O documento discute duas abordagens de planejamento escolar e avaliação no ensino. Inicialmente, o foco era na eficiência e produtividade, porém mais tarde passou-se a questionar o papel ideológico da escola. Atualmente defende-se que o planejamento crítico pode contribuir para uma compreensão transformadora da realidade reconhecendo a escola como um espaço de manutenção e superação da sociedade.
1. Aspectos teóricos do planejamento
e da avaliação em Ciências e
Biologia
Planejamento de ensino I
2. DAMIS, O. T. Planejamento escolar: expressão técnico-política de
sociedade. In: VEIGA, I. A. (org.) Didática: o ensino e suas relações.
Campinas: Papirus, 1996. (p. 171-183).
Introdução
• Dois diferentes enfoques de planejamento escolar
• 1) Tendência tecnicista predominante a partir de 1960:
– ênfase na importância e na necessidade do planejamento como processo
contínuo de organização racional do sistema educativo no que se refere à
definição de objetivos, de recursos e de metas a serem alcançados e
avaliados através de meios eficiente e eficazes, em prazos definidos;
– condição fundamental para garantir a produtividade da ação educativa;
3. • 2) Tendência crítica à escola como reprodução social, a partir de 1970:
- analisa e critica a educação escolar do ponto de vista de sua função de
reproduzir as condições predominantes na sociedade estruturada
segundo a dominação capitalista;
- priorizou o enfoque sociológico, histórico e filosófico do processo
educativo e desconsiderou (chegando até mesmo a descartar) qualquer
abordagem técnica do referido processo;
• Hoje, após passar por estas duas posições, ou de total aceitação ou de
rejeição incondicional, foi possível ampliar a compreensão da importância e
da necessidade do planejamento para a escola
• O planejamento escolar sempre expressa uma concepção de educação do
homem adequada a um mundo e a uma sociedade;
4. • Este é o caso, por exemplo, quando os professores, em nome de uma
suposta racionalidade e neutralidade da prática educativa, desenvolvem
seu ensino segundo modelos predeterminados nos programas e nos
textos didáticos;
• Esses modelos, na maioria das vezes, inconscientes e alheios à opção
educativa dos mesmos, sem deixar de expressar finalidades sociais,
reforçam, na teoria e na prática, as condições, as necessidades, os
interesses, as aptidões e a visão de mundo adequada ao modelo de
sociedade predominante;
5. “Neste caso, a preparação e a adequação de
estratégias e recursos disponíveis a objetivos
previstos passaram a ser utilizadas, também,
como meios que contribuem para
compreender, repensar e redefinir a função
social desempenhada pela instituição
escolar.” (p. 173)
6. • A ampliação da concepção de planejamento escolar supôs outra
concepção da função social da escola
• Por um lado, a finalidade da escola deixou de ser compreendida, apenas,
como meio de adequar os interesses e as necessidades predominantes no
interior da sociedade;
• Por outro lado, ela passou a ser, também, o meio que contribui para
reproduzir-criticar os interesses e as necessidades de manutenção-
superação da sociedade, da ciência, da tecnologia, etc;
• O planejamento escolar tornou-se, assim, a expressão das condições, das
necessidades e dos interesses predominantes na sociedade através da
forma de organizar o processo educativo, de definir os objetivos, as
estratégias e a avaliação
Planejamento escolar e finalidade da escola
7. “Segundo esta abordagem, a importância e a necessidade de planejar,
além de significar a organização racional dos meios para a escola garantir
a reprodução, a manutenção e a produtividade do sistema, significam,
ainda, uma forma de compreender, criticamente, a adequação do homem
ao modelo de progresso e de desenvolvimento alcançados hoje pela
sociedade capitalista.” (p. 173)
• O processo de planejamento escolar sintetiza o caráter conservador-
transformador da escola e da sociedade que o define
8. Duas diferentes abordagens
• Planejamento e desenvolvimento econômico-social no Brasil
• Anos 1930: “superação” de relações sociais de produção
predominantemente oligárquicas e rurais por formas de organização
industrial e urbana – alterações de conteúdo político, social, econômico,
cultural
• Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico, de Getúlio Vargas, 1951-
1954;
• Plano de Metas, de JK, 1956-1960;
• Plano Trienal de Jango, 1961-1964; Planos de desenvolvimento do regime
militar, 1964-1985)
9. • Com esta crescente interferência do Estado na economia do país, foram
colocadas as condições necessárias para que o desenvolvimento
econômico, político, educativo etc. pretendido fosse tratado segundo a
importância e a necessidade de planejar as ações institucionais.
• A elaboração de planos e projetos passou a ser compreendida como um
meio capaz de conduzir as instituições sociais no caminho do
crescimento e do progresso visados pelo Estado burguês emergente.
• A partir dessas exigências mais amplas, a escola, com a finalidade de
adequar a função de sua prática social específica às condições e às
necessidades predominantes, não ficou isolada da ênfase no
planejamento adotada pelo Estado brasileiro, como meio de garantir a
eficiência e a eficácia de sua ação educativa.
10. • Perspectiva desenvolvida e ampliada entre 1960-1970
• Significou planejar racionalmente a prática educativa para garantir a
adaptação e a integração do aluno às condições e às necessidades
colocadas pela sociedade
• Assim justificados, o planejamento e a elaboração de planos escolares
tornaram-se os principais tópicos dos programas curriculares dos cursos
que habilitam o profissional da educação
• Planejamento global da educação: Unesco (1968)
• Nos diferentes níveis do sistema de ensino, foi atribuído ao processo de
planejar e aos planos dele resultantes o “poder” de solucionar os
problemas educacionais do país
• Planejaram objetivos, definiram estratégias e programaram avaliações
para, por exemplo, reduzir a evasão e a repetência e qualificar os
professores
11. • Planejar significou definir objetivos, metas, prazos, selecionar recursos,
etc
• Quem define os objetivos?
– “(...) os objetivos educacionais de um país devem, evidentemente, ser
fixados pelo conjunto desta sociedade e pelos dirigentes que ela escolheu.
Devem exprimir fielmente os valores fundamentais da sociedade – valores
morais, culturais e estéticos – e considerar os diversos papéis que o
indivíduo pode ser chamado a desempenhar enquanto cidadão, trabalhador
ou membro de uma família.” (Unesco, 1971, p. XIV)
12. • No final dos anos 1970, essa concepção de planejamento e de escola
calcada na organização racional do trabalho pedagógico com a
finalidade de garantir a eficiência e a produtividade do sistema escolar
passou a ser questionada
• Teoria Crítica e autores marxistas: Althusser, Bourdieu, Passeron, etc
• Escola como aparelho ideológico do Estado: organização do trabalho
pedagógico passou a ser questionada em sua função de veículo de
transmissão e reprodução da ideologia dominante na sociedade
• Considerado como expressão da dominação capitalista, o processo do
planejamento escolar foi secundarizado e, até mesmo, sua importância e
sua necessidade foram descartadas pela prática escolar que se
pretendia crítica
13. • Hoje, ultrapassando o momento da crítica pela crítica, a questão de
compreender o papel e a função da escola no interior do
desenvolvimento histórico da sociedade capitalista pretende ser
colocada em outros termos;
• Neste caso, o processo de planejar o trabalho pedagógico da escola e
o(s) projeto(s) que dele resulta(m), como forma de organizar e
operacionalizar as finalidades sociais da escola, também podem ser
compreendidos como condição indispensável para a escola contribuir
para a superação da realidade predominante;
• Isto será possível na medida em que a escola utilizar as condições e
necessidades produzidas pelo desenvolvimento histórico do homem
como meio de compreender, analisar e vivenciar, criticamente, a
realidade produzida pelo capital
14. (Re)colocando a questão
• A prática diária do trabalho pedagógico expressa, consciente ou
inconscientemente, um projeto histórico de sociedade, uma finalidade
social da educação escolar;
• À medida que o coletivo dos agentes (professores e alunos) envolvidos
na prática pedagógica escolar compreender criticamente as finalidades
sociais dessa forma de educação, os meios disponíveis poderão ser
organizados e racionalmente contribuírem para alterar qualitativamente
a participação específica da escola para a manutenção-superação da
realidade capitalista predominante;
15. • Planejamento crítico:
– “O que está sendo levado em conta aqui é que a forma de organização das
ações que concretizam a finalidade social da educação escolar, explicitada
na definição de objetivos, de estratégias de execução e de avaliação dos
resultados obtidos, poderá contribuir criticamente para reverter a
transmissão de uma compreensão fragmentada, mecânica e arbitrária da
realidade, pois a referida organização pode ser compreendida teórica e
praticamente, ao mesmo tempo, como forma de contribuir para manter e
superar a sociedade capitalista predominante.” (pp. 180-181)
– “Diante da compreensão do processo de planejamento como explicitação de
um projeto político-pedagógico fundamentado em uma concepção que situa
a educação escolar como mediação no interior da prática social global, a
sociedade não será vista apenas como realidade pronta e acabada, o ponto
de chegada para o qual a educação escolar deve direcionar sua ação
pedagógica. Mas será também o pressuposto, o ponto de partida que
definirá a finalidade mais ampla dessa forma de educação, podendo, assim,
ser compreendida de um ponto de vista crítico.” (p. 182)
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29. Reflexões sobre a avaliação no ensino de
Ciências e Biologia
Concepção Professor Aluno Ensino-
aprendizagem
Planejar Avaliar
Tradicional Detentor do
conhecimento
Receptor
passivo
Transmissão
unidirecional
de conteúdos
P A
Técnica
neutra para
garantir a
produtividade
do ensino-
aprendizagem
Verificação do
rendimento do
aluno por meio
de instrumentos
pontuais, em
momentos
estanques e
finais
Crítica Orientador e
mediador do
processo
educativo
Participa
ativamente;
Tem
concepções
próprias a
serem
levadas em
conta
Relação
dialógica entre
professor e
aluno
P ⇆ A
Define e
orienta as
ações
pedagógicas;
está a serviço
de quem
ensina e de
quem aprende
Caráter
formativo; crítica
do percurso da
ação educativa:
dinâmica,
contínua,
qualifica e
reencaminha
Adaptado a partir de Cassab (2008) e Esteban (1999)