1. O Pantanal
Por Alcides Faria e Rafaela D. Nicola
O Pantanal, maior planície alagável do mundo, é o elo de ligação entre as
duas maiores bacias da América do Sul: a do Prata e a Amazônica, o que
lhe confere a função de corredor biogeográfico, ou seja, permite a
dispersão e a troca de espécies de fauna e flora entre essas bacias.
Situado na parte alta da Bacia do Rio Paraguai, possui uma superfície de
624.320 quilômetros quadrados no Brasil, Bolívia e Paraguai (WWF). A
planície cobre uma área de quase 210 mil quilômetros quadrados, dos
quais 70% estão no Brasil (nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul), 20% na Bolívia e 10% no Paraguai (RADAM- Brasil).
O Pantanal é uma região singular, na qual se encontramos Cerrado (Leste,
Norte e Sul); o Chaco (Sudoeste); a Amazônia (Norte); a Mata Atlântica
(Sul) e o Bosque Seco Chiquitano (Noroeste). Esta característica, somada
aos pulsos de inundação, permite uma particular diversidade e
variabilidade de espécies. Apesar de a taxa de endemismo ser
relativamente baixa, as características múltiplas da região possibilitam a
interação entre animais e plantas que em outras regiões não manteriam
contato.
É comum encontrarmos a denominação “pantanais” relacionada a essa
região, uma vez que a planície pode ser dividida em várias sub-regiões
distintas, cada uma com suas especificidades quanto ao regime de
inundação, drenagem, vegetação e relevo.
Características marcantes do Pantanal são seu regime de cheias e secas e
a relação entre a parte alta (planalto) e a parte baixa (planície) da bacia.
Na planície a declividade é, aproximadamente, de um a dois centímetros
por quilômetro no sentido norte —sul e de seis a doze centímetros por
quilômetro no sentido leste-oeste (Girardi, Pierre and Souza Jr. Paulo
Teixeira).
A região funciona como uma grande quot;esponjaquot; que, durante o período das
chuvas, recebe as águas da parte alta, que são retidas e escoadas
lentamente, alcançando o Rio Paraguai. Esta situação promove um
fenômeno peculiar: a cheia durante um período seco. As águas que
entraram há meses nas partes mais altas da planície por fim chegam em
grande volume na parte mais ao sul, provocando aumento no volume sem
que para isso tenham que ocorrer chuvas em quantidade suficiente.
A água é quot;retidaquot; na planície através do transbordamento natural dos
rios, forma canais e lagunas ou abastece lagoas permanentes e baías.
Assim, na cheia, rios, lagoas e riachos ficam interligados, permitindo o
deslocamento de espécies. Este processo é um dos principais
responsáveis pela constante renovação da vida no Pantanal e pelo
fornecimento de nutrientes.
Durante a seca, período em que a quantidade de água que chega é menor,
o escoamento é lento em direção ao Rio Paraguai —a grosso modo.
Formam-se então lagoas e corixos isolados que retêm grande quantidade
de peixes e plantas aquáticas. Lentamente, estes corpos d’água vão
secando, o que atrai aves e outros animais em busca de alimentos,
2. promovendo concentração de fauna.
Coincide em algumas regiões a florada de várias espécies, provocando
cenários de raríssima beleza. Vale lembrar que o Pantanal é uma das
áreas mais importantes para aves aquáticas e espécies migratórias, que o
usam para abrigo, alimentação e reprodução.
Parte de um sistema
O Pantanal faz parte do maior conjunto de áreas úmidas do mundo. Este
quot;sistemaquot;, com cerca de 400 mil quilômetros quadrados, está localizado
no vale central que corre de norte a sul dentro da quot;Grande Depressão da
América do Sulquot;, ou quot;Depressão Subandinaquot; da bacia do Prata, e se
estrutura ao longo de mais de 3.400 km dos Rios Paraguai e Paraná (médio
e inferior).
O Paraguai é um dos poucos rios livres de represas, e o Paraná, nesse
trecho, também não sofre esse tipo de intervenção.
Segundo maior sistema hídrico da América do Sul —o primeiro é
Amazonas— e uma das maiores reservas de água doce do mundo, abriga
aproximadamente 20 milhões de pessoas, o que permite afirmar que
constitui uma unidade hidrológica, ecológica, cultural e populacional.
Este fato determina a necessidade de manutenção dos ciclos hidrológicos
e da conservação da biodiversidade para a sustentabilidade do sistema e
sua população.
Alcides Faria (alcidesf@riosvivos.org.br) é diretor-executivo da Ong Ecoa
- Ecologia e Ação
Rafaela Danielli Nicola (rnicola@riosvivos.org.br) é diretora de projetos
da Ecoa
Texto disponível no site www.riosvivos.org.br
Referências utilizadas
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretaria-Geral Projeto RADAMBRASIL. Folha SF. 21 -
Campo Grande: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de
Janeiro: Projeto RADAMBRASIL, 1982.v. 28.416p.
Programa de Implementação de Práticas de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica para o Pantanal
e da Bacia do Alto Paraguai: Coleta de Iscas Vivas no Pantanal: Bases para a Sustentabilidadequot;.
Campo Grande: SRH;GEF; PNUMA;OEA, 2003.
Workshop, 2003, 26-30 de Outubro, Porto Cercado, O Pantanal: Uma abordagem interligada para
manejo de terras úmidas, Paulo
Teixeira Souza Jr; Pierre Girard, Mato Grosso, Brasil
Site www.riosvivos.org.br/pantanal