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O Homem da democracia de Atenas

O século V a. C., o século de Péricles

 No séc. V a. C., a Atenas democrática de Péricles representa o culminar de um tempo
histórico e artístico da Grécia, a primeira
civilização da Antiguidade Clássica, da        Antiguidade Clássica – período da
                                               História que compreende a origem e o
qual somos herdeiros.                          desenvolvimento das civilizações grega e
                                               romana (desde o 1º milénio a. C. a 476 d. C..
 O coração da Grécia Antiga ficava situado     O adjectivo clássico refere-se a tudo o que é
                                               deste período ou com ele se assemelha.
na Península Balcânica, no Mediterrâneo
Oriental.




 Porém, o mundo grego estendia-se pelas ilhas do Mar Egeu, pelas costas da Ásia
Menor e margens do Mar Negro, pelo sul da Itália e pela Sicília.
 Foi a partir do séc. XVIII a.C. que, à medida que a população crescia e a produção
agrícola se revelava insuficiente para a alimentar, muitos gregos abandonaram a
metrópole e foram estabelecer-se naquelas paragens, onde fundaram colónias agrícolas
e comerciais, as quais eram novas cidades-estado, com organização política, religiosa e
cultural    idêntica   à   das   cidades-mãe   Mundo Helénico – Os gregos chamavam-se
                                               a si próprios Helenos e à Grécia, Hélade.
(metrópoles) e mantendo com elas ligações      Consideravam-se senhores de uma cultura
comerciais e culturais muito intensas.         superior e chamavam “bárbaros” a todos os
                                               povos que não falavam a sua língua, o grego.
 Apesar do afastamento, os habitantes          O mundo helénico incluía a Grécia e as suas
                                               colónias.
destas colónias continuaram a sentir-se



                                                                                               2
como parte integrante do mundo helénico, partilhando a mesma cultura: a língua, a
moeda, os costumes, os objectos do quotidiano, os conhecimentos e os deuses.
 O mundo helénico nunca esteve politicamente
                                                        Cidades-estado (pólis) – cidade
unido. Na realidade, era um mundo de cidades-           independente dotada de órgãos de
                                                        governo próprios.
estado (pólis) independentes e rivais, das quais as
mais importantes eram Atenas, Esparta e Tebas.
 O isolamento, provocado pelo relevo montanhoso, e as velhas rivalidades entre as
tribos gregas, explicam, em grande parte, a formação das cidades-estados. Estas eram
constituídas pela cidade propriamente dita e pela zona rural envolvente, podendo
algumas pólis incluir, além da cidade principal, outras pequenas cidades.
 Apesar da rivalidade política, por vezes causadora de guerras violentas, havia laços
culturais a unir todos os gregos: falavam a mesma língua, adoravam os mesmos deuses,
tinham modos de vida semelhantes e, por vezes, uniam-se para celebrar grandes jogos e
festividades e para combater povos invasores.
 Todas as pólis tinham a sua ágora (praça pública, local de comércio e de encontro e
convívio entre os cidadãos) e a sua acrópole (zona mais elevada da cidade,
normalmente fortificada, onde se situavam os templos dos deuses protectores da cidade
e alguns dos mais importantes edifícios da mesma).
 A maioria das pólis não excedia os 20 mil habitantes. Atenas, porém, ultrapassava
largamente esse número, atingindo os 350 mil.


A Polis de Atenas


 Atenas situa-se na Península da
Ática, nas proximidades do mar. A
agricultura começou por ser a base
da economia, até meados do séc.
VII a. C. A vinha, a oliveira, os
cereais e o mel eram as suas
principais produções. A criação de
gado era, também, uma importante
actividade económica.




                                                                                           3
Desde cedo os atenienses aproveitaram a proximidade do mar para fazer a exploração
dos excedentes agrícolas e artesanais. O desenvolvimento artesanal, sobretudo da
metalurgia e cerâmica, foi um factor importante para o estabelecimento de relações
comerciais com as colónias gregas.
 Através do Porto do Pireu, Atenas abriu-se ao mar e construiu um verdadeiro império
comercial e naval.

 Porto do Pireu (porto de Atenas) – Situado a 10Km da cidade, tinha uma importância
 económica e estratégica vital. Através dele, a cidade exportava os excedentes agrícolas e artesanais
 e importava cereais, matérias-primas e artigos de luxo. Mas o porto tinha, também, uma grande
 importância militar e naval. Por este facto, os acessos da cidade ao porto estavam protegidos por
 poderosas muralhas.




     1 e 2- Baías que serviam de enseadas para os navios de guerra.
     3- Porto principal, onde se encontravam os armazéns e instalações navais e administrativas



 O comércio marítimo ateniense beneficiou do uso da moeda, que veio substituir a
troca directa. No território de Atenas existiam minas de prata, as minas de Láurio, o
que permitiu a cunhagem da moeda em prata.
 Atenas desenvolveu uma intensa economia monetária, comercial e marítima. A
forte actividade de construção naval contribuiu para o crescimento económico desta
cidade.
Atenas, situada na Península da Ática, tornou-se a cidade-estado mais próspera do
mundo helénico no séc.V a.C.



                                                                                                        4
Neste século, Atenas reforçou a sua posição de potência regional, após as vitórias
sobre os Persas, nas batalhas de Maratona (490 a.C.) e de Salamina (480 a.C.).
 A invasão da Grécia pelos Persas, no século V a.C., conduziu à formação de uma
aliança defensiva, a Liga de Delos (478 a.C.). Atenas e as outras cidades-estado gregas
uniram-se contra o domínio dos Persas. Atenas liderava esta aliança, conseguindo
formar uma poderosa frota militar e afastar o perigo persa.
  Afastado o perigo, Atenas continuou a exigir às suas aliadas, o pagamento de
contribuições, usando-as em benefício próprio.
  Esta apropriação abusiva das contribuições da Liga de Delos permitiu à cidade de
projectar-se, ainda mais, em termos económicos e políticos e alcançar um brilho
cultural notável no tempo de Péricles época em que foram realizados trabalhos de
construção e reparação de belos edifícios – templos, pórticos, fontes, edifícios
municipais - e atraiu muitos talentosos artistas, filósofos e intelectuais, provenientes de
todo o mundo grego, que muito contribuíram para um notável desenvolvimento.


A sociedade
  A partir de 508 a.C., a estrutura da sociedade
ateniense foi alterada com a instituição da
democracia. Os cidadãos estabeleceram a
igualdade entre eles e passaram a dominar a
vida política.
  A sociedade ateniense era formada por
cidadãos, metecos e escravos. Dos cerca de
350 000 habitantes da cidade-estado, apenas
1/10 eram cidadãos. Só estes tinham o direito de participar no governo da cidade. Na
categoria de cidadão estavam incluídos os homens de mais de 20 anos de idade, de
descendência de pai e mãe atenienses e com o serviço militar cumprido.
  Os metecos eram homens livres, geralmente estrangeiros. Dedicavam-se às
actividades comerciais e artesanais. Não tinham o direito de participar na vida política
da cidade, nem possuir terras, embora pagassem impostos e prestassem serviço militar.
  Os escravos eram o grupo social mais desfavorecido de Atenas, porém, não eram
maltratados. Geralmente eram de origem estrangeira: prisioneiros de guerra, raptados
por piratas ou comprados. Não tinham quaisquer direitos e executavam os trabalhos



                                                                                         5
mais duros (minas, obras, campos…) e trabalhos domésticos. Podiam pertencer ao
estado, aos cidadãos ou a metecos.


  O funcionamento do regime democrático
 Nos séculos VII e VI a.C., foram realizadas algumas reformas políticas e sociais
importantes, feitas por Drácon, Sólon e Pesístrato. Estas beneficiaram as populações
mais pobres e vieram a ser completadas com a reforma de Clístenes, através das quais se
instituiu a democracia (governo exercido pelo povo), um sistema político inovador em
que o governo era assegurado por todos os cidadãos da pólis através da sua
participação na Assembleia.
 A Eclésia ou Assembleia do Povo era o principal órgão político ateniense, ao qual
cabia o poder legislativo. Nesta assembleia reuniam-se todos os cidadãos.
 A Bulé ou Conselho dos Quinhentos era constituída por 500 membros e preparava
os textos legislativos para serem aprovados na Eclésia.
 O poder executivo era exercido pelos magistrados, que asseguravam o cumprimento
das decisões da Eclésia.
 O poder judicial era confiado aos juízes e aos tribunais. O Helieu era o principal
tribunal, formados por 6000 juízes, que julgava os casos mais comuns de não
cumprimento das leis.




                                                                                     6
Um dos princípios fundamentais da democracia ateniense consistia na igualdade de
direitos entre os cidadãos, na participação do governo de Atenas. Qualquer cidadão
podia exercer cargos políticos ou aprovar leis da Eclésia. Todas as decisões eram
tomadas por todos os cidadãos e não por governantes. Por isso se diz que a democracia
ateniense era uma democracia directa.


                       A democracia atingiu o seu apogeu durante o governo de Péricles,
                     no séc.V a.C.. Foi neste século –   Péricles    (495-429a.C.)      –
                                                         Estadista general e grande orador
                     chamado o século de Péricles –      ateniense, Péricles foi eleito
                     que   Atenas   alcançou   o   seu   anualmente estratego de 443 a 429
                                                         a.C.. Foi uma personalidade tão
                     esplendor político, económico e     marcante no seu tempo que o séc.V
                                                         a.C. ficou para a História como o
                     cultural.                           século de Péricles.




 Apesar de a democracia ateniense assentar no princípio da igualdade de direitos entre
todos os cidadãos, esta democracia era limitada a uma minoria da população.
 De facto, apenas os cidadãos podiam participar no governo da cidade-estado. Os
metecos, os escravos e as mulheres estavam excluídos dessa participação.
   Outras limitações e contradições da democracia ateniense eram.
      A existência da escravatura
      As condenações ao ostracismo (exílio) e à morte
      A limitação à liberdade de expressão (certas críticas aos governantes não eram
       toleradas)
      O imperialismo ateniense (Atenas subjugou durante muito tempo outras
       cidades ao seu domínio, sob o pretexto de estas não pagarem os tributos
       estipulados pela Liga de Delos. Os recursos financeiros obtidos através dessa
       Liga serviram para aumentar o desenvolvimento económico, artístico e cultural
       de Atenas).
Apesar das suas limitações, a democracia ateniense foi um exemplo de participação e de
governação que influenciou a maior parte das cidades marítimas da Grécia. Este regime
constituiu um dos mais importantes legados culturais da Civilização Grega para a
civilização ocidental do nosso tempo.



                                                                                        7
A mitologia: deuses e heróis


 Os gregos eram politeístas (adoravam vários deuses) e descreviam os seus deuses
como seres semelhantes aos homens na forma e nos sentimentos, paixões, defeitos e
vícios (antropomorfismo). Distinguiam-se dos homens pela sua imortalidade, o poder de
se tornarem invisíveis e de adquirirem várias formas (metamorfose).
 O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade-
estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era
a deusa protectora de Atenas.


 Os deuses do Olimpo                           O mundo dos heróis

 O monte do Olimpo era a residência dos        Os Gregos concebiam o Universo como
 deuses gregos. Zeus era a autoridade          uma grande cidade, partilhada por deuses e
 máxima, do qual se formou uma                 homens. Por vezes, acontecia os deuses
 genealogia dos seus irmãos, irmãs e filhos.   aliarem-se aos homens. Os heróis eram a
 Contudo, cada membro da família divina        prova dessa aliança. Homens divinizados,
 possuía o seu domínio próprio.                filhos de um deus e de um ser humano,
 Zeus era o chefe dos deuses do céu. Os        eram considerados homens extraordinários,
 seus irmãos Posídon e Hades eram deuses       possuidores de uma força e coragem sobre-
 do mar e do mundo subterrâneo dos             humanas. Muitos deles eram considerados
 mortos, respectivamente. Hera e Deméter,      os fundadores lendários de cidades gregas.
 suas irmãs, protegiam a fecundidade. Zeus     Hércules, possuidor de uma força
 casou com Hera e esta tornou-se a deusa       extraordinária foi o mais famoso dos heróis
 do casamento. Deméter tornou-se a deusa       gregos. Teseu, o fundador de Atenas pôs
 da terra cultivada                            fim à crueldade do Minotauro. Édipo foi o
                                               herói lendário de Tebas; Prometeu deu o
                                               fogo aos homens e Orfeu encantou com a
                                               sua música.




                                                                                        8
O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade-
estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era
a deusa protectora de Atenas.


 Para que a sua intervenção fosse benéfica, os deuses eram alvo de culto cívico na
cidade, por toda a população da pólis que, em ritos colectivos e segundo um calendário
oficial, se concentrava em frente dos templos, dedicados aos deuses. Aí, assistia-se a
sacrifícios, faziam-se oferendas, cantava-se em uníssono, dançava-se e participava-se
em outras solenidades festivas, como as Panateneias de Atenas (procissão em honra da
deusa Atena) ou as Grandes Dionísias (festivais de Primavera, realizados em Atenas,
em honra de Dioniso, que incluíam concursos de peças de teatro que ali eram
representadas e apreciadas por um júri) numa grande atitude religiosa, cultural, cívica e
política própria para uma religião de Estado.


 A par dos grandes festivais em honra dos seus protectores de cada cidade-estado, os
gregos participavam, também no culto e nos jogos em honra dos deuses principais. A
estas formas de culto ocorria gente de toda a Grécia, suspendendo-se as hostilidades e
declarando-se tréguas, caso estivessem em guerra. De todos os festivais pan-helénicos
– participados por todos os gregos – da Grécia Antiga, os mais importantes foram os
Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, de quatro em quatro anos, em honra de Zeus.


Os gregos socorreram-se da religião para explicarem determinados fenómenos criando
mitos. A origem do Universo e da Humanidade eram os fenómenos que mais
                       despertavam o interesse e a curiosidade dos seres humanos de
                       então. Ao conjunto destas histórias (mitos) sobre a vida dos
                       deuses e das explicações dos grandes fenómenos e mistérios do
                       mundo e do homem denomina-se por mitologia.
                        A mitologia grega estava muito presente nas obras literárias
                       (poesia, tragédia e comédia) e nas artes plásticas (estátuas,
                       relevos e cerâmica).




                                                                                       9
A Organização do Pensamento


 No séc. VI a.C., nas colónias gregas da Ásia Menor, como Mileto, e devido ao bem-
estar económico e à vivência do ócio (tido como suscitador do espírito reflexivo e
crítico), surgiram alguns pensadores que procuraram explicações coerentes e racionais
para a origem do mundo material, para as relações do Homem com o Cosmos, dos
homens entre si e destes com a Natureza, criando, assim, a Filosofia (amor pela
sabedoria).
 A situação política, económica e social de Atenas no séc. V a.C. contribuiu para um
novo impulso no pensamento e na filosofia: a par do mito, a política, a lei, a
democracia, o Homem e o seu modelo de actuação em sociedade passaram a ser os
assuntos de reflexão e especulação de muitos filósofos, dos quais se destacam:
                        Sócrates - tinha por divisa «só sei que nada sei e sobre tudo
                   tenho que reflectir», defendia que só o conhecimento de si próprio
                   e de tudo o que o rodeia é que permite ao Homem chegar à Virtude,
                   à Verdade, ao Bem e ao Belo. Com ele a filosofia passou a visar o
                   conhecimento do Homem para o orientar na vida individual e social;
                   o filósofo passou a ser um psicólogo, um moralista e um político.
                        Platão – discípulo de Sócrates, viveu em Atenas já em tempo
                    de crise política e moral, foi defensor de uma sociedade perfeita,
                    assente na justiça e nas leis harmónicas da Natureza.
                    Fundou a Academia, espécie de escola onde se estudava Psicologia
                    (ciência da alma), Matemática, Geometria, Astronomia e Lógica.
                    Platão valorizou não só o conhecimento empírico do mundo
sensível, mas especialmente a razão e a moral.
                       Aristóteles – foi aluno de Platão e, fundou em Atenas, o Liceu,
                   escola que englobou a primeira grande biblioteca da Antiguidade.
                   Os seus Tratados       resultaram da observação do real, da
                   experimentação e da valorização da razão para conseguir a
                   organização dos conhecimentos com vista à procura das causas e das
                   leis gerais que regem a matéria. Por isso, é considerado não só um
dos fundadores da Filosofia, como também o percursor do espírito científico
contemporâneo.



                                                                                       10
A Ágora de Atenas




                    11
A arte grega


A Arquitectura


 A arte grega clássica foi uma arte racional, expressão da comunidade e do
homem/cidadão. Aliou estética e ética, política e religião, técnica e ciência, realismo e
idealismo, beleza e funcionalidade e esteve ao serviço da vida publica. Os edifícios
gregos, pela sua perfeição, estabeleceram uma ligação harmoniosa entre o Homem e os
deuses, o mundo concreto e o mundo espiritual.
 Evoluiu em três períodos claramente definidos, quer pelas carcterísticas estéticas quer
pelas tecnológicas. São eles:
      O período arcaico, entre os séculos VIII e V a.C., que foi um logo espaço de
       tempo caracterizado pela procura da ordem, do monumental, da sobriedade e da
       maturidade.
      O período clássico, que se desenvolveu entre a segunda metade do séc.V e o
       séc. IV a.C. e foi um tempo em que a arte atingiu a plenitude, o equilíbrio, o
       realismo e o idealismo.
      O período helenístico, marcado pela mistura de culturas, pelo gosto do
       particular, do concreto e individual e, simultaneamente, tempo de declínio da
       cultura grega.




                                                                                      12
Inicialmente a arquitectura grega era executada em
                             madeira, tendo sido substituída pela pedra calcária
                             (sobretudo a mármore) a partir dos finais do séc.VII a.C.
                              A arquitectura evoluiu, ligando-se permanentemente à
                             geometria e à matemática, criando-se regras e leis artísticas
                             (cânones). Ao arquitectos passaram a elaborar projectos

   Entablamento de madeira   nos quais constavam o estudo topográfico do terreno, a
adaptação do edifício ao relevo e a escolha criteriosa da ordem, de acordo com o tipo de
edifício; elaboravam cálculos onde as medidas e as proporções eram rigorosamente
estabelecidas. Produziam maquetas que eram submetidas, posteriormente, à aprovação
oficial.
  O objectivo final da arte era a procura da unidade, beleza e harmonia universais,
suportadas por uma filosofia que buscou a relação do homem com o divino, com o
mundo e a sua origem, com a vida e a morte, assim como com a dimensão interior do
próprio homem – valores que hoje se designamos por Classicismo.
 A arte grega esteve ao serviço da vida pública e da vida religiosa, conjugando-as
harmoniosamente. As suas cidades são exemplo disso.
                                          A cidade grega era concebida com três áreas
                                        distintas:
                                               Uma área sagrada, religiosa, localizada
                                                na acrópole e na qual eram construídos
                                                os   templos,      santuários,   oráculos    e
                                                tesouros.
                                               Uma área pública, na zona baixa, onde
                                                se instalava a ágora, que era o centro da
                                                vida da pólis.
                                               Uma     área       privada,      de   menor
                                                importância monumental, constituída por
                                                bairros residenciais organizados por
                                                classes sociais.


                                          O templo foi e continua a ser o exemplo
                                        máximo da arquitectura grega. A sua forma e



                                                                                            13
estruturas básicas evoluíram a partir do mégaron micénico (sala do trono, no palácio),
                  que era formada por uma sala quadrangular, com um vestíbulo ou pórtico suportado por
                  duas colunas e com telhado de duas águas. Esta estrutura básica tornou-se,
                  gradualmente, mais complexa, com maiores dimensões e rodeada de colunas.


                     O templo era a morada e abrigo do deus, local onde se colocava a sua imagem, à qual
                  os fiéis não tinham acesso, pois os rituais eram realizados ao ar livre, em redor do
                  templo.


                     Os gregos usaram, na sua construção o sistema designado por trilítico, definido por
                  pilares verticais unidos por lintéis horizontais, não utilizando, normalmente, linhas
                  curvas.
Evolução planimétrica do templo grego

                    O exterior do edifício era majestosamente decorado com esculturas e pintado com
                  azuis, vermelhos e dourados. Virado para o exterior, o templo grego tem um forte
                  sentido escultórico.




                                                                                                 Lintéis
                                                                                                 horizontais




                                                                                                   Pilares
                                                                                                   verticais




                                                                                                     14
Reconstituição da fachada principal do Pártenon – Como se pode
verificar, o templo grego era «invulgarmente colorido» em relação à
aparência que lhe conhecemos hoje.
 O sentido “escultórico” do templo advém-lhe tanto dos relevos, como da
cor e do equilíbrio e da justeza das proporções.




                  Na sua estrutura planimétrica, o templo era formado por três espaços:
                       uma cella ou naos, onde se encontrava a estátua da divindade,
                       antecedida por um espaço designado por pronaos, que era uma espécie de
                        pórtico,
                        e um outro espaço do lado posterior da cella que era o opistódomos, cuja
                        função era ser a câmara do tesouro, local onde se guardavam as oferendas aos
                        deuses e os bens preciosos da cidade.
                       Esta estrutura tripartida era rodeada por um peristilo, espécie de um corredor
                        coberto e circundante, aberto lateralmente através de uma ou mais fiadas de
                        colunas.




                               Planta do Templo de Hera:


                                   1-   Pronaos

                                   2-   Naos ou cella

                                   3-   Opistódomos (câmara
                                        do tesouro)

                                   4-   Peristilo




                                                                                                   15
Em alçado, o templo era constituído por:
      Uma base ou envasamento, que era uma plataforma elevada e tinha como
       função nivelar o terreno.
      As colunas, que
       constituíam o sistema de
       elevação e de suporte do tecto.
      O entablamento, elemento
       superior e de remate que
       era formado pela a
       arquitrave, pelo friso e pela cornija,
      O frontão triangular.
       O tecto de duas águas era coberto por telhas de barro.




                                        O templo grego possui uma simetria axial, criando
                                        fachadas simétricas, duas a duas.




 Marcado por esta mesma estrutura desde a sua origem no séc. IX a.C., o templo grego
sofreu uma sensível evolução estilística. No séc. VII a.C., os Gregos já tinham definido
os dois principais estilos arquitectónicos ou ordens: a ordem dórica e a ordem jónica.
 O conceito de ordem está ligado a um sistema de proporções que harmonizava as
partes do edifício em relação ao todo. Era aplicado ao traçado da coluna –
determinando as proporções das suas partes constituintes: base, fuste e capitel – e à
relação entre a sua espessura e a altura totais.

                                           capitel




                                             fuste




                                             base



                                                                                      16
A coluna é o elemento que melhor define as características de cada ordem, de tal forma
que o diâmetro médio do seu fuste determina o módulo métrico, segundo o qual se
                         construía todo o sistema proporcional do edifício.
                          A coluna teve também um valor icónico extremamente forte,
                         que esteve para além da sua função estrutural. Ela é o símbolo
                         do Homem, é antropomórfica – e tomou essa forma humana
                         no pórtico das cariátides do Erectéion, na acrópole de Atenas, e
                         de atlantes, como no caso do
                                                                   Cariátide – é uma estátua
                         templo de Zeus Olímpico, em               feminina utilizada como coluna
                                                                   (Pórtico das Cariátides, no
                                                                   Erectéion).

                                                         Agrigento.
                                                           A ordem dórica é a mais
                                                         antiga.      Nasceu         na        Grécia
                                                         Continental, cerca de 600 a.C. e
                                                         possui formas geométricas, com
                                                         quase        total       ausência        de
                                                         decoração.              Derivou          das
                                                         primitivas         construções           em
                                                         madeira nas quais a pedra era
                                                         utilizada apenas nas colunas e
                                                         alicerces.
                                                           Possui um aspecto maciço e
                                                         pesado, atribuindo-se-lhe um
                                                         carácter masculino e sóbrio.
                                                           Nesta ordem, o envasamento é
                                                         composto        pelo       estereóbato,
                                                         plataforma         de     alicerçamento
                                                         rodeada       de     dois     ou       mais
                                                         degraus      de      acesso       e     pelo
                                                         estilóbato, que é o último
degrau (o superior) onde assenta o edifício.

      Estrutura dórica
                               A coluna é robusta e possui fuste com caneluras em



                                                                                                  17
aresta viva e capitel formado por ábaco e equino, ou coxim, muito simples e
geométrico.
 O entablamento compreende a arquitrave, o friso (dividido em métopas e tríglifos)
e a cornija. O frontão triangular coroa o edifício.
 Exemplos de templos de ordem dórica são:
      O templo de Hera, em Olímpia;
      O de Poséidon,
      O de Apolo, em Corinto;
      O de Ceres,
                                                              Estrutura dórica
      O mais famoso de todos, o Pártenon, em Atenas.


Templos dóricos




                                                                                 18
Pártenon, Atenas




Reconstituição do Pártenon




                                                19
A ordem jónica nasceu no séc.VI a.C., na Jónia, e desenvolveu-se sobretudo nas
costas da Ásia Menor e nas ilhas do Mar Egeu. Esta ordem difere da ordem dórica nas
proporções de todos os elementos e na decoração mais abundante da coluna e do
entablamento. Esta, associada às suas dimensões mais esbeltas, confere-lhe um carácter
feminino.




                                                                                   20
O     envasamento            dos
                                                           edifícios de ordem jónica é
                                                           formado         apenas        pelo
                                                           estereóbato constituído por
                                                           três degraus.


                                                             A coluna possui uma base
                                                           individual, um fuste com
                                                           caneluras       semicilíndricas,
                                                           sem arestas vivas, e em
                                                           maior número que a coluna
                                                           dórica, e também mais longo
                                                           e delgado e um capitel com
                                                           ábaco simples e equino em
                                                           forma de volutas enroladas
                                                           em espiral.


                                                             O entablamento tem uma
                                                           arquitrave               tripartida
                                                           longitudinalmente e um friso
                               contínuo, com decoração esculpida, rematado pela
       Estrutura jónica
                               cornija; o frontão triangular encima o edifício, tal como
acontece com a ordem dórica.


 Este tipo de estrutura foi aplicado tanto a edifícios de planta simples, como o templo
                                          de Atena Niké, como a edifícios de planta
                                          mais complexa, como o de Erectéion. Neste
                                          edifício, a função icónica da coluna adquire
                                          antropomorfismo num dos pórticos, através da

                                  sua substituição por estátuas femininas – o pórtico das
           Estrutura jónica
                                  cariátides.




                                                                                           21
Templos jónicos


                        Templo de Atena Niké




                                               Planta do
                                               Templo de
                                               Atena Niké




  Templo de Erectéion




                                                            22
A ordem coríntia apareceu apenas no final do séc. V a.C. e é uma derivação da ordem
jónica, resultante do seu enriquecimento decorativo. O seu nome deriva
do seu autor que foi Calímaco de Corinto.
                               As principais diferenças estão na coluna que
                             possui uma base mais trabalhada, um fuste
                             mais delgado e um capitel em forma de sino
                             invertido, que era repleto de decoração
                             esculpida, formada pelas duas filas de folhas
                             de acanto, coroadas por volutas jónicas.
                                O entablamento e o frontão eram
sobrecarregados de refinados preciosismos decorativos.
 A ordem coríntia foi a ordem preferida pelos romanos, que a
utilizaram de forma muito frequente.
 Na Grécia podemos encontrar esta ordem no Templo de Zeus Olímpico e no
Monumento Corágico a Lisícrates, situados em Atenas.


     Ruínas do Templo de Zeus Olímpico, em Atenas




                                                                                  23
A Escultura

 A escultura grega glorifica os seus atletas, heróis e deuses – estes últimos criados à
imagem e semelhança dos homens dos seus modelos e ideais. Foi concebida e
concretizou noções particulares de beleza e harmonia, tendo como “papel primordial
pôr em evidência a ideia de que a arte é conseguida pela habilidade da
representação exacta das aparências visíveis”. E, de tal forma esta ideia era notória,
que os artistas chegavam ao ponto de colorir totalmente as estátuas para atingir o
realismo desejado.
                            A escultura grega cumpriu funções religiosas, políticas,
                          honorificas       e     funerárias,       assim     como       ornamentais.
                          Estreitamente ligada à arquitectura – ocupando espaços
                          próprios      a       ela    destinados      –      a     escultura    grega,
                          simultaneamente realista e idealista, possui uma dimensão
                          profundamente humana, realizando uma unidade lógica e
                          harmónica         que       foi     expressão       do
                          pensamento grego. Esse humanismo foi
                          traduzido por meio do tema e da medida,
                          pois a temática da escultura grega, à
excepção da figura do centauro, é exclusivamente humana.


 Foi no séc. V a.C. – época clássica – que a escultura (tal como aconteceu com as
outras artes) atingiu o auge da beleza e da perfeição, com as obras do mais genial
escultor desse período – Fídias – que executou os relevos do Pártenon.
 A génese da escultura grega situa-se entre os séculos IX e VI a.C., a qual foi feita
                                 sobretudo em madeira. A última etapa deste longo
                                 espaço de tempo é designado por período arcaico e
                                 situa-se entre os séculos VII, VI e inicio do séc. V
                                 a.C..
                                     As     obras           deste   período        denotam      diversas
                                 influências, nomeadamente assíria, egípcia, cretense,

                                                                      micénica e oriental.




                                                                                                     24
No período arcaico estabilizou-se o enquadramento da escultura na arquitectura.
Assim, o relevo ficou sujeito ás formas e dimensões dos espaços arquitectónicos a ele
destinados.
                                                       Na ordem dórica distribui-se
                                                      pelas métopas e pelos tímpanos dos
                                                      frontões, enquanto que na ordem
                                                      jónica, para ale
                                                      dos tímpanos, é
                                                      aplicada    nos
frisos contínuos.
 O relevo possui, desde cedo, duas funções essenciais:
      A de contar uma “história” mágica ou a vitória de um deus, narrando e
       comemorando o acto que justifica a edificação do templo,
      Preencher e decorar o espaço arquitectónico.
 Esses relevos eram inicialmente feitos em terracota, pintados com cores vibrantes,
mais tarde, foram executados em mármore.


 É na escultura dos tímpanos que se estabelece uma perfeita harmonia entre o trabalho
do escultor e do arquitecto. Na forma triangular, é difícil estabelecer uma composição
equilibrada, mas os gregos souberam resolver a situação de modo inteligente e singular,
colocando diversas figuras, em variadas posições, de acordo com o espaço a ocupar. A
dimensão e a posição das figuras tinha a ver com o seu grau de importância no
acontecimento representado. Assim, as principais eram colocadas de pé, na máxima
altura do tímpano, enquanto que as restantes se adaptavam aos lados decrescentes do
triângulo, aparecendo primeiro curvadas, depois sentadas e, por fim, deitadas.




                                                                                     25
Nas métopas colocavam cenas míticas com duas ou
                                    três personagens que, no seu conjunto, contavam
                                    histórias de heróis, de gigantes, de centauros, …qual
                                    banda desenhada em pedra.




  Mas é no friso jónico, contínuo, que o artista tinha maior liberdade criadora, aí
desenvolvendo uma acção sequenciada, numa sucessão de ritmos narrativos, sem
interrupções e sem monotonia. Os temas mais utilizados eram as procissões, os desfiles,
as corridas de carros, etc.




  As características dos relevos são idênticas às da estatuária:
       As figuras têm uma anatomia esquemática;
       Movimentos rígidos;
       Rostos orientalizantes, com olhos oblíquos e amendoados, maçãs do rosto
        salientes e barba e cabelos simplificados e geometrizados.


  Da estatuária chegaram até nós dois tipos básicos de figuras:
       Uma masculina que é a representação de um jovem nu ou kouros;
       Uma rapariga vestida designada por koré.
O kouros simboliza o deus da juventude e da plenitude, ao qual se iria chamar Apolo ou
Hermes.


                                                                                      26
Foi nestas estátuas que os gregos ensaiaram as primeiras representações anatómicas e o
movimento corporal.

                                            Kouros




                       Inicialmente, eram mais rígidas, de corpos
                       hirtos, ombros largos e a anca estreita,
                       braços esticados ao longo do corpo; a barba
                       e o cabelo eram simplificados e
                       convencionais – em caracóis, tranças ou
                       ondas; e o rosto, muito esquemático,
                       desenhava um sorriso enigmático nos
                       lábios. Gradualmente, estas estátuas heróis
                       adquirem alguma flexibilidade e
                       movimento, desprendendo os braços do
                       corpo e ganhando, também, expressão
                       facial.


O equivalente feminino, as korai, plural de koré, são jovens virgens, graciosas e
                      encantadoras, que se apresentam vestidas
                      com longas túnicas pregueadas que eram
                      pintadas de cores luminosas, vivas e
                      cintilantes. Os seus rostos simétricos, com
                      meios sorrisos e cabelos longos, ondulados
                      e, por vezes, entrançados, são de uma
                      imobilidade serena




                                                              Koré




                                                                                   27
No período clássico, a escultura grega tem perfeitamente
                        definidas as regras pelas quais se iria reger. A primeira obra
                        deste período que atinge maior expressão foi o Discóbolo de
                        Míron, representação do atleta lançador do disco. Aqui o
                        escultor abandonou as regras arcaicas, introduzindo a noção de
                        movimento eminente.
                        M as




                        Mas foi com Fídias, o artista mais genial de todo o século
                        Va.C., que a escultura grega atingiu a absoluta perfeição.
                               Nas obras deste escultor ressaltam a perfeição anatómica, a
      Discóbolo
                        robustez e a serenidade, a força e a majestade que deram à
escultura clássica grega o carácter idealista e divinizado que lhe conhecemos. As suas
peças, de incomparável, mestria são conhecidas pelas descrições dos seus
contemporâneos e as suas qualidades técnicas e artísticas são confirmadas pelos relevos,
algumas estátuas mutiladas e a réplica de famosa Atena Parteno feita em marfim, ouro e
pedras preciosas.
                                 A    escultura     do    séc.    IVa.C.   conheceu    novos
                               desenvolvimentos, pois foi marcado pelo aspecto sedutor e
                               gracioso das estátuas e pelo aparecimento do nu feminino.
                                 Relevos e estátuas tornaram-
                               se mais naturalistas, trabalhadas
                               ao estilo dos seus autores. Foi o
                               caso do escultor Scopas, que
                               produziu           obras          de
                               características mais expressivas
                               e de Praxíteles que executou

                                             corpos         mais
                                             esbeltos             e
                                             efeminados, como
                                             o seu Hermes. Foi
                                             este que assumiu,
pela primeira vez, a nudez feminina na estatuária.




                                                                                             28
Lisipo   introduziu     na     escultura   a
                     verdadeira noção de vulto redondo e
                     marcou esta etapa com o mais elevado
                     naturalismo, criando um novo tipo de
                     atleta mais esbelto. Rompeu com o rigor
                     da frontalidade, podendo as estátuas ser
                     vistas de todos os ângulos e não como se
                     fossem altos-relevos destacados do fundo,
                     com um ponto de vista principal.




                            No período helenístico – séculos III, II e I a.C. – a
                          escultura evoluiu num sentido diferente dos séculos
                          anteriores. O “realismo idealista” do séc.V a.C. foi
                          substituído pelo “naturalismo” do séc. IV, que agora
                          cedeu lugar a um realismo expressivo, dramático e livre,
                          de efeito teatral.
                            O sofrimento e as paixões apoderam-se do corpo e dos
                          rostos, abandonando a serenidade tão característica da

                                arte grega.
                                 Os     grupos       escultóricos,      susceptíveis   de
                                composições      mais     dinâmicas,     sucedem-se    às
                                esculturas          individualizadas,        descrevendo
acontecimentos e narrando histórias, como no caso do grupo de Lacoonte e de Os
Lutadores.


                                                                                       29
Mesmo as figuras individualizadas parecem ter
        sido extraídas de uma narrativa, como no caso de O
        Gaulês Moribundo.




 É neste período que se
produzem e vendem, para as
colónias gregas e para Roma,
cópias das estátuas clássicas
que chegaram até nós e nos
deram a conhecer o génio
escultórico   grego.    Duas
dessas peças são a Vitória
Samotrácia e a Vénus de
Milo.




                                                        30
Sócrates                        Épicuro                           Pitágoras



 A par destas representações monumentais, desenvolve-se, também neste período, o
                        gosto pelo retrato com representações mais realistas e pelas
                        cenas do género retiradas da vida quotidiana, captada com
                        realismo tal que dá ênfase até às deformidades físicas do ser
                        humano e às representações da infância e da velhice.




                         Já em pleno período romano, tornaram-se populares as
                        conhecidas estatuetas de Tanagra, pequenas figurinhas de
                        barro policromado, cópias de
originais clássicos, inspiradas em cenas pitorescas do
quotidiano e da religião, que constituíram uma arte
requintada de salão, destinada ao consumo das elites.




                                                                                       31
A Cerâmica e a pintura

 A cerâmica, pela sua decoração, com relatos de cenas míticas, representações de reis e
atletas, de cenas do quotidiano, etc., constitui um repositório fidedigno de imagens da
arte e da cultura gregas. Na falta de outros documentos históricos, como o da pintura
mural que desapareceu quase toda, é à cerâmica que vamos colher informações
necessárias para o entendimento da cultura, da civilização e da plástica gregas.
 De entre o artesanato artístico deixado pelos gregos, a cerâmica tem um lugar de
destaque.
 Mercadoria de primeira necessidade, pois servia para múltiplos usos, a cerâmica teve




                                                                                    32
grande produção, e das inúmeras oficinas gregas sobressaem as atenienses, detentoras
das peças mais significativas e variadas, bem como os autores de maior qualidade.
  Levada pelos mercadores, a cerâmica espalhou-se por todo o Mediterrâneo.
  Na evolução plástica da cerâmica grega os especialistas distinguem os seguintes
estilos:
          O estilo geométrico, situado entre os séculos IX e VIII a.C., distingue-se pela
           decoração estrita de motivos geométricos. Estes motivos eram dispostos à roda
                                               do corpo dos vasos, em bandas ou frisos
                                               paralelos e sobrepostos, cobrindo-os até à
                                               cintura. Cada banda era ornamentada a partir
                                               de motivos geométricos simples – o ponto, a
                                               linha,      o     círculo   -,   organizados   em
                                               combinações e
                                                    variações
                                                    criativas,
                                               algumas          das
                                               quais       usadas
           desde    o   Neolítico:   meandros,       triângulos,
           losangos,    linhas   quebradas     ou     contínuas,
           axadrezados…
           Estes motivos eram realçados a preto (ou com
           um verniz castanho-ocre, muito brilhante) sobre
           o fundo de cor natural dos vasos.



            A      partir   de   inícios     do     séc.       VIII,
           reintroduziram-se os elementos figurativos na decoração cerâmica, mas este
           apresentavam-se como meras silhuetas a negro, muito esquematizadas e
           estilizadas, de onde se excluíram todos os pormenores secundários.




                                                                                              33
Estes      elementos        decorativos   eram
                                        constituídos por animais compondo pequenos
                                        frisos decorativos e por seres humanos,
                                        isolados ou organizados em cenas descritivas
                                        e narrativas.
                                          Neste caso, os temas resumiam-se a batalhas
                                        e cerimónias fúnebres.
                                             Nos   primeiros,    as   personagens   eram
                                        guerreiros apresentados em diversas posições
                                        de combate; nos últimos, as cenas descrevem
                                        os    cortejos   fúnebres      com   soldados    e
                                        carpideiras seguindo o carro onde viaja o
                                        corpo do morto, exposto sobre a urna.


                                          Quanto às formas, a tendência foi para o
                                        aumento progressivo do tamanho das peças,
                                        algumas das quais atingiram proporções
                                        monumentais. Com feito, as ânforas e crateras
                                        ultrapassaram, nalguns casos, 1,5m de altura.
                                        Estas grandes peças destinavam-se a ser
colocadas nos cemitérios como indicadores das sepulturas, à maneira de estelas ou
monumentos funerários. Continham óleos, unguentos sagrados e outras oferendas feitas
aos mortos.


        A fase arcaica abrange os finais do séc.VII até cerca
                                    de 480 a.C.
                          Esta fase ficou marcada pelo
                          aparecimento, na ática, da cerâmica
                          decorada pela técnica das figuras
                          pintadas a negro. Trata-se de uma
                          cerâmica elegante e sofisticada,
                          fruto e uma técnica elaborada,
                          destinada ao comércio de luxo.


                                                                                        34
Sobre o fundo vermelho do barro destacam-se os elementos figurativos,
    representados como silhuetas estilizadas à
    maneira antiga (rosto de perfil, com olho de
    frente, tronco de frente, ancas a três
                         quartos e pernas de
                         perfil)     e    totalmente
                         preenchidas        a     cor
                         negra.
                         A técnica da incisão permitiu pormenorizar o interior das
                         figuras, enriquecidas com linhas de contorno dos
                                     músculos e outras partes do corpo, com
                                     particularidade como a barba, o cabelo ou os
    padrões do vestuário.


   O estilo clássico situa-se entre 480 e 323 a.C.
    Artisticamente, corresponde ao período de apogeu
    técnico, estético do povo grego, no qual a arte foi
    encarada como uma consequência directa da
    superioridade criativa, racional e filosófica da
    cultura grega.
    Em consequência, o desenho e a pintura

                                   desenvolveram-se     extraordinariamente        pela
                                   descoberta,   aperfeiçoamento   e   aplicação    de
                                   revolucionárias aplicações técnicas e formais:
                                   aplicação da perspectiva, criação do claro-
                                   escuro, aplicação de sombras…

    Na cerâmica, estas inovações traduziram-se
    numa crescente qualidade artística. Manteve-se
    o fabrico da cerâmica das figuras negras, mas
    implantou-se a técnica das figuras vermelhas.
    Nesta técnica, toda a superfície do vaso era
    coberta com verniz negro, com excepção das




                                                                                    35
figuras, cujas silhuetas se mantinham da cor
                                avermelhada, natural da argila.
                                Os    pormenores        anatómicos   e   outros   eram
                                acrescentados, posteriormente, a pincel mergulhado em
                                tinta preta. Associada à perfeição alcançada entretanto
                                pelo desenho, esta técnica imprimiu às figuras
                                decorativas da cerâmica uma plasticidade nova,
                                tridimensional.
                                 Com pouco desenho interno – apenas alguns traços
que sugeriam os volumes -, os corpos adquirem perspectiva, movimento, naturalidade e
realismo. Apareciam enquadrados em espaços figurados onde não faltavam, por vezes,
pequenos apontamentos de cenários naturais ou arquitectónicos.




                               Estilo belo – ainda no séc.IV a.C. desenvolveu-se uma
                                variedade de estilos decorativos. Alguns autores
                                associaram livremente figuras vermelhas e negras
                                sobre fundos amarelados ou brancos, obtendo
                                elegantes efeitos estéticos.
                      Nas oficinas da Ática, desenvolveu-se
                      uma cerâmica funerária com fundo
                      branco, onde as formas das figuras se
                      definiam unicamente pela linha de
                      contorno, traçada com precisão.


                        À cerâmica grega foi atribuída uma
                      grande    importância,      tal   como   é
                      comprovada pelas fontes escritas.
 As principais olarias de cada cidade usufruíam de prestígio e
popularidade, que se estendiam aos mais apreciados oleiros e
pintores ceramistas. Com efeito, como os filósofos, arquitectos
e escultores do seu tempo, muitos dos mestres artesãos
alcançaram a imortalidade pelas peças produzidas. Tal foi o
caso de Clítias, Apolodoro, Eufrónio, Exéquias e outros cujas obras são o melhor


                                                                                    36
testemunho do grande valor artístico da cerâmica grega que viveu o seu apogeu
precisamente no séc.IV a.C.




                                                                          37

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A cultura da ágora

  • 1.
  • 2. O Homem da democracia de Atenas O século V a. C., o século de Péricles No séc. V a. C., a Atenas democrática de Péricles representa o culminar de um tempo histórico e artístico da Grécia, a primeira civilização da Antiguidade Clássica, da Antiguidade Clássica – período da História que compreende a origem e o qual somos herdeiros. desenvolvimento das civilizações grega e romana (desde o 1º milénio a. C. a 476 d. C.. O coração da Grécia Antiga ficava situado O adjectivo clássico refere-se a tudo o que é deste período ou com ele se assemelha. na Península Balcânica, no Mediterrâneo Oriental. Porém, o mundo grego estendia-se pelas ilhas do Mar Egeu, pelas costas da Ásia Menor e margens do Mar Negro, pelo sul da Itália e pela Sicília. Foi a partir do séc. XVIII a.C. que, à medida que a população crescia e a produção agrícola se revelava insuficiente para a alimentar, muitos gregos abandonaram a metrópole e foram estabelecer-se naquelas paragens, onde fundaram colónias agrícolas e comerciais, as quais eram novas cidades-estado, com organização política, religiosa e cultural idêntica à das cidades-mãe Mundo Helénico – Os gregos chamavam-se a si próprios Helenos e à Grécia, Hélade. (metrópoles) e mantendo com elas ligações Consideravam-se senhores de uma cultura comerciais e culturais muito intensas. superior e chamavam “bárbaros” a todos os povos que não falavam a sua língua, o grego. Apesar do afastamento, os habitantes O mundo helénico incluía a Grécia e as suas colónias. destas colónias continuaram a sentir-se 2
  • 3. como parte integrante do mundo helénico, partilhando a mesma cultura: a língua, a moeda, os costumes, os objectos do quotidiano, os conhecimentos e os deuses. O mundo helénico nunca esteve politicamente Cidades-estado (pólis) – cidade unido. Na realidade, era um mundo de cidades- independente dotada de órgãos de governo próprios. estado (pólis) independentes e rivais, das quais as mais importantes eram Atenas, Esparta e Tebas. O isolamento, provocado pelo relevo montanhoso, e as velhas rivalidades entre as tribos gregas, explicam, em grande parte, a formação das cidades-estados. Estas eram constituídas pela cidade propriamente dita e pela zona rural envolvente, podendo algumas pólis incluir, além da cidade principal, outras pequenas cidades. Apesar da rivalidade política, por vezes causadora de guerras violentas, havia laços culturais a unir todos os gregos: falavam a mesma língua, adoravam os mesmos deuses, tinham modos de vida semelhantes e, por vezes, uniam-se para celebrar grandes jogos e festividades e para combater povos invasores. Todas as pólis tinham a sua ágora (praça pública, local de comércio e de encontro e convívio entre os cidadãos) e a sua acrópole (zona mais elevada da cidade, normalmente fortificada, onde se situavam os templos dos deuses protectores da cidade e alguns dos mais importantes edifícios da mesma). A maioria das pólis não excedia os 20 mil habitantes. Atenas, porém, ultrapassava largamente esse número, atingindo os 350 mil. A Polis de Atenas Atenas situa-se na Península da Ática, nas proximidades do mar. A agricultura começou por ser a base da economia, até meados do séc. VII a. C. A vinha, a oliveira, os cereais e o mel eram as suas principais produções. A criação de gado era, também, uma importante actividade económica. 3
  • 4. Desde cedo os atenienses aproveitaram a proximidade do mar para fazer a exploração dos excedentes agrícolas e artesanais. O desenvolvimento artesanal, sobretudo da metalurgia e cerâmica, foi um factor importante para o estabelecimento de relações comerciais com as colónias gregas. Através do Porto do Pireu, Atenas abriu-se ao mar e construiu um verdadeiro império comercial e naval. Porto do Pireu (porto de Atenas) – Situado a 10Km da cidade, tinha uma importância económica e estratégica vital. Através dele, a cidade exportava os excedentes agrícolas e artesanais e importava cereais, matérias-primas e artigos de luxo. Mas o porto tinha, também, uma grande importância militar e naval. Por este facto, os acessos da cidade ao porto estavam protegidos por poderosas muralhas. 1 e 2- Baías que serviam de enseadas para os navios de guerra. 3- Porto principal, onde se encontravam os armazéns e instalações navais e administrativas O comércio marítimo ateniense beneficiou do uso da moeda, que veio substituir a troca directa. No território de Atenas existiam minas de prata, as minas de Láurio, o que permitiu a cunhagem da moeda em prata. Atenas desenvolveu uma intensa economia monetária, comercial e marítima. A forte actividade de construção naval contribuiu para o crescimento económico desta cidade. Atenas, situada na Península da Ática, tornou-se a cidade-estado mais próspera do mundo helénico no séc.V a.C. 4
  • 5. Neste século, Atenas reforçou a sua posição de potência regional, após as vitórias sobre os Persas, nas batalhas de Maratona (490 a.C.) e de Salamina (480 a.C.). A invasão da Grécia pelos Persas, no século V a.C., conduziu à formação de uma aliança defensiva, a Liga de Delos (478 a.C.). Atenas e as outras cidades-estado gregas uniram-se contra o domínio dos Persas. Atenas liderava esta aliança, conseguindo formar uma poderosa frota militar e afastar o perigo persa. Afastado o perigo, Atenas continuou a exigir às suas aliadas, o pagamento de contribuições, usando-as em benefício próprio. Esta apropriação abusiva das contribuições da Liga de Delos permitiu à cidade de projectar-se, ainda mais, em termos económicos e políticos e alcançar um brilho cultural notável no tempo de Péricles época em que foram realizados trabalhos de construção e reparação de belos edifícios – templos, pórticos, fontes, edifícios municipais - e atraiu muitos talentosos artistas, filósofos e intelectuais, provenientes de todo o mundo grego, que muito contribuíram para um notável desenvolvimento. A sociedade A partir de 508 a.C., a estrutura da sociedade ateniense foi alterada com a instituição da democracia. Os cidadãos estabeleceram a igualdade entre eles e passaram a dominar a vida política. A sociedade ateniense era formada por cidadãos, metecos e escravos. Dos cerca de 350 000 habitantes da cidade-estado, apenas 1/10 eram cidadãos. Só estes tinham o direito de participar no governo da cidade. Na categoria de cidadão estavam incluídos os homens de mais de 20 anos de idade, de descendência de pai e mãe atenienses e com o serviço militar cumprido. Os metecos eram homens livres, geralmente estrangeiros. Dedicavam-se às actividades comerciais e artesanais. Não tinham o direito de participar na vida política da cidade, nem possuir terras, embora pagassem impostos e prestassem serviço militar. Os escravos eram o grupo social mais desfavorecido de Atenas, porém, não eram maltratados. Geralmente eram de origem estrangeira: prisioneiros de guerra, raptados por piratas ou comprados. Não tinham quaisquer direitos e executavam os trabalhos 5
  • 6. mais duros (minas, obras, campos…) e trabalhos domésticos. Podiam pertencer ao estado, aos cidadãos ou a metecos. O funcionamento do regime democrático Nos séculos VII e VI a.C., foram realizadas algumas reformas políticas e sociais importantes, feitas por Drácon, Sólon e Pesístrato. Estas beneficiaram as populações mais pobres e vieram a ser completadas com a reforma de Clístenes, através das quais se instituiu a democracia (governo exercido pelo povo), um sistema político inovador em que o governo era assegurado por todos os cidadãos da pólis através da sua participação na Assembleia. A Eclésia ou Assembleia do Povo era o principal órgão político ateniense, ao qual cabia o poder legislativo. Nesta assembleia reuniam-se todos os cidadãos. A Bulé ou Conselho dos Quinhentos era constituída por 500 membros e preparava os textos legislativos para serem aprovados na Eclésia. O poder executivo era exercido pelos magistrados, que asseguravam o cumprimento das decisões da Eclésia. O poder judicial era confiado aos juízes e aos tribunais. O Helieu era o principal tribunal, formados por 6000 juízes, que julgava os casos mais comuns de não cumprimento das leis. 6
  • 7. Um dos princípios fundamentais da democracia ateniense consistia na igualdade de direitos entre os cidadãos, na participação do governo de Atenas. Qualquer cidadão podia exercer cargos políticos ou aprovar leis da Eclésia. Todas as decisões eram tomadas por todos os cidadãos e não por governantes. Por isso se diz que a democracia ateniense era uma democracia directa. A democracia atingiu o seu apogeu durante o governo de Péricles, no séc.V a.C.. Foi neste século – Péricles (495-429a.C.) – Estadista general e grande orador chamado o século de Péricles – ateniense, Péricles foi eleito que Atenas alcançou o seu anualmente estratego de 443 a 429 a.C.. Foi uma personalidade tão esplendor político, económico e marcante no seu tempo que o séc.V a.C. ficou para a História como o cultural. século de Péricles. Apesar de a democracia ateniense assentar no princípio da igualdade de direitos entre todos os cidadãos, esta democracia era limitada a uma minoria da população. De facto, apenas os cidadãos podiam participar no governo da cidade-estado. Os metecos, os escravos e as mulheres estavam excluídos dessa participação. Outras limitações e contradições da democracia ateniense eram.  A existência da escravatura  As condenações ao ostracismo (exílio) e à morte  A limitação à liberdade de expressão (certas críticas aos governantes não eram toleradas)  O imperialismo ateniense (Atenas subjugou durante muito tempo outras cidades ao seu domínio, sob o pretexto de estas não pagarem os tributos estipulados pela Liga de Delos. Os recursos financeiros obtidos através dessa Liga serviram para aumentar o desenvolvimento económico, artístico e cultural de Atenas). Apesar das suas limitações, a democracia ateniense foi um exemplo de participação e de governação que influenciou a maior parte das cidades marítimas da Grécia. Este regime constituiu um dos mais importantes legados culturais da Civilização Grega para a civilização ocidental do nosso tempo. 7
  • 8. A mitologia: deuses e heróis Os gregos eram politeístas (adoravam vários deuses) e descreviam os seus deuses como seres semelhantes aos homens na forma e nos sentimentos, paixões, defeitos e vícios (antropomorfismo). Distinguiam-se dos homens pela sua imortalidade, o poder de se tornarem invisíveis e de adquirirem várias formas (metamorfose). O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade- estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era a deusa protectora de Atenas. Os deuses do Olimpo O mundo dos heróis O monte do Olimpo era a residência dos Os Gregos concebiam o Universo como deuses gregos. Zeus era a autoridade uma grande cidade, partilhada por deuses e máxima, do qual se formou uma homens. Por vezes, acontecia os deuses genealogia dos seus irmãos, irmãs e filhos. aliarem-se aos homens. Os heróis eram a Contudo, cada membro da família divina prova dessa aliança. Homens divinizados, possuía o seu domínio próprio. filhos de um deus e de um ser humano, Zeus era o chefe dos deuses do céu. Os eram considerados homens extraordinários, seus irmãos Posídon e Hades eram deuses possuidores de uma força e coragem sobre- do mar e do mundo subterrâneo dos humanas. Muitos deles eram considerados mortos, respectivamente. Hera e Deméter, os fundadores lendários de cidades gregas. suas irmãs, protegiam a fecundidade. Zeus Hércules, possuidor de uma força casou com Hera e esta tornou-se a deusa extraordinária foi o mais famoso dos heróis do casamento. Deméter tornou-se a deusa gregos. Teseu, o fundador de Atenas pôs da terra cultivada fim à crueldade do Minotauro. Édipo foi o herói lendário de Tebas; Prometeu deu o fogo aos homens e Orfeu encantou com a sua música. 8
  • 9. O culto aos grandes deuses do Olimpo era comum a toda a Grécia, mas cada cidade- estado venerava uma divindade, que considerava sua protectora. Por exemplo, Atena era a deusa protectora de Atenas. Para que a sua intervenção fosse benéfica, os deuses eram alvo de culto cívico na cidade, por toda a população da pólis que, em ritos colectivos e segundo um calendário oficial, se concentrava em frente dos templos, dedicados aos deuses. Aí, assistia-se a sacrifícios, faziam-se oferendas, cantava-se em uníssono, dançava-se e participava-se em outras solenidades festivas, como as Panateneias de Atenas (procissão em honra da deusa Atena) ou as Grandes Dionísias (festivais de Primavera, realizados em Atenas, em honra de Dioniso, que incluíam concursos de peças de teatro que ali eram representadas e apreciadas por um júri) numa grande atitude religiosa, cultural, cívica e política própria para uma religião de Estado. A par dos grandes festivais em honra dos seus protectores de cada cidade-estado, os gregos participavam, também no culto e nos jogos em honra dos deuses principais. A estas formas de culto ocorria gente de toda a Grécia, suspendendo-se as hostilidades e declarando-se tréguas, caso estivessem em guerra. De todos os festivais pan-helénicos – participados por todos os gregos – da Grécia Antiga, os mais importantes foram os Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, de quatro em quatro anos, em honra de Zeus. Os gregos socorreram-se da religião para explicarem determinados fenómenos criando mitos. A origem do Universo e da Humanidade eram os fenómenos que mais despertavam o interesse e a curiosidade dos seres humanos de então. Ao conjunto destas histórias (mitos) sobre a vida dos deuses e das explicações dos grandes fenómenos e mistérios do mundo e do homem denomina-se por mitologia. A mitologia grega estava muito presente nas obras literárias (poesia, tragédia e comédia) e nas artes plásticas (estátuas, relevos e cerâmica). 9
  • 10. A Organização do Pensamento No séc. VI a.C., nas colónias gregas da Ásia Menor, como Mileto, e devido ao bem- estar económico e à vivência do ócio (tido como suscitador do espírito reflexivo e crítico), surgiram alguns pensadores que procuraram explicações coerentes e racionais para a origem do mundo material, para as relações do Homem com o Cosmos, dos homens entre si e destes com a Natureza, criando, assim, a Filosofia (amor pela sabedoria). A situação política, económica e social de Atenas no séc. V a.C. contribuiu para um novo impulso no pensamento e na filosofia: a par do mito, a política, a lei, a democracia, o Homem e o seu modelo de actuação em sociedade passaram a ser os assuntos de reflexão e especulação de muitos filósofos, dos quais se destacam: Sócrates - tinha por divisa «só sei que nada sei e sobre tudo tenho que reflectir», defendia que só o conhecimento de si próprio e de tudo o que o rodeia é que permite ao Homem chegar à Virtude, à Verdade, ao Bem e ao Belo. Com ele a filosofia passou a visar o conhecimento do Homem para o orientar na vida individual e social; o filósofo passou a ser um psicólogo, um moralista e um político. Platão – discípulo de Sócrates, viveu em Atenas já em tempo de crise política e moral, foi defensor de uma sociedade perfeita, assente na justiça e nas leis harmónicas da Natureza. Fundou a Academia, espécie de escola onde se estudava Psicologia (ciência da alma), Matemática, Geometria, Astronomia e Lógica. Platão valorizou não só o conhecimento empírico do mundo sensível, mas especialmente a razão e a moral. Aristóteles – foi aluno de Platão e, fundou em Atenas, o Liceu, escola que englobou a primeira grande biblioteca da Antiguidade. Os seus Tratados resultaram da observação do real, da experimentação e da valorização da razão para conseguir a organização dos conhecimentos com vista à procura das causas e das leis gerais que regem a matéria. Por isso, é considerado não só um dos fundadores da Filosofia, como também o percursor do espírito científico contemporâneo. 10
  • 11. A Ágora de Atenas 11
  • 12. A arte grega A Arquitectura A arte grega clássica foi uma arte racional, expressão da comunidade e do homem/cidadão. Aliou estética e ética, política e religião, técnica e ciência, realismo e idealismo, beleza e funcionalidade e esteve ao serviço da vida publica. Os edifícios gregos, pela sua perfeição, estabeleceram uma ligação harmoniosa entre o Homem e os deuses, o mundo concreto e o mundo espiritual. Evoluiu em três períodos claramente definidos, quer pelas carcterísticas estéticas quer pelas tecnológicas. São eles:  O período arcaico, entre os séculos VIII e V a.C., que foi um logo espaço de tempo caracterizado pela procura da ordem, do monumental, da sobriedade e da maturidade.  O período clássico, que se desenvolveu entre a segunda metade do séc.V e o séc. IV a.C. e foi um tempo em que a arte atingiu a plenitude, o equilíbrio, o realismo e o idealismo.  O período helenístico, marcado pela mistura de culturas, pelo gosto do particular, do concreto e individual e, simultaneamente, tempo de declínio da cultura grega. 12
  • 13. Inicialmente a arquitectura grega era executada em madeira, tendo sido substituída pela pedra calcária (sobretudo a mármore) a partir dos finais do séc.VII a.C. A arquitectura evoluiu, ligando-se permanentemente à geometria e à matemática, criando-se regras e leis artísticas (cânones). Ao arquitectos passaram a elaborar projectos Entablamento de madeira nos quais constavam o estudo topográfico do terreno, a adaptação do edifício ao relevo e a escolha criteriosa da ordem, de acordo com o tipo de edifício; elaboravam cálculos onde as medidas e as proporções eram rigorosamente estabelecidas. Produziam maquetas que eram submetidas, posteriormente, à aprovação oficial. O objectivo final da arte era a procura da unidade, beleza e harmonia universais, suportadas por uma filosofia que buscou a relação do homem com o divino, com o mundo e a sua origem, com a vida e a morte, assim como com a dimensão interior do próprio homem – valores que hoje se designamos por Classicismo. A arte grega esteve ao serviço da vida pública e da vida religiosa, conjugando-as harmoniosamente. As suas cidades são exemplo disso. A cidade grega era concebida com três áreas distintas:  Uma área sagrada, religiosa, localizada na acrópole e na qual eram construídos os templos, santuários, oráculos e tesouros.  Uma área pública, na zona baixa, onde se instalava a ágora, que era o centro da vida da pólis.  Uma área privada, de menor importância monumental, constituída por bairros residenciais organizados por classes sociais. O templo foi e continua a ser o exemplo máximo da arquitectura grega. A sua forma e 13
  • 14. estruturas básicas evoluíram a partir do mégaron micénico (sala do trono, no palácio), que era formada por uma sala quadrangular, com um vestíbulo ou pórtico suportado por duas colunas e com telhado de duas águas. Esta estrutura básica tornou-se, gradualmente, mais complexa, com maiores dimensões e rodeada de colunas. O templo era a morada e abrigo do deus, local onde se colocava a sua imagem, à qual os fiéis não tinham acesso, pois os rituais eram realizados ao ar livre, em redor do templo. Os gregos usaram, na sua construção o sistema designado por trilítico, definido por pilares verticais unidos por lintéis horizontais, não utilizando, normalmente, linhas curvas. Evolução planimétrica do templo grego O exterior do edifício era majestosamente decorado com esculturas e pintado com azuis, vermelhos e dourados. Virado para o exterior, o templo grego tem um forte sentido escultórico. Lintéis horizontais Pilares verticais 14
  • 15. Reconstituição da fachada principal do Pártenon – Como se pode verificar, o templo grego era «invulgarmente colorido» em relação à aparência que lhe conhecemos hoje. O sentido “escultórico” do templo advém-lhe tanto dos relevos, como da cor e do equilíbrio e da justeza das proporções. Na sua estrutura planimétrica, o templo era formado por três espaços:  uma cella ou naos, onde se encontrava a estátua da divindade,  antecedida por um espaço designado por pronaos, que era uma espécie de pórtico,  e um outro espaço do lado posterior da cella que era o opistódomos, cuja função era ser a câmara do tesouro, local onde se guardavam as oferendas aos deuses e os bens preciosos da cidade.  Esta estrutura tripartida era rodeada por um peristilo, espécie de um corredor coberto e circundante, aberto lateralmente através de uma ou mais fiadas de colunas. Planta do Templo de Hera: 1- Pronaos 2- Naos ou cella 3- Opistódomos (câmara do tesouro) 4- Peristilo 15
  • 16. Em alçado, o templo era constituído por:  Uma base ou envasamento, que era uma plataforma elevada e tinha como função nivelar o terreno.  As colunas, que constituíam o sistema de elevação e de suporte do tecto.  O entablamento, elemento superior e de remate que era formado pela a arquitrave, pelo friso e pela cornija,  O frontão triangular. O tecto de duas águas era coberto por telhas de barro. O templo grego possui uma simetria axial, criando fachadas simétricas, duas a duas. Marcado por esta mesma estrutura desde a sua origem no séc. IX a.C., o templo grego sofreu uma sensível evolução estilística. No séc. VII a.C., os Gregos já tinham definido os dois principais estilos arquitectónicos ou ordens: a ordem dórica e a ordem jónica. O conceito de ordem está ligado a um sistema de proporções que harmonizava as partes do edifício em relação ao todo. Era aplicado ao traçado da coluna – determinando as proporções das suas partes constituintes: base, fuste e capitel – e à relação entre a sua espessura e a altura totais. capitel fuste base 16
  • 17. A coluna é o elemento que melhor define as características de cada ordem, de tal forma que o diâmetro médio do seu fuste determina o módulo métrico, segundo o qual se construía todo o sistema proporcional do edifício. A coluna teve também um valor icónico extremamente forte, que esteve para além da sua função estrutural. Ela é o símbolo do Homem, é antropomórfica – e tomou essa forma humana no pórtico das cariátides do Erectéion, na acrópole de Atenas, e de atlantes, como no caso do Cariátide – é uma estátua templo de Zeus Olímpico, em feminina utilizada como coluna (Pórtico das Cariátides, no Erectéion). Agrigento. A ordem dórica é a mais antiga. Nasceu na Grécia Continental, cerca de 600 a.C. e possui formas geométricas, com quase total ausência de decoração. Derivou das primitivas construções em madeira nas quais a pedra era utilizada apenas nas colunas e alicerces. Possui um aspecto maciço e pesado, atribuindo-se-lhe um carácter masculino e sóbrio. Nesta ordem, o envasamento é composto pelo estereóbato, plataforma de alicerçamento rodeada de dois ou mais degraus de acesso e pelo estilóbato, que é o último degrau (o superior) onde assenta o edifício. Estrutura dórica A coluna é robusta e possui fuste com caneluras em 17
  • 18. aresta viva e capitel formado por ábaco e equino, ou coxim, muito simples e geométrico. O entablamento compreende a arquitrave, o friso (dividido em métopas e tríglifos) e a cornija. O frontão triangular coroa o edifício. Exemplos de templos de ordem dórica são:  O templo de Hera, em Olímpia;  O de Poséidon,  O de Apolo, em Corinto;  O de Ceres, Estrutura dórica  O mais famoso de todos, o Pártenon, em Atenas. Templos dóricos 18
  • 20. A ordem jónica nasceu no séc.VI a.C., na Jónia, e desenvolveu-se sobretudo nas costas da Ásia Menor e nas ilhas do Mar Egeu. Esta ordem difere da ordem dórica nas proporções de todos os elementos e na decoração mais abundante da coluna e do entablamento. Esta, associada às suas dimensões mais esbeltas, confere-lhe um carácter feminino. 20
  • 21. O envasamento dos edifícios de ordem jónica é formado apenas pelo estereóbato constituído por três degraus. A coluna possui uma base individual, um fuste com caneluras semicilíndricas, sem arestas vivas, e em maior número que a coluna dórica, e também mais longo e delgado e um capitel com ábaco simples e equino em forma de volutas enroladas em espiral. O entablamento tem uma arquitrave tripartida longitudinalmente e um friso contínuo, com decoração esculpida, rematado pela Estrutura jónica cornija; o frontão triangular encima o edifício, tal como acontece com a ordem dórica. Este tipo de estrutura foi aplicado tanto a edifícios de planta simples, como o templo de Atena Niké, como a edifícios de planta mais complexa, como o de Erectéion. Neste edifício, a função icónica da coluna adquire antropomorfismo num dos pórticos, através da sua substituição por estátuas femininas – o pórtico das Estrutura jónica cariátides. 21
  • 22. Templos jónicos Templo de Atena Niké Planta do Templo de Atena Niké Templo de Erectéion 22
  • 23. A ordem coríntia apareceu apenas no final do séc. V a.C. e é uma derivação da ordem jónica, resultante do seu enriquecimento decorativo. O seu nome deriva do seu autor que foi Calímaco de Corinto. As principais diferenças estão na coluna que possui uma base mais trabalhada, um fuste mais delgado e um capitel em forma de sino invertido, que era repleto de decoração esculpida, formada pelas duas filas de folhas de acanto, coroadas por volutas jónicas. O entablamento e o frontão eram sobrecarregados de refinados preciosismos decorativos. A ordem coríntia foi a ordem preferida pelos romanos, que a utilizaram de forma muito frequente. Na Grécia podemos encontrar esta ordem no Templo de Zeus Olímpico e no Monumento Corágico a Lisícrates, situados em Atenas. Ruínas do Templo de Zeus Olímpico, em Atenas 23
  • 24. A Escultura A escultura grega glorifica os seus atletas, heróis e deuses – estes últimos criados à imagem e semelhança dos homens dos seus modelos e ideais. Foi concebida e concretizou noções particulares de beleza e harmonia, tendo como “papel primordial pôr em evidência a ideia de que a arte é conseguida pela habilidade da representação exacta das aparências visíveis”. E, de tal forma esta ideia era notória, que os artistas chegavam ao ponto de colorir totalmente as estátuas para atingir o realismo desejado. A escultura grega cumpriu funções religiosas, políticas, honorificas e funerárias, assim como ornamentais. Estreitamente ligada à arquitectura – ocupando espaços próprios a ela destinados – a escultura grega, simultaneamente realista e idealista, possui uma dimensão profundamente humana, realizando uma unidade lógica e harmónica que foi expressão do pensamento grego. Esse humanismo foi traduzido por meio do tema e da medida, pois a temática da escultura grega, à excepção da figura do centauro, é exclusivamente humana. Foi no séc. V a.C. – época clássica – que a escultura (tal como aconteceu com as outras artes) atingiu o auge da beleza e da perfeição, com as obras do mais genial escultor desse período – Fídias – que executou os relevos do Pártenon. A génese da escultura grega situa-se entre os séculos IX e VI a.C., a qual foi feita sobretudo em madeira. A última etapa deste longo espaço de tempo é designado por período arcaico e situa-se entre os séculos VII, VI e inicio do séc. V a.C.. As obras deste período denotam diversas influências, nomeadamente assíria, egípcia, cretense, micénica e oriental. 24
  • 25. No período arcaico estabilizou-se o enquadramento da escultura na arquitectura. Assim, o relevo ficou sujeito ás formas e dimensões dos espaços arquitectónicos a ele destinados. Na ordem dórica distribui-se pelas métopas e pelos tímpanos dos frontões, enquanto que na ordem jónica, para ale dos tímpanos, é aplicada nos frisos contínuos. O relevo possui, desde cedo, duas funções essenciais:  A de contar uma “história” mágica ou a vitória de um deus, narrando e comemorando o acto que justifica a edificação do templo,  Preencher e decorar o espaço arquitectónico. Esses relevos eram inicialmente feitos em terracota, pintados com cores vibrantes, mais tarde, foram executados em mármore. É na escultura dos tímpanos que se estabelece uma perfeita harmonia entre o trabalho do escultor e do arquitecto. Na forma triangular, é difícil estabelecer uma composição equilibrada, mas os gregos souberam resolver a situação de modo inteligente e singular, colocando diversas figuras, em variadas posições, de acordo com o espaço a ocupar. A dimensão e a posição das figuras tinha a ver com o seu grau de importância no acontecimento representado. Assim, as principais eram colocadas de pé, na máxima altura do tímpano, enquanto que as restantes se adaptavam aos lados decrescentes do triângulo, aparecendo primeiro curvadas, depois sentadas e, por fim, deitadas. 25
  • 26. Nas métopas colocavam cenas míticas com duas ou três personagens que, no seu conjunto, contavam histórias de heróis, de gigantes, de centauros, …qual banda desenhada em pedra. Mas é no friso jónico, contínuo, que o artista tinha maior liberdade criadora, aí desenvolvendo uma acção sequenciada, numa sucessão de ritmos narrativos, sem interrupções e sem monotonia. Os temas mais utilizados eram as procissões, os desfiles, as corridas de carros, etc. As características dos relevos são idênticas às da estatuária:  As figuras têm uma anatomia esquemática;  Movimentos rígidos;  Rostos orientalizantes, com olhos oblíquos e amendoados, maçãs do rosto salientes e barba e cabelos simplificados e geometrizados. Da estatuária chegaram até nós dois tipos básicos de figuras:  Uma masculina que é a representação de um jovem nu ou kouros;  Uma rapariga vestida designada por koré. O kouros simboliza o deus da juventude e da plenitude, ao qual se iria chamar Apolo ou Hermes. 26
  • 27. Foi nestas estátuas que os gregos ensaiaram as primeiras representações anatómicas e o movimento corporal. Kouros Inicialmente, eram mais rígidas, de corpos hirtos, ombros largos e a anca estreita, braços esticados ao longo do corpo; a barba e o cabelo eram simplificados e convencionais – em caracóis, tranças ou ondas; e o rosto, muito esquemático, desenhava um sorriso enigmático nos lábios. Gradualmente, estas estátuas heróis adquirem alguma flexibilidade e movimento, desprendendo os braços do corpo e ganhando, também, expressão facial. O equivalente feminino, as korai, plural de koré, são jovens virgens, graciosas e encantadoras, que se apresentam vestidas com longas túnicas pregueadas que eram pintadas de cores luminosas, vivas e cintilantes. Os seus rostos simétricos, com meios sorrisos e cabelos longos, ondulados e, por vezes, entrançados, são de uma imobilidade serena Koré 27
  • 28. No período clássico, a escultura grega tem perfeitamente definidas as regras pelas quais se iria reger. A primeira obra deste período que atinge maior expressão foi o Discóbolo de Míron, representação do atleta lançador do disco. Aqui o escultor abandonou as regras arcaicas, introduzindo a noção de movimento eminente. M as Mas foi com Fídias, o artista mais genial de todo o século Va.C., que a escultura grega atingiu a absoluta perfeição. Nas obras deste escultor ressaltam a perfeição anatómica, a Discóbolo robustez e a serenidade, a força e a majestade que deram à escultura clássica grega o carácter idealista e divinizado que lhe conhecemos. As suas peças, de incomparável, mestria são conhecidas pelas descrições dos seus contemporâneos e as suas qualidades técnicas e artísticas são confirmadas pelos relevos, algumas estátuas mutiladas e a réplica de famosa Atena Parteno feita em marfim, ouro e pedras preciosas. A escultura do séc. IVa.C. conheceu novos desenvolvimentos, pois foi marcado pelo aspecto sedutor e gracioso das estátuas e pelo aparecimento do nu feminino. Relevos e estátuas tornaram- se mais naturalistas, trabalhadas ao estilo dos seus autores. Foi o caso do escultor Scopas, que produziu obras de características mais expressivas e de Praxíteles que executou corpos mais esbeltos e efeminados, como o seu Hermes. Foi este que assumiu, pela primeira vez, a nudez feminina na estatuária. 28
  • 29. Lisipo introduziu na escultura a verdadeira noção de vulto redondo e marcou esta etapa com o mais elevado naturalismo, criando um novo tipo de atleta mais esbelto. Rompeu com o rigor da frontalidade, podendo as estátuas ser vistas de todos os ângulos e não como se fossem altos-relevos destacados do fundo, com um ponto de vista principal. No período helenístico – séculos III, II e I a.C. – a escultura evoluiu num sentido diferente dos séculos anteriores. O “realismo idealista” do séc.V a.C. foi substituído pelo “naturalismo” do séc. IV, que agora cedeu lugar a um realismo expressivo, dramático e livre, de efeito teatral. O sofrimento e as paixões apoderam-se do corpo e dos rostos, abandonando a serenidade tão característica da arte grega. Os grupos escultóricos, susceptíveis de composições mais dinâmicas, sucedem-se às esculturas individualizadas, descrevendo acontecimentos e narrando histórias, como no caso do grupo de Lacoonte e de Os Lutadores. 29
  • 30. Mesmo as figuras individualizadas parecem ter sido extraídas de uma narrativa, como no caso de O Gaulês Moribundo. É neste período que se produzem e vendem, para as colónias gregas e para Roma, cópias das estátuas clássicas que chegaram até nós e nos deram a conhecer o génio escultórico grego. Duas dessas peças são a Vitória Samotrácia e a Vénus de Milo. 30
  • 31. Sócrates Épicuro Pitágoras A par destas representações monumentais, desenvolve-se, também neste período, o gosto pelo retrato com representações mais realistas e pelas cenas do género retiradas da vida quotidiana, captada com realismo tal que dá ênfase até às deformidades físicas do ser humano e às representações da infância e da velhice. Já em pleno período romano, tornaram-se populares as conhecidas estatuetas de Tanagra, pequenas figurinhas de barro policromado, cópias de originais clássicos, inspiradas em cenas pitorescas do quotidiano e da religião, que constituíram uma arte requintada de salão, destinada ao consumo das elites. 31
  • 32. A Cerâmica e a pintura A cerâmica, pela sua decoração, com relatos de cenas míticas, representações de reis e atletas, de cenas do quotidiano, etc., constitui um repositório fidedigno de imagens da arte e da cultura gregas. Na falta de outros documentos históricos, como o da pintura mural que desapareceu quase toda, é à cerâmica que vamos colher informações necessárias para o entendimento da cultura, da civilização e da plástica gregas. De entre o artesanato artístico deixado pelos gregos, a cerâmica tem um lugar de destaque. Mercadoria de primeira necessidade, pois servia para múltiplos usos, a cerâmica teve 32
  • 33. grande produção, e das inúmeras oficinas gregas sobressaem as atenienses, detentoras das peças mais significativas e variadas, bem como os autores de maior qualidade. Levada pelos mercadores, a cerâmica espalhou-se por todo o Mediterrâneo. Na evolução plástica da cerâmica grega os especialistas distinguem os seguintes estilos:  O estilo geométrico, situado entre os séculos IX e VIII a.C., distingue-se pela decoração estrita de motivos geométricos. Estes motivos eram dispostos à roda do corpo dos vasos, em bandas ou frisos paralelos e sobrepostos, cobrindo-os até à cintura. Cada banda era ornamentada a partir de motivos geométricos simples – o ponto, a linha, o círculo -, organizados em combinações e variações criativas, algumas das quais usadas desde o Neolítico: meandros, triângulos, losangos, linhas quebradas ou contínuas, axadrezados… Estes motivos eram realçados a preto (ou com um verniz castanho-ocre, muito brilhante) sobre o fundo de cor natural dos vasos. A partir de inícios do séc. VIII, reintroduziram-se os elementos figurativos na decoração cerâmica, mas este apresentavam-se como meras silhuetas a negro, muito esquematizadas e estilizadas, de onde se excluíram todos os pormenores secundários. 33
  • 34. Estes elementos decorativos eram constituídos por animais compondo pequenos frisos decorativos e por seres humanos, isolados ou organizados em cenas descritivas e narrativas. Neste caso, os temas resumiam-se a batalhas e cerimónias fúnebres. Nos primeiros, as personagens eram guerreiros apresentados em diversas posições de combate; nos últimos, as cenas descrevem os cortejos fúnebres com soldados e carpideiras seguindo o carro onde viaja o corpo do morto, exposto sobre a urna. Quanto às formas, a tendência foi para o aumento progressivo do tamanho das peças, algumas das quais atingiram proporções monumentais. Com feito, as ânforas e crateras ultrapassaram, nalguns casos, 1,5m de altura. Estas grandes peças destinavam-se a ser colocadas nos cemitérios como indicadores das sepulturas, à maneira de estelas ou monumentos funerários. Continham óleos, unguentos sagrados e outras oferendas feitas aos mortos.  A fase arcaica abrange os finais do séc.VII até cerca de 480 a.C. Esta fase ficou marcada pelo aparecimento, na ática, da cerâmica decorada pela técnica das figuras pintadas a negro. Trata-se de uma cerâmica elegante e sofisticada, fruto e uma técnica elaborada, destinada ao comércio de luxo. 34
  • 35. Sobre o fundo vermelho do barro destacam-se os elementos figurativos, representados como silhuetas estilizadas à maneira antiga (rosto de perfil, com olho de frente, tronco de frente, ancas a três quartos e pernas de perfil) e totalmente preenchidas a cor negra. A técnica da incisão permitiu pormenorizar o interior das figuras, enriquecidas com linhas de contorno dos músculos e outras partes do corpo, com particularidade como a barba, o cabelo ou os padrões do vestuário.  O estilo clássico situa-se entre 480 e 323 a.C. Artisticamente, corresponde ao período de apogeu técnico, estético do povo grego, no qual a arte foi encarada como uma consequência directa da superioridade criativa, racional e filosófica da cultura grega. Em consequência, o desenho e a pintura desenvolveram-se extraordinariamente pela descoberta, aperfeiçoamento e aplicação de revolucionárias aplicações técnicas e formais: aplicação da perspectiva, criação do claro- escuro, aplicação de sombras… Na cerâmica, estas inovações traduziram-se numa crescente qualidade artística. Manteve-se o fabrico da cerâmica das figuras negras, mas implantou-se a técnica das figuras vermelhas. Nesta técnica, toda a superfície do vaso era coberta com verniz negro, com excepção das 35
  • 36. figuras, cujas silhuetas se mantinham da cor avermelhada, natural da argila. Os pormenores anatómicos e outros eram acrescentados, posteriormente, a pincel mergulhado em tinta preta. Associada à perfeição alcançada entretanto pelo desenho, esta técnica imprimiu às figuras decorativas da cerâmica uma plasticidade nova, tridimensional. Com pouco desenho interno – apenas alguns traços que sugeriam os volumes -, os corpos adquirem perspectiva, movimento, naturalidade e realismo. Apareciam enquadrados em espaços figurados onde não faltavam, por vezes, pequenos apontamentos de cenários naturais ou arquitectónicos.  Estilo belo – ainda no séc.IV a.C. desenvolveu-se uma variedade de estilos decorativos. Alguns autores associaram livremente figuras vermelhas e negras sobre fundos amarelados ou brancos, obtendo elegantes efeitos estéticos. Nas oficinas da Ática, desenvolveu-se uma cerâmica funerária com fundo branco, onde as formas das figuras se definiam unicamente pela linha de contorno, traçada com precisão. À cerâmica grega foi atribuída uma grande importância, tal como é comprovada pelas fontes escritas. As principais olarias de cada cidade usufruíam de prestígio e popularidade, que se estendiam aos mais apreciados oleiros e pintores ceramistas. Com efeito, como os filósofos, arquitectos e escultores do seu tempo, muitos dos mestres artesãos alcançaram a imortalidade pelas peças produzidas. Tal foi o caso de Clítias, Apolodoro, Eufrónio, Exéquias e outros cujas obras são o melhor 36
  • 37. testemunho do grande valor artístico da cerâmica grega que viveu o seu apogeu precisamente no séc.IV a.C. 37