O documento discute como o excesso de treinamento em campo reduzido pode comprometer o desempenho técnico de jogadores, especialmente meias e laterais. Embora o treinamento em campo reduzido seja eficiente para desenvolver aspectos físicos e táticos, sua sobreutilização pode reduzir a capacidade dos jogadores de se deslocarem em grandes distâncias e manusearem a bola em espaços maiores, habilidades essenciais em campos oficiais. O autor defende uma periodização equilibrada que incorpore diferentes modalidades de treino.
TREINAMENTO EM CAMPO REDUZIDO PODE COMPROMETER O DESEMPENHO? ENTENDA ESTE PONTO DE VISTA.
1. TREINAMENTO EM CAMPO REDUZIDO PODE
COMPROMETER O DESEMPENHO? ENTENDA ESTE
PONTO DE VISTA.
VINICIUS FERREIRA
O excesso de treinamento em forma de jogos em campo reduzido, pode comprometer o
desempenho técnico de jogadores. Principalmente, para meias e laterais em decorrência de
suas funções em campo. Entenda melhor esta minha teoria, e opine.
Nos últimos anos, treinadores têm dado muita ênfase aos trabalhos em campo reduzido. Esta
eficiente tendência de treinamento de origem européia, justifica-se por sua especificidade, não só
para desenvolvimento técnico/tático, mas também físico.
Entretanto é preciso muito critério, pois a simples reprodução deste tipo de treinamento, não garante
resultados positivos. Inicialmente na montagem de um ciclo longo de treinamento, ou de uma
simples unidade, é preciso identificar os objetivos do trabalho e sua posterior influência nas
diferentes variáveis física, técnica e tática.
Então, para explicar melhor meu ponto de vista, vou dividir este artigo em 3 tópicos:
a) Vantagens dos trabalhos bem direcionados em campo reduzido.
b) Erro comumente cometidos em trabalhos de campo reduzido, e que acabam comprometendo o
desempenho físico.
c) O excesso de trabalho em campo reduzido pode diminuir o desempenho técnico/tático de meias e
laterais.
a) VANTAGENS DOS TRABALHOS BEM DIRECIONADOS EM CAMPO REDUZIDO
Particularmente, por defender que o treinamento de futebolistas, deva ser realizado o mais próximo
possível de sua realidade de trabalho. Corroboro com a linha de pensamento que direciona o treino
técnico/tático/físico para dinâmicas desenvolvidas em forma de jogo. Acredito que 75% a 80% dos
trabalhos devam ser direcionados para exercícios com bola e/ou jogos, entre eles os de campo
reduzido. Ficando o restante do cronograma, para o desenvolvimento de força específica contra a
resistência de acessórios e pesos.
Através do uso de GPS e frequencímetro, e de estudos realizados, posso afirmar que a intensidade
deste tipo de trabalho aproxima-se das encontradas durante uma partida oficial. O que justifica o seu
caráter de específicidade para o desenvolvimento do condicionamento físico. Já em um treinamento
coletivo em campo integral, a intensidade cai em média 30 a 40%.
Treinadores modernos criam diversas estratégias em campo reduzido para automatizar sistemas e
2. mecânicas de jogo. Contudo, nem sempre há um controle adequado deste tipo de trabalho sob o
aspecto fisiológico do treinamento. É preciso bastante harmonia entre o preparador físico e o
treinador, para que estes jogos em campo reduzido contemplem os objetivos de ambos. Para isso é
importante que o treinador tenha uma consciência básica das respostas fisiológicas imposta pelos
seus treinos, e que o preparador físico entenda o que o seu técnico busca técnica e taticamente.
b) ERROS COMUMENTE COMETIDOS NOS TRABALHOS EM CAMPO REDUZIDO QUE
ACABAM COMPROMETENDO O DESEMPENHO FÍSICO
Bem já que agora sabemos que a intensidade de um treinamento tático/técnico em campo reduzido
fica próxima da intensidade de uma partida oficial. Podemos sugerir que este tipo de treinamento,
com grandes volumes, não deva ser realizado diariamente. Aconselhando-se então, que durante o
período competitivo seja ministrado em volumes menores, com duração entre 40 e 50 minutos,
evitando uma resposta catabólica decorrente de uma significativa liberação de cortisol. Além da
depleção dos estoques de glicogênio.
Entretanto, se o objetivo for também condicionar fisicamente os atletas, não podemos esquecer que
uma partida de futebol tem 90 minutos, com apenas 15 minutos de intervalo. Ou seja, se o objetivo
for conjugar treino técnico ou tático com o físico, é necessário reproduzir a realidade de uma
partida. Do contrário, o time vai cair de rendimento quando atingir o limite da intensidade e volume
de trabalho ao qual é acostumado a treinar. No entanto, neste caso, para não haver fadiga e lesões, é
necessário ondular a semana de treinamento com alternância das demandas e exigências
musculares.
Ou seja, a utilização de outros recursos de treinamento, que preencham as demais necessidades
táticas/técnicas e físicas, faz-se necessário para o desenvolvimento harmônico dos atletas e da
equipe. Tais como:
- Coletivos em campo integral, que além de serem realizados em intensidades inferiores ainda,
proporcionam um direcionamento tático em situações espaço/temporais específicas.
- O trabalhos de força contra a resistência de pesos e acessórios.
- Trabalhos técnicos direcionados, físicos, regenerativos, core, descanso etc...
Já Presenciei trabalho em campo reduzido em alta intensidade no primeiro dia de uma pré-temporada.
E em uma das situações, era uma pré-temporada de 60 dias. Não preciso dizer o
resultado final deste planejamento foram lesões e mais lesões. Ora, para os que acreditam que o
trabalho com bola desde nos primeiros dias de uma pré temporada é importante, basta criar
dinâmicas que inibam a alta intensidade das ações nesta fase inicial. E isso é muito simples.
Já no decorrer dos dias aumenta-se gradativamente a intensidade das dinâmicas. Proporcionando
uma evolução segura aos jogadores.
Clubes de série A, que trabalham com pré temporada de apenas 2 semanas, acredito que realmente
devam iniciar os trabalhos com bola e mini jogos, desde o primeiro dia, mas é preciso também saber
3. graduar a intensidade destes trabalhos para evitar o surgimento de lesões e comprometer a
temporada dos atletas com lesões precoces.
c) O EXCESSO DE TRABALHO EM CAMPO REDUZIDO PODE DIMINUIR O
DESEMPENHO TÉCNICO/TÁTICO DE MEIAS E LATERAIS.
Atenção, a teorização abaixo se refere aqueles cronogramas que usam no mínimo 3 sessões por
semana de treinamento em campo reduzido, e/ou que não realizam os complementos adequados.
Não existem evidências científicas para meu posicionamento. Ele está embasado em teorias do
treinamento e no acompanhamento de respostas advindas deste tipo de trabalho.
A atividade em um campo de aproximadamente 50 metros de comprimento, realmente eleva
significativamente a participação de todos os atletas na dinâmica, exigindo, movimentação
constante, mais contato com a bola, frequência cardíaca elevada, e uma quilometragem por tempo
de atividade, semelhante a realizada em uma partida oficial.
Contudo, se pensarmos na especificidade das ações, um meio campista em um treino realizado em
campo reduzido recebe a bola de um volante ou de um zagueiro, e já está a apenas 10 metros de
distância do atacante que ele tem que acionar. Esta espaço restrito, facilita a aproximação, a tabela e
a chegada a frente do meia para receber a bola novamente, fazer um 2x1, finalizar, pegar um
rebote... Enfim, a dinâmica em campo reduzido facilita para que o meio campista com poucas
passadas e passes curtos, esteja próximo de uma participação ofensiva efetiva, sem a necessidade de
trabalhar bolas longas, ou realizar descolamentos de 15, 20, 30 até 40 metros, tão comuns, durante
uma situação de jogo em um campo de 100 a 120 metros de comprimento. Principalmente hoje,
com a recomposição das linhas de 4.
Aliás, atualmente quais os meias que fazem esta aproximação de forma eficiente e contínua ao
ataque no futebol brasileiro? Quem faz um enganche com qualidade e efetividade?
Aos laterais cabe um pensamento semelhante: o lateral quando recebe a bola de um meio campista
em um trabalho em campo reduzido, já se encontra na linha dos 25 metros, então, com mais 10
metros de corrida, faz um uma transição ou um 2x1 e já está alçando a bola na área para os
atacantes. Ação completamente diferente da executada em um campo de 100 a 120 metros, onde ele
precisa de deslocamentos de 30, 40 até 60 metros para gerar uma ação ofensiva eficiente.
E então pergunto novamente: Quais são os laterais ou alas que estão realizando ações ofensivas com
eficiência no Brasil? Parece que esta tendência de treinamento atual pode ser a geradora deste tipo
de situação, pelo menos no futebol brasileiro. Afinal a alguns anos atrás, quando eram adotados
outras estratégias de treinamento, nós tínhamos laterais e meias mais agudos do que hoje.
Acredito ainda que em algumas estruturas táticas o atacante de flanco, também pode ter
dificuldades em puxar contra ataques, quando as linhas estão muito recuadas, e este jogador tem
que buscar a bola próximo ao meio de campo.
4. Ou seja, não podemos confundir a alta intensidade deste tipo de trabalho com a especificidade das
ações com e sem bola, em um campo de 120 metros.
Apesar das teorias de autores como Bangsbo e Reilly que citam que o jogo se decide em ações de
alta intensidade, curta duração e metragem (as quais eu concordo), não podemos ignorar a relação
tempo/espaço de uma partida em um campo de tamanho oficial. Eu acredito que para se chegar em
condições de decidir uma jogada de alta intensidade e curta duração, também é preciso ter a
capacidade de se deslocar em distâncias médias e longas e de receber e transferir a bola em
distancias maiores, já que estas são as ações mais realizadas durante uma partida.
Em resumo, o EXCESSO deste trabalho em campo reduzido especializa os atletas a jogarem de
forma eficiente em campos de 50x40 metros, e não 110x40.
Exemplificando a importância da relação tempo/espaço, experimente colocar um jogador de futsal
em um campo de futebol oficial. Apesar deste atleta realizar um esporte de alta intensidade( mais
intenso inclusive que o trabalho em campo reduzido) ele terá imensas dificuldades para acertar o
tempo de recepção da bola, além de dificuldade para dar um passe longo, e deslocar de forma
eficiente mesmo sem bola, afinal, sua rotina de treinamento ocorre em um espaço de 40x20 metros.
Experimente também, direcionar o treinamento de um velocista de 200 metros rasos, priorizando a
execução para tiros 100 metros. Ou seja, aumentando a intensidade, mas diminuindo a
especificidade, como acontece nos jogos em campo reduzido. Parece simples prever o resultado...
Este dois exemplos citados acima podem ser extremos, mas ilustram bem, a importância da
especificidade das ações, para colhermos a resposta desejada. E de que forma os trabalhos em
campo reduzido quando PREDOMINANTES em uma programação semanal, podem comprometer
o desempenho de jogadores de futebol.
Entretanto, a utilização deste tipo de treinamento para a treinar compactação da equipe, estimular
intensidades elevadas em espaços curtos, estimular velocidade de reação e tomada de decisão, são
inegavelmente muito eficientes, basta executá-lo em uma periodização adequada e combinada com
os demais estímulos necessários para o alto rendimento neste esporte .
E aí está a arte da nossa profissão, que consiste em ter a sensibilidade de enxergar nas entrelinhas os
problemas e elaborar as estratégias mais adequadas para solucioná-las, prestando o suporte mais
adequado ao atleta. Afinal se apenas nos restringirmos a seguir as tendências, teremos a mesmas
soluções e problemas. Mas não faremos a diferença no mercado.