2. O Homem da democracia de Atenas
O século V a. C., o século de Péricles
No séc. V a. C., a Atenas democrática de Péricles representa o culminar de um tempo
histórico e artístico da Grécia, a primeira
civilização da Antiguidade Clássica, da Antiguidade Clássica – período da
História que compreende a origem e o
qual somos herdeiros. desenvolvimento das civilizações grega e
romana (desde o 1º milénio a. C. a 476 d. C..
O coração da Grécia Antiga ficava situado O adjectivo clássico refere-se a tudo o que é
deste período ou com ele se assemelha.
na Península Balcânica, no Mediterrâneo
Oriental.
Porém, o mundo grego estendia-se pelas ilhas do Mar Egeu, pelas costas da Ásia
Menor e margens do Mar Negro, pelo sul da Itália e pela Sicília.
Foi a partir do séc. XVIII a.C. que, à medida que a população crescia e a produção
agrícola se revelava insuficiente para a alimentar, muitos gregos abandonaram a
metrópole e foram estabelecer-se naquelas paragens, onde fundaram colónias agrícolas
e comerciais, as quais eram novas cidades-estado, com organização política, religiosa e
cultural idêntica à das cidades-mãe Mundo Helénico – Os gregos chamavam-se
a si próprios Helenos e à Grécia, Hélade.
(metrópoles) e mantendo com elas ligações Consideravam-se senhores de uma cultura
comerciais e culturais muito intensas. superior e chamavam “bárbaros” a todos os
povos que não falavam a sua língua, o grego.
Apesar do afastamento, os habitantes O mundo helénico incluía a Grécia e as suas
colónias.
destas colónias continuaram a sentir-se
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3. como parte integrante do mundo helénico, partilhando a mesma cultura: a língua, a
moeda, os costumes, os objectos do quotidiano, os conhecimentos e os deuses.
O mundo helénico nunca esteve politicamente
Cidades-estado (pólis) – cidade
unido. Na realidade, era um mundo de cidades- independente dotada de órgãos de
governo próprios.
estado (pólis) independentes e rivais, das quais as
mais importantes eram Atenas, Esparta e Tebas.
O isolamento, provocado pelo relevo montanhoso, e as velhas rivalidades entre as
tribos gregas, explicam, em grande parte, a formação das cidades-estados. Estas eram
constituídas pela cidade propriamente dita e pela zona rural envolvente, podendo
algumas pólis incluir, além da cidade principal, outras pequenas cidades.
Apesar da rivalidade política, por vezes causadora de guerras violentas, havia laços
culturais a unir todos os gregos: falavam a mesma língua, adoravam os mesmos deuses,
tinham modos de vida semelhantes e, por vezes, uniam-se para celebrar grandes jogos e
festividades e para combater povos invasores.
Todas as pólis tinham a sua ágora (praça pública, local de comércio e de encontro e
convívio entre os cidadãos) e a sua acrópole (zona mais elevada da cidade,
normalmente fortificada, onde se situavam os templos dos deuses protectores da cidade
e alguns dos mais importantes edifícios da mesma).
A maioria das pólis não excedia os 20 mil habitantes. Atenas, porém, ultrapassava
largamente esse número, atingindo os 350 mil.
A Polis de Atenas
Atenas situa-se na Península da
Ática, nas proximidades do mar. A
agricultura começou por ser a base
da economia, até meados do séc.
VII a. C. A vinha, a oliveira, os
cereais e o mel eram as suas
principais produções. A criação de
gado era, também, uma importante
actividade económica.
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4. Desde cedo os atenienses aproveitaram a proximidade do mar para fazer a exploração
dos excedentes agrícolas e artesanais. O desenvolvimento artesanal, sobretudo da
metalurgia e cerâmica, foi um factor importante para o estabelecimento de relações
comerciais com as colónias gregas.
Através do Porto do Pireu, Atenas abriu-se ao mar e construiu um verdadeiro império
comercial e naval.
Porto do Pireu (porto de Atenas) – Situado a 10Km da cidade, tinha uma importância
económica e estratégica vital. Através dele, a cidade exportava os excedentes agrícolas e artesanais
e importava cereais, matérias-primas e artigos de luxo. Mas o porto tinha, também, uma grande
importância militar e naval. Por este facto, os acessos da cidade ao porto estavam protegidos por
poderosas muralhas.
1 e 2- Baías que serviam de enseadas para os navios de guerra.
3- Porto principal, onde se encontravam os armazéns e instalações navais e administrativas
O comércio marítimo ateniense beneficiou do uso da moeda, que veio substituir a
troca directa. No território de Atenas existiam minas de prata, as minas de Láurio, o
que permitiu a cunhagem da moeda em prata.
Atenas desenvolveu uma intensa economia monetária, comercial e marítima. A
forte actividade de construção naval contribuiu para o crescimento económico desta
cidade.
Atenas, situada na Península da Ática, tornou-se a cidade-estado mais próspera do
mundo helénico no séc.V a.C.
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5. Neste século, Atenas reforçou a sua posição de potência regional, após as vitórias
sobre os Persas, nas batalhas de Maratona (490 a.C.) e de Salamina (480 a.C.).
A invasão da Grécia pelos Persas, no século V a.C., conduziu à formação de uma
aliança defensiva, a Liga de Delos (478 a.C.). Atenas e as outras cidades-estado gregas
uniram-se contra o domínio dos Persas. Atenas liderava esta aliança, conseguindo
formar uma poderosa frota militar e afastar o perigo persa.
Afastado o perigo, Atenas continuou a exigir às suas aliadas, o pagamento de
contribuições, usando-as em benefício próprio.
Esta apropriação abusiva das contribuições da Liga de Delos permitiu à cidade de
projectar-se, ainda mais, em termos económicos e políticos e alcançar um brilho
cultural notável no tempo de Péricles época em que foram realizados trabalhos de
construção e reparação de belos edifícios – templos, pórticos, fontes, edifícios
municipais - e atraiu muitos talentosos artistas, filósofos e intelectuais, provenientes de
todo o mundo grego, que muito contribuíram para um notável desenvolvimento.
A sociedade
A partir de 508 a.C., a estrutura da sociedade
ateniense foi alterada com a instituição da
democracia. Os cidadãos estabeleceram a
igualdade entre eles e passaram a dominar a
vida política.
A sociedade ateniense era formada por
cidadãos, metecos e escravos. Dos cerca de
350 000 habitantes da cidade-estado, apenas
1/10 eram cidadãos. Só estes tinham o direito de participar no governo da cidade. Na
categoria de cidadão estavam incluídos os homens de mais de 20 anos de idade, de
descendência de pai e mãe atenienses e com o serviço militar cumprido.
Os metecos eram homens livres, geralmente estrangeiros. Dedicavam-se às
actividades comerciais e artesanais. Não tinham o direito de participar na vida política
da cidade, nem possuir terras, embora pagassem impostos e prestassem serviço militar.
Os escravos eram o grupo social mais desfavorecido de Atenas, porém, não eram
maltratados. Geralmente eram de origem estrangeira: prisioneiros de guerra, raptados
por piratas ou comprados. Não tinham quaisquer direitos e executavam os trabalhos
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6. mais duros (minas, obras, campos…) e trabalhos domésticos. Podiam pertencer ao
estado, aos cidadãos ou a metecos.
O funcionamento do regime democrático
Nos séculos VII e VI a.C., foram realizadas algumas reformas políticas e sociais
importantes, feitas por Drácon, Sólon e Pesístrato. Estas beneficiaram as populações
mais pobres e vieram a ser completadas com a reforma de Clístenes, através das quais se
instituiu a democracia (governo exercido pelo povo), um sistema político inovador em
que o governo era assegurado por todos os cidadãos da pólis através da sua
participação na Assembleia.
A Eclésia ou Assembleia do Povo era o principal órgão político ateniense, ao qual
cabia o poder legislativo. Nesta assembleia reuniam-se todos os cidadãos.
A Bulé ou Conselho dos Quinhentos era constituída por 500 membros e preparava
os textos legislativos para serem aprovados na Eclésia.
O poder executivo era exercido pelos magistrados, que asseguravam o cumprimento
das decisões da Eclésia.
O poder judicial era confiado aos juízes e aos tribunais. O Helieu era o principal
tribunal, formados por 6000 juízes, que julgava os casos mais comuns de não
cumprimento das leis.
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7. Um dos princípios fundamentais da democracia ateniense consistia na igualdade de
direitos entre os cidadãos, na participação do governo de Atenas. Qualquer cidadão
podia exercer cargos políticos ou aprovar leis da Eclésia. Todas as decisões eram
tomadas por todos os cidadãos e não por governantes. Por isso se diz que a democracia
ateniense era uma democracia directa.
A democracia atingiu o seu apogeu durante o governo de Péricles,
no séc.V a.C.. Foi neste século – Péricles (495-429a.C.) –
Estadista general e grande orador
chamado o século de Péricles – ateniense, Péricles foi eleito
que Atenas alcançou o seu anualmente estratego de 443 a 429
a.C.. Foi uma personalidade tão
esplendor político, económico e marcante no seu tempo que o séc.V
a.C. ficou para a História como o
cultural. século de Péricles.
Apesar de a democracia ateniense assentar no princípio da igualdade de direitos entre
todos os cidadãos, esta democracia era limitada a uma minoria da população.
De facto, apenas os cidadãos podiam participar no governo da cidade-estado. Os
metecos, os escravos e as mulheres estavam excluídos dessa participação.
Outras limitações e contradições da democracia ateniense eram.
A existência da escravatura
As condenações ao ostracismo (exílio) e à morte
A limitação à liberdade de expressão (certas críticas aos governantes não eram
toleradas)
O imperialismo ateniense (Atenas subjugou durante muito tempo outras
cidades ao seu domínio, sob o pretexto de estas não pagarem os tributos
estipulados pela Liga de Delos. Os recursos financeiros obtidos através dessa
Liga serviram para aumentar o desenvolvimento económico, artístico e cultural
de Atenas).
Apesar das suas limitações, a democracia ateniense foi um exemplo de participação e de
governação que influenciou a maior parte das cidades marítimas da Grécia. Este regime
constituiu um dos mais importantes legados culturais da Civilização Grega para a
civilização ocidental do nosso tempo.
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8. A mitologia: deuses e heróis
Os gregos eram politeístas (adoravam vários deuses) e descreviam os seus deuses
como seres semelhantes aos homens na forma e nos sentimentos, paixões, defeitos e
vícios (antropomorfismo). Distinguiam-se dos homens pela sua imortalidade, o poder de
se tornarem invisíveis e de adquirirem várias formas (metamorfose).
O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade-
estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era
a deusa protectora de Atenas.
Os deuses do Olimpo O mundo dos heróis
O monte do Olimpo era a residência dos Os Gregos concebiam o Universo como
deuses gregos. Zeus era a autoridade uma grande cidade, partilhada por deuses e
máxima, do qual se formou uma homens. Por vezes, acontecia os deuses
genealogia dos seus irmãos, irmãs e filhos. aliarem-se aos homens. Os heróis eram a
Contudo, cada membro da família divina prova dessa aliança. Homens divinizados,
possuía o seu domínio próprio. filhos de um deus e de um ser humano,
Zeus era o chefe dos deuses do céu. Os eram considerados homens extraordinários,
seus irmãos Posídon e Hades eram deuses possuidores de uma força e coragem sobre-
do mar e do mundo subterrâneo dos humanas. Muitos deles eram considerados
mortos, respectivamente. Hera e Deméter, os fundadores lendários de cidades gregas.
suas irmãs, protegiam a fecundidade. Zeus Hércules, possuidor de uma força
casou com Hera e esta tornou-se a deusa extraordinária foi o mais famoso dos heróis
do casamento. Deméter tornou-se a deusa gregos. Teseu, o fundador de Atenas pôs
da terra cultivada fim à crueldade do Minotauro. Édipo foi o
herói lendário de Tebas; Prometeu deu o
fogo aos homens e Orfeu encantou com a
sua música.
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9. O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade-
estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era
a deusa protectora de Atenas.
Para que a sua intervenção fosse benéfica, os deuses eram alvo de culto cívico na
cidade, por toda a população da pólis que, em ritos colectivos e segundo um calendário
oficial, se concentrava em frente dos templos, dedicados aos deuses. Aí, assistia-se a
sacrifícios, faziam-se oferendas, cantava-se em uníssono, dançava-se e participava-se
em outras solenidades festivas, como as Panateneias de Atenas (procissão em honra da
deusa Atena) ou as Grandes Dionísias (festivais de Primavera, realizados em Atenas,
em honra de Dioniso, que incluíam concursos de peças de teatro que ali eram
representadas e apreciadas por um júri) numa grande atitude religiosa, cultural, cívica e
política própria para uma religião de Estado.
A par dos grandes festivais em honra dos seus protectores de cada cidade-estado, os
gregos participavam, também no culto e nos jogos em honra dos deuses principais. A
estas formas de culto ocorria gente de toda a Grécia, suspendendo-se as hostilidades e
declarando-se tréguas, caso estivessem em guerra. De todos os festivais pan-helénicos
– participados por todos os gregos – da Grécia Antiga, os mais importantes foram os
Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, de quatro em quatro anos, em honra de Zeus.
Os gregos socorreram-se da religião para explicarem determinados fenómenos criando
mitos. A origem do Universo e da Humanidade eram os fenómenos que mais
despertavam o interesse e a curiosidade dos seres humanos de
então. Ao conjunto destas histórias (mitos) sobre a vida dos
deuses e das explicações dos grandes fenómenos e mistérios do
mundo e do homem denomina-se por mitologia.
A mitologia grega estava muito presente nas obras literárias
(poesia, tragédia e comédia) e nas artes plásticas (estátuas,
relevos e cerâmica).
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10. A Organização do Pensamento
No séc. VI a.C., nas colónias gregas da Ásia Menor, como Mileto, e devido ao bem-
estar económico e à vivência do ócio (tido como suscitador do espírito reflexivo e
crítico), surgiram alguns pensadores que procuraram explicações coerentes e racionais
para a origem do mundo material, para as relações do Homem com o Cosmos, dos
homens entre si e destes com a Natureza, criando, assim, a Filosofia (amor pela
sabedoria).
A situação política, económica e social de Atenas no séc. V a.C. contribuiu para um
novo impulso no pensamento e na filosofia: a par do mito, a política, a lei, a
democracia, o Homem e o seu modelo de actuação em sociedade passaram a ser os
assuntos de reflexão e especulação de muitos filósofos, dos quais se destacam:
Sócrates - tinha por divisa «só sei que nada sei e sobre tudo
tenho que reflectir», defendia que só o conhecimento de si próprio
e de tudo o que o rodeia é que permite ao Homem chegar à Virtude,
à Verdade, ao Bem e ao Belo. Com ele a filosofia passou a visar o
conhecimento do Homem para o orientar na vida individual e social;
o filósofo passou a ser um psicólogo, um moralista e um político.
Platão – discípulo de Sócrates, viveu em Atenas já em tempo
de crise política e moral, foi defensor de uma sociedade perfeita,
assente na justiça e nas leis harmónicas da Natureza.
Fundou a Academia, espécie de escola onde se estudava Psicologia
(ciência da alma), Matemática, Geometria, Astronomia e Lógica.
Platão valorizou não só o conhecimento empírico do mundo
sensível, mas especialmente a razão e a moral.
Aristóteles – foi aluno de Platão e, fundou em Atenas, o Liceu,
escola que englobou a primeira grande biblioteca da Antiguidade.
Os seus Tratados resultaram da observação do real, da
experimentação e da valorização da razão para conseguir a
organização dos conhecimentos com vista à procura das causas e das
leis gerais que regem a matéria. Por isso, é considerado não só um
dos fundadores da Filosofia, como também o percursor do espírito científico
contemporâneo.
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12. A arte grega
A Arquitectura
A arte grega clássica foi uma arte racional, expressão da comunidade e do
homem/cidadão. Aliou estética e ética, política e religião, técnica e ciência, realismo e
idealismo, beleza e funcionalidade e esteve ao serviço da vida publica. Os edifícios
gregos, pela sua perfeição, estabeleceram uma ligação harmoniosa entre o Homem e os
deuses, o mundo concreto e o mundo espiritual.
Evoluiu em três períodos claramente definidos, quer pelas carcterísticas estéticas quer
pelas tecnológicas. São eles:
O período arcaico, entre os séculos VIII e V a.C., que foi um logo espaço de
tempo caracterizado pela procura da ordem, do monumental, da sobriedade e da
maturidade.
O período clássico, que se desenvolveu entre a segunda metade do séc.V e o
séc. IV a.C. e foi um tempo em que a arte atingiu a plenitude, o equilíbrio, o
realismo e o idealismo.
O período helenístico, marcado pela mistura de culturas, pelo gosto do
particular, do concreto e individual e, simultaneamente, tempo de declínio da
cultura grega.
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13. Inicialmente a arquitectura grega era executada em
madeira, tendo sido substituída pela pedra calcária
(sobretudo a mármore) a partir dos finais do séc.VII a.C.
A arquitectura evoluiu, ligando-se permanentemente à
geometria e à matemática, criando-se regras e leis artísticas
(cânones). Ao arquitectos passaram a elaborar projectos
Entablamento de madeira nos quais constavam o estudo topográfico do terreno, a
adaptação do edifício ao relevo e a escolha criteriosa da ordem, de acordo com o tipo de
edifício; elaboravam cálculos onde as medidas e as proporções eram rigorosamente
estabelecidas. Produziam maquetas que eram submetidas, posteriormente, à aprovação
oficial.
O objectivo final da arte era a procura da unidade, beleza e harmonia universais,
suportadas por uma filosofia que buscou a relação do homem com o divino, com o
mundo e a sua origem, com a vida e a morte, assim como com a dimensão interior do
próprio homem – valores que hoje se designamos por Classicismo.
A arte grega esteve ao serviço da vida pública e da vida religiosa, conjugando-as
harmoniosamente. As suas cidades são exemplo disso.
A cidade grega era concebida com três áreas
distintas:
Uma área sagrada, religiosa, localizada
na acrópole e na qual eram construídos
os templos, santuários, oráculos e
tesouros.
Uma área pública, na zona baixa, onde
se instalava a ágora, que era o centro da
vida da pólis.
Uma área privada, de menor
importância monumental, constituída por
bairros residenciais organizados por
classes sociais.
O templo foi e continua a ser o exemplo
máximo da arquitectura grega. A sua forma e
13
14. estruturas básicas evoluíram a partir do mégaron micénico (sala do trono, no palácio),
que era formada por uma sala quadrangular, com um vestíbulo ou pórtico suportado por
duas colunas e com telhado de duas águas. Esta estrutura básica tornou-se,
gradualmente, mais complexa, com maiores dimensões e rodeada de colunas.
O templo era a morada e abrigo do deus, local onde se colocava a sua imagem, à qual
os fiéis não tinham acesso, pois os rituais eram realizados ao ar livre, em redor do
templo.
Os gregos usaram, na sua construção o sistema designado por trilítico, definido por
pilares verticais unidos por lintéis horizontais, não utilizando, normalmente, linhas
curvas.
Evolução planimétrica do templo grego
O exterior do edifício era majestosamente decorado com esculturas e pintado com
azuis, vermelhos e dourados. Virado para o exterior, o templo grego tem um forte
sentido escultórico.
Lintéis
horizontais
Pilares
verticais
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15. Reconstituição da fachada principal do Pártenon – Como se pode
verificar, o templo grego era «invulgarmente colorido» em relação à
aparência que lhe conhecemos hoje.
O sentido “escultórico” do templo advém-lhe tanto dos relevos, como da
cor e do equilíbrio e da justeza das proporções.
Na sua estrutura planimétrica, o templo era formado por três espaços:
uma cella ou naos, onde se encontrava a estátua da divindade,
antecedida por um espaço designado por pronaos, que era uma espécie de
pórtico,
e um outro espaço do lado posterior da cella que era o opistódomos, cuja
função era ser a câmara do tesouro, local onde se guardavam as oferendas aos
deuses e os bens preciosos da cidade.
Esta estrutura tripartida era rodeada por um peristilo, espécie de um corredor
coberto e circundante, aberto lateralmente através de uma ou mais fiadas de
colunas.
Planta do Templo de Hera:
1- Pronaos
2- Naos ou cella
3- Opistódomos (câmara
do tesouro)
4- Peristilo
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16. Em alçado, o templo era constituído por:
Uma base ou envasamento, que era uma plataforma elevada e tinha como
função nivelar o terreno.
As colunas, que
constituíam o sistema de
elevação e de suporte do tecto.
O entablamento, elemento
superior e de remate que
era formado pela a
arquitrave, pelo friso e pela cornija,
O frontão triangular.
O tecto de duas águas era coberto por telhas de barro.
O templo grego possui uma simetria axial, criando
fachadas simétricas, duas a duas.
Marcado por esta mesma estrutura desde a sua origem no séc. IX a.C., o templo grego
sofreu uma sensível evolução estilística. No séc. VII a.C., os Gregos já tinham definido
os dois principais estilos arquitectónicos ou ordens: a ordem dórica e a ordem jónica.
O conceito de ordem está ligado a um sistema de proporções que harmonizava as
partes do edifício em relação ao todo. Era aplicado ao traçado da coluna –
determinando as proporções das suas partes constituintes: base, fuste e capitel – e à
relação entre a sua espessura e a altura totais.
capitel
fuste
base
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17. A coluna é o elemento que melhor define as características de cada ordem, de tal forma
que o diâmetro médio do seu fuste determina o módulo métrico, segundo o qual se
construía todo o sistema proporcional do edifício.
A coluna teve também um valor icónico extremamente forte,
que esteve para além da sua função estrutural. Ela é o símbolo
do Homem, é antropomórfica – e tomou essa forma humana
no pórtico das cariátides do Erectéion, na acrópole de Atenas, e
de atlantes, como no caso do
Cariátide – é uma estátua
templo de Zeus Olímpico, em feminina utilizada como coluna
(Pórtico das Cariátides, no
Erectéion).
Agrigento.
A ordem dórica é a mais
antiga. Nasceu na Grécia
Continental, cerca de 600 a.C. e
possui formas geométricas, com
quase total ausência de
decoração. Derivou das
primitivas construções em
madeira nas quais a pedra era
utilizada apenas nas colunas e
alicerces.
Possui um aspecto maciço e
pesado, atribuindo-se-lhe um
carácter masculino e sóbrio.
Nesta ordem, o envasamento é
composto pelo estereóbato,
plataforma de alicerçamento
rodeada de dois ou mais
degraus de acesso e pelo
estilóbato, que é o último
degrau (o superior) onde assenta o edifício.
Estrutura dórica
A coluna é robusta e possui fuste com caneluras em
17
18. aresta viva e capitel formado por ábaco e equino, ou coxim, muito simples e
geométrico.
O entablamento compreende a arquitrave, o friso (dividido em métopas e tríglifos)
e a cornija. O frontão triangular coroa o edifício.
Exemplos de templos de ordem dórica são:
O templo de Hera, em Olímpia;
O de Poséidon,
O de Apolo, em Corinto;
O de Ceres,
Estrutura dórica
O mais famoso de todos, o Pártenon, em Atenas.
Templos dóricos
18
20. A ordem jónica nasceu no séc.VI a.C., na Jónia, e desenvolveu-se sobretudo nas
costas da Ásia Menor e nas ilhas do Mar Egeu. Esta ordem difere da ordem dórica nas
proporções de todos os elementos e na decoração mais abundante da coluna e do
entablamento. Esta, associada às suas dimensões mais esbeltas, confere-lhe um carácter
feminino.
20
21. O envasamento dos
edifícios de ordem jónica é
formado apenas pelo
estereóbato constituído por
três degraus.
A coluna possui uma base
individual, um fuste com
caneluras semicilíndricas,
sem arestas vivas, e em
maior número que a coluna
dórica, e também mais longo
e delgado e um capitel com
ábaco simples e equino em
forma de volutas enroladas
em espiral.
O entablamento tem uma
arquitrave tripartida
longitudinalmente e um friso
contínuo, com decoração esculpida, rematado pela
Estrutura jónica
cornija; o frontão triangular encima o edifício, tal como
acontece com a ordem dórica.
Este tipo de estrutura foi aplicado tanto a edifícios de planta simples, como o templo
de Atena Niké, como a edifícios de planta
mais complexa, como o de Erectéion. Neste
edifício, a função icónica da coluna adquire
antropomorfismo num dos pórticos, através da
sua substituição por estátuas femininas – o pórtico das
Estrutura jónica
cariátides.
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22. Templos jónicos
Templo de Atena Niké
Planta do
Templo de
Atena Niké
Templo de Erectéion
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23. A ordem coríntia apareceu apenas no final do séc. V a.C. e é uma derivação da ordem
jónica, resultante do seu enriquecimento decorativo. O seu nome deriva
do seu autor que foi Calímaco de Corinto.
As principais diferenças estão na coluna que
possui uma base mais trabalhada, um fuste
mais delgado e um capitel em forma de sino
invertido, que era repleto de decoração
esculpida, formada pelas duas filas de folhas
de acanto, coroadas por volutas jónicas.
O entablamento e o frontão eram
sobrecarregados de refinados preciosismos decorativos.
A ordem coríntia foi a ordem preferida pelos romanos, que a
utilizaram de forma muito frequente.
Na Grécia podemos encontrar esta ordem no Templo de Zeus Olímpico e no
Monumento Corágico a Lisícrates, situados em Atenas.
Ruínas do Templo de Zeus Olímpico, em Atenas
23
24. A Escultura
A escultura grega glorifica os seus atletas, heróis e deuses – estes últimos criados à
imagem e semelhança dos homens dos seus modelos e ideais. Foi concebida e
concretizou noções particulares de beleza e harmonia, tendo como “papel primordial
pôr em evidência a ideia de que a arte é conseguida pela habilidade da
representação exacta das aparências visíveis”. E, de tal forma esta ideia era notória,
que os artistas chegavam ao ponto de colorir totalmente as estátuas para atingir o
realismo desejado.
A escultura grega cumpriu funções religiosas, políticas,
honorificas e funerárias, assim como ornamentais.
Estreitamente ligada à arquitectura – ocupando espaços
próprios a ela destinados – a escultura grega,
simultaneamente realista e idealista, possui uma dimensão
profundamente humana, realizando uma unidade lógica e
harmónica que foi expressão do
pensamento grego. Esse humanismo foi
traduzido por meio do tema e da medida,
pois a temática da escultura grega, à
excepção da figura do centauro, é exclusivamente humana.
Foi no séc. V a.C. – época clássica – que a escultura (tal como aconteceu com as
outras artes) atingiu o auge da beleza e da perfeição, com as obras do mais genial
escultor desse período – Fídias – que executou os relevos do Pártenon.
A génese da escultura grega situa-se entre os séculos IX e VI a.C., a qual foi feita
sobretudo em madeira. A última etapa deste longo
espaço de tempo é designado por período arcaico e
situa-se entre os séculos VII, VI e inicio do séc. V
a.C..
As obras deste período denotam diversas
influências, nomeadamente assíria, egípcia, cretense,
micénica e oriental.
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25. No período arcaico estabilizou-se o enquadramento da escultura na arquitectura.
Assim, o relevo ficou sujeito ás formas e dimensões dos espaços arquitectónicos a ele
destinados.
Na ordem dórica distribui-se
pelas métopas e pelos tímpanos dos
frontões, enquanto que na ordem
jónica, para ale
dos tímpanos, é
aplicada nos
frisos contínuos.
O relevo possui, desde cedo, duas funções essenciais:
A de contar uma “história” mágica ou a vitória de um deus, narrando e
comemorando o acto que justifica a edificação do templo,
Preencher e decorar o espaço arquitectónico.
Esses relevos eram inicialmente feitos em terracota, pintados com cores vibrantes,
mais tarde, foram executados em mármore.
É na escultura dos tímpanos que se estabelece uma perfeita harmonia entre o trabalho
do escultor e do arquitecto. Na forma triangular, é difícil estabelecer uma composição
equilibrada, mas os gregos souberam resolver a situação de modo inteligente e singular,
colocando diversas figuras, em variadas posições, de acordo com o espaço a ocupar. A
dimensão e a posição das figuras tinha a ver com o seu grau de importância no
acontecimento representado. Assim, as principais eram colocadas de pé, na máxima
altura do tímpano, enquanto que as restantes se adaptavam aos lados decrescentes do
triângulo, aparecendo primeiro curvadas, depois sentadas e, por fim, deitadas.
25
26. Nas métopas colocavam cenas míticas com duas ou
três personagens que, no seu conjunto, contavam
histórias de heróis, de gigantes, de centauros, …qual
banda desenhada em pedra.
Mas é no friso jónico, contínuo, que o artista tinha maior liberdade criadora, aí
desenvolvendo uma acção sequenciada, numa sucessão de ritmos narrativos, sem
interrupções e sem monotonia. Os temas mais utilizados eram as procissões, os desfiles,
as corridas de carros, etc.
As características dos relevos são idênticas às da estatuária:
As figuras têm uma anatomia esquemática;
Movimentos rígidos;
Rostos orientalizantes, com olhos oblíquos e amendoados, maçãs do rosto
salientes e barba e cabelos simplificados e geometrizados.
Da estatuária chegaram até nós dois tipos básicos de figuras:
Uma masculina que é a representação de um jovem nu ou kouros;
Uma rapariga vestida designada por koré.
O kouros simboliza o deus da juventude e da plenitude, ao qual se iria chamar Apolo ou
Hermes.
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27. Foi nestas estátuas que os gregos ensaiaram as primeiras representações anatómicas e o
movimento corporal.
Kouros
Inicialmente, eram mais rígidas, de corpos
hirtos, ombros largos e a anca estreita,
braços esticados ao longo do corpo; a barba
e o cabelo eram simplificados e
convencionais – em caracóis, tranças ou
ondas; e o rosto, muito esquemático,
desenhava um sorriso enigmático nos
lábios. Gradualmente, estas estátuas heróis
adquirem alguma flexibilidade e
movimento, desprendendo os braços do
corpo e ganhando, também, expressão
facial.
O equivalente feminino, as korai, plural de koré, são jovens virgens, graciosas e
encantadoras, que se apresentam vestidas
com longas túnicas pregueadas que eram
pintadas de cores luminosas, vivas e
cintilantes. Os seus rostos simétricos, com
meios sorrisos e cabelos longos, ondulados
e, por vezes, entrançados, são de uma
imobilidade serena
Koré
27
28. No período clássico, a escultura grega tem perfeitamente
definidas as regras pelas quais se iria reger. A primeira obra
deste período que atinge maior expressão foi o Discóbolo de
Míron, representação do atleta lançador do disco. Aqui o
escultor abandonou as regras arcaicas, introduzindo a noção de
movimento eminente.
M as
Mas foi com Fídias, o artista mais genial de todo o século
Va.C., que a escultura grega atingiu a absoluta perfeição.
Nas obras deste escultor ressaltam a perfeição anatómica, a
Discóbolo
robustez e a serenidade, a força e a majestade que deram à
escultura clássica grega o carácter idealista e divinizado que lhe conhecemos. As suas
peças, de incomparável, mestria são conhecidas pelas descrições dos seus
contemporâneos e as suas qualidades técnicas e artísticas são confirmadas pelos relevos,
algumas estátuas mutiladas e a réplica de famosa Atena Parteno feita em marfim, ouro e
pedras preciosas.
A escultura do séc. IVa.C. conheceu novos
desenvolvimentos, pois foi marcado pelo aspecto sedutor e
gracioso das estátuas e pelo aparecimento do nu feminino.
Relevos e estátuas tornaram-
se mais naturalistas, trabalhadas
ao estilo dos seus autores. Foi o
caso do escultor Scopas, que
produziu obras de
características mais expressivas
e de Praxíteles que executou
corpos mais
esbeltos e
efeminados, como
o seu Hermes. Foi
este que assumiu,
pela primeira vez, a nudez feminina na estatuária.
28
29. Lisipo introduziu na escultura a
verdadeira noção de vulto redondo e
marcou esta etapa com o mais elevado
naturalismo, criando um novo tipo de
atleta mais esbelto. Rompeu com o rigor
da frontalidade, podendo as estátuas ser
vistas de todos os ângulos e não como se
fossem altos-relevos destacados do fundo,
com um ponto de vista principal.
No período helenístico – séculos III, II e I a.C. – a
escultura evoluiu num sentido diferente dos séculos
anteriores. O “realismo idealista” do séc.V a.C. foi
substituído pelo “naturalismo” do séc. IV, que agora
cedeu lugar a um realismo expressivo, dramático e livre,
de efeito teatral.
O sofrimento e as paixões apoderam-se do corpo e dos
rostos, abandonando a serenidade tão característica da
arte grega.
Os grupos escultóricos, susceptíveis de
composições mais dinâmicas, sucedem-se às
esculturas individualizadas, descrevendo
acontecimentos e narrando histórias, como no caso do grupo de Lacoonte e de Os
Lutadores.
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30. Mesmo as figuras individualizadas parecem ter
sido extraídas de uma narrativa, como no caso de O
Gaulês Moribundo.
É neste período que se
produzem e vendem, para as
colónias gregas e para Roma,
cópias das estátuas clássicas
que chegaram até nós e nos
deram a conhecer o génio
escultórico grego. Duas
dessas peças são a Vitória
Samotrácia e a Vénus de
Milo.
30
31. Sócrates Épicuro Pitágoras
A par destas representações monumentais, desenvolve-se, também neste período, o
gosto pelo retrato com representações mais realistas e pelas
cenas do género retiradas da vida quotidiana, captada com
realismo tal que dá ênfase até às deformidades físicas do ser
humano e às representações da infância e da velhice.
Já em pleno período romano, tornaram-se populares as
conhecidas estatuetas de Tanagra, pequenas figurinhas de
barro policromado, cópias de
originais clássicos, inspiradas em cenas pitorescas do
quotidiano e da religião, que constituíram uma arte
requintada de salão, destinada ao consumo das elites.
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32. A Cerâmica e a pintura
A cerâmica, pela sua decoração, com relatos de cenas míticas, representações de reis e
atletas, de cenas do quotidiano, etc., constitui um repositório fidedigno de imagens da
arte e da cultura gregas. Na falta de outros documentos históricos, como o da pintura
mural que desapareceu quase toda, é à cerâmica que vamos colher informações
necessárias para o entendimento da cultura, da civilização e da plástica gregas.
De entre o artesanato artístico deixado pelos gregos, a cerâmica tem um lugar de
destaque.
Mercadoria de primeira necessidade, pois servia para múltiplos usos, a cerâmica teve
32
33. grande produção, e das inúmeras oficinas gregas sobressaem as atenienses, detentoras
das peças mais significativas e variadas, bem como os autores de maior qualidade.
Levada pelos mercadores, a cerâmica espalhou-se por todo o Mediterrâneo.
Na evolução plástica da cerâmica grega os especialistas distinguem os seguintes
estilos:
O estilo geométrico, situado entre os séculos IX e VIII a.C., distingue-se pela
decoração estrita de motivos geométricos. Estes motivos eram dispostos à roda
do corpo dos vasos, em bandas ou frisos
paralelos e sobrepostos, cobrindo-os até à
cintura. Cada banda era ornamentada a partir
de motivos geométricos simples – o ponto, a
linha, o círculo -, organizados em
combinações e
variações
criativas,
algumas das
quais usadas
desde o Neolítico: meandros, triângulos,
losangos, linhas quebradas ou contínuas,
axadrezados…
Estes motivos eram realçados a preto (ou com
um verniz castanho-ocre, muito brilhante) sobre
o fundo de cor natural dos vasos.
A partir de inícios do séc. VIII,
reintroduziram-se os elementos figurativos na decoração cerâmica, mas este
apresentavam-se como meras silhuetas a negro, muito esquematizadas e
estilizadas, de onde se excluíram todos os pormenores secundários.
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34. Estes elementos decorativos eram
constituídos por animais compondo pequenos
frisos decorativos e por seres humanos,
isolados ou organizados em cenas descritivas
e narrativas.
Neste caso, os temas resumiam-se a batalhas
e cerimónias fúnebres.
Nos primeiros, as personagens eram
guerreiros apresentados em diversas posições
de combate; nos últimos, as cenas descrevem
os cortejos fúnebres com soldados e
carpideiras seguindo o carro onde viaja o
corpo do morto, exposto sobre a urna.
Quanto às formas, a tendência foi para o
aumento progressivo do tamanho das peças,
algumas das quais atingiram proporções
monumentais. Com feito, as ânforas e crateras
ultrapassaram, nalguns casos, 1,5m de altura.
Estas grandes peças destinavam-se a ser
colocadas nos cemitérios como indicadores das sepulturas, à maneira de estelas ou
monumentos funerários. Continham óleos, unguentos sagrados e outras oferendas feitas
aos mortos.
A fase arcaica abrange os finais do séc.VII até cerca
de 480 a.C.
Esta fase ficou marcada pelo
aparecimento, na ática, da cerâmica
decorada pela técnica das figuras
pintadas a negro. Trata-se de uma
cerâmica elegante e sofisticada,
fruto e uma técnica elaborada,
destinada ao comércio de luxo.
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35. Sobre o fundo vermelho do barro destacam-se os elementos figurativos,
representados como silhuetas estilizadas à
maneira antiga (rosto de perfil, com olho de
frente, tronco de frente, ancas a três
quartos e pernas de
perfil) e totalmente
preenchidas a cor
negra.
A técnica da incisão permitiu pormenorizar o interior das
figuras, enriquecidas com linhas de contorno dos
músculos e outras partes do corpo, com
particularidade como a barba, o cabelo ou os
padrões do vestuário.
O estilo clássico situa-se entre 480 e 323 a.C.
Artisticamente, corresponde ao período de apogeu
técnico, estético do povo grego, no qual a arte foi
encarada como uma consequência directa da
superioridade criativa, racional e filosófica da
cultura grega.
Em consequência, o desenho e a pintura
desenvolveram-se extraordinariamente pela
descoberta, aperfeiçoamento e aplicação de
revolucionárias aplicações técnicas e formais:
aplicação da perspectiva, criação do claro-
escuro, aplicação de sombras…
Na cerâmica, estas inovações traduziram-se
numa crescente qualidade artística. Manteve-se
o fabrico da cerâmica das figuras negras, mas
implantou-se a técnica das figuras vermelhas.
Nesta técnica, toda a superfície do vaso era
coberta com verniz negro, com excepção das
35
36. figuras, cujas silhuetas se mantinham da cor
avermelhada, natural da argila.
Os pormenores anatómicos e outros eram
acrescentados, posteriormente, a pincel mergulhado em
tinta preta. Associada à perfeição alcançada entretanto
pelo desenho, esta técnica imprimiu às figuras
decorativas da cerâmica uma plasticidade nova,
tridimensional.
Com pouco desenho interno – apenas alguns traços
que sugeriam os volumes -, os corpos adquirem perspectiva, movimento, naturalidade e
realismo. Apareciam enquadrados em espaços figurados onde não faltavam, por vezes,
pequenos apontamentos de cenários naturais ou arquitectónicos.
Estilo belo – ainda no séc.IV a.C. desenvolveu-se uma
variedade de estilos decorativos. Alguns autores
associaram livremente figuras vermelhas e negras
sobre fundos amarelados ou brancos, obtendo
elegantes efeitos estéticos.
Nas oficinas da Ática, desenvolveu-se
uma cerâmica funerária com fundo
branco, onde as formas das figuras se
definiam unicamente pela linha de
contorno, traçada com precisão.
À cerâmica grega foi atribuída uma
grande importância, tal como é
comprovada pelas fontes escritas.
As principais olarias de cada cidade usufruíam de prestígio e
popularidade, que se estendiam aos mais apreciados oleiros e
pintores ceramistas. Com efeito, como os filósofos, arquitectos
e escultores do seu tempo, muitos dos mestres artesãos
alcançaram a imortalidade pelas peças produzidas. Tal foi o
caso de Clítias, Apolodoro, Eufrónio, Exéquias e outros cujas obras são o melhor
36
37. testemunho do grande valor artístico da cerâmica grega que viveu o seu apogeu
precisamente no séc.IV a.C.
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