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A história de um sessentão Por Renato Cardoso
Um dia, de repente, me senti velho, rejeitado, sem serventia para nada a não ser para cuidar de netos. Minhas opiniões não serviam mais e minhas conversas eram desatualizadas, sem razão de ser, inconvenientes.
Senti-me isolado, superado, usado e jogado fora, como um chiclete mascado por vários minutos e que agora estivesse insosso  e incomodando na boca.
Não que o que eu propunha não fizesse sentido, mas era o momento do novo, do jovem, do "plugado", antenado, moderno, atual.
De nada valiam os mais de quarenta anos de trabalho duro, escoados de um início de carreira num balcão de uma pequena "venda"  de Piratininga para as obrigações de "office boy" num escritório de contabilidade, e evoluindo, a seguir, para o afã de cinco anos de Bradesco, em tempos de máquinas quase manuais, muito distantes da era dos computadores.
O que poderia falar dos vários anos dedicados à Volkswagen do Brasil, acompanhando instalações de revendas, orientando os procedimentos de mercado, informando as técnicas de comunicação assimiladas por muitos treinamentos na então fábrica de São Bernardo do Campo?
E dos cinco anos de faculdade, pagos através de uma permuta que eu mesmo intermediara envolvendo a ITE e a Rádio Terra Branca do saudoso Horácio Cunha, então dirigida por Roberto Purini, com o compromisso de apresentar programas dominicais dedicados a universitários?
Que dizer dos muitos cursos paralelos às minhas atividades, dos treinamentos, viagens, leituras, filmes, jornais e revistas que faziam parte da minha rotina? Pra que tudo aquilo?
Não fazia sentido, nos tempos modernos, a minha apresentação embasada em experiência de vida. Quando queria dizer que na Rede Globo, em sua matriz comercial, em São Paulo, era assim que funcionava, os "jbs" ( classificação dada aos "jovens brilhantes", instituída pelo Grupo Garantia) davam risada e reforçavam ainda mais minha sensação de ser desatualizado, dispensável e inadequado.
Uma dedicada passagem pelo Diário de Bauru, um jornal sem apoio de seus proprietários, para que servia nos tempos  modernos?
Que peso tinha isso nas propostas que eu preparava e enviada para as empresas?  Fui ver como funcionava o mercado  profissional com algo novo, trazido dos Estados Unidos, as "Head Hunters" e meu currículo não se encaixava no que pretendia o mercado de trabalho da época.
Eu tinha participado da maior revolução no segmento comunicação, que só deu certo porque seu perfeito funcionamento interessava aos poderosos grupos financeiros. Vivi pessoalmente a implantação da comunicação por fibras óticas, e depois por satélites, trafeguei nas viagens dos gênios da época que criaram e conduziram a implantação de tudo isso  que está aí.
Conduzi a construção de uma rede cabo coaxial mesclada por fibras óticas numa extensão de 720 quilômetros em minha cidade. Acompanhei de perto cada preparação, montagem e lançamento dos canais da Globosat, tendo convivido com Wilson Cunha, Helton Simões e tantos outros papas que ainda aparecem no topo dos expedientes dos melhores programas transmitidos pela GNT, Multishow, Telecine e outros.
Vivi a emoção de apertar o botão do  "head end" da operadora de televisão a cabo, então Multicanal, de cada canal estrangeiro que está aí. Vivi as emoções dos árabes ao assistirem o primeiro programa no Brasil da TV Dubai.
Vi as lágrimas descerem dos olhos do  Moussa Tobias ao assistir as primeiras imagens. Emocionei-me com Pepe Alvarez, quando lançamos no BTC a TV Espanhola.
Foi assim com a RTP (portuguesa), TV 5 (canadense), Rai (italiana) e mais ainda quando conseguia multiplicar a abrangência de atuação de canais como a TV Preve, Rede Vida (que começou pela operadora que eu dirigia e senti a emoção de minha sogra, extremamente religiosa, declarando que aquilo era uma manifestação de Deus, pois suas pernas não mais lhe permitiam caminhar até a igreja mais próxima).
Mas pra que tudo aquilo, se a estrutura já estava pronta e nada de novo um homem com mais de sessenta anos podia  acrescentar? Experiência pra quê, se os computadores estavam aí, fazendo tudo aquilo que o raciocínio, a genialidade e a experiência realizavam quando exerciam o importante papel de conduzir ações?
A cada currículo enviado e nenhuma satisfação da empresa que o recebia ser emitida, sentia-me sem razão de ser, sem  encontrar meu lugar no mundo profissional.
Olhava para o meu armário e via os meus pijamas.Teria chegado a hora de vestir um deles e apenas passar a cuidar de minhas plantas? Já teria passado a oportunidade de me apresentar como um profissional com muito a oferecer?
Foi um período triste, caí em depressão, isolei-me, pois tinha receio de ter-me transformado num chato, com conversa superada e inoportuna. Quando opinava, de pronto via os semblantes dos jovens  insinuar minha condição de coisa usada, sapato velho, meia furada.
Fui convivendo com a triste realidade, quase me conformei com a situação e desisti de continuar perseguindo. Mas algo, adquirido durante o longo período de muito trabalho e preparação profissional, dizia-me que não era assim, que haveria de chegar um momento em que a experiência iria conviver harmonicamente com a tecnologia, que continuava e continua a se renovar a cada minuto.
Persisti mais um pouco e fui aprender a ligar um computador. Achei uma professora especializada em dar aulas para a terceira idade. Fomos nós, minha esposa e eu, ingressar no aprendizado dessa coisa maluca, que permitia conversar por aparelhos estranhos, movidos a mouse e teclas e com uma tela imensa sobre a mesa de meu escritório.
Foi difícil, pois minha cabeça fora formada profissionalmente convivendo com a velha máquina de escrever e calculadora  a pilha. No jornal que dirigi, convivi com a linotipo, romanticamente usada pelo velho Senhor José, que construía artesanalmente letra por letra de cada palavra das frases que compunham um brilhante artigo do hoje velho jornalista.
Tenho guardado comigo muitos de seus artigos, pois não havia o Google para exercer a função de cofre de tudo como o que hoje há na internet. Brigava com parentes e amigos a cada não devolução de um livro emprestado, cada disco, cada jornal velho com o que havia de melhor, escrito pelos experientes e então jovens, esses sim, brilhantes jornalistas.
Fui me inteirando, aprendi o que queria dizer 'Windows", depois senti que tinha que começar pelo 'Word", assimilei técnicas de "salvar como", vi que podia "arquivar" fotos e outras imagens em pastas apropriadas e senti que havia uma luz no final do túnel.
Senti que podia, ainda, oferecer-me ao mercado de trabalho, conjugando experiência profissional, vivência e maturidade com visão do mundo moderno, adquirida através de leituras, programas de entrevistas, noticiários, livros, filmes e atualidades com o domínio da tecnologia moderna.
Fui ficando encantado com o que era possível fazer pelos computadores de então, um simples pentium 100. Encantei-me com a primeira máquina digital para fotografias que adquiri a preço de ouro (e à prestação). Na Yashika salvava em disquetes, para depois poder inserir o que retratara, no meu então moderno computador.
Comecei a ficar mais aliviado e passei a me sentir mais fortalecido. Desisti do convívio dos amigos e quase até da família, pois o objetivo era tão determinante, que nada mais importava. Era cobrado pelos filhos, mas pedia a todos um tempo, porque não podia perder a seqüência técnica, já que minha velha cabeça fora preparada para outras formas de composição. Eu faço parte de uma geração que fazia e faz contas "de cabeça", com resultados quase tão rápidos e precisos como os das calculadoras. Mas continuei perseguindo.
Passados alguns anos, vejo-me manuseando um computador como um jovem brilhante. Conheço o "hardware" e o "software". Domino o Outlook, o Word, o PowerPoint, o Photoshop, o Axess, o Excel, o Corel Draw. Domino, domino, domino!
Minha experiência vale muito agora e me vejo  cercado por jovens. Professores universitários me indicam como referência em modernidade conjugada com experiência de vida. Fico feliz quando um jovem me procura, mas morro de felicidade quando um sessentão me exibe sua "expertise" num Windows XP.
Voltei a viver, ocupo meu espaço, sinto-me útil. Tenho trabalho, gosto do que faço e sinto o efeito do que produzo. Tenho "jbs" a me assessorar e procuro conjugar a velocidade de raciocínio de um jovem universitário com o que aprendi em quase cinqüenta anos de dedicação profissional.
Faço as coisas rapidamente, sinto os efeitos na comunidade onde atuo. Voltei a viver e me sobra tempo para a família, para os amigos. Hoje eles me entendem, pois usam os computadores como eu, alguns apenas depois de eu os ter iniciado no manuseio de PCs.
Por dessemelhança e desarmonia de tempo não tínhamos como estabelecer comunicação. Eles estavam num tempo e eu em outro. Fazer o quê? Este foi apenas mais um desafio da geração que passou por 1.968... o ano que não terminou.
Conto com orgulho minha história profissional que nada tem de especial, pois é a mesma da grande maioria de pessoas como eu, hoje avós, com mais de sessenta anos, e felizes da vida por mandar e-mails, ver os netos que moram fora pelo Messenger, digitar textos sobre qualquer tema, sentir o valor de suas apresentações, orgulhar-se ao mostrá-las para a esposa e filhos, e ver o que sua cabeça velha ainda é capaz de produzir.
Ao ler num jornal da cidade aquilo que se escreveu e enviou por e-mail para um jornalista estratégico, em se tratando de determinado assunto, a satisfação e a receptividade são louros que encimam a nossa fronte de sexagenários respeitados e atuantes.
Nossa geração pode se orgulhar por mais essa conquista, pois participamos da maior revolução cultural, política e social da história da humanidade, nos idos de 60 e 70 do século passado, e somos hoje peça importante na maior revolução tecnológica que já ocorreu no  mundo.
Obrigado, Bill Gates, por entender o valor dos  ainda não-descartados e não - descartáveis, por obra e graça da era digital.
(*) Renato Cardoso é publicitário, advogado e webscripter.
Imagens enviads por Roelof.  http://slideshare.web-log.nl   www.vivendobauru.com.br

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Sessentão

  • 1. A história de um sessentão Por Renato Cardoso
  • 2. Um dia, de repente, me senti velho, rejeitado, sem serventia para nada a não ser para cuidar de netos. Minhas opiniões não serviam mais e minhas conversas eram desatualizadas, sem razão de ser, inconvenientes.
  • 3. Senti-me isolado, superado, usado e jogado fora, como um chiclete mascado por vários minutos e que agora estivesse insosso e incomodando na boca.
  • 4. Não que o que eu propunha não fizesse sentido, mas era o momento do novo, do jovem, do "plugado", antenado, moderno, atual.
  • 5. De nada valiam os mais de quarenta anos de trabalho duro, escoados de um início de carreira num balcão de uma pequena "venda" de Piratininga para as obrigações de "office boy" num escritório de contabilidade, e evoluindo, a seguir, para o afã de cinco anos de Bradesco, em tempos de máquinas quase manuais, muito distantes da era dos computadores.
  • 6. O que poderia falar dos vários anos dedicados à Volkswagen do Brasil, acompanhando instalações de revendas, orientando os procedimentos de mercado, informando as técnicas de comunicação assimiladas por muitos treinamentos na então fábrica de São Bernardo do Campo?
  • 7. E dos cinco anos de faculdade, pagos através de uma permuta que eu mesmo intermediara envolvendo a ITE e a Rádio Terra Branca do saudoso Horácio Cunha, então dirigida por Roberto Purini, com o compromisso de apresentar programas dominicais dedicados a universitários?
  • 8. Que dizer dos muitos cursos paralelos às minhas atividades, dos treinamentos, viagens, leituras, filmes, jornais e revistas que faziam parte da minha rotina? Pra que tudo aquilo?
  • 9. Não fazia sentido, nos tempos modernos, a minha apresentação embasada em experiência de vida. Quando queria dizer que na Rede Globo, em sua matriz comercial, em São Paulo, era assim que funcionava, os "jbs" ( classificação dada aos "jovens brilhantes", instituída pelo Grupo Garantia) davam risada e reforçavam ainda mais minha sensação de ser desatualizado, dispensável e inadequado.
  • 10. Uma dedicada passagem pelo Diário de Bauru, um jornal sem apoio de seus proprietários, para que servia nos tempos modernos?
  • 11. Que peso tinha isso nas propostas que eu preparava e enviada para as empresas? Fui ver como funcionava o mercado profissional com algo novo, trazido dos Estados Unidos, as "Head Hunters" e meu currículo não se encaixava no que pretendia o mercado de trabalho da época.
  • 12. Eu tinha participado da maior revolução no segmento comunicação, que só deu certo porque seu perfeito funcionamento interessava aos poderosos grupos financeiros. Vivi pessoalmente a implantação da comunicação por fibras óticas, e depois por satélites, trafeguei nas viagens dos gênios da época que criaram e conduziram a implantação de tudo isso que está aí.
  • 13. Conduzi a construção de uma rede cabo coaxial mesclada por fibras óticas numa extensão de 720 quilômetros em minha cidade. Acompanhei de perto cada preparação, montagem e lançamento dos canais da Globosat, tendo convivido com Wilson Cunha, Helton Simões e tantos outros papas que ainda aparecem no topo dos expedientes dos melhores programas transmitidos pela GNT, Multishow, Telecine e outros.
  • 14. Vivi a emoção de apertar o botão do "head end" da operadora de televisão a cabo, então Multicanal, de cada canal estrangeiro que está aí. Vivi as emoções dos árabes ao assistirem o primeiro programa no Brasil da TV Dubai.
  • 15. Vi as lágrimas descerem dos olhos do Moussa Tobias ao assistir as primeiras imagens. Emocionei-me com Pepe Alvarez, quando lançamos no BTC a TV Espanhola.
  • 16. Foi assim com a RTP (portuguesa), TV 5 (canadense), Rai (italiana) e mais ainda quando conseguia multiplicar a abrangência de atuação de canais como a TV Preve, Rede Vida (que começou pela operadora que eu dirigia e senti a emoção de minha sogra, extremamente religiosa, declarando que aquilo era uma manifestação de Deus, pois suas pernas não mais lhe permitiam caminhar até a igreja mais próxima).
  • 17. Mas pra que tudo aquilo, se a estrutura já estava pronta e nada de novo um homem com mais de sessenta anos podia acrescentar? Experiência pra quê, se os computadores estavam aí, fazendo tudo aquilo que o raciocínio, a genialidade e a experiência realizavam quando exerciam o importante papel de conduzir ações?
  • 18. A cada currículo enviado e nenhuma satisfação da empresa que o recebia ser emitida, sentia-me sem razão de ser, sem encontrar meu lugar no mundo profissional.
  • 19. Olhava para o meu armário e via os meus pijamas.Teria chegado a hora de vestir um deles e apenas passar a cuidar de minhas plantas? Já teria passado a oportunidade de me apresentar como um profissional com muito a oferecer?
  • 20. Foi um período triste, caí em depressão, isolei-me, pois tinha receio de ter-me transformado num chato, com conversa superada e inoportuna. Quando opinava, de pronto via os semblantes dos jovens insinuar minha condição de coisa usada, sapato velho, meia furada.
  • 21. Fui convivendo com a triste realidade, quase me conformei com a situação e desisti de continuar perseguindo. Mas algo, adquirido durante o longo período de muito trabalho e preparação profissional, dizia-me que não era assim, que haveria de chegar um momento em que a experiência iria conviver harmonicamente com a tecnologia, que continuava e continua a se renovar a cada minuto.
  • 22. Persisti mais um pouco e fui aprender a ligar um computador. Achei uma professora especializada em dar aulas para a terceira idade. Fomos nós, minha esposa e eu, ingressar no aprendizado dessa coisa maluca, que permitia conversar por aparelhos estranhos, movidos a mouse e teclas e com uma tela imensa sobre a mesa de meu escritório.
  • 23. Foi difícil, pois minha cabeça fora formada profissionalmente convivendo com a velha máquina de escrever e calculadora a pilha. No jornal que dirigi, convivi com a linotipo, romanticamente usada pelo velho Senhor José, que construía artesanalmente letra por letra de cada palavra das frases que compunham um brilhante artigo do hoje velho jornalista.
  • 24. Tenho guardado comigo muitos de seus artigos, pois não havia o Google para exercer a função de cofre de tudo como o que hoje há na internet. Brigava com parentes e amigos a cada não devolução de um livro emprestado, cada disco, cada jornal velho com o que havia de melhor, escrito pelos experientes e então jovens, esses sim, brilhantes jornalistas.
  • 25. Fui me inteirando, aprendi o que queria dizer 'Windows", depois senti que tinha que começar pelo 'Word", assimilei técnicas de "salvar como", vi que podia "arquivar" fotos e outras imagens em pastas apropriadas e senti que havia uma luz no final do túnel.
  • 26. Senti que podia, ainda, oferecer-me ao mercado de trabalho, conjugando experiência profissional, vivência e maturidade com visão do mundo moderno, adquirida através de leituras, programas de entrevistas, noticiários, livros, filmes e atualidades com o domínio da tecnologia moderna.
  • 27. Fui ficando encantado com o que era possível fazer pelos computadores de então, um simples pentium 100. Encantei-me com a primeira máquina digital para fotografias que adquiri a preço de ouro (e à prestação). Na Yashika salvava em disquetes, para depois poder inserir o que retratara, no meu então moderno computador.
  • 28. Comecei a ficar mais aliviado e passei a me sentir mais fortalecido. Desisti do convívio dos amigos e quase até da família, pois o objetivo era tão determinante, que nada mais importava. Era cobrado pelos filhos, mas pedia a todos um tempo, porque não podia perder a seqüência técnica, já que minha velha cabeça fora preparada para outras formas de composição. Eu faço parte de uma geração que fazia e faz contas "de cabeça", com resultados quase tão rápidos e precisos como os das calculadoras. Mas continuei perseguindo.
  • 29. Passados alguns anos, vejo-me manuseando um computador como um jovem brilhante. Conheço o "hardware" e o "software". Domino o Outlook, o Word, o PowerPoint, o Photoshop, o Axess, o Excel, o Corel Draw. Domino, domino, domino!
  • 30. Minha experiência vale muito agora e me vejo cercado por jovens. Professores universitários me indicam como referência em modernidade conjugada com experiência de vida. Fico feliz quando um jovem me procura, mas morro de felicidade quando um sessentão me exibe sua "expertise" num Windows XP.
  • 31. Voltei a viver, ocupo meu espaço, sinto-me útil. Tenho trabalho, gosto do que faço e sinto o efeito do que produzo. Tenho "jbs" a me assessorar e procuro conjugar a velocidade de raciocínio de um jovem universitário com o que aprendi em quase cinqüenta anos de dedicação profissional.
  • 32. Faço as coisas rapidamente, sinto os efeitos na comunidade onde atuo. Voltei a viver e me sobra tempo para a família, para os amigos. Hoje eles me entendem, pois usam os computadores como eu, alguns apenas depois de eu os ter iniciado no manuseio de PCs.
  • 33. Por dessemelhança e desarmonia de tempo não tínhamos como estabelecer comunicação. Eles estavam num tempo e eu em outro. Fazer o quê? Este foi apenas mais um desafio da geração que passou por 1.968... o ano que não terminou.
  • 34. Conto com orgulho minha história profissional que nada tem de especial, pois é a mesma da grande maioria de pessoas como eu, hoje avós, com mais de sessenta anos, e felizes da vida por mandar e-mails, ver os netos que moram fora pelo Messenger, digitar textos sobre qualquer tema, sentir o valor de suas apresentações, orgulhar-se ao mostrá-las para a esposa e filhos, e ver o que sua cabeça velha ainda é capaz de produzir.
  • 35. Ao ler num jornal da cidade aquilo que se escreveu e enviou por e-mail para um jornalista estratégico, em se tratando de determinado assunto, a satisfação e a receptividade são louros que encimam a nossa fronte de sexagenários respeitados e atuantes.
  • 36. Nossa geração pode se orgulhar por mais essa conquista, pois participamos da maior revolução cultural, política e social da história da humanidade, nos idos de 60 e 70 do século passado, e somos hoje peça importante na maior revolução tecnológica que já ocorreu no mundo.
  • 37. Obrigado, Bill Gates, por entender o valor dos ainda não-descartados e não - descartáveis, por obra e graça da era digital.
  • 38. (*) Renato Cardoso é publicitário, advogado e webscripter.
  • 39. Imagens enviads por Roelof. http://slideshare.web-log.nl www.vivendobauru.com.br