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DO MEU VELHO
BAÚ
METODISTA

EULA KENNEDY LONG

1968
Junta Geral de Educação Cristã
Igreja Metodista do Brasil
DEDICADO

- À memória de todos os pioneiros que desde 1835 desbravaram o
terreno do Brasil pra nele içarem o estandarte do Evangelho,
e
- a todos aqueles que recebendo o estandarte continuaram a
levantá-lo com orgulho, gratidão e dedicação ao Senhor.

Eula Kennedy Long

São Paulo, Brasil.
Novembro de 1967
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
PRIMEIRA PARTE
Albores do Protestantismo no Brasil
Primeiras Sementeiras Metodistas no Brasil
Viagens Exploradoras de Kidder
Trágico Desfecho
SEGUNDA PARTE
O Metodismo Volta e se Afirma
A Missão Ransom
Valiosos Reforços
Ansiedade e Progresso
A Primeira Década da “Missão Ranson” - 1876-1886
Dias Memoráveis de 1886
TERCEIRA PARTE
Outra sementeira Metodista
Trabalho na Zona Colonial
Terrel, o Intrépido
Outros Campeões da Fé
Transferência de Trabalhos
Progresso Metodista nos Pampas
QUARTA PARTE
O Metodismo no Nordeste e Norte
QUINTA PARTE
Uma só Igreja a Perseverar
Governo Próprio
A Obra no Amazonas - Revelações e Perguntas
Publicações e Casas Publicadoras
Institutos Educacionais das Conferências Anual e Central
Escolas que desapareceram pela Estrada
No Campo da Ação Social
A Mulher no Cenário Metodista
Memórias da Igreja do Catete
A Igreja Metodista e Bebidas Alcoólicas
A Voz do Evangelho em Brasília
Umuarama - O Quê do Sonho Dourado
Retalhos, Recortes e Retratos
Qual deveria Ser a data da Origem do Metodismo no Brasil?
APRESENTAÇÃO
Participando das comemorações do primeiro centenário do
metodismo permanente no Brasil, solicitamos, em nome da Junta Geral de
Educação Cristã, à Srª Eula Kennedy Long, filha do autor do livro “Cincoenta
Annos de Methodismo no Brasil”, que brindasse a Igreja Metodista do Brasil
com mais uma obra de sua fluente pena de escritora, desta vez no campo da
história.
Assim, sob o sugestivo título: “Do meu velho Baú Metodista” surge
uma obra que recorda de maneira viva e interessante muitas das lutas e
realizações de mais de um século de metodismo no Brasil.

Á Ilustre autora os agradecimentos da Junta Geral de Educação
Cristã e da Igreja Metodista por mais esta preciosa colaboração.
São Paulo, março de 1968.
João Nelson Betts
Secretário Geral de Educação Cristã
INTRODUÇÃO

" Um povo que não conhece a sua origem

e nem o que fizeram seus maiores,
ignora tudo,
não tem passado, vive do presente ".
Bem fortes são estas palavras de Alexandre de Mello Moraes, historiador e
sociólogo do século 19. Contudo, vou parafraseá-las dizendo: "A Igreja que não conhece
a sua origem e nem o que praticaram seus pioneiros, não tem raízes profundas para
alimentar o seu presente ou dirigir o seu futuro".
Eis porque, neste ano do CENTENÁRIO DO METODISMO PERMANENTE NO
BRASIL, a nossa Igreja tem achado justo relembrar e comemorar o seu passado, tão
cheio de eventos e personalidades inspiradoras, de estímulo para hoje e desafio para
amanhã. As próprias palavras do Mestre justificam tal pesquisa, pois não disse Jesus:
"Todo escriba VERSADO NO REINO DOS CÉUS é semelhante a um pai de família que
tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas?”.
Todavia, fiquei desapontada e um tanto perplexa, quando soube que um
professor de Escola Dominical havia se queixado, dizendo: "Por que gastar tantos
domingos em estudos desses pioneiros antigos e da história do passado? Deixemos o
passado; cuidemos do presente; pensemos só no futuro!" Seria mesmo que, ao estudar
para apresentar estes fatos, eu estivesse preocupada demais com o passado, gastando
horas preciosas em fazer minhas pesquisas, em tirar as COISAS VELHAS DO MEU
DEPÓSITO?

Como que em resposta à minha perplexidade, chegaram-me às mãos - como
por coincidência, ou guiada por Deus - um sem número de respostas. Primeiro, um livro
recente de Franklin de Oliveira, A MORTE DA MEMÓRIA NACIONAL, no qual o autor
lamenta o "descaso geral pelo patrimônio nacional", declarando que o "Brasil está
correndo o perigo de tornar-se nação historicamente desmoralizada"; advertindo-nos que
"a morte nacional se realiza pelo abandono de nossas fontes culturais".
Será possível, perguntei-me a mim mesma, acontecer isto com a nossa Igreja
Metodista, se não cuidarmos geração após geração, de relembrar as nossas fontes
religiosas, os feitos, sacrifícios e vitórias dos pioneiros de antanho?
Mais preciosas e encorajadoras, porém, foram as palavras eloqüentes de
Sante Uberto Barbieri, filho do nosso Brasil, agora bispo da Região Platina (Argentina),
consagrado líder continental e mundial do metodismo, no seu livro Estranha Estirpe de
Audazes, onde escreve:

"A História é o único elemento em nossa vida social que nos liga ao passado.
CORTARÍAMOS DE NÓS MESMOS UMA IMPORTANTE PARTE SE OMITÍSSEMOS a
História... Podemos existir sem a história, MAS NÃO VIVER... Na História se refugia a
vida que já foi para não morrer... para continuar vivendo, PARA OBRIGAR-NOS A
VIVER". E reforçando suas observações, cita Miguel Unamuno, o grande filósofo da
Espanha: “É A VISÃO DO PASSADO QUE NOS EMPURRA À CONQUISTA DO
PORVIR", ao qual posso acrescentar “e com ela lançamos bases seguras para o futuro”.
***
Sinto-me, pois, justificada em trazer aos meus leitores essas recordações do
passado, essas histórias sobre os corajosos pioneiros do metodismo brasileiro. Portanto,
desse meu depósito, meu velho baú dentro do qual tenho entesourado retratos velhos e
desbotados, recortes de jornais, revistas, livros antigos de “orelhas de burro”, desse meu
velho baú vou retirando aquilo que peço a Deus nos levem nessa e em futuras gerações a
emular aqueles que tanto sacrificaram pela causa do Senhor Jesus Cristo.
Contudo, mister é que olhemos mais longe ainda, além destes pioneiros, além
do fundador - João Wesley. Mister é que fixemos os olhos e os corações Naquele que e o
nosso real fundamento, Jesus Cristo, o autor e consumador de nossa fé, a Rocha de que
fomos cortados (Is 51:1), a rocha da nossa fortaleza.

Bem sei que muito a contragosto, por falta de tempo e de informações que não
consegui colher, não tenho incluído nessa "Linha de Esplendor Sem Fim" muitos e
muitos que aqui mereciam constar. E por estas falhas, peço perdão. Outros historiadores
em profundidade suprirão esta falta.
***
Outrossim, agradeço ao Rev. João Nelson Betts, que, em nome da Junta Geral
de Educação Crista, pediu-me escrever este livro, o grande privilégio e honra de contribuir
assim para a comemoração do CENTENÁRIO DO METODISMO PERMANENTE NO
BRASIL.

Eula Kennedy Long

São Paulo, Brasil
Novembro de 1967
PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO 1
ALBORES DO PROTESTANTISMO NO BRASIL
Pascal, eminente cientista e filósofo francês do século XVII, fez certa vez o
intrigante comentário: "Fosse o nariz de Cleópatra mais comprido, a história do mundo
seria outra". Parece frívola tal observação, ainda mais quando falasse sobre o
protestantismo; contudo, por meio destas palavras Pascal desejava mostrar que a
influência de detalhes insignificantes em si e aparentemente sem conexão pode
influenciar e até determinar o destino de pessoas e nações!
Foi uma série de eventos sem conexão nenhuma com o protestantismo, e
conseqüentemente com o metodismo, que lhes ofereceu a oportunidade de penetrar no
Brasil, tanto que podemos parafrasear Pascal, dizendo: "Não fora a ambição de
Napoleão, a história do Evangelho no Brasil teria sido outra". O primeiro evento liga-se a
fuga de D. João VI, rei de Portugal para a nossa terra, em 1808, e ao subseqüente abrir
dos portos, ato que rompeu a "cortina de ferro" que até então isolara o Brasil,
conservando-o na ignorância e no atraso material, intelectual e espiritual.

Tão cerrada fora esta cortina que um historiador brasileiro comentou que seria
mais fácil desembarcar no Rio um passageiro com varíola, do que um judeu ou herege.
Alexandre Von Humbolt, grande cientista alemão que explorava os países da América do
Sul, e que foi proibido de entrar aqui, chamou o Brasil de "um jardim amuralhado". Tal era
a dominância total pela Igreja Católica Romana que o padre Luiz Gonçalves dos Santos,
que escreveu um livro em 1838 ("O Católico e o Metodista"), para combater os
metodistas, declarou com a maior franqueza "até o presente nenhum herege se atreveu a
levantar a voz para perverter os católicos, pois a Igreja Católica do Brasil era um jardim
fechado onde não podia entrar nenhum animal daninho - um redil por todos os lados
cerrado, ao qual nenhum lobo se atrevia a aproximar-se" (Introdução, págs. 25 e 26).
Abertura dos portos
Abertos os portos, especialmente do Rio de Janeiro, começaram logo a afluir
ao Brasil muitos navios que traziam comerciantes de outros países, principalmente dos
Estados Unidos e da Inglaterra, então a "rainha dos mares".
Aqui entra em operação o segundo daqueles pequenos itens que influenciaram
o destino do protestantismo. Pois se não fosse o gênio inglês que sempre requer a
confraternização com seus patrícios, o protestantismo teria demorado ainda mais a
chegar às nossas plagas (estou ignorando o protestantismo dos huguenotes no Rio e dos
holandeses em Pernambuco, que nos séculos XVI e XVII aqui vieram por motivos de
colonização).
Os ingleses e seu templo
Dia chegou em que os ingleses, ao firmarem com D. João VI um tratado de
comércio e amizade, pediram o direito de construírem as suas próprias igrejas
anglicanas. O rei encontrou-se então "nos chifres de um dilema". Como recusar um favor
aos aliados que o haviam protegido em sua fuga de Napoleão? Por outro lado, como
arriscar a fúria da Igreja Católica Romana, que era oficial e não permitia a entrada de
religiões acatólicas?

D. João mostrou-se astuto em resolver o problema, ainda que não ao contento
da igreja oficial. Concedeu aos ingleses o direito de construírem seus templos, contanto
que não tivessem a aparência exterior de um templo - particularmente nada de torre e
sinos e, bem entendido, o culto seria somente para eles, os anglicanos.
Quando o rei viu o primeiro projeto do templo não o aprovou, porque as janelas
pareciam com as de uma igreja. Todavia, como naquela época janelas até de residências
particulares eram freqüentemente de estilo ogival ou gótico (como ainda vemos em casas
antigas do Brasil), elas ficaram sem modificações. Assim foi que os ingleses, em 1819,
terminaram o seu templo, a primeira igreja protestante, não somente no Brasil, mas em
toda a América do Sul.
É interessante notar que já em 1938 o Padre Luiz G. dos Santos se queixava de "Um
brasileiro católico que escandalizou toda a cidade (do Rio) indo comer pão e beber vinho
na Rua dos Barbonos", como então se chamava a rua onde foi construído o templo inglês
(O Católico e o Metodista, pág. 134)).

Esse mesmo tratado histórico também deu aos ingleses cemitérios próprios, pois até
então era proibido o enterro de chamados "hereges" em cemitérios católicos. O mais
conhecido era o da Gamboa no Rio de Janeiro, cujo local fora anteriormente uma chácara
do rei, e que por coincidência, hoje adjacente ao nosso Instituto Central do Povo.

Assim, pois, pavimentava-se a estrada para os cultos protestantes - e para nós os
metodistas.
Outras conseqüências do franqueamento dos portos
Este franqueamento também contribuiu para a divulgação de informações mais
precisas sobre o Brasil, tão desconhecidas então pelo resto do mundo. Negociantes,
capitães e tripulantes das naves, voltando à Inglaterra e aos Estados Unidos, descreviam
a ignorância e o atraso e escuridão espiritual do Brasil.
Já em 1805, Henry Martyn, um capelão anglicano em viagem à Índia num vapor que
aportara em Salvador, após várias experiências de conversas com padres, escreveu no
seu diário palavras que se tornaram clássicas quanto à situação religiosa no Brasil:
"Cruzes, cruzes, por todos os lados - mas quando se pregará a verdadeira doutrina da
cruz?"
Todas estas observações não eram mentira e calúnias, como asseveraram os
padres, pois são confirmadas por competentes historiadores brasileiros, como Gilberto
Freyre e Vianna Moog. Já em 1843 o Ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos no
Brasil relatara à Legislatura Imperial: "É notório o estado de decadência em que se
encontra o nosso clero. E evidente a necessidade de se tomarem medidas capazes de
remediar o mal".
Divulgação das Escrituras Sagradas
Capitães, marinheiros e negociantes ingleses e americanos, profundamente
impressionados, começaram a trazer e a distribuir Bíblias, Novos Testamentos e folhetos
religiosos que lhes eram fornecidos pelas Sociedades Bíblicas. Confirma isto Daniel
Kidder (de quem digo algo adiante), relatando casos que provam que desde 1823, isso se
fazia aqui e ali. Conta de um inglês que, recebendo uma consignação de Bíblias em 1833,
para poupar-se o trabalho de distribuí-las pessoalmente, deixou-as num caixote na
Alfândega, para serem levadas por quem as quisesse.
Outro caso era o de um pastor anglicano que dava ou vendia as Escrituras em
1836, porque se sentia "profundamente preocupado com o bem estar do povo em cujo
seio residia; dizendo com verdadeira perspicácia que aquilo de que o Brasil mais
necessitava era de bons pregadores brasileiros". Certo é que mesmo antes de as igrejas
evangélicas se encarregarem de enviar missionários, já cristãos leigos de outras terras
reconheciam a necessidade espiritual da nação e faziam empenho por satisfazê-la.
CAPÍTULO 2
PRIMEIRAS SEMENTEIRAS METODISTAS NO BRASIL

"Assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará
para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará
naquilo para que a designasse". (Isaías 55.11).
Pitts pesquisa e também organiza
Talvez influenciada pelas informações que vinha recebendo, a Igreja Metodista
nos Estados Unidos, em sua Conferência Geral de maio de 1835, resolveu enviar à
América do Sul, para verificar a possibilidade de estabelecer trabalho missionário ali, um
missionário. Foi escolhido para esse propósito, o pastor da Igreja McKendree de
Nashville, Estado de Tennessee — um jovem ministro de 27 anos, Rev. FOUNTAIN E.
PITTS (interessante coincidência: essa igreja tornou-se responsável depois pelo sustento
do Rev. James L. Kennedy, outro missionário pioneiro ao Brasil).
A primeira Sociedade Metodista no Brasil
Pitts, ele próprio tendo que conseguir os recursos para tão dispendiosa viagem,
partiu de Nashville, pregando e angariando donativos em caminho para custear o
empreendimento. Embarcou em fins de junho e chegou ao Rio de Janeiro no dia 19 de
agosto de 1835, passando ali uns seis meses. Organizou uma "Sociedade Metodista",
como então eram chamadas as nossas congregações, prosseguindo depois a Buenos
Aires e Montevidéu onde também organizou Sociedades (todas, como só podia ser, com
elementos que falavam inglês). Por isso, é ele designado o MISSIONÁRIO PIONEIRO DA
AMÉRICA DO SUL, pelos mais competentes historiadores metodistas; entre esses, o
antigo Dr. D. B. McFerrin, que o intitulou o "primeiro missionário nomeado para trabalho
permanente na América do Sul"; e o recente W. C. Barclay que escreveu: "(Pitts) lançou
os fundamentos do trabalho metodista no Brasil, Uruguai e Argentina". (Vol. I, pág. 347).
Também missionários de outras denominações evangélicas, assim o
reconhecem, como o veterano presbiteriano Alexander Blackford, que disse: "À Igreja
Metodista cabe a honra do primeiro esforço em tempos modernos de implantar o
Evangelho no Brasil". (Kennedy, pág. 13).
Antes de deixar o Rio de Janeiro, chegou a fazer planos preliminares para a
construção duma igreja. Voltando à sua terra, o Rev. Pitts apresentou um relatório tão
entusiástico sobre as oportunidades aqui existentes, que a Conferência Geral nomeou um
pastor para estabelecer trabalho missionário no Brasil.
Rev. Justin R. Spaulding
Este missionário foi o Rev. Justin R. Spaulding, ministro ordenado e já homem
maduro, pois contava 34 anos. Embarcou em março de 1836, em Nova Iorque, trazendo
consigo a sua esposa, um filhinho e uma "doméstica". Hospedou-se no Rio em casa de
uma família luterana; e naquela mesma noite, demonstrou a sua dedicação e energia,
pregando para umas trinta a quarenta pessoas — uma "pequena sociedade de pessoas
piedosas", assim ele as descreveu, que fora organizada pelo Rev. Pitts e que
ansiosamente o esperava.

Sem perder tempo, começou em junho, com trinta alunos, "uma Escola
Dominical da qual faziam parte crianças brasileiras a quem ensinava a Bíblia em sua
própria língua". (Kennedy, pág. 4). Quem as ensinava, não consta; mas talvez foi um
leigo anônimo, já residente no país, pois Spaulding ainda não conhecia bem o português.
Cremos ter sido essa a primeira Escola Dominical no Brasil, apesar de duas
outras denominações disputarem a honra. Num histórico sobre Petrópolis, o Rev. Nadir
Pedro dos Santos escreveu que a primeira Escola Dominical oficial no Brasil foi
estabelecida em 1855 pelo Dr. Robert Kalley, missionário escocês da Igreja
Congregacional (cf. Expositor Cristão, 10-12-1957). E o Rev. William R. Read, em recente
obra, escreve que a primeira Escola Dominical foi fundada em 12 de abril de 1860, pelo
missionário presbiteriano, Rev. Ashbel G. Simonton. Pode ser que as Escolas Dominicais
congregacional e presbiteriana levem os louros em termos continuidade, mas não em
termos de primazia de organização.
Falando sobre o trabalho do Rev. Spaulding, comenta Kennedy (Expositor
Cristão, 21-7-1894) que a “Escola Dominical floresceu a tal ponto, que o Rev. Spaulding
alugou uma sala mais espaçosa para nela celebrar os cultos. Houve, também, reuniões
de oração regularmente; e todos os domingos, com seus ajudantes, ele pregava em
algum navio aos milhares de marinheiros que constantemente entravam na baía do Rio
de Janeiro". Tanto o Rev. Kidder como o Rev. Kennedy, muito após, também iam a bordo
dos navios pregar aos seus tripulantes.
A primeira escola diária evangélica no Brasil
O espírito do metodismo foi sempre zeloso pela educação, procurando elevar
as massas com escolas num tempo quando a instrução escolar ainda era privilégio de
poucos. De sorte que, já em julho de 1836, o Rev. Spaulding abria uma escola diária na
rua do Catete, à qual assistiam não só os filhos de estrangeiros ali residentes, mas
também crianças de brasileiros católicos. Confirmam esse fato as censuras dirigidas a
estes pais pelo padre Luiz Gonçalves dos Santos, chamando-os de "simples e
ignorantes", e admoestando: "Apartai delas os vossos filhos... Ah, permita Deus que
semelhantes pais que entregam os seus filhos a hereges para serem instruídos por eles,
não chorem algum dia lágrimas de sangue!" ("O Católico e o Metodista", págs. 118, 119,
177).
Chegam reforços
O Rev. Spaulding, convencido das necessidades espirituais do Brasil, e
sentindo que precisava de auxiliares, pediu insistentemente que a Igreja Mãe lhe
enviasse recursos.
"VENHA À MACEDÔNIA, E AJUDE-ME!" era o seu constante apelo. A
resposta veio, e depressa; pois em novembro de 1837, chegaram ao Rio de Janeiro,
o Rev. Daniel Parrish Kidder com sua esposa Cynthia, o professor M'Murdy (às vezes
escrito Murdy), e a Srta. Maraella Russel, também professora e talvez irmã de
Cynthia, pois ambas tinham o mesmo sobrenome. Entre os dois que vinham ensinar,
surgiu logo um romance, e brevemente se uniram em matrimônio. Continuaram eles
dirigindo a pequena escola diária organizada pelo Rev. Spaulding. Desses, porém,
pouco sabemos, pois regressaram dentro em pouco aos Estados Unidos desanimados ou doentes.
O Brasil de então
Talvez seja de valor relembrar aqui alguns fatos que naqueles tempos, traziam
desânimo aos pioneiros. Primeiro - a longa viagem marítima, em vapores de pouco
conforto, arriscando-se e passando por sérios perigos, pois não existiam meios de
comunicação com a terra, como hoje. Depois de chegados, tinha que enfrentar as
dificuldades inerentes ao aprendizado de outra língua, e acostumar-se a uma cultura de
valores e costumes estranhos. Qualquer comunicação com a Igreja Mãe e com os
queridos e a Pátria distante, era dificílima. Ademais, chegavam a uma terra onde ainda
grassavam febres malignas como a palustre e a amarela, e doenças contagiosas como a
varíola e a peste bubônica. Uma terra onde, conforme o historiador Gilberto Freyre, a
limpeza das ruas e dos quintais era feita pelos urubus, e a da praia pelas marés; onde até
meados do século 19, residentes das cidades tinham que ser proibidos de atirar água suja
das janelas às calçadas sem primeiro avisar três vezes, "Cuidem da água!" (Freyre, pág.
151).
Tudo isso demandava, pois, muita saúde, muita coragem, e muita confiança
em Deus, para que esses pioneiros deixassem sua família e sua Pátria para dedicaremse ao trabalho em terra estranha - trabalho que no Brasil era muitas vezes caluniado e
hostilizado. Apesar desses pioneiros metodistas não terem sofrido perseguição física,
eram mal-interpretados em seus motivos e escarnecidos, e advinha disto um sentido de
insegurança.
Conta o Rev. William Read que duas esposas de missionários presbiterianos
enlouqueceram devido à tensão que sofreram quando os seus maridos viajavam. Bastava
a menção da palavra protestante para apavorar homens e mulheres em certas
comunidades do interior. O povo acreditava que o demônio se apossava dos corpos dos
protestantes e que seus pés se transformavam em cascos fendidos. O Rev. Perce
Chamberlain, presbiteriano que fundou a Escola Americana e depois o Mackenzie,
surpreendeu certa vez, um grupo de residentes duma zona rural a tirarem os sapatos a
fim de mostrar a toda a gente, que não eram "bodes protestantes" (Read, pág. 52).
Todavia, a obra intensifica-se
Agora com o Rev. Kidder para lhe ajudar, o trabalho metodista na Corte (Rio
de Janeiro) progredia a ponto de os padres "resistirem-no freneticamente". Primeiro
mandaram imprimir um pequeno jornal "O Católico Fluminense"; depois, o Padre Luiz
Gonçalves dos Santos publicou um livro, “O Católico e o Metodista”, ambos mais úteis
para divulgar o metodismo do que para contê-lo!
Intensificaram os missionários a divulgação das Escrituras e folhetos religiosos,
nisso aderindo aos conselhos de João Wesley, que frisara sempre a importância da
literatura religiosa. Escrevera Wesley que a "propagação de informações por meio do
prelo segue em importância a pregação do Evangelho" (Early American Methodism, Vol.
II, pg. 482). O Rev. Kidder, logo ao chegar ao Rio, ficou admirado com a venda e
distribuição das Escrituras, como já estava sendo feita pelo Rev. Spaulding. Escreveu
num dos seus livros que apesar de a Bíblia não constar da relação dos "livros que
podiam ser admitidos nas colônias (de Portugal)" elas logo encontraram compradores.
“Na sede de nossa missão, dizia o Rev. Kidder, deu-se o que poderia chamar
de verdadeira ‘corrida’ de pretendentes ao Livro Sagrado”. Muitos enviaram bilhetes por
escravos ou crianças. Um dos bilhetes era assinado por um Ministro do Império que pediu
exemplares para toda uma escola fora da cidade. Entre os que nos foram procurar
encontravam-se diversos sacerdotes... Na sexta e no sábado, apinharam-se na casa
suplicantes de todas as condições, desde o ancião encanecido ate a criança palreira;
desde o senhor da alta hierarquia até o pobre escravo. Tem vindo pessoas de todas as
zonas da cidade...
“SÓ À ETERNIDADE CABERÁ REVELAR TODO O ALCANCE DE SEUS
BENEFÍCIOS" (referindo-se a disseminação das Escrituras).
Spaulding e o problema da escravidão
Além dos seus outros trabalhos, o Rev. Spaulding desejava fazer algo para
beneficiar os pobres escravos. Conhecendo já de primeira mão, na sua própria terra, os
males dessa instituição, ele se compadeceu da sua sorte e aceitou na escola diária
algumas crianças de cor. “Foi esse, comenta um historiador, talvez o primeiro esforço na
América do Sul, de reconhecer a igualdade de direitos dos negros.”

Relatando o que fizera, o Rev. Spaulding escreveu à Junta de Missões
nos Estados Unidos: "O que será o resultado final da escravidão, ou quando
terminará nesse país, e impossível dizer. Tudo quanto podemos fazer é sermos
diligentes, extremamente discretos e entrarmos por qualquer porta que a Providência
abrir, para fazer-lhes bem". Porém o Padre Luiz, interpretando injustificável ou
maliciosamente as intenções do missionário - que decerto não tinha a menor idéia de
promover qualquer movimento político ou violento a favor dos pretos, escreveu:
“Aqui temos a missão metodista em duas partes ou dois fins: o primeiro,
descatolicizar o Brasil, no que trabalham com todo o vigor; e, segundo, emancipar os
nossos escravos. Se os metodistas pretendem ensinar os pretinhos somente a sua
doutrina, por que razões se mostram tão acautelados, tão prudentes? Aqui há
mistério oculto - os Metodistas têm planos escondidos sobre os nossos escravos, que
não lhes convém ainda descobrir” (revelar). (O Católico e o Metodista, pág. 176).
Forte reação da hierarquia católica
Não é de se admirar que os líderes da igreja dominante começassem a
sentir tamanha preocupação com os sucessos dos protestantes, que chegassem a
concitar o governo imperial, em 8 de maio de 1839: "Se o Brasil quer ser feliz,
oponha-se pelo órgão do seu governo a toda inovação, tanto política como religiosa,
que além de imprudente, desnecessária e lesiva dos direitos dos povos, muito dano
causara ao Estado, principalmente em tempos tão melindrosos como os atuais"
(Dissertação sobre a Sepultura dos Cathólicos, pág. 30).

Para esse padre, não havia palavras suficientemente duras com que
estigmatizar os metodistas, "Como é possível", perguntou, "que na corte do Império da
Terra de Santa Cruz, à face do Imperador e de todas as autoridades Eclesiásticas e
Seculares se apresentem homens leigos, casados, com filhos, denominados missionários
do Rio de Janeiro? Incrível, mas desgraçadamente certíssimo! Estes intitulados
missionários estão a perto de dois anos entre nós, procurando perverter os católicos,
abalando a sua fé com pregações públicas em suas casas, com Escolas Semanárias e
Dominicais, espalhando Bíblias truncadas e sem notas — enfim, convidando a uns e
outros para o Protestantismo; e muito especialmente, para abraçar a seita dos Metodistas,
de todos os protestantes, os mais modernos, mais turbulentos, os mais relaxados,
fanáticos, hipócritas e ignorantes". (Introdução de "O Católico e o Metodista", pág 24).
CAPÍTULO 3
VIAGENS EXPLORADORAS DE KIDDER

Os missionários não se intimidaram. Desejosos de conhecerem bem o país, o
ambiente em que iriam trabalhar, e as oportunidades existentes, viajaram extensivamente
pelo Brasil, principalmente o Rev. Kidder. Enquanto o Rev. Spaulding dirigia os trabalhos
na Corte, Kidder, como representante também da Sociedade Bíblica Americana, sentia-se
obrigado a fazer tais viagens para distribuir mais largamente as Escrituras. Percorreu de
início as zonas mais próximas do Rio; depois, embarcando em navio até Santos, de lá fez
a difícil Jornada em lombo de mula, serra acima, até São Paulo. Foi isso em Janeiro de
1839.
Em São Paulo
Do ponto de vista da missão metodista, foram realmente extraordinárias estas
expedições missionárias. Em muitas localidades, o Rev. Kidder recebeu hospedagem até
de sacerdotes; em algumas, teve a colaboração de vigários mais liberais e esclarecidos
para a distribuição das Escrituras - como em Iguaçu, Estado do Rio. "Durante todo o
tempo em que residimos no Brasil", observou, "jamais encontramos o menor obstáculo ou
recebemos a mais leve desconsideração por parte do povo". Que contraste com o
tratamento recebido do Padre Luiz!
Chegado a São Paulo, Kidder teve a feliz idéia de distribuir Testamentos pelas
diversas escolas da cidade para serem usados como livro de leitura; mas para conseguir
isso, precisaria receber ordem da Assembléia Legislativa. Entusiasmado, Kidder visitou a
Assembléia, sendo bem recebido e avistando-se com muitos parlamentares e pessoas de
destaque. A sua proposta foi recebida com respeito; e até o Bispo do Rio, ali presente,
aprovou a idéia. Kidder, chegou a falar com o Padre Diogo Feijó e com Martim Francisco,
o presidente da Assembléia, que disse "sentir-se feliz que sua Província seria a primeira a
dar o exemplo de introduzir a Palavra de Deus nas escolas públicas".

Interrogado sobre a sua oferta, Kidder garantiu em nome da Sociedade Bíblica
"o oferecimento gratuito de Novos Testamentos na edição do Padre Figueiredo, em
quantidade suficiente para oferecer dois exemplares a cada uma das escolas primárias da
Província". Pedia uma só condição - que tais volumes "fossem desembaraçados na
Alfândega do Rio de Janeiro - que fossem distribuídos, conservados e usados pelas
escolas como livros de leitura geral e instrução para os alunos".
A oferta foi aceita; mas devido às "intrigas” comuns à maioria das organizações
políticas - a decisão da Assembléia foi procrastinada e - tais eram as animosidades entre
os dois partidos e tal a pressão de parte do clero mais atrasado - que finalmente a
Comissão a qual fora entregue a proposta, deu um parecer desfavorável, "só mesmo
Deus poderá dizer o que teria sido o efeito dessa medida para o nosso Brasil, se além de
aceita tivesse sido posta em prática!“
Viagens para o norte e nordeste
Em meados do ano de 1839, enquanto o Rev. Spaulding cuidava do trabalho
no Rio, Kidder resolveu viajar a outras regiões do Brasil. Naqueles dias, não havia
nenhuma comunicação rápida entre o Rio de Janeiro e o norte do país; dizia-se ser mais
fácil saber o que se passava ali por noticias procedentes da Europa, do que diretamente.
Foi por isto que o governo Imperial criou uma companhia de navegação; e no
dia 1º de julho, Kidder embarcou no vapor "São Sebastião", deixando, escreveu mais
tarde, "a nossa boa companheira que deveria permanecer no Rio cuidando de um casal
de filhos".

Ah! CYNTHIA! Esposa e companheira de missionário, mãezinha que ficavas só
nesta terra estranha enquanto o teu marido viajava longe, meses a fio, distribuindo a
Palavra de Deus e anunciando as boas novas! Quantos receios e quantas saudades não
terás sentido! Contudo, fervorosamente cristã, como teu marido descreveu-te, não
hesitaste em aceitar o peso da solidão, do medo e da incompreensão de tua missão!

O Rev. Kidder levou consigo uma grande remessa de Bíblias, Testamentos,
folhetos e Saltérios nessa viagem que o levou ate o Maranhão e Pará - jornadas que
somente exploradores audazes teriam empreendido; e onde quer que fosse, distribuía e
pregava a Palavra. "O missionário", escreveu ele, "aprende a se valer de todas as
ocasiões, por menores que sejam, de praticar o bem em nome do Mestre". Como bom
wesleyano, Kidder também se interessava muito em combater o vício da bebida, pois
Wesley fulminara todos que faziam e vendiam bebidas espirituosas, declarando que eram
"envenenadores que assassinavam por atacado, que conduziam os homens qual
cordeiros ao inferno!" (Barclay, pág. 23). Duras palavras! Kidder, portanto, procurava
sempre conseguir votos de abstinência e promover a organização de SOCIEDADES DE
TEMPERANCA, visando especialmente os marinheiros, que tinham fama de beberrões.

Na primeira viagem a bordo do "São Sebastião", conseguiu diversos
compromissos de abstinência. Desembarcou para trabalhar no Recife; e quando o vapor
retornou da sua viagem mais ao norte, Kidder foi a bordo para verificar os resultados da
sua campanha antialcoólica. "Com grande e admirável surpresa", relatou, "soubemos que
treze entre marinheiros e foguistas, que haviam assinado o compromisso, continuavam a
observá-lo estritamente, a despeito das tentações que enfrentavam".

Noutra ocasião, quando prosseguia em outro barco, o comandante, capitão da
marinha imperial brasileira, assegurou-lhe que apoiaria tudo que fizesse em prol do bemestar da sua tripulação, manifestando "a esperança de que conseguíssemos através dos
nossos esforços, o milagre da temperança, como lhe constava que havíamos feito a
bordo do "São Sebastião".
Dando mais pormenores sobre essa viagem, Kidder escreveu: "Os nossos
trabalhos não se cingiam somente aos domingos. Éramos às vezes convidados para
pregar a bordo dos navios de guerra americanos; de vez em quando passávamos por
entre navios aglomerados nos portos, visitando-os, conversando com os marinheiros, e
distribuindo publicações. Fazíamos esse trabalho como se atirássemos pães ao mar, que
dias mais tarde, certamente encontraríamos de novo. Deixamos exemplares do livro
sagrado à venda em diversos lugares, e panfletos para distribuição. Assim,
estabelecemos depósitos nas cidades costeiras, onde as Escrituras pudessem ser
procuradas pelas pessoas do interior, desde São Paulo até o Pará, deu-se um grande
passo no sentido de divulgar a Palavra de Deus em todo o país. Passamos então, a
providenciar ativamente a realização do culto em português no Rio de Janeiro. Para
tanto, pusemo-nos a preparar uma série de prédicas, que esperávamos logo poder
começar a ler em público".

Tais eram os sonhos, os ideais, as atividades desse corajoso e dinâmico servo
do Senhor que tinha uma visão dum Brasil, do Sul ao Norte, dedicado ao Senhor Jesus
Cristo! Visão, entretanto, que não poderia realizar — uma terra prometida que não
chegaria a entrar. Das profundezas dos nossos corações, perguntamos perplexos: "POR
QUE, Ó DEUS, POR QUE NÃO PUDERAM ESSES CORAJOSOS SERVOS VER SEM
INTERRUPÇÃO A TUA MISSÃO NO BRASIL?.
CAPÍTULO 4

TRÁGICO DESFECHO
" Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no
Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas
fadigas, pois as suas obras os acompanham."
(Apocalipse 14:13).
Falecimento de Cynthia Kidder
Voltou Daniel Kidder de sua longa viagem, entusiasmado, satisfeitíssimo com a
sementeira que lançara radiante em antecipação de reunir-se com a querida esposa e
filhinhos, disposto a começar logo a pregar em português.
Mas grande desilusão! A sua alegria tornou-se brevemente em consternação.
Cynthia passava mal; dia a dia piorava com o que ele chamou de "cruel moléstia",
presumivelmente febre amarela. Finalmente, a despeito de todos os cuidados médicos,
deu o seu último suspiro, vindo a falecer em 16 de abril de 1840. No mesmo dia, foi
enterrada no cemitério inglês da Gamboa - cemitério que era generosamente cedido a
qualquer protestante. Pois naqueles dias, os chamados "hereges" não podiam ser
enterrados nos demais cemitérios que, quase sem exceção, pertenciam à Igreja Romana.

Uma simples lápide leva os seguintes dizeres em inglês:
SACRED TO THE MEMORY OF MRS CYNTHIA HARRIET,
WIFE OF REV. DANIEL P. KIDDER
DIED APRIL 16th, 1840
AGED 22 YEARS AND 6 MONTHS.

Isso é:
CONSAGRADO À MEMÓRIA DA SRA. CYNTHIA HARRIET,
ESPOSA DO REV. DANIEL P. KIDDER,
MORTA EM 16 DE ABRIL DE 1840
COM A IDADE DE 22 ANOS E 6 MESES.

***
Com profunda emoção, mas grande reserva, o Rev. Kidder escreveu sobre
o triste desenlace em palavras prenhes de significação, palavras que revelam o que
foi o caráter cristão e o preparo intelectual de Cynthia: "Vítima de cruel moléstia,
nossa amada esposa em poucos dias baixou prematuramente à sepultura. Fora
roubada ao exercício duma atividade na qual se especializara cuidadosamente. Sua
dedicação e devotamento ao serviço que lhe fora destinado, foram repentinamente
cercados pela mão da morte. Morreu, porém da mesma forma que vivera,
humildemente, fervorosamente cristã; e em seu último alento, triunfou sobre o inimigo
adormecendo mansamente em Jesus, o Salvador".
Ainda mais reveladoras palavras sobre a breve, mas preciosa vida dessa
serva do Senhor se encontra numa carta íntima na qual o Rev. Kidder participou o
falecimento da Cynthia aos seus pais:
“Prezados pais,
Pela misteriosa, mas sempre sabia providência de nosso Pai
Celestial, tenho agora de cumprir um dever melancólico e doloroso - o de
participar-lhes que não mais vive a nossa querida Cynthia!
Na quinta-feira, 16 de abril, deu ela o seu suspiro final. Poucos dias
antes, gozava de saúde; e conforme o saber humano podia antecipar uma vida
tão longa como a de qualquer outro ser. Depois sobreveio como que uma febre
gástrica... Seus médicos foram os melhores que podíamos ter, tanto ingleses
como brasileiros, mas tudo foi em vão. Faleceu sem luta ou sofrimento, e suas
últimas palavras foram, "meu querido marido".
Apesar de preparada (para a morte) ela não a antecipava, ao
contrário, entretinha a distinta impressão que Deus a conservaria. Durante esse
tempo, ela tinha adquirido o uso correto e fluente da língua portuguesa, ficando
assim duplamente preparada para o seu trabalho no Brasil.
Os amigos estenderam toda a ajuda e simpatia possível até os
últimos momentos da sua vida, e o enterro foi na Gamboa, o único lugar na
cidade para o enterro de protestantes. Não é costume aqui comparecerem
senhoras a enterros; e como o lugar do cemitério é bem afastado, é raro muitas
pessoas assistirem-no.
Nós, porém, ficamos surpresos e gratos com a assistência de 60 a
70 pessoas de ao menos quatro nações e línguas diferentes.
O enterro foi na sexta-feira santa que os católicos aqui observam
com procissão, não permitindo nem sino nem musica pública. O Rev.
Spaulding fez o culto fúnebre no qual foi acompanhado por dois ministros
ingleses, um alemão, e por mim.
Partiu assim a minha amada esposa, com a idade de 22 anos, 6
meses e dez dias, no quarto ano do nosso matrimônio. É ela a PRIMEIRA
MISSIONÁRIA NA AMÉRICA DO SUL, chamada à sua recompensa eterna.
Seus restos mortais descansam no solo do Brasil num recanto à cabeça duma
avenida de árvores que sobe o declive da praia em direção a uma pequena
elevação. Dali, por onde o viajante erguer os olhos, verá uma paisagem que
combina a beleza natural à expansão grandiosa de um panorama
deslumbrante.
Descansa ali a minha amada; e de lá se erguera na manhã da
ressurreição. Que nós também, ao soar da última trombeta, nos acordemos
para encontrarmos-nos com ela no ar! Para esse fim, sempre oraremos.
Seu filho enlutado, com afeto,
D. P. Kidder
(Carta publicada no CHRISTIAN ADVOCATE, 26 de junho de 1840).
***
Ah, Cynthia, Cynthia! Foste de fato, a primeira mártir do metodismo brasileiro!

Voluntariamente deixaste os teus pais queridos e a pátria amada para
acompanhar o teu marido em sua sagrada missão de arauto do Evangelho! Ao seu lado
labutaste com devoção; a língua estudou para melhor servir a nosso povo. Não duvidaste
ficar só, cuidando dos filhinhos, enquanto ele arriscava a vida em expedições pelo Brasil,
procurando espalhar a Palavra de Deus!
BENDITA SEJA A TUA MEMÓRIA! Bendito para nós hoje e o teu exemplo de
esposa dedicada e colaboradora do teu marido em sua obra evangelizadora; de serva
pronta a dar-se ao serviço do Mestre onde quer que Ele te chamasse!

***
Regresso do Rev. Kidder aos Estados Unidos
Viúvo aos 25 anos, com dois filhinhos, sendo um de colo e doente, Daniel
Kidder viu-se forçado a retornar à sua Pátria - "na esperança, ele escreveu, de poupar a
vida de um menino ainda pequeno". É lógico presumir que ele teria voltado para o Brasil,
uma vez que se recuperasse do grande choque sofrido, pois vivia fazendo planos para um
grande futuro no Brasil. Mas isso não sucedeu. Ainda que não tivesse falecido Cynthia,
ele teria sido obrigado a abandonar o trabalho.
É que a "Sociedade Missionária" ( a “Junta”, como agora a chamamos), tendo
gastado mais de 16 mil dólares no trabalho no Brasil, sentia ter alcançado os limites dos
seus recursos e do seu crédito financeiro (Barclay, Vol. II, pág. 252). Depois de muito
debater, resolveu fechar todo o seu trabalho na América do Sul, não acreditando que
correspondiam às expectativas da Igreja. Foi o seguinte o breve comunicado dessa
medida tão grave para o Brasil:
"A Sociedade Missionária sente muito dizer que a Missão no Rio de Janeiro ter
sido abandonada - porém não há qualquer evidência que o dinheiro e o labor ali
expendido na missão tenham sido em vão. Não tem havido falta nenhuma de zelo,
fidelidade, ou devoção por parte dos obreiros - eles têm feito tudo que podiam sob as
circunstâncias que tiveram que enfrentar" (Barclay, Vol. II, pág. 356 — Grifos meus).
Desviemos-nos um pouco da história, para agora citar um incidente sem
conexão direta com a Missão Spaulding, mas que, todavia, nos oferece um retrato
adicional de como eles viviam e trabalhavam.

Foi por essa época que os Estados Unidos estavam estendendo as suas
fronteiras até o longínquo e desconhecido território de Oregon, na costa do Pacifico.
Lá existiam muitos índios, que também necessitavam da mensagem cristã. Quando a
Sociedade

Missionária

resolveu

enviar

missionários

muitos

responderam

voluntariamente ao apelo.
Mas a travessia por terra de Nova Iorque até o Oregon através de território
virgem

e

escabroso,

enfrentando

emboscadas

de

indígenas,

tornavam-na

perigosíssima e difícil. Tornou então a Sociedade uma resolução surpreendente:
enviar o grupo de 51 missionários de navio de Nova Iorque, pelo Oceano Atlântico,
costeando o Brasil até o estreito de Magalhães, para depois pelo Oceano Pacífico,
após 35 mil quilômetros de viagem, desembarcarem no seu lugar de destino. Dessa
viagem escreveu Barclay: "O vapor Lausanne saiu de Nova Iorque no dia 1º de
outubro de 1839, contratado pela Sociedade Missionária. E de primeira classe - 400
toneladas - com boas cabines. É um navio "temperante", pois nenhuma bebida
espirituosa será nele admitida, nem como frete, nem para uso pessoal".

Essa viagem levou ao todo sete meses e vinte e um dias, e os missionários
eram não somente pregadores, mas carpinteiros, fazendeiros, professores, um médico
e um ferreiro". Agora, a história dessa caravana se entrosa com a da Missão Spaulding.
Um membro dessa caravana escreveu no órgão oficial da Igreja (Christian Advocate)
dizendo que ao chegar ao Rio em 16 de dezembro, resolveram fazer uma visita à
cidade.
"Desembarcamos perto dos jardins públicos, dos quais não dista muito a
residência do irmão Spaulding, onde fomos cordialmente recebidos. Moram cerca de
um quilômetro do centro da cidade, perto de um matadouro, o que é desagradável.
Também fomos muito incomodados pelos mosquitos. A irmã Kidder (que faleceu apos
essa visita), mora com a família do irmão Spaulding, pois o marido está ausente em seu
trabalho.”
“Nossos amigos tudo fizeram para nos acomodar. Éramos 21 pessoas, sem
contar que as crianças foram à terra no Rio; mas nossos amigos pareciam deleitar-se
com a visita, apesar de lhes ter obrigado a muito trabalho e despesa. Iam ter um culto
àquela noite. O irmão Spaulding, depois do jantar, falou-nos sobre o seu trabalho, para
animar-nos quanto ao nosso. Orou conosco, depois cantamos diversos hinos e partimos
- mas com lágrimas".
O que teria sido o futuro do nosso trabalho aqui se tivessem enviado ao Brasil
aqueles cinqüenta e um, missionários, em vez de desistir da Missão Spaulding!
Todavia, não foi só a Missão Oregon e as dificuldades financeiras que
provocaram o fechamento da Missão no Brasil. Os conflitos de opinião, as desarmonias
resultantes do problema da escravidão nos Estados Unidos, afetavam também a Igreja,
culminando em 1844 com a triste divisão do metodismo americano em dois ramos,
motivada pela secessão dos estados sulinos que queriam manter a escravidão. E em
1861, surgia a guerra civil.
Terminou assim a Missão Spaulding
E o que se tem dito e escrito; e de fato, do ponto de vista humano, parece
ter terminado. MAS TERMINOU MESMO?

De uma coisa estamos certos - que não foram distribuídas ou vendidas
pela Igreja Católica Romana, pois ela só começou a se interessar por isto em nossos
dias. Naquele tempo, proibia a sua leitura e queimava ou destrocava as que
encontrava. Como escreveu Kidder, nem os sacerdotes possuíam ou conheciam a
Bíblia!
Nada feito em nome de Deus, como foi à consagrada obra desses
missionários, é feito em vão, ainda que por motivos desconhecidos a obra não
conseguiu radicar-se permanentemente. A própria Junta nos Estados Unidos
testemunhou que o seu labor não foi em vão. Quais sementes que levam longo
tempo para germinar e crescer, a semente lançada por eles certamente facilitou a
obra daqueles que os seguiram anos após.
Notas suplementares sobre os Revs. Pitts, Spaulding, e Kidder
Tenho-me demorado muito com o trabalho desses três pioneiros, porque
foram de fato os PRIMEIROS MISSIONÁRIOS METODISTAS AO BRASIL - eram os
PRIMEIROS EVANGÉLICOS QUE AQUI PREGARAM A PALAVRA DE DEUS.
Demorei-me também, porque é tão pouco conhecida à extensão, a variedade e os
sacrifícios da sua obra. Isto é lamentável, porque há realmente abundância de fontes
históricas.
Kidder foi um escritor habilidoso e prolífico. Depois de sua volta aos Estados
Unidos, escreveu dois volumes, "REMINISCÊNCIA DE VIAGENS E PERMANÊNCIA NO
BRASIL", tratando de suas viagens no Rio e São Paulo, e um outro livro acerca das suas
viagens ao Nordeste e Norte, durante as suas expedições evangelísticas e de distribuição
da Bíblia. Um terceiro volume, "BRAZIL AND THE BRAZILIANS", escreveu em
colaboração com o missionário presbiteriano, J.G. Fletcher. A Livraria Martins Editora, de
São Paulo, publicou as traduções dos dois primeiros que são considerados como um
retrato dos mais autênticos do Brasil daquela época.
Revs. Fountain E. Pitts
Depois de voltar aos Estados Unidos, serviu como pastor de diversas igrejas no
seu estado natal de Tennessee. Sempre conservou o mais profundo interesse pelo Brasil;
sendo autor na Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, em 1870, duma
resolução a favor de se recomeçar a missão nesse país. Infelizmente, essa resolução
malogrou; mas ele não desanimou, e em 1874, colaborou em trazer novamente a
Conferência Geral, a resolução que levou a criação de nova Missão Ransom no Brasil.
Rev. Justin R. Spaulding
Nascido em 1802, era pastor em Augusta, no Estado de Maine, quando a
Sociedade Missionária, em resposta aos apelos do Rev. Pitts, decidiu enviá-lo ao Rio de
Janeiro. Depois de voltar à Pátria, apos quase seis anos de trabalho dedicado no Brasil,
continuou sua obra pastoral no seu estado natal.
Rev. Daniel Parrish Kidder
Nasceu em 1815 no Estado de Nova Iorque, mas passou a maior parte da sua
juventude em Vermont, com seus tios. Os pais não eram metodistas e não queriam que
ele o fosse, mas Daniel – convertido - tornou-se membro leal da Igreja e, com o passar
dos anos, um dos seus significativos líderes. Seu primeiro desejo fora ser missionário na
China, país pelo qual a Igreja se interessava muitíssimo; mas como isso não foi possível,
veio ao Brasil, onde também representou a Sociedade Bíblica Americana. Depois de
regressar à Pátria, viúvo com dois filhinhos, casou-se novamente com Harriet Smith.

Homem de excepcional brilhantismo e de profunda cultura, já aos 29 anos,
exercia cargos de importância na Igreja - entre esses, o de professor em dois Seminários,
de membro da Junta de Educação da Igreja e de Secretário Executivo Nacional das
Escolas Dominicais. Nesse período editou mais de 800 volumes. Escreveu diversos livros:
um sobre os Mórmons, outro sobre a Homilética (a arte de pregar), e mais três volumes
sobre o Brasil, que são considerados obras de incomparável valor histórico e descritivo
sobre a nossa terra e seus costumes naquela época. Aposentou-se em 1889, e faleceu
aos 76 anos, em 29 de junho de 1891.
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO 5
O METODISMO VOLTA E SE AFIRMA

"Para o semeador cristão, o intervalo entre o tempo de
semear e o tempo da colheita pode ser mais do que uma
geração; e os ceifadores nem sempre são os que
semearam".
(T. T. Faichney)
Período de silêncio
Surgia agora no horizonte mais um daqueles pequenos eventos que nada
tendo a ver com o nosso metodismo no Brasil, todavia, foi nas mãos de Deus um
instrumento para novamente tentar implantar o Evangelho em nosso país.

Lembramos que a fuga do Rei Dom João VI resultou na abertura dos portos
brasileiros ao mundo; como o espírito comunitário inglês abriu a porta à entrada do culto
protestante; e agora, com a trágica guerra civil nos Estados Unidos, também serviria a
causa do metodismo no Brasil. Para melhor entender o abandono da missão no ano
1841, é preciso também saber o que se passava na Igreja Metodista do Sul nos Estados
Unidos. Empobrecida pela guerra, com centenas de seus templos e estabelecimentos
educacionais destruídos ou transformados em hospitais e quartéis militares, com sua
Casa Publicadora encampada, ela não tinha recursos nem fervor para dar atenção à obra
missionária.

Os obreiros na China, campo que era a "menina dos seus olhos", foram
obrigados a sustentar-se a si próprios. Não é de admirar que o Brasil ficasse esquecido, e
que se seguisse o que tem sido designado o "Período de Silêncio" - uns vinte e cinco
anos quando nenhuma voz metodista pregou o Evangelho no Brasil.
7
Deus usa os imigrantes americanos
Todavia, Deus - que do mal sabe tirar o bem e do amargo, o doce providenciou para que dessa profunda calamidade, tão longe de nós, se erguesse um
instrumento para trazer-nos a Sua Palavra. Entra aqui a história dos americanos que
imigraram no Brasil após o término dessa guerra. Uns, que haviam perdido tudo,
desejavam recomeçar a vida noutro lugar; outros, revoltados com sua derrota pelas forças
nortistas, procuraram escapar à dura mão do vencedor ou, rebeldes, recusaram dar seu
juramento de lealdade ao novo regime.

Chegaram, entre 1865 e 1867, uns milhares de americanos às nossas plagas;
indo alguns à região amazônica e outros ao Vale do Rio Doce; mas esses grupos em
breve soçobraram devido às dificuldades do clima, às doenças tropicais, ao desânimo
geral e à isolação produzida pelas grandes distâncias entre os seus patrícios. A maioria
se estabeleceu em fazendas na província de São Paulo, numa região compreendida por
Saltinho, Limeira, Santa Bárbara do Oeste, e o que ficou sendo chamado Vila Americana hoje a cidade industrial de Americana.
Ali desenvolveram excelentes programas agrícolas, introduzindo entre outras
coisas, o uso do arado. Tal foi sua habilidade agrícola que o governo imperial pediu que
alguns moços da colônia fossem designados para viajar em outras zonas do país, a fim
de ensinarem seus métodos aos agricultores nacionais. Dois desses jovens contraíram a
lepra neste serviço. Os colonos também introduziram no Brasil o veículo de quatro rodas
e dois assentos, chamado de trole. E propagou-se a fama de terem introduzido a
melancia. A melancia, porém, não era novidade no país, pois Daniel Kidder escreveu que
em 1835, na sua viagem ao norte, vira no Piauí, "melancias em quantidade prodigiosa;
são de fato tão abundante que chegam a ser vendidas à razão de uma pataca o cento"
(Reminiscências, pág. 145). Contudo, é verdade que introduziram a melancia listrada,
nativa dos EUA, cujas sementes trouxeram em vidros bem tampados para preservaremnas do "ar do mar". Um tio da querida missionária, Daisy Pyles Kennedy, foi um dos que
trouxe as sementes. Mais precioso do que elas foi a vida dessa sua sobrinha, Daisy! E
ainda mais precioso foi o fato destes imigrantes novamente terem introduzido no Brasil o
metodismo.
Chegada do Rev. Junius E. Newman
Entre os imigrantes, havia um pregador leigo metodista, o Rev. Junius E.
Newman, que durante a guerra civil, servira de capelão nas forças sulinas. Explica o Rev.
Kennedy, que chegou a conhecê-lo, "antes da guerra, era homem de certa fortuna, mas
tendo perdido tudo o que possuía, precisava de alguma forma restabelecer os seus
haveres. Vendo muitos dos seus amigos e patrícios partirem para terras longínquas,
resolveu acompanhá-los, especialmente animado pela esperança de poder auxiliar na
propagação do Evangelho... através da Igreja Metodista". Veio credenciado e nomeado
pelo Bispo W. M. Wightman para "ministrar aos imigrantes na Pátria que viessem a
adotar". Não era certo se iriam imigrar para a América Central ou para o Brasil. Muitos
foram ao México, por convite do Imperador Maximiliano; mas não permaneceram ali
devido à sua queda e às revoluções que a seguiram. No dia 5 de agosto de 1867 aqui
chegou o Rev. Newman, sem a família. Comprou uma fazenda perto de Niterói, mas
percebendo que a maioria dos seus patrícios se havia estabelecido na província de São
Paulo, mudou-se para lá depois de dois anos. Tendo prosperado, e gostando do Brasil,
voltou aos Estados Unidos e de lá retornou com sua mulher, Mary Philips, as duas filhas
moças, Annie e Mary, um filho, William Walter, e mais dois filhos adotivos, William e John
Harris (Jair Veiga, "Diário de Piracicaba", 1-8-59).
Organizarão da Primeira Igreja Metodista na Província
Chegando à Limeira em agosto de 1866, começou logo a pregar em inglês aos
patrícios espalhados pela região. Não tentou organizar uma igreja de imediato devido ao
fato de eles estarem tão espalhados. Contudo, no terceiro domingo de agosto de 1871
organizou em Santa Bárbara ou perto de Saltinho (historiadores dão ambos os nomes),
uma congregação com nove membros, todos americanos. Foi designada (claramente!) de
Igreja Metodista Episcopal do Sul, pois era uma continuação da Igreja americana a que
todos haviam pertencido. Esse nome foi adotado no Brasil e assim continuou até o dia da
nossa autonomia (1930).
Esse culto histórico se realizou numa casinha coberta de sapé, e de chão
batido, que anteriormente fora usada para a venda de bebidas alcoólicas. Entre esses
primeiros membros, constava o nome de Leonora Smith, que se tornou missionária, da
qual diremos algo adiante. Aos poucos, o Rev. Newman organizou outros núcleos, até
que, com cerca de cinqüenta membros, formou-se o primeiro "circuito" metodista na
história da nossa Igreja no Brasil!
Podemos também desconfiar que estava procurando antecipar-se a outras
denominações que estavam começando trabalho regular entre os colonos; pois em
menos de um mês, no dia 10 de setembro, os batistas organizaram ali também a sua
primeira igreja em solo brasileiro; e pouco depois, os presbiterianos. Usaram a capelinha
construída junto ao cemitério comunitário, alternadamente. Os batistas, porém, tiveram de
cavar para o seu uso, um amplo poço na nascente dum córrego próximo ao cemitério
(Jornal Batista, 11 de outubro de 1964).
Em 1877, faleceu a esposa de Newman. Ele, dois anos depois, mudou-se para
Piracicaba, onde em 1880, contraiu segundas núpcias com a Sra. Lydia E. Barr. Foi no
ano 1879, no mês de junho, que se marcou outro dia importante no calendário metodista Annie e Mary, suas filhas, abriram um colégio com internato e externato, em Piracicaba,
que é chamado o "precursor do Piracicabano", hoje Instituto Educacional.
Contribuições do Rev. Newman
O Rev. Newman não fez e não legou grande quadro de empreendimentos. Mas
como Jesus, "ele viu a multidão e se compadeceu dela". A sua verdadeira grandeza
consistiu em ter tido compaixão da tremenda escuridão espiritual dos habitantes do Brasil,
porque "andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não tem pastor" (Mt 9. 36 ).
Nunca cessou de clamar à Igreja Mãe no sul dos Estados Unidos, para que enviasse
obreiros: "Jovens de bons talentos e grande piedade", para a obra evangelizadora.
Quanto a si mesmo, confessou que a sua "tarefa principal era servir à colônia
americana. Nunca se sentira apto para a obra estritamente missionária, mas sentia desejo
de trabalhar à beira de tal campo". Todavia, expressou desejo de aprender o português
suficientemente bem para poder ministrar aos brasileiros. Ao que se saiba, porém,
Newman nunca a eles pregou, e nunca foi hostilizado pelo clero ou por romanos fanáticos
- como foram Spaulding, Kidder e depois o seu próprio genro, o Rev. Ransom.

O bispo americano, Holland Mc Tyeire, em seu histórico do metodismo,
declara: "A investigação feita no Brasil em 1835 pelo Rev. Pitts, foi sucedida pela
ocupação permanente em 1876, com a chegada do Rev. Ransom...” Muitas mudanças
grandes haviam ocorrido durante os 40 anos, desde 1835. A disposição intolerante da
Igreja Romana, tanto no Brasil como no México, acabara em conflito com o governo civil.
O imperador D. Pedro II era um homem muito culto e de espírito iluminado; as classes
mais altas e os corpos legislativos haviam se desfeito do jugo do clero, abrindo o império
a novos empreendimentos educacionais e religiosos. "A tendência popular era em direção
à descrença e infidelidade, e o tom geral do povo era o de indiferença à religião"
(McTyeire, pg. 675). Também o positivismo de Auguste Comte estava tendo grande
aceitação no país - tudo contribuindo para que a missão de Newman não fosse tão difícil
como as anteriores.
Afinal os clamores de Newman e de outros (incluindo o agora ancião Pitts que
ainda anelava pelo Brasil), resultaram numa resolução da Conferência Geral de 1874 da
Igreja Metodista Episcopal do Sul, e enviando para aqui o Rev. J. J. Ransom, que depois
como já o relatamos, se casou com Annie Newman, filha do Rev. Newman. Outra valiosa
contribuição da família Newman foi granjear a estima dos irmãos Prudente e Manuel de
Moraes Barros, o primeiro mais tarde, presidente da República. Mary Newman, que por
certo tempo regeu cadeira numa escola fundada em São Paulo pelo Dr. Rangel Pestana,
ficou ali conhecendo a Srta. Anna Maria de Moraes Barros, filha do então Senador,
tornando-se amigas, laços que uniram as duas famílias.
Volta o peregrino à Pátria
Finalmente - velho, cansado, cheio de saudades, tendo-se sublimado o rancor
que guardara contra o governo da Pátria - o Rev. Newman regressou em 1890 à terra que
abandonara, indo residir no Estado de West Virginia; ali faleceu em maio de 1895.
Nunca sequer sonhou que um dia, em 1967, o reconheceriam como o fundador
do metodismo permanente no Brasil!
CAPÍTULO 6
A MISSÃO RANSOM
Chega ao Brasil o Rev. Ransom
"Mande obreiros jovens, de bons talentos e grande piedade!" - foi esse o brado
do pioneiro Newman à sua Igreja Mãe.
Veio a resposta afinal, na pessoa do ReV. John James Ransom, natural do
Estado de Tennesse, solteiro, ministro ordenado dessa Conferência - sem dúvida, homem
de bons talentos e grande piedade, corajoso e dinâmico. Declara o relatório do ano de
1883 da Junta de Missões: "A Igreja Metodista Episcopal do Sul começou o seu trabalho
no Brasil no ano de 1875, reconhecendo o Rev. Newman como seu missionário em maio
daquele ano, e enviando o Rev. J. J. Ransom em dezembro". Apesar de ser assim
nomeado, ele teve que fazer apelos aqui e ali, para custear a sua viagem.

Desembarcou no Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 1876; e foi logo a São
Paulo para consultar o Rev. Newman sobre planos e métodos para melhor estabelecer o
trabalho. Como Kidder, olhava sempre para o futuro, procurando lançar bases sólidas
para o trabalho.
Planejando o trabalho
Durante o primeiro ano, dedicou-se com assiduidade ao estudo da língua
portuguesa, que soube dominar bem. Estudou com os presbiterianos em Campinas, onde
também lecionava inglês e grego no Colégio Intencional daquela denominação.

No segundo ano, fez a difícil viagem ao Rio Grande do Sul "à procura dos
melhores pontos para o estabelecimento do trabalho". Creio que influiu nessa decisão o
fato de ele não querer depender da obra de Newman, toda entre americanos; e decerto
estava ciente de que a igreja do norte (a Igreja Metodista do Norte dos EUA) já trabalhava
na província do Rio Grande do Sul, e desejava estabelecer contatos com a mesma quem sabe? - para assegurar que o metodismo brasileiro tivesse suas raízes no Brasil e
não no Uruguai.
No Rio Grande do Sul ficou conhecendo o Dr. João Correa, pregador em Porto
Alegre e arredores, e colportor da Sociedade Bíblica. Tão impressionado ficou Ransom
com o trabalho do mesmo, que após contato, viajou com ele ate Montevidéu para dialogar
com o Dr. Thomas Wood, superintendente da Missão Platina da Igreja Metodista do
Norte. Essa Igreja, depois de descontinuada como missão em 1841, continuara com
sustento local ate 1870, quando o Dr. Wood foi enviado como missionário da Junta,
restabelecendo o contato missionário. Ransom terminou a sua estadia sulina, viajando
com o Dr. Correa ate a cidade do Rio Grande, onde embarcou para o Rio.
Volta ao Rio de Janeiro
Chegado à capital da Corte (Rio de Janeiro), fixou residência numa boa casa, a
de n° 17 5, na Rua do Catete que, desde os tempos de Spaulding, parecia ser o bairro
preferido pelos missionários metodistas. Foi nessa casa agora derrubada, que começou a
pregar em português em 27 de Janeiro de 1879. É justo dar crédito a um comerciante
britânico, Sr. W. R. Cassels pelo auxílio financeiro que deu a Ransom para alugar a casa,
e em mostrar-se amigo sincero em muitas ocasiões.

Mas o clero católico-romano, como fizera trinta anos atrás com a Missão
Spauldingr começou logo a persegui-lo, taxando-o de "ateu e incrédulo" em seu órgão
oficial, "O Apóstolo". Ransom, homem decidido, de fortes convicções e muita coragem
não deixou passar despercebido o ataque. Com cortesia, convidou os redatores a
ouvirem-no pregar, para verificarem que "os metodistas não eram nem ateus, nem
incrédulos, nem desprezavam as leis do Brasil, como eles pensavam" (Kennedy, pág. 21).
Primeiros brasileiros convertidos
Em breve, o Rev. Ransom organizou com elementos estrangeiros, a primeira
igreja metodista no Rio e, em março de 1879, recebia nela por profissão de fé, os
primeiros brasileiros convertidos do catolicismo romano ao metodismo. Foram esses, o
ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque, e a Sta . Francisca de Albuquerque (poderia ela
ter sido irmã do padre?); e o Sr. Ransom recebeu-os sem re-batismo, aceitando como
válido o batismo da Igreja Católica. Depois, o ex-padre foi novamente "convertido" à
doutrina da imersão; e rebatizado pelo pastor batista, Rev. Robert-Thomas, da colônia
americana, no poço anexo à igrejinha do Cemitério do Campo. Convém relembrar aqui
que esse cemitério fora doado pela família Oliver. Quando faleceu a esposa do Coronel
Oliver, negaram-lhe o direito de enterrá-la no Cemitério de Santa Bárbara, dizendo o
padre: "Não. É corpo de protestante!". O féretro teve que voltar uns doze quilômetros para
onde foi sepultado nas terras da fazenda dos Oliver. Mais duas mortes na família levaram
o coronel, indignado com a posição da Igreja Católica Romana, a doar uma área bem
grande de suas terras, para se construir um Cemitério protestante. O Cemitério do Campo
ainda existe hoje, sendo um local histórico por motivo de suas sepulturas, capela, onde,
de quando em vez se realizam cultos. Os descendentes da colônia original, entre os quais
muitos católicos, organizaram uma Associação para preservar o lugar - e em 1965
ergueram ali um obelisco comemorando o centenário da chegada ao Brasil da colônia.
Nesse monumento, consta o nome do Rev. Newman, e é, portanto, local que merece ser
visitado por metodistas brasileiros.

De maior significado, porém, para o metodismo brasileiro, foi o fato que entre
os membros recebidos pelo Rev. Ransom, durante o início do seu ministério, constava à
idosa Sra. Mary Walker, que fora há uns quarenta anos antes, membro da "Sociedade
Metodista" organizada pela Missão Spaulding! Nas palavras do Rev. Kennedy, constituía
ela, por esse motivo, "Um Elo vivo e Pessoal" entre a Missão Spaulding e a Igreja
Metodista Episcopal do Sul no Brasil.
Feliz Natal - triste julho
Como já relatamos o jovem Ransom enamorou-se de Annie Newman, com
quem se casou no dia de Natal de 1879, e levou-a para o Rio onde tinha seu trabalho.
Mas a sua felicidade durou pouco; pois em 17 de julho, Annie o deixou para o lar celeste.
O marido enlutado voltou à Pátria (EUA) para recuperar-se do choque e descansar,
aproveitando a oportunidade para apelar urgentemente por reforços. Vira quão grande era
o campo; quão famintas as almas pela mensagem da vida; e sabia que sozinho não podia
fazer muito. Ao retornar ao Brasil veio alegre, pois trazia reforços.
CAPÍTULO 7
VALIOSOS REFORÇOS

O Rev. Ransom com seus companheiros e auxiliares embarcaram de Nova
Yorque em 26 de março de 1881, viajando ao Brasil via Ilha da Madeira e Inglaterra. Eram
os seus com companheiros os missionários: Rev. James L. Kennedy, com 23 anos, o
Rev. James W. Koger, que trazia esposa e um filhinho, e a educadora Martha Watts.
Após quase dois meses de viagem, aportaram na bela baía de Guanabara em
16 de maio de 1881. Sobre a sua chegada escreve o Rev. Kennedy:
"Imagine o leitor com que entusiasmo e curiosidade pisamos o solo do Brasil!
Terra que viemos especialmente para evangelizar. A beleza e a natureza eram para nós
encantadoras - tudo fornecia um verdadeiro banquete para os olhos".
Mas o Rev. Ransom, não os deixou perder tempo contemplando as belezas do
Rio. "Mãos à obra!" foi sempre o seu lema. Dentro de dois dias, o grupinho desembarcava
do trem em Piracicaba, o centro do esforço metodista iniciado pelo Rev. Newman.
Anoitecia quando ali chegaram; e conta Kennedy que ao tropeçar pelas ruas
mal calçadas, estranhou que havia lampiões de querosene para iluminar as ruas, mas que
não estavam acesos. "Como é?", perguntou Kennedy a Ransom, "Não acentem os
lampiões?"

E Ransom, já "antigo" conhecedor do país sorriu ao explicar: "Bem, o
querosene, tendo que ser importado, é caríssimo. Por isso em noites de luar não se
acendem os lampiões, é mais barata a luz do luar". Era esse um costume generalizado no
Brasil de então, conforme registraram o sociólogo Gilberto Freyre, e o missionário Kidder.
Ransom hospedou-se no Hotel Piracicabano, sem muitas comodidades, mas o melhor do
lugar.
Já no dia 21, prosseguiam para Bom Retiro, onde agora residia o Rev.
Newman. Ali, na manhã de domingo, 21 de maio de 1881, o Rev. Kennedy pregou aos
americanos ali reunidos o seu primeiro sermão no Brasil. Nunca esqueceu dessa
memorável ocasião, relembrando o seu texto tirado de I Co 3.9: "Somos cooperadores
com Deus".
E nesse espírito, ajudado por Deus, daquele momento em diante, o Rev.
Kennedy consagrou a sua vida ao Brasil. Visitava de casa em casa para pessoalmente
distribuir convites para os cultos, sendo freqüentemente insultado ou rechaçado. Pregava
nas ruas, sendo às vezes atingido por batatas e tomates podres; outras vezes, só pela
graça de Deus, escapou à fúria de assaltantes fanáticos, como em Bangu, perto do Rio.
Organizou igrejas em cidades grandes e em vilas remotas do interior. Viajava a
cavalo ou no lombo de mula, suas longas pernas quase se arrastando no chão, debaixo
de sol ardente ou de frios aguaceiros, subindo montanhas escabrosas por "trilhos-debicho", como se chamavam os estreitos caminhos socados pelas patas dos animais. Às
vezes andava em carros-de-boi, em penosas viagens que lhe deixavam o corpo doído, de
solavanco em solavanco pelas estradas esburacadas. Ainda outras vezes quando não
conseguiam condução, caminhava a pé. Caminhou vinte quilômetros com seu colega de
trabalhos, e filho espiritual, o consagrado Rev. Antônio Cardoso da Fonseca. Alcançando
o seu destino: uma choupana humilde, um vilarejo, entrava então em luta terrível com
mosquitos e pulgas famintas por sangue novo, que pareciam devorar-lhes as carnes. De
dia lutava contra os micuins, carrapatos e borrachudos. Tal foi à vida de Kennedy durante
quase sessenta anos, se incluirmos aqueles em que, aposentado e perto dos seus oitenta
anos, contribuiu para a extensão da obra metodista nos bairros de São Paulo.
Mas a luta árdua não era sua tão somente - era de todos aqueles valentes
pioneiros brasileiros e missionários americanos, que desprezando o comodismo e o
conforto, saíram e lutaram para desfraldar no solo da nossa terra, então atrasada e
dominada pelo clero, a bandeira do Evangelho bendito!

Volvamos as vistas novamente ao pequeno grupo em Piracicaba. O Rev.
Ransom, antes de voltar ao Rio de Janeiro, deixou-os todos em Piracicaba, com "ordens"
para estudar o português - mas também para dedicar-se à evangelização. O Rev.
Kennedy pregaria aos americanos; o Rev. Koger ficava como pastor na cidade - o que fêz
organizando dentro de poucos meses, no dia 2 de setembro, a terceira igreja metodista no
Brasil, a de Piracicaba. Miss Watts entregou o trabalho educacional.
Colégio Piracicabano
Desde o seu início, a Igreja Metodista considerara de máxima importância à
instrução do povo, fato natural considerando a sua herança intelectual, pois nascera na
grande Universidade Oxford, na qual Wesley fora estudante. E fato lógico, pois enviou
uma educadora com as suas primeiras forças missionárias.
Miss Watts já exercera o magistério alguns anos na sua terra, quando se sentiu
chamada para a obra missionária. Filha de um lar culto e materialmente abençoado, ela
era de inteligência e preparo fora do comum, mas também de uma consagração
extraordinária. O seu alvo, repetia ela, "não era somente instruir meninas, mas ganhar
almas para Cristo".
Não perdeu tempo em começar um educandário - o Colégio Piracicabano como
foi denominado ainda que no fim do ano escolar. Para o evento que se deu no dia 13 de
setembro, somente uma aluna compareceu para matricular-se, a pequena Maria Escobar,
cujo nome lembra como o da primeira aluna do primeiro colégio metodista no Brasil. Mas
a diretoria não desanimou nem recuou. Conforme o Rev. Kennedy, "com tenacidade
dirigiu o colégio como se houvesse cem alunas em vez de uma só; e para essa aluna
conservou o estabelecimento aberto com três professoras!”.
A sua cultura profunda e a eficiência da sua administração, conquistaram duma
vez a simpatia da família Moraes e Barros (já admiradores da família Newman). As moças
da família passavam horas no Colégio sentadas nas bancas examinadoras, observando o
seu trabalho educacional que era o que de mais progressista havia na educação do sexo
feminino, então atrasadíssima no Brasil. A "Gazeta de Notícias", de Piracicaba, noticiando
os exames do Colégio, escreveu: "Numa das salas do edifício e com grande concorrência
de famílias e cavalheiros dos mais distintos da nossa sociedade, foram examinadas as
alunas em diversas matérias, como sejam: português, francês, inglês, aritmética, álgebra,
história e retórica. O adiantamento que todas mostraram naquelas disciplinas, chegou a
surpreender as muitas pessoas que estavam presentes. Não trepidamos em afirmar que é
um dos melhores estabelecimentos de ensino do Estado de São Paulo." (27-12-1890).
Diz-se que quando o Senador Prudente foi eleito presidente da Província
estava tão convicto dos princípios e ideais de Miss Watts, que a convidou para vir a São
Paulo para ajudá-lo a estabelecer na Província um sistema de escolas públicas. Foi tal a
influência do Colégio que outro editorial em Piracicaba declarou: "A transformação radical,
a adoção de métodos americanos no ensino, a orientação inteiramente nova na
pedagogia e na formação do magistério que o Senador João Sampaio afirmou ter saído
do Colégio Piracicabano, através de Prudente de Moraes, foi obra de madura reflexão e
longa experiência que só no tempo de Miss Watts se tornaram possível".

Combate ao Piracicabano
Este incidente já foi contado muitas vezes, pois é caso significativo nos anais
da Pátria. Mas como muitos dessa geração não o conhecem, deve ser repetido.

“O Colégio fazia um progresso admirável, mas quanto maior o seu sucesso,
tanto mais a Igreja Católica Romana a denunciava”. Miss Watts, com o apoio dos irmãos
Moraes Barros, já havia adquirido um terreno - que fora antiga praça de touros localizado na esquina da Rua da Boa Morte com a da Esperança. Em breve, graças às
dádivas da Igreja Mãe, se construía um belo e moderno edifício de aulas.
O número de alunos aumentava de ano a ano, e eram das melhores famílias
da cidade. Miss Watts escreveu à Junta de Missões de Senhoras Metodistas informando
que não só o Colégio progredia financeiramente, mas que sua arrecadação pagava todas
as despesas, menos as dos salários das missionárias. Acrescentou que estava trazendo
almas a Cristo: “Há entre as alunas verdadeiro interesse em coisas espirituais; e três
alunas e uma empregada já se uniram à Igreja”. Como sempre, o sucesso conduz à
perseguição, mas a perseguição tornou-se contra-producente para quem a iniciou.
O incidente com o inspetor Vienna
Depois de cinco anos, Miss Watts voltou à Pátria (AUA) em gozo de férias e para
substituí-la interinamente, ficou como diretora

uma missionária mais nova, Mary

Washington Bruce. Aproveitando a ausência de Miss Watts, o clero tornou-se mais forte
ainda e sutil na campanha contra o Piracicabano, que culminou em janeiro de 1887, com
uma intimação do Inspetor Literário, Dr. Abílio Vienna, a Miss Bruce, declarando que ela
estava obrigada a excluir meninos com mais de dez anos da escola; a ensinar no Colégio
a religião do Estado (que era a católica romana) e a enviar-lhe uma lista do corpo
docente.
Apesar de nova no Brasil, Miss Bruce tinha coragem. Não cedeu às intimações.
Consultou diversos advogados e depois enviou ao Dr. Vienna uma carta na qual dizia:
“Agradeço a vossa intimação oficial, mas pelo licença de dizer que não deixarei,
simplesmente por causa da vossa opinião, de receber crianças católicas, pois enquanto
as autoridades não me proíbem, e enquanto temos vagas, tenciono receber todos os
alunos católicos que queiram ingressar em nosso Colégio".

Por coincidência, viajava por ali o Rev. J. L. Kennedy, a quem Miss Bruce
contou tudo que se passara. Depois de encorajá-la a permanecer firme, ele prosseguiu
para o Rio, levando consigo cópia da carta do Inspetor. No dia seguinte mostrou-a ao
diário "O País", recapitulando o que havia acontecido. O jornal publicou a carta
condenando a atitude do Inspetor com artigos e editoriais. O Dr. Rangel Pestana, então
líder da Assembléia da província, ao saber da celeuma repreendeu violentamente o
Inspetor. Resultado: O "caso" deu mais propaganda ao Colégio' do que grandes anúncios
colocados em toda a imprensa nacional. O inspetor, tão criticado, pediu demissão, a qual
foi aceita pelo governo da província. Comentando o caso, escreveu Kennedy: "Nesse
caso-teste o princípio da liberdade religiosa e intelectual estabeleceu o direito dos pais de
darem aos seus filhos instrução religiosa conforme os seus desejos e sem ter-se em
conta a sua religião" (Kennedy, págs. 323-325).

Certo é que o Piracicabano estabeleceu três princípios básicos para a
educação no Brasil: primeiro, introduziu a educação mista; segundo, a dignidade da
instrução superior para o sexo feminino; e terceiro, o princípio da liberdade de religião no
campo educacional, acrescido ao direito dos pais e à liberdade de orientação própria das
escolas.
CAPÍTULO 8

ANSIEDADES E PROGRESSO
Período de ansiedades
O metodismo no Brasil progredia tão bem quanto se podia esperar dum
trabalho ainda infante - progresso lento, mas, contudo a passo firme, seguro e prenhe de
esperança. Uma crise adveio, porém, em 1882 e 1883 quando parecia que a Junta de
Missões nos Estados Unidos iria repetir o grave erro que fez, abandonando a Missão
Spaulding-Kidder em 1841.

Fato pouco conhecido, que não foi registrado no histórico de Kennedy,
encontra-se no livro de atas da Junta de Missões da Igreja Metodista do Sul nos Estados
Unidos em seu relatório datado de 1° de junho de 1883:
"A China e o México recebiam toda a atenção da Igreja, porque a China, após
33 anos de trabalho, começava agora a produzir fruto; o México porque mostrara
resultados que ultrapassavam todos os triunfos do Evangelho desde os dias apostólicos...
Apesar do Secretário da Junta ter fé na missão brasileira, parecia ser tudo em vão parecia mesmo que a missão seria abandonada... Foi então que a Providência Divina
atuou, como muitas vezes foi acontecer, fazendo do sangue dos mártires a semente da
Igreja. O coração da Igreja foi mais movido pela história daquela que morrera pelo Brasil
do que pelo propósito daquele que morrera por todos". (grifos meus).

(Será que o relator nessa frase se referia à morte de Cynthia Kidder em 1840?
Não há outro esclarecimento) .
Foi este um período de grande ansiedade espiritual para o Rev. Ransom e
seus ajudantes. Em março de 1882, viajou novamente aos Estados Unidos, e só voltou
em julho. Deixou à testa do trabalho no Rio o jovem ministro Kennedy, que ainda não
completara seus dez meses de permanência no Brasil. Relatou esse depois que “ficou
profundamente impressionado com o peso das suas novas responsabilidades, mas não
houve remédio senão meter mãos à obra e confiar em Deus". Era ainda maior a sua
responsabilidade, pois estava em construção a capela do Catete (que foi inaugurada em
setembro, logo após o retorno de Ransom). Deus, porém, tinha planos grandiosos para o
metodismo brasileiro. O trabalho desta vez não foi abandonado, e os pioneiros
continuaram ainda mais ativos no trabalho.
Passos positivos à frente
O enérgico Ransom já estabelecera o trabalho metodista seguindo três linhas
de ação:
1) A evangelização, a pregação da Palavra com cultos regulares em diversos
lugares, isto é, em diversos pontos da cidade e na província de São Paulo;
2) A obra educacional. Não só se fundara o Colégio Piracicabano, mas planos
estavam sendo feitos para um colégio no Rio. Já se haviam encaminhado
discussões visando a compra ou transferência à Igreja Metodista do Colégio
Progresso, uma instituição inglesa situada em Santa Teresa. Quando o Rev.
Tarboux chegou ao Brasil em 1883, foi logo ensinar inglês e matemática nesse
colégio. Essa transferência não se efetuou; contudo, a Igreja comprou uma bonita
propriedade na Rua Alice, nas Laranjeiras, onde instalou uma escola em 1888. Foi
diretora Miss Mary Bruce, que depois teria aquele encontro histórico com o Inspetor
Vienna;
3) Uma literatura metodista para uso das igrejas. Ransom começou a publicar a
revista Escola Dominical, e uma folha "Nossa Gente Pequena", ambas com lições
bíblicas, respectivamente para adultos e crianças. Diz Kennedy que durante o ano
de 1884, ou antes, Ransom já publicava essas revistas em português.
Obstáculos à construção de templos
Chegado o ano de 1886, nosso metodismo já tinha congregações organizadas
e florescentes em Santa Bárbara (1870); no Catete, Rio (1879); em Piracicaba (setembro
de 1884); em São Paulo (fevereiro de 1884); em Juiz de Fora (1884); e ainda mais
trabalhos iniciados em bairros dessas cidades, como os de Santa Teresa e da Rua São
Clemente, no Rio; e o de Mariano Procópio, entre alemães, perto de Juiz de Fora.
Possuía também dois lindos templos, os do Catete e de Piracicaba. A construção de
ambos chocou-se com as leis então vigentes.
Templo do Catete - Já se construíra a linda capelinha aos fundos do terreno,
mas um templo maior se fazia necessário. Ainda regiam essas construções as leis
imperiais que proibiam aos acatólicos edifícios com aparência de templos. O conceituado
construtor-arquiteto, Sr. Antônio Januzzi, fizera uma planta para a Igreja do Catete que
fora aprovada pelas autoridades competentes. Nessa planta, constava uma parede frontal
que se erguia qual platibanda alta, terminada em ornatos pontiagudos, com janelas de
estilo gótico, comum até em residências particulares.
Contudo, elementos contrários ao protestantismo tudo fizeram para impedir a
construção. "Se há um jeito de complicar e obstruir o prosseguimento da obra" escreveu
Kennedy, o pastor ajudante, "as autoridades o descobrem". E como Ransom já se mudara
para Juiz de Fora para continuar o trabalho ali, Kennedy vivia agonizado com todos os
problemas que se apresentavam. Apesar dos pesares, a obra estava para ser terminada
quando, certo dia, passou por lá uns padres fanáticos que, vendo erguer-se a platibanda
que dava de fato ao edifício uma aparência eclesiástica, foram logo queixar-se ao
Conselho Municipal.
O Rev. Kennedy chamou o seu colega Ransom, e com ele e o Sr. Januzzi se
dirigiram ao Conselho. Depois de um longo debate sobre a definição de torre e sinos, e do
que seria a forma exterior de uma igreja, o arquiteto explicou que a tal "torre" era uma
simples extensão da parede, "arrematada por ornatos arquitetônicos"! A explicação foi
aceita. O Sr. Januzzi sem demora, pôs os operários a trabalhar dia e noite, para
concluírem o templo antes que o Conselho revogasse a sua decisão. Creio ser justíssimo
aqui citar o que o Rev. Kennedy depois escreveu sobre Januzzi: "O historiador não pode
deixar de falar sobre a dívida de gratidão que jamais pagaremos ao amigo arquiteto que
tanto se esmerou para que a nossa igreja fosse construída solidamente e com beleza,
sem cobrar coisa alguma pela sua fiscalização. Deus o pagou, segundo diz ele mesmo,
porque o nosso templo tem servido de grande anúncio de suas habilidades arquitetônicas,
que todos dizem serem inquestionáveis" (Expositor Cristão, 14 - 4 - 84).
Templo de Piracicaba - Ao mesmo tempo em que se lutava para terminar o
templo do Catete, os metodistas de Piracicaba começavam a enfrentar dificuldades com o
clero. Essa planta incluía uma torre pequena, mas fora vista e aprovada pelo Conselho
Municipal da qual faziam parte os irmãos Moraes de Barros, que consideravam a lei
"morta".
Quando estava quase terminado o templo, o Padre Galvão correu depressa ao
Conselho para queixar-se da torre, invocando a lei antiga dos tempos de Dom João VI.
"Mas nós já aprovamos a planta", responderam os conselheiros. "Como agora,
com ele quase terminado, vamos obrigar os metodistas a desmanchá-lo?!"
Assim foi que em Piracicaba ergueu-se o primeiro templo metodista com uma
"torre de verdade", ainda que não muito alta ou imponente!
Em contraste com a intransigência do clero romano, é bom citar a declaração
do próprio Imperador, Dom Pedro II, uns trinta anos antes, em sua fala do trono, de maio
de 1855:
“A nossa constituição católica proíbe a outras seitas cristãs a construção de
edifícios destinados ao culto, tendo a forma exterior de templo”. Seguramente, o zelo que
inspirou tal medida não atentou para as necessidades da colonização protestante. Acaso
tememos nós que o protestantismo venha a fazer prosélitos entre os nacionais e
despovoar as nossas igrejas?”
“Se, por outro lado, queremos evitar que os protestantes ergam o colo e se
tornem exigentes, o alvitre mais adequado para remover o mal não é fornecer-lhes
direitos para reclamarem concessões, mas antes outorgar-lhes, independentes de
exigências que nos façam" (Retrospecto Político do ano de 1855, publicado no O Jornal
do Commércio).

Sábio Dom Pedro II! Apesar de exemplos como o Catete e Piracicaba, o
irônico de tudo isto é que o protestantismo brasileiro "aceitou” muitas das restrições que
lhe foram impostas e os seus templos hodiernos ainda o refletem - sendo na maioria sem
elegância ou beleza arquitetônica, sem Tôrres, sem cruzes nem sinos.
Começo do trabalho Metodista em Juiz de Fora
Foi essa uma igreja que nasceu sob uma chuva de pragas, pedras e paus. O
Rev. Ransom há muito planejara começar o trabalho na cidade de Juiz de Fora, província
de Minas Gerais: mandou adiante três obreiros para distribuírem Bíblias, Novos
Testamentos, e livros religiosos e para começarem a fazer propaganda da série de
conferências que ele iria realizar para dar início ao trabalho. Eram esses três obreiros,
símbolos do espírito ecumênico da nossa igreja - Herman Gartner, alemão luterano, um
pregador local; Samuel Elliot, escocês, carpinteiro por profissão; e Ludgero de Miranda,
brasileiro, que depois com seu irmão Bernardo, foi um dos primeiros pregadores nacionais
- belo exemplo da união em serviço a Cristo Jesus!
Quando Ransom estava para ir, eis que sua esposa adoeceu. A meia-noite, ele
corre à casa do Rev. Kennedy e pede-lhe ir de imediato a Juiz de Fora, substituindo-o nos
cultos já anunciados. Portanto, lá se foi o casal Kennedy, levando consigo a empregada
Rosária (antiga escrava) e seu netinho.

Chegados a Juiz de Fora, alugaram na Rua Santo Antônio, bem perto do
centro, uma boa casa com grande sala que seria usada para os cultos. Depois Kennedy e
Samuel Elliot compraram tábuas de pinho, pregos, martelo e serrote, e confeccionaram
bancos para acomodar cerca de sessenta pessoas. Desde a primeira noite a assistência
foi boa e atenciosa - tão boa que de certo atiçou a fúria de um padre. Certa noite, quando
pregava, o Rev. Kennedy ficou surpreso vendo entrar na sala, e ir diretamente à frente,
um padre que pelo seu andar e aspecto, mostrava estar embriagado.
De repente o padre interrompeu-o com a pergunta: "Você é católico ou
acatólico?" Kennedy respondeu: "Sou acatólico-evangélico", e prosseguiu sem mais
comentários. As interrupções foram se repetindo, até que uns senhores presentes,
chegaram ao padre e pediram-lhe cortesmente que ou calasse ou se retirasse.
"Então eu vou!" respondeu bruscamente, e saiu da sala cambaleando. Quando
tudo se acalmou o Rev. Kennedy continuou o culto; mas, dentro em pouco, ouviu-se lá
fora na calçada, pisadas barulhentas, e uma algazarra geral em que se ouviam os gritos
de "morram os protestantes!" Lá na rua se estacava um bando de desordeiros, na maioria
moleques que, chefiados pelo padre, começaram a atirar pedras e paus pelas portas e
janelas da casa.
Os ouvintes assustados correram para a rua, deixando na sala somente o
pastor (que procurava consolar a jovem esposa, que chorava de susto), o Sr. Samuel
Elliot, e a velha Rosária com o netinho a chorar também. Dentro de poucos minutos
tiveram um novo susto: ouviram passos no corredor da casa que dava para a rua. Mas em
vez de fanáticos e moleques, ali estavam meia dúzia de senhores bem trajados a lhes
declarar:
"Não se assuste, Reverendo", disseram, "sentimo-nos envergonhados pelo que
ocorreu, e vimos assegurar-lhe que o senhor não só pode, mas deve continuar com os
cultos, pois a nossa constituição brasileira garante a liberdade religiosa".
O incidente serviu de estímulo em vez de obstáculo - as reuniões foram bem
assistidas, e houve diversas conversões, entre as quais a de Felipe de Carvalho que
depois se ofereceu para o ministério, e chegou a ser um dos primeiros pregadores
brasileiros, um que muito trabalho e muita perseguição sofreu pela causa do Mestre
(Arauto de Deus, pág.259).
"Foi começando assim", declara o "Luzeiro da Fé" (boletim da Igreja Central de
Juiz de Fora) "que o Rev. J. L. Kennedy fincou a bandeira do evangelho em nossa cidade,
e fê-Ia tremular no céu de Minas".
Nem toda a oposição, porém, era insensata e cruel. O casal ria às vezes das
situações cômicas que surgiam, quando como no Rio ao sair pelas ruas, Kennedy, Bíblia
na mão, e a esposa Jennie ao seu lado, eram seguidos por pequenos moleques que
faziam troça, apontando: "Olha só! Lá vai o padre protestante com sua mulher! Ou talvez:
"Lá vai o Bíblia, lá vai o Cristo! “
Com seu bom senso de humor, Kennedy inclinava-lhes a cabeça, sorrindo e
cumprimentando-os com cortesia. "Não sabem" comentava Kennedy, "mas estão me
honrando!"
CAPÍTULO 9
A PRIMEIRA DÉCADA DA “MISSÃO RANSOM”
- 1876-1886-

"Então veio o Senhor, e ali esteve, e chamou: Samuel,
Samuel Este respondeu: Fala, Senhor, porque o Teu
servo ouve". (I SamueI 3.9).
Alguns dos que ouviram e obedeceram à chamada divina
O metodismo havia alcançado sucesso durante esta primeira década de
existência como Igreja Metodista Episcopal do Sul. O seu sucesso mais significativo foi o
número e calibre dos jovens que deram as suas vidas ao ministério, a sua completa
dedicação e lealdade ao Senhor, a sua coragem em enfrentar perseguições, calúnias e
sacrifícios.
.
Por serem as primícias da linha de esplendor sem fim do ministério brasileiro,
comecemos contando algo sobre os irmãos Bernardo e Ludgero de Miranda. Naturais da
Província de São Paulo, foram criados (como escreveu Ludgero no Expositor de 1° de
setembro de 1890), "na religião de crendices, rosário e água benta; meu lar parecendo
mais uma igreja no tempo da Semana Santa do que uma morada - tudo celebrado com
uma pompa sem igual!.. Contudo, a Providência Divina, dum modo misterioso mandou me
a um lugar longínquo onde mais tarde haveria de conhecer a religião santa de Jesus".

Esse "longínquo lugar" foi São Paulo. Ali, Bernardo foi o primeiro a ouvir o
Evangelho. Qual Filipe a chamar a seu irmão Natanael, Bernardo convidou a Ludgero
para assistir ao culto metodista. Ambos se converteram sob a pregação daquele
abençoado servo do Senhor, Rev.J.W. Tarboux, então pastor da Igreja em São Paulo; e
resolveram dar as suas vidas ao pastorado, tendo sido dedicadíssimos na obra.
Bernardo, o mais velho, entre outros trabalhos, ajudou o Rev. E. A. Tilly a
organizar a Igreja em Taubaté em dezembro de 1899. Enfraquecido, porém, por mal
ignorado, faleceu antes de julho de 1891. Ludgero trabalhou ativamente mais alguns
anos. Mas tragicamente, ambos faleceram ainda moços - sendo que Ludgero e toda a sua
família vitimados pela febre amarela, morreram em janeiro de 1892, no curto período de
duas semanas - ele, sua esposa, D. Hyrminia Chaves, e dois filhinhos.
Felipe Revalo de Carvalho, outro pioneiro, veio ainda moço da Bahia para
morar e trabalhar em Juiz de Fora, onde se converteu sob a pregação do Rev. Kennedy,
que sempre o estimou como filho espiritual. Disse Felipe que fora "tão ignorante do
Evangelho e dos costumes protestantes que levou consigo o dinheiro para comprar
entrada na sala dos cultos". Profundamente convencido, abraçou a fé e, passado pouco
tempo, sentiu a convicção de que devia pregar o Evangelho. Isso fez com sinceridade e
arrojo, sofrendo muita perseguição. Uma vez, juntamente com a esposa grávida, Dona
Emília, foram ambos arrastados pelas ruas de Cataguases, esbofeteados sem dó.
Quando a polícia finalmente interveio e perguntaram-lhe o que desejava que se fizesse
com os assaltantes, Felipe respondeu como verdadeiro cristão: "Nada. Só veja que se
mantenha a ordem, e então solte-os". E ali mesmo, na rua poeirenta, ajoelhou-se e orou
pelos seus perseguidores. Foi esse espírito de perdão que tanto impressionou o dono da
casa onde pregara o grande leigo Sr. José Fernandes Sucasas, que levou-o naquela
mesma hora a se converter. E no lar do Sr. Sucasas saíram dois dos nossos líderes: o
amado Bispo Isaías Fernandes Sucasas e o pastor José Sucasas Júnior.

O Rev. lustiniano de Carvalho - Foi também denodado soldado do Evangelho!
Natural de Portugal, nascido em 1852, viveu até os 15 anos sob a "bandeira romana".
Convidado por um companheiro a assistir um culto evangélico, ali se converteu - pelo qual
foi perseguido pelos parentes. Em 1871, embarcou para o Brasil. Estabeleceu-se no Pará,
onde não havia ainda igreja evangélica; e longe de bons companheiros, cedeu com o
tempo às tentações do mundo, ficando "corrompido" como ele mesmo confessa.

Chegou, porém, a Belém um missionário metodista (Rev. Justus H. Nelson, de
quem falaremos mais adiante). Justiniano ouviu-o pregar; arrependeu-se e voltou ao
rebanho evangélico, tornando-se membro fundador da Igreja Metodista em Belém. "A
minha casa" escreveu no Expositor Cristão em setembro 1890, "tornou-se em Casa de
Oração. Eu era o zelador e assim continuaria se, por força maior, não me obrigasse a sair
para o Rio de Janeiro. Chegando ali, hospedei-me na casa dos Revs. Kennedy e
Ransom, os quais indagaram sobre o meu propósito de vocação; eu lhes respondi que
desejava trabalhar na vinha do Senhor". E assim, entrou no ministério. Trabalhou com
devoção e muitos sacrifícios como se deduz duma carta no Expositor (setembro 1890),
referente à sua nomeação para Juiz de Fora. Naquele tempo não havia casas pastorais e
nem sempre os pastores podiam encontrar proprietários que alugassem casas ou salas
para residência e cultos. "Por enquanto estamos vivendo como imigrantes - a casa
despida; não há cadeira, uma mesa. Esta carta que lhe mando é escrita em cima dum
banco que eu fiz; e a minha cadeira é o colchão ainda no chão de maneira que estou
escrevendo esta de joelhos".
O Rev. Antônio Cardoso da Fonseca - foi mais um dos fiéis entre os fiéis pioneiro que muito contribuiu e muito sofreu. Extratos breves de suas cartas ao Expositor
Cristão relatam alguns incidentes na sua vida pastoral. Em 15 de novembro de 1890,
celebrava culto à noite numa casa na estação de Palmeiras, quando trabalhadores
atiraram contra a casa uma bomba de dinamite. A bomba não causou conseqüências
funestas, como podia ter acontecido, porque felizmente arrebentou um pouco além da
casa. Continuamente ameaçado por pregar ali, o Rev. Cardoso afinal anunciou: "Virei aqui
todas as sextas-feiras, de quinze em quinze dias. Se nessas ocasiões quiserdes ouvir a
pregação do Evangelho, vinde; porque ninguém vos forçará a assistir".
Noutra ocasião, já em abril de 1891, escreveu que passara uma cena horrorosa
no arraial de Guarani. "Tendo sido convidados para uma conferência em Guarani, ali
fomos às sete da noite. Quando se começava o culto, fomos agredidos por um grupo de
sequazes com uma algazarra infernal a toque de latas e foguetes, gritando: "Morram! Fora
com os protestantes“. O grupo compunha-se de mais de 300 pessoas. Tão ameaçados
fomos que a dona da casa pediu-nos que fugíssemos pelos fundos, o que fizemos. Noite
escura, embrenhamo-nos pela mata - e depois de muitas quedas, chegamos ao leito da
estrada de ferro Leopoldina, a uma hora da madrugada".

E como freqüentemente acontecia, em contraste com as brutalidades dos
perseguidores fanáticos, apareciam homens cultos, inteligentes e liberais, para mostrar a
sua indignação e simpatia. Pois quando chegaram à estação de Piraúba para pegar o
trem, o subdelegado de Polícia, o chefe da estação, e os passageiros à espera do trem
foram corteses em defendê-los.
O Rev. Antônio faleceu em 29 de novembro de 1915 - "insigne servo do
Senhor" - e sua morte abriu lacuna nas fileiras do metodismo. Mas como que para
substituí-lo no plano divino, naquele mesmo ano, surgiram no meio dos obreiros mais dois
grandes servos: Guaracy Silveira e João França.
.
Quantos outros nomes podiam ser citados para mostrar a fibra moral e a
devoção cristã desses pioneiros que tanto fizeram para que nós tivéssemos hoje a
mensagem do Evangelho! Eis apenas alguns: Antônio José de MeIo, herói da guerra do
Paraguai que, apesar das honrarias, se tornara um beberrão. Conduzido a Cristo pelo
exemplo e as palavras de Ludgero de Miranda, tornou-se destemido soldado da Cruz.
Jorge L. Bekcer, que em Ubá, com outro dedicado pastor, Antônio J. de Araújo,
foram em 1893 surrados com paus e chicotes, e Becker esfaqueado (Kennedy, pág. 75).
Bento Braga de Araújo, jovem que estudou nos Estados Unidos, licenciado a
pregar na Conferência de 1898 e ordenado diácono e presbítero. Brilhante, benquisto
entre as seus colegas, estava em seu posto em Ribeirão Preto quando a cidade foi
assolada por uma terrível epidemia de febre amarela. Contando a história, escreve a Rev.
Kennedy: "O postar recusando-se a sair e deixar o seu povo, dedicou-se também a
campanha contra o flagelo. Passaram-se dias cheios de trabalho e cansaço, mas sempre
com animação e esperança, até que um dia o Rev. Bento Braga foi vitimado pela
insaciável mensageira da morte". Veio a falecer na dia 29 de março de 1903, o herói
espiritual que não deixou abandonado o seu posto de fiel pastor.
Guilherme da Costa, outra valioso ministro a quem em 1904, a morte roubou a
vida. Morreu cedo vitimado pela varíola.
Osório Caire, que quando pastor em Vila Isabel, muito fez para conquistar a
simpatia da Sra. Anna Gonzaga e contribuísse para que ela doasse ao metodismo da
Guanabara a propriedade valiosíssima que hoje abriga, instrui e guia os destinos de
centenas de crianças desamparadas daquela região.

E... Inúmeros outros cujos nomes estão escritos no livro dos santos e mártires
nos Céus.
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Do meu velho_bau_metodista

  • 1.
  • 2. DO MEU VELHO BAÚ METODISTA EULA KENNEDY LONG 1968 Junta Geral de Educação Cristã Igreja Metodista do Brasil
  • 3. DEDICADO - À memória de todos os pioneiros que desde 1835 desbravaram o terreno do Brasil pra nele içarem o estandarte do Evangelho, e - a todos aqueles que recebendo o estandarte continuaram a levantá-lo com orgulho, gratidão e dedicação ao Senhor. Eula Kennedy Long São Paulo, Brasil. Novembro de 1967
  • 4. ÍNDICE INTRODUÇÃO PRIMEIRA PARTE Albores do Protestantismo no Brasil Primeiras Sementeiras Metodistas no Brasil Viagens Exploradoras de Kidder Trágico Desfecho SEGUNDA PARTE O Metodismo Volta e se Afirma A Missão Ransom Valiosos Reforços Ansiedade e Progresso A Primeira Década da “Missão Ranson” - 1876-1886 Dias Memoráveis de 1886 TERCEIRA PARTE Outra sementeira Metodista Trabalho na Zona Colonial Terrel, o Intrépido Outros Campeões da Fé Transferência de Trabalhos Progresso Metodista nos Pampas QUARTA PARTE O Metodismo no Nordeste e Norte QUINTA PARTE Uma só Igreja a Perseverar Governo Próprio A Obra no Amazonas - Revelações e Perguntas Publicações e Casas Publicadoras Institutos Educacionais das Conferências Anual e Central Escolas que desapareceram pela Estrada No Campo da Ação Social A Mulher no Cenário Metodista Memórias da Igreja do Catete A Igreja Metodista e Bebidas Alcoólicas A Voz do Evangelho em Brasília Umuarama - O Quê do Sonho Dourado Retalhos, Recortes e Retratos Qual deveria Ser a data da Origem do Metodismo no Brasil?
  • 5. APRESENTAÇÃO Participando das comemorações do primeiro centenário do metodismo permanente no Brasil, solicitamos, em nome da Junta Geral de Educação Cristã, à Srª Eula Kennedy Long, filha do autor do livro “Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil”, que brindasse a Igreja Metodista do Brasil com mais uma obra de sua fluente pena de escritora, desta vez no campo da história. Assim, sob o sugestivo título: “Do meu velho Baú Metodista” surge uma obra que recorda de maneira viva e interessante muitas das lutas e realizações de mais de um século de metodismo no Brasil. Á Ilustre autora os agradecimentos da Junta Geral de Educação Cristã e da Igreja Metodista por mais esta preciosa colaboração. São Paulo, março de 1968. João Nelson Betts Secretário Geral de Educação Cristã
  • 6. INTRODUÇÃO " Um povo que não conhece a sua origem e nem o que fizeram seus maiores, ignora tudo, não tem passado, vive do presente ". Bem fortes são estas palavras de Alexandre de Mello Moraes, historiador e sociólogo do século 19. Contudo, vou parafraseá-las dizendo: "A Igreja que não conhece a sua origem e nem o que praticaram seus pioneiros, não tem raízes profundas para alimentar o seu presente ou dirigir o seu futuro". Eis porque, neste ano do CENTENÁRIO DO METODISMO PERMANENTE NO BRASIL, a nossa Igreja tem achado justo relembrar e comemorar o seu passado, tão cheio de eventos e personalidades inspiradoras, de estímulo para hoje e desafio para amanhã. As próprias palavras do Mestre justificam tal pesquisa, pois não disse Jesus: "Todo escriba VERSADO NO REINO DOS CÉUS é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas?”. Todavia, fiquei desapontada e um tanto perplexa, quando soube que um professor de Escola Dominical havia se queixado, dizendo: "Por que gastar tantos domingos em estudos desses pioneiros antigos e da história do passado? Deixemos o passado; cuidemos do presente; pensemos só no futuro!" Seria mesmo que, ao estudar para apresentar estes fatos, eu estivesse preocupada demais com o passado, gastando horas preciosas em fazer minhas pesquisas, em tirar as COISAS VELHAS DO MEU DEPÓSITO? Como que em resposta à minha perplexidade, chegaram-me às mãos - como por coincidência, ou guiada por Deus - um sem número de respostas. Primeiro, um livro recente de Franklin de Oliveira, A MORTE DA MEMÓRIA NACIONAL, no qual o autor lamenta o "descaso geral pelo patrimônio nacional", declarando que o "Brasil está
  • 7. correndo o perigo de tornar-se nação historicamente desmoralizada"; advertindo-nos que "a morte nacional se realiza pelo abandono de nossas fontes culturais". Será possível, perguntei-me a mim mesma, acontecer isto com a nossa Igreja Metodista, se não cuidarmos geração após geração, de relembrar as nossas fontes religiosas, os feitos, sacrifícios e vitórias dos pioneiros de antanho? Mais preciosas e encorajadoras, porém, foram as palavras eloqüentes de Sante Uberto Barbieri, filho do nosso Brasil, agora bispo da Região Platina (Argentina), consagrado líder continental e mundial do metodismo, no seu livro Estranha Estirpe de Audazes, onde escreve: "A História é o único elemento em nossa vida social que nos liga ao passado. CORTARÍAMOS DE NÓS MESMOS UMA IMPORTANTE PARTE SE OMITÍSSEMOS a História... Podemos existir sem a história, MAS NÃO VIVER... Na História se refugia a vida que já foi para não morrer... para continuar vivendo, PARA OBRIGAR-NOS A VIVER". E reforçando suas observações, cita Miguel Unamuno, o grande filósofo da Espanha: “É A VISÃO DO PASSADO QUE NOS EMPURRA À CONQUISTA DO PORVIR", ao qual posso acrescentar “e com ela lançamos bases seguras para o futuro”. *** Sinto-me, pois, justificada em trazer aos meus leitores essas recordações do passado, essas histórias sobre os corajosos pioneiros do metodismo brasileiro. Portanto, desse meu depósito, meu velho baú dentro do qual tenho entesourado retratos velhos e desbotados, recortes de jornais, revistas, livros antigos de “orelhas de burro”, desse meu velho baú vou retirando aquilo que peço a Deus nos levem nessa e em futuras gerações a emular aqueles que tanto sacrificaram pela causa do Senhor Jesus Cristo. Contudo, mister é que olhemos mais longe ainda, além destes pioneiros, além do fundador - João Wesley. Mister é que fixemos os olhos e os corações Naquele que e o nosso real fundamento, Jesus Cristo, o autor e consumador de nossa fé, a Rocha de que fomos cortados (Is 51:1), a rocha da nossa fortaleza. Bem sei que muito a contragosto, por falta de tempo e de informações que não consegui colher, não tenho incluído nessa "Linha de Esplendor Sem Fim" muitos e
  • 8. muitos que aqui mereciam constar. E por estas falhas, peço perdão. Outros historiadores em profundidade suprirão esta falta. *** Outrossim, agradeço ao Rev. João Nelson Betts, que, em nome da Junta Geral de Educação Crista, pediu-me escrever este livro, o grande privilégio e honra de contribuir assim para a comemoração do CENTENÁRIO DO METODISMO PERMANENTE NO BRASIL. Eula Kennedy Long São Paulo, Brasil Novembro de 1967
  • 10. CAPÍTULO 1 ALBORES DO PROTESTANTISMO NO BRASIL Pascal, eminente cientista e filósofo francês do século XVII, fez certa vez o intrigante comentário: "Fosse o nariz de Cleópatra mais comprido, a história do mundo seria outra". Parece frívola tal observação, ainda mais quando falasse sobre o protestantismo; contudo, por meio destas palavras Pascal desejava mostrar que a influência de detalhes insignificantes em si e aparentemente sem conexão pode influenciar e até determinar o destino de pessoas e nações! Foi uma série de eventos sem conexão nenhuma com o protestantismo, e conseqüentemente com o metodismo, que lhes ofereceu a oportunidade de penetrar no Brasil, tanto que podemos parafrasear Pascal, dizendo: "Não fora a ambição de Napoleão, a história do Evangelho no Brasil teria sido outra". O primeiro evento liga-se a fuga de D. João VI, rei de Portugal para a nossa terra, em 1808, e ao subseqüente abrir dos portos, ato que rompeu a "cortina de ferro" que até então isolara o Brasil, conservando-o na ignorância e no atraso material, intelectual e espiritual. Tão cerrada fora esta cortina que um historiador brasileiro comentou que seria mais fácil desembarcar no Rio um passageiro com varíola, do que um judeu ou herege. Alexandre Von Humbolt, grande cientista alemão que explorava os países da América do Sul, e que foi proibido de entrar aqui, chamou o Brasil de "um jardim amuralhado". Tal era a dominância total pela Igreja Católica Romana que o padre Luiz Gonçalves dos Santos, que escreveu um livro em 1838 ("O Católico e o Metodista"), para combater os metodistas, declarou com a maior franqueza "até o presente nenhum herege se atreveu a levantar a voz para perverter os católicos, pois a Igreja Católica do Brasil era um jardim fechado onde não podia entrar nenhum animal daninho - um redil por todos os lados cerrado, ao qual nenhum lobo se atrevia a aproximar-se" (Introdução, págs. 25 e 26). Abertura dos portos Abertos os portos, especialmente do Rio de Janeiro, começaram logo a afluir ao Brasil muitos navios que traziam comerciantes de outros países, principalmente dos Estados Unidos e da Inglaterra, então a "rainha dos mares".
  • 11. Aqui entra em operação o segundo daqueles pequenos itens que influenciaram o destino do protestantismo. Pois se não fosse o gênio inglês que sempre requer a confraternização com seus patrícios, o protestantismo teria demorado ainda mais a chegar às nossas plagas (estou ignorando o protestantismo dos huguenotes no Rio e dos holandeses em Pernambuco, que nos séculos XVI e XVII aqui vieram por motivos de colonização). Os ingleses e seu templo Dia chegou em que os ingleses, ao firmarem com D. João VI um tratado de comércio e amizade, pediram o direito de construírem as suas próprias igrejas anglicanas. O rei encontrou-se então "nos chifres de um dilema". Como recusar um favor aos aliados que o haviam protegido em sua fuga de Napoleão? Por outro lado, como arriscar a fúria da Igreja Católica Romana, que era oficial e não permitia a entrada de religiões acatólicas? D. João mostrou-se astuto em resolver o problema, ainda que não ao contento da igreja oficial. Concedeu aos ingleses o direito de construírem seus templos, contanto que não tivessem a aparência exterior de um templo - particularmente nada de torre e sinos e, bem entendido, o culto seria somente para eles, os anglicanos. Quando o rei viu o primeiro projeto do templo não o aprovou, porque as janelas pareciam com as de uma igreja. Todavia, como naquela época janelas até de residências particulares eram freqüentemente de estilo ogival ou gótico (como ainda vemos em casas antigas do Brasil), elas ficaram sem modificações. Assim foi que os ingleses, em 1819, terminaram o seu templo, a primeira igreja protestante, não somente no Brasil, mas em toda a América do Sul. É interessante notar que já em 1938 o Padre Luiz G. dos Santos se queixava de "Um brasileiro católico que escandalizou toda a cidade (do Rio) indo comer pão e beber vinho na Rua dos Barbonos", como então se chamava a rua onde foi construído o templo inglês (O Católico e o Metodista, pág. 134)). Esse mesmo tratado histórico também deu aos ingleses cemitérios próprios, pois até então era proibido o enterro de chamados "hereges" em cemitérios católicos. O mais conhecido era o da Gamboa no Rio de Janeiro, cujo local fora anteriormente uma chácara
  • 12. do rei, e que por coincidência, hoje adjacente ao nosso Instituto Central do Povo. Assim, pois, pavimentava-se a estrada para os cultos protestantes - e para nós os metodistas. Outras conseqüências do franqueamento dos portos Este franqueamento também contribuiu para a divulgação de informações mais precisas sobre o Brasil, tão desconhecidas então pelo resto do mundo. Negociantes, capitães e tripulantes das naves, voltando à Inglaterra e aos Estados Unidos, descreviam a ignorância e o atraso e escuridão espiritual do Brasil. Já em 1805, Henry Martyn, um capelão anglicano em viagem à Índia num vapor que aportara em Salvador, após várias experiências de conversas com padres, escreveu no seu diário palavras que se tornaram clássicas quanto à situação religiosa no Brasil: "Cruzes, cruzes, por todos os lados - mas quando se pregará a verdadeira doutrina da cruz?" Todas estas observações não eram mentira e calúnias, como asseveraram os padres, pois são confirmadas por competentes historiadores brasileiros, como Gilberto Freyre e Vianna Moog. Já em 1843 o Ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos no Brasil relatara à Legislatura Imperial: "É notório o estado de decadência em que se encontra o nosso clero. E evidente a necessidade de se tomarem medidas capazes de remediar o mal". Divulgação das Escrituras Sagradas Capitães, marinheiros e negociantes ingleses e americanos, profundamente impressionados, começaram a trazer e a distribuir Bíblias, Novos Testamentos e folhetos religiosos que lhes eram fornecidos pelas Sociedades Bíblicas. Confirma isto Daniel Kidder (de quem digo algo adiante), relatando casos que provam que desde 1823, isso se fazia aqui e ali. Conta de um inglês que, recebendo uma consignação de Bíblias em 1833, para poupar-se o trabalho de distribuí-las pessoalmente, deixou-as num caixote na Alfândega, para serem levadas por quem as quisesse. Outro caso era o de um pastor anglicano que dava ou vendia as Escrituras em 1836, porque se sentia "profundamente preocupado com o bem estar do povo em cujo
  • 13. seio residia; dizendo com verdadeira perspicácia que aquilo de que o Brasil mais necessitava era de bons pregadores brasileiros". Certo é que mesmo antes de as igrejas evangélicas se encarregarem de enviar missionários, já cristãos leigos de outras terras reconheciam a necessidade espiritual da nação e faziam empenho por satisfazê-la.
  • 14. CAPÍTULO 2 PRIMEIRAS SEMENTEIRAS METODISTAS NO BRASIL "Assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designasse". (Isaías 55.11). Pitts pesquisa e também organiza Talvez influenciada pelas informações que vinha recebendo, a Igreja Metodista nos Estados Unidos, em sua Conferência Geral de maio de 1835, resolveu enviar à América do Sul, para verificar a possibilidade de estabelecer trabalho missionário ali, um missionário. Foi escolhido para esse propósito, o pastor da Igreja McKendree de Nashville, Estado de Tennessee — um jovem ministro de 27 anos, Rev. FOUNTAIN E. PITTS (interessante coincidência: essa igreja tornou-se responsável depois pelo sustento do Rev. James L. Kennedy, outro missionário pioneiro ao Brasil). A primeira Sociedade Metodista no Brasil Pitts, ele próprio tendo que conseguir os recursos para tão dispendiosa viagem, partiu de Nashville, pregando e angariando donativos em caminho para custear o empreendimento. Embarcou em fins de junho e chegou ao Rio de Janeiro no dia 19 de agosto de 1835, passando ali uns seis meses. Organizou uma "Sociedade Metodista", como então eram chamadas as nossas congregações, prosseguindo depois a Buenos Aires e Montevidéu onde também organizou Sociedades (todas, como só podia ser, com elementos que falavam inglês). Por isso, é ele designado o MISSIONÁRIO PIONEIRO DA AMÉRICA DO SUL, pelos mais competentes historiadores metodistas; entre esses, o antigo Dr. D. B. McFerrin, que o intitulou o "primeiro missionário nomeado para trabalho permanente na América do Sul"; e o recente W. C. Barclay que escreveu: "(Pitts) lançou os fundamentos do trabalho metodista no Brasil, Uruguai e Argentina". (Vol. I, pág. 347). Também missionários de outras denominações evangélicas, assim o
  • 15. reconhecem, como o veterano presbiteriano Alexander Blackford, que disse: "À Igreja Metodista cabe a honra do primeiro esforço em tempos modernos de implantar o Evangelho no Brasil". (Kennedy, pág. 13). Antes de deixar o Rio de Janeiro, chegou a fazer planos preliminares para a construção duma igreja. Voltando à sua terra, o Rev. Pitts apresentou um relatório tão entusiástico sobre as oportunidades aqui existentes, que a Conferência Geral nomeou um pastor para estabelecer trabalho missionário no Brasil. Rev. Justin R. Spaulding Este missionário foi o Rev. Justin R. Spaulding, ministro ordenado e já homem maduro, pois contava 34 anos. Embarcou em março de 1836, em Nova Iorque, trazendo consigo a sua esposa, um filhinho e uma "doméstica". Hospedou-se no Rio em casa de uma família luterana; e naquela mesma noite, demonstrou a sua dedicação e energia, pregando para umas trinta a quarenta pessoas — uma "pequena sociedade de pessoas piedosas", assim ele as descreveu, que fora organizada pelo Rev. Pitts e que ansiosamente o esperava. Sem perder tempo, começou em junho, com trinta alunos, "uma Escola Dominical da qual faziam parte crianças brasileiras a quem ensinava a Bíblia em sua própria língua". (Kennedy, pág. 4). Quem as ensinava, não consta; mas talvez foi um leigo anônimo, já residente no país, pois Spaulding ainda não conhecia bem o português. Cremos ter sido essa a primeira Escola Dominical no Brasil, apesar de duas outras denominações disputarem a honra. Num histórico sobre Petrópolis, o Rev. Nadir Pedro dos Santos escreveu que a primeira Escola Dominical oficial no Brasil foi estabelecida em 1855 pelo Dr. Robert Kalley, missionário escocês da Igreja Congregacional (cf. Expositor Cristão, 10-12-1957). E o Rev. William R. Read, em recente obra, escreve que a primeira Escola Dominical foi fundada em 12 de abril de 1860, pelo missionário presbiteriano, Rev. Ashbel G. Simonton. Pode ser que as Escolas Dominicais congregacional e presbiteriana levem os louros em termos continuidade, mas não em termos de primazia de organização. Falando sobre o trabalho do Rev. Spaulding, comenta Kennedy (Expositor Cristão, 21-7-1894) que a “Escola Dominical floresceu a tal ponto, que o Rev. Spaulding
  • 16. alugou uma sala mais espaçosa para nela celebrar os cultos. Houve, também, reuniões de oração regularmente; e todos os domingos, com seus ajudantes, ele pregava em algum navio aos milhares de marinheiros que constantemente entravam na baía do Rio de Janeiro". Tanto o Rev. Kidder como o Rev. Kennedy, muito após, também iam a bordo dos navios pregar aos seus tripulantes. A primeira escola diária evangélica no Brasil O espírito do metodismo foi sempre zeloso pela educação, procurando elevar as massas com escolas num tempo quando a instrução escolar ainda era privilégio de poucos. De sorte que, já em julho de 1836, o Rev. Spaulding abria uma escola diária na rua do Catete, à qual assistiam não só os filhos de estrangeiros ali residentes, mas também crianças de brasileiros católicos. Confirmam esse fato as censuras dirigidas a estes pais pelo padre Luiz Gonçalves dos Santos, chamando-os de "simples e ignorantes", e admoestando: "Apartai delas os vossos filhos... Ah, permita Deus que semelhantes pais que entregam os seus filhos a hereges para serem instruídos por eles, não chorem algum dia lágrimas de sangue!" ("O Católico e o Metodista", págs. 118, 119, 177). Chegam reforços O Rev. Spaulding, convencido das necessidades espirituais do Brasil, e sentindo que precisava de auxiliares, pediu insistentemente que a Igreja Mãe lhe enviasse recursos. "VENHA À MACEDÔNIA, E AJUDE-ME!" era o seu constante apelo. A resposta veio, e depressa; pois em novembro de 1837, chegaram ao Rio de Janeiro, o Rev. Daniel Parrish Kidder com sua esposa Cynthia, o professor M'Murdy (às vezes escrito Murdy), e a Srta. Maraella Russel, também professora e talvez irmã de Cynthia, pois ambas tinham o mesmo sobrenome. Entre os dois que vinham ensinar, surgiu logo um romance, e brevemente se uniram em matrimônio. Continuaram eles dirigindo a pequena escola diária organizada pelo Rev. Spaulding. Desses, porém, pouco sabemos, pois regressaram dentro em pouco aos Estados Unidos desanimados ou doentes. O Brasil de então Talvez seja de valor relembrar aqui alguns fatos que naqueles tempos, traziam
  • 17. desânimo aos pioneiros. Primeiro - a longa viagem marítima, em vapores de pouco conforto, arriscando-se e passando por sérios perigos, pois não existiam meios de comunicação com a terra, como hoje. Depois de chegados, tinha que enfrentar as dificuldades inerentes ao aprendizado de outra língua, e acostumar-se a uma cultura de valores e costumes estranhos. Qualquer comunicação com a Igreja Mãe e com os queridos e a Pátria distante, era dificílima. Ademais, chegavam a uma terra onde ainda grassavam febres malignas como a palustre e a amarela, e doenças contagiosas como a varíola e a peste bubônica. Uma terra onde, conforme o historiador Gilberto Freyre, a limpeza das ruas e dos quintais era feita pelos urubus, e a da praia pelas marés; onde até meados do século 19, residentes das cidades tinham que ser proibidos de atirar água suja das janelas às calçadas sem primeiro avisar três vezes, "Cuidem da água!" (Freyre, pág. 151). Tudo isso demandava, pois, muita saúde, muita coragem, e muita confiança em Deus, para que esses pioneiros deixassem sua família e sua Pátria para dedicaremse ao trabalho em terra estranha - trabalho que no Brasil era muitas vezes caluniado e hostilizado. Apesar desses pioneiros metodistas não terem sofrido perseguição física, eram mal-interpretados em seus motivos e escarnecidos, e advinha disto um sentido de insegurança. Conta o Rev. William Read que duas esposas de missionários presbiterianos enlouqueceram devido à tensão que sofreram quando os seus maridos viajavam. Bastava a menção da palavra protestante para apavorar homens e mulheres em certas comunidades do interior. O povo acreditava que o demônio se apossava dos corpos dos protestantes e que seus pés se transformavam em cascos fendidos. O Rev. Perce Chamberlain, presbiteriano que fundou a Escola Americana e depois o Mackenzie, surpreendeu certa vez, um grupo de residentes duma zona rural a tirarem os sapatos a fim de mostrar a toda a gente, que não eram "bodes protestantes" (Read, pág. 52). Todavia, a obra intensifica-se Agora com o Rev. Kidder para lhe ajudar, o trabalho metodista na Corte (Rio de Janeiro) progredia a ponto de os padres "resistirem-no freneticamente". Primeiro mandaram imprimir um pequeno jornal "O Católico Fluminense"; depois, o Padre Luiz Gonçalves dos Santos publicou um livro, “O Católico e o Metodista”, ambos mais úteis para divulgar o metodismo do que para contê-lo!
  • 18. Intensificaram os missionários a divulgação das Escrituras e folhetos religiosos, nisso aderindo aos conselhos de João Wesley, que frisara sempre a importância da literatura religiosa. Escrevera Wesley que a "propagação de informações por meio do prelo segue em importância a pregação do Evangelho" (Early American Methodism, Vol. II, pg. 482). O Rev. Kidder, logo ao chegar ao Rio, ficou admirado com a venda e distribuição das Escrituras, como já estava sendo feita pelo Rev. Spaulding. Escreveu num dos seus livros que apesar de a Bíblia não constar da relação dos "livros que podiam ser admitidos nas colônias (de Portugal)" elas logo encontraram compradores. “Na sede de nossa missão, dizia o Rev. Kidder, deu-se o que poderia chamar de verdadeira ‘corrida’ de pretendentes ao Livro Sagrado”. Muitos enviaram bilhetes por escravos ou crianças. Um dos bilhetes era assinado por um Ministro do Império que pediu exemplares para toda uma escola fora da cidade. Entre os que nos foram procurar encontravam-se diversos sacerdotes... Na sexta e no sábado, apinharam-se na casa suplicantes de todas as condições, desde o ancião encanecido ate a criança palreira; desde o senhor da alta hierarquia até o pobre escravo. Tem vindo pessoas de todas as zonas da cidade... “SÓ À ETERNIDADE CABERÁ REVELAR TODO O ALCANCE DE SEUS BENEFÍCIOS" (referindo-se a disseminação das Escrituras). Spaulding e o problema da escravidão Além dos seus outros trabalhos, o Rev. Spaulding desejava fazer algo para beneficiar os pobres escravos. Conhecendo já de primeira mão, na sua própria terra, os males dessa instituição, ele se compadeceu da sua sorte e aceitou na escola diária algumas crianças de cor. “Foi esse, comenta um historiador, talvez o primeiro esforço na América do Sul, de reconhecer a igualdade de direitos dos negros.” Relatando o que fizera, o Rev. Spaulding escreveu à Junta de Missões nos Estados Unidos: "O que será o resultado final da escravidão, ou quando terminará nesse país, e impossível dizer. Tudo quanto podemos fazer é sermos diligentes, extremamente discretos e entrarmos por qualquer porta que a Providência abrir, para fazer-lhes bem". Porém o Padre Luiz, interpretando injustificável ou maliciosamente as intenções do missionário - que decerto não tinha a menor idéia de
  • 19. promover qualquer movimento político ou violento a favor dos pretos, escreveu: “Aqui temos a missão metodista em duas partes ou dois fins: o primeiro, descatolicizar o Brasil, no que trabalham com todo o vigor; e, segundo, emancipar os nossos escravos. Se os metodistas pretendem ensinar os pretinhos somente a sua doutrina, por que razões se mostram tão acautelados, tão prudentes? Aqui há mistério oculto - os Metodistas têm planos escondidos sobre os nossos escravos, que não lhes convém ainda descobrir” (revelar). (O Católico e o Metodista, pág. 176). Forte reação da hierarquia católica Não é de se admirar que os líderes da igreja dominante começassem a sentir tamanha preocupação com os sucessos dos protestantes, que chegassem a concitar o governo imperial, em 8 de maio de 1839: "Se o Brasil quer ser feliz, oponha-se pelo órgão do seu governo a toda inovação, tanto política como religiosa, que além de imprudente, desnecessária e lesiva dos direitos dos povos, muito dano causara ao Estado, principalmente em tempos tão melindrosos como os atuais" (Dissertação sobre a Sepultura dos Cathólicos, pág. 30). Para esse padre, não havia palavras suficientemente duras com que estigmatizar os metodistas, "Como é possível", perguntou, "que na corte do Império da Terra de Santa Cruz, à face do Imperador e de todas as autoridades Eclesiásticas e Seculares se apresentem homens leigos, casados, com filhos, denominados missionários do Rio de Janeiro? Incrível, mas desgraçadamente certíssimo! Estes intitulados missionários estão a perto de dois anos entre nós, procurando perverter os católicos, abalando a sua fé com pregações públicas em suas casas, com Escolas Semanárias e Dominicais, espalhando Bíblias truncadas e sem notas — enfim, convidando a uns e outros para o Protestantismo; e muito especialmente, para abraçar a seita dos Metodistas, de todos os protestantes, os mais modernos, mais turbulentos, os mais relaxados, fanáticos, hipócritas e ignorantes". (Introdução de "O Católico e o Metodista", pág 24).
  • 20. CAPÍTULO 3 VIAGENS EXPLORADORAS DE KIDDER Os missionários não se intimidaram. Desejosos de conhecerem bem o país, o ambiente em que iriam trabalhar, e as oportunidades existentes, viajaram extensivamente pelo Brasil, principalmente o Rev. Kidder. Enquanto o Rev. Spaulding dirigia os trabalhos na Corte, Kidder, como representante também da Sociedade Bíblica Americana, sentia-se obrigado a fazer tais viagens para distribuir mais largamente as Escrituras. Percorreu de início as zonas mais próximas do Rio; depois, embarcando em navio até Santos, de lá fez a difícil Jornada em lombo de mula, serra acima, até São Paulo. Foi isso em Janeiro de 1839. Em São Paulo Do ponto de vista da missão metodista, foram realmente extraordinárias estas expedições missionárias. Em muitas localidades, o Rev. Kidder recebeu hospedagem até de sacerdotes; em algumas, teve a colaboração de vigários mais liberais e esclarecidos para a distribuição das Escrituras - como em Iguaçu, Estado do Rio. "Durante todo o tempo em que residimos no Brasil", observou, "jamais encontramos o menor obstáculo ou recebemos a mais leve desconsideração por parte do povo". Que contraste com o tratamento recebido do Padre Luiz! Chegado a São Paulo, Kidder teve a feliz idéia de distribuir Testamentos pelas diversas escolas da cidade para serem usados como livro de leitura; mas para conseguir isso, precisaria receber ordem da Assembléia Legislativa. Entusiasmado, Kidder visitou a Assembléia, sendo bem recebido e avistando-se com muitos parlamentares e pessoas de destaque. A sua proposta foi recebida com respeito; e até o Bispo do Rio, ali presente, aprovou a idéia. Kidder, chegou a falar com o Padre Diogo Feijó e com Martim Francisco, o presidente da Assembléia, que disse "sentir-se feliz que sua Província seria a primeira a dar o exemplo de introduzir a Palavra de Deus nas escolas públicas". Interrogado sobre a sua oferta, Kidder garantiu em nome da Sociedade Bíblica "o oferecimento gratuito de Novos Testamentos na edição do Padre Figueiredo, em quantidade suficiente para oferecer dois exemplares a cada uma das escolas primárias da
  • 21. Província". Pedia uma só condição - que tais volumes "fossem desembaraçados na Alfândega do Rio de Janeiro - que fossem distribuídos, conservados e usados pelas escolas como livros de leitura geral e instrução para os alunos". A oferta foi aceita; mas devido às "intrigas” comuns à maioria das organizações políticas - a decisão da Assembléia foi procrastinada e - tais eram as animosidades entre os dois partidos e tal a pressão de parte do clero mais atrasado - que finalmente a Comissão a qual fora entregue a proposta, deu um parecer desfavorável, "só mesmo Deus poderá dizer o que teria sido o efeito dessa medida para o nosso Brasil, se além de aceita tivesse sido posta em prática!“ Viagens para o norte e nordeste Em meados do ano de 1839, enquanto o Rev. Spaulding cuidava do trabalho no Rio, Kidder resolveu viajar a outras regiões do Brasil. Naqueles dias, não havia nenhuma comunicação rápida entre o Rio de Janeiro e o norte do país; dizia-se ser mais fácil saber o que se passava ali por noticias procedentes da Europa, do que diretamente. Foi por isto que o governo Imperial criou uma companhia de navegação; e no dia 1º de julho, Kidder embarcou no vapor "São Sebastião", deixando, escreveu mais tarde, "a nossa boa companheira que deveria permanecer no Rio cuidando de um casal de filhos". Ah! CYNTHIA! Esposa e companheira de missionário, mãezinha que ficavas só nesta terra estranha enquanto o teu marido viajava longe, meses a fio, distribuindo a Palavra de Deus e anunciando as boas novas! Quantos receios e quantas saudades não terás sentido! Contudo, fervorosamente cristã, como teu marido descreveu-te, não hesitaste em aceitar o peso da solidão, do medo e da incompreensão de tua missão! O Rev. Kidder levou consigo uma grande remessa de Bíblias, Testamentos, folhetos e Saltérios nessa viagem que o levou ate o Maranhão e Pará - jornadas que somente exploradores audazes teriam empreendido; e onde quer que fosse, distribuía e pregava a Palavra. "O missionário", escreveu ele, "aprende a se valer de todas as ocasiões, por menores que sejam, de praticar o bem em nome do Mestre". Como bom wesleyano, Kidder também se interessava muito em combater o vício da bebida, pois Wesley fulminara todos que faziam e vendiam bebidas espirituosas, declarando que eram
  • 22. "envenenadores que assassinavam por atacado, que conduziam os homens qual cordeiros ao inferno!" (Barclay, pág. 23). Duras palavras! Kidder, portanto, procurava sempre conseguir votos de abstinência e promover a organização de SOCIEDADES DE TEMPERANCA, visando especialmente os marinheiros, que tinham fama de beberrões. Na primeira viagem a bordo do "São Sebastião", conseguiu diversos compromissos de abstinência. Desembarcou para trabalhar no Recife; e quando o vapor retornou da sua viagem mais ao norte, Kidder foi a bordo para verificar os resultados da sua campanha antialcoólica. "Com grande e admirável surpresa", relatou, "soubemos que treze entre marinheiros e foguistas, que haviam assinado o compromisso, continuavam a observá-lo estritamente, a despeito das tentações que enfrentavam". Noutra ocasião, quando prosseguia em outro barco, o comandante, capitão da marinha imperial brasileira, assegurou-lhe que apoiaria tudo que fizesse em prol do bemestar da sua tripulação, manifestando "a esperança de que conseguíssemos através dos nossos esforços, o milagre da temperança, como lhe constava que havíamos feito a bordo do "São Sebastião". Dando mais pormenores sobre essa viagem, Kidder escreveu: "Os nossos trabalhos não se cingiam somente aos domingos. Éramos às vezes convidados para pregar a bordo dos navios de guerra americanos; de vez em quando passávamos por entre navios aglomerados nos portos, visitando-os, conversando com os marinheiros, e distribuindo publicações. Fazíamos esse trabalho como se atirássemos pães ao mar, que dias mais tarde, certamente encontraríamos de novo. Deixamos exemplares do livro sagrado à venda em diversos lugares, e panfletos para distribuição. Assim, estabelecemos depósitos nas cidades costeiras, onde as Escrituras pudessem ser procuradas pelas pessoas do interior, desde São Paulo até o Pará, deu-se um grande passo no sentido de divulgar a Palavra de Deus em todo o país. Passamos então, a providenciar ativamente a realização do culto em português no Rio de Janeiro. Para tanto, pusemo-nos a preparar uma série de prédicas, que esperávamos logo poder começar a ler em público". Tais eram os sonhos, os ideais, as atividades desse corajoso e dinâmico servo do Senhor que tinha uma visão dum Brasil, do Sul ao Norte, dedicado ao Senhor Jesus Cristo! Visão, entretanto, que não poderia realizar — uma terra prometida que não
  • 23. chegaria a entrar. Das profundezas dos nossos corações, perguntamos perplexos: "POR QUE, Ó DEUS, POR QUE NÃO PUDERAM ESSES CORAJOSOS SERVOS VER SEM INTERRUPÇÃO A TUA MISSÃO NO BRASIL?.
  • 24. CAPÍTULO 4 TRÁGICO DESFECHO " Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham." (Apocalipse 14:13). Falecimento de Cynthia Kidder Voltou Daniel Kidder de sua longa viagem, entusiasmado, satisfeitíssimo com a sementeira que lançara radiante em antecipação de reunir-se com a querida esposa e filhinhos, disposto a começar logo a pregar em português. Mas grande desilusão! A sua alegria tornou-se brevemente em consternação. Cynthia passava mal; dia a dia piorava com o que ele chamou de "cruel moléstia", presumivelmente febre amarela. Finalmente, a despeito de todos os cuidados médicos, deu o seu último suspiro, vindo a falecer em 16 de abril de 1840. No mesmo dia, foi enterrada no cemitério inglês da Gamboa - cemitério que era generosamente cedido a qualquer protestante. Pois naqueles dias, os chamados "hereges" não podiam ser enterrados nos demais cemitérios que, quase sem exceção, pertenciam à Igreja Romana. Uma simples lápide leva os seguintes dizeres em inglês: SACRED TO THE MEMORY OF MRS CYNTHIA HARRIET, WIFE OF REV. DANIEL P. KIDDER DIED APRIL 16th, 1840 AGED 22 YEARS AND 6 MONTHS. Isso é:
  • 25. CONSAGRADO À MEMÓRIA DA SRA. CYNTHIA HARRIET, ESPOSA DO REV. DANIEL P. KIDDER, MORTA EM 16 DE ABRIL DE 1840 COM A IDADE DE 22 ANOS E 6 MESES. *** Com profunda emoção, mas grande reserva, o Rev. Kidder escreveu sobre o triste desenlace em palavras prenhes de significação, palavras que revelam o que foi o caráter cristão e o preparo intelectual de Cynthia: "Vítima de cruel moléstia, nossa amada esposa em poucos dias baixou prematuramente à sepultura. Fora roubada ao exercício duma atividade na qual se especializara cuidadosamente. Sua dedicação e devotamento ao serviço que lhe fora destinado, foram repentinamente cercados pela mão da morte. Morreu, porém da mesma forma que vivera, humildemente, fervorosamente cristã; e em seu último alento, triunfou sobre o inimigo adormecendo mansamente em Jesus, o Salvador". Ainda mais reveladoras palavras sobre a breve, mas preciosa vida dessa serva do Senhor se encontra numa carta íntima na qual o Rev. Kidder participou o falecimento da Cynthia aos seus pais: “Prezados pais, Pela misteriosa, mas sempre sabia providência de nosso Pai Celestial, tenho agora de cumprir um dever melancólico e doloroso - o de participar-lhes que não mais vive a nossa querida Cynthia! Na quinta-feira, 16 de abril, deu ela o seu suspiro final. Poucos dias antes, gozava de saúde; e conforme o saber humano podia antecipar uma vida tão longa como a de qualquer outro ser. Depois sobreveio como que uma febre gástrica... Seus médicos foram os melhores que podíamos ter, tanto ingleses como brasileiros, mas tudo foi em vão. Faleceu sem luta ou sofrimento, e suas últimas palavras foram, "meu querido marido". Apesar de preparada (para a morte) ela não a antecipava, ao
  • 26. contrário, entretinha a distinta impressão que Deus a conservaria. Durante esse tempo, ela tinha adquirido o uso correto e fluente da língua portuguesa, ficando assim duplamente preparada para o seu trabalho no Brasil. Os amigos estenderam toda a ajuda e simpatia possível até os últimos momentos da sua vida, e o enterro foi na Gamboa, o único lugar na cidade para o enterro de protestantes. Não é costume aqui comparecerem senhoras a enterros; e como o lugar do cemitério é bem afastado, é raro muitas pessoas assistirem-no. Nós, porém, ficamos surpresos e gratos com a assistência de 60 a 70 pessoas de ao menos quatro nações e línguas diferentes. O enterro foi na sexta-feira santa que os católicos aqui observam com procissão, não permitindo nem sino nem musica pública. O Rev. Spaulding fez o culto fúnebre no qual foi acompanhado por dois ministros ingleses, um alemão, e por mim. Partiu assim a minha amada esposa, com a idade de 22 anos, 6 meses e dez dias, no quarto ano do nosso matrimônio. É ela a PRIMEIRA MISSIONÁRIA NA AMÉRICA DO SUL, chamada à sua recompensa eterna. Seus restos mortais descansam no solo do Brasil num recanto à cabeça duma avenida de árvores que sobe o declive da praia em direção a uma pequena elevação. Dali, por onde o viajante erguer os olhos, verá uma paisagem que combina a beleza natural à expansão grandiosa de um panorama deslumbrante. Descansa ali a minha amada; e de lá se erguera na manhã da ressurreição. Que nós também, ao soar da última trombeta, nos acordemos para encontrarmos-nos com ela no ar! Para esse fim, sempre oraremos. Seu filho enlutado, com afeto, D. P. Kidder (Carta publicada no CHRISTIAN ADVOCATE, 26 de junho de 1840).
  • 27. *** Ah, Cynthia, Cynthia! Foste de fato, a primeira mártir do metodismo brasileiro! Voluntariamente deixaste os teus pais queridos e a pátria amada para acompanhar o teu marido em sua sagrada missão de arauto do Evangelho! Ao seu lado labutaste com devoção; a língua estudou para melhor servir a nosso povo. Não duvidaste ficar só, cuidando dos filhinhos, enquanto ele arriscava a vida em expedições pelo Brasil, procurando espalhar a Palavra de Deus! BENDITA SEJA A TUA MEMÓRIA! Bendito para nós hoje e o teu exemplo de esposa dedicada e colaboradora do teu marido em sua obra evangelizadora; de serva pronta a dar-se ao serviço do Mestre onde quer que Ele te chamasse! *** Regresso do Rev. Kidder aos Estados Unidos Viúvo aos 25 anos, com dois filhinhos, sendo um de colo e doente, Daniel Kidder viu-se forçado a retornar à sua Pátria - "na esperança, ele escreveu, de poupar a vida de um menino ainda pequeno". É lógico presumir que ele teria voltado para o Brasil, uma vez que se recuperasse do grande choque sofrido, pois vivia fazendo planos para um grande futuro no Brasil. Mas isso não sucedeu. Ainda que não tivesse falecido Cynthia, ele teria sido obrigado a abandonar o trabalho. É que a "Sociedade Missionária" ( a “Junta”, como agora a chamamos), tendo gastado mais de 16 mil dólares no trabalho no Brasil, sentia ter alcançado os limites dos seus recursos e do seu crédito financeiro (Barclay, Vol. II, pág. 252). Depois de muito debater, resolveu fechar todo o seu trabalho na América do Sul, não acreditando que correspondiam às expectativas da Igreja. Foi o seguinte o breve comunicado dessa medida tão grave para o Brasil: "A Sociedade Missionária sente muito dizer que a Missão no Rio de Janeiro ter sido abandonada - porém não há qualquer evidência que o dinheiro e o labor ali
  • 28. expendido na missão tenham sido em vão. Não tem havido falta nenhuma de zelo, fidelidade, ou devoção por parte dos obreiros - eles têm feito tudo que podiam sob as circunstâncias que tiveram que enfrentar" (Barclay, Vol. II, pág. 356 — Grifos meus). Desviemos-nos um pouco da história, para agora citar um incidente sem conexão direta com a Missão Spaulding, mas que, todavia, nos oferece um retrato adicional de como eles viviam e trabalhavam. Foi por essa época que os Estados Unidos estavam estendendo as suas fronteiras até o longínquo e desconhecido território de Oregon, na costa do Pacifico. Lá existiam muitos índios, que também necessitavam da mensagem cristã. Quando a Sociedade Missionária resolveu enviar missionários muitos responderam voluntariamente ao apelo. Mas a travessia por terra de Nova Iorque até o Oregon através de território virgem e escabroso, enfrentando emboscadas de indígenas, tornavam-na perigosíssima e difícil. Tornou então a Sociedade uma resolução surpreendente: enviar o grupo de 51 missionários de navio de Nova Iorque, pelo Oceano Atlântico, costeando o Brasil até o estreito de Magalhães, para depois pelo Oceano Pacífico, após 35 mil quilômetros de viagem, desembarcarem no seu lugar de destino. Dessa viagem escreveu Barclay: "O vapor Lausanne saiu de Nova Iorque no dia 1º de outubro de 1839, contratado pela Sociedade Missionária. E de primeira classe - 400 toneladas - com boas cabines. É um navio "temperante", pois nenhuma bebida espirituosa será nele admitida, nem como frete, nem para uso pessoal". Essa viagem levou ao todo sete meses e vinte e um dias, e os missionários eram não somente pregadores, mas carpinteiros, fazendeiros, professores, um médico e um ferreiro". Agora, a história dessa caravana se entrosa com a da Missão Spaulding. Um membro dessa caravana escreveu no órgão oficial da Igreja (Christian Advocate) dizendo que ao chegar ao Rio em 16 de dezembro, resolveram fazer uma visita à cidade. "Desembarcamos perto dos jardins públicos, dos quais não dista muito a residência do irmão Spaulding, onde fomos cordialmente recebidos. Moram cerca de um quilômetro do centro da cidade, perto de um matadouro, o que é desagradável.
  • 29. Também fomos muito incomodados pelos mosquitos. A irmã Kidder (que faleceu apos essa visita), mora com a família do irmão Spaulding, pois o marido está ausente em seu trabalho.” “Nossos amigos tudo fizeram para nos acomodar. Éramos 21 pessoas, sem contar que as crianças foram à terra no Rio; mas nossos amigos pareciam deleitar-se com a visita, apesar de lhes ter obrigado a muito trabalho e despesa. Iam ter um culto àquela noite. O irmão Spaulding, depois do jantar, falou-nos sobre o seu trabalho, para animar-nos quanto ao nosso. Orou conosco, depois cantamos diversos hinos e partimos - mas com lágrimas". O que teria sido o futuro do nosso trabalho aqui se tivessem enviado ao Brasil aqueles cinqüenta e um, missionários, em vez de desistir da Missão Spaulding! Todavia, não foi só a Missão Oregon e as dificuldades financeiras que provocaram o fechamento da Missão no Brasil. Os conflitos de opinião, as desarmonias resultantes do problema da escravidão nos Estados Unidos, afetavam também a Igreja, culminando em 1844 com a triste divisão do metodismo americano em dois ramos, motivada pela secessão dos estados sulinos que queriam manter a escravidão. E em 1861, surgia a guerra civil. Terminou assim a Missão Spaulding E o que se tem dito e escrito; e de fato, do ponto de vista humano, parece ter terminado. MAS TERMINOU MESMO? De uma coisa estamos certos - que não foram distribuídas ou vendidas pela Igreja Católica Romana, pois ela só começou a se interessar por isto em nossos dias. Naquele tempo, proibia a sua leitura e queimava ou destrocava as que encontrava. Como escreveu Kidder, nem os sacerdotes possuíam ou conheciam a Bíblia! Nada feito em nome de Deus, como foi à consagrada obra desses missionários, é feito em vão, ainda que por motivos desconhecidos a obra não conseguiu radicar-se permanentemente. A própria Junta nos Estados Unidos testemunhou que o seu labor não foi em vão. Quais sementes que levam longo
  • 30. tempo para germinar e crescer, a semente lançada por eles certamente facilitou a obra daqueles que os seguiram anos após. Notas suplementares sobre os Revs. Pitts, Spaulding, e Kidder Tenho-me demorado muito com o trabalho desses três pioneiros, porque foram de fato os PRIMEIROS MISSIONÁRIOS METODISTAS AO BRASIL - eram os PRIMEIROS EVANGÉLICOS QUE AQUI PREGARAM A PALAVRA DE DEUS. Demorei-me também, porque é tão pouco conhecida à extensão, a variedade e os sacrifícios da sua obra. Isto é lamentável, porque há realmente abundância de fontes históricas. Kidder foi um escritor habilidoso e prolífico. Depois de sua volta aos Estados Unidos, escreveu dois volumes, "REMINISCÊNCIA DE VIAGENS E PERMANÊNCIA NO BRASIL", tratando de suas viagens no Rio e São Paulo, e um outro livro acerca das suas viagens ao Nordeste e Norte, durante as suas expedições evangelísticas e de distribuição da Bíblia. Um terceiro volume, "BRAZIL AND THE BRAZILIANS", escreveu em colaboração com o missionário presbiteriano, J.G. Fletcher. A Livraria Martins Editora, de São Paulo, publicou as traduções dos dois primeiros que são considerados como um retrato dos mais autênticos do Brasil daquela época. Revs. Fountain E. Pitts Depois de voltar aos Estados Unidos, serviu como pastor de diversas igrejas no seu estado natal de Tennessee. Sempre conservou o mais profundo interesse pelo Brasil; sendo autor na Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, em 1870, duma resolução a favor de se recomeçar a missão nesse país. Infelizmente, essa resolução malogrou; mas ele não desanimou, e em 1874, colaborou em trazer novamente a Conferência Geral, a resolução que levou a criação de nova Missão Ransom no Brasil. Rev. Justin R. Spaulding Nascido em 1802, era pastor em Augusta, no Estado de Maine, quando a Sociedade Missionária, em resposta aos apelos do Rev. Pitts, decidiu enviá-lo ao Rio de Janeiro. Depois de voltar à Pátria, apos quase seis anos de trabalho dedicado no Brasil, continuou sua obra pastoral no seu estado natal.
  • 31. Rev. Daniel Parrish Kidder Nasceu em 1815 no Estado de Nova Iorque, mas passou a maior parte da sua juventude em Vermont, com seus tios. Os pais não eram metodistas e não queriam que ele o fosse, mas Daniel – convertido - tornou-se membro leal da Igreja e, com o passar dos anos, um dos seus significativos líderes. Seu primeiro desejo fora ser missionário na China, país pelo qual a Igreja se interessava muitíssimo; mas como isso não foi possível, veio ao Brasil, onde também representou a Sociedade Bíblica Americana. Depois de regressar à Pátria, viúvo com dois filhinhos, casou-se novamente com Harriet Smith. Homem de excepcional brilhantismo e de profunda cultura, já aos 29 anos, exercia cargos de importância na Igreja - entre esses, o de professor em dois Seminários, de membro da Junta de Educação da Igreja e de Secretário Executivo Nacional das Escolas Dominicais. Nesse período editou mais de 800 volumes. Escreveu diversos livros: um sobre os Mórmons, outro sobre a Homilética (a arte de pregar), e mais três volumes sobre o Brasil, que são considerados obras de incomparável valor histórico e descritivo sobre a nossa terra e seus costumes naquela época. Aposentou-se em 1889, e faleceu aos 76 anos, em 29 de junho de 1891.
  • 33. CAPÍTULO 5 O METODISMO VOLTA E SE AFIRMA "Para o semeador cristão, o intervalo entre o tempo de semear e o tempo da colheita pode ser mais do que uma geração; e os ceifadores nem sempre são os que semearam". (T. T. Faichney) Período de silêncio Surgia agora no horizonte mais um daqueles pequenos eventos que nada tendo a ver com o nosso metodismo no Brasil, todavia, foi nas mãos de Deus um instrumento para novamente tentar implantar o Evangelho em nosso país. Lembramos que a fuga do Rei Dom João VI resultou na abertura dos portos brasileiros ao mundo; como o espírito comunitário inglês abriu a porta à entrada do culto protestante; e agora, com a trágica guerra civil nos Estados Unidos, também serviria a causa do metodismo no Brasil. Para melhor entender o abandono da missão no ano 1841, é preciso também saber o que se passava na Igreja Metodista do Sul nos Estados Unidos. Empobrecida pela guerra, com centenas de seus templos e estabelecimentos educacionais destruídos ou transformados em hospitais e quartéis militares, com sua Casa Publicadora encampada, ela não tinha recursos nem fervor para dar atenção à obra missionária. Os obreiros na China, campo que era a "menina dos seus olhos", foram obrigados a sustentar-se a si próprios. Não é de admirar que o Brasil ficasse esquecido, e que se seguisse o que tem sido designado o "Período de Silêncio" - uns vinte e cinco anos quando nenhuma voz metodista pregou o Evangelho no Brasil. 7
  • 34. Deus usa os imigrantes americanos Todavia, Deus - que do mal sabe tirar o bem e do amargo, o doce providenciou para que dessa profunda calamidade, tão longe de nós, se erguesse um instrumento para trazer-nos a Sua Palavra. Entra aqui a história dos americanos que imigraram no Brasil após o término dessa guerra. Uns, que haviam perdido tudo, desejavam recomeçar a vida noutro lugar; outros, revoltados com sua derrota pelas forças nortistas, procuraram escapar à dura mão do vencedor ou, rebeldes, recusaram dar seu juramento de lealdade ao novo regime. Chegaram, entre 1865 e 1867, uns milhares de americanos às nossas plagas; indo alguns à região amazônica e outros ao Vale do Rio Doce; mas esses grupos em breve soçobraram devido às dificuldades do clima, às doenças tropicais, ao desânimo geral e à isolação produzida pelas grandes distâncias entre os seus patrícios. A maioria se estabeleceu em fazendas na província de São Paulo, numa região compreendida por Saltinho, Limeira, Santa Bárbara do Oeste, e o que ficou sendo chamado Vila Americana hoje a cidade industrial de Americana. Ali desenvolveram excelentes programas agrícolas, introduzindo entre outras coisas, o uso do arado. Tal foi sua habilidade agrícola que o governo imperial pediu que alguns moços da colônia fossem designados para viajar em outras zonas do país, a fim de ensinarem seus métodos aos agricultores nacionais. Dois desses jovens contraíram a lepra neste serviço. Os colonos também introduziram no Brasil o veículo de quatro rodas e dois assentos, chamado de trole. E propagou-se a fama de terem introduzido a melancia. A melancia, porém, não era novidade no país, pois Daniel Kidder escreveu que em 1835, na sua viagem ao norte, vira no Piauí, "melancias em quantidade prodigiosa; são de fato tão abundante que chegam a ser vendidas à razão de uma pataca o cento" (Reminiscências, pág. 145). Contudo, é verdade que introduziram a melancia listrada, nativa dos EUA, cujas sementes trouxeram em vidros bem tampados para preservaremnas do "ar do mar". Um tio da querida missionária, Daisy Pyles Kennedy, foi um dos que trouxe as sementes. Mais precioso do que elas foi a vida dessa sua sobrinha, Daisy! E ainda mais precioso foi o fato destes imigrantes novamente terem introduzido no Brasil o metodismo. Chegada do Rev. Junius E. Newman Entre os imigrantes, havia um pregador leigo metodista, o Rev. Junius E.
  • 35. Newman, que durante a guerra civil, servira de capelão nas forças sulinas. Explica o Rev. Kennedy, que chegou a conhecê-lo, "antes da guerra, era homem de certa fortuna, mas tendo perdido tudo o que possuía, precisava de alguma forma restabelecer os seus haveres. Vendo muitos dos seus amigos e patrícios partirem para terras longínquas, resolveu acompanhá-los, especialmente animado pela esperança de poder auxiliar na propagação do Evangelho... através da Igreja Metodista". Veio credenciado e nomeado pelo Bispo W. M. Wightman para "ministrar aos imigrantes na Pátria que viessem a adotar". Não era certo se iriam imigrar para a América Central ou para o Brasil. Muitos foram ao México, por convite do Imperador Maximiliano; mas não permaneceram ali devido à sua queda e às revoluções que a seguiram. No dia 5 de agosto de 1867 aqui chegou o Rev. Newman, sem a família. Comprou uma fazenda perto de Niterói, mas percebendo que a maioria dos seus patrícios se havia estabelecido na província de São Paulo, mudou-se para lá depois de dois anos. Tendo prosperado, e gostando do Brasil, voltou aos Estados Unidos e de lá retornou com sua mulher, Mary Philips, as duas filhas moças, Annie e Mary, um filho, William Walter, e mais dois filhos adotivos, William e John Harris (Jair Veiga, "Diário de Piracicaba", 1-8-59). Organizarão da Primeira Igreja Metodista na Província Chegando à Limeira em agosto de 1866, começou logo a pregar em inglês aos patrícios espalhados pela região. Não tentou organizar uma igreja de imediato devido ao fato de eles estarem tão espalhados. Contudo, no terceiro domingo de agosto de 1871 organizou em Santa Bárbara ou perto de Saltinho (historiadores dão ambos os nomes), uma congregação com nove membros, todos americanos. Foi designada (claramente!) de Igreja Metodista Episcopal do Sul, pois era uma continuação da Igreja americana a que todos haviam pertencido. Esse nome foi adotado no Brasil e assim continuou até o dia da nossa autonomia (1930). Esse culto histórico se realizou numa casinha coberta de sapé, e de chão batido, que anteriormente fora usada para a venda de bebidas alcoólicas. Entre esses primeiros membros, constava o nome de Leonora Smith, que se tornou missionária, da qual diremos algo adiante. Aos poucos, o Rev. Newman organizou outros núcleos, até que, com cerca de cinqüenta membros, formou-se o primeiro "circuito" metodista na história da nossa Igreja no Brasil! Podemos também desconfiar que estava procurando antecipar-se a outras
  • 36. denominações que estavam começando trabalho regular entre os colonos; pois em menos de um mês, no dia 10 de setembro, os batistas organizaram ali também a sua primeira igreja em solo brasileiro; e pouco depois, os presbiterianos. Usaram a capelinha construída junto ao cemitério comunitário, alternadamente. Os batistas, porém, tiveram de cavar para o seu uso, um amplo poço na nascente dum córrego próximo ao cemitério (Jornal Batista, 11 de outubro de 1964). Em 1877, faleceu a esposa de Newman. Ele, dois anos depois, mudou-se para Piracicaba, onde em 1880, contraiu segundas núpcias com a Sra. Lydia E. Barr. Foi no ano 1879, no mês de junho, que se marcou outro dia importante no calendário metodista Annie e Mary, suas filhas, abriram um colégio com internato e externato, em Piracicaba, que é chamado o "precursor do Piracicabano", hoje Instituto Educacional. Contribuições do Rev. Newman O Rev. Newman não fez e não legou grande quadro de empreendimentos. Mas como Jesus, "ele viu a multidão e se compadeceu dela". A sua verdadeira grandeza consistiu em ter tido compaixão da tremenda escuridão espiritual dos habitantes do Brasil, porque "andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não tem pastor" (Mt 9. 36 ). Nunca cessou de clamar à Igreja Mãe no sul dos Estados Unidos, para que enviasse obreiros: "Jovens de bons talentos e grande piedade", para a obra evangelizadora. Quanto a si mesmo, confessou que a sua "tarefa principal era servir à colônia americana. Nunca se sentira apto para a obra estritamente missionária, mas sentia desejo de trabalhar à beira de tal campo". Todavia, expressou desejo de aprender o português suficientemente bem para poder ministrar aos brasileiros. Ao que se saiba, porém, Newman nunca a eles pregou, e nunca foi hostilizado pelo clero ou por romanos fanáticos - como foram Spaulding, Kidder e depois o seu próprio genro, o Rev. Ransom. O bispo americano, Holland Mc Tyeire, em seu histórico do metodismo, declara: "A investigação feita no Brasil em 1835 pelo Rev. Pitts, foi sucedida pela ocupação permanente em 1876, com a chegada do Rev. Ransom...” Muitas mudanças grandes haviam ocorrido durante os 40 anos, desde 1835. A disposição intolerante da Igreja Romana, tanto no Brasil como no México, acabara em conflito com o governo civil. O imperador D. Pedro II era um homem muito culto e de espírito iluminado; as classes mais altas e os corpos legislativos haviam se desfeito do jugo do clero, abrindo o império
  • 37. a novos empreendimentos educacionais e religiosos. "A tendência popular era em direção à descrença e infidelidade, e o tom geral do povo era o de indiferença à religião" (McTyeire, pg. 675). Também o positivismo de Auguste Comte estava tendo grande aceitação no país - tudo contribuindo para que a missão de Newman não fosse tão difícil como as anteriores. Afinal os clamores de Newman e de outros (incluindo o agora ancião Pitts que ainda anelava pelo Brasil), resultaram numa resolução da Conferência Geral de 1874 da Igreja Metodista Episcopal do Sul, e enviando para aqui o Rev. J. J. Ransom, que depois como já o relatamos, se casou com Annie Newman, filha do Rev. Newman. Outra valiosa contribuição da família Newman foi granjear a estima dos irmãos Prudente e Manuel de Moraes Barros, o primeiro mais tarde, presidente da República. Mary Newman, que por certo tempo regeu cadeira numa escola fundada em São Paulo pelo Dr. Rangel Pestana, ficou ali conhecendo a Srta. Anna Maria de Moraes Barros, filha do então Senador, tornando-se amigas, laços que uniram as duas famílias. Volta o peregrino à Pátria Finalmente - velho, cansado, cheio de saudades, tendo-se sublimado o rancor que guardara contra o governo da Pátria - o Rev. Newman regressou em 1890 à terra que abandonara, indo residir no Estado de West Virginia; ali faleceu em maio de 1895. Nunca sequer sonhou que um dia, em 1967, o reconheceriam como o fundador do metodismo permanente no Brasil!
  • 38. CAPÍTULO 6 A MISSÃO RANSOM Chega ao Brasil o Rev. Ransom "Mande obreiros jovens, de bons talentos e grande piedade!" - foi esse o brado do pioneiro Newman à sua Igreja Mãe. Veio a resposta afinal, na pessoa do ReV. John James Ransom, natural do Estado de Tennesse, solteiro, ministro ordenado dessa Conferência - sem dúvida, homem de bons talentos e grande piedade, corajoso e dinâmico. Declara o relatório do ano de 1883 da Junta de Missões: "A Igreja Metodista Episcopal do Sul começou o seu trabalho no Brasil no ano de 1875, reconhecendo o Rev. Newman como seu missionário em maio daquele ano, e enviando o Rev. J. J. Ransom em dezembro". Apesar de ser assim nomeado, ele teve que fazer apelos aqui e ali, para custear a sua viagem. Desembarcou no Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 1876; e foi logo a São Paulo para consultar o Rev. Newman sobre planos e métodos para melhor estabelecer o trabalho. Como Kidder, olhava sempre para o futuro, procurando lançar bases sólidas para o trabalho. Planejando o trabalho Durante o primeiro ano, dedicou-se com assiduidade ao estudo da língua portuguesa, que soube dominar bem. Estudou com os presbiterianos em Campinas, onde também lecionava inglês e grego no Colégio Intencional daquela denominação. No segundo ano, fez a difícil viagem ao Rio Grande do Sul "à procura dos melhores pontos para o estabelecimento do trabalho". Creio que influiu nessa decisão o fato de ele não querer depender da obra de Newman, toda entre americanos; e decerto estava ciente de que a igreja do norte (a Igreja Metodista do Norte dos EUA) já trabalhava na província do Rio Grande do Sul, e desejava estabelecer contatos com a mesma quem sabe? - para assegurar que o metodismo brasileiro tivesse suas raízes no Brasil e não no Uruguai.
  • 39. No Rio Grande do Sul ficou conhecendo o Dr. João Correa, pregador em Porto Alegre e arredores, e colportor da Sociedade Bíblica. Tão impressionado ficou Ransom com o trabalho do mesmo, que após contato, viajou com ele ate Montevidéu para dialogar com o Dr. Thomas Wood, superintendente da Missão Platina da Igreja Metodista do Norte. Essa Igreja, depois de descontinuada como missão em 1841, continuara com sustento local ate 1870, quando o Dr. Wood foi enviado como missionário da Junta, restabelecendo o contato missionário. Ransom terminou a sua estadia sulina, viajando com o Dr. Correa ate a cidade do Rio Grande, onde embarcou para o Rio. Volta ao Rio de Janeiro Chegado à capital da Corte (Rio de Janeiro), fixou residência numa boa casa, a de n° 17 5, na Rua do Catete que, desde os tempos de Spaulding, parecia ser o bairro preferido pelos missionários metodistas. Foi nessa casa agora derrubada, que começou a pregar em português em 27 de Janeiro de 1879. É justo dar crédito a um comerciante britânico, Sr. W. R. Cassels pelo auxílio financeiro que deu a Ransom para alugar a casa, e em mostrar-se amigo sincero em muitas ocasiões. Mas o clero católico-romano, como fizera trinta anos atrás com a Missão Spauldingr começou logo a persegui-lo, taxando-o de "ateu e incrédulo" em seu órgão oficial, "O Apóstolo". Ransom, homem decidido, de fortes convicções e muita coragem não deixou passar despercebido o ataque. Com cortesia, convidou os redatores a ouvirem-no pregar, para verificarem que "os metodistas não eram nem ateus, nem incrédulos, nem desprezavam as leis do Brasil, como eles pensavam" (Kennedy, pág. 21). Primeiros brasileiros convertidos Em breve, o Rev. Ransom organizou com elementos estrangeiros, a primeira igreja metodista no Rio e, em março de 1879, recebia nela por profissão de fé, os primeiros brasileiros convertidos do catolicismo romano ao metodismo. Foram esses, o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque, e a Sta . Francisca de Albuquerque (poderia ela ter sido irmã do padre?); e o Sr. Ransom recebeu-os sem re-batismo, aceitando como válido o batismo da Igreja Católica. Depois, o ex-padre foi novamente "convertido" à doutrina da imersão; e rebatizado pelo pastor batista, Rev. Robert-Thomas, da colônia americana, no poço anexo à igrejinha do Cemitério do Campo. Convém relembrar aqui que esse cemitério fora doado pela família Oliver. Quando faleceu a esposa do Coronel
  • 40. Oliver, negaram-lhe o direito de enterrá-la no Cemitério de Santa Bárbara, dizendo o padre: "Não. É corpo de protestante!". O féretro teve que voltar uns doze quilômetros para onde foi sepultado nas terras da fazenda dos Oliver. Mais duas mortes na família levaram o coronel, indignado com a posição da Igreja Católica Romana, a doar uma área bem grande de suas terras, para se construir um Cemitério protestante. O Cemitério do Campo ainda existe hoje, sendo um local histórico por motivo de suas sepulturas, capela, onde, de quando em vez se realizam cultos. Os descendentes da colônia original, entre os quais muitos católicos, organizaram uma Associação para preservar o lugar - e em 1965 ergueram ali um obelisco comemorando o centenário da chegada ao Brasil da colônia. Nesse monumento, consta o nome do Rev. Newman, e é, portanto, local que merece ser visitado por metodistas brasileiros. De maior significado, porém, para o metodismo brasileiro, foi o fato que entre os membros recebidos pelo Rev. Ransom, durante o início do seu ministério, constava à idosa Sra. Mary Walker, que fora há uns quarenta anos antes, membro da "Sociedade Metodista" organizada pela Missão Spaulding! Nas palavras do Rev. Kennedy, constituía ela, por esse motivo, "Um Elo vivo e Pessoal" entre a Missão Spaulding e a Igreja Metodista Episcopal do Sul no Brasil. Feliz Natal - triste julho Como já relatamos o jovem Ransom enamorou-se de Annie Newman, com quem se casou no dia de Natal de 1879, e levou-a para o Rio onde tinha seu trabalho. Mas a sua felicidade durou pouco; pois em 17 de julho, Annie o deixou para o lar celeste. O marido enlutado voltou à Pátria (EUA) para recuperar-se do choque e descansar, aproveitando a oportunidade para apelar urgentemente por reforços. Vira quão grande era o campo; quão famintas as almas pela mensagem da vida; e sabia que sozinho não podia fazer muito. Ao retornar ao Brasil veio alegre, pois trazia reforços.
  • 41. CAPÍTULO 7 VALIOSOS REFORÇOS O Rev. Ransom com seus companheiros e auxiliares embarcaram de Nova Yorque em 26 de março de 1881, viajando ao Brasil via Ilha da Madeira e Inglaterra. Eram os seus com companheiros os missionários: Rev. James L. Kennedy, com 23 anos, o Rev. James W. Koger, que trazia esposa e um filhinho, e a educadora Martha Watts. Após quase dois meses de viagem, aportaram na bela baía de Guanabara em 16 de maio de 1881. Sobre a sua chegada escreve o Rev. Kennedy: "Imagine o leitor com que entusiasmo e curiosidade pisamos o solo do Brasil! Terra que viemos especialmente para evangelizar. A beleza e a natureza eram para nós encantadoras - tudo fornecia um verdadeiro banquete para os olhos". Mas o Rev. Ransom, não os deixou perder tempo contemplando as belezas do Rio. "Mãos à obra!" foi sempre o seu lema. Dentro de dois dias, o grupinho desembarcava do trem em Piracicaba, o centro do esforço metodista iniciado pelo Rev. Newman. Anoitecia quando ali chegaram; e conta Kennedy que ao tropeçar pelas ruas mal calçadas, estranhou que havia lampiões de querosene para iluminar as ruas, mas que não estavam acesos. "Como é?", perguntou Kennedy a Ransom, "Não acentem os lampiões?" E Ransom, já "antigo" conhecedor do país sorriu ao explicar: "Bem, o querosene, tendo que ser importado, é caríssimo. Por isso em noites de luar não se acendem os lampiões, é mais barata a luz do luar". Era esse um costume generalizado no Brasil de então, conforme registraram o sociólogo Gilberto Freyre, e o missionário Kidder. Ransom hospedou-se no Hotel Piracicabano, sem muitas comodidades, mas o melhor do lugar.
  • 42. Já no dia 21, prosseguiam para Bom Retiro, onde agora residia o Rev. Newman. Ali, na manhã de domingo, 21 de maio de 1881, o Rev. Kennedy pregou aos americanos ali reunidos o seu primeiro sermão no Brasil. Nunca esqueceu dessa memorável ocasião, relembrando o seu texto tirado de I Co 3.9: "Somos cooperadores com Deus". E nesse espírito, ajudado por Deus, daquele momento em diante, o Rev. Kennedy consagrou a sua vida ao Brasil. Visitava de casa em casa para pessoalmente distribuir convites para os cultos, sendo freqüentemente insultado ou rechaçado. Pregava nas ruas, sendo às vezes atingido por batatas e tomates podres; outras vezes, só pela graça de Deus, escapou à fúria de assaltantes fanáticos, como em Bangu, perto do Rio. Organizou igrejas em cidades grandes e em vilas remotas do interior. Viajava a cavalo ou no lombo de mula, suas longas pernas quase se arrastando no chão, debaixo de sol ardente ou de frios aguaceiros, subindo montanhas escabrosas por "trilhos-debicho", como se chamavam os estreitos caminhos socados pelas patas dos animais. Às vezes andava em carros-de-boi, em penosas viagens que lhe deixavam o corpo doído, de solavanco em solavanco pelas estradas esburacadas. Ainda outras vezes quando não conseguiam condução, caminhava a pé. Caminhou vinte quilômetros com seu colega de trabalhos, e filho espiritual, o consagrado Rev. Antônio Cardoso da Fonseca. Alcançando o seu destino: uma choupana humilde, um vilarejo, entrava então em luta terrível com mosquitos e pulgas famintas por sangue novo, que pareciam devorar-lhes as carnes. De dia lutava contra os micuins, carrapatos e borrachudos. Tal foi à vida de Kennedy durante quase sessenta anos, se incluirmos aqueles em que, aposentado e perto dos seus oitenta anos, contribuiu para a extensão da obra metodista nos bairros de São Paulo. Mas a luta árdua não era sua tão somente - era de todos aqueles valentes pioneiros brasileiros e missionários americanos, que desprezando o comodismo e o conforto, saíram e lutaram para desfraldar no solo da nossa terra, então atrasada e dominada pelo clero, a bandeira do Evangelho bendito! Volvamos as vistas novamente ao pequeno grupo em Piracicaba. O Rev. Ransom, antes de voltar ao Rio de Janeiro, deixou-os todos em Piracicaba, com "ordens" para estudar o português - mas também para dedicar-se à evangelização. O Rev.
  • 43. Kennedy pregaria aos americanos; o Rev. Koger ficava como pastor na cidade - o que fêz organizando dentro de poucos meses, no dia 2 de setembro, a terceira igreja metodista no Brasil, a de Piracicaba. Miss Watts entregou o trabalho educacional. Colégio Piracicabano Desde o seu início, a Igreja Metodista considerara de máxima importância à instrução do povo, fato natural considerando a sua herança intelectual, pois nascera na grande Universidade Oxford, na qual Wesley fora estudante. E fato lógico, pois enviou uma educadora com as suas primeiras forças missionárias. Miss Watts já exercera o magistério alguns anos na sua terra, quando se sentiu chamada para a obra missionária. Filha de um lar culto e materialmente abençoado, ela era de inteligência e preparo fora do comum, mas também de uma consagração extraordinária. O seu alvo, repetia ela, "não era somente instruir meninas, mas ganhar almas para Cristo". Não perdeu tempo em começar um educandário - o Colégio Piracicabano como foi denominado ainda que no fim do ano escolar. Para o evento que se deu no dia 13 de setembro, somente uma aluna compareceu para matricular-se, a pequena Maria Escobar, cujo nome lembra como o da primeira aluna do primeiro colégio metodista no Brasil. Mas a diretoria não desanimou nem recuou. Conforme o Rev. Kennedy, "com tenacidade dirigiu o colégio como se houvesse cem alunas em vez de uma só; e para essa aluna conservou o estabelecimento aberto com três professoras!”. A sua cultura profunda e a eficiência da sua administração, conquistaram duma vez a simpatia da família Moraes e Barros (já admiradores da família Newman). As moças da família passavam horas no Colégio sentadas nas bancas examinadoras, observando o seu trabalho educacional que era o que de mais progressista havia na educação do sexo feminino, então atrasadíssima no Brasil. A "Gazeta de Notícias", de Piracicaba, noticiando os exames do Colégio, escreveu: "Numa das salas do edifício e com grande concorrência de famílias e cavalheiros dos mais distintos da nossa sociedade, foram examinadas as alunas em diversas matérias, como sejam: português, francês, inglês, aritmética, álgebra, história e retórica. O adiantamento que todas mostraram naquelas disciplinas, chegou a surpreender as muitas pessoas que estavam presentes. Não trepidamos em afirmar que é um dos melhores estabelecimentos de ensino do Estado de São Paulo." (27-12-1890).
  • 44. Diz-se que quando o Senador Prudente foi eleito presidente da Província estava tão convicto dos princípios e ideais de Miss Watts, que a convidou para vir a São Paulo para ajudá-lo a estabelecer na Província um sistema de escolas públicas. Foi tal a influência do Colégio que outro editorial em Piracicaba declarou: "A transformação radical, a adoção de métodos americanos no ensino, a orientação inteiramente nova na pedagogia e na formação do magistério que o Senador João Sampaio afirmou ter saído do Colégio Piracicabano, através de Prudente de Moraes, foi obra de madura reflexão e longa experiência que só no tempo de Miss Watts se tornaram possível". Combate ao Piracicabano Este incidente já foi contado muitas vezes, pois é caso significativo nos anais da Pátria. Mas como muitos dessa geração não o conhecem, deve ser repetido. “O Colégio fazia um progresso admirável, mas quanto maior o seu sucesso, tanto mais a Igreja Católica Romana a denunciava”. Miss Watts, com o apoio dos irmãos Moraes Barros, já havia adquirido um terreno - que fora antiga praça de touros localizado na esquina da Rua da Boa Morte com a da Esperança. Em breve, graças às dádivas da Igreja Mãe, se construía um belo e moderno edifício de aulas. O número de alunos aumentava de ano a ano, e eram das melhores famílias da cidade. Miss Watts escreveu à Junta de Missões de Senhoras Metodistas informando que não só o Colégio progredia financeiramente, mas que sua arrecadação pagava todas as despesas, menos as dos salários das missionárias. Acrescentou que estava trazendo almas a Cristo: “Há entre as alunas verdadeiro interesse em coisas espirituais; e três alunas e uma empregada já se uniram à Igreja”. Como sempre, o sucesso conduz à perseguição, mas a perseguição tornou-se contra-producente para quem a iniciou. O incidente com o inspetor Vienna Depois de cinco anos, Miss Watts voltou à Pátria (AUA) em gozo de férias e para substituí-la interinamente, ficou como diretora uma missionária mais nova, Mary Washington Bruce. Aproveitando a ausência de Miss Watts, o clero tornou-se mais forte ainda e sutil na campanha contra o Piracicabano, que culminou em janeiro de 1887, com uma intimação do Inspetor Literário, Dr. Abílio Vienna, a Miss Bruce, declarando que ela
  • 45. estava obrigada a excluir meninos com mais de dez anos da escola; a ensinar no Colégio a religião do Estado (que era a católica romana) e a enviar-lhe uma lista do corpo docente. Apesar de nova no Brasil, Miss Bruce tinha coragem. Não cedeu às intimações. Consultou diversos advogados e depois enviou ao Dr. Vienna uma carta na qual dizia: “Agradeço a vossa intimação oficial, mas pelo licença de dizer que não deixarei, simplesmente por causa da vossa opinião, de receber crianças católicas, pois enquanto as autoridades não me proíbem, e enquanto temos vagas, tenciono receber todos os alunos católicos que queiram ingressar em nosso Colégio". Por coincidência, viajava por ali o Rev. J. L. Kennedy, a quem Miss Bruce contou tudo que se passara. Depois de encorajá-la a permanecer firme, ele prosseguiu para o Rio, levando consigo cópia da carta do Inspetor. No dia seguinte mostrou-a ao diário "O País", recapitulando o que havia acontecido. O jornal publicou a carta condenando a atitude do Inspetor com artigos e editoriais. O Dr. Rangel Pestana, então líder da Assembléia da província, ao saber da celeuma repreendeu violentamente o Inspetor. Resultado: O "caso" deu mais propaganda ao Colégio' do que grandes anúncios colocados em toda a imprensa nacional. O inspetor, tão criticado, pediu demissão, a qual foi aceita pelo governo da província. Comentando o caso, escreveu Kennedy: "Nesse caso-teste o princípio da liberdade religiosa e intelectual estabeleceu o direito dos pais de darem aos seus filhos instrução religiosa conforme os seus desejos e sem ter-se em conta a sua religião" (Kennedy, págs. 323-325). Certo é que o Piracicabano estabeleceu três princípios básicos para a educação no Brasil: primeiro, introduziu a educação mista; segundo, a dignidade da instrução superior para o sexo feminino; e terceiro, o princípio da liberdade de religião no campo educacional, acrescido ao direito dos pais e à liberdade de orientação própria das escolas.
  • 46. CAPÍTULO 8 ANSIEDADES E PROGRESSO Período de ansiedades O metodismo no Brasil progredia tão bem quanto se podia esperar dum trabalho ainda infante - progresso lento, mas, contudo a passo firme, seguro e prenhe de esperança. Uma crise adveio, porém, em 1882 e 1883 quando parecia que a Junta de Missões nos Estados Unidos iria repetir o grave erro que fez, abandonando a Missão Spaulding-Kidder em 1841. Fato pouco conhecido, que não foi registrado no histórico de Kennedy, encontra-se no livro de atas da Junta de Missões da Igreja Metodista do Sul nos Estados Unidos em seu relatório datado de 1° de junho de 1883: "A China e o México recebiam toda a atenção da Igreja, porque a China, após 33 anos de trabalho, começava agora a produzir fruto; o México porque mostrara resultados que ultrapassavam todos os triunfos do Evangelho desde os dias apostólicos... Apesar do Secretário da Junta ter fé na missão brasileira, parecia ser tudo em vão parecia mesmo que a missão seria abandonada... Foi então que a Providência Divina atuou, como muitas vezes foi acontecer, fazendo do sangue dos mártires a semente da Igreja. O coração da Igreja foi mais movido pela história daquela que morrera pelo Brasil do que pelo propósito daquele que morrera por todos". (grifos meus). (Será que o relator nessa frase se referia à morte de Cynthia Kidder em 1840? Não há outro esclarecimento) .
  • 47. Foi este um período de grande ansiedade espiritual para o Rev. Ransom e seus ajudantes. Em março de 1882, viajou novamente aos Estados Unidos, e só voltou em julho. Deixou à testa do trabalho no Rio o jovem ministro Kennedy, que ainda não completara seus dez meses de permanência no Brasil. Relatou esse depois que “ficou profundamente impressionado com o peso das suas novas responsabilidades, mas não houve remédio senão meter mãos à obra e confiar em Deus". Era ainda maior a sua responsabilidade, pois estava em construção a capela do Catete (que foi inaugurada em setembro, logo após o retorno de Ransom). Deus, porém, tinha planos grandiosos para o metodismo brasileiro. O trabalho desta vez não foi abandonado, e os pioneiros continuaram ainda mais ativos no trabalho. Passos positivos à frente O enérgico Ransom já estabelecera o trabalho metodista seguindo três linhas de ação: 1) A evangelização, a pregação da Palavra com cultos regulares em diversos lugares, isto é, em diversos pontos da cidade e na província de São Paulo; 2) A obra educacional. Não só se fundara o Colégio Piracicabano, mas planos estavam sendo feitos para um colégio no Rio. Já se haviam encaminhado discussões visando a compra ou transferência à Igreja Metodista do Colégio Progresso, uma instituição inglesa situada em Santa Teresa. Quando o Rev. Tarboux chegou ao Brasil em 1883, foi logo ensinar inglês e matemática nesse colégio. Essa transferência não se efetuou; contudo, a Igreja comprou uma bonita propriedade na Rua Alice, nas Laranjeiras, onde instalou uma escola em 1888. Foi diretora Miss Mary Bruce, que depois teria aquele encontro histórico com o Inspetor Vienna; 3) Uma literatura metodista para uso das igrejas. Ransom começou a publicar a revista Escola Dominical, e uma folha "Nossa Gente Pequena", ambas com lições bíblicas, respectivamente para adultos e crianças. Diz Kennedy que durante o ano de 1884, ou antes, Ransom já publicava essas revistas em português. Obstáculos à construção de templos Chegado o ano de 1886, nosso metodismo já tinha congregações organizadas e florescentes em Santa Bárbara (1870); no Catete, Rio (1879); em Piracicaba (setembro
  • 48. de 1884); em São Paulo (fevereiro de 1884); em Juiz de Fora (1884); e ainda mais trabalhos iniciados em bairros dessas cidades, como os de Santa Teresa e da Rua São Clemente, no Rio; e o de Mariano Procópio, entre alemães, perto de Juiz de Fora. Possuía também dois lindos templos, os do Catete e de Piracicaba. A construção de ambos chocou-se com as leis então vigentes. Templo do Catete - Já se construíra a linda capelinha aos fundos do terreno, mas um templo maior se fazia necessário. Ainda regiam essas construções as leis imperiais que proibiam aos acatólicos edifícios com aparência de templos. O conceituado construtor-arquiteto, Sr. Antônio Januzzi, fizera uma planta para a Igreja do Catete que fora aprovada pelas autoridades competentes. Nessa planta, constava uma parede frontal que se erguia qual platibanda alta, terminada em ornatos pontiagudos, com janelas de estilo gótico, comum até em residências particulares. Contudo, elementos contrários ao protestantismo tudo fizeram para impedir a construção. "Se há um jeito de complicar e obstruir o prosseguimento da obra" escreveu Kennedy, o pastor ajudante, "as autoridades o descobrem". E como Ransom já se mudara para Juiz de Fora para continuar o trabalho ali, Kennedy vivia agonizado com todos os problemas que se apresentavam. Apesar dos pesares, a obra estava para ser terminada quando, certo dia, passou por lá uns padres fanáticos que, vendo erguer-se a platibanda que dava de fato ao edifício uma aparência eclesiástica, foram logo queixar-se ao Conselho Municipal. O Rev. Kennedy chamou o seu colega Ransom, e com ele e o Sr. Januzzi se dirigiram ao Conselho. Depois de um longo debate sobre a definição de torre e sinos, e do que seria a forma exterior de uma igreja, o arquiteto explicou que a tal "torre" era uma simples extensão da parede, "arrematada por ornatos arquitetônicos"! A explicação foi aceita. O Sr. Januzzi sem demora, pôs os operários a trabalhar dia e noite, para concluírem o templo antes que o Conselho revogasse a sua decisão. Creio ser justíssimo aqui citar o que o Rev. Kennedy depois escreveu sobre Januzzi: "O historiador não pode deixar de falar sobre a dívida de gratidão que jamais pagaremos ao amigo arquiteto que tanto se esmerou para que a nossa igreja fosse construída solidamente e com beleza, sem cobrar coisa alguma pela sua fiscalização. Deus o pagou, segundo diz ele mesmo, porque o nosso templo tem servido de grande anúncio de suas habilidades arquitetônicas, que todos dizem serem inquestionáveis" (Expositor Cristão, 14 - 4 - 84).
  • 49. Templo de Piracicaba - Ao mesmo tempo em que se lutava para terminar o templo do Catete, os metodistas de Piracicaba começavam a enfrentar dificuldades com o clero. Essa planta incluía uma torre pequena, mas fora vista e aprovada pelo Conselho Municipal da qual faziam parte os irmãos Moraes de Barros, que consideravam a lei "morta". Quando estava quase terminado o templo, o Padre Galvão correu depressa ao Conselho para queixar-se da torre, invocando a lei antiga dos tempos de Dom João VI. "Mas nós já aprovamos a planta", responderam os conselheiros. "Como agora, com ele quase terminado, vamos obrigar os metodistas a desmanchá-lo?!" Assim foi que em Piracicaba ergueu-se o primeiro templo metodista com uma "torre de verdade", ainda que não muito alta ou imponente! Em contraste com a intransigência do clero romano, é bom citar a declaração do próprio Imperador, Dom Pedro II, uns trinta anos antes, em sua fala do trono, de maio de 1855: “A nossa constituição católica proíbe a outras seitas cristãs a construção de edifícios destinados ao culto, tendo a forma exterior de templo”. Seguramente, o zelo que inspirou tal medida não atentou para as necessidades da colonização protestante. Acaso tememos nós que o protestantismo venha a fazer prosélitos entre os nacionais e despovoar as nossas igrejas?” “Se, por outro lado, queremos evitar que os protestantes ergam o colo e se tornem exigentes, o alvitre mais adequado para remover o mal não é fornecer-lhes direitos para reclamarem concessões, mas antes outorgar-lhes, independentes de exigências que nos façam" (Retrospecto Político do ano de 1855, publicado no O Jornal do Commércio). Sábio Dom Pedro II! Apesar de exemplos como o Catete e Piracicaba, o irônico de tudo isto é que o protestantismo brasileiro "aceitou” muitas das restrições que lhe foram impostas e os seus templos hodiernos ainda o refletem - sendo na maioria sem
  • 50. elegância ou beleza arquitetônica, sem Tôrres, sem cruzes nem sinos. Começo do trabalho Metodista em Juiz de Fora Foi essa uma igreja que nasceu sob uma chuva de pragas, pedras e paus. O Rev. Ransom há muito planejara começar o trabalho na cidade de Juiz de Fora, província de Minas Gerais: mandou adiante três obreiros para distribuírem Bíblias, Novos Testamentos, e livros religiosos e para começarem a fazer propaganda da série de conferências que ele iria realizar para dar início ao trabalho. Eram esses três obreiros, símbolos do espírito ecumênico da nossa igreja - Herman Gartner, alemão luterano, um pregador local; Samuel Elliot, escocês, carpinteiro por profissão; e Ludgero de Miranda, brasileiro, que depois com seu irmão Bernardo, foi um dos primeiros pregadores nacionais - belo exemplo da união em serviço a Cristo Jesus! Quando Ransom estava para ir, eis que sua esposa adoeceu. A meia-noite, ele corre à casa do Rev. Kennedy e pede-lhe ir de imediato a Juiz de Fora, substituindo-o nos cultos já anunciados. Portanto, lá se foi o casal Kennedy, levando consigo a empregada Rosária (antiga escrava) e seu netinho. Chegados a Juiz de Fora, alugaram na Rua Santo Antônio, bem perto do centro, uma boa casa com grande sala que seria usada para os cultos. Depois Kennedy e Samuel Elliot compraram tábuas de pinho, pregos, martelo e serrote, e confeccionaram bancos para acomodar cerca de sessenta pessoas. Desde a primeira noite a assistência foi boa e atenciosa - tão boa que de certo atiçou a fúria de um padre. Certa noite, quando pregava, o Rev. Kennedy ficou surpreso vendo entrar na sala, e ir diretamente à frente, um padre que pelo seu andar e aspecto, mostrava estar embriagado. De repente o padre interrompeu-o com a pergunta: "Você é católico ou acatólico?" Kennedy respondeu: "Sou acatólico-evangélico", e prosseguiu sem mais comentários. As interrupções foram se repetindo, até que uns senhores presentes, chegaram ao padre e pediram-lhe cortesmente que ou calasse ou se retirasse. "Então eu vou!" respondeu bruscamente, e saiu da sala cambaleando. Quando tudo se acalmou o Rev. Kennedy continuou o culto; mas, dentro em pouco, ouviu-se lá fora na calçada, pisadas barulhentas, e uma algazarra geral em que se ouviam os gritos de "morram os protestantes!" Lá na rua se estacava um bando de desordeiros, na maioria
  • 51. moleques que, chefiados pelo padre, começaram a atirar pedras e paus pelas portas e janelas da casa. Os ouvintes assustados correram para a rua, deixando na sala somente o pastor (que procurava consolar a jovem esposa, que chorava de susto), o Sr. Samuel Elliot, e a velha Rosária com o netinho a chorar também. Dentro de poucos minutos tiveram um novo susto: ouviram passos no corredor da casa que dava para a rua. Mas em vez de fanáticos e moleques, ali estavam meia dúzia de senhores bem trajados a lhes declarar: "Não se assuste, Reverendo", disseram, "sentimo-nos envergonhados pelo que ocorreu, e vimos assegurar-lhe que o senhor não só pode, mas deve continuar com os cultos, pois a nossa constituição brasileira garante a liberdade religiosa". O incidente serviu de estímulo em vez de obstáculo - as reuniões foram bem assistidas, e houve diversas conversões, entre as quais a de Felipe de Carvalho que depois se ofereceu para o ministério, e chegou a ser um dos primeiros pregadores brasileiros, um que muito trabalho e muita perseguição sofreu pela causa do Mestre (Arauto de Deus, pág.259). "Foi começando assim", declara o "Luzeiro da Fé" (boletim da Igreja Central de Juiz de Fora) "que o Rev. J. L. Kennedy fincou a bandeira do evangelho em nossa cidade, e fê-Ia tremular no céu de Minas". Nem toda a oposição, porém, era insensata e cruel. O casal ria às vezes das situações cômicas que surgiam, quando como no Rio ao sair pelas ruas, Kennedy, Bíblia na mão, e a esposa Jennie ao seu lado, eram seguidos por pequenos moleques que faziam troça, apontando: "Olha só! Lá vai o padre protestante com sua mulher! Ou talvez: "Lá vai o Bíblia, lá vai o Cristo! “ Com seu bom senso de humor, Kennedy inclinava-lhes a cabeça, sorrindo e cumprimentando-os com cortesia. "Não sabem" comentava Kennedy, "mas estão me honrando!"
  • 52. CAPÍTULO 9 A PRIMEIRA DÉCADA DA “MISSÃO RANSOM” - 1876-1886- "Então veio o Senhor, e ali esteve, e chamou: Samuel, Samuel Este respondeu: Fala, Senhor, porque o Teu servo ouve". (I SamueI 3.9). Alguns dos que ouviram e obedeceram à chamada divina O metodismo havia alcançado sucesso durante esta primeira década de existência como Igreja Metodista Episcopal do Sul. O seu sucesso mais significativo foi o número e calibre dos jovens que deram as suas vidas ao ministério, a sua completa dedicação e lealdade ao Senhor, a sua coragem em enfrentar perseguições, calúnias e sacrifícios. . Por serem as primícias da linha de esplendor sem fim do ministério brasileiro, comecemos contando algo sobre os irmãos Bernardo e Ludgero de Miranda. Naturais da Província de São Paulo, foram criados (como escreveu Ludgero no Expositor de 1° de setembro de 1890), "na religião de crendices, rosário e água benta; meu lar parecendo mais uma igreja no tempo da Semana Santa do que uma morada - tudo celebrado com uma pompa sem igual!.. Contudo, a Providência Divina, dum modo misterioso mandou me a um lugar longínquo onde mais tarde haveria de conhecer a religião santa de Jesus". Esse "longínquo lugar" foi São Paulo. Ali, Bernardo foi o primeiro a ouvir o Evangelho. Qual Filipe a chamar a seu irmão Natanael, Bernardo convidou a Ludgero para assistir ao culto metodista. Ambos se converteram sob a pregação daquele abençoado servo do Senhor, Rev.J.W. Tarboux, então pastor da Igreja em São Paulo; e resolveram dar as suas vidas ao pastorado, tendo sido dedicadíssimos na obra. Bernardo, o mais velho, entre outros trabalhos, ajudou o Rev. E. A. Tilly a
  • 53. organizar a Igreja em Taubaté em dezembro de 1899. Enfraquecido, porém, por mal ignorado, faleceu antes de julho de 1891. Ludgero trabalhou ativamente mais alguns anos. Mas tragicamente, ambos faleceram ainda moços - sendo que Ludgero e toda a sua família vitimados pela febre amarela, morreram em janeiro de 1892, no curto período de duas semanas - ele, sua esposa, D. Hyrminia Chaves, e dois filhinhos. Felipe Revalo de Carvalho, outro pioneiro, veio ainda moço da Bahia para morar e trabalhar em Juiz de Fora, onde se converteu sob a pregação do Rev. Kennedy, que sempre o estimou como filho espiritual. Disse Felipe que fora "tão ignorante do Evangelho e dos costumes protestantes que levou consigo o dinheiro para comprar entrada na sala dos cultos". Profundamente convencido, abraçou a fé e, passado pouco tempo, sentiu a convicção de que devia pregar o Evangelho. Isso fez com sinceridade e arrojo, sofrendo muita perseguição. Uma vez, juntamente com a esposa grávida, Dona Emília, foram ambos arrastados pelas ruas de Cataguases, esbofeteados sem dó. Quando a polícia finalmente interveio e perguntaram-lhe o que desejava que se fizesse com os assaltantes, Felipe respondeu como verdadeiro cristão: "Nada. Só veja que se mantenha a ordem, e então solte-os". E ali mesmo, na rua poeirenta, ajoelhou-se e orou pelos seus perseguidores. Foi esse espírito de perdão que tanto impressionou o dono da casa onde pregara o grande leigo Sr. José Fernandes Sucasas, que levou-o naquela mesma hora a se converter. E no lar do Sr. Sucasas saíram dois dos nossos líderes: o amado Bispo Isaías Fernandes Sucasas e o pastor José Sucasas Júnior. O Rev. lustiniano de Carvalho - Foi também denodado soldado do Evangelho! Natural de Portugal, nascido em 1852, viveu até os 15 anos sob a "bandeira romana". Convidado por um companheiro a assistir um culto evangélico, ali se converteu - pelo qual foi perseguido pelos parentes. Em 1871, embarcou para o Brasil. Estabeleceu-se no Pará, onde não havia ainda igreja evangélica; e longe de bons companheiros, cedeu com o tempo às tentações do mundo, ficando "corrompido" como ele mesmo confessa. Chegou, porém, a Belém um missionário metodista (Rev. Justus H. Nelson, de quem falaremos mais adiante). Justiniano ouviu-o pregar; arrependeu-se e voltou ao rebanho evangélico, tornando-se membro fundador da Igreja Metodista em Belém. "A minha casa" escreveu no Expositor Cristão em setembro 1890, "tornou-se em Casa de Oração. Eu era o zelador e assim continuaria se, por força maior, não me obrigasse a sair para o Rio de Janeiro. Chegando ali, hospedei-me na casa dos Revs. Kennedy e
  • 54. Ransom, os quais indagaram sobre o meu propósito de vocação; eu lhes respondi que desejava trabalhar na vinha do Senhor". E assim, entrou no ministério. Trabalhou com devoção e muitos sacrifícios como se deduz duma carta no Expositor (setembro 1890), referente à sua nomeação para Juiz de Fora. Naquele tempo não havia casas pastorais e nem sempre os pastores podiam encontrar proprietários que alugassem casas ou salas para residência e cultos. "Por enquanto estamos vivendo como imigrantes - a casa despida; não há cadeira, uma mesa. Esta carta que lhe mando é escrita em cima dum banco que eu fiz; e a minha cadeira é o colchão ainda no chão de maneira que estou escrevendo esta de joelhos". O Rev. Antônio Cardoso da Fonseca - foi mais um dos fiéis entre os fiéis pioneiro que muito contribuiu e muito sofreu. Extratos breves de suas cartas ao Expositor Cristão relatam alguns incidentes na sua vida pastoral. Em 15 de novembro de 1890, celebrava culto à noite numa casa na estação de Palmeiras, quando trabalhadores atiraram contra a casa uma bomba de dinamite. A bomba não causou conseqüências funestas, como podia ter acontecido, porque felizmente arrebentou um pouco além da casa. Continuamente ameaçado por pregar ali, o Rev. Cardoso afinal anunciou: "Virei aqui todas as sextas-feiras, de quinze em quinze dias. Se nessas ocasiões quiserdes ouvir a pregação do Evangelho, vinde; porque ninguém vos forçará a assistir". Noutra ocasião, já em abril de 1891, escreveu que passara uma cena horrorosa no arraial de Guarani. "Tendo sido convidados para uma conferência em Guarani, ali fomos às sete da noite. Quando se começava o culto, fomos agredidos por um grupo de sequazes com uma algazarra infernal a toque de latas e foguetes, gritando: "Morram! Fora com os protestantes“. O grupo compunha-se de mais de 300 pessoas. Tão ameaçados fomos que a dona da casa pediu-nos que fugíssemos pelos fundos, o que fizemos. Noite escura, embrenhamo-nos pela mata - e depois de muitas quedas, chegamos ao leito da estrada de ferro Leopoldina, a uma hora da madrugada". E como freqüentemente acontecia, em contraste com as brutalidades dos perseguidores fanáticos, apareciam homens cultos, inteligentes e liberais, para mostrar a sua indignação e simpatia. Pois quando chegaram à estação de Piraúba para pegar o trem, o subdelegado de Polícia, o chefe da estação, e os passageiros à espera do trem foram corteses em defendê-los.
  • 55. O Rev. Antônio faleceu em 29 de novembro de 1915 - "insigne servo do Senhor" - e sua morte abriu lacuna nas fileiras do metodismo. Mas como que para substituí-lo no plano divino, naquele mesmo ano, surgiram no meio dos obreiros mais dois grandes servos: Guaracy Silveira e João França. . Quantos outros nomes podiam ser citados para mostrar a fibra moral e a devoção cristã desses pioneiros que tanto fizeram para que nós tivéssemos hoje a mensagem do Evangelho! Eis apenas alguns: Antônio José de MeIo, herói da guerra do Paraguai que, apesar das honrarias, se tornara um beberrão. Conduzido a Cristo pelo exemplo e as palavras de Ludgero de Miranda, tornou-se destemido soldado da Cruz. Jorge L. Bekcer, que em Ubá, com outro dedicado pastor, Antônio J. de Araújo, foram em 1893 surrados com paus e chicotes, e Becker esfaqueado (Kennedy, pág. 75). Bento Braga de Araújo, jovem que estudou nos Estados Unidos, licenciado a pregar na Conferência de 1898 e ordenado diácono e presbítero. Brilhante, benquisto entre as seus colegas, estava em seu posto em Ribeirão Preto quando a cidade foi assolada por uma terrível epidemia de febre amarela. Contando a história, escreve a Rev. Kennedy: "O postar recusando-se a sair e deixar o seu povo, dedicou-se também a campanha contra o flagelo. Passaram-se dias cheios de trabalho e cansaço, mas sempre com animação e esperança, até que um dia o Rev. Bento Braga foi vitimado pela insaciável mensageira da morte". Veio a falecer na dia 29 de março de 1903, o herói espiritual que não deixou abandonado o seu posto de fiel pastor. Guilherme da Costa, outra valioso ministro a quem em 1904, a morte roubou a vida. Morreu cedo vitimado pela varíola. Osório Caire, que quando pastor em Vila Isabel, muito fez para conquistar a simpatia da Sra. Anna Gonzaga e contribuísse para que ela doasse ao metodismo da Guanabara a propriedade valiosíssima que hoje abriga, instrui e guia os destinos de centenas de crianças desamparadas daquela região. E... Inúmeros outros cujos nomes estão escritos no livro dos santos e mártires nos Céus.