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BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4ed. São Paulo: Martins
                   Fontes, 2003. Adendo: p. 261-306.
        Esquema elaborado por Simone Garofalo para a disciplina da Professora Reinildes Dias – LIG905 C -
        Multiletramentos: leitura e escrita em LE e aplicações pedagógicas (2012/01) – POLIN/FALE/UFMG




                                     OS GÊNEROS DO DISCURSO

1. O problema e sua definição
   •    Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem; o caráter e as
        formas desse uso são tão multiformes quanto os campos da atividade humana.
   •    O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos); esses enunciados refletem
        as condições específicas e as finalidades de cada referido campo, por seu conteúdo (temático), por
        seu estilo da linguagem e por sua construção composicional.
   •    Cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos
        relativamente estáveis de enunciados, denominados gêneros discursivos.
   •    A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as
        possibilidades da multiforme atividade humana; há uma extrema heterogeneidade dos gêneros do
        discurso (orais e escritos).
   •    A questão geral dos gêneros discursivos nunca foi verdadeiramente colocada. Estudavam-se os
        gêneros literários, num corte da sua especificidade artístico-literária, nas distinções diferenciais entre
        eles (no âmbito da literatura) e não como determinados tipos de enunciados, que são diferentes de
        outros tipos mas que têm com estes uma natureza verbal (linguística) comum. Quase não se levava
        em conta a questão linguística geral do enunciado e dos seus tipos.
   •    Gêneros discursivos primários e secundários:
        − A diferença essencial entre os gêneros discursivos primários (simples) e secundários
            (complexos) não se trata de uma diferença funcional.
        − Os gêneros discursivos secundários (complexos – romances, dramas, pesquisas científicas, etc.)
            surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito
            desenvolvido e organizado (predominantemente o escrito) – artístico, científico, sociopolítico,
            etc.
        − No processo de sua formação eles incorporam e reelaboram diversos gêneros primários
            (simples), que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata.
        − Esses gêneros primários, que integram os complexos, aí se transformam e adquirem um caráter
            especial: perdem o vínculo imediato com a realidade concreta e os enunciados reais alheios.
        − A própria relação mútua dos gêneros primários e secundários e o processo de formação histórica
            dos gêneros secundários lançam luz sobre a natureza do enunciado (e antes de tudo sobre o
            complexo problema da relação de reciprocidade entre linguagem e ideologia).


   •    Importância do estudo dos gêneros:
        − Todo trabalho de investigação de um material linguístico concreto opera inevitavelmente com
            enunciados concretos (escritos e orais) relacionados a diferentes campos da atividade humana e
            da comunicação – anais, tratados, textos de leis, cartas oficiais, etc.
        − Em qualquer corrente especial de estudo faz-se necessária uma noção precisa da natureza dos
enunciados em geral e das particularidades dos diversos tipos de enunciados (primários e
           secundários), isto é, dos diversos gêneros do discurso.
       − A língua passa a integrar a vida através de enunciados concretos (que a realizam); é igualmente
           através de enunciados concretos que a vida entra na língua.
   •   Estilística:
       − Todo estilo está indissoluvelmente ligado ao enunciado e às formas típicas de enunciados, ou
           seja, aos gêneros do discurso.
       − Todo enunciado é individual e por isso pode refletir a individualidade do falante (ou de quem
           escreve). Entretanto, nem todos os gêneros são igualmente propícios a tal reflexo da
           individualidade do falante na linguagem do enunciado. As condições menos propícias para o
           reflexo da individualidade na linguagem estão presentes naqueles gêneros do discurso que
           requerem uma forma padronizada (ex.: modalidades de documentos oficiais, de ordens militares,
           etc.).
       − Os estilos de linguagem ou funcionais são estilos de gênero de determinadas esferas da atividade
           humana e da comunicação. Em cada campo existem e são empregados gêneros que
           correspondem às condições específicas de dado campo.
       − Uma determinada função (científica, técnica, publicística, oficial, cotidiana) e determinadas
           condições de comunicação discursiva, específicas de cada campo, geram determinados gêneros,
           isto é, determinados tipos de enunciados estilísticos, temáticos e composicionais relativamente
           estáveis.
       − O estilo integra a unidade de gênero do enunciado como seu elemento.
       − A linguagem literária é um sistema dinâmico e complexo de estilos de linguagem; o peso
           específico desses estilos e sua inter-relação no sistema da linguagem literária estão em mudança
           permanente.
   •   Os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros discursivos são correias de transmissão entre a história
       da sociedade e a história da linguagem.
   •   Dialogização:
       − Quando recorremos às respectivas camadas não literárias da língua nacional estamos recorrendo
           inevitavelmente também aos gêneros do discurso em que se realizam essas camadas.
       − Trata-se de diferentes tipos de gêneros de conversação e diálogo; daí a dialogização mais ou
           menos brusca dos gêneros secundários, o enfraquecimento de sua composição monológica, a
           nova sensação do ouvinte como parceiro-interlocutor, as novas formas de conclusão do todo, etc.
       − Onde há estilo há gênero.
       − A passagem do estilo de um gênero para outro não só modifica o som do estilo nas condições do
           gênero que não lhe é próprio como destrói ou renova tal gênero.
   •   Pode-se dizer que a gramática e a estilística convergem e divergem em qualquer fenômeno concreto
       de linguagem: se o examinamos apenas no sistema da língua estamos diante de um fenômeno
       gramatical, mas se o examinamos no conjunto de um enunciado individual ou do gênero discursivo
       já se trata de um fenômeno estilístico.

2. O enunciado como unidade da comunicação discursiva: diferença entre essa unidade e as
       unidades da língua (palavras e orações)
   •   A Linguística do século XIX, sem negar a função comunicativa da linguagem, procurou colocá-la
       em segundo plano: promovia-se ao primeiro plano a função da formação do pensamento,
       independente da comunicação.
   •   Outros colocavam em primeiro plano a chamada função expressiva: sua essência se resume à
       expressão do mundo individual do falante. A língua é deduzida da necessidade do homem de auto-
expressar-se, de objetivar-se.
•   Função comunicativa: a linguagem é considerada do ponto de vista do falante, como que de um
    falante sem a relação necessária com outros participantes da comunicação discursiva. Se era levado
    em conta o papel do outro, era apenas como papel de ouvinte que apenas compreende passivamente
    o falante.
•   Objetivo real da comunicação discursiva: o ouvinte, ao perceber e compreender o significa
    (linguístico) do discurso, ocupa simultaneamente em relação a ela uma ativa posição responsiva:
    concorda ou discorda dele (total ou parcialmente), completa-o, aplica-o, prepara-se para usá-lo, etc.
•   Toda compreensão da fala viva, do enunciado vivo é de natureza ativamente responsiva (embora o
    grau desse ativismo seja bastante diverso); é uma fase inicial preparatória da resposta (seja qual for a
    forma em que ela se dê).
•   Cada enunciado é um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados.
•   O enunciado é a real unidade da comunicação discursiva, porque o discurso só pode existir de fato
    na forma de enunciações concretas de determinados falantes, sujeitos do discurso.
•   Os limites de cada enunciado concreto como unidade da comunicação discursiva são definidos pela
    alternância dos sujeitos do discurso.
•   Todo enunciado tem um princípio absoluto e um fim absoluto: antes do seu início, os enunciados de
    outros; depois do seu término, os enunciados responsivos de outros (ou ao menos uma compreensão
    ativamente responsiva silenciosa do outro ou uma ação responsiva baseada nessa compreensão).
•   Observamos essa alternância dos sujeitos do discurso de modo mais simples e evidente no diálogo
    real, em que se alternam as enunciações dos interlocutores (parceiros do diálogo). Por sua precisão e
    simplicidade, o diálogo é a forma clássica de comunicação discursiva.
•   O problema da oração como unidade da língua em sua distinção em face do enunciado como
    unidade da comunicação discursiva:
    − Os limites da oração enquanto unidade da língua nunca são determinados pela alternância de
        sujeitos do discurso.
    − Essa alternância converte-a em um enunciado pleno. Essa oração assume novas qualidades e é
        percebida de modo inteiramente diverso de como é percebida a oração emoldurada por outras
        orações no contexto de um enunciado desse ou daquele falante.
    − A oração é um pensamento relativamente acabado, imediatamente correlacionado com outros
        pensamentos do mesmo falante no conjunto do seu enunciado. O contexto da oração é o contexto
        da fala do mesmo sujeito do discurso (falante).
    − A oração não se correlaciona de imediato nem pessoalmente com o contexto extraverbal da
        realidade (a situação, o ambiente, a pré-história) nem com as enunciações de outros falantes, mas
        tão somente através de todo o contexto que a rodeia, isto é, através do enunciado em seu
        conjunto.
    − Quando a oração se torna enunciado pleno ganha uma validade semântica especial.
    − A oração enquanto unidade da língua tem natureza gramatical, fronteiras gramaticais, lei
        gramatical e unidade.
    − Muitos linguistas e correntes linguísticas (no campo da sintaxe) são prisioneiros dessa confusão,
        e o que estudam como oração é, no fundo, algum híbrido de oração (de unidade da língua) e de
        enunciado (de unidade da comunicação discursiva).
•   Peculiaridades constitutivas do enunciado como unidade da comunicação discursiva:
•   1ª peculiaridade - A alternância dos sujeitos do discurso, que emoldura o enunciado e cria para ele a
    massa firma, rigorosamente delimitada dos outros enunciados a ele vinculados, é a primeira
    peculiaridade constitutiva do enunciado como unidade da comunicação discursiva, que o distingue
    da unidade da língua.
•   2ª peculiaridade - Conclusibilidade específica do enunciado: é uma espécie de aspecto interno da
    alternância dos sujeitos do discurso; essa alternância pode ocorrer precisamente porque o falante
    disse (ou escreveu) tudo o que quis dizer em dado momento sob dadas condições.
    − 1º critério de conclusibilidade do enunciado é a possibilidade de responder a ele. Uma oração
       absolutamente compreensível e acabada, se é oração e não enunciado constituído por uma
       oração, não pode suscitar atitude responsiva: isso é compreensível, mas ainda não é tudo. Essa
       inteireza acabada do enunciado, que assegura a possibilidade de resposta (ou de compreensão
       responsiva), é determinada por três elementos (ou fatores):
       1) exauribilidade do objeto e do sentido
           °   Essa exauribilidade pode ser quase extremamente plena em alguns campos da vida, em
               alguns campos oficiais, etc., isto é, naqueles campos em que os gêneros do discurso são
               de natureza sumamente padronizada e o elemento criativo está ausente quase por
               completo.
           °   Nos campos da criação, ao contrário, só é possível uma única exauribilidade semântico-
               objetal muito relativa.
       2) projeto de discurso ou vontade de discurso do falante
           °   Em cada enunciado abrangemos, interpretamos, sentimos a intenção discursiva de
               discurso ou a vontade discursiva do falante, que determina o todo do enunciado, o seu
               volume e as sua fronteiras.
           °   Essa ideia determina tanto a própria escolha do objeto quanto os seus limites e a sua
               exauribilidade semântico-objetal. Determina também a escolha da forma do gênero na
               qual será construído o enunciado.
       3) formas típicas composicionais e de gênero do acabamento
           °   A vontade discursiva do falante se realiza antes de tudo na escolha de um certo gênero
               do discurso.
           °   Todos os nossos enunciados possuem formas relativamente estáveis e típicas de
               construção do todo.
           °   Em termos práticos, nós os empregamos de forma segura e habilidosa, mas em termos
               teóricos podemos desconhecer inteiramente a sua existência.
           °   Aprender a falar significa aprender a construir enunciados (porque falamos por
               enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por palavras isoladas). Os
               gêneros do discurso organizam o nosso discurso quase da mesma forma que o organizam
               as formas gramaticais (sintáticas).
           °   Se os gêneros do discurso não existissem e nós não os dominássemos, se tivéssemos de
               criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de construir livremente e pela
               primeira vez cada enunciado, a comunicação discursiva seria quase impossível.
           °   A diversidade dos gêneros é determinada pelo fato de que eles são diferentes em função
               da situação, da posição social e das relações pessoais de reciprocidade entre os
               participantes da comunicação.
           °   Ao falante não são dadas apenas as formas da língua (a composição vocabular e a
               estrutura gramatical) obrigatórias para ele, mas também as formas de enunciado para ele
               obrigatórias, isto é, os gêneros do discurso: estes são tão indispensáveis para a
               compreensão mútua quanto as formas da língua.
           °   Os gêneros do discurso, comparados às formas da língua, são bem mais mutáveis,
               flexíveis e plásticos; entretanto, para o indivíduo falante eles têm significado normativo,
               não são criados por ele, mas dados a ele.
°   Por isso um enunciado singular de forma alguma pode ser considerado uma combinação
               absolutamente livre de formas da língua, como o supõe, por exemplo, Saussure, que
               contrapõe enunciado (la parole) como ato puramente individual ao sistema da língua
               como fenômeno puramente social e obrigatório para o indivíduo.
           °   Escolhemos um tipo de oração do ponto de vista do enunciado inteiro que se apresenta à
               nossa imaginação discursiva e determina a nossa escolha.
           °   Uma das causas do desconhecimento linguístico das formas de enunciado é a extrema
               heterogeneidade destas no tocante à construção composicional e particularmente à sua
               dimensão (a extensão do discurso). Por essas razões, os gêneros do discurso se afiguram
               incomensuráveis e inexplicáveis na condição de unidades do discurso.
           °   Como a palavra, a oração é uma unidade significativa da língua. Por isso, cada oração
               isolada é absolutamente compreensível, isto é, nós compreendemos o seu significado
               linguístico, o seu papel possível no enunciado. Entretanto, não é possível ocupar uma
               posição responsiva em relação a uma posição isolada se não sabemos que o falante disse
               com essa oração tudo o que quis dizer, que essa oração não é antecedida nem sucedida
               por outras orações do mesmo falante.
           °   Como a palavra, a oração possui conclusibilidade de significado e conclusibilidade de
               forma gramatical, mas essa conclusibilidade de significado é de índole abstrata e por
               isso mesmo tão precisa: é o acabamento do elemento, mas não o acabamento do todo.
           °   A oração como unidade da língua, à semelhança da palavra, não tem autor. Ela é de
               ninguém, como a palavra, e só funcionando como um enunciado pleno ela se torna
               expressão da posição do falante individual em uma situação concreta de comunicação
               discursiva.
•   3ª peculiaridade - A relação do enunciado com o própria falante (autor do enunciado) e com os
    outros participantes da comunicação discursiva:
    − Todo enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva. É a posição ativa do falante
       nesse ou naquele campo do objeto e do sentido. A escolha dos meios linguísticos e dos gêneros
       de discurso é determinado, antes de tudo, pelas tarefas (pela ideia) do sujeito do discurso (ou
       autor) centradas no objeto e no sentido.
•   4ª peculiaridade - Elemento expressivo: é a relação subjetiva emocionalmente valorativa do falante
    com o conteúdo do objeto e do sentido do seu enunciado.
    − A relação valorativa do falante com o objeto do seu discurso (seja qual for esse objeto) também
       determina a escolha dos recursos lexicais, gramaticais e composicionais do enunciado.
    − A língua como sistema possui um rico arsenal de recursos linguísticos – lexicais, morfológicos e
       sintáticos – para exprimir a posição emocionalmente valorativa do falante, mas todos esses
       recursos enquanto recursos da língua são absolutamente neutros em relação a qualquer avaliação
       real determinada.
    − A oração enquanto unidade da língua também é neutra e em si mesma não tem aspecto
       expressivo; ela o adquire (ou melhor, comunga com ele) unicamente em um enunciado concreto.
    − A emoção, o juízo de valor, a expressão são estranhos à palavra da língua e surgem unicamente
       no processo do seu emprego vivo em um enunciado concreto. Em si mesmo, o significado de
       uma palavra (sem referência à realidade concreta) é extra-emocional.
    − Quando escolhemos as palavras no processo de construção de um enunciado, nem de longe as
       tomamos sempre do sistema da língua em sua forma neutra, lexicográfica. Costumamos tirá-las
       de outros enunciados e antes de tudo de enunciados congêneres com o nosso, isto é, pelo tema,
       pela composição, pelo estilo.
    − Pode-se dizer que qualquer palavra existe para o falante em três aspectos: como palavra da
       língua neutra e não pertencente a ninguém; como palavra alheia dos outros, cheia de ecos de
outros enunciados; e como a minha palavra, porque, uma vez que eu opero com ela em uma
        situação determinada, com uma intenção discursiva determinada, ela já está compenetrada da
        minha expressão.
    − A experiência discursiva individual de qualquer pessoa se forma e se desenvolve em uma
        interação constante e contínua com os enunciados individuais dos outros. Em certo sentido, essa
        experiência pode ser caracterizada como processo de assimilação – mais ou menos criador – das
        palavras do outro (e não das palavras da língua). Nosso discurso, isto é, todos os nossos
        enunciados (inclusive as obras criadas) é pleno de palavras dos outros.
    − Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado
        pela identidade da esfera da comunicação discursiva. Cada enunciado deve ser visto antes de
        tudo como uma resposta aos enunciados precedentes de um determinado campo: ela os rejeita,
        confirma, completa, baseia-se neles, subentende-os como conhecidos, de certo modo os leva em
        conta. É impossível alguém definir sua posição sem correlacioná-la com outras posições.
    −   O enunciado está ligado aos elos precedentes e aos subsequentes da comunicação discursiva.
        Desde o início o enunciado se constrói levando em conta as atitudes responsivas, em prol das
        quais ele, em essência, é criado.
•   5ª peculiaridade - Seu direcionamento a alguém, o seu endereçamento: o enunciado tem autor e
    destinatário.
    − Esse destinatário pode ser um participante-interlocutor direto do diálogo cotidiano, uma
        coletividade diferenciada de especialistas de algum campo, um público mais ou menos
        diferenciado, o povo, os correlegionários, os adversários, o subordinado, o chefe, um estranho,
        etc.; ele também pode ser um outro totalmente indefinido, não concretizado.
    −   Cada gênero do discurso em cada campo da comunicação discursiva tem a sua concepção típica
        de destinatário que o determina como gênero.
    −   A imensa maioria dos gêneros literários é constituída de gêneros secundários, complexos,
        formados por diferentes gêneros primários transformados (réplicas do diálogo, relatos
        cotidianos, cartas, diários, , protocolos, etc.). Tais gêneros secundários da complexa
        comunicação cultural, em regra, representam formas diversas de comunicação discursiva
        primária.
    −   À diferença dos enunciados (e dos gêneros do discurso), as unidades significativas da língua – a
        palavra e a oração por sua própria natureza são desprovidas de direcionamento, de
        endereçamento – não são de ninguém e a ninguém se referem.
    −   Se uma palavra isolada ou uma oração está endereçada, direcionada, temos diante de nós um
        enunciado acabado, constituído de uma palavra ou de uma oração, e o direcionamento pertence
        não a ela como unidades da língua, mas ao enunciado.
    −   A escolha de todos os recursos linguísticos é feita pelo falante sob maior ou menor influência do
        destinatário e da sua resposta antecipada.
    −   A análise estilística, que abrange todos os aspectos do estilo, só é possível como análise de
        um enunciado pleno e só naquela cadeia da comunicação discursiva da qual esse enunciado
        é um elo inseparável.

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Os gêneros do discurso segundo Bakhtin

  • 1. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Adendo: p. 261-306. Esquema elaborado por Simone Garofalo para a disciplina da Professora Reinildes Dias – LIG905 C - Multiletramentos: leitura e escrita em LE e aplicações pedagógicas (2012/01) – POLIN/FALE/UFMG OS GÊNEROS DO DISCURSO 1. O problema e sua definição • Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem; o caráter e as formas desse uso são tão multiformes quanto os campos da atividade humana. • O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos); esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo, por seu conteúdo (temático), por seu estilo da linguagem e por sua construção composicional. • Cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, denominados gêneros discursivos. • A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana; há uma extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos). • A questão geral dos gêneros discursivos nunca foi verdadeiramente colocada. Estudavam-se os gêneros literários, num corte da sua especificidade artístico-literária, nas distinções diferenciais entre eles (no âmbito da literatura) e não como determinados tipos de enunciados, que são diferentes de outros tipos mas que têm com estes uma natureza verbal (linguística) comum. Quase não se levava em conta a questão linguística geral do enunciado e dos seus tipos. • Gêneros discursivos primários e secundários: − A diferença essencial entre os gêneros discursivos primários (simples) e secundários (complexos) não se trata de uma diferença funcional. − Os gêneros discursivos secundários (complexos – romances, dramas, pesquisas científicas, etc.) surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado (predominantemente o escrito) – artístico, científico, sociopolítico, etc. − No processo de sua formação eles incorporam e reelaboram diversos gêneros primários (simples), que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata. − Esses gêneros primários, que integram os complexos, aí se transformam e adquirem um caráter especial: perdem o vínculo imediato com a realidade concreta e os enunciados reais alheios. − A própria relação mútua dos gêneros primários e secundários e o processo de formação histórica dos gêneros secundários lançam luz sobre a natureza do enunciado (e antes de tudo sobre o complexo problema da relação de reciprocidade entre linguagem e ideologia). • Importância do estudo dos gêneros: − Todo trabalho de investigação de um material linguístico concreto opera inevitavelmente com enunciados concretos (escritos e orais) relacionados a diferentes campos da atividade humana e da comunicação – anais, tratados, textos de leis, cartas oficiais, etc. − Em qualquer corrente especial de estudo faz-se necessária uma noção precisa da natureza dos
  • 2. enunciados em geral e das particularidades dos diversos tipos de enunciados (primários e secundários), isto é, dos diversos gêneros do discurso. − A língua passa a integrar a vida através de enunciados concretos (que a realizam); é igualmente através de enunciados concretos que a vida entra na língua. • Estilística: − Todo estilo está indissoluvelmente ligado ao enunciado e às formas típicas de enunciados, ou seja, aos gêneros do discurso. − Todo enunciado é individual e por isso pode refletir a individualidade do falante (ou de quem escreve). Entretanto, nem todos os gêneros são igualmente propícios a tal reflexo da individualidade do falante na linguagem do enunciado. As condições menos propícias para o reflexo da individualidade na linguagem estão presentes naqueles gêneros do discurso que requerem uma forma padronizada (ex.: modalidades de documentos oficiais, de ordens militares, etc.). − Os estilos de linguagem ou funcionais são estilos de gênero de determinadas esferas da atividade humana e da comunicação. Em cada campo existem e são empregados gêneros que correspondem às condições específicas de dado campo. − Uma determinada função (científica, técnica, publicística, oficial, cotidiana) e determinadas condições de comunicação discursiva, específicas de cada campo, geram determinados gêneros, isto é, determinados tipos de enunciados estilísticos, temáticos e composicionais relativamente estáveis. − O estilo integra a unidade de gênero do enunciado como seu elemento. − A linguagem literária é um sistema dinâmico e complexo de estilos de linguagem; o peso específico desses estilos e sua inter-relação no sistema da linguagem literária estão em mudança permanente. • Os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros discursivos são correias de transmissão entre a história da sociedade e a história da linguagem. • Dialogização: − Quando recorremos às respectivas camadas não literárias da língua nacional estamos recorrendo inevitavelmente também aos gêneros do discurso em que se realizam essas camadas. − Trata-se de diferentes tipos de gêneros de conversação e diálogo; daí a dialogização mais ou menos brusca dos gêneros secundários, o enfraquecimento de sua composição monológica, a nova sensação do ouvinte como parceiro-interlocutor, as novas formas de conclusão do todo, etc. − Onde há estilo há gênero. − A passagem do estilo de um gênero para outro não só modifica o som do estilo nas condições do gênero que não lhe é próprio como destrói ou renova tal gênero. • Pode-se dizer que a gramática e a estilística convergem e divergem em qualquer fenômeno concreto de linguagem: se o examinamos apenas no sistema da língua estamos diante de um fenômeno gramatical, mas se o examinamos no conjunto de um enunciado individual ou do gênero discursivo já se trata de um fenômeno estilístico. 2. O enunciado como unidade da comunicação discursiva: diferença entre essa unidade e as unidades da língua (palavras e orações) • A Linguística do século XIX, sem negar a função comunicativa da linguagem, procurou colocá-la em segundo plano: promovia-se ao primeiro plano a função da formação do pensamento, independente da comunicação. • Outros colocavam em primeiro plano a chamada função expressiva: sua essência se resume à expressão do mundo individual do falante. A língua é deduzida da necessidade do homem de auto-
  • 3. expressar-se, de objetivar-se. • Função comunicativa: a linguagem é considerada do ponto de vista do falante, como que de um falante sem a relação necessária com outros participantes da comunicação discursiva. Se era levado em conta o papel do outro, era apenas como papel de ouvinte que apenas compreende passivamente o falante. • Objetivo real da comunicação discursiva: o ouvinte, ao perceber e compreender o significa (linguístico) do discurso, ocupa simultaneamente em relação a ela uma ativa posição responsiva: concorda ou discorda dele (total ou parcialmente), completa-o, aplica-o, prepara-se para usá-lo, etc. • Toda compreensão da fala viva, do enunciado vivo é de natureza ativamente responsiva (embora o grau desse ativismo seja bastante diverso); é uma fase inicial preparatória da resposta (seja qual for a forma em que ela se dê). • Cada enunciado é um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados. • O enunciado é a real unidade da comunicação discursiva, porque o discurso só pode existir de fato na forma de enunciações concretas de determinados falantes, sujeitos do discurso. • Os limites de cada enunciado concreto como unidade da comunicação discursiva são definidos pela alternância dos sujeitos do discurso. • Todo enunciado tem um princípio absoluto e um fim absoluto: antes do seu início, os enunciados de outros; depois do seu término, os enunciados responsivos de outros (ou ao menos uma compreensão ativamente responsiva silenciosa do outro ou uma ação responsiva baseada nessa compreensão). • Observamos essa alternância dos sujeitos do discurso de modo mais simples e evidente no diálogo real, em que se alternam as enunciações dos interlocutores (parceiros do diálogo). Por sua precisão e simplicidade, o diálogo é a forma clássica de comunicação discursiva. • O problema da oração como unidade da língua em sua distinção em face do enunciado como unidade da comunicação discursiva: − Os limites da oração enquanto unidade da língua nunca são determinados pela alternância de sujeitos do discurso. − Essa alternância converte-a em um enunciado pleno. Essa oração assume novas qualidades e é percebida de modo inteiramente diverso de como é percebida a oração emoldurada por outras orações no contexto de um enunciado desse ou daquele falante. − A oração é um pensamento relativamente acabado, imediatamente correlacionado com outros pensamentos do mesmo falante no conjunto do seu enunciado. O contexto da oração é o contexto da fala do mesmo sujeito do discurso (falante). − A oração não se correlaciona de imediato nem pessoalmente com o contexto extraverbal da realidade (a situação, o ambiente, a pré-história) nem com as enunciações de outros falantes, mas tão somente através de todo o contexto que a rodeia, isto é, através do enunciado em seu conjunto. − Quando a oração se torna enunciado pleno ganha uma validade semântica especial. − A oração enquanto unidade da língua tem natureza gramatical, fronteiras gramaticais, lei gramatical e unidade. − Muitos linguistas e correntes linguísticas (no campo da sintaxe) são prisioneiros dessa confusão, e o que estudam como oração é, no fundo, algum híbrido de oração (de unidade da língua) e de enunciado (de unidade da comunicação discursiva). • Peculiaridades constitutivas do enunciado como unidade da comunicação discursiva: • 1ª peculiaridade - A alternância dos sujeitos do discurso, que emoldura o enunciado e cria para ele a massa firma, rigorosamente delimitada dos outros enunciados a ele vinculados, é a primeira peculiaridade constitutiva do enunciado como unidade da comunicação discursiva, que o distingue da unidade da língua.
  • 4. 2ª peculiaridade - Conclusibilidade específica do enunciado: é uma espécie de aspecto interno da alternância dos sujeitos do discurso; essa alternância pode ocorrer precisamente porque o falante disse (ou escreveu) tudo o que quis dizer em dado momento sob dadas condições. − 1º critério de conclusibilidade do enunciado é a possibilidade de responder a ele. Uma oração absolutamente compreensível e acabada, se é oração e não enunciado constituído por uma oração, não pode suscitar atitude responsiva: isso é compreensível, mas ainda não é tudo. Essa inteireza acabada do enunciado, que assegura a possibilidade de resposta (ou de compreensão responsiva), é determinada por três elementos (ou fatores): 1) exauribilidade do objeto e do sentido ° Essa exauribilidade pode ser quase extremamente plena em alguns campos da vida, em alguns campos oficiais, etc., isto é, naqueles campos em que os gêneros do discurso são de natureza sumamente padronizada e o elemento criativo está ausente quase por completo. ° Nos campos da criação, ao contrário, só é possível uma única exauribilidade semântico- objetal muito relativa. 2) projeto de discurso ou vontade de discurso do falante ° Em cada enunciado abrangemos, interpretamos, sentimos a intenção discursiva de discurso ou a vontade discursiva do falante, que determina o todo do enunciado, o seu volume e as sua fronteiras. ° Essa ideia determina tanto a própria escolha do objeto quanto os seus limites e a sua exauribilidade semântico-objetal. Determina também a escolha da forma do gênero na qual será construído o enunciado. 3) formas típicas composicionais e de gênero do acabamento ° A vontade discursiva do falante se realiza antes de tudo na escolha de um certo gênero do discurso. ° Todos os nossos enunciados possuem formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo. ° Em termos práticos, nós os empregamos de forma segura e habilidosa, mas em termos teóricos podemos desconhecer inteiramente a sua existência. ° Aprender a falar significa aprender a construir enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por palavras isoladas). Os gêneros do discurso organizam o nosso discurso quase da mesma forma que o organizam as formas gramaticais (sintáticas). ° Se os gêneros do discurso não existissem e nós não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de construir livremente e pela primeira vez cada enunciado, a comunicação discursiva seria quase impossível. ° A diversidade dos gêneros é determinada pelo fato de que eles são diferentes em função da situação, da posição social e das relações pessoais de reciprocidade entre os participantes da comunicação. ° Ao falante não são dadas apenas as formas da língua (a composição vocabular e a estrutura gramatical) obrigatórias para ele, mas também as formas de enunciado para ele obrigatórias, isto é, os gêneros do discurso: estes são tão indispensáveis para a compreensão mútua quanto as formas da língua. ° Os gêneros do discurso, comparados às formas da língua, são bem mais mutáveis, flexíveis e plásticos; entretanto, para o indivíduo falante eles têm significado normativo, não são criados por ele, mas dados a ele.
  • 5. ° Por isso um enunciado singular de forma alguma pode ser considerado uma combinação absolutamente livre de formas da língua, como o supõe, por exemplo, Saussure, que contrapõe enunciado (la parole) como ato puramente individual ao sistema da língua como fenômeno puramente social e obrigatório para o indivíduo. ° Escolhemos um tipo de oração do ponto de vista do enunciado inteiro que se apresenta à nossa imaginação discursiva e determina a nossa escolha. ° Uma das causas do desconhecimento linguístico das formas de enunciado é a extrema heterogeneidade destas no tocante à construção composicional e particularmente à sua dimensão (a extensão do discurso). Por essas razões, os gêneros do discurso se afiguram incomensuráveis e inexplicáveis na condição de unidades do discurso. ° Como a palavra, a oração é uma unidade significativa da língua. Por isso, cada oração isolada é absolutamente compreensível, isto é, nós compreendemos o seu significado linguístico, o seu papel possível no enunciado. Entretanto, não é possível ocupar uma posição responsiva em relação a uma posição isolada se não sabemos que o falante disse com essa oração tudo o que quis dizer, que essa oração não é antecedida nem sucedida por outras orações do mesmo falante. ° Como a palavra, a oração possui conclusibilidade de significado e conclusibilidade de forma gramatical, mas essa conclusibilidade de significado é de índole abstrata e por isso mesmo tão precisa: é o acabamento do elemento, mas não o acabamento do todo. ° A oração como unidade da língua, à semelhança da palavra, não tem autor. Ela é de ninguém, como a palavra, e só funcionando como um enunciado pleno ela se torna expressão da posição do falante individual em uma situação concreta de comunicação discursiva. • 3ª peculiaridade - A relação do enunciado com o própria falante (autor do enunciado) e com os outros participantes da comunicação discursiva: − Todo enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva. É a posição ativa do falante nesse ou naquele campo do objeto e do sentido. A escolha dos meios linguísticos e dos gêneros de discurso é determinado, antes de tudo, pelas tarefas (pela ideia) do sujeito do discurso (ou autor) centradas no objeto e no sentido. • 4ª peculiaridade - Elemento expressivo: é a relação subjetiva emocionalmente valorativa do falante com o conteúdo do objeto e do sentido do seu enunciado. − A relação valorativa do falante com o objeto do seu discurso (seja qual for esse objeto) também determina a escolha dos recursos lexicais, gramaticais e composicionais do enunciado. − A língua como sistema possui um rico arsenal de recursos linguísticos – lexicais, morfológicos e sintáticos – para exprimir a posição emocionalmente valorativa do falante, mas todos esses recursos enquanto recursos da língua são absolutamente neutros em relação a qualquer avaliação real determinada. − A oração enquanto unidade da língua também é neutra e em si mesma não tem aspecto expressivo; ela o adquire (ou melhor, comunga com ele) unicamente em um enunciado concreto. − A emoção, o juízo de valor, a expressão são estranhos à palavra da língua e surgem unicamente no processo do seu emprego vivo em um enunciado concreto. Em si mesmo, o significado de uma palavra (sem referência à realidade concreta) é extra-emocional. − Quando escolhemos as palavras no processo de construção de um enunciado, nem de longe as tomamos sempre do sistema da língua em sua forma neutra, lexicográfica. Costumamos tirá-las de outros enunciados e antes de tudo de enunciados congêneres com o nosso, isto é, pelo tema, pela composição, pelo estilo. − Pode-se dizer que qualquer palavra existe para o falante em três aspectos: como palavra da língua neutra e não pertencente a ninguém; como palavra alheia dos outros, cheia de ecos de
  • 6. outros enunciados; e como a minha palavra, porque, uma vez que eu opero com ela em uma situação determinada, com uma intenção discursiva determinada, ela já está compenetrada da minha expressão. − A experiência discursiva individual de qualquer pessoa se forma e se desenvolve em uma interação constante e contínua com os enunciados individuais dos outros. Em certo sentido, essa experiência pode ser caracterizada como processo de assimilação – mais ou menos criador – das palavras do outro (e não das palavras da língua). Nosso discurso, isto é, todos os nossos enunciados (inclusive as obras criadas) é pleno de palavras dos outros. − Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera da comunicação discursiva. Cada enunciado deve ser visto antes de tudo como uma resposta aos enunciados precedentes de um determinado campo: ela os rejeita, confirma, completa, baseia-se neles, subentende-os como conhecidos, de certo modo os leva em conta. É impossível alguém definir sua posição sem correlacioná-la com outras posições. − O enunciado está ligado aos elos precedentes e aos subsequentes da comunicação discursiva. Desde o início o enunciado se constrói levando em conta as atitudes responsivas, em prol das quais ele, em essência, é criado. • 5ª peculiaridade - Seu direcionamento a alguém, o seu endereçamento: o enunciado tem autor e destinatário. − Esse destinatário pode ser um participante-interlocutor direto do diálogo cotidiano, uma coletividade diferenciada de especialistas de algum campo, um público mais ou menos diferenciado, o povo, os correlegionários, os adversários, o subordinado, o chefe, um estranho, etc.; ele também pode ser um outro totalmente indefinido, não concretizado. − Cada gênero do discurso em cada campo da comunicação discursiva tem a sua concepção típica de destinatário que o determina como gênero. − A imensa maioria dos gêneros literários é constituída de gêneros secundários, complexos, formados por diferentes gêneros primários transformados (réplicas do diálogo, relatos cotidianos, cartas, diários, , protocolos, etc.). Tais gêneros secundários da complexa comunicação cultural, em regra, representam formas diversas de comunicação discursiva primária. − À diferença dos enunciados (e dos gêneros do discurso), as unidades significativas da língua – a palavra e a oração por sua própria natureza são desprovidas de direcionamento, de endereçamento – não são de ninguém e a ninguém se referem. − Se uma palavra isolada ou uma oração está endereçada, direcionada, temos diante de nós um enunciado acabado, constituído de uma palavra ou de uma oração, e o direcionamento pertence não a ela como unidades da língua, mas ao enunciado. − A escolha de todos os recursos linguísticos é feita pelo falante sob maior ou menor influência do destinatário e da sua resposta antecipada. − A análise estilística, que abrange todos os aspectos do estilo, só é possível como análise de um enunciado pleno e só naquela cadeia da comunicação discursiva da qual esse enunciado é um elo inseparável.