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B"H
A árvore de Hanuká
©Jane Bichmacher de Glasman




"... Costumes fúteis do povo! Cortam com machado uma árvore do bosque;
enfeitam-na com prata e ouro e fixam-na com pregos e martelos para que não se
mova...".
De quem são essas palavras? De um pastor irritado? De um cristão, contra o
materialismo do Natal moderno? De um ateu?
Não! Eu as traduzi de Jeremias, 10: 3-4! Sim, do profeta bíblico...




Elas só vêm atestar a antigüidade do costume da hoje conhecida como árvore de
Natal...
Não se sabe dizer ao certo quando ela surgiu. Mas ao longo da história, foi
incorporada aos hábitos de vários povos. Lendas tentam explicar o motivo porque
ela é usada como símbolo do Natal - ligadas ao fato de que algum povo adorava
árvores.




A mitologia fala de vários deuses que morriam e ressuscitavam para simbolizar as
forças vitais que emergiam das entranhas da terra: Adad (Assíria), Adônis (Grécia),
Apolo (Grécia), Átis (Frígia), Baal (Fenícia), Baco (Roma), Bali (Afeganistão),
Balenho (Celtas), Crestus (Alexandria), Buda (Nepal), Deva Tat (Sião), Dionísio
(Grécia), Fo (China), Hércules (Grécia), Hórus (Egito), Indra (Tibet), Joel
(Germanos), Mitra (Pérsia), Odin (Escandinávia), Prometeu (Cáucaso), Quetzocoalt
(Olmecas, Maias), Serapis/Osíris (Egito), Tamuz (Suméria), Thor (Gália). Uma
árvore estilizada é o símbolo de muitos deuses ressuscitado.




Os egípcios consideravam a tamareira como árvore da vida e levavam-na para casa
nos dias de festa, enfeitando-a com guloseimas para as crianças. Celebravam, no
solstício de inverno (dia mais curto do ano; no hemisfério norte, em dezembro), o
nascimento de Horus, filho da virgem Isis. Traziam galhos verdes de palmeiras para
dentro de suas casas, simbolizando o triunfo da vida sobre a morte.




Na antiga Babilônia, em 25 de Tebet (correspondente a dezembro), comemorava-
se o nascimento de Tamuz, o deus jovem filho de Nimrod e de sua esposa,
Semiramis, que também era a sua própria mãe. Celebrava-se a reencarnação de
Nimrod em seu filho. Moedas antigas foram encontradas mostrando um toco de
árvore (representando a morte de Nimrod) e uma árvore crescendo próxima
(Tamuz). O nome Semiramis é a forma helenizada do sumério Sammur-amat
(=dádiva do mar). Também era conhecida por Ishtar que gerou a palavra Easter
(Páscoa) e Este (onde nasce o Sol).
Os fenícios chamavam-na Ashtart ou Asterath. Cada cidade fenícia tinha seu deus,
associado a uma entidade feminina. Biblos adorava Adônis (deus da vegetação),
cujo culto se associava ao de Ashtart (a caldéia Ihstar; a grega Astartéia), deusa da
fecundidade.




Os cananeus adoravam        Asherah, em    rituais frente a uma árvore que a
representava.




Sacrifícios eram feitos na Escandinávia ao deus Thor, ao pé de uma árvore
frondosa.




Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar velhos carvalhos com
maçãs douradas para festividades também celebradas na mesma época do ano.




Em 25 de dezembro era comemorado também o dia do deus pagão Adônis. Amante
de Vênus, ele morria tragicamente todos os anos no solstício de inverno e
ressuscitava. Nessa data Constantino executava alguns prisioneiros e colocava suas
cabeças penduradas em uma árvore. Teria alguma macabra relação com a árvore
de Natal?




Na Roma Antiga, os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da
agricultura, pendurando em pinheiros máscaras de Baco, deus do vinho, para
celebrar a Saturnália, festival celebrado entre 17 e 23 de dezembro.




25 de dezembro era a celebração do nascimento do sol invicto (Natalis Solis
Invicti), do deus Mitra, cujo culto penetrou em Roma no século I AEC e a data, no
calendário romano em 274, com o Imperador Aureliano. Romanos trocavam entre
si ramos de árvores verdes para desejar boa sorte nas calendas (primeiro de
janeiro).
Os ingleses tomaram o costume da árvore emprestado para usá-lo durante as
comemorações do Natal. Os alemães provavelmente foram os primeiros a
enfeitarem a árvore de Natal.




Para alguns, ela data do tempo de S. Bonifácio, que, no século VII, pregava na
Turíngia (região da Alemanha) e usava o perfil triangular dos abetos como símbolo
da Trindade. Assim, o carvalho, até então considerado como símbolo divino, foi
substituído pelo abeto.




Lutero, autor da Reforma protestante do século XVI, montou um pinheiro enfeitado
com velas em sua casa para mostrar às crianças como deveria ser o céu na noite
de nascimento de Jesus.




Para os místicos, a árvore de Natal representa esotericamente o Diagrama
Cabalístico da Vida conhecido como Árvore Sefirótica. Nele vemos representadas as
dez dimensões do Universo nos dez galhos, que vão de Keter (Coroa), a Malkut (o
mundo físico).
Entre as explicações para a escolha do dia 25 de dezembro como sendo o dia de
Natal há o fato de esta data coincidir com a Saturnália dos romanos e com as festas
germânicas e célticas do Solstício de Inverno; sendo todas estas festividades
pagãs, a Igreja viu uma oportunidade de cristianizar a data. O elemento judaico
que contribuiu para a confusão ou co-fusão foi Hanuká, comemorada na mesma
época, só que em data fixa. Provavelmente a proximidade de datas e a fusão dos
festejos pagãos de dezembro, com Hanuká, com início em 25 de kislev, tenha
determinado o 25 de dezembro.




Não-judeus muitas vezes pensam que Hanuká seja uma espécie de "Natal
judaico"... o que não é. Hanuká celebra a vitória dos Macabeus sobre os invasores
gregos que haviam tomado o Segundo Templo, no ano 164 AEC; o maior símbolo é
o candelabro de oito velas. Há costumes judaicos e cristãos semelhantes nesta
época (decoração, luzes, comidas). Mas a motivação é diferente, para cada um dos
grupos religiosos.




Se Jesus nasceu em dezembro, seria próximo de Hanuká, que ele, como judeu,
comemorou durante sua vida, o que a Bíblia cristã confirma, em João 10:22, 23:
"Nesse tempo ocorreu em Jerusalém a festividade da dedicação [em hebraico,
Hanuká]. Era inverno, e Jesus estava andando no templo, na colunata de
Salomão."




Na verdade, considero Natal e Reveillon as festas cristãs mais judaicas. Afinal,
Natal comemora o nascimento de um menino judeu e Reveillon, seu brit-milá
(circuncisão).




“Chrismukkah” é um neologismo norte-americano referindo-se à fusão das festas
de Natal e Hanuká comemorada por famílias de casamentos mistos entre judeus e
cristãos. Ficou popular entre jovens depois de um episódio do seriado televisivo
O.C., quando a festa foi comemorada pelo grupo de Seth Cohen, filho de pai judeu
e mãe cristã.




Anos antes do atual modismo, eu escrevi um artigo em que criei o neologismo em
português “Hanukal” ou “Natuká”. Hoje são organizadas festas temáticas, em que a
tônica é a mistura e a convivência de símbolos de ambas as festividades. Também
surgiu um lucrativo comércio, na esteira da celebração. Até famílias só judaicas
vêm aderindo, a partir principalmente da vontade de ter uma árvore de Natal em
casa.
Ironicamente, as mais populares canções de Natal foram escritas justamente por
judeus, do francês Adolphe Adam com o hino do Natal Cantique De Noël (em inglês
O Holy Night) a Irving Berlin, judeu nova-iorquino nascido na Sibéria, que compôs
White Christmas, a canção que moldou o imaginário natalino da América –
interpretada mais tarde por Bing Crosby.




Musicais da Broadway e o cinema popularizaram inúmeras canções de Natal
escritas por músicos judeus, entre elas Rudolph the Red Nosed Reindeer e Rockin’
Around The Christmas Tree de Johnny Marks; Let It Snow de Sammy Cahn e Jule
Styne; The Christmas Song de Mel Tormé. Elas valorizam não o aspecto do
nascimento de Jesus, mas a reunião das famílias, os presentes e o aconchego a que
convida uma manhã nevada de Inverno.
Além de Natal e Hanuká, esta época de festas também conta com a Kwanzaa,
celebração da cultura negra norte-americana e, dependendo do ano, o Ramadan
muçulmano.
E a árvore, para os judeus? Bom, esta vai ter sua própria festa, de Ano Novo, em
Shvat (em 2011, no dia 20 de janeiro)!




Publicado em Visão Judaica Ed. 85, novembro de 2009.
Doutora em Hebraico, Literaturas e Cultura Judaica, Professora Adjunta, fundou e
coordenou o Programa de Estudos Judaicos e o Setor de Hebraico – UERJ e UFRJ.

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A história da árvore de Natal

  • 1. B"H A árvore de Hanuká ©Jane Bichmacher de Glasman "... Costumes fúteis do povo! Cortam com machado uma árvore do bosque; enfeitam-na com prata e ouro e fixam-na com pregos e martelos para que não se mova...". De quem são essas palavras? De um pastor irritado? De um cristão, contra o materialismo do Natal moderno? De um ateu? Não! Eu as traduzi de Jeremias, 10: 3-4! Sim, do profeta bíblico... Elas só vêm atestar a antigüidade do costume da hoje conhecida como árvore de Natal... Não se sabe dizer ao certo quando ela surgiu. Mas ao longo da história, foi incorporada aos hábitos de vários povos. Lendas tentam explicar o motivo porque ela é usada como símbolo do Natal - ligadas ao fato de que algum povo adorava árvores. A mitologia fala de vários deuses que morriam e ressuscitavam para simbolizar as forças vitais que emergiam das entranhas da terra: Adad (Assíria), Adônis (Grécia),
  • 2. Apolo (Grécia), Átis (Frígia), Baal (Fenícia), Baco (Roma), Bali (Afeganistão), Balenho (Celtas), Crestus (Alexandria), Buda (Nepal), Deva Tat (Sião), Dionísio (Grécia), Fo (China), Hércules (Grécia), Hórus (Egito), Indra (Tibet), Joel (Germanos), Mitra (Pérsia), Odin (Escandinávia), Prometeu (Cáucaso), Quetzocoalt (Olmecas, Maias), Serapis/Osíris (Egito), Tamuz (Suméria), Thor (Gália). Uma árvore estilizada é o símbolo de muitos deuses ressuscitado. Os egípcios consideravam a tamareira como árvore da vida e levavam-na para casa nos dias de festa, enfeitando-a com guloseimas para as crianças. Celebravam, no solstício de inverno (dia mais curto do ano; no hemisfério norte, em dezembro), o nascimento de Horus, filho da virgem Isis. Traziam galhos verdes de palmeiras para dentro de suas casas, simbolizando o triunfo da vida sobre a morte. Na antiga Babilônia, em 25 de Tebet (correspondente a dezembro), comemorava- se o nascimento de Tamuz, o deus jovem filho de Nimrod e de sua esposa, Semiramis, que também era a sua própria mãe. Celebrava-se a reencarnação de Nimrod em seu filho. Moedas antigas foram encontradas mostrando um toco de árvore (representando a morte de Nimrod) e uma árvore crescendo próxima (Tamuz). O nome Semiramis é a forma helenizada do sumério Sammur-amat (=dádiva do mar). Também era conhecida por Ishtar que gerou a palavra Easter (Páscoa) e Este (onde nasce o Sol).
  • 3. Os fenícios chamavam-na Ashtart ou Asterath. Cada cidade fenícia tinha seu deus, associado a uma entidade feminina. Biblos adorava Adônis (deus da vegetação), cujo culto se associava ao de Ashtart (a caldéia Ihstar; a grega Astartéia), deusa da fecundidade. Os cananeus adoravam Asherah, em rituais frente a uma árvore que a representava. Sacrifícios eram feitos na Escandinávia ao deus Thor, ao pé de uma árvore frondosa. Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar velhos carvalhos com maçãs douradas para festividades também celebradas na mesma época do ano. Em 25 de dezembro era comemorado também o dia do deus pagão Adônis. Amante de Vênus, ele morria tragicamente todos os anos no solstício de inverno e
  • 4. ressuscitava. Nessa data Constantino executava alguns prisioneiros e colocava suas cabeças penduradas em uma árvore. Teria alguma macabra relação com a árvore de Natal? Na Roma Antiga, os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da agricultura, pendurando em pinheiros máscaras de Baco, deus do vinho, para celebrar a Saturnália, festival celebrado entre 17 e 23 de dezembro. 25 de dezembro era a celebração do nascimento do sol invicto (Natalis Solis Invicti), do deus Mitra, cujo culto penetrou em Roma no século I AEC e a data, no calendário romano em 274, com o Imperador Aureliano. Romanos trocavam entre si ramos de árvores verdes para desejar boa sorte nas calendas (primeiro de janeiro).
  • 5. Os ingleses tomaram o costume da árvore emprestado para usá-lo durante as comemorações do Natal. Os alemães provavelmente foram os primeiros a enfeitarem a árvore de Natal. Para alguns, ela data do tempo de S. Bonifácio, que, no século VII, pregava na Turíngia (região da Alemanha) e usava o perfil triangular dos abetos como símbolo da Trindade. Assim, o carvalho, até então considerado como símbolo divino, foi substituído pelo abeto. Lutero, autor da Reforma protestante do século XVI, montou um pinheiro enfeitado com velas em sua casa para mostrar às crianças como deveria ser o céu na noite de nascimento de Jesus. Para os místicos, a árvore de Natal representa esotericamente o Diagrama Cabalístico da Vida conhecido como Árvore Sefirótica. Nele vemos representadas as dez dimensões do Universo nos dez galhos, que vão de Keter (Coroa), a Malkut (o mundo físico).
  • 6. Entre as explicações para a escolha do dia 25 de dezembro como sendo o dia de Natal há o fato de esta data coincidir com a Saturnália dos romanos e com as festas germânicas e célticas do Solstício de Inverno; sendo todas estas festividades pagãs, a Igreja viu uma oportunidade de cristianizar a data. O elemento judaico que contribuiu para a confusão ou co-fusão foi Hanuká, comemorada na mesma época, só que em data fixa. Provavelmente a proximidade de datas e a fusão dos festejos pagãos de dezembro, com Hanuká, com início em 25 de kislev, tenha determinado o 25 de dezembro. Não-judeus muitas vezes pensam que Hanuká seja uma espécie de "Natal judaico"... o que não é. Hanuká celebra a vitória dos Macabeus sobre os invasores gregos que haviam tomado o Segundo Templo, no ano 164 AEC; o maior símbolo é o candelabro de oito velas. Há costumes judaicos e cristãos semelhantes nesta época (decoração, luzes, comidas). Mas a motivação é diferente, para cada um dos grupos religiosos. Se Jesus nasceu em dezembro, seria próximo de Hanuká, que ele, como judeu, comemorou durante sua vida, o que a Bíblia cristã confirma, em João 10:22, 23: "Nesse tempo ocorreu em Jerusalém a festividade da dedicação [em hebraico,
  • 7. Hanuká]. Era inverno, e Jesus estava andando no templo, na colunata de Salomão." Na verdade, considero Natal e Reveillon as festas cristãs mais judaicas. Afinal, Natal comemora o nascimento de um menino judeu e Reveillon, seu brit-milá (circuncisão). “Chrismukkah” é um neologismo norte-americano referindo-se à fusão das festas de Natal e Hanuká comemorada por famílias de casamentos mistos entre judeus e cristãos. Ficou popular entre jovens depois de um episódio do seriado televisivo O.C., quando a festa foi comemorada pelo grupo de Seth Cohen, filho de pai judeu e mãe cristã. Anos antes do atual modismo, eu escrevi um artigo em que criei o neologismo em português “Hanukal” ou “Natuká”. Hoje são organizadas festas temáticas, em que a tônica é a mistura e a convivência de símbolos de ambas as festividades. Também surgiu um lucrativo comércio, na esteira da celebração. Até famílias só judaicas vêm aderindo, a partir principalmente da vontade de ter uma árvore de Natal em casa.
  • 8. Ironicamente, as mais populares canções de Natal foram escritas justamente por judeus, do francês Adolphe Adam com o hino do Natal Cantique De Noël (em inglês O Holy Night) a Irving Berlin, judeu nova-iorquino nascido na Sibéria, que compôs White Christmas, a canção que moldou o imaginário natalino da América – interpretada mais tarde por Bing Crosby. Musicais da Broadway e o cinema popularizaram inúmeras canções de Natal escritas por músicos judeus, entre elas Rudolph the Red Nosed Reindeer e Rockin’ Around The Christmas Tree de Johnny Marks; Let It Snow de Sammy Cahn e Jule Styne; The Christmas Song de Mel Tormé. Elas valorizam não o aspecto do nascimento de Jesus, mas a reunião das famílias, os presentes e o aconchego a que convida uma manhã nevada de Inverno. Além de Natal e Hanuká, esta época de festas também conta com a Kwanzaa, celebração da cultura negra norte-americana e, dependendo do ano, o Ramadan muçulmano. E a árvore, para os judeus? Bom, esta vai ter sua própria festa, de Ano Novo, em Shvat (em 2011, no dia 20 de janeiro)! Publicado em Visão Judaica Ed. 85, novembro de 2009. Doutora em Hebraico, Literaturas e Cultura Judaica, Professora Adjunta, fundou e coordenou o Programa de Estudos Judaicos e o Setor de Hebraico – UERJ e UFRJ.