF

A

O
FC

iL
P

N
AT
U

TA
D
AN
PL

ST
AS

0,06

FL

O

RE

RE
Z

AS

D
SP

EN
S
TA
G
PA
S
E
.D
RE
C

0,25

FBN

1,38

C

2,50

ET

3,51

AB

4,50

0

EJ

7,44

D

10

25
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

ONDE OS RECURSOS DO PROGRAMA ABC FORAM USADOS EM 2012/13
RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS
A recuperação de pastagens, com R$ 1,4 bilhão desembolsado entre julho de
2012 e fevereiro de 2013, apresentou o maior número de contratos aprovados nos
estados de Minas Gerais e São Paulo, com participação de 22% e 16% no total de
contratos, respectivamente.

SHUTTERSTOCK

O quadro de distribuição dos recursos reflete o mesmo comportamento observado na safra 2011/12: grande parte do dinheiro não foi alocada em áreas prioritárias para a recuperação de pastos, principalmente as regiões Norte e Nordeste,
conforme a distribuição espacial das pastagens degradadas no País (com índice de
unidades animais por hectare, ou UA, menor do que 0,7) da Figura 5. Em contrapartida, grande parte dos recursos do Programa ABC foi destinada para municípios da região Centro-Oeste, corroborando com seu maior efetivo bovino do País
(34,4% do total) e, também, por apresentar áreas consideráveis de pastos degradados (Figura 13) em alguns municípios que tomaram o recurso.

26

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
figura 13 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para a recuperação
de pastagens no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA RECUPERAÇÃO
(MILHÕES DE REAIS)

até 0,5
0,5 a 2,0
2,0 a 8,0	
8,0 a 18,6
Ano Safra 2012/13

0

185

370

740
KM

27
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO
Para a FBN, a aderência por parte dos produtores foi muito baixa na safra 2012/13
até fevereiro de 2013, com os poucos contratos concentrados nos estados de São
Paulo e Minas Gerais. Em São Paulo, foram desembolsados 89% do total de recurso
(R$ 1 milhão) (Figura 14).

figura 14 Distribuição espacial dos municípios com financiamento
para a FBN no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até .fevereiro
de 2013 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA FIXAÇÃO
BIOLógica
(REAIS)

120.000	
0

40 80

160
KM

1.000.000
Ano Safra 2012/13

PLANTIO DIRETO (SPD)
Para o SPD, a maior parte do recurso foi para os estados de São Paulo (R$ 45
milhões), Bahia (R$ 25 milhões), Rio Grande do Sul (R$ 20 milhões), Mato Grosso
(R$ 15 milhões), Minas Gerais e Goiás (ambos com R$ 11 milhões) e Paraná (R$ 10
milhões). No Nordeste, apenas os estados da Bahia, Maranhão e Piauí captaram
recurso do Programa ABC para SPD, sendo que os três estados representaram 22%
do total desse recurso desembolsado no País na safra 2012/13 (até fevereiro de
2013), mas a Bahia sozinha representou 16% dessa participação. No Norte, apenas

28

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
o estado do Tocantins captou esse recurso, mas com apenas 1% de participação
nacional (Figura 15). Nesta safra, até fevereiro de 2013, foram desembolsados cerca
de R$ 160 milhões.
figura 15 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o
SPD no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA PLANTIO DIRETO
(MILHÕES DE REAIS)

até 0,5
0,5 a 1,0
1,0 a 1,5	
1,5 a 9,4
Ano Safra 2012/13

0

195

390

780
KM

29
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA
Na linha de financiamento ABC Integração, o desembolso até fevereiro 2013 foi
de R$ 52 milhões, tendo ficado os estados de Rio Grande do Sul, Mato Grosso e
Paraná com os maiores volumes de recurso desembolsados (Figura 16).

figura 16 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o ABC
integração no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA INTEGRAÇÃO
(MILHÕES DE REAIS)

até 0,2
0,2 a 0,5
0,5 a 1,0	
1,0 a 3,0
Ano Safra 2012/13

0

30

185

370

740
KM

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
FLORESTAS PLANTADAS
Minas Gerais aparece com 43% do total desembolsado, seguido pelo estado de
São Paulo, com 23%, e Paraná, com 11% desse total. A concentração do recurso foi
maior em alguns municípios no sul e leste de São Paulo, leste de Minas Gerais, norte
do Espírito Santo e sul de Mato Grosso do Sul (Figura 17).

figura 17 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para Florestas
Plantadas no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA FLORESTAS
(MILHÕES DE REAIS)
0

120 240

480
KM

até 0,1
0,1 a 0,3
0,3 a 1,0	
1,0 a 9,1
Ano Safra 2012/13

31
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

TRATAMENTO DE DEJETOS ANIMAIS
Minas Gerais representou 50% do total de recurso do Programa ABC para esta
ação na safra 2012/13, com aproximadamente R$ 3,1 milhões desembolsados e recursos concentrados na sua porção centro-sul. O Paraná contribui com 32% do total
de recurso desembolsado (R$ 2 milhões), concentrados, principalmente, no norte e
sul do estado. Santa Catarina aparece com um contrato apenas (Figura 18).

figura 18 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o tratamento
de dejetos no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB)

VALOR CONTRATADO
PARA TRAT. DE
DEJETOS
(MIL REAIS)

até 100
100 a 200
200 a 500	
0

32

E S T UD O III

75 150

300
KM

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC

500 a 1.000
Ano Safra 2012/13
DESEMPENHO DOS AGENTES FINANCIADORES POR
MUNICÍPIO NO Ano safra 2012-2013
Analisando os municípios tomadores do crédito do Programa ABC via BB (878
municípios), observa-se uma grande concentração de contratos efetuados nas regiões Sul e Sudeste, mas, ainda assim, com algumas lacunas, principalmente no norte
de Minas Gerais e na região dos Pampas no Rio Grande do Sul. A região CentroOeste, com o maior efetivo bovino do Brasil, apresenta grandes lacunas nos estados
do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Novamente, é importante salientar a baixa participação do Norte e Nordeste
na tomada de crédito para as práticas agropecuárias do Programa ABC. Sugere-se
que o BB estabeleça uma força-tarefa nestas duas regiões deficitárias em relação
ao montante nacional de municípios tomadores desse crédito, com priorização do
programa e divulgação dos seus benefícios, como o efeito poupa-terra na região da
Amazônia Legal e a diminuição da dependência de insumos agrícolas com a adoção
de sistemas integrados com plantas leguminosas ou a adoção da FBN.
Apenas cinco municípios desembolsaram recursos via BNDES para o Programa
ABC entre julho de 2012 e fevereiro de 2013, o que confirma a grande dificuldade e
risco dos agentes financeiros em repassar tais recursos via BNDES, como apontado
em estudos anteriores (Observatório ABC, 2013; GVces, 2013). O município de Alto
Paraíso de Goiás desembolsou contratos via BNDES totalizando o valor de apenas
R$ 180 mil; Aparecida do Taboado (MS) desembolsou R$ 587 mil; Araçatuba e Tabapuã (SP) desembolsaram R$ 143 mil e R$ 146 mil, respectivamente; e Loanda (PR),
R$ 1,6 milhão, totalizando apenas aproximadamente R$ 2,7 milhões nesta safra até
fevereiro.
O Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste também participou
ativamente do ABC neste ano safra, cobrindo algumas lacunas de desembolso via
BB e BNDES em sessenta e quatro municípios, principalmente no oeste do Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul. Os contratos aprovados via FCO até fevereiro somam
R$ 113.8 milhões. O maior tomador do crédito para práticas agropecuárias preconizadas no Programa ABC foi Campo Grande-MS (R$ 27 milhões).
O mapa ao lado mostra os municípios que acessaram o recurso via BB, via FCO
(distribuído pelos bancos regionais) e via BNDES em 2012-2013. Não há dados espaciais disponíveis para os anos-safra anteriores (Figura 19).

33
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

figura 19 Distribuição espacial dos municípios contemplados pelo
Programa ABC e fontes dos recursos na safra 2012/13 até 15/02/2013 (BB)

0

210

420

840
KM

★

CONTRATOS BB

◆

CONTRATOS FCO
CONTRATOS BNDES

▲

CONTRATOS BB E FCO

✱

CONTRATOS BB E BNDES
TOTAL: 908 MUNICÍPIOS
Ano Safra 2012/13

34

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
O ABC E A RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS:
POUCO ALCANCE

E

ste estudo realizou o levantamento municipal do valor contratado para a
recuperação de pastagens utilizando o recurso do Programa ABC, bem
como a sua área total de pastagens degradadas (de acordo com estudos da Embrapa, considerou-se degradadas pastagens com UA menor do
que 0,7) para as safras 2011/12 e 2012/13. Sabendo-se que, para a recuperação de pastagens, o custo médio da operação varia, em média, entre R$ 300,00
e R$ 700,00 por hectare, foi feito um ranking municipal de alcance do Programa
ABC, dividindo o total de recurso alocado para a recuperação de pastos no município pela área total de pastagem com UA menor do que 0,7 em cada município
tomador do crédito. Essa análise não nos permite dizer se o crédito foi insuficiente
ou excedente para recuperar a área de pasto da propriedade em si que recebeu o
crédito, uma vez que não se teve acesso a essa área de pastagem de cada propriedade tomadora do crédito.
Para ambas as safras, nota-se que a esmagadora maioria dos municípios com
pastagens degradadas não tomou ou tomou pouquíssimo recurso para a recuperação, visto que o valor contratado por hectare de pasto degradado do município foi
muito baixo. Na safra 2011/12, apenas seis municípios apresentaram valores contratados por hectare compatíveis com os valores necessários para a recuperação de
todos os seus pastos (Tabela 4).

Tabela 4 Municípios tomadores do recurso do Programa ABC para a recuperação
de pastagem na Safra 2011/12 com suas respectivas áreas de pastagem degradada
(UA < 0,7), número de contratos, valor contratado e valor contratado por área
de pasto degradado
UF

Município

Área DE
pastagem (ha)

UA/ha

nO DE
contratos

Valor
(R$)

Valor/área DE pasto
degradado R$/ha

MG

Fortaleza de Minas
Onça de Pitangui
Rio Sono
Brasilândia do Tocantins
São Joaquim
Pirassununga

1.120
1.219
2.166
1.151
1.131
928

0,47
0,48
0,24
0,70
0,51
0,59

1
1
3
3
9
2

331.970
400.000
1.499.346
836.615
1.663.041
1.999.944

296,36
328,16
692,22
726,95
1.470,50
2.154,43

MG
TO
TO
SC
SP

Somando-se todas as áreas de pastagens com taxa de lotação menor do que 0,7
UA no Brasil, temos o valor de 52 milhões hectares e levando-se em consideração
que o Programa ABC visa recuperar 15 milhões de hectares até 2020, seria necessário o investimento de R$ 4,5 bilhões para o limite inferior de R$ 300,00/ha para
a recuperação do pasto, o que equivale a R$ 450 milhões por ano de operação do
Programa ABC (de 2010 a 2020); e de R$ 10,5 bilhões para o limite superior de R$

35
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

700,00/ha, o que equivale a R$ 1,05 bilhão por ano entre 2010 e 2020, conforme
valores descritos na literatura.
No ano safra 2012/13, foi desembolsado, até abril de 2013, R$ 1,4 bilhão para
a recuperação de pastagens, mas este valor ainda está muito pulverizado em diversos municípios, fazendo com que a eficiência do programa seja baixa. O ideal
seria investir o recurso do ABC para a recuperação de pastagens de uma forma
planejada, com o dinheiro sendo alocado, primeiramente, em áreas com alto grau
de degradação, para posteriormente ser aplicado em pastagens com médio e baixo
grau de degradação. Para isso, é necessário que, em curto prazo de tempo, as áreas
de pastagens degradadas e/ou com baixo potencial produtivo sejam identificadas
em todos os estados brasileiros e que seja elaborado o zoneamento das pastagens,
visando identificar áreas prioritárias para a sua recuperação.
Agrupando-se os municípios de acordo com a sua taxa de lotação, também se
verifica um baixo alcance na alocação do recurso do Programa ABC para a recuperação de pastagens (Tabelas 5 e 6). Em média, foram alocados R$ 2,72 por hectare,
na safra 2011/12, e R$ 5,25 por hectare, na safra 2012/13.
Tabela 5 Valor contratado do Programa ABC para
recuperação de pastagens na safra 2011/12 por faixas de taxa
de lotação, com seu respectivo valor contratado por área
de pasto degradado
Taxa de
lotação

Área de
Pasto (ha)

Valor
(R$)

nO
contratos

Valor / área
(R$/ha)

0,0 - 0,1
0,1 - 0,2
0,2 - 0,3
0,3 - 0,4
0,4 - 0,5
0,5 - 0,6
0,6 - 0,7
Total

780.579
1.660.086
4.591.399
6.501.900
8.988.377
10.223.809
19.578.175
52.324.324

1.384.510
509.560
8.544.001
21.200.072
18.766.753
34.557.715
57.476.646
142.439.257

3
4
22
46
55
79
165
374

1,77
0,31
1,86
3,26
2,09
3,38
2,94
2,72

Tabela 6 Valor contratado do Programa ABC para recuperação
de pastagens na safra 2012/13 (até fevereiro de 2013) por faixas
de taxa de lotação, com seu respectivo valor contratado por
área de pasto degradado
Taxa de
lotação

E S T UD O III

Valor
(R$)

nO DE
contratos

Valor / área
(R$/ha)

0,0 - 0,1
0,1 - 0,2
0,2 - 0,3
0,3 - 0,4
0,4 - 0,5
0,5 - 0,6
0,6 - 0,7
Total

36

Área de
Pasto (ha)

780.579
1.660.086
4.591.399
6.501.900
8.988.377
10.223.809
19.578.175
52.324.324

2.299.807
6.771.579
20.880.495
33.707.889
42.524.397
43.336.434
125.016.864
274.537.464

4
17
49
74
112
143
375
774

2,95
4,08
4,55
5,18
4,73
4,24
6,39
5,25

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
QUANTO A UNIÃO INVESTE
NO PROGRAMA ABC

E

m sua origem, o Programa ABC teria de ter seus recursos desembolsados
por um único operador, o BNDES, que repassaria o dinheiro às demais
instituições financeiras. Porém, para dar velocidade ao programa – que,
em seu primeiro ano (2010) sob o BNDES, teve desembolso zero –, o
governo federal descentralizou a distribuição dos recursos. O BB passou
a operar o ABC, usando, para isso, recursos próprios, da Caderneta de Poupança
Rural. O Ministério da Fazenda ficou autorizado a pagar a equalização dos encargos
financeiros ao BB, ou seja, a diferença entre o custo de captação de recursos e os
encargos cobrados do produtor. Esta ação permitiu desembolsos simultâneos do
BB e do BNDES – via demais instituições financeiras –, diversificando as fontes de
recursos disponíveis para viabilizar o financiamento para o ABC, em menor tempo.
Além disso, os fundos constitucionais, a partir da safra 2011/12, iniciaram o reporte de desembolso de recursos destinados às finalidades do Programa ABC, porém seguindo procedimentos padrão aplicáveis ao FCO, FNO e FNE.

* Maiores informações sobre
o cálculo estão disponíveis na
versão completA do estudo no
www.observatorioabc.com.br

A compensação de taxa de juros arcada pelo Tesouro Nacional, por meio do
método de equalização, tem um custo para a União. Hoje, não há estimativas oficiais
sobre este custo. Como contribuição ao debate, este estudo calculou o investimento em equalização em cerca de 46,6% do valor total desembolsado, considerando
os recursos originários da Poupança Rural do BB* (Figura 20 e 21).
Para garantir a eficiência máxima na alocação desses recursos, é preciso desenvolver indicadores que relacionem a quantidade de dinheiro dispendido e o custo
da tonelada de emissões de CO2 equivalente (t CO2 eq.) mitigada – e levar em conFigura 20 Custo para a União com a política de equalização
do diferencial de taxas de juros de captação e a taxa paga
pelo tomador final (R$ BILHÃO)
R$ 2,5
R$ 2,0
R$ 1,5
48%

R$ 1,0
R$ 0,5
R$ 0

43%

2011/12
VALOR CONTRATADO BB - POUPANÇA RURAL

2012/13
CUSTO DE EQUALIZAÇÃO APROXIMADO (VPL)

37
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

Figura 21 Custo para a União com a política de equalização
do diferencial de taxas de juros de captação e a taxa paga
pelo tomador final nas safras 2011/12 e 2012/13

46,6%

R$ 3.479.542
R$ 1.620.646

VALOR TOTAL CONTRATADO
(BB - POUPANÇA RURAL)

CUSTO TOTAL DE EQUALIZAÇÃO
APROXIMADO (VPL)

sideração o montante destinado à equalização da taxa de juros.
Um exemplo de aresta a aparar é a inserção do ABC Orgânico no programa.
Este modelo de produção não é cientificamente comprovado como mitigador de
carbono. Assim, sua contabilização implicará o encarecimento da t CO2 eq. mitigada por meio das demais técnicas preconizadas no Programa ABC e, portanto,
diminuirá a eficiência do programa. Mesmo sabendo que, hoje, ele representa cerca
de 1% dos valores desembolsados, na medida em que o programa evolua, o ABC
Orgânico não poderá ser contabilizado na redução de emissões. Nesse sentido, as
atividades financiadas pelo ABC Orgânico devem ser atendidas por outra linha de
financiamento.
Além disso, há casos semelhantes quando, em momentos pontuais e por meio
de portarias, o Governo autoriza o financiamento de outras atividades com recursos
do Programa ABC. Este é o caso do ABC Dendê e, também, dos recursos que foram
destinados à produção de arroz irrigado na safra 2011/12. É evidente a necessidade
de proteção às práticas preconizadas no Plano ABC, sendo crucial que nenhuma
prática comprovadamente não mitigadora de GEE seja financiada com os recursos
do Programa ABC. Para o sucesso deste, tanto em termos econômicos, quanto ambientais, a questão do monitoramento torna-se, novamente, crucial.
Outra questão é a competitividade entre as linhas de investimento que possuem
finalidades semelhantes às do Programa ABC. A tomada de recurso do Programa
ABC mostra-se mais burocrática e trabalhosa por conta da exigência de elaboração
de um projeto técnico sistêmico – que alinhe produtividade e mitigação de GEE –
em comparação à maior simplicidade para a tomada de recursos das demais linhas
de investimento que são orientadas apenas por uma lista de itens financiáveis.
As linhas de investimento Moderfrota (Programa de Modernização da Frota de
Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras), Moderinfra (Pro-

38

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
SHUTTERSTOCK

grama de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem) e Moderagro (Programa de Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos Naturais), que financiam alguns itens sinergéticos com projetos do Programa ABC, apresentam, do ano safra
2011/12 para o 2012/13, uma redução das taxas de juros.
Nas safras 2010/11 e 2011/12, a taxa de juros das linhas de investimento Moderinfra e Moderagro era de 6,75% e a do Moderfrota, 9,5%, garantindo a competitividade do Programa ABC com taxa de juros a 5,5%. Já, na safra 2012/13, a taxa
de juros do Programa ABC caiu para 5%, mas, em contrapartida, a dos programas
Moderinfra, Moderfrota e Moderagro também sofreu redução, caindo para 5,5%. O
Programa ABC, apesar de apresentar juros mais baixos, requer do tomador do cré-

39
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

dito exigências ambientais mais rigorosas e a apresentação de um projeto técnico
elaborado, o que pode reduzir o apetite dos produtores pela linha. O mesmo ocorre
com as taxas dos fundos constitucionais, que apresentam juros bem mais atrativos
aos produtores rurais da região.
Abaixo, é apresentada a relação entre taxas de juros para o Programa ABC e o valor presente líquido correspondente à equalização de taxas por montante contratado
pelos produtores rurais. Pode-se observar que quanto menor a taxa fixada, maior será
o investimento da União para a política de equalização. Vale ressaltar que os benefícios ambientais oriundos da implantação das tecnologias preconizadas no Programa
ABC não são comtemplados quantitativamente nesta equação (Figura 22).
Em situação hipotética, em que as reduções reais de emissão dessa política
superem as metas estabelecidas, é razoável que a agropecuária brasileira pleiteie
recursos adicionais – potencialmente, na forma de créditos de carbono – para o
financiamento do ABC, já que estaria reduzindo emissões de outros setores ou países. Esse benefício poderia ser repassado aos produtores que tiveram desempenho
acima das metas, por meio de taxas de juros mais agressivas ainda. Evidentemente
que, para que isso aconteça, será necessário metas definidas para o produtor, assim
como um sistema de monitoramento capaz de medir emissões por propriedade.

VPL DE EQUALIZAÇÃO/R$ 1.000 CONTRATADO

Figura 22 Relação entre taxas de juros para o Programa ABC e o
valor presente líquido correspondente à equalização de taxas
por montante contratado pelos produtores rurais
1000

800

600

400

200

0
0	 1	 2	 3	 4	 5	 6	 7	 8	 9	 10	11	12	13
TAXA DE JUROS DO PROGRAMA ABC (%a.a.)
-200

40

E S T UD O III

A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
6

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O financiamento para o desenvolvimento da agricultura de baixa emissão de carbono tem avançado, permitindo aos agricultores adotarem sistemas e técnicas que,
além de mitigarem a emissão de GEE, elevam a produtividade de sua propriedade,
otimizando o retorno financeiro. No entanto, é preciso mudar o paradigma do crédito rural. O modelo de concessão de crédito reinante trabalha objetivamente com
itens financiáveis, não atrelados a uma política estruturante, que financie sistemas
produtivos, como deve ser o Programa ABC. Assim, necessita-se de um novo modelo de crédito, aliado à capacitação técnica dos analistas responsáveis por aprovar
os projetos.
O BB é o grande protagonista do Programa ABC, ao passo que o BNDES tem papel
marginal no desembolso dos recursos, em grande parte por conta da rigidez das normativas e falta de capacitação de seus analistas de crédito. É preciso revisar o papel
estratégico de envolvimento do BNDES nesta modalidade de financiamento, dada a
urgência do processo de transformação do setor agropecuário.
Os fundos constitucionais têm contribuído para o financiamento da agricultura de
baixa emissão de carbono junto aos produtores das regiões Norte e Centro-Oeste.
Porém, quando observada a distribuição espacial do recurso que já foi desembolsado via Programa ABC, constata-se que as regiões de maior prioridade na adoção
das práticas preconizadas no Programa não estão sendo atendidas de forma eficiente. É crucial que o setor financeiro, o Governo e os estados somem esforços para
fomentar a transição destas áreas.
Após a política de redução da taxa de juros do crédito agrícola, o Programa ABC
vem perdendo competitividade em relação às demais linhas de investimento. Isso
pode ser um incentivo perverso, já que o produtor rural pode optar por outras linhas
de investimento que não o Programa ABC, não precisando transpassar as dificuldades de elaboração de projetos e a maior burocracia atrelada ao programa.
Ao definir anualmente os critérios da linha de crédito, o Governo deve assegurar ao
Programa ABC uma taxa de juros atrativa suficiente e capaz de estimular a tomada
de crédito por ele em detrimento das demais linhas.
O subsídio ao Programa ABC via equalização da taxa de juros traz custos para a
União (cerca de 46,6% do total contratado), mas gera benefícios ambientais importantes para o Brasil e o mundo, como a redução de emissões de gases do GEE, o
que o torna um investimento. E, se a taxa de juros do Programa ABC for reduzida
– como recomendado –, este investimento deve crescer ainda mais. Por isso, é urgente que se estabeleça um processo de monitoramento eficaz da mitigação efetivada pelas práticas agrícolas do programa, para avaliar o sucesso e continuidade

41
OBSERVATÓRIO ABC

Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

da linha de financiamento. Também é imprescindível que a incorporação de novas
técnicas agrícolas ao Programa ABC obedeça estritamente o principal objetivo do
Plano ABC, que é a mitigação de GEE.
Para a elaboração do Plano ABC de Minas Gerais (coordenado pelo governo estadual, com a participação de diversos órgãos municipais, estaduais e federais, agentes
financeiros e de pesquisa), foi feito um trabalho árduo de divulgação do Plano ABC
federal, por meio de seminário de sensibilização, eventos, cursos de capacitação e
formação de grupos técnicos de trabalho. Todas estas ações para a composição do
Plano ABC estadual refletiram na utilização dos recursos destinados ao Programa
ABC pelo estado, sendo Minas Gerais o campeão na utilização desse recurso nas
safras 2011/12 e 2012/13. É preciso que os estados que ainda não publicaram seus
Planos o façam, principalmente os das regiões Norte e Nordeste.

SHUTTERSTOCK

Os recursos do Programa ABC para a recuperação de pastagens ainda estão muito
pulverizados, fazendo com que o alcance do programa seja baixo em quase todo o
Brasil. O correto seria investir o recurso do ABC para a recuperação de pastagens
de uma forma planejada, com o dinheiro sendo alocado, primeiramente, em áreas
com alto grau de degradação, para, posteriormente, ser aplicado em pastagens
com médio e baixo grau de degradação. Para isso, é necessário que, em curto prazo
de tempo, as áreas de pastagens degradadas e/ou com baixo potencial produtivo
sejam identificadas em todos os estados brasileiros e seja elaborado o zoneamento
das pastagens, visando identificar áreas prioritárias para a sua recuperação.

42

E S T UD O III

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Plano abc
www.observatorioabc.com.br

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  • 1. Agricultura de Baixa Emissão de Carbono: Financiando a transição Análise dos recursos do Programa ABC SUMÁ RIO EXEC UT IV O O relatório completo deste estudo está disponível no www.observatorioabc.com.br
  • 3. S umári o apresentação 1. PRINCIPAIS CONCLUSÕES DESTE ESTUDO 2. EVOLUÇÃO DAS LINHAS DE CRÉDITO DO PROGRAMA ABC (2010-2013) 3. DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS DO PROGRAMA ABC POR SAFRA 4. O ABC E A RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS: POUCO ALCANCE 5. QUANTO A UNIÃO INVESTE NO PROGRAMA ABC 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Ex p e d ie n t e Projeto: Observatório ABC Aliança pelo Clima e Uso da Terra (CLUA) Apoio: Fundação Getulio Vargas Centro de Agronegócio, Escola de Economia de São Paulo Organização Responsável: Coordenador do GV agro: Roberto Rodrigues Coordenação do Projeto: Angelo Costa Gurgel Cecília Fagan Costa Felippe Serigati Equipe Técnica do ESTUDO: Fernanda Casagrande Rocha Guarany Ipê do Sol Osório Mario Monzoni Susian Christian Martins ColaboradorES: Eduardo Delgado Assad Sérvio Túlio Prado Júnior edição do texto: Claudio Ângelo Projeto gráfico: Vendo Editorial Designer: Marcius Marques Imagens: Shutterstock Impressão: Pigma 4 6 10 12 35 37 41
  • 4. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono AP RE S ENTA ÇÃ O A mudança no clima do planeta se apresenta como um dos maiores desafios da humanidade no presente século. Os riscos que essa mudança traz para o bem-estar dos indivíduos, para as economias das nações e para o equilíbrio do planeta impõem a necessidade de ações urgentes e duradouras de mitigação desse problema. Nesse contexto, o Brasil assumiu internacionalmente o compromisso de reduzir suas emissões de gases causadores do chamado efeito estufa. Parte considerável desse compromisso precisa ser atendida pela agricultura brasileira, o que aumenta a responsabilidade da mesma para além do fornecimento de alimentos, matérias-primas, energia e de equilíbrio da balança comercial. O setor agropecuário brasileiro tem plenas condições de responder a esse chamado. Possuímos conhecimento científico e tecnológico de práticas sustentáveis e grande potencial de aumentar o aproveitamento dos nossos recursos naturais e insumos produtivos. Contudo, o agricultor necessita adotar práticas e métodos de produção que considerem um paradigma de sistemas produtivos integrados e sustentáveis, a chamada agricultura de baixa emissão de carbono, ou agricultura ABC. Diante dessa necessidade, uma boa notícia é clara: o Programa ABC, instrumento pelo qual os agricultores brasileiros podem tomar crédito para as ações previstas no Plano ABC, foi plenamente incorporado ao crédito agropecuário brasileiro. Os recursos disponibilizados à agricultura de baixa emissão de carbono crescem a cada ano, bem como a sua captação pelos produtores, evidenciando esforços das instituições responsáveis pela distribuição dos recursos e de entidades preocupadas com o treinamento e engajamento de técnicos e agricultores com o Plano. Apesar das boas notícias, é necessário avaliar qual tem sido a efetividade deste programa. Será que os recursos disponíveis estão chegando aos produtores? Será que os produtores que têm contratado este crédito são aqueles que realmente mais precisam desse recurso? A distribuição espacial dos recursos pelo território brasileiro tem sido condizente com o potencial de redução de emissões dos diferentes estados? Será que os créditos concedidos foram alocados para atividades que efetivamente capturam carbono? Estas são algumas das questões analisadas neste terceiro estudo publicado pelo Observatório do Plano ABC. Enquanto o primeiro relatório apresentou um diagnóstico do Plano ABC, discutindo os principais avanços realizados e limitações encontradas, o segundo estudo apontou fatores críticos para a governança do Plano. Este terceiro estudo, que encerra a primeira série de trabalhos publicados pelo Observatório, apresenta um panorama de onde e de quais atividades propostas pelo Plano ABC são financiadas, bem como indicativos do seu alcance e de seus custos. Fundamental para a realização do presente trabalho, bem como dos anteriores, tem sido o apoio da CLUA (Aliança pelo Clima e Uso da Terra). Também, o esforço de todos os participantes da equipe do projeto, e a contribuição de diversas instituições e pessoas que ajudaram ao longo deste ano com o fornecimento de informações, dados, sugestões, comentários e participação ativa nos eventos promovidos pelo Observatório. A todos, o nosso muito obrigado! Esperamos que continuem contribuindo para que o Observatório do Plano ABC possa cumprir seu papel de influenciar o aprimoramento e efetividade dessa importante política. Roberto Rodrigues Coordenador do GV agro 4 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 6. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono PRINCIPAIS CONCLUSÕES DESTE ESTUDO O Programa ABC, instrumento pelo qual os agricultores brasileiros podem tomar crédito para as ações previstas no Plano ABC, foi plenamente incorporado ao crédito agropecuário brasileiro. Ele teve um salto de dotação de R$ 2 bilhões, no ano safra 2010/11, para R$ 4,5 bilhões, em 2013/14. Sua execução subiu de zero, em 2010, para R$ 418,5 milhões, em 2011, e R$ 2,7 bilhões, até maio de 2013. O Banco do Brasil (BB) é o grande agente financiador das práticas preconizadas pelo Programa ABC. Na safra 2012/13, do total de recursos contratados para execução do programa (até maio de 2013), 87,9% foram de responsabilidade do BB e apenas 12,1%, do BNDES. O BB tem se esforçado para fazer deslanchar o programa usando recursos próprios, provenientes da Poupança Rural. Isso tem permitido executar financiamentos além da sua programação – R$ 905,5 milhões a mais somente na safra 2012/13. O avanço do BB no desembolso do ABC deveu-se, principalmente, a iniciativas como a capacitação dos agentes financeiros (em parceria com a CNA), com o apoio de cartilha que os orienta, e posterior treinamento dos principais atores envolvidos no processo de tomada do crédito (agentes financeiros, cooperativas, etc.), em cada estado, por técnicos do BB. A aprovação dos projetos no âmbito do ABC está ocorrendo conforme a legislação ambiental estadual, flexibilizando, em parte, o maior entrave dessa operação, uma vez que, em alguns casos, para a aprovação destes projetos, o uso da legislação federal é mais rígido. O BNDES segue tendo dificuldade em expandir o financiamento do Programa ABC, como apontado em estudos anteriores, apesar da sua potencial capilaridade. Segundo o banco, parte da razão está no rigor em relação ao licenciamento ambiental, não admitindo as legislações ambientais estaduais e municipais em substituição à legislação federal. Entre julho de 2012 e fevereiro de 2013, 878 municípios captaram recursos do Programa ABC via BB e apenas cinco captaram via BNDES. Os bancos privados têm demonstrado pouco interesse no Programa ABC. No ano safra 2011/12, do R$ 1,51 bilhão utilizado, R$ 1,2 bilhão foi executado pelo BB e apenas R$ 316,3 milhões, repassados pelas demais instituições financeiras – públicas e privadas – com recursos do BNDES. A baixa participação dos bancos privados deveu-se ao alto risco das operações envolvidas no Programa ABC, em especial: (i) a longa maturidade da operação (até quinze anos para amortização da dívida); (ii) o difícil acesso a informações por parte dos órgãos ambientais competentes, como, por exemplo, a situação da regularização ambiental do proponente; e (iii) o alto custo de transação para a tomada do crédito ABC junto ao BNDES. Todos esses riscos das operações realizadas pelos bancos privados não 6 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 7. são compartilhados com o BNDES, uma vez que o risco das operações do ABC é integralmente da instituição bancária que repassou o recurso, caso o BNDES desclassifique a operação. O uso da Poupança Rural pelo BB para financiar ações do Programa ABC foi crucial para deslanchar a execução do programa, mas tem um investimento embutido que é pago pela União, na forma de equalização de juros em relação aos juros de mercado. Tal investimento é oculto, mas precisa ser considerado para efeito do cálculo do valor da tonelada de carbono mitigada pelo ABC. Este estudo calculou em 43% do total desembolsado o investimento de equalização de juros, na safra 2011/12, e 48%, na safra 2012/13. O fato de o subsídio representar metade do valor do desembolso torna mais urgente a necessidade de monitoramento do ABC, já que esta é uma conta que está sendo paga por toda a sociedade – e, até agora, não se sabe quanto carbono está efetivamente sendo abatido. SHUTTERSTOCK A recuperação de pastagens degradadas é a principal linha de crédito do programa, concentrando 80,32% dos empréstimos feitos no ano safra 2012/13. No entanto, a distribuição do recurso ainda é excessivamente concentrada em poucas regiões, principalmente no Centro-Sul do País. Grande parte dos municípios com pastagens degradadas, principais alvos do programa, não captou nenhum recurso do ABC, como, por exemplo, Macururé-BA e Centro Novo do Maranhão-MA. 7
  • 8. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono O quadro de distribuição dos recursos do Programa ABC para os anos-safra 2011/12 e 2012/13 mostra que grande parte dos recursos não foi alocada em áreas prioritárias para a recuperação de pastos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. De modo geral, os estados do Sul e do Sudeste concentram o maior número de contratos e os do Centro-Oeste, o maior volume de recursos. Isso fica claro em dois estudos de caso, os dos estados de Minas Gerais e Pará. Minas, que possui o seu Plano ABC consolidado e publicado, é o principal tomador do crédito do Programa ABC para recuperação de pastagens e florestas plantadas, o segundo para tratamento de dejetos e está sempre em posições de destaque nas demais técnicas do programa. Já o estado do Pará, campeão de emissões de CO2 por desmatamento e dono de uma das maiores áreas com pastagens degradadas no País, teve, na safra 2011/12, um desembolso para as práticas agropecuárias do Programa ABC baixo, chegando a apenas R$ 30,7 milhões (2,53% do total) e, na safra 2012/13, a pouco mais de R$ 52 milhões (1,9% do total) até maio de 2013. O principal entrave para a captação do recurso do Programa ABC no Pará é devido, principalmente, ao grande desconhecimento das práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis por parte dos produtores, como, por exemplo, a integração lavourapecuária-floresta, bem como dos processos de tomada do recurso do Programa ABC. As questões fundiárias e ambientais ainda em processo de regularização também acabam sendo entraves significativos para a captação dos recursos ABC, bem como a burocracia para a aprovação do projeto para a tomada do recurso junto aos agentes financeiros. O alcance do Programa ABC, em geral, é baixo: considerando o total de pastagens degradadas no País, em média, foram alocados R$ 2,72 por hectare de pastagem degradada, na safra 2011/12, e R$ 5,25 por hectare de pastagem degradada, na safra 2012/13, no Brasil, enquanto o valor mínimo necessário, em média, é de R$ 300,00 por hectare, segundo cálculos da Embrapa. Tanto em 2011/12, quanto em 2012/13, apenas seis municípios do País com pastagens degradadas captaram recursos do programa em volume compatível com o necessário para promover a recuperação do total das suas pastagens degradadas. Estes municípios foram: safra 2011/12 – Fortaleza de Minas-MG, Onça de Pitangui-MG, Rio Sono-TO, Brasilândia do Tocantins-TO, São Joaquim-SC e Pirassununga-SP; e safra 2012/13 (até fevereiro de 2013) – Baião-PA, Ribeiro Gonçalves-PI, Urupema-SC, Uruçuí-PI e, novamente, Pirassununga-SP e São Joaquim-SC. O sistema de plantio direto, outra ação importante do ABC, ainda não decolou na principal fronteira agrícola do País, o chamado Mapitoba (que abrange partes dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). Segundo informação do BB, a safra 2011/12 teve 220 contratos do Programa ABC para esta linha, sendo apenas um no Tocantins; três no Piauí; e oito no Maranhão. A Bahia, com quatorze contratos, ficou ainda muito aquém do primeiro colocado, São Paulo (cinquenta e nove 8 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 9. contratos). O desempenho fraco repetiu-se em 2012/13, com o Mapitoba respondendo por apenas 23% do total desembolsado no País para plantio direto – com a Bahia respondendo, sozinha, por 16% do total nacional. A inclusão no Programa ABC de linhas de crédito para atividades que pouco ou nada têm a ver com redução de emissões de carbono (Resolução 3.949/2011 do Banco Central), até o momento, não teve grande impacto no total do recurso desembolsado, mas vem aumentando essa participação: o ABC Ambiental e o ABC Orgânico, que financiam práticas como o plantio de lavouras orgânicas, recuperação de áreas degradadas e de preservação permanente (práticas que não fazem parte do Plano ABC), corresponderam a apenas 0,28% do total de contratos aprovados em 2011/12, não comprometendo de forma significativa a quantidade de recurso que deve ser alocada para as práticas do Plano ABC visando o atingimento das metas de redução de gases de efeito estufa (GEE) divulgadas na Conferência do Clima de Copenhague (COP-15). Na safra 2012/13, o número de contratos nestas duas linhas foi significativamente maior e representou 1,44% do total do Programa ABC. Do ponto de vista do principal objetivo do Plano ABC, que é a redução das emissões de CO2 equivalente (eq.) na agropecuária brasileira, a inserção do crédito para a plantação de arroz irrigado, ocorrida na safra 2011/12, pode comprometer as metas do Plano ABC até 2020 caso venha a ocorrer novamente. A rizicultura é uma atividade emissora de metano, portanto, contrária à finalidade do Plano ABC, sendo a emissão de metano vinte e uma vezes mais prejudicial do que a emissão do carbono para o meio ambiente. Na safra 2011/12, os recursos para o plantio de arroz no Rio Grande do Sul corresponderam a R$ 2,8 milhões. Os fundos constitucionais, em especial o FCO e o FNO, desenvolveram linhas específicas também denominadas como Programa ABC, que financiam as mesmas finalidades do Programa ABC do BB e do BNDES. No entanto, aos produtores elegíveis a estas operações, a taxa de juros efetiva é substancialmente mais baixa, podendo variar de 3,53% a 4,12%, comparada aos 5% do ABC. Assim como a Poupança Rural, apesar dessas fontes de recursos serem bem-vindas ao financiamento do ABC no Brasil, elas não foram previstas na concepção do Programa ABC. Outra preocupação é com linhas de financiamento afins que possam “canibalizar” o Programa ABC. A tomada de recurso do ABC é mais burocrática e trabalhosa por conta da exigência de elaboração de um projeto técnico sistêmico – que alinhe produtividade e mitigação de GEE –, em comparação a outras linhas de investimentos, orientadas apenas por uma lista de itens financiáveis. Linhas como o Moderfrota, o Moderinfra e o Moderagro, que têm interseções com o Programa ABC, hoje, praticam juros de 5,5%, apenas um pouco mais altos do que os do ABC, mas com muito menos exigências técnicas e ambientais, o que pode reduzir o apetite dos produtores pela linha. O mesmo ocorre com os fundos constitucionais. 9
  • 10. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono EVOLUÇÃO DAS LINHAS DE CRÉDITO DO PROGRAMA ABC (2010-2013) A linha de crédito do Plano ABC, chamada Programa ABC, foi criada na safra 2010/11 pela Resolução BACEN nº 3.896, de 17/08/2010, e vem sofrendo alterações no que diz respeito à inclusão de alguns itens não contemplados inicialmente no Plano ABC. O Programa ABC foi instituído com recursos do Sistema BNDES e, hoje, também conta com recursos da Caderneta de Poupança Rural (MCR 6-4) do BB e de fundos constitucionais. O limite de crédito foi de R$ 1 milhão por beneficiário e por ano safra, independentemente de outros recursos concedidos ao produtor por meio do crédito rural, com taxa de juros a 5% a.a. na safra 2012/13. Os prazos para amortização da dívida vão de cinco a quinze anos. No ano safra 2010/11, o Programa ABC teve R$ 2 bilhões, com juros de 5,5% a.a. e uma execução de apenas 20% (R$ 418,5 milhões, quase tudo liberado entre janeiro e julho de 2011) (Tabela 1). Entre as causas dessa pequena execução, está o baixo conhecimento do programa por parte dos produtores, além das dificuldades operacionais enfrentadas pelo BNDES na distribuição dos recursos (Observatório ABC, 2013; GVces, 2013). Em 2011/12, a dotação do ABC foi aumentada para R$ 3,15 bilhões, após a incorporação dos Programas Produsa (R$ 1 bilhão) e Propflora (R$ 150 milhões) ao Programa ABC, com juros ainda a 5,5% a.a. Nessa safra, foram utilizados 48% dos recursos do Programa ABC, totalizando R$ 1,51 bilhão, o que corresponde ao aumento de 262% em relação à safra anterior. Estes dois programas disponibilizam linhas de crédito para atividades isoladas, como plantio de dendê, recuperação de áreas degradadas e incentivo ao cultivo de produtos orgânicos. Embora os Programas ABC, Produsa e Propflora apresentassem linhas financiáveis com grande sinergia, a sua fusão acabou misturando práticas agropecuárias de baixa emissão de carbono com outras não comprovadamente mitigadoras de emissão de GEE. Do ponto de vista do principal objetivo do Plano ABC, que é a redução das emissões de CO2 eq. na agropecuária brasileira, a inserção de outras linhas de financiamento não comprovadamente redutoras de emissões pode comprometer as metas do Plano ABC até 2020. Até o momento, no entanto, poucos recursos do Programa ABC têm sido efetivamente executados nas técnicas agrícolas remanescentes do Produsa e Propflora. Em 2012/13, o Programa ABC teve R$ 3,4 bilhões, com juros de 5% ao ano 10 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 11. – uma redução de 0,5% em relação ao ano safra anterior –, prazo máximo de pagamento de quinze anos e carência de seis anos. Até maio de 2013, haviam sido utilizados mais de R$ 2,5 bilhões (73,5% do programado). No Plano Safra 2013/14, lançado em junho de 2013, o Programa ABC teve um salto orçamentário: de R$ 3,4 bilhões para R$ 4,5 bilhões, com juros mantidos a 5% ao ano. Tabela 1 Programação e aplicação efetiva de recursos do Programa ABC nas safras 2010/11, 2011/12 e 2012/13 até maio de 2013 (R$ milhões) (Adaptado: SPA/MAPA e BB). PROGRAMA 2010/11 2011/12 2012/13 programado ABC BNDES BB APLICADO programado APLICADO programado APLICADO 2.000,00 418,50 304,90 113,60 3.150,00 2.300,00 850,00 1.526,10 310,00 1.216,10 3.400,00 1.900,00 1.500,00 2.736,60 331,10 2.405,50 SHUTTERSTOCK O BB aplicou mais recursos para o Programa ABC do que o programado nas safras 2011/12 e 2012/13. Isso foi possível graças à utilização de recursos próprios, provenientes da Poupança Rural. O avanço do banco no desembolso do ABC, mais evidente ainda na última safra, deveu-se, principalmente, a iniciativas como a capacitação dos agentes financeiros (em parceria com a CNA), com o apoio de cartilha que orienta os agentes sobre o financiamento para o Plano ABC, e posterior treinamento dos principais atores envolvidos no processo de tomada do crédito (agentes financeiros, cooperativas, etc.), em cada estado, por técnicos do BB. 11
  • 12. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS DO PROGRAMA ABC POR SAFRA 3.1 Ano safra 2011/12 Em 2011/12, foram assinados 5.038 contratos para o Programa ABC, sendo que 3.527 (70% do total) foram via BB e 1.511, via BNDES, por meio de outros agentes financeiros repassadores e fundos constitucionais. Juntas, as regiões Sul e Sudeste representaram 65,4% do total de projetos aprovados no BB na safra 2011/12, porém com valores médios por contrato (R$ 245 mil e R$ 314 mil, respectivamente) mais baixos do que os observados nas demais regiões, que variaram de R$ 451 mil a R$ 488 mil (Tabela 2). É importante salientar que os estados do Acre, Mato Grosso e Pará apresentaram os maiores valores desembolsados por contrato, denotando uma alta concentração do recurso. Tabela 2 Distribuição regional dos desembolsos do Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL na safra 2011/12 (Fonte: BB; Adaptado: SPA/MAPA). REGIÃO/ESTADOS Desembolso (MIL R$) no de contratos Valor médio dos contratos (MIL R$) Centro-Oeste 374.689 122.438 115.649 136.601 89.747 63.091 12.229 13.870 500 47 10 99.553 46.285 30.738 17.905 2.734 1.852 39 393.852 203.652 159.419 29.152 1.629 258.304 114.000 113.126 31.178 1.216.145 829 337 282 210 188 123 36 26 1 1 1 204 113 49 33 4 4 1 1.254 614 557 76 7 1.052 494 406 152 3.527 451,98 363,32 410,11 650,48 477,38 512,94 339,72 533,48 500,00 46,80 9,50 488,01 409,60 627,31 542,57 683,47 462,88 39,83 314,08 331,68 286,21 383,58 232,79 245,54 230,77 278,64 205,12 344,81 GO MS MT Nordeste BA MA PI CE PE AL Norte TO PA RO AC RR AP Sudeste MG SP ES RJ Sul PR RS SC total 12 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 13. O estado de Minas Gerais é campeão em número de contratos e de tomada de recursos do ABC. É líder em recuperação de pastagens e florestas plantadas, segundo colocado em tratamento de dejetos animais e está sempre em posição de destaque nas outras linhas do programa. A alternância da liderança entre os estados não refletiu necessariamente as necessidades agropecuárias de cada um, estando mais relacionada com uma boa governança do Plano ABC estadual, como no caso de Minas, que tem seu plano estatual ABC publicado e em operação. No outro extremo, está o Pará, estado que possui uma das maiores áreas com pastagens degradadas no País. Na safra 2011/12, o desembolso para as práticas agropecuárias do Programa ABC no Pará foi baixo, chegando a apenas 2,53% do total de desembolsos, e, na safra 2012/13, representou apenas 1,9% do total de projetos aprovados até maio de 2013. A baixa participação das regiões Norte e Nordeste no panorama nacional de contratações do ABC é o reflexo da escassez de assistência técnica, graves problemas fundiários, principalmente nos estados do Norte, comprometimento de grande parte dos produtores do Norte com o FNO (fundo constitucional para a região Norte) e comprometimento dos produtores do Nordeste com o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Os gráficos abaixo mostram a participação de cada estado no percentual de contratos e na quantidade de recursos tomados do programa (Figuras 1 e 2). PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DESEMBOLSADO (%) Figura 1 Porcentagem de participação de cada Estado no total de recurso desembolsado para o Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL na safra 2011/12 (bb). 18 MG 16 14 12 10 SP MT GO MS PR RS 8 6 4 BA TO SC PA ES 2 RO PI MA AC 0 RR RJ CE PE AP AL ESTADOS 13
  • 14. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono Figura 2 Porcentagem de participação de cada estado nos contratos aprovados para o Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL na safra 2011/12 (bb). PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE CONTRATOS (%) 20 18 16 14 12 10 8 6 MG SP PR RS GO MS MT SC 4 BA TO ES 2 PA 0 MA RO PI RJ AC RR CE PE AP AL ESTADOS SHUTTERSTOCK A recuperação de pastagens encabeça a lista de práticas agropecuárias financiadas, com 76% do total de contratos aprovados na safra 2011/12 (ABC Recuperação), principalmente no Centro-Sul do País (Figura 3). O SPD (sistema de plantio direto na palha) correspondeu a 6% do total de contratos aprovados, principalmente no oeste de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Mato Grosso e 14 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 15. sul do Maranhão; o plantio de florestas, a 7%, concentrados nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná; a iLP/iLPF/SAF (integração lavoura-pecuária-floresta), a 3%, principalmente no Rio Grande do Sul e Paraná; e o tratamento de dejetos animais, a menos de 1%. O ABC Ambiental e o ABC Orgânico, que financiam práticas que não fazem parte do Plano ABC, corresponderam a apenas 0,28% do total de contratos aprovados, não comprometendo de forma significativa a quantidade de recurso visando o atingimento das metas de redução de GEE. O FCO Natureza, que financia a regularização fundiária e ambiental e a implantação de sistemas produtivos e tecnologias voltadas à mitigação da emissão de GEE na região Centro-Oeste, representou 6% desse total. 80 76 70 60 50 40 30 20 3 0,6 0,17 EN AB C AM BI EJ D E 0,11 TA L S ET O /i LP AT .D RE AT U N O FC PF ZA D SP RE O FL iL TR RE C. D E PA S TA G EN S ST AS 0 O 6 IC 6 ÂN 7 O RG 10 AB C PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE CONTRATOS (%) Figura 3 Porcentagem de contratos aprovados pelo BANCO DO BRASIL na safra 2011/12 por linha de financiamento do Programa ABC (BB) ONDE OS RECURSOS DO PROGRAMA ABC FORAM USADOS EM 2011/12 RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS Na Figura 4, é apresentada a distribuição espacial dos municípios tomadores do crédito do Programa ABC para a recuperação de pastagens, com suas respectivas somas dos valores desembolsados. A Figura 5 mostra a distribuição espacial das pastagens degradadas no País (com índice de unidades animais por hectare, ou UA, menor do que 0,7). 15
  • 16. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono figura 4 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para a recuperação de pastagens no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB) VALOR CONTRATADO PARA RECUPERAÇÃO (MILHÕES DE REAIS) até 0,5 0,5 a 1,5 1,5 a 3,0 3,0 a 10,0 Ano Safra 2011/12 0 16 215 430 860 KM E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 17. figura 5 Distribuição espacial dos pastos degradados no Brasil, com taxas de lotação variando de 0,1 a 0,7 UA/ha/ano (BB) TAXA DE LOTAÇÃO (UA) ÁREA DE PASTO DEGRADADO (HA) 0,0 - 0,1 780.579 0,1 - 0,2 1.660.086 0,2 - 0,3 4.591.399 0,3 - 0,4 6.501.900 0,4 - 0,5 8.988.377 0,5 - 0,6 10.223.809 0,6 - 0,7 19.578.175 TOTAL 52.324.324 0 500 1.000 2.000 KM 17
  • 18. OBSERVATÓRIO ABC 1 Plano de Ação de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Agricultura de Baixa Emissão de Carbono O cruzamento do mapa de distribuição do recurso para recuperar pastos e do mapa de pastagens degradadas permite identificar lacunas importantes na aplicação do dinheiro do ABC para a recuperação de pastagens. O estado do Amazonas, por exemplo, não teve nenhum contrato assinado, e, nos demais estados amazônicos, a adesão foi baixa. Algumas regiões prioritárias para a recuperação de pastagens não foram atendidas: o sudoeste de Goiás; Gurupi, no sul do Tocantins; Norte Araguaia, no Mato Grosso, São Félix do Xingu, no Pará, e a porção centro-sul de Minas Gerais. Estas apresentam um alto efetivo bovino (2,0 a 3,5 milhões de cabeças de gado), combinado a grandes extensões de pastagens degradadas, e deveriam ser um dos focos principais do Programa ABC para a recuperação de pastagens. É importante destacar que a priorização da promoção do Programa ABC em municípios-chave da Amazônia Legal, no âmbito do PPCDAm1 em sua terceira fase (2012-2015), não surtiu efeitos significativos no desembolso do Programa ABC para a recuperação de pastagens na região. INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA (iLP/iLPF/SAF) A distribuição espacial dos municípios tomadores do recurso para iLP/iLPF/SAF, bem como os valores dos recursos desembolsados estão na Figura 6. Nota-se que esta técnica ainda tem baixa adesão por parte dos pecuaristas, com um potencial de crescimento grande diante dos mais de 50 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil. PLANTIO DIRETO (SPD) Mesmo diante dos mais de 53 milhões de hectares plantados com grãos no Brasil, nota-se uma grande concentração dos recursos do Programa ABC para SPD em poucas regiões do País (Figura 7). Uma região que abrange parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e da Bahia, conhecida como Mapitoba, chamada de nova fronteira agrícola do País, apresentou volume de investimento em novas áreas com SPD via Programa ABC aquém do seu potencial e de seu crescimento agrícola, principalmente no Tocantins, Piauí e Maranhão. Segundo informação do BB, o total de contratos aprovados no País via BB para a implantação do SPD na safra 2011/12 foi de 220, sendo que o estado de Tocantins apresentou apenas um contrato; Piauí. três contratos; e Maranhão, oito contratos. O estado da Bahia apresentou um melhor desempenho, com quatorze contratos, mas, ainda assim, muito aquém de São Paulo, primeiro colocado no ranking, com cinquenta e nove contratos. 18 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 19. figura 6 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para a ILP/ILPF/SAF no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB) VALOR CONTRATADO PARA INTEGRAÇÃO (MILHÕES DE REAIS) até 0,2 0,2 a 0,5 0,5 a 2,0 2,0 a 6,0 Ano Safra 2011/12 0 225 450 900 KM 19
  • 20. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono figura 7 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o SPD no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB) VALOR CONTRATADO PARA PLANTIO DIRETO (MILHÕES DE REAIS) até 0,2 0,2 a 0,5 0,5 a 2,5 2,5 a 8,0 Ano Safra 2011/12 0 215 430 860 KM FLORESTAS PLANTADAS Para o plantio de florestas, os recursos desembolsados na safra 2011/12 (R$ 56,6 milhões) concentraram-se, principalmente, em municípios da faixa oeste do estado 20 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 21. de Minas Gerais e sul do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde a soma dos recursos desembolsados em cada uma destas localidades variou de R$ 700 mil a R$ 1,9 milhão (Figura 8). figura 8 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o plantio de florestas no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB) VALOR CONTRATADO PARA FLORESTAS (MILHÕES DE REAIS) até 0,1 0,1 a 0,2 0,2 a 0,7 0,7 a 1,9 Ano Safra 2011/12 0 225 450 900 KM 21
  • 22. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono TRATAMENTO DE DEJETOS ANIMAIS No que diz respeito ao tratamento de dejetos animais, o Paraná foi o maior tomador do recurso (R$ 3,3 milhões), principalmente nos municípios da porção centro-sul do estado, onde a soma dos valores dos contratos variou de R$ 650 mil a R$ 1,4 milhão. Em Minas Gerais (R$ 2,5 milhões) e Espírito Santo (R$ 2,2 milhões), os recursos concentraram-se nas porções noroeste e sul dos estados, respectivamente. O total de recurso do Programa ABC utilizado para o tratamento de dejetos animais foi de R$ 9,7 milhões (Figura 9). figura 9 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o tratamento de dejetos no âmbito do Programa ABC na safra 2011/12 (BB) VALOR CONTRATADO PARA TRAT. DE DEJETOS (MIL REAIS) até 150 150 a 400 400 a 650 0 62,5 125 250 KM 650 a 1.474 Ano Safra 2011/12 O estado de Santa Catarina teve participação irrelevante no uso do crédito ABC para o tratamento de dejetos animais, apesar do seu importante papel no cenário nacional de produção de suínos e aves. Isso corrobora, mais uma vez, a constatação de discrepância entre a distribuição do recurso e a real necessidade de cada região ou estado do País. O principal entrave é a falta de equipamentos biodigestores no mer- 22 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 23. cado que evitem a sazonalidade da temperatura no interior do equipamento a preços competitivos. Em média, um biodigestor com essas características custa por volta de R$ 1 milhão (o teto de desembolso do Programa ABC). 3.2 Ano safra 2012/13 Até maio de 2013, foram implantados 9.473 projetos para o Programa ABC via BB e BNDES (Tabela 3), sendo que 6.548 contratos foram repassados pelo BB. Novamente, a região Sudeste foi a maior tomadora do crédito, com o estado de Minas Gerais em primeiro lugar no ranking de participação no desembolso e de contratos efetuados. Entre os projetos implantados, 3.822 foram na região Sudeste; 2.022, na região Sul; 2.133, na região Centro-Oeste; 887, na região Norte; e 609, na região Nordeste. Juntas, as regiões Sul e Sudeste representaram 61,69% do total de projetos apro- Tabela 3 Distribuição regional dos desembolsos do Programa ABC entre julho de 2012 a maio de 2013 (em R$ mil) (Adaptado: SPA/MAPA). REGIÃO/ESTADOS Centro-Oeste DF GO MT MS Nordeste BA MA PI AL PE SE Norte AC AP AM PA RO TO RR Sudeste ES MG RJ SP Sul PR RS SC total Desembolso (Mil R$) no de contratos Valor médio dos contratos (MIL R$) 885.662 1.081 271.805 284.700 328.076 200.208 147.147 28.740 22.935 809 46 531 210.625 15.738 600 200 52.420 32.064 106.669 2.934 1.000.237 29.018 527.480 10.452 433.287 439.662 179.043 221.329 39.290 2.736.394 2.133 6 899 542 686 609 382 169 42 2 1 13 887 110 1 1 184 135 445 11 3.822 130 2.146 50 1.496 2.022 869 861 292 9.473 415,22 180,17 302,34 525,28 478,25 328,75 385,20 170,05 546,07 404,50 46,00 40,85 237,46 143,07 600,00 200,00 284,89 237,51 239,71 266,73 261,71 223,22 245,79 209,04 289,63 217,44 206,03 257,06 134,55 288,86 23
  • 24. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono vados na safra 2012/13, mantendo praticamente o mesmo percentual de aprovação da safra anterior. Isso demonstra, novamente, a falta de capilaridade do Plano e Programa ABC nos estados da Amazônia Legal e Nordeste do Brasil, bem como a ausência de medidas efetivas para solucionar essa baixa participação no panorama PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DESEMBOLSADO (%) Figura 10 Porcentagem de participação de cada Estado nos desembolsos para o Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL e BNDES na safra 2012/13 até maio de 2013 (bb e bndEs) 25 20 MG SP 15 MS MT 10 GO RS PR BA 5 TO PA SC RO ES MA PI AC RJ 0 RR df al AP se am ESTADOS PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE contratos (%) Figura 11 Porcentagem de participação de cada Estado nos contratos aprovados para o Programa ABC pelo BANCO DO BRASIL e BNDES na safra 2012/13 até maio de 2013 (bb e bndEs) 25 MG 20 SP 15 10 GO PR RS MS MT 5 TO BA SC PA MA 0 ESTADOS 24 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC RO ES AC RJ PI se RR df al pe ap
  • 25. nacional de contratações do ABC destas regiões, principalmente no que diz respeito à escassez de assistência técnica e problemas fundiários, especialmente nos estados do Norte (Figuras 10 e 11). Com relação às linhas de financiamento do Programa ABC do BB, verifica-se que a recuperação de pastagens encabeça, novamente, a lista de práticas agropecuárias financiadas, com 80,32% do total de contratos aprovados na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (Figura 12). Neste mesmo período, o SPD correspondeu a 7,44% do total de contratos aprovados. O total de desembolso para o SPD foi da ordem de R$ 161 milhões entre julho de 2012 e fevereiro de 2013. O plantio de florestas representou 4,50% do crédito ABC desembolsado; a iLP/iLPF, 2,50%; e o tratamento de dejetos animais, apenas 0,25%, neste mesmo período. O ABC Ambiental e o ABC Orgânico, que financiam as práticas não inclusas no Plano ABC, corresponderam a apenas 1,44% do total de contratos aprovados, não comprometendo de forma significativa a quantidade de recurso que deve ser alocada para o atingimento das metas de redução de GEE. O FCO Natureza, que financia a regularização ambiental e fundiária e a implantação de sistemas produtivos e tecnologias voltadas à mitigação da emissão de GEE na região Centro-Oeste, representou 3,51% desse total. PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DE CONTRATOS (%) Figura 12 Porcentagem de contratos aprovados pelo BANCO DO BRASIL na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 por linha de financiamento do Programa ABC (BB) 90 80,32 80 70 60 50 40 30 20 E AT .D TR AM C O IC ÂN 0,04 O RG BI E /S F AB /i LP O S N TA L AF A O FC iL P N AT U TA D AN PL ST AS 0,06 FL O RE RE Z AS D SP EN S TA G PA S E .D RE C 0,25 FBN 1,38 C 2,50 ET 3,51 AB 4,50 0 EJ 7,44 D 10 25
  • 26. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono ONDE OS RECURSOS DO PROGRAMA ABC FORAM USADOS EM 2012/13 RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS A recuperação de pastagens, com R$ 1,4 bilhão desembolsado entre julho de 2012 e fevereiro de 2013, apresentou o maior número de contratos aprovados nos estados de Minas Gerais e São Paulo, com participação de 22% e 16% no total de contratos, respectivamente. SHUTTERSTOCK O quadro de distribuição dos recursos reflete o mesmo comportamento observado na safra 2011/12: grande parte do dinheiro não foi alocada em áreas prioritárias para a recuperação de pastos, principalmente as regiões Norte e Nordeste, conforme a distribuição espacial das pastagens degradadas no País (com índice de unidades animais por hectare, ou UA, menor do que 0,7) da Figura 5. Em contrapartida, grande parte dos recursos do Programa ABC foi destinada para municípios da região Centro-Oeste, corroborando com seu maior efetivo bovino do País (34,4% do total) e, também, por apresentar áreas consideráveis de pastos degradados (Figura 13) em alguns municípios que tomaram o recurso. 26 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 27. figura 13 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para a recuperação de pastagens no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB) VALOR CONTRATADO PARA RECUPERAÇÃO (MILHÕES DE REAIS) até 0,5 0,5 a 2,0 2,0 a 8,0 8,0 a 18,6 Ano Safra 2012/13 0 185 370 740 KM 27
  • 28. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO Para a FBN, a aderência por parte dos produtores foi muito baixa na safra 2012/13 até fevereiro de 2013, com os poucos contratos concentrados nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Em São Paulo, foram desembolsados 89% do total de recurso (R$ 1 milhão) (Figura 14). figura 14 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para a FBN no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até .fevereiro de 2013 (BB) VALOR CONTRATADO PARA FIXAÇÃO BIOLógica (REAIS) 120.000 0 40 80 160 KM 1.000.000 Ano Safra 2012/13 PLANTIO DIRETO (SPD) Para o SPD, a maior parte do recurso foi para os estados de São Paulo (R$ 45 milhões), Bahia (R$ 25 milhões), Rio Grande do Sul (R$ 20 milhões), Mato Grosso (R$ 15 milhões), Minas Gerais e Goiás (ambos com R$ 11 milhões) e Paraná (R$ 10 milhões). No Nordeste, apenas os estados da Bahia, Maranhão e Piauí captaram recurso do Programa ABC para SPD, sendo que os três estados representaram 22% do total desse recurso desembolsado no País na safra 2012/13 (até fevereiro de 2013), mas a Bahia sozinha representou 16% dessa participação. No Norte, apenas 28 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 29. o estado do Tocantins captou esse recurso, mas com apenas 1% de participação nacional (Figura 15). Nesta safra, até fevereiro de 2013, foram desembolsados cerca de R$ 160 milhões. figura 15 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o SPD no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB) VALOR CONTRATADO PARA PLANTIO DIRETO (MILHÕES DE REAIS) até 0,5 0,5 a 1,0 1,0 a 1,5 1,5 a 9,4 Ano Safra 2012/13 0 195 390 780 KM 29
  • 30. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA Na linha de financiamento ABC Integração, o desembolso até fevereiro 2013 foi de R$ 52 milhões, tendo ficado os estados de Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Paraná com os maiores volumes de recurso desembolsados (Figura 16). figura 16 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o ABC integração no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB) VALOR CONTRATADO PARA INTEGRAÇÃO (MILHÕES DE REAIS) até 0,2 0,2 a 0,5 0,5 a 1,0 1,0 a 3,0 Ano Safra 2012/13 0 30 185 370 740 KM E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 31. FLORESTAS PLANTADAS Minas Gerais aparece com 43% do total desembolsado, seguido pelo estado de São Paulo, com 23%, e Paraná, com 11% desse total. A concentração do recurso foi maior em alguns municípios no sul e leste de São Paulo, leste de Minas Gerais, norte do Espírito Santo e sul de Mato Grosso do Sul (Figura 17). figura 17 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para Florestas Plantadas no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB) VALOR CONTRATADO PARA FLORESTAS (MILHÕES DE REAIS) 0 120 240 480 KM até 0,1 0,1 a 0,3 0,3 a 1,0 1,0 a 9,1 Ano Safra 2012/13 31
  • 32. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono TRATAMENTO DE DEJETOS ANIMAIS Minas Gerais representou 50% do total de recurso do Programa ABC para esta ação na safra 2012/13, com aproximadamente R$ 3,1 milhões desembolsados e recursos concentrados na sua porção centro-sul. O Paraná contribui com 32% do total de recurso desembolsado (R$ 2 milhões), concentrados, principalmente, no norte e sul do estado. Santa Catarina aparece com um contrato apenas (Figura 18). figura 18 Distribuição espacial dos municípios com financiamento para o tratamento de dejetos no âmbito do Programa ABC na safra 2012/13 até fevereiro de 2013 (BB) VALOR CONTRATADO PARA TRAT. DE DEJETOS (MIL REAIS) até 100 100 a 200 200 a 500 0 32 E S T UD O III 75 150 300 KM A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC 500 a 1.000 Ano Safra 2012/13
  • 33. DESEMPENHO DOS AGENTES FINANCIADORES POR MUNICÍPIO NO Ano safra 2012-2013 Analisando os municípios tomadores do crédito do Programa ABC via BB (878 municípios), observa-se uma grande concentração de contratos efetuados nas regiões Sul e Sudeste, mas, ainda assim, com algumas lacunas, principalmente no norte de Minas Gerais e na região dos Pampas no Rio Grande do Sul. A região CentroOeste, com o maior efetivo bovino do Brasil, apresenta grandes lacunas nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Novamente, é importante salientar a baixa participação do Norte e Nordeste na tomada de crédito para as práticas agropecuárias do Programa ABC. Sugere-se que o BB estabeleça uma força-tarefa nestas duas regiões deficitárias em relação ao montante nacional de municípios tomadores desse crédito, com priorização do programa e divulgação dos seus benefícios, como o efeito poupa-terra na região da Amazônia Legal e a diminuição da dependência de insumos agrícolas com a adoção de sistemas integrados com plantas leguminosas ou a adoção da FBN. Apenas cinco municípios desembolsaram recursos via BNDES para o Programa ABC entre julho de 2012 e fevereiro de 2013, o que confirma a grande dificuldade e risco dos agentes financeiros em repassar tais recursos via BNDES, como apontado em estudos anteriores (Observatório ABC, 2013; GVces, 2013). O município de Alto Paraíso de Goiás desembolsou contratos via BNDES totalizando o valor de apenas R$ 180 mil; Aparecida do Taboado (MS) desembolsou R$ 587 mil; Araçatuba e Tabapuã (SP) desembolsaram R$ 143 mil e R$ 146 mil, respectivamente; e Loanda (PR), R$ 1,6 milhão, totalizando apenas aproximadamente R$ 2,7 milhões nesta safra até fevereiro. O Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste também participou ativamente do ABC neste ano safra, cobrindo algumas lacunas de desembolso via BB e BNDES em sessenta e quatro municípios, principalmente no oeste do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os contratos aprovados via FCO até fevereiro somam R$ 113.8 milhões. O maior tomador do crédito para práticas agropecuárias preconizadas no Programa ABC foi Campo Grande-MS (R$ 27 milhões). O mapa ao lado mostra os municípios que acessaram o recurso via BB, via FCO (distribuído pelos bancos regionais) e via BNDES em 2012-2013. Não há dados espaciais disponíveis para os anos-safra anteriores (Figura 19). 33
  • 34. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono figura 19 Distribuição espacial dos municípios contemplados pelo Programa ABC e fontes dos recursos na safra 2012/13 até 15/02/2013 (BB) 0 210 420 840 KM ★ CONTRATOS BB ◆ CONTRATOS FCO CONTRATOS BNDES ▲ CONTRATOS BB E FCO ✱ CONTRATOS BB E BNDES TOTAL: 908 MUNICÍPIOS Ano Safra 2012/13 34 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 35. O ABC E A RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS: POUCO ALCANCE E ste estudo realizou o levantamento municipal do valor contratado para a recuperação de pastagens utilizando o recurso do Programa ABC, bem como a sua área total de pastagens degradadas (de acordo com estudos da Embrapa, considerou-se degradadas pastagens com UA menor do que 0,7) para as safras 2011/12 e 2012/13. Sabendo-se que, para a recuperação de pastagens, o custo médio da operação varia, em média, entre R$ 300,00 e R$ 700,00 por hectare, foi feito um ranking municipal de alcance do Programa ABC, dividindo o total de recurso alocado para a recuperação de pastos no município pela área total de pastagem com UA menor do que 0,7 em cada município tomador do crédito. Essa análise não nos permite dizer se o crédito foi insuficiente ou excedente para recuperar a área de pasto da propriedade em si que recebeu o crédito, uma vez que não se teve acesso a essa área de pastagem de cada propriedade tomadora do crédito. Para ambas as safras, nota-se que a esmagadora maioria dos municípios com pastagens degradadas não tomou ou tomou pouquíssimo recurso para a recuperação, visto que o valor contratado por hectare de pasto degradado do município foi muito baixo. Na safra 2011/12, apenas seis municípios apresentaram valores contratados por hectare compatíveis com os valores necessários para a recuperação de todos os seus pastos (Tabela 4). Tabela 4 Municípios tomadores do recurso do Programa ABC para a recuperação de pastagem na Safra 2011/12 com suas respectivas áreas de pastagem degradada (UA < 0,7), número de contratos, valor contratado e valor contratado por área de pasto degradado UF Município Área DE pastagem (ha) UA/ha nO DE contratos Valor (R$) Valor/área DE pasto degradado R$/ha MG Fortaleza de Minas Onça de Pitangui Rio Sono Brasilândia do Tocantins São Joaquim Pirassununga 1.120 1.219 2.166 1.151 1.131 928 0,47 0,48 0,24 0,70 0,51 0,59 1 1 3 3 9 2 331.970 400.000 1.499.346 836.615 1.663.041 1.999.944 296,36 328,16 692,22 726,95 1.470,50 2.154,43 MG TO TO SC SP Somando-se todas as áreas de pastagens com taxa de lotação menor do que 0,7 UA no Brasil, temos o valor de 52 milhões hectares e levando-se em consideração que o Programa ABC visa recuperar 15 milhões de hectares até 2020, seria necessário o investimento de R$ 4,5 bilhões para o limite inferior de R$ 300,00/ha para a recuperação do pasto, o que equivale a R$ 450 milhões por ano de operação do Programa ABC (de 2010 a 2020); e de R$ 10,5 bilhões para o limite superior de R$ 35
  • 36. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono 700,00/ha, o que equivale a R$ 1,05 bilhão por ano entre 2010 e 2020, conforme valores descritos na literatura. No ano safra 2012/13, foi desembolsado, até abril de 2013, R$ 1,4 bilhão para a recuperação de pastagens, mas este valor ainda está muito pulverizado em diversos municípios, fazendo com que a eficiência do programa seja baixa. O ideal seria investir o recurso do ABC para a recuperação de pastagens de uma forma planejada, com o dinheiro sendo alocado, primeiramente, em áreas com alto grau de degradação, para posteriormente ser aplicado em pastagens com médio e baixo grau de degradação. Para isso, é necessário que, em curto prazo de tempo, as áreas de pastagens degradadas e/ou com baixo potencial produtivo sejam identificadas em todos os estados brasileiros e que seja elaborado o zoneamento das pastagens, visando identificar áreas prioritárias para a sua recuperação. Agrupando-se os municípios de acordo com a sua taxa de lotação, também se verifica um baixo alcance na alocação do recurso do Programa ABC para a recuperação de pastagens (Tabelas 5 e 6). Em média, foram alocados R$ 2,72 por hectare, na safra 2011/12, e R$ 5,25 por hectare, na safra 2012/13. Tabela 5 Valor contratado do Programa ABC para recuperação de pastagens na safra 2011/12 por faixas de taxa de lotação, com seu respectivo valor contratado por área de pasto degradado Taxa de lotação Área de Pasto (ha) Valor (R$) nO contratos Valor / área (R$/ha) 0,0 - 0,1 0,1 - 0,2 0,2 - 0,3 0,3 - 0,4 0,4 - 0,5 0,5 - 0,6 0,6 - 0,7 Total 780.579 1.660.086 4.591.399 6.501.900 8.988.377 10.223.809 19.578.175 52.324.324 1.384.510 509.560 8.544.001 21.200.072 18.766.753 34.557.715 57.476.646 142.439.257 3 4 22 46 55 79 165 374 1,77 0,31 1,86 3,26 2,09 3,38 2,94 2,72 Tabela 6 Valor contratado do Programa ABC para recuperação de pastagens na safra 2012/13 (até fevereiro de 2013) por faixas de taxa de lotação, com seu respectivo valor contratado por área de pasto degradado Taxa de lotação E S T UD O III Valor (R$) nO DE contratos Valor / área (R$/ha) 0,0 - 0,1 0,1 - 0,2 0,2 - 0,3 0,3 - 0,4 0,4 - 0,5 0,5 - 0,6 0,6 - 0,7 Total 36 Área de Pasto (ha) 780.579 1.660.086 4.591.399 6.501.900 8.988.377 10.223.809 19.578.175 52.324.324 2.299.807 6.771.579 20.880.495 33.707.889 42.524.397 43.336.434 125.016.864 274.537.464 4 17 49 74 112 143 375 774 2,95 4,08 4,55 5,18 4,73 4,24 6,39 5,25 A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 37. QUANTO A UNIÃO INVESTE NO PROGRAMA ABC E m sua origem, o Programa ABC teria de ter seus recursos desembolsados por um único operador, o BNDES, que repassaria o dinheiro às demais instituições financeiras. Porém, para dar velocidade ao programa – que, em seu primeiro ano (2010) sob o BNDES, teve desembolso zero –, o governo federal descentralizou a distribuição dos recursos. O BB passou a operar o ABC, usando, para isso, recursos próprios, da Caderneta de Poupança Rural. O Ministério da Fazenda ficou autorizado a pagar a equalização dos encargos financeiros ao BB, ou seja, a diferença entre o custo de captação de recursos e os encargos cobrados do produtor. Esta ação permitiu desembolsos simultâneos do BB e do BNDES – via demais instituições financeiras –, diversificando as fontes de recursos disponíveis para viabilizar o financiamento para o ABC, em menor tempo. Além disso, os fundos constitucionais, a partir da safra 2011/12, iniciaram o reporte de desembolso de recursos destinados às finalidades do Programa ABC, porém seguindo procedimentos padrão aplicáveis ao FCO, FNO e FNE. * Maiores informações sobre o cálculo estão disponíveis na versão completA do estudo no www.observatorioabc.com.br A compensação de taxa de juros arcada pelo Tesouro Nacional, por meio do método de equalização, tem um custo para a União. Hoje, não há estimativas oficiais sobre este custo. Como contribuição ao debate, este estudo calculou o investimento em equalização em cerca de 46,6% do valor total desembolsado, considerando os recursos originários da Poupança Rural do BB* (Figura 20 e 21). Para garantir a eficiência máxima na alocação desses recursos, é preciso desenvolver indicadores que relacionem a quantidade de dinheiro dispendido e o custo da tonelada de emissões de CO2 equivalente (t CO2 eq.) mitigada – e levar em conFigura 20 Custo para a União com a política de equalização do diferencial de taxas de juros de captação e a taxa paga pelo tomador final (R$ BILHÃO) R$ 2,5 R$ 2,0 R$ 1,5 48% R$ 1,0 R$ 0,5 R$ 0 43% 2011/12 VALOR CONTRATADO BB - POUPANÇA RURAL 2012/13 CUSTO DE EQUALIZAÇÃO APROXIMADO (VPL) 37
  • 38. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono Figura 21 Custo para a União com a política de equalização do diferencial de taxas de juros de captação e a taxa paga pelo tomador final nas safras 2011/12 e 2012/13 46,6% R$ 3.479.542 R$ 1.620.646 VALOR TOTAL CONTRATADO (BB - POUPANÇA RURAL) CUSTO TOTAL DE EQUALIZAÇÃO APROXIMADO (VPL) sideração o montante destinado à equalização da taxa de juros. Um exemplo de aresta a aparar é a inserção do ABC Orgânico no programa. Este modelo de produção não é cientificamente comprovado como mitigador de carbono. Assim, sua contabilização implicará o encarecimento da t CO2 eq. mitigada por meio das demais técnicas preconizadas no Programa ABC e, portanto, diminuirá a eficiência do programa. Mesmo sabendo que, hoje, ele representa cerca de 1% dos valores desembolsados, na medida em que o programa evolua, o ABC Orgânico não poderá ser contabilizado na redução de emissões. Nesse sentido, as atividades financiadas pelo ABC Orgânico devem ser atendidas por outra linha de financiamento. Além disso, há casos semelhantes quando, em momentos pontuais e por meio de portarias, o Governo autoriza o financiamento de outras atividades com recursos do Programa ABC. Este é o caso do ABC Dendê e, também, dos recursos que foram destinados à produção de arroz irrigado na safra 2011/12. É evidente a necessidade de proteção às práticas preconizadas no Plano ABC, sendo crucial que nenhuma prática comprovadamente não mitigadora de GEE seja financiada com os recursos do Programa ABC. Para o sucesso deste, tanto em termos econômicos, quanto ambientais, a questão do monitoramento torna-se, novamente, crucial. Outra questão é a competitividade entre as linhas de investimento que possuem finalidades semelhantes às do Programa ABC. A tomada de recurso do Programa ABC mostra-se mais burocrática e trabalhosa por conta da exigência de elaboração de um projeto técnico sistêmico – que alinhe produtividade e mitigação de GEE – em comparação à maior simplicidade para a tomada de recursos das demais linhas de investimento que são orientadas apenas por uma lista de itens financiáveis. As linhas de investimento Moderfrota (Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras), Moderinfra (Pro- 38 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 39. SHUTTERSTOCK grama de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem) e Moderagro (Programa de Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos Naturais), que financiam alguns itens sinergéticos com projetos do Programa ABC, apresentam, do ano safra 2011/12 para o 2012/13, uma redução das taxas de juros. Nas safras 2010/11 e 2011/12, a taxa de juros das linhas de investimento Moderinfra e Moderagro era de 6,75% e a do Moderfrota, 9,5%, garantindo a competitividade do Programa ABC com taxa de juros a 5,5%. Já, na safra 2012/13, a taxa de juros do Programa ABC caiu para 5%, mas, em contrapartida, a dos programas Moderinfra, Moderfrota e Moderagro também sofreu redução, caindo para 5,5%. O Programa ABC, apesar de apresentar juros mais baixos, requer do tomador do cré- 39
  • 40. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono dito exigências ambientais mais rigorosas e a apresentação de um projeto técnico elaborado, o que pode reduzir o apetite dos produtores pela linha. O mesmo ocorre com as taxas dos fundos constitucionais, que apresentam juros bem mais atrativos aos produtores rurais da região. Abaixo, é apresentada a relação entre taxas de juros para o Programa ABC e o valor presente líquido correspondente à equalização de taxas por montante contratado pelos produtores rurais. Pode-se observar que quanto menor a taxa fixada, maior será o investimento da União para a política de equalização. Vale ressaltar que os benefícios ambientais oriundos da implantação das tecnologias preconizadas no Programa ABC não são comtemplados quantitativamente nesta equação (Figura 22). Em situação hipotética, em que as reduções reais de emissão dessa política superem as metas estabelecidas, é razoável que a agropecuária brasileira pleiteie recursos adicionais – potencialmente, na forma de créditos de carbono – para o financiamento do ABC, já que estaria reduzindo emissões de outros setores ou países. Esse benefício poderia ser repassado aos produtores que tiveram desempenho acima das metas, por meio de taxas de juros mais agressivas ainda. Evidentemente que, para que isso aconteça, será necessário metas definidas para o produtor, assim como um sistema de monitoramento capaz de medir emissões por propriedade. VPL DE EQUALIZAÇÃO/R$ 1.000 CONTRATADO Figura 22 Relação entre taxas de juros para o Programa ABC e o valor presente líquido correspondente à equalização de taxas por montante contratado pelos produtores rurais 1000 800 600 400 200 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 TAXA DE JUROS DO PROGRAMA ABC (%a.a.) -200 40 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC
  • 41. 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O financiamento para o desenvolvimento da agricultura de baixa emissão de carbono tem avançado, permitindo aos agricultores adotarem sistemas e técnicas que, além de mitigarem a emissão de GEE, elevam a produtividade de sua propriedade, otimizando o retorno financeiro. No entanto, é preciso mudar o paradigma do crédito rural. O modelo de concessão de crédito reinante trabalha objetivamente com itens financiáveis, não atrelados a uma política estruturante, que financie sistemas produtivos, como deve ser o Programa ABC. Assim, necessita-se de um novo modelo de crédito, aliado à capacitação técnica dos analistas responsáveis por aprovar os projetos. O BB é o grande protagonista do Programa ABC, ao passo que o BNDES tem papel marginal no desembolso dos recursos, em grande parte por conta da rigidez das normativas e falta de capacitação de seus analistas de crédito. É preciso revisar o papel estratégico de envolvimento do BNDES nesta modalidade de financiamento, dada a urgência do processo de transformação do setor agropecuário. Os fundos constitucionais têm contribuído para o financiamento da agricultura de baixa emissão de carbono junto aos produtores das regiões Norte e Centro-Oeste. Porém, quando observada a distribuição espacial do recurso que já foi desembolsado via Programa ABC, constata-se que as regiões de maior prioridade na adoção das práticas preconizadas no Programa não estão sendo atendidas de forma eficiente. É crucial que o setor financeiro, o Governo e os estados somem esforços para fomentar a transição destas áreas. Após a política de redução da taxa de juros do crédito agrícola, o Programa ABC vem perdendo competitividade em relação às demais linhas de investimento. Isso pode ser um incentivo perverso, já que o produtor rural pode optar por outras linhas de investimento que não o Programa ABC, não precisando transpassar as dificuldades de elaboração de projetos e a maior burocracia atrelada ao programa. Ao definir anualmente os critérios da linha de crédito, o Governo deve assegurar ao Programa ABC uma taxa de juros atrativa suficiente e capaz de estimular a tomada de crédito por ele em detrimento das demais linhas. O subsídio ao Programa ABC via equalização da taxa de juros traz custos para a União (cerca de 46,6% do total contratado), mas gera benefícios ambientais importantes para o Brasil e o mundo, como a redução de emissões de gases do GEE, o que o torna um investimento. E, se a taxa de juros do Programa ABC for reduzida – como recomendado –, este investimento deve crescer ainda mais. Por isso, é urgente que se estabeleça um processo de monitoramento eficaz da mitigação efetivada pelas práticas agrícolas do programa, para avaliar o sucesso e continuidade 41
  • 42. OBSERVATÓRIO ABC Agricultura de Baixa Emissão de Carbono da linha de financiamento. Também é imprescindível que a incorporação de novas técnicas agrícolas ao Programa ABC obedeça estritamente o principal objetivo do Plano ABC, que é a mitigação de GEE. Para a elaboração do Plano ABC de Minas Gerais (coordenado pelo governo estadual, com a participação de diversos órgãos municipais, estaduais e federais, agentes financeiros e de pesquisa), foi feito um trabalho árduo de divulgação do Plano ABC federal, por meio de seminário de sensibilização, eventos, cursos de capacitação e formação de grupos técnicos de trabalho. Todas estas ações para a composição do Plano ABC estadual refletiram na utilização dos recursos destinados ao Programa ABC pelo estado, sendo Minas Gerais o campeão na utilização desse recurso nas safras 2011/12 e 2012/13. É preciso que os estados que ainda não publicaram seus Planos o façam, principalmente os das regiões Norte e Nordeste. SHUTTERSTOCK Os recursos do Programa ABC para a recuperação de pastagens ainda estão muito pulverizados, fazendo com que o alcance do programa seja baixo em quase todo o Brasil. O correto seria investir o recurso do ABC para a recuperação de pastagens de uma forma planejada, com o dinheiro sendo alocado, primeiramente, em áreas com alto grau de degradação, para, posteriormente, ser aplicado em pastagens com médio e baixo grau de degradação. Para isso, é necessário que, em curto prazo de tempo, as áreas de pastagens degradadas e/ou com baixo potencial produtivo sejam identificadas em todos os estados brasileiros e seja elaborado o zoneamento das pastagens, visando identificar áreas prioritárias para a sua recuperação. 42 E S T UD O III A ná li s e do s recurs os do P rograma ABC