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Pesquisa Qualitativa
Onda Jovem na Escola
      Dezembro de 2007




                         1
ÍNDICE                                              01

TRABALHO E LAZER                                    03

1. Trabalho                                         04
2. Lazer                                            05

O ESPAÇO ESCOLAR                                    07

1. A Instituição                                    08
2. Projetos                                         12
3. A relação com o Terceiro Setor                   13
4. O diretor                                        13
5. O coordenador pedagógico                         14
6. O professor                                      16

O JOVEM ESTUDANTE, NA PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES   19

1. O jovem                                          20
2. O professor diante do jovem                      22
3. O lado bom                                       24
4. A escola para o jovem                            24
5. O desafio                                        26
6. Objetivo do ensino médio                         27
7. A dificuldade                                    28

INFORMAÇÃO SOBRE O JOVEM                            30

Instrumentos para se trabalhar com jovens           31

CONSIDERAÇÕES FINAIS                                37

Considerações finais                                38




                                                         2
INTRODUÇÃO



Este relatório contém as observações extraídas dos grupos focais realizados com
profissionais da rede pública de ensino - professores, coordenadores e diretores que
atuam no ensino médio no município de São Paulo. A pesquisa, de natureza
qualitativa, buscou levantar dados que permitam avaliar possíveis adequações de
Onda Jovem (revista e site) às necessidades desse segmento, público que incorpora
potencial de grande interesse para o projeto.

OBJETIVOS   ESPECÍFICOS



Especificamente, a pesquisa buscou identificar:

quais as demandas do professor de ensino médio em relação à informação
quais os temas em que ele sente mais necessidade de apoio quando se trata de
juventude



PROPOSTA    METODOLÓGICA



Para atender aos objetivos relacionados acima, realizaram-se, em novembro de 2007,
quatro grupos focais, assim distribuídos:



Perfil do grupo                                                                         Nº    de
                                                                                        grupos
1) Professores de escolas de periferia do município de São Paulo                           01
2) Professores de escolas centrais do município de São Paulo                               01
3) Professores engajados - com atuação mais ativa no meio educacional                      01
4) Coordenadores pedagógicos e diretores                                                   01
Total                                                                                      04

Perfil dos participantes dos grupos

Grupo              Homens    Mulheres    Humanas          Exatas      Biológicas         Total
Periferia            03         06         05               03            01              09
Central              02         06         04               02            02              08
Engajados            00         06         04               00            02              06
Coorder/dir          02         05       (05 coordenadores pedagógicos e 2 diretores)     07
Total                07         23            13             05             05            30

Com exceção de 01 participante que está dando aula há 2 anos e 01 que é
readaptada (devido a problemas nas cordas vocais, está afastada da sala de aula,
desenvolvendo trabalhos na biblioteca), os demais estão na rede pública de ensino há
mais de 05 anos e, no momento, exercendo suas atividades em sala de aula.



                                                                                                   3
A análise, apresentada a seguir, baseou-se no posicionamento conjunto dos
participantes dos quatro grupos, registrando, quando pertinente, particularidades
observadas em um determinado grupo.




                                                                                4
TRABALHO   E   LAZER




                   5
1. TRABALHO

O que caracteriza o dia-a-dia do professor de ensino médio da rede pública é a
diversidade: é preciso dominar conteúdos diferentes (diversas disciplinas); conviver
com públicos diferentes (ensino fundamental, médio e EJA - Educação para Jovens e
Adultos), adequar-se a sistemas diferentes (público estadual, municipal e privado).

       “Eu leciono sociologia, filosofia, história e geografia. Estou na rede pública e
       particular também.”

       “Dou aula no ensino médio e fundamental. Trabalho com dois cargos: biologia
       e ciências, e estou no EJA também.”

       “A grande maioria trabalha dois, três períodos, escola particular, escola da
       prefeitura, do estado. Conciliar tudo isso é complicado.”

São poucos os professores que conseguem dedicar-se a uma única disciplina, um
único segmento e uma única escola:

       “Eu sou professora efetiva, de língua, leciono no ensino médio, na Escola X,
       que fica na Zona Oeste de São Paulo.”

O fato de ter uma atividade diária mais regular, não torna a rotina dos coordenadores
e diretores mais tranqüila: no dia a dia, eles têm de dar respostas às empresas
parceiras, aos interesses antagônicos de professores e diretores e, no fim de semana,
alguns coordenadores ainda participam do projeto Escola da Família

       “A minha escola ainda tem três grandes empresas parceiras, então a
       cobrança é três vezes maior.”

       “Eu também trabalho na Escola da Família de final de semana.”

       “A gente tem que administrar muito bem isso. E não é nada fácil, você tem
       que agradar aos dois lados. O diretor quer que você fique do lado dele, e o
       professor quer que você fique do lado deles. E aí... “

a) LIÇÃO   DE CASA



Diante dos desgastes dessa agenda de trabalho e, algumas vezes, do não
reconhecimento do investimento profissional, a grande preocupação desse segmento
é aprender não levar trabalho para casa.

Esta posição é muito acentuada entre os professores de escolas centrais e
coordenadores e diretores, constituindo quase uma cultura corporativa.

       “Procuro fazer tudo na escola: se tiver prova, eu procuro corrigir no horário
       do HTPC (horário de trabalho pedagógico coletivo). Se estou com aula vaga,
       eu fico lá na sala dos professores, mas em casa, jamais!”


                                                                                          6
“Os meus três primeiros anos e meio eu fiquei feito uma doida. Eu me
       estressava, eu fazia de segunda a sexta-feira, dez a doze horas por dia, nos
       finais de semana. Um dia, num planejamento do ano passado, um professor
       me disse: “você não tem nada para fazer na sua vida? Vai namorar.” Isso
       porque eu tinha montado o planejamento redondinho. Eu: “Opa, espera um
       pouco. E eles não estão dando valor?” Meti o pé no freio.”

       “Nunca levo serviço para a minha casa. Isso eu fiz só no meu primeiro ano de
       trabalho na escola. Eu levei diário, eu fiquei noite preenchendo. Nunca mais.”


2. LAZER

Em seus momentos de lazer, professores, coordenadores e diretores gostam mesmo é
de viajar e ler, principalmente revistas.

       “Nas poucas folgas, nos finais de semana, eu vou para minha casa no
       interior.”

       “Sempre viajo nos finais de semana para praia, para casa de alguém.”

       “Eu estou sempre lendo, quando tenho um tempo, viajo.”

       “Eu compro livros de ficção, vídeos, mas tem sempre no meio alguma coisa,
       uma revista de educação, que eu vi, ‘que é interessante’...”

       “Eu leio Veja, Isto É, depois Nova, que eu gosto de fofoquinha, Cláudia,
       Manequim, Boa Forma. Gosto de ler bastante, passou na frente....”

       “A Superinteressante eu sou assinante e Mundo Estranho também, acho
       muito legal.”

a) CORPO   SÃO, MENTE SÃ



Outra atividade destacada pelos professores, principalmente os do grupo de escola de
periferia, é a prática de atividades físicas como forma de buscar o equilíbrio.

       “Nas horas vagas, prefiro cuidar do meu corpo, ir para academia, fazer
       atletismo. Acho que o professor precisa se cuidar para ter estrutura, uma
       união física, mental e espiritual. Só assim para conseguimos superar todas as
       dificuldades da Educação.”

       “Eu faço ioga.”

       “Eu também pratico esporte, jogo futebol.”




                                                                                    7
b) NAVEGANDO

A internet é identificada em todos os grupos não apenas como uma ferramenta de
pesquisa, mas também como um espaço de lazer.

       “...o que eu acho que todo mundo deve fazer é navegar na internet. Eu não
       vejo como obrigação, vejo como prazer.”

       “Vejo os filminhos, entro na uol, fico pesquisando site de viagem, coisas
       assim... “

       “... eu gosto de ficar na Internet, eu faço as minhas pesquisas, mas é um
       lazer para mim também. “




                                                                                   8
O ESPAÇO ESCOLAR




               9
1. A INSTITUIÇÃO

Quando questionados sobre as relações entre os segmentos do corpo docente
(professores, coordenadores pedagógico e diretores), os entrevistados apontam uma
série de conflitos, muitas vezes relacionados à instituição. Neste sentido, destacam-
se:

a)   AS DECISÕES VERTICALIZADAS NO SISTEMA EDUCACIONAL


As decisões institucionais referentes à educação - estejam elas contidas nas diretrizes
básicas de educação ou nas orientações da Secretaria Estadual de Educação - são
vistas pelos participantes dos grupos como verticalizadas, que revelam dificuldades de
aplicação em diversos âmbitos:

socioeconômico

         “Eu tenho que trabalhar com um conteúdo programático adequado aos
         números de uma faixa etária. Só que os meus alunos trazem uma base que
         não condiz com aquilo que eles estão tendo de aprender. Ou eles vêm semi-
         analfabetos ou eles vêm com uma defasagem enorme.”

capacitação

         “A gente fica muito mal quando é imposto. Eu tenho um aluno de ensino
         médio que é portador de necessidade especial, com deficiência mental,
         que mal sabe escrever, e a gente não recebeu nenhuma instrução de como
         avaliar. Isso vem crescendo a cada ano e não há subsídio para nós,
         enquanto educadores. “

mecanismos

         “O professor não estava preparado para educação continuada, aquilo que
         era uma continuidade acabou virando uma aprovação automática mesmo.”

funções

         “A escola assumiu muitas funções que não são dela. Este ano eu fiquei muito
         indignado com algumas situações, por exemplo, de vasculhar quintal de
         aluno por causa de dengue, cuidar da carteirinha de vacinação. Eu não
         tenho obrigação de cuidar da carteirinha de vacinação do aluno, isso é função
         do pai. Eu não tenho que ficar vendo se o cão foi vacinado ou não.”

interesses

         “O Estado geralmente manda projetos goela abaixo. Não fazem um
         levantamento prévio de quais necessidades trabalhar. Eles sugerem temas, e
         como eles mandam materiais, nós temos o compromisso de usar.”



                                                                                    10
b)   SERVIÇO PÚBLICO E GRATUITO



Na visão dos participantes, o princípio de gratuidade do serviço público entra em
choque com uma burocracia que não atende às demandas do dia-a-dia de uma
escola.

Para viabilizar ou agilizar alguma atividade escolar, muitas vezes os professores
acabam arcando com os custos ou rateando as despesas entre os alunos, mesmo
sabendo das penalidades sobre esse tipo de ação.

          “A professora que foi suspensa três meses porque cobrava cinqüenta
          centavos dos alunos para que eles já recebessem a prova impressa e não
          tivessem que copiar. Uma palhaça de uma mãe foi lá e denunciou.”

          “Nesse caso, o Serra teve a cara de pau de ir na televisão e dizer que “era só
          escrever uma cartinha para mim que eu teria mandado o dinheiro ou o xerox
          já pronto”, quando todos aqui dentro sabemos que para conseguir um
          abridor de garrafa na escola, mais de cinco anos se passarão e tu não vai ver
          o abridor. Esta é a realidade. “

          “Quando tem um material importante, eu tenho que xerocar, levar para o
          aluno... tudo isso com ônus meu. A gente tem de criar subsídios, sai do meu
          bolso.”

          “Toda a vez que a gente monta um projeto, nunca tem ajuda financeira.
          Quem vai custear são os próprios alunos. A gente às vezes cobra um
          pouquinho a mais de quem tem condições de pagar e acaba rateando para o
          aluno que gostaria de ir.”

          “Eu faço uma atividade com eles que eu chamo de Saber com Saber. Eu levo
          bolacha, quem pode leva salgadinho, mas a maioria sai do meu bolso.”

c)   COM POUCOS INSTRUMENTOS DE CONTROLE



A pouca quantidade de instrumentos de controle nesse setor também são
identificados pelos entrevistados como um dificultador. Não há muito o que fazer com
o aluno com baixo aproveitamento, com o aluno indisciplinado ou com o professor
descomprometido, caso ele seja concursado.

          “O professor foi muito desgastado com esta história da progressão
          continuada, perdeu-se o respeito, a aluno sabe que vai passar.”

          “Este ano o coordenador já falou para o corpo docente que não era para
          reprovar aluno, por causa do bônus. Se a gente reprova alunos, a nossa
          escola fica fora de uma porcentagem do Governo, fica mal vista e tem
          menos recursos.”

          “Hoje, se tem um aluno indisciplinado dificultando o professor em sala de
          aula, perturbando os colegas que estão querendo aprender, o diretor não
          tem muita autonomia para advertir este aluno, para que ele pare.”


                                                                                      11
“Porque no fundo todo mundo só quer pegar o hollerith e ganhar aquele
          dinheirinho, porque ninguém vai mandar eles embora. Infelizmente eu
          vejo a educação segmentada, fragmentada, ninguém fala a mesma língua, e
          o aluno está lá.”

d)   ESTRUTURA FUNCIONAL QUE NÃO CONSEGUE RESPONDER AS DEMANDAS



A estrutura organizacional da escola pública não condiz com as demandas
apresentadas. O mau dimensionamento resulta em uma sobrecarga de trabalho e
desvios de função: o diretor está fazendo parcerias e repassa as funções
administrativas para o coordenador pedagógico, que acaba não atendendo às
necessidades do professor, que quando precisa faz até limpeza.

          “Não é função minha ficar fazendo parceria com hospital, com creche, com
          não sei o quê. Porque o Estado também não se responsabiliza por essas
          coisas e nós que temos que correr atrás? A gente faz porque não tem quem
          faça.”

          “Só em caso extremo eu envio um aluno para direção. Porque diretor está
          sempre ocupado, o coordenador também está sempre ocupado. Eu já tomei a
          seguinte decisão: não mando, resolvo com aluno, mando o aluno dar uma
          volta... “

          “O coordenador é muito importante, mas dentro da escola o coordenador
          acaba não assumindo as suas funções. Ele acaba sendo vice, ele acaba sendo
          diretor.”

          “A função do coordenador é muito mal estabelecida. Você faz um pouco de
          tudo: é desde o pedagogo... merendeira, inspetor de aluno, tocar o sinal,
          tudo... Bobo da corte.”

          “O professor está dentro da sala de aula, mas se precisar de limpeza, ele
          vai ter que arregaçar as mangas. Porque não temos funcionários, então todo
          mundo está sobrecarregado”.

e)   A ESTRUTURA FÍSICA TAMBÉM DEIXA A DESEJAR



Na visão dos entrevistados, a estrutura física da organização voltada para jovens é:
inadequada (giz, lousa, carteiras pequenas), sub utilizada (bibliotecas com bons
livros mas fechadas, situação destacada principalmente pelos professores de
periferia) ou não utilizada (computadores do projeto Intra.gov estragando).

sala de aula

          “No mundo onde eles têm internet, tecnologia, nós estamos com giz e lousa,
          material inadequado. Até as carteiras são pequenas para os alunos do
          ensino médio.”




                                                                                  12
biblioteca

           “Nas bibliotecas têm muitos livros que são bons e caros, porque a verba que
           é gasta com livros é considerável. O Governo mandou muitos títulos bons, de
           todas as áreas para o professor.”

           “A biblioteca existe, mas a função da biblioteca nem sempre ocorre, porque
           a maioria fica fechada: tem o espaço e tem os livros, mas faltam
           funcionários.”

           “Até para o professor tem restrições no uso do livro. Para o aluno usar, o
           professor tem de dar autorização.”

           “Não emprestam porque dizem que o aluno estraga. O professor tem de
           autorizar, fazer um bilhetinho: fulano, do número tal, autorizado pelo
           professor tal.”

espaço informatizado

           ”Como a plataforma de governo do Alckmin era Escola da Família, ele
           montou, em cada escola, uma sala para 20 computadores, onde seria
           instalado um programa que chamava Intra Gov. Só que nunca entrou, lógico.
           As salas estão lá trancadas, o Intra Gov nunca chegou.”

           “A maioria das escolas tem um sistema GOV que é a banda larga do governo
           estadual. A maioria das escolas tem, está montada, mas não está instalada.”

f) ...A   CORDA ARREBENTA



Diante de tantas regras, regulamentos, demandas, propostas, as escolas e os
professores acabam atuando da forma possível ou conveniente.

           “Na escola privada não, mas o professor numa escola pública, ele é
           autônomo. Se eu, enquanto professora de história, chegar na quinta B e
           achar que eu tenho que dar só história do Brasil e na sexta um pouquinho
           Europa, Revolução Francesa, eu faço. Se eu achar que eu devo fazer isso, eu
           faço. É complicado, porque o professor do ano que vem vai lidar com isso.”

           “As escolas têm dinâmicas muito diferenciadas. Quando a gente fala de
           uma escola, ela é muito autônoma em si. Então o que acontece numa escola,
           muitas vezes não acontece em outra escola, embora sejam todas de
           periferia, todas estaduais. Têm uma dinâmica muito diferenciada.”

           “Eu já trabalhei oito anos no Taboão da Serra, adorei trabalhar lá, era uma
           escola de renome, tinha gente que passava na USP. Depois que você sai,
           quando você começa esta via-crúcis de uma escola, outra escola, você vai
           vendo que tem de tudo no Estado.”




                                                                                    13
2. PROJETOS

Segundo os entrevistados, no momento, os projetos tornaram-se um instrumento de
atuação importante dentro dos estabelecimentos e que contabiliza pontos para escola
junto à Diretoria de Ensino.

      “Não sei se você percebeu que todo mundo tem um projeto, porque parece que
      o Estado só funciona com projeto.”

      “Projeto é uma coisa cotidiana na minha escola, em qualquer outra escola.
      Tudo o que se faz de programação é feito mediante projetos.”

      “Diretoria gosta muito de projetos, são apaixonados por projetos. Quanto mais
      projetos a escola tiver, quanto mais ativa a escola for, mais a Diretoria de
      Ensino admira.”

      “Os projetos que a escola faz ou que manda documentação que fez, contam
      pontos na hora de se avaliar a escola.”

Nesse segmento de projetos, destacam os desenvolvidos pela secretaria de Educação
(Agita Galera, Escola da Família, entre outros) ou integrados a outras secretarias, que
no caso relatado, não teve a adesão da diretora.

        “Agita Galera é um projeto que vem lá de cima. Naquele dia a escola tem
        que fazer uma série de atividades, tem de agitar a galera”

        “Eu estava fazendo parte de um projeto da Secretaria de Meio Ambiente
        para trabalhar com a educação ambiental ligada a bacias hidrográficas:
        colocar para a comunidade aquele projeto da escola. O que acontece? Às
        vezes você não tem esta aceitação por parte da direção, ela bloqueou
        tudo...”

Existem os projetos realizados em parceria com empresas ou organizações não
governamentais:

        “Foi assim: a Fundação Tide Setúbal mandou um material para a escola e a
        direção passou pra mim porque sabia do meu interesse. Eu procurei a
        Fundação, eles me convidaram para algumas reuniões... Hoje tem uma
        estagiária que acompanha de perto o projeto... Os alunos mandam o material
        para lá, eles formatam o jornalzinho e mandam para a gente.”

        “Temos a parceria com uma empresa, que é o Unibanco. Ele adotou quatro
        escolas da nossa região, uma das escolas é a nossa. Então nós temos uma
        verba muito boa até para investir na qualidade do ensino na nossa região. O
        projeto está sendo um projeto piloto aqui em São Paulo.”




                                                                                    14
15
E projetos que nascem do esforço de professor:

       “No caso do sarau que eu faço na escola, no início eu fazia convites, colocava
       na sala dos professores, pedia ajuda, e algumas vezes me decepcionei, mas o
       sarau nunca deixou de sair. E hoje ele já está mais ou menos conhecido, é
       mais fácil, mas ainda é difícil achar um dia letivo para fazer.”

3. A RELAÇÃO COM O TERCEIRO SETOR

Sobre o Terceiro Setor, os participantes acreditam que se a ONG tiver um trabalho
sério pode estabelecer uma parceria positiva com a escola, mas resistem à ingerência
e ao oportunismo de algumas organizações.

       “Têm ONGs que são realistas, vão te propor fazer o trabalho; tem uma que
       chega, quer indo impor seu trabalho. Educação tem um problema: ninguém
       vai na sala de cirurgia ensinar o médico operar, ninguém vai no escritório
       ensinar advogado a advogar, mas todo mundo quer meter bedelho na
       escola...”

       “Acho que a ONG funciona quando foi formada ali dentro da comunidade.
       Porque eles têm vínculo com escola, tem amor porque os pais estudaram ali,
       estão sem terceiros interesses. Porque hoje em dia, ONG virou um comércio
       na verdade. Eu tenho uma ONG na minha escola que é muito difícil de
       trabalhar, porque estou em Perdizes praticamente, o público não tem
       interesse, deveriam atuar numa área mais periférica.”

4. O DIRETOR

Os entrevistados identificam a atuação da direção muito restrita à questão
administrativa.

       “A direção toma a gestão administrativa tão forte que ela acredita que o
       direcionamento administrativo seja mais importante do que o educacional. E
       o professor sempre trabalha o educacional.”

       “Olha, já passei por quatro escolas estaduais e, de uma forma geral, acho
       que o diretor interfere mais na parte administrativa e disciplinar. Eu acho que
       existem outras questões importantes dentro de uma escola, como trabalho, a
       equipe escolar, a concepção de educação que se tem ali, que o diretor acaba
       não dando conta...”

Mas reconhecem que o diretor é a cabeça da escola.

       “Um diretor da escola realmente é a cabeça da escola. Agora, ele tem que
       estar presente, ele tem que ser competente, ele tem que estar lá.”




                                                                                    16
5. O COORDENADOR PEDAGÓGICO

a)   FUNÇÃO



Na visão dos entrevistados, o coordenador pedagógico tem uma função importante a
desempenhar dentro da escola que é o de subsidiar o professor em assuntos
relacionados à questão pedagógica e também fazer uma ponte entre os professores e
a direção da escola

         “A parte pedagógica fica para o coordenador. É ele quem vai organizar, vai
         atender às solicitações dos professores nessa questão pedagógica, vai
         subsidiar os trabalhos.”

         “O coordenador faz a ligação entre os professores e a direção. É difícil você
         conversar com o diretor.”

         “A nossa função seria a formação dos colegas para que atinja a sala de aula.”

b)   ATUAÇÃO



Mas percebem que, na prática, esses profissionais têm uma atuação bastante restrita
e apontam algumas questões para justificar essa restrição:

Falta de clareza de função do coordenador

Os coordenadores se defendem: consideram que grande parte do seu trabalho é
consumida resolvendo problemas disciplinares que deveriam ser resolvidos ou pela
direção ou mesmo pelos próprios professores.

         “O problema indisciplina é um problema pedagógico, a gente tem que ver o
         que está gerando a indisciplina, mas atender aluno porque foi indisciplinado
         não é função do coordenador. A minha sala vive lotada de aluno, porque se
         você mandar para o diretor, ele manda de volta.”

         “Então é assim, diretor e vice é para a parte administrativa, é para resolver
         esses problemas de indisciplina que surgem a todo o momento. O
         coordenador é basicamente para trabalhar com o professor.”

         “Quando o professor não dá conta dessa prática pedagógica, cuidar da
         indisciplina dentro da sala de aula, aí tem uma falha, aí ele encaminha aluno
         para direção, ou então o aluno tem que ser encaminhado por algum outro
         problema, um conflito, alguma coisa assim.”

         “Teoricamente as funções do coordenador dizem respeito à parte pedagógica.
         Mas a função do PCP (professor coordenador pedagógico) não é lidar com
         aluno. É com os professores.”




                                                                                    17
Falta de capacitação dos coordenadores

Alguns professores ressaltam: muitas vezes o coordenador pedagógico não está
preparado para sua função. Repreendem os professores em questões pedagógicas,
mas não apontam alternativas para os problemas levantados.

       “Se houver algum problema com um aluno a gente tem de resolver, porque
       às vezes você passa para o coordenador e o coordenador julga que a culpa é
       sua: ‘você que precisa rever os seus conceitos pedagógicos’”.

       “Fui chamada atenção pela coordenadora por reprovar um aluno que não
       freqüentava aula na quinta e sexta, dia da minha aula. Aí eu falei assim: será
       que tem alguma coisa errada no meu pedagógico, a senhora pode avaliar?
       Quando eu falei isso, eu matei a coordenadora. Não tinha nada a orientar o
       meu pedagógico.”

       “Você não precisa ter Pedagogia, no estado, para ser coordenador. Você
       precisa ter licenciatura plena, ter três anos de Estado e passar por uma
       prova de habilitação, que é uma vez por ano.”

Falta de respaldo da escola ao trabalho do coordenador

Mas os professores também reconhecem: a escola não posiciona o profissional para
ele exercer sua função.

       “Jogam o coordenador lá e ele fica perdido. Não só professores que são
       jogados, os coordenadores também.”

       “Onde eu leciono, esse ano entrou uma coordenadora, está meio perdida,
       tentando arrumar. O pessoal está gostando dela porque ela tenta passar um
       trabalho legal, qualquer coisa está ali para te ajudar.”

Falta de apoio dos professores

E assumem sua parcela de culpa (principalmente os do grupo de periferia): muitas
vezes os próprios colegas, professores, não colaboram com o coordenador.

       “Na minha escola esse semestre o coordenador propôs : “o professor que
       quiser preparar algum tema, fique à vontade”. Quem apareceu? Eu propus
       uma dinâmica com o grupo. Mas os outros professores ficam falando “isso aí
       é função do coordenador, ele que se vire”.”

       “Imagine as reuniões em que o coordenador quer trabalhar uma questão
       pedagógica com o grupo e o grupo ou é reticente ou muitas vezes fica com
       conversas paralelas. Acaba minando o trabalho.”

       “Os professores são assim: bateu o horário, eles ficam lá conversando,
       batendo papo. Vem o diretor, vem o coordenador até a sala dos professores e


                                                                                   18
falam assim: “Pessoal, já bateu o sinal, os alunos estão em sala de aula”. Aí
       falam: “Que ruim é o coordenador”.”

c) HTPC –   HORÁRIO DE TRABALHO PEDAGÓGICO COLETIVO



O Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo - HTPC - reunião semanal do coordenador
com a equipe de professores, é identificado como um espaço que pode ser muito
importante para reflexão e troca de experiência:

       “O HTPC é um momento em que os professores estão juntos e vão falar sobre
       as salas, sobre os alunos, sobre algum problema, projeto, estas coisas.”

       “O horário de trabalho pedagógico é o horário que nós estamos juntos. Então
       fica tudo diferente quando existe um coordenador que trabalha junto com
       direção, que apóia. As coisas acabam fluindo de maneira melhor.”

Mas, segundo os professores, na maioria das vezes o horário é mal utilizado,
desviando-se dos assuntos pedagógicos para receita de bolo.

       “Quando é bem utilizado e produtivo é importante, mas já vim de escola que
       dava a receita de bolo na hora do HTPC, e a gente tinha que ficar lá
       cumprindo horário.”

       “...acho que realmente ele é pouco utilizado para o fundamento dele.”

Mas mesmo quando mal utilizado, não deixa de ser um momento de integração dos
professores.

       “Troca receita também, mas é um espaço que existe para gente conseguir
       conversar, para saber como está o professor com sua turma, dificuldades.
       Troca de experiências...”

6. O PROFESSOR

Segundo os participantes, de forma geral, os professores são individualistas (não se
envolvem nem com escola, nem com os colegas) e competitivos.

Esse descomprometimento em relação à escola parece estar associado a uma
situação de provisoriedade dos professores – que estão na escola de passagem e
portanto não vale a pena se envolver - ou porque acreditam que a melhor estratégia
é não se envolver.

       “Eu trabalhei em empresa privada treze anos e na educação você percebe o
       seguinte: os professores são muito desunidos, uma classe desunida. Eles não
       trabalham a favor, eles trabalham no individual. Ele vai para uma escola mas
       não quer se envolver com absolutamente nada porque ano que vem “eu
       estou fora dessa escola”. Não pensa naquele ano que ele vai trabalhar, então



                                                                                  19
ele pode fazer um bom trabalho durante um ano, sair da escola, deixar
          alguma coisa feita lá.”

          “Este ano, 2007 foi uma experiência interessante para mim. Consegui pegar
          cinco escolas, vou numa na segunda, uma na terça, a outra na quarta,
          quando eu chego, a coisa está acontecendo, quando eu volto na outra
          semana já virou, já virou a música. Hoje eu me envolvo com o meu aluno,
          dentro da sala.”

O individualismo entre os colegas também parece estar associado à dinâmica
organizacional, em que o trabalho é realizado de forma solitária (professor e aluno) e
a organização não tem um trabalho efetivo, além do HTPC, para integrar os
colaboradores.

          “Quanto ao coleguismo, amizade, praticamente não existe entre os
          professores. Eu vim de empresas, quinze anos de empresa, era outro
          ambiente.”

          “Às vezes você não conhece o colega. Dá aula na mesma escola e não se
          vêem..”

          “É verdade, porque a gente chega, pega o material vai para sala de aula,
          cada um na sua sala... Não há tempo.”

          “Quando eu vim para cá, peguei aula numa escola grande e demorei um mês
          para conseguir conversar com algum professor de lá, eu chegava, falava
          bom dia, boa tarde e ninguém respondia.”

          “Mas tem uma coisa, ninguém é apresentado, você chega lá e o diretor
          não fala: “este é fulana, vai dar aula disso”. Não, você vai lá, e fica lá.”

Outra questão levantada pelos entrevistados é a competitivade gratuita entre os
professores.

          “O ambiente entre os professores é competitivo sem competição. É
          competição para derrubar os colegas sem a mínima necessidade.”

a)   EFETIVOS X EVENTUAIS



O que em um primeiro momento é colocado como uma relação individualista, quase
fria, acaba por revelar a existência de dois grupos bem delineados e até mesmo
aguerridos: os efetivos e os eventuais (também chamados de OFA – ocupantes de
função atividade).

          “Os professores efetivos ficam mais tempo na casa, tem uma carga maior,
          tem uma cumplicidade entre eles. Quando chega um professor novo, que é
          chamado OFA, numa escola que tem bastante efetivo, é difícil se enturmar
          porque já tem um grupo que já está formado.”



                                                                                         20
“O grupo de efetivo da escola... os professores estão sempre juntos.”

       “Sou efetiva, falo por experiência própria, é assim: o efetivo está há bastante
       tempo na mesma escola e a escola é como se fosse a minha casa, minha raiz
       ali. E com o professor efetivo você forma um grupo, um vínculo muito grande
       com a escola.”

       “Os eventuais são os pobres coitados. Algumas pessoas olham para os
       eventuais como se eles fossem desqualificados.”

Se há efetivos que consideram os eventuais desqualificados, há eventuais que
consideram que a efetividade pode gerar uma acomodação nesse segmento.

       “Porque muitos se contaminam pelo fato de estarem como efetivos no cargo
       e ninguém vai mexer com eles. Muitos não se preocupam em aprimorar um
       pouco o conhecimento, buscar uma leitura, informação. Acaba se tornando
       um retrocesso.”

Nesse “duelo” os coordenadores ressaltam a força dos efetivos dentro da organização.

       “... vamos falar das facções, a facção dos efetivos, a facção dos eventuais, os
       OFAs. Mas se você ganha o pessoal efetivo, você ganhou a escola.”

b) PROFESSORES   DOENTES



Além dos efetivos e eventuais, os coordenadores e diretores identificam uma nova
categoria dentro da escola: o professor doente. Segundo eles, a condição de trabalho
estressante está causando o afastamento dos professores por adoecimento. O
ambiente da escola reproduz as condições sociais e provoca medo, principalmente em
relação à violência e drogas

       “Eu acho que a gente está numa fase que os professores estão doentes,
       tirando exceções que é meio charlatanismo e existe. Mas a maioria está
       mesmo doente.”

       “Doentes na parte psicológica, na parte física. O que nós temos hoje na rede
       de professor readaptado... Processo readaptado (professores que, devido a
       problemas de saúde, passam a exercer funções administrativas.)”.

       “A falta de apoio acaba transformando o professor num catalisador de todas
       as energias que circulam em torno da escola, tanto positivas quanto
       negativas. Adoecem. Se o professor não tiver uma válvula de escape,
       realmente ele vai para um sanatório, para algum outro lugar, vai mesmo.”




                                                                                    21
O JOVEM ESTUDANTE, NA PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES




                                               22
1. O JOVEM

O professor, normalmente, observa muito de perto o processo de transformação do
jovem. Muitos dão aula também para o ensino fundamental, além do médio, e
acompanham o aluno nesse ritual de passagem: o adolescente do fundamental para o
jovem do ensino médio.

A) SUAS CARACTERÍSTICAS JÁ CONHECIDAS



Destacam neste novo aluno, o jovem: o distanciamento e a onipotência.

          “Quando o adolescente sai da oitava série para o ensino médio, parece que é
          um alívio: “ufa, sou adolescente, estou no ensino médio”. O comportamento
          muda radicalmente, se tornam onipotentes, tudo podem. Nada contra eles,
          eles testam mesmo, quanto mais desequilibrado o professor ficar, mais eles
          provocam, quanto mais ele gritar, mais provocam.”

          “No fundamental o professor é referência para os alunos. No ensino médio
          eles ficam distantes, só te procuram quando tem um interesse. Como
          entender a cabeça desse jovem, para estar próximo dele, entender este
          pessoal? Se existe alguma metodologia, eu desconheço.”

Onipotência, distanciamento, contestação, hormônios são vistos pelos entrevistados
como características inerentes à juventude, e reconhecem que eles também
passaram por isso.

          “Ele é um contestador, ele vê até onde que ele pode ir, te chama de qualquer
          coisa. Ele é contestador pelo simples fato de ser jovem.”

          “É coisa de fase também, são os hormônios. Tem que haver este exercício
          de se colocar também no lugar deles. Eles estão se descobrindo.”

          “Testam o professor, quer saber onde é o limite da gente, até onde pode ir e
          até onde ele vai junto. Limite da paciência. Ficam provocando, até o
          máximo, para saber onde você agüenta. Ficam irritando.”

b)   SUAS NOVAS CARACTERÍSTICAS



Nesse cenário, surgem ainda elementos novos, com os quais os professores admitem
ter dificuldades de lidar, devido à falta de referências teóricas ou mesmo de vida.

homossexualismo
As experiências homossexuais à vista de todos (principalmente as femininas) são
colocadas pelos entrevistados como uma realidade, mas que chocam os professores,
principalmente os mais velhos.




                                                                                    23
“Surgiram casais de namoradas na escola. Elas se beijam, se abraçam, se
        amassam na frente de todo mundo. A maior parte dos professores se choca
        com aquilo.”

        “Minha escola também tem dois ou três casais de meninas. Eu acho que o
        problema não são elas e sim os professores muito antigos. Não é que eles se
        chocam com o novo, mas se chocam com qualquer coisa.”

        “Eu tive alunas, que no início eram homofóbicas, batiam de frente; de
        repente, as mesmas meninas se encontram no banheiro e se beijam, se
        abraçam, e por aí vai. E para você entender que aquele grupo era homofóbico
        e depois estava lá se beijando?        Eles acreditam que isso não é ser
        homossexual, só estão testando. Para a nossa aprendizagem, nossa
        educação, é difícil.”

Ressaltam inclusive que a Diretoria de Ensino ofereceu um curso para a categoria
sobre diversidade sexual.

        “...teve um curso na diretoria de ensino este ano sobre diversidade sexual.
        Explica muito isso, porque a Educação é muito antiga, tem muitos
        professores antigos, diretorias de ensino são antigas, diretores são antigos,
        supervisores são antigos. Querem que a gente se modernize, mas eles não se
        modernizam também!”

drogas

Outra questão levantada pelos participantes é o contato acentuado dos estudantes
com as drogas. Os professores de periferia destacam inclusive o delicado
relacionamento com o aluno traficante e usuário.

        “Na periferia onde estou este ano, está sendo barra pesada, pois são
        traficantes. Eles vão para a escola para vender a droga e entra na sala e
        tenta aprender alguma coisa. ”

        “O usuário dá problema, porque ele sai da sala para fumar, para cheirar... ”

        “No mês passado tivemos um problema com um menino que teve overdose.”

tecnologia

Outra novidade é a ampla utilização de tecnologia portátil (celular, MP4 etc) dentro da
sala de aula, destacada pelos professores com um elemento de dispersão do aluno.
Esse item foi destacado com mais ênfase pelos professores das escolas centrais.

      “A gente tem que pedir toda hora para desligar porque atrapalha a aula. Eles
      não sabem utilizar celular no vibra, ou pedir licença. Fazem questão de
      chamar atenção. Vai sair uma lei agora para impedir aparelhos na escola.”




                                                                                       24
“Aparelhos eletrônicos, celular, MP3, atrapalham muito.”

      “Tem professor que pega o aparelho e leva para a direção. Eu pego e falo: ‘Vai
      ficar comigo, quando terminar a aula eu devolvo’. ‘Tudo bem professor, me
      devolve mesmo?’ ‘Claro, não é meu’”.

2. O PROFESSOR DIANTE DO JOVEM

Para se relacionar com o aluno, o professor acredita que é necessário:

a)
Inicialmente, colocar-se como um “adulto” – se impor, se conter, estabelecer limites,
compromissos:

        “Você tem que se impor na sala de aula, se não tiver postura, você não dá
        sua aula.”

        “Ser mais sério, ser contido, não comentar com os alunos o que não é
        pertinente para aquele momento.”

        “Se o professor se portar mal, o aluno vai se portar mal. O aluno gosta de
        rédea numa sala de aula, ele gosta.”

        “Se o professor é compromissado desde o começo, se pedir atividade, o aluno
        sabe que você vai cobrar a atividade. Porque tem professor que pede,
        esquece que pediu e vai cobrar daqui duas ou três semanas. O aluno é
        esperto, percebe logo.”

b)
Mas é preciso entrar para sala de aula com uma proposta clara de conteúdo e
compromissos:

        “O professor, quando vai para uma sala de aula, ele tem que ter
        conhecimento de causa, do assunto que vai falar, saber o que ele está
        fazendo lá. E principalmente ele tem que ter uma postura transparente, uma
        postura honesta do começo, meio e fim.”

        “O aluno percebe quando o professor chega lá e não sabe sua aula, não tem
        conhecimento do conteúdo, não tem postura, eles montam em cima. Quando
        percebem que o professor é comprometido, que não falta, ele tem uma linha
        de trabalho, é organizado, ele cobra, exige respeito, ele também tem outra
        postura com este professor.”

        “Eu tive uma experiência assim: uma aluna foi reclamar de mim na delegacia
        de ensino. Sabe quem me defendeu na sala de aula? Os piores alunos, não
        foram os bons. “Ela quer dar aula, nós é que não deixamos”. Então a gente é
        um referencial para eles, e a nossa vivência de vida é o que vai nortear eles
        lá para frente. Não é a matéria em si, Matemática, Física, Biologia.”


                                                                                   25
c)
Após estabelecer as diferenças necessárias, é hora de se aproximar. Para quebrar o
distanciamento, muitos professores têm utilizado-se de sistemas virtuais de
relacionamento, como Orkut e MSN, instrumentos bastante populares entre os
jovens.

Segundo os professores, esse sistema tem possibilitado resgatar uma relação de
proximidade e respeito com o aluno.

       “Você conversa com eles pela Internet, pelo Orkut, pelo MSN. Tem hora que
       você tem que falar: espera um pouquinho. Mas facilita a amizade, o
       respeito.”

       “Isso é prazeroso, eles são outros à medida que você tem este contato
       direto com eles. Facilita muito.”

       ”E aproxima mais, você fala linguagem dele, percebe que você não bloqueou
       ele, é até inconsciente. Mandam recados, se você não responde, te cobram.
       Aí você volta um pouquinho no ensino fundamental onde o aluno
       ainda tem essa ligação com professor e no ensino médio eles perdem
       isso.”

       ”Até alunos que nós achamos que são mais desrespeitosos, encrenqueiros, na
       hora que eles entram pela Internet, Orkut, MSN, são quase formais, eu dou
       até risada sozinha: “Na sala não faz nada!””

O esforço em reforçar a proximidade não fica apenas no contato on-line. Os
professores buscam também se inteirar do universo jovem para falar a mesma língua
e facilitar o contato com os alunos. Nesse sentido, vale assistir programas juvenis
como Malhação, Rebeldes, ler Toda Teen, Capricho.

       “Quando eu comecei a dar aula alguns professores sugeriram: “Se você tiver
       um tempinho, assiste Malhação, a novela Rebeldes porque é o que eles
       gostam. Aí você vai aprender como lidar com ele, o que está interessando
       aquele jovem no momento.”

       “Às vezes, quando o aluno está com Capricho na sala, eu falo: “Deixa eu
       dar uma olhadinha na Toda Teen, Capricho”, e eles gostam: “Puxa
       professora, que bom, você lê nossa revista!”

Outra forma de aproximação são as atividades programadas, dentro da sala de aula
ou nos fins de semana na escola.

       “Eu tenho uma atividade com eles que chamo de Saber com Sabor, em que
       eu levo bolacha, refrigerante; quem pode leva salgado, mas a maioria sai do
       meu bolso, e fazemos um debate. Às vezes eu começo a falar, me emociono,
       eu choro, eu senti que eles perceberam que eu não sou aquela pessoa
       detentora de todo saber do mundo, que eu tenho falhas, que eu sou humana,
       eu sou próxima a eles. Eu percebi em algumas classes uma grande diferença


                                                                                26
nos alunos, o modo de me tratar melhorou cem por cento. Tem alguns que
         ainda estão lá para desafiar, para não fazer nada mesmo.“

         “Às vezes, eu monto atividade no sábado na escola, nós temos aquele tete-a-
         tete, que é o momento em que eu não vou estar distante, eu vou estar ali in
         locu, eu e o aluno, desenvolvendo alguma coisa em alguma ocasião.”

         “Jogo futebol com os alunos aos domingos e isso tem resultado positivo
         refletido na relação com o professor na sala de aula.“

3. O LADO BOM

Na visão dos entrevistados, o lado bom de trabalhar com jovens são os resultados, é
acompanhar um processo de transformação durante uma atividade ou de um ano
letivo.

         “Às vezes, de uma atividade que você faz saem revelações. Tem alunos que
         às vezes se surpreendem com ele mesmos, que ele não sabe o que tem ele.
         Nessas horas a gente fica maravilhada, a gente fica encantada.”

         “Agora eu estou mostrando as obras do realismo, e minha maior satisfação é
         no final do ano que eu vejo que o aluno atingiu os objetivos propostos,
         meus alunos montando a peça, indo atrás, deixando recadinho no Orkut,
         pedindo ajuda...”

Outro ponto importante nessa relação destacada pelos entrevistados é a possibilidade
de se renovar com eles.

         “Mas você está aprendendo com os jovens... aprende no dia-a-dia com o
         aluno.”

         “A transformação na idade deles é tão rápida quanto o nosso aprendizado em
         relação a isso. Se você não se antenar, não ficar mais esperto, ele passa
         como trator por cima de você. Isso é ruim? Não, isso é bom.”

4. A ESCOLA PARA O JOVEM

a)   TERRITÓRIO QUE ACOLHE TUDO...



Os entrevistados percebem que o espaço escolar hoje é para o jovem um território
em que ele se sente à vontade para vivenciar:

sua afetividade

         “Qual a válvula de escape deles? É a escola. É ali que eles vão se encontrar,
         namorar. É ali que vão estabelecer várias formas de convívio entre eles.”




                                                                                    27
sua ansiedade

        “A escola é um lugar de extravasar aquela responsabilidade que eu sinto
        em vários alunos. Eles estão andando sozinhos muito cedo, então eles têm
        uma responsabilidade em casa.”

seu abandono

        “A sociedade hoje é muito violenta, a rua é violenta, os pais não param em
        casa... Vão para escola....”

sua violência

        “Os intervalos são um verdadeiro ringue. Basicamente com a violência. Eles
        não têm lazer. A escola hoje para eles virou um clube. A quadra é clube.”

sua identidade

        “É a maneira dele se manifestar. Ele usa o espaço escolar para chamar
        atenção. É o local onde ele pode manifestar da maneira dele, o que ele
        está pensando, o que ele está querendo.”

b) ...MENOS   UM PROJETO EDUCACIONAL



Se por um lado, o espaço escolar está sendo intensamente utilizado pelos jovens para
exercitar suas vivências e convivências, por outro lado, sua função educativa está
cada vez mais distante.

        “Pela experiência de 12 anos no Estado, eu percebo que a cada ano diminui a
        percentagem dos interessados. De uma sala de 35 alunos, cerca de 5 têm
        interesse e acabam tendo muita dificuldade de aprender quando 30 estão
        interessados em badernar.”

        “Eu vejo que alguns jovens acham, que dentro da escola ele vai ter um futuro
        mais próspero, melhor. Mas alguns vêem a escola como um ponto de
        encontro realmente.”

C) TENTANDO ENTENDER



Na percepção dos entrevistados, esse desinteresse pela educação está relacionado:

à falta de informação

O jovem, muitas vezes, não tem conhecimento sobre a diversidade de cursos e
carreiras que o mercado dispõe ou não consegue identificar suas aptidões e vocações
para determinadas áreas.




                                                                                    28
“Eu percebo que eles, de um modo geral, estão sem expectativa com relação
       a eles mesmos. Principalmente estes com os quais a gente trabalha na
       periferia. Geralmente eles não têm muita informação em relação a
       cursos, a trabalhos, ao que eles podem fazer, às aptidões deles. Aí eles
       acabam se tornando um pouco meio desanimados, como se eles não
       tivessem um ideal de vida.”

 a falta de formação

 Outra questão levantada refere-se a uma formação, principalmente familiar, onde
 projetos como faculdade e carreira nem sempre são acalentados.

       “Eu percebo que falta a educação de base, de família, o aluno não se
       interessa, não se preocupa com a colocação na faculdade, carreira....”

 falta de perspectiva

 Destaca-se também uma questão mais estrutural relacionada às restrições do
 mercado de trabalho voltado para o jovem.

       “Quando os alunos saem da escola, não vê perspectiva de vida para frente e
       dizem: o que vou fazer? Não tem emprego.”

Outra questão levantada pelos entrevistado é que o jovem é imediatista e a educação
é um processo de longo prazo. Nesse ponto, os projetos oferecem uma possibilidade
mais confortável de trabalho, já que é possível ver resultados mais imediatos.

       “Quando nós fazemos um projeto dentro da escola, o jovem consegue ver
       o resultado imediatamente. Mas eles não conseguem fazer um link entre a
       necessidade de educação e futuro. Eles não visualizam isso.”

5. O DESAFIO

Se hoje o jovem está dentro da escola, e gosta do espaço escolar, o desafio do
professor é seduzi-lo jovem com um projeto educacional que seja estimulante,
compreensível, útil.

       “O desafio do professor é conciliar os seus parâmetros, onde ele quer chegar,
       com aquilo que o jovem considera necessário para ele. Você acaba
       trabalhando na sala de aula como um vendedor de idéias. Se você sabe
       vender direitinho alguns compram, outros descartam.”

       “Tem alguns ali que vão para a escola só por causa da presença, mas muitos
       ali têm interesse e você percebe que você pode fazer a diferença para este
       aluno, pode ser uma referência para eles. Então não é só o professor que
       está lá e fica na lousa, mas você pode chegar mais próximo deles, falando:
       “Eu também tive problema, eu comecei a minha vida assim, não sei o que,
       mas eu fui estudar, eu fiz isso”. Para eles irem sentindo essa necessidade de



                                                                                  29
fazer um futuro melhor, e ver na escola uma possibilidade deles saírem
       daquele mundinho, deles quererem mais do que a Cohab, deles quererem
       mais do que o bairro, quererem o mundo.”

       “Muitos professores se dedicam, quando o aluno chega com um sonho eles
       buscam informação, orientam, buscam bibliografias para ajudar o aluno,
       “você pode estudar aqui, ali”. Você pode ir abrindo um leque que
       possibilita o aluno ir adquirindo muito mais conhecimento.”

       “...um aluno falou: “Para que vai servir isso na minha vida? Cultura não serve
       para nada.” Voltei e falei: “vou levar o que para sala de aula para eles
       entenderem o que é arte?” Eu fui atrás de história de grafiteiros, grafite, com
       linguagem...Neste caso, se você mostra, eles: “eu vi realmente a reprodução
       dessa pintura ali”, era da Tarsila do Amaral, os alunos falaram que viram no
       Itaim um grafite bem grande dela, e eles falaram: “Eu vi ali na entrada dos
       granfinos tem”, e é de grafite, releitura, um suporte. Mas tem que trazer
       para a realidade deles, se não trouxer, não consegue. A partir do
       momento que ganhar a confiança dos adolescentes, eles começam a
       entender a aula, aí você pode mostrar o que quiser. Aí, sim, é
       importante.”

       “Eles têm mania de perguntar: “professora, quanto vale isso?” Você está
       dando aula, “quanto vale isso?” Eu respondo: “vale a tua vida, é pouco”?”

       “...tem que fazer um gancho, literatura com novela. Peço para prestarem
       atenção aos erros gramaticais dos jornais, dos erros ortográficos, da
       concordância, e ficam indignados porque falam: “vi tal erro, tal apresentador
       falou errado, usaram tal verbo”, isso para entenderem, se você não traça o
       paralelo, é difícil para o aluno, é complicado o caminho.”

       “Leitura dos clássicos é muito complicado porque o aluno não quer ler. Então,
       eu cobro, eu insisto com uma nota, eu falo: “isso cai no vestibular”. Eles
       pensam em prestar vestibular, pela cobrança dos pais, eles têm o desejo.”

6. OBJETIVO DO ENSINO MÉDIO

Vale ressaltar que no grupo de periferia observou-se uma posição muito acentuada de
que a preparação do aluno para o ingresso na faculdade definitivamente está fora dos
objetivos do curso de ensino médio público.

       “Normalmente as       escolas de ensino médio, as  públicas, não estão
       trabalhando para que o aluno concorra a um vestibular, mas para formar
       cidadão para a vida.”

       “Focar o nosso ensino no interesse do aluno para faculdade, eu acho que é
       pura utopia. Eu já vejo mais além, eu me preocupo com o mercado de
       trabalho desse aluno. Por exemplo, quantos alunos da periferia que vão ter
       condições de pagar uma faculdade, popular? 1%? Com o ProUni? Quantos
       alunos estão engajados na questão do tráfico de drogas? Então é assim, eu


                                                                                    30
estou muito mais preocupado, em relação a nós, professores, em mudar a
        nossa estratégia de ensino, a nossa metodologia de trabalho, para que estes
        jovens se sintam incentivados para o mercado de trabalho, para a gente
        poder atraí-los.”

Destacam-se indicativos de uma percepção de que o sonho da uma faculdade está
restrito a poucos alunos.

        “Nós tivemos há alguns anos um aluno que queria fazer Farmácia e queria
        prestar Fuvest, e de fato ele está no terceiro ano de Farmácia. Só que este
        menino já tinha uma disciplina de estudo dentro de casa, a família já fazia a
        sua parte. Ele saiu da escola pública com o ensino defasado e fez três anos
        de cursinho.”

        “Outro dia um aluno falou: “Eu quero fazer otorrinolaringologia”. Eu não ri
        por uma questão de ética. “O que é isso? O que você quer ser? Você sabe
        como é que faz para chegar nesse nível? Tem que fazer primeiro medicina
        depois, na sua residência, você vai fazer a sua especialidade”. – “É,
        professor? Nossa, eu não sabia”.”

Nesta perspectiva, a realidade, para a maioria dos alunos, restringe-se a uma vaga
no mercado de trabalho.

        “Ele não vai se preocupar em ser um doutor, mas se tiver uma vaguinha para
        ele como auxiliar de enfermagem, para ele está ótimo.”

        “O sonho é maior, mas é difícil adequar o sonho à realidade em que vive, pois
        não tem mecanismos para alcançar esse sonho.“

7. A DIFICULDADE

De forma geral, a família é vista pelos entrevistados como um elemento dificultador
no processo educativo:



seja pela sua ausência no processo educativo do jovem

        “A família deixou a educação para a escola, terceirizou para a escola. Pai e
        mãe não querem educar, querem que a escola eduque.”

        “É colocada na nossa responsabilidade coisas que a família teria que fazer, só
        que não faz.”

seja pela sua presença equivocada

        “Os pais se irritam com lição de casa... Tem uma aluna que aprontou,
        aprontou e nas férias ganhou uma cirurgia de silicone. Os pais achavam que
        ela aprontava muito porque os seios dela eram pequenos.”


                                                                                       31
“Os pais são contra tudo o que você faz, você dá lição para casa o pai
       reclama, prefere que o filho fique no MSN, do que de repente fazer uma lição
       em casa. Os pais reclamam: “mas meu filho, coitado, tem de ler?”.”

seja pela sua desestruturação (socioeconômica)

       “Observando o aluno, como ele fala, a carência na fala, às vezes ele não tem
       estrutura na casa dele e vem procurar no professor um pai, uma mãe.”

       “Os jovens das escolas estaduais, via de regra, são de classe baixa, bem
       baixa, basicamente de favela, que não têm estrutura familiar, que não têm
       perspectiva de futuro basicamente nenhuma, e que vai para a escola porque
       não tem para onde ir.”

Os entrevistados destacam a importância de trazer a família para dentro da escola
em um processo construtivo.

       “A gente tem que trabalhar no coletivo com este jovem. A família tem de
       estar antenada, tem que ser participativa dentro da escola.”

       “Este ano, uma coisa que eu procurei valorizar é a participação dos
       pais na escola. É uma dificuldade muito grande fazer esses pais
       participarem de alguma forma dentro da escola. Eu fiz bastante convite,
       mães que eram enfermeiras vieram fazer palestras da saúde para os alunos,
       avaliamos o trabalho delas junto com eles. Vamos continuar trabalhando
       com drogas, sexualidade.”




                                                                                    32
INFORMAÇÃO SOBRE JOVEM




                    33
1. INTRUMENTOS PARA SE TRABALHAR COM JOVENS

Em relação ao trabalho com os jovens, os participantes (professores, coordenadores e
diretores) reconhecem que não estão instrumentalizados.

          “Temos carências de algumas técnicas. Eu acho que nós temos muitas
          qualidades, mas nós precisamos de que o Governo, a sociedade também olhe
          para a gente.”

          “São problemas que surgem o tempo todo e a gente não está pronta para
          isso. Às vezes você recebe cada situação, cada caso, você fala: puts. Como
          reagir naquele momento, eu não sei.”

          “Não tem um manual de instrução, não veio nada junto.”

          “Eu fui fazer um curso de Psicopedagogia para que eu também possa
          entender este jovem.”


          “Hoje eu sinto falta da gente não ter um conhecimento técnico, científico, das
          etapas que o indivíduo passa. Essa idade da puberdade, que eles vivem
          agora, que é a adolescência, é uma fase de transição muito difícil para eles. E
          para nós também.”


a)   A PRÁTICA



Segundo os participantes, os instrumentos para lidar com os jovens eles tiram da
experiência de vida, da convivência diária com jovens, sejam alunos ou filhos, e da
troca de informação entre os colegas.

          “Estamos aprendendo sozinhos”.

          “Você passou por várias situações semelhantes. E a tua experiência de vida
          te faz conseguir direcionar o olhar do jovem para o que você quer.”

          “Troca de experiências entre os colegas. A gente fala que tem pouco, mas o
          nosso encontro semanal existe para esta troca. Ele é pouco, mas existe.”

          “Tenho uma filha de 15 anos e convivo com adolescente... você tem que
          buscar um caminho com o adolescente, porque não tem curso.”

b)   A TEORIA



E resistem aos teóricos que desconhecem a realidade da sala de aula.

          Acho que é muito fácil falar: “Ah, professor é isso, aquilo!” É muito fácil você
          ser professor de faculdade, agora, ser professor de fundamental e ensino



                                                                                        34
médio, você está ali lidando com eles diariamente. Acho que não existe teoria
        que vai te ensinar a fazer isso, tem que ser prática.

        “A própria supervisora de ensino está afastada da sala de aula há vinte anos,
        que experiência que ela tem nos dias de hoje? Nenhuma. Claro, ela chega lá
        com belíssimo discurso sobre rendimento do aluno, disciplina do aluno, e na
        verdade, ela não está integrada, não vive o dia-a-dia nosso.”

        “Existem publicações que falam sobre avaliação, como se relacionar com o
        aluno. Eu já li umas duas vezes Içami Tiba, é legal, mas quando você traz
        para a prática, para a realidade, 50 jovens, cada com a sua dificuldade, você
        com pressão de direção, coordenação, você administrando o conflito dele, fica
        praticamente inviável você usar algumas coisas que ele acabou idealizando.”

C) FONTES DE INFORMAÇÃO



Quando precisam abordar um tema específico ou dar uma aula diferente, fora do
conteúdo normal, os professores recorrem à internet (consulta ao Google, Wikipedia)
ou a revistas que chegam na escola - voltadas para educação (Veja Na Escola) ou
para jovens (Viração).

        “Eu adoro a internet, você conhece o mundo inteiro.”

        “Eu uso o Wikipedia que é legal. Todos os alunos acessam esse site.”

        “Você põe a frase no Google, ele puxa tudo.”

        “Eu fotografo todas as minhas viagens para trabalho de escola.”

        “A Veja na Escola tem       várias informações que eu acho extremamente
        importantes. Ajuda.”

        “Veja na Escola é um encarte separado, que é especificamente para escola.
        Na minha área, que é cientifica, eu acho legal. Ele vem com orientações. Mas
        a quantidade que chega na escola é insuficiente. O professor discretamente
        pega uma e leva para casa...”

        “Tem uma revista para jovens, chama revista Viração! Eu recebo na
        escola, eu leio, levo para minha filha, já trabalhei a revista em sala de
        aula. Você acaba interagindo com aluno.”

Segundo os entrevistados, para uma aula diferente, às vezes basta um pouco de
criatividade.

        “Quando faço trabalho de meio ambiente, eu sempre levo os alunos no
        Parque Ecológico. Eles têm o pessoal da educação ambiental, é um ambiente
        extremamente legal, com custo zero, e tem todo um apoio interno no
        parque.”


                                                                                   35
“Eu pego uma pilha de jornal com o porteiro do meu prédio. E o que eu faço?
Fim-de-semana eu vou fazer gancho com tecido muscular, com estudo dos
invertebrados, porque sempre tem uma pesquisa... O professor perdeu este
espírito de criatividade, exatamente pela condição em que ele está
trabalhando.”

“Eu tive experiência com os alunos, nós trabalhamos com rótulo de produtos
alimentícios para saber o que são estas tabelas de valor nutricional. Nossa,
um trabalho lindo!”




                                                                          36
CONSIDERAÇÕES FINAIS




                  37
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do conjunto de evidências apresentadas ao longo do relatório, destacam-se:

Perfil dos entrevistados

* Gostam de viajar, ler, navegar.

* Exercem uma atividade que exige um alto nível de adaptabilidade para conviver
com uma diversidade de situações no dia-a-dia: lecionam várias disciplinas; convivem
com alunos com faixas etárias que vão desde o ensino fundamental até o EJA, com
normas e regras diferenciadas de escolas públicas (municipal e estadual) e
particulares.

* Atuam em uma instituição considerada difícil: onde as decisões são verticalizadas;
o principio da gratuidade, às vezes, é um complicador; com poucos instrumentos de
controle; com uma estrutura funcional e estrutural que não consegue atender as
demandas.

* Realizam um trabalho de forma solitária (professor e aluno) e não contam com um
apoio eficaz por parte dos diretores e coordenadores pedagógicos, inclusive por
sobrecarga de trabalho desses profissionais.

* Revelam uma relação ambígua com os colegas de trabalho, ora classificada de
individualista, ora estruturada em grupos bem definidos (como efetivos e eventuais).



Percepção em relação ao jovem estudante



* Acompanham muito de perto o ritual de passagem da adolescência (ensino
fundamental) para a juventude. Fase marcada por características já conhecidas
(contestação, onipotência...)

*  Admitem certa     dificuldade    para    lidar   com   novos   comportamentos:
homossexualismo, drogas, tecnologia.

* Revelam que utilizam algumas estratégias atuais para aproximação do jovem como
Orkut, MSN, com resultados positivos. E que estão sempre atentos às atualidades do
universo deles – novelinhas, revistas...

* Ressaltam que para o jovem a escola tornou-se um importante território para
vivenciar sua afetividade, sua ansiedade, sua violência, sua identidade.

* E que, em meio a tantas possibilidades, o projeto educacional perdeu espaço. De
uma forma geral, o jovem gosta da escola, mas não se interessa pelos estudos.




                                                                                  38
* Especulam que esse desinteresse possa estar relacionado ao desconhecimento de
alternativas vocacionais (o jovem desconhece o universo de profissões existentes e
suas próprias vocações); ao fato de muitos não crescerem em um ambiente onde
faculdade, carreira são projetos acalentados ou porque, de forma geral, percebem um
mercado de trabalho restrito, principalmente para o jovem.

* Consideram um desafio do professor seduzir o jovem com um projeto educacional
que seja estimulante, compreensível, útil.

* Ressentem-se também da falta de colaboração da família no processo educacional
do jovem. Identificam pais que não se sentem responsáveis pela educação dos jovens
– deixam a função para a escola; pais irresponsáveis, que querem “proteger” os filhos
das obrigações da escola e pais sem condições de se responsabilizar pelos jovens, por
uma questão socioeconômica.

Informação sobre o jovem

* Reconhecem que o trabalho com o jovem baseia-se em um conhecimento prático.

* Demonstram uma forte resistência aos teóricos, que podem conhecer o jovem, mas
não dominam as variáveis de um ambiente escolar.

* Além da Internet, referem-se a Veja na Escola e a Revista Viração, como fontes de
informação.




                                                                                   39

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Pesquisa Onda Jovem na Escola

  • 1. Pesquisa Qualitativa Onda Jovem na Escola Dezembro de 2007 1
  • 2. ÍNDICE 01 TRABALHO E LAZER 03 1. Trabalho 04 2. Lazer 05 O ESPAÇO ESCOLAR 07 1. A Instituição 08 2. Projetos 12 3. A relação com o Terceiro Setor 13 4. O diretor 13 5. O coordenador pedagógico 14 6. O professor 16 O JOVEM ESTUDANTE, NA PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES 19 1. O jovem 20 2. O professor diante do jovem 22 3. O lado bom 24 4. A escola para o jovem 24 5. O desafio 26 6. Objetivo do ensino médio 27 7. A dificuldade 28 INFORMAÇÃO SOBRE O JOVEM 30 Instrumentos para se trabalhar com jovens 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37 Considerações finais 38 2
  • 3. INTRODUÇÃO Este relatório contém as observações extraídas dos grupos focais realizados com profissionais da rede pública de ensino - professores, coordenadores e diretores que atuam no ensino médio no município de São Paulo. A pesquisa, de natureza qualitativa, buscou levantar dados que permitam avaliar possíveis adequações de Onda Jovem (revista e site) às necessidades desse segmento, público que incorpora potencial de grande interesse para o projeto. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Especificamente, a pesquisa buscou identificar: quais as demandas do professor de ensino médio em relação à informação quais os temas em que ele sente mais necessidade de apoio quando se trata de juventude PROPOSTA METODOLÓGICA Para atender aos objetivos relacionados acima, realizaram-se, em novembro de 2007, quatro grupos focais, assim distribuídos: Perfil do grupo Nº de grupos 1) Professores de escolas de periferia do município de São Paulo 01 2) Professores de escolas centrais do município de São Paulo 01 3) Professores engajados - com atuação mais ativa no meio educacional 01 4) Coordenadores pedagógicos e diretores 01 Total 04 Perfil dos participantes dos grupos Grupo Homens Mulheres Humanas Exatas Biológicas Total Periferia 03 06 05 03 01 09 Central 02 06 04 02 02 08 Engajados 00 06 04 00 02 06 Coorder/dir 02 05 (05 coordenadores pedagógicos e 2 diretores) 07 Total 07 23 13 05 05 30 Com exceção de 01 participante que está dando aula há 2 anos e 01 que é readaptada (devido a problemas nas cordas vocais, está afastada da sala de aula, desenvolvendo trabalhos na biblioteca), os demais estão na rede pública de ensino há mais de 05 anos e, no momento, exercendo suas atividades em sala de aula. 3
  • 4. A análise, apresentada a seguir, baseou-se no posicionamento conjunto dos participantes dos quatro grupos, registrando, quando pertinente, particularidades observadas em um determinado grupo. 4
  • 5. TRABALHO E LAZER 5
  • 6. 1. TRABALHO O que caracteriza o dia-a-dia do professor de ensino médio da rede pública é a diversidade: é preciso dominar conteúdos diferentes (diversas disciplinas); conviver com públicos diferentes (ensino fundamental, médio e EJA - Educação para Jovens e Adultos), adequar-se a sistemas diferentes (público estadual, municipal e privado). “Eu leciono sociologia, filosofia, história e geografia. Estou na rede pública e particular também.” “Dou aula no ensino médio e fundamental. Trabalho com dois cargos: biologia e ciências, e estou no EJA também.” “A grande maioria trabalha dois, três períodos, escola particular, escola da prefeitura, do estado. Conciliar tudo isso é complicado.” São poucos os professores que conseguem dedicar-se a uma única disciplina, um único segmento e uma única escola: “Eu sou professora efetiva, de língua, leciono no ensino médio, na Escola X, que fica na Zona Oeste de São Paulo.” O fato de ter uma atividade diária mais regular, não torna a rotina dos coordenadores e diretores mais tranqüila: no dia a dia, eles têm de dar respostas às empresas parceiras, aos interesses antagônicos de professores e diretores e, no fim de semana, alguns coordenadores ainda participam do projeto Escola da Família “A minha escola ainda tem três grandes empresas parceiras, então a cobrança é três vezes maior.” “Eu também trabalho na Escola da Família de final de semana.” “A gente tem que administrar muito bem isso. E não é nada fácil, você tem que agradar aos dois lados. O diretor quer que você fique do lado dele, e o professor quer que você fique do lado deles. E aí... “ a) LIÇÃO DE CASA Diante dos desgastes dessa agenda de trabalho e, algumas vezes, do não reconhecimento do investimento profissional, a grande preocupação desse segmento é aprender não levar trabalho para casa. Esta posição é muito acentuada entre os professores de escolas centrais e coordenadores e diretores, constituindo quase uma cultura corporativa. “Procuro fazer tudo na escola: se tiver prova, eu procuro corrigir no horário do HTPC (horário de trabalho pedagógico coletivo). Se estou com aula vaga, eu fico lá na sala dos professores, mas em casa, jamais!” 6
  • 7. “Os meus três primeiros anos e meio eu fiquei feito uma doida. Eu me estressava, eu fazia de segunda a sexta-feira, dez a doze horas por dia, nos finais de semana. Um dia, num planejamento do ano passado, um professor me disse: “você não tem nada para fazer na sua vida? Vai namorar.” Isso porque eu tinha montado o planejamento redondinho. Eu: “Opa, espera um pouco. E eles não estão dando valor?” Meti o pé no freio.” “Nunca levo serviço para a minha casa. Isso eu fiz só no meu primeiro ano de trabalho na escola. Eu levei diário, eu fiquei noite preenchendo. Nunca mais.” 2. LAZER Em seus momentos de lazer, professores, coordenadores e diretores gostam mesmo é de viajar e ler, principalmente revistas. “Nas poucas folgas, nos finais de semana, eu vou para minha casa no interior.” “Sempre viajo nos finais de semana para praia, para casa de alguém.” “Eu estou sempre lendo, quando tenho um tempo, viajo.” “Eu compro livros de ficção, vídeos, mas tem sempre no meio alguma coisa, uma revista de educação, que eu vi, ‘que é interessante’...” “Eu leio Veja, Isto É, depois Nova, que eu gosto de fofoquinha, Cláudia, Manequim, Boa Forma. Gosto de ler bastante, passou na frente....” “A Superinteressante eu sou assinante e Mundo Estranho também, acho muito legal.” a) CORPO SÃO, MENTE SÃ Outra atividade destacada pelos professores, principalmente os do grupo de escola de periferia, é a prática de atividades físicas como forma de buscar o equilíbrio. “Nas horas vagas, prefiro cuidar do meu corpo, ir para academia, fazer atletismo. Acho que o professor precisa se cuidar para ter estrutura, uma união física, mental e espiritual. Só assim para conseguimos superar todas as dificuldades da Educação.” “Eu faço ioga.” “Eu também pratico esporte, jogo futebol.” 7
  • 8. b) NAVEGANDO A internet é identificada em todos os grupos não apenas como uma ferramenta de pesquisa, mas também como um espaço de lazer. “...o que eu acho que todo mundo deve fazer é navegar na internet. Eu não vejo como obrigação, vejo como prazer.” “Vejo os filminhos, entro na uol, fico pesquisando site de viagem, coisas assim... “ “... eu gosto de ficar na Internet, eu faço as minhas pesquisas, mas é um lazer para mim também. “ 8
  • 10. 1. A INSTITUIÇÃO Quando questionados sobre as relações entre os segmentos do corpo docente (professores, coordenadores pedagógico e diretores), os entrevistados apontam uma série de conflitos, muitas vezes relacionados à instituição. Neste sentido, destacam- se: a) AS DECISÕES VERTICALIZADAS NO SISTEMA EDUCACIONAL As decisões institucionais referentes à educação - estejam elas contidas nas diretrizes básicas de educação ou nas orientações da Secretaria Estadual de Educação - são vistas pelos participantes dos grupos como verticalizadas, que revelam dificuldades de aplicação em diversos âmbitos: socioeconômico “Eu tenho que trabalhar com um conteúdo programático adequado aos números de uma faixa etária. Só que os meus alunos trazem uma base que não condiz com aquilo que eles estão tendo de aprender. Ou eles vêm semi- analfabetos ou eles vêm com uma defasagem enorme.” capacitação “A gente fica muito mal quando é imposto. Eu tenho um aluno de ensino médio que é portador de necessidade especial, com deficiência mental, que mal sabe escrever, e a gente não recebeu nenhuma instrução de como avaliar. Isso vem crescendo a cada ano e não há subsídio para nós, enquanto educadores. “ mecanismos “O professor não estava preparado para educação continuada, aquilo que era uma continuidade acabou virando uma aprovação automática mesmo.” funções “A escola assumiu muitas funções que não são dela. Este ano eu fiquei muito indignado com algumas situações, por exemplo, de vasculhar quintal de aluno por causa de dengue, cuidar da carteirinha de vacinação. Eu não tenho obrigação de cuidar da carteirinha de vacinação do aluno, isso é função do pai. Eu não tenho que ficar vendo se o cão foi vacinado ou não.” interesses “O Estado geralmente manda projetos goela abaixo. Não fazem um levantamento prévio de quais necessidades trabalhar. Eles sugerem temas, e como eles mandam materiais, nós temos o compromisso de usar.” 10
  • 11. b) SERVIÇO PÚBLICO E GRATUITO Na visão dos participantes, o princípio de gratuidade do serviço público entra em choque com uma burocracia que não atende às demandas do dia-a-dia de uma escola. Para viabilizar ou agilizar alguma atividade escolar, muitas vezes os professores acabam arcando com os custos ou rateando as despesas entre os alunos, mesmo sabendo das penalidades sobre esse tipo de ação. “A professora que foi suspensa três meses porque cobrava cinqüenta centavos dos alunos para que eles já recebessem a prova impressa e não tivessem que copiar. Uma palhaça de uma mãe foi lá e denunciou.” “Nesse caso, o Serra teve a cara de pau de ir na televisão e dizer que “era só escrever uma cartinha para mim que eu teria mandado o dinheiro ou o xerox já pronto”, quando todos aqui dentro sabemos que para conseguir um abridor de garrafa na escola, mais de cinco anos se passarão e tu não vai ver o abridor. Esta é a realidade. “ “Quando tem um material importante, eu tenho que xerocar, levar para o aluno... tudo isso com ônus meu. A gente tem de criar subsídios, sai do meu bolso.” “Toda a vez que a gente monta um projeto, nunca tem ajuda financeira. Quem vai custear são os próprios alunos. A gente às vezes cobra um pouquinho a mais de quem tem condições de pagar e acaba rateando para o aluno que gostaria de ir.” “Eu faço uma atividade com eles que eu chamo de Saber com Saber. Eu levo bolacha, quem pode leva salgadinho, mas a maioria sai do meu bolso.” c) COM POUCOS INSTRUMENTOS DE CONTROLE A pouca quantidade de instrumentos de controle nesse setor também são identificados pelos entrevistados como um dificultador. Não há muito o que fazer com o aluno com baixo aproveitamento, com o aluno indisciplinado ou com o professor descomprometido, caso ele seja concursado. “O professor foi muito desgastado com esta história da progressão continuada, perdeu-se o respeito, a aluno sabe que vai passar.” “Este ano o coordenador já falou para o corpo docente que não era para reprovar aluno, por causa do bônus. Se a gente reprova alunos, a nossa escola fica fora de uma porcentagem do Governo, fica mal vista e tem menos recursos.” “Hoje, se tem um aluno indisciplinado dificultando o professor em sala de aula, perturbando os colegas que estão querendo aprender, o diretor não tem muita autonomia para advertir este aluno, para que ele pare.” 11
  • 12. “Porque no fundo todo mundo só quer pegar o hollerith e ganhar aquele dinheirinho, porque ninguém vai mandar eles embora. Infelizmente eu vejo a educação segmentada, fragmentada, ninguém fala a mesma língua, e o aluno está lá.” d) ESTRUTURA FUNCIONAL QUE NÃO CONSEGUE RESPONDER AS DEMANDAS A estrutura organizacional da escola pública não condiz com as demandas apresentadas. O mau dimensionamento resulta em uma sobrecarga de trabalho e desvios de função: o diretor está fazendo parcerias e repassa as funções administrativas para o coordenador pedagógico, que acaba não atendendo às necessidades do professor, que quando precisa faz até limpeza. “Não é função minha ficar fazendo parceria com hospital, com creche, com não sei o quê. Porque o Estado também não se responsabiliza por essas coisas e nós que temos que correr atrás? A gente faz porque não tem quem faça.” “Só em caso extremo eu envio um aluno para direção. Porque diretor está sempre ocupado, o coordenador também está sempre ocupado. Eu já tomei a seguinte decisão: não mando, resolvo com aluno, mando o aluno dar uma volta... “ “O coordenador é muito importante, mas dentro da escola o coordenador acaba não assumindo as suas funções. Ele acaba sendo vice, ele acaba sendo diretor.” “A função do coordenador é muito mal estabelecida. Você faz um pouco de tudo: é desde o pedagogo... merendeira, inspetor de aluno, tocar o sinal, tudo... Bobo da corte.” “O professor está dentro da sala de aula, mas se precisar de limpeza, ele vai ter que arregaçar as mangas. Porque não temos funcionários, então todo mundo está sobrecarregado”. e) A ESTRUTURA FÍSICA TAMBÉM DEIXA A DESEJAR Na visão dos entrevistados, a estrutura física da organização voltada para jovens é: inadequada (giz, lousa, carteiras pequenas), sub utilizada (bibliotecas com bons livros mas fechadas, situação destacada principalmente pelos professores de periferia) ou não utilizada (computadores do projeto Intra.gov estragando). sala de aula “No mundo onde eles têm internet, tecnologia, nós estamos com giz e lousa, material inadequado. Até as carteiras são pequenas para os alunos do ensino médio.” 12
  • 13. biblioteca “Nas bibliotecas têm muitos livros que são bons e caros, porque a verba que é gasta com livros é considerável. O Governo mandou muitos títulos bons, de todas as áreas para o professor.” “A biblioteca existe, mas a função da biblioteca nem sempre ocorre, porque a maioria fica fechada: tem o espaço e tem os livros, mas faltam funcionários.” “Até para o professor tem restrições no uso do livro. Para o aluno usar, o professor tem de dar autorização.” “Não emprestam porque dizem que o aluno estraga. O professor tem de autorizar, fazer um bilhetinho: fulano, do número tal, autorizado pelo professor tal.” espaço informatizado ”Como a plataforma de governo do Alckmin era Escola da Família, ele montou, em cada escola, uma sala para 20 computadores, onde seria instalado um programa que chamava Intra Gov. Só que nunca entrou, lógico. As salas estão lá trancadas, o Intra Gov nunca chegou.” “A maioria das escolas tem um sistema GOV que é a banda larga do governo estadual. A maioria das escolas tem, está montada, mas não está instalada.” f) ...A CORDA ARREBENTA Diante de tantas regras, regulamentos, demandas, propostas, as escolas e os professores acabam atuando da forma possível ou conveniente. “Na escola privada não, mas o professor numa escola pública, ele é autônomo. Se eu, enquanto professora de história, chegar na quinta B e achar que eu tenho que dar só história do Brasil e na sexta um pouquinho Europa, Revolução Francesa, eu faço. Se eu achar que eu devo fazer isso, eu faço. É complicado, porque o professor do ano que vem vai lidar com isso.” “As escolas têm dinâmicas muito diferenciadas. Quando a gente fala de uma escola, ela é muito autônoma em si. Então o que acontece numa escola, muitas vezes não acontece em outra escola, embora sejam todas de periferia, todas estaduais. Têm uma dinâmica muito diferenciada.” “Eu já trabalhei oito anos no Taboão da Serra, adorei trabalhar lá, era uma escola de renome, tinha gente que passava na USP. Depois que você sai, quando você começa esta via-crúcis de uma escola, outra escola, você vai vendo que tem de tudo no Estado.” 13
  • 14. 2. PROJETOS Segundo os entrevistados, no momento, os projetos tornaram-se um instrumento de atuação importante dentro dos estabelecimentos e que contabiliza pontos para escola junto à Diretoria de Ensino. “Não sei se você percebeu que todo mundo tem um projeto, porque parece que o Estado só funciona com projeto.” “Projeto é uma coisa cotidiana na minha escola, em qualquer outra escola. Tudo o que se faz de programação é feito mediante projetos.” “Diretoria gosta muito de projetos, são apaixonados por projetos. Quanto mais projetos a escola tiver, quanto mais ativa a escola for, mais a Diretoria de Ensino admira.” “Os projetos que a escola faz ou que manda documentação que fez, contam pontos na hora de se avaliar a escola.” Nesse segmento de projetos, destacam os desenvolvidos pela secretaria de Educação (Agita Galera, Escola da Família, entre outros) ou integrados a outras secretarias, que no caso relatado, não teve a adesão da diretora. “Agita Galera é um projeto que vem lá de cima. Naquele dia a escola tem que fazer uma série de atividades, tem de agitar a galera” “Eu estava fazendo parte de um projeto da Secretaria de Meio Ambiente para trabalhar com a educação ambiental ligada a bacias hidrográficas: colocar para a comunidade aquele projeto da escola. O que acontece? Às vezes você não tem esta aceitação por parte da direção, ela bloqueou tudo...” Existem os projetos realizados em parceria com empresas ou organizações não governamentais: “Foi assim: a Fundação Tide Setúbal mandou um material para a escola e a direção passou pra mim porque sabia do meu interesse. Eu procurei a Fundação, eles me convidaram para algumas reuniões... Hoje tem uma estagiária que acompanha de perto o projeto... Os alunos mandam o material para lá, eles formatam o jornalzinho e mandam para a gente.” “Temos a parceria com uma empresa, que é o Unibanco. Ele adotou quatro escolas da nossa região, uma das escolas é a nossa. Então nós temos uma verba muito boa até para investir na qualidade do ensino na nossa região. O projeto está sendo um projeto piloto aqui em São Paulo.” 14
  • 15. 15
  • 16. E projetos que nascem do esforço de professor: “No caso do sarau que eu faço na escola, no início eu fazia convites, colocava na sala dos professores, pedia ajuda, e algumas vezes me decepcionei, mas o sarau nunca deixou de sair. E hoje ele já está mais ou menos conhecido, é mais fácil, mas ainda é difícil achar um dia letivo para fazer.” 3. A RELAÇÃO COM O TERCEIRO SETOR Sobre o Terceiro Setor, os participantes acreditam que se a ONG tiver um trabalho sério pode estabelecer uma parceria positiva com a escola, mas resistem à ingerência e ao oportunismo de algumas organizações. “Têm ONGs que são realistas, vão te propor fazer o trabalho; tem uma que chega, quer indo impor seu trabalho. Educação tem um problema: ninguém vai na sala de cirurgia ensinar o médico operar, ninguém vai no escritório ensinar advogado a advogar, mas todo mundo quer meter bedelho na escola...” “Acho que a ONG funciona quando foi formada ali dentro da comunidade. Porque eles têm vínculo com escola, tem amor porque os pais estudaram ali, estão sem terceiros interesses. Porque hoje em dia, ONG virou um comércio na verdade. Eu tenho uma ONG na minha escola que é muito difícil de trabalhar, porque estou em Perdizes praticamente, o público não tem interesse, deveriam atuar numa área mais periférica.” 4. O DIRETOR Os entrevistados identificam a atuação da direção muito restrita à questão administrativa. “A direção toma a gestão administrativa tão forte que ela acredita que o direcionamento administrativo seja mais importante do que o educacional. E o professor sempre trabalha o educacional.” “Olha, já passei por quatro escolas estaduais e, de uma forma geral, acho que o diretor interfere mais na parte administrativa e disciplinar. Eu acho que existem outras questões importantes dentro de uma escola, como trabalho, a equipe escolar, a concepção de educação que se tem ali, que o diretor acaba não dando conta...” Mas reconhecem que o diretor é a cabeça da escola. “Um diretor da escola realmente é a cabeça da escola. Agora, ele tem que estar presente, ele tem que ser competente, ele tem que estar lá.” 16
  • 17. 5. O COORDENADOR PEDAGÓGICO a) FUNÇÃO Na visão dos entrevistados, o coordenador pedagógico tem uma função importante a desempenhar dentro da escola que é o de subsidiar o professor em assuntos relacionados à questão pedagógica e também fazer uma ponte entre os professores e a direção da escola “A parte pedagógica fica para o coordenador. É ele quem vai organizar, vai atender às solicitações dos professores nessa questão pedagógica, vai subsidiar os trabalhos.” “O coordenador faz a ligação entre os professores e a direção. É difícil você conversar com o diretor.” “A nossa função seria a formação dos colegas para que atinja a sala de aula.” b) ATUAÇÃO Mas percebem que, na prática, esses profissionais têm uma atuação bastante restrita e apontam algumas questões para justificar essa restrição: Falta de clareza de função do coordenador Os coordenadores se defendem: consideram que grande parte do seu trabalho é consumida resolvendo problemas disciplinares que deveriam ser resolvidos ou pela direção ou mesmo pelos próprios professores. “O problema indisciplina é um problema pedagógico, a gente tem que ver o que está gerando a indisciplina, mas atender aluno porque foi indisciplinado não é função do coordenador. A minha sala vive lotada de aluno, porque se você mandar para o diretor, ele manda de volta.” “Então é assim, diretor e vice é para a parte administrativa, é para resolver esses problemas de indisciplina que surgem a todo o momento. O coordenador é basicamente para trabalhar com o professor.” “Quando o professor não dá conta dessa prática pedagógica, cuidar da indisciplina dentro da sala de aula, aí tem uma falha, aí ele encaminha aluno para direção, ou então o aluno tem que ser encaminhado por algum outro problema, um conflito, alguma coisa assim.” “Teoricamente as funções do coordenador dizem respeito à parte pedagógica. Mas a função do PCP (professor coordenador pedagógico) não é lidar com aluno. É com os professores.” 17
  • 18. Falta de capacitação dos coordenadores Alguns professores ressaltam: muitas vezes o coordenador pedagógico não está preparado para sua função. Repreendem os professores em questões pedagógicas, mas não apontam alternativas para os problemas levantados. “Se houver algum problema com um aluno a gente tem de resolver, porque às vezes você passa para o coordenador e o coordenador julga que a culpa é sua: ‘você que precisa rever os seus conceitos pedagógicos’”. “Fui chamada atenção pela coordenadora por reprovar um aluno que não freqüentava aula na quinta e sexta, dia da minha aula. Aí eu falei assim: será que tem alguma coisa errada no meu pedagógico, a senhora pode avaliar? Quando eu falei isso, eu matei a coordenadora. Não tinha nada a orientar o meu pedagógico.” “Você não precisa ter Pedagogia, no estado, para ser coordenador. Você precisa ter licenciatura plena, ter três anos de Estado e passar por uma prova de habilitação, que é uma vez por ano.” Falta de respaldo da escola ao trabalho do coordenador Mas os professores também reconhecem: a escola não posiciona o profissional para ele exercer sua função. “Jogam o coordenador lá e ele fica perdido. Não só professores que são jogados, os coordenadores também.” “Onde eu leciono, esse ano entrou uma coordenadora, está meio perdida, tentando arrumar. O pessoal está gostando dela porque ela tenta passar um trabalho legal, qualquer coisa está ali para te ajudar.” Falta de apoio dos professores E assumem sua parcela de culpa (principalmente os do grupo de periferia): muitas vezes os próprios colegas, professores, não colaboram com o coordenador. “Na minha escola esse semestre o coordenador propôs : “o professor que quiser preparar algum tema, fique à vontade”. Quem apareceu? Eu propus uma dinâmica com o grupo. Mas os outros professores ficam falando “isso aí é função do coordenador, ele que se vire”.” “Imagine as reuniões em que o coordenador quer trabalhar uma questão pedagógica com o grupo e o grupo ou é reticente ou muitas vezes fica com conversas paralelas. Acaba minando o trabalho.” “Os professores são assim: bateu o horário, eles ficam lá conversando, batendo papo. Vem o diretor, vem o coordenador até a sala dos professores e 18
  • 19. falam assim: “Pessoal, já bateu o sinal, os alunos estão em sala de aula”. Aí falam: “Que ruim é o coordenador”.” c) HTPC – HORÁRIO DE TRABALHO PEDAGÓGICO COLETIVO O Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo - HTPC - reunião semanal do coordenador com a equipe de professores, é identificado como um espaço que pode ser muito importante para reflexão e troca de experiência: “O HTPC é um momento em que os professores estão juntos e vão falar sobre as salas, sobre os alunos, sobre algum problema, projeto, estas coisas.” “O horário de trabalho pedagógico é o horário que nós estamos juntos. Então fica tudo diferente quando existe um coordenador que trabalha junto com direção, que apóia. As coisas acabam fluindo de maneira melhor.” Mas, segundo os professores, na maioria das vezes o horário é mal utilizado, desviando-se dos assuntos pedagógicos para receita de bolo. “Quando é bem utilizado e produtivo é importante, mas já vim de escola que dava a receita de bolo na hora do HTPC, e a gente tinha que ficar lá cumprindo horário.” “...acho que realmente ele é pouco utilizado para o fundamento dele.” Mas mesmo quando mal utilizado, não deixa de ser um momento de integração dos professores. “Troca receita também, mas é um espaço que existe para gente conseguir conversar, para saber como está o professor com sua turma, dificuldades. Troca de experiências...” 6. O PROFESSOR Segundo os participantes, de forma geral, os professores são individualistas (não se envolvem nem com escola, nem com os colegas) e competitivos. Esse descomprometimento em relação à escola parece estar associado a uma situação de provisoriedade dos professores – que estão na escola de passagem e portanto não vale a pena se envolver - ou porque acreditam que a melhor estratégia é não se envolver. “Eu trabalhei em empresa privada treze anos e na educação você percebe o seguinte: os professores são muito desunidos, uma classe desunida. Eles não trabalham a favor, eles trabalham no individual. Ele vai para uma escola mas não quer se envolver com absolutamente nada porque ano que vem “eu estou fora dessa escola”. Não pensa naquele ano que ele vai trabalhar, então 19
  • 20. ele pode fazer um bom trabalho durante um ano, sair da escola, deixar alguma coisa feita lá.” “Este ano, 2007 foi uma experiência interessante para mim. Consegui pegar cinco escolas, vou numa na segunda, uma na terça, a outra na quarta, quando eu chego, a coisa está acontecendo, quando eu volto na outra semana já virou, já virou a música. Hoje eu me envolvo com o meu aluno, dentro da sala.” O individualismo entre os colegas também parece estar associado à dinâmica organizacional, em que o trabalho é realizado de forma solitária (professor e aluno) e a organização não tem um trabalho efetivo, além do HTPC, para integrar os colaboradores. “Quanto ao coleguismo, amizade, praticamente não existe entre os professores. Eu vim de empresas, quinze anos de empresa, era outro ambiente.” “Às vezes você não conhece o colega. Dá aula na mesma escola e não se vêem..” “É verdade, porque a gente chega, pega o material vai para sala de aula, cada um na sua sala... Não há tempo.” “Quando eu vim para cá, peguei aula numa escola grande e demorei um mês para conseguir conversar com algum professor de lá, eu chegava, falava bom dia, boa tarde e ninguém respondia.” “Mas tem uma coisa, ninguém é apresentado, você chega lá e o diretor não fala: “este é fulana, vai dar aula disso”. Não, você vai lá, e fica lá.” Outra questão levantada pelos entrevistados é a competitivade gratuita entre os professores. “O ambiente entre os professores é competitivo sem competição. É competição para derrubar os colegas sem a mínima necessidade.” a) EFETIVOS X EVENTUAIS O que em um primeiro momento é colocado como uma relação individualista, quase fria, acaba por revelar a existência de dois grupos bem delineados e até mesmo aguerridos: os efetivos e os eventuais (também chamados de OFA – ocupantes de função atividade). “Os professores efetivos ficam mais tempo na casa, tem uma carga maior, tem uma cumplicidade entre eles. Quando chega um professor novo, que é chamado OFA, numa escola que tem bastante efetivo, é difícil se enturmar porque já tem um grupo que já está formado.” 20
  • 21. “O grupo de efetivo da escola... os professores estão sempre juntos.” “Sou efetiva, falo por experiência própria, é assim: o efetivo está há bastante tempo na mesma escola e a escola é como se fosse a minha casa, minha raiz ali. E com o professor efetivo você forma um grupo, um vínculo muito grande com a escola.” “Os eventuais são os pobres coitados. Algumas pessoas olham para os eventuais como se eles fossem desqualificados.” Se há efetivos que consideram os eventuais desqualificados, há eventuais que consideram que a efetividade pode gerar uma acomodação nesse segmento. “Porque muitos se contaminam pelo fato de estarem como efetivos no cargo e ninguém vai mexer com eles. Muitos não se preocupam em aprimorar um pouco o conhecimento, buscar uma leitura, informação. Acaba se tornando um retrocesso.” Nesse “duelo” os coordenadores ressaltam a força dos efetivos dentro da organização. “... vamos falar das facções, a facção dos efetivos, a facção dos eventuais, os OFAs. Mas se você ganha o pessoal efetivo, você ganhou a escola.” b) PROFESSORES DOENTES Além dos efetivos e eventuais, os coordenadores e diretores identificam uma nova categoria dentro da escola: o professor doente. Segundo eles, a condição de trabalho estressante está causando o afastamento dos professores por adoecimento. O ambiente da escola reproduz as condições sociais e provoca medo, principalmente em relação à violência e drogas “Eu acho que a gente está numa fase que os professores estão doentes, tirando exceções que é meio charlatanismo e existe. Mas a maioria está mesmo doente.” “Doentes na parte psicológica, na parte física. O que nós temos hoje na rede de professor readaptado... Processo readaptado (professores que, devido a problemas de saúde, passam a exercer funções administrativas.)”. “A falta de apoio acaba transformando o professor num catalisador de todas as energias que circulam em torno da escola, tanto positivas quanto negativas. Adoecem. Se o professor não tiver uma válvula de escape, realmente ele vai para um sanatório, para algum outro lugar, vai mesmo.” 21
  • 22. O JOVEM ESTUDANTE, NA PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES 22
  • 23. 1. O JOVEM O professor, normalmente, observa muito de perto o processo de transformação do jovem. Muitos dão aula também para o ensino fundamental, além do médio, e acompanham o aluno nesse ritual de passagem: o adolescente do fundamental para o jovem do ensino médio. A) SUAS CARACTERÍSTICAS JÁ CONHECIDAS Destacam neste novo aluno, o jovem: o distanciamento e a onipotência. “Quando o adolescente sai da oitava série para o ensino médio, parece que é um alívio: “ufa, sou adolescente, estou no ensino médio”. O comportamento muda radicalmente, se tornam onipotentes, tudo podem. Nada contra eles, eles testam mesmo, quanto mais desequilibrado o professor ficar, mais eles provocam, quanto mais ele gritar, mais provocam.” “No fundamental o professor é referência para os alunos. No ensino médio eles ficam distantes, só te procuram quando tem um interesse. Como entender a cabeça desse jovem, para estar próximo dele, entender este pessoal? Se existe alguma metodologia, eu desconheço.” Onipotência, distanciamento, contestação, hormônios são vistos pelos entrevistados como características inerentes à juventude, e reconhecem que eles também passaram por isso. “Ele é um contestador, ele vê até onde que ele pode ir, te chama de qualquer coisa. Ele é contestador pelo simples fato de ser jovem.” “É coisa de fase também, são os hormônios. Tem que haver este exercício de se colocar também no lugar deles. Eles estão se descobrindo.” “Testam o professor, quer saber onde é o limite da gente, até onde pode ir e até onde ele vai junto. Limite da paciência. Ficam provocando, até o máximo, para saber onde você agüenta. Ficam irritando.” b) SUAS NOVAS CARACTERÍSTICAS Nesse cenário, surgem ainda elementos novos, com os quais os professores admitem ter dificuldades de lidar, devido à falta de referências teóricas ou mesmo de vida. homossexualismo As experiências homossexuais à vista de todos (principalmente as femininas) são colocadas pelos entrevistados como uma realidade, mas que chocam os professores, principalmente os mais velhos. 23
  • 24. “Surgiram casais de namoradas na escola. Elas se beijam, se abraçam, se amassam na frente de todo mundo. A maior parte dos professores se choca com aquilo.” “Minha escola também tem dois ou três casais de meninas. Eu acho que o problema não são elas e sim os professores muito antigos. Não é que eles se chocam com o novo, mas se chocam com qualquer coisa.” “Eu tive alunas, que no início eram homofóbicas, batiam de frente; de repente, as mesmas meninas se encontram no banheiro e se beijam, se abraçam, e por aí vai. E para você entender que aquele grupo era homofóbico e depois estava lá se beijando? Eles acreditam que isso não é ser homossexual, só estão testando. Para a nossa aprendizagem, nossa educação, é difícil.” Ressaltam inclusive que a Diretoria de Ensino ofereceu um curso para a categoria sobre diversidade sexual. “...teve um curso na diretoria de ensino este ano sobre diversidade sexual. Explica muito isso, porque a Educação é muito antiga, tem muitos professores antigos, diretorias de ensino são antigas, diretores são antigos, supervisores são antigos. Querem que a gente se modernize, mas eles não se modernizam também!” drogas Outra questão levantada pelos participantes é o contato acentuado dos estudantes com as drogas. Os professores de periferia destacam inclusive o delicado relacionamento com o aluno traficante e usuário. “Na periferia onde estou este ano, está sendo barra pesada, pois são traficantes. Eles vão para a escola para vender a droga e entra na sala e tenta aprender alguma coisa. ” “O usuário dá problema, porque ele sai da sala para fumar, para cheirar... ” “No mês passado tivemos um problema com um menino que teve overdose.” tecnologia Outra novidade é a ampla utilização de tecnologia portátil (celular, MP4 etc) dentro da sala de aula, destacada pelos professores com um elemento de dispersão do aluno. Esse item foi destacado com mais ênfase pelos professores das escolas centrais. “A gente tem que pedir toda hora para desligar porque atrapalha a aula. Eles não sabem utilizar celular no vibra, ou pedir licença. Fazem questão de chamar atenção. Vai sair uma lei agora para impedir aparelhos na escola.” 24
  • 25. “Aparelhos eletrônicos, celular, MP3, atrapalham muito.” “Tem professor que pega o aparelho e leva para a direção. Eu pego e falo: ‘Vai ficar comigo, quando terminar a aula eu devolvo’. ‘Tudo bem professor, me devolve mesmo?’ ‘Claro, não é meu’”. 2. O PROFESSOR DIANTE DO JOVEM Para se relacionar com o aluno, o professor acredita que é necessário: a) Inicialmente, colocar-se como um “adulto” – se impor, se conter, estabelecer limites, compromissos: “Você tem que se impor na sala de aula, se não tiver postura, você não dá sua aula.” “Ser mais sério, ser contido, não comentar com os alunos o que não é pertinente para aquele momento.” “Se o professor se portar mal, o aluno vai se portar mal. O aluno gosta de rédea numa sala de aula, ele gosta.” “Se o professor é compromissado desde o começo, se pedir atividade, o aluno sabe que você vai cobrar a atividade. Porque tem professor que pede, esquece que pediu e vai cobrar daqui duas ou três semanas. O aluno é esperto, percebe logo.” b) Mas é preciso entrar para sala de aula com uma proposta clara de conteúdo e compromissos: “O professor, quando vai para uma sala de aula, ele tem que ter conhecimento de causa, do assunto que vai falar, saber o que ele está fazendo lá. E principalmente ele tem que ter uma postura transparente, uma postura honesta do começo, meio e fim.” “O aluno percebe quando o professor chega lá e não sabe sua aula, não tem conhecimento do conteúdo, não tem postura, eles montam em cima. Quando percebem que o professor é comprometido, que não falta, ele tem uma linha de trabalho, é organizado, ele cobra, exige respeito, ele também tem outra postura com este professor.” “Eu tive uma experiência assim: uma aluna foi reclamar de mim na delegacia de ensino. Sabe quem me defendeu na sala de aula? Os piores alunos, não foram os bons. “Ela quer dar aula, nós é que não deixamos”. Então a gente é um referencial para eles, e a nossa vivência de vida é o que vai nortear eles lá para frente. Não é a matéria em si, Matemática, Física, Biologia.” 25
  • 26. c) Após estabelecer as diferenças necessárias, é hora de se aproximar. Para quebrar o distanciamento, muitos professores têm utilizado-se de sistemas virtuais de relacionamento, como Orkut e MSN, instrumentos bastante populares entre os jovens. Segundo os professores, esse sistema tem possibilitado resgatar uma relação de proximidade e respeito com o aluno. “Você conversa com eles pela Internet, pelo Orkut, pelo MSN. Tem hora que você tem que falar: espera um pouquinho. Mas facilita a amizade, o respeito.” “Isso é prazeroso, eles são outros à medida que você tem este contato direto com eles. Facilita muito.” ”E aproxima mais, você fala linguagem dele, percebe que você não bloqueou ele, é até inconsciente. Mandam recados, se você não responde, te cobram. Aí você volta um pouquinho no ensino fundamental onde o aluno ainda tem essa ligação com professor e no ensino médio eles perdem isso.” ”Até alunos que nós achamos que são mais desrespeitosos, encrenqueiros, na hora que eles entram pela Internet, Orkut, MSN, são quase formais, eu dou até risada sozinha: “Na sala não faz nada!”” O esforço em reforçar a proximidade não fica apenas no contato on-line. Os professores buscam também se inteirar do universo jovem para falar a mesma língua e facilitar o contato com os alunos. Nesse sentido, vale assistir programas juvenis como Malhação, Rebeldes, ler Toda Teen, Capricho. “Quando eu comecei a dar aula alguns professores sugeriram: “Se você tiver um tempinho, assiste Malhação, a novela Rebeldes porque é o que eles gostam. Aí você vai aprender como lidar com ele, o que está interessando aquele jovem no momento.” “Às vezes, quando o aluno está com Capricho na sala, eu falo: “Deixa eu dar uma olhadinha na Toda Teen, Capricho”, e eles gostam: “Puxa professora, que bom, você lê nossa revista!” Outra forma de aproximação são as atividades programadas, dentro da sala de aula ou nos fins de semana na escola. “Eu tenho uma atividade com eles que chamo de Saber com Sabor, em que eu levo bolacha, refrigerante; quem pode leva salgado, mas a maioria sai do meu bolso, e fazemos um debate. Às vezes eu começo a falar, me emociono, eu choro, eu senti que eles perceberam que eu não sou aquela pessoa detentora de todo saber do mundo, que eu tenho falhas, que eu sou humana, eu sou próxima a eles. Eu percebi em algumas classes uma grande diferença 26
  • 27. nos alunos, o modo de me tratar melhorou cem por cento. Tem alguns que ainda estão lá para desafiar, para não fazer nada mesmo.“ “Às vezes, eu monto atividade no sábado na escola, nós temos aquele tete-a- tete, que é o momento em que eu não vou estar distante, eu vou estar ali in locu, eu e o aluno, desenvolvendo alguma coisa em alguma ocasião.” “Jogo futebol com os alunos aos domingos e isso tem resultado positivo refletido na relação com o professor na sala de aula.“ 3. O LADO BOM Na visão dos entrevistados, o lado bom de trabalhar com jovens são os resultados, é acompanhar um processo de transformação durante uma atividade ou de um ano letivo. “Às vezes, de uma atividade que você faz saem revelações. Tem alunos que às vezes se surpreendem com ele mesmos, que ele não sabe o que tem ele. Nessas horas a gente fica maravilhada, a gente fica encantada.” “Agora eu estou mostrando as obras do realismo, e minha maior satisfação é no final do ano que eu vejo que o aluno atingiu os objetivos propostos, meus alunos montando a peça, indo atrás, deixando recadinho no Orkut, pedindo ajuda...” Outro ponto importante nessa relação destacada pelos entrevistados é a possibilidade de se renovar com eles. “Mas você está aprendendo com os jovens... aprende no dia-a-dia com o aluno.” “A transformação na idade deles é tão rápida quanto o nosso aprendizado em relação a isso. Se você não se antenar, não ficar mais esperto, ele passa como trator por cima de você. Isso é ruim? Não, isso é bom.” 4. A ESCOLA PARA O JOVEM a) TERRITÓRIO QUE ACOLHE TUDO... Os entrevistados percebem que o espaço escolar hoje é para o jovem um território em que ele se sente à vontade para vivenciar: sua afetividade “Qual a válvula de escape deles? É a escola. É ali que eles vão se encontrar, namorar. É ali que vão estabelecer várias formas de convívio entre eles.” 27
  • 28. sua ansiedade “A escola é um lugar de extravasar aquela responsabilidade que eu sinto em vários alunos. Eles estão andando sozinhos muito cedo, então eles têm uma responsabilidade em casa.” seu abandono “A sociedade hoje é muito violenta, a rua é violenta, os pais não param em casa... Vão para escola....” sua violência “Os intervalos são um verdadeiro ringue. Basicamente com a violência. Eles não têm lazer. A escola hoje para eles virou um clube. A quadra é clube.” sua identidade “É a maneira dele se manifestar. Ele usa o espaço escolar para chamar atenção. É o local onde ele pode manifestar da maneira dele, o que ele está pensando, o que ele está querendo.” b) ...MENOS UM PROJETO EDUCACIONAL Se por um lado, o espaço escolar está sendo intensamente utilizado pelos jovens para exercitar suas vivências e convivências, por outro lado, sua função educativa está cada vez mais distante. “Pela experiência de 12 anos no Estado, eu percebo que a cada ano diminui a percentagem dos interessados. De uma sala de 35 alunos, cerca de 5 têm interesse e acabam tendo muita dificuldade de aprender quando 30 estão interessados em badernar.” “Eu vejo que alguns jovens acham, que dentro da escola ele vai ter um futuro mais próspero, melhor. Mas alguns vêem a escola como um ponto de encontro realmente.” C) TENTANDO ENTENDER Na percepção dos entrevistados, esse desinteresse pela educação está relacionado: à falta de informação O jovem, muitas vezes, não tem conhecimento sobre a diversidade de cursos e carreiras que o mercado dispõe ou não consegue identificar suas aptidões e vocações para determinadas áreas. 28
  • 29. “Eu percebo que eles, de um modo geral, estão sem expectativa com relação a eles mesmos. Principalmente estes com os quais a gente trabalha na periferia. Geralmente eles não têm muita informação em relação a cursos, a trabalhos, ao que eles podem fazer, às aptidões deles. Aí eles acabam se tornando um pouco meio desanimados, como se eles não tivessem um ideal de vida.” a falta de formação Outra questão levantada refere-se a uma formação, principalmente familiar, onde projetos como faculdade e carreira nem sempre são acalentados. “Eu percebo que falta a educação de base, de família, o aluno não se interessa, não se preocupa com a colocação na faculdade, carreira....” falta de perspectiva Destaca-se também uma questão mais estrutural relacionada às restrições do mercado de trabalho voltado para o jovem. “Quando os alunos saem da escola, não vê perspectiva de vida para frente e dizem: o que vou fazer? Não tem emprego.” Outra questão levantada pelos entrevistado é que o jovem é imediatista e a educação é um processo de longo prazo. Nesse ponto, os projetos oferecem uma possibilidade mais confortável de trabalho, já que é possível ver resultados mais imediatos. “Quando nós fazemos um projeto dentro da escola, o jovem consegue ver o resultado imediatamente. Mas eles não conseguem fazer um link entre a necessidade de educação e futuro. Eles não visualizam isso.” 5. O DESAFIO Se hoje o jovem está dentro da escola, e gosta do espaço escolar, o desafio do professor é seduzi-lo jovem com um projeto educacional que seja estimulante, compreensível, útil. “O desafio do professor é conciliar os seus parâmetros, onde ele quer chegar, com aquilo que o jovem considera necessário para ele. Você acaba trabalhando na sala de aula como um vendedor de idéias. Se você sabe vender direitinho alguns compram, outros descartam.” “Tem alguns ali que vão para a escola só por causa da presença, mas muitos ali têm interesse e você percebe que você pode fazer a diferença para este aluno, pode ser uma referência para eles. Então não é só o professor que está lá e fica na lousa, mas você pode chegar mais próximo deles, falando: “Eu também tive problema, eu comecei a minha vida assim, não sei o que, mas eu fui estudar, eu fiz isso”. Para eles irem sentindo essa necessidade de 29
  • 30. fazer um futuro melhor, e ver na escola uma possibilidade deles saírem daquele mundinho, deles quererem mais do que a Cohab, deles quererem mais do que o bairro, quererem o mundo.” “Muitos professores se dedicam, quando o aluno chega com um sonho eles buscam informação, orientam, buscam bibliografias para ajudar o aluno, “você pode estudar aqui, ali”. Você pode ir abrindo um leque que possibilita o aluno ir adquirindo muito mais conhecimento.” “...um aluno falou: “Para que vai servir isso na minha vida? Cultura não serve para nada.” Voltei e falei: “vou levar o que para sala de aula para eles entenderem o que é arte?” Eu fui atrás de história de grafiteiros, grafite, com linguagem...Neste caso, se você mostra, eles: “eu vi realmente a reprodução dessa pintura ali”, era da Tarsila do Amaral, os alunos falaram que viram no Itaim um grafite bem grande dela, e eles falaram: “Eu vi ali na entrada dos granfinos tem”, e é de grafite, releitura, um suporte. Mas tem que trazer para a realidade deles, se não trouxer, não consegue. A partir do momento que ganhar a confiança dos adolescentes, eles começam a entender a aula, aí você pode mostrar o que quiser. Aí, sim, é importante.” “Eles têm mania de perguntar: “professora, quanto vale isso?” Você está dando aula, “quanto vale isso?” Eu respondo: “vale a tua vida, é pouco”?” “...tem que fazer um gancho, literatura com novela. Peço para prestarem atenção aos erros gramaticais dos jornais, dos erros ortográficos, da concordância, e ficam indignados porque falam: “vi tal erro, tal apresentador falou errado, usaram tal verbo”, isso para entenderem, se você não traça o paralelo, é difícil para o aluno, é complicado o caminho.” “Leitura dos clássicos é muito complicado porque o aluno não quer ler. Então, eu cobro, eu insisto com uma nota, eu falo: “isso cai no vestibular”. Eles pensam em prestar vestibular, pela cobrança dos pais, eles têm o desejo.” 6. OBJETIVO DO ENSINO MÉDIO Vale ressaltar que no grupo de periferia observou-se uma posição muito acentuada de que a preparação do aluno para o ingresso na faculdade definitivamente está fora dos objetivos do curso de ensino médio público. “Normalmente as escolas de ensino médio, as públicas, não estão trabalhando para que o aluno concorra a um vestibular, mas para formar cidadão para a vida.” “Focar o nosso ensino no interesse do aluno para faculdade, eu acho que é pura utopia. Eu já vejo mais além, eu me preocupo com o mercado de trabalho desse aluno. Por exemplo, quantos alunos da periferia que vão ter condições de pagar uma faculdade, popular? 1%? Com o ProUni? Quantos alunos estão engajados na questão do tráfico de drogas? Então é assim, eu 30
  • 31. estou muito mais preocupado, em relação a nós, professores, em mudar a nossa estratégia de ensino, a nossa metodologia de trabalho, para que estes jovens se sintam incentivados para o mercado de trabalho, para a gente poder atraí-los.” Destacam-se indicativos de uma percepção de que o sonho da uma faculdade está restrito a poucos alunos. “Nós tivemos há alguns anos um aluno que queria fazer Farmácia e queria prestar Fuvest, e de fato ele está no terceiro ano de Farmácia. Só que este menino já tinha uma disciplina de estudo dentro de casa, a família já fazia a sua parte. Ele saiu da escola pública com o ensino defasado e fez três anos de cursinho.” “Outro dia um aluno falou: “Eu quero fazer otorrinolaringologia”. Eu não ri por uma questão de ética. “O que é isso? O que você quer ser? Você sabe como é que faz para chegar nesse nível? Tem que fazer primeiro medicina depois, na sua residência, você vai fazer a sua especialidade”. – “É, professor? Nossa, eu não sabia”.” Nesta perspectiva, a realidade, para a maioria dos alunos, restringe-se a uma vaga no mercado de trabalho. “Ele não vai se preocupar em ser um doutor, mas se tiver uma vaguinha para ele como auxiliar de enfermagem, para ele está ótimo.” “O sonho é maior, mas é difícil adequar o sonho à realidade em que vive, pois não tem mecanismos para alcançar esse sonho.“ 7. A DIFICULDADE De forma geral, a família é vista pelos entrevistados como um elemento dificultador no processo educativo: seja pela sua ausência no processo educativo do jovem “A família deixou a educação para a escola, terceirizou para a escola. Pai e mãe não querem educar, querem que a escola eduque.” “É colocada na nossa responsabilidade coisas que a família teria que fazer, só que não faz.” seja pela sua presença equivocada “Os pais se irritam com lição de casa... Tem uma aluna que aprontou, aprontou e nas férias ganhou uma cirurgia de silicone. Os pais achavam que ela aprontava muito porque os seios dela eram pequenos.” 31
  • 32. “Os pais são contra tudo o que você faz, você dá lição para casa o pai reclama, prefere que o filho fique no MSN, do que de repente fazer uma lição em casa. Os pais reclamam: “mas meu filho, coitado, tem de ler?”.” seja pela sua desestruturação (socioeconômica) “Observando o aluno, como ele fala, a carência na fala, às vezes ele não tem estrutura na casa dele e vem procurar no professor um pai, uma mãe.” “Os jovens das escolas estaduais, via de regra, são de classe baixa, bem baixa, basicamente de favela, que não têm estrutura familiar, que não têm perspectiva de futuro basicamente nenhuma, e que vai para a escola porque não tem para onde ir.” Os entrevistados destacam a importância de trazer a família para dentro da escola em um processo construtivo. “A gente tem que trabalhar no coletivo com este jovem. A família tem de estar antenada, tem que ser participativa dentro da escola.” “Este ano, uma coisa que eu procurei valorizar é a participação dos pais na escola. É uma dificuldade muito grande fazer esses pais participarem de alguma forma dentro da escola. Eu fiz bastante convite, mães que eram enfermeiras vieram fazer palestras da saúde para os alunos, avaliamos o trabalho delas junto com eles. Vamos continuar trabalhando com drogas, sexualidade.” 32
  • 34. 1. INTRUMENTOS PARA SE TRABALHAR COM JOVENS Em relação ao trabalho com os jovens, os participantes (professores, coordenadores e diretores) reconhecem que não estão instrumentalizados. “Temos carências de algumas técnicas. Eu acho que nós temos muitas qualidades, mas nós precisamos de que o Governo, a sociedade também olhe para a gente.” “São problemas que surgem o tempo todo e a gente não está pronta para isso. Às vezes você recebe cada situação, cada caso, você fala: puts. Como reagir naquele momento, eu não sei.” “Não tem um manual de instrução, não veio nada junto.” “Eu fui fazer um curso de Psicopedagogia para que eu também possa entender este jovem.” “Hoje eu sinto falta da gente não ter um conhecimento técnico, científico, das etapas que o indivíduo passa. Essa idade da puberdade, que eles vivem agora, que é a adolescência, é uma fase de transição muito difícil para eles. E para nós também.” a) A PRÁTICA Segundo os participantes, os instrumentos para lidar com os jovens eles tiram da experiência de vida, da convivência diária com jovens, sejam alunos ou filhos, e da troca de informação entre os colegas. “Estamos aprendendo sozinhos”. “Você passou por várias situações semelhantes. E a tua experiência de vida te faz conseguir direcionar o olhar do jovem para o que você quer.” “Troca de experiências entre os colegas. A gente fala que tem pouco, mas o nosso encontro semanal existe para esta troca. Ele é pouco, mas existe.” “Tenho uma filha de 15 anos e convivo com adolescente... você tem que buscar um caminho com o adolescente, porque não tem curso.” b) A TEORIA E resistem aos teóricos que desconhecem a realidade da sala de aula. Acho que é muito fácil falar: “Ah, professor é isso, aquilo!” É muito fácil você ser professor de faculdade, agora, ser professor de fundamental e ensino 34
  • 35. médio, você está ali lidando com eles diariamente. Acho que não existe teoria que vai te ensinar a fazer isso, tem que ser prática. “A própria supervisora de ensino está afastada da sala de aula há vinte anos, que experiência que ela tem nos dias de hoje? Nenhuma. Claro, ela chega lá com belíssimo discurso sobre rendimento do aluno, disciplina do aluno, e na verdade, ela não está integrada, não vive o dia-a-dia nosso.” “Existem publicações que falam sobre avaliação, como se relacionar com o aluno. Eu já li umas duas vezes Içami Tiba, é legal, mas quando você traz para a prática, para a realidade, 50 jovens, cada com a sua dificuldade, você com pressão de direção, coordenação, você administrando o conflito dele, fica praticamente inviável você usar algumas coisas que ele acabou idealizando.” C) FONTES DE INFORMAÇÃO Quando precisam abordar um tema específico ou dar uma aula diferente, fora do conteúdo normal, os professores recorrem à internet (consulta ao Google, Wikipedia) ou a revistas que chegam na escola - voltadas para educação (Veja Na Escola) ou para jovens (Viração). “Eu adoro a internet, você conhece o mundo inteiro.” “Eu uso o Wikipedia que é legal. Todos os alunos acessam esse site.” “Você põe a frase no Google, ele puxa tudo.” “Eu fotografo todas as minhas viagens para trabalho de escola.” “A Veja na Escola tem várias informações que eu acho extremamente importantes. Ajuda.” “Veja na Escola é um encarte separado, que é especificamente para escola. Na minha área, que é cientifica, eu acho legal. Ele vem com orientações. Mas a quantidade que chega na escola é insuficiente. O professor discretamente pega uma e leva para casa...” “Tem uma revista para jovens, chama revista Viração! Eu recebo na escola, eu leio, levo para minha filha, já trabalhei a revista em sala de aula. Você acaba interagindo com aluno.” Segundo os entrevistados, para uma aula diferente, às vezes basta um pouco de criatividade. “Quando faço trabalho de meio ambiente, eu sempre levo os alunos no Parque Ecológico. Eles têm o pessoal da educação ambiental, é um ambiente extremamente legal, com custo zero, e tem todo um apoio interno no parque.” 35
  • 36. “Eu pego uma pilha de jornal com o porteiro do meu prédio. E o que eu faço? Fim-de-semana eu vou fazer gancho com tecido muscular, com estudo dos invertebrados, porque sempre tem uma pesquisa... O professor perdeu este espírito de criatividade, exatamente pela condição em que ele está trabalhando.” “Eu tive experiência com os alunos, nós trabalhamos com rótulo de produtos alimentícios para saber o que são estas tabelas de valor nutricional. Nossa, um trabalho lindo!” 36
  • 38. CONSIDERAÇÕES FINAIS Do conjunto de evidências apresentadas ao longo do relatório, destacam-se: Perfil dos entrevistados * Gostam de viajar, ler, navegar. * Exercem uma atividade que exige um alto nível de adaptabilidade para conviver com uma diversidade de situações no dia-a-dia: lecionam várias disciplinas; convivem com alunos com faixas etárias que vão desde o ensino fundamental até o EJA, com normas e regras diferenciadas de escolas públicas (municipal e estadual) e particulares. * Atuam em uma instituição considerada difícil: onde as decisões são verticalizadas; o principio da gratuidade, às vezes, é um complicador; com poucos instrumentos de controle; com uma estrutura funcional e estrutural que não consegue atender as demandas. * Realizam um trabalho de forma solitária (professor e aluno) e não contam com um apoio eficaz por parte dos diretores e coordenadores pedagógicos, inclusive por sobrecarga de trabalho desses profissionais. * Revelam uma relação ambígua com os colegas de trabalho, ora classificada de individualista, ora estruturada em grupos bem definidos (como efetivos e eventuais). Percepção em relação ao jovem estudante * Acompanham muito de perto o ritual de passagem da adolescência (ensino fundamental) para a juventude. Fase marcada por características já conhecidas (contestação, onipotência...) * Admitem certa dificuldade para lidar com novos comportamentos: homossexualismo, drogas, tecnologia. * Revelam que utilizam algumas estratégias atuais para aproximação do jovem como Orkut, MSN, com resultados positivos. E que estão sempre atentos às atualidades do universo deles – novelinhas, revistas... * Ressaltam que para o jovem a escola tornou-se um importante território para vivenciar sua afetividade, sua ansiedade, sua violência, sua identidade. * E que, em meio a tantas possibilidades, o projeto educacional perdeu espaço. De uma forma geral, o jovem gosta da escola, mas não se interessa pelos estudos. 38
  • 39. * Especulam que esse desinteresse possa estar relacionado ao desconhecimento de alternativas vocacionais (o jovem desconhece o universo de profissões existentes e suas próprias vocações); ao fato de muitos não crescerem em um ambiente onde faculdade, carreira são projetos acalentados ou porque, de forma geral, percebem um mercado de trabalho restrito, principalmente para o jovem. * Consideram um desafio do professor seduzir o jovem com um projeto educacional que seja estimulante, compreensível, útil. * Ressentem-se também da falta de colaboração da família no processo educacional do jovem. Identificam pais que não se sentem responsáveis pela educação dos jovens – deixam a função para a escola; pais irresponsáveis, que querem “proteger” os filhos das obrigações da escola e pais sem condições de se responsabilizar pelos jovens, por uma questão socioeconômica. Informação sobre o jovem * Reconhecem que o trabalho com o jovem baseia-se em um conhecimento prático. * Demonstram uma forte resistência aos teóricos, que podem conhecer o jovem, mas não dominam as variáveis de um ambiente escolar. * Além da Internet, referem-se a Veja na Escola e a Revista Viração, como fontes de informação. 39