O documento descreve o surgimento e desenvolvimento do Modernismo português entre o início do século XX e os anos 1930. O primeiro Modernismo (1911-1918) foi mais arrojado e influenciado por movimentos como o fauvismo, cubismo e futurismo. A revista Orpheu de 1915 foi um expoente importante. O Segundo Modernismo (anos 1920-1930) se difundiu através de revistas como a Presença e obras de pintores como Almada Negreiros.
3. Em Portugal…
José Malhoa,
Praia das Maçãs
… continua a vigorar a corrente naturalista.
Doc. 65, p.
91
ENTRE O NATURALISMO E AS VANGUARDAS
4. Para os naturalistas a verdade coincidia com o pior
caso possível. Na viragem do século, a obsessão
para revelar essa “verdade” encarnou num homem:
Manuel Laranjeira. “É preciso que alguém diga a
verdade sobre nós” (…). “O mal da sociedade
portuguesa é apenas este: a desagregação da
personalidade coletiva, o sentimento de interesse
nacional abafado na confusão caótica dos
sentimentos de interesse individual”. (…)
Em 1906, Sampaio Bruno (…) refletia no facto,
notado por Junqueiro e Eça, de só os Portugueses,
sobretudo os “portugueses cultos”, não serem
patriotas: “Se a um português se lhe perguntar qual
José Malhoa, Fado, 1910. Museu da Cidade, Lisboa. é a última nação da Europa, ele responderá logo que
é Portugal.”
O conservadorismo da maioria do público
consumidor de arte em Portugal (burguesia)
condiciona a produção artística da época –
ao comprarem um objeto artístico, preferem
adquirir um valor “seguro”, ancorado em
gostos ou artistas creditados.
Rui Ramos, “A segunda fundação”, in História de Portugal, vol. VI,
Círculo de Leitores, 1994
5. Após a implantação da República…
…os primeiros movimentos de vanguarda chegam a Portugal.
ENTRE O NATURALISMO E AS VANGUARDAS
6. Primeiro Modernismo (1911-1918)
•Mais
arrojado
do
que
o
Segundo
Modernismo
(caráter
provocatório);
•Pintura: tem início com exposições livres, independentes e
humoristas (a partir de 1911, em Lisboa e no Porto);
•Impulso notável com a eclosão da Primeira Guerra Mundial
(regresso de Amadeo de Souza-Cardoso, Guilherme Santa-Rita,
Eduardo Viana, José Pacheco, Robert Delaunay, Sonia Delaunay).
Doc. 66, p.
93
ENTRE O NATURALISMO E AS VANGUARDAS
7. O Primeiro Modernismo Português (1911-1918)
O modernismo vanguardista, efetivamente, organiza-se sobre o princípio de que à geração nova cabe o
papel messiânico de romper com o passado e de, sobre os escombros da herança destruída e
abandonada, acelerar a evolução, inventar o futuro, criar um mundo novo.
Se observarmos as principais tendências do primeiro modernismo em geral, encontramos numa
primeira fase duas vertentes: a antitradicionalista e iconoclástica, e a futurista.
A primeira incendeia a tradição e destrói as suas imagens e símbolos; a segunda, complementar,
deseja ultrapassar o passado, transcender o presente e criar desde já o futuro, não sendo pois de
admirar que a expressão do movimento, da velocidade, do futurível na sociedade atual, constitua o seu
principal propósito. Por um lado, o fauvismo, o cubismo, o expressionismo, o abstracionismo, o
dadaísmo; por outro, o movimento propriamente futurista, que entronca nalguns daqueles, mas para
acentuar as dimensões da velocidade, de aceleração, de motricidade social e industrial.
António Quadros, O primeiro modernismo português – vanguarda e tradição , Publ. Europa-América,
1989
Quais os princípios que regem o primeiro modernismo português?
Que vanguardas influenciam o primeiro modernismo português?
8. Primeiro Modernismo (1911-1918)
Revista Orpheu
• Dirigida por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro;
Doc. 68, p.
• Dois números lançados em 1915;
95
•
N.º 1 – Ode Triunfal de Álvaro de Campos e poema 16 de Mário de
Sá-Carneiro;
•
N.º 2 – pinturas futuristas de Santa-Rita Pintor, Chuva Oblíqua de
Fernando Pessoa e Ode Marítima de Álvaro de Campos;
• Inclui trabalhos desde o simbolismo ao futurismo,
provocando “o encontro das artes e das letras”.
• É considerada como o expoente do primeiro modernismo
português.
• Constituiu um escândalo que horroriza a sociedade
burguesa.
• Almada Negreiros reage às críticas com o Manifesto
Doc. 69, p.
Anti-Dantas).
96
9. Primeiro Modernismo (1911-1918)
Revista
Portugal Futurista
• 1917 – 1.ª Conferência Futurista de José de
Almada Negreiros (Teatro República, Lisboa);
• Sai o número único da revista Portugal
Futurista, com colaborações de Santa-Rita
Pintor, Fernando Pessoa, Apollinaire, SáCarneiro;
• Apreendida pela polícia antes de chegar ao
público.
Doc. 70, p.
97
10. Segundo Modernismo (anos 20 e 30)
Na literatura…
• José Régio, João Gaspar Simões e
Adolfo Casais Monteiro;
• Revista Presença , publicada entre 1927
e 1940, dirigida por José Régio, João
Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca
(mais tarde substituído por Adolfo Casais
Revista Presença, 1927.
Doc. 71, p.
98
Monteiro).
11. Segundo Modernismo (anos 20 e 30)
Na pintura…
• Almada Negreiros e a sua esposa Sarah Afonso,
Dordio Gomes, Mário Eloy, Carlos Botelho, Abel
Manta, Bernardo Marques, Júlio Reis Pereira,
Maria Helena Vieira da Silva, Eduardo Viana.
• Difusão:
• Exposições independentes;
• Decoração modernista de cafés e clubes
(ex: A
Brasileira do Chiado e o Bristol Club);
Revista ABC, 1921.
• Ilustração de periódicos (por exemplo, a revista
ABC).
Doc. 72, p.
99
http://malomil.blogspot.pt/2012/12/o-fado-do-bristol-club.html
12. Será que a pintura de Almada Negreiros reflete a alteração de costumes nos anos
20 em Lisboa?
Almada Negreiros, Autorretrato num grupo, 1925
13. Segundo Modernismo (anos 20 e 30)
• 1933 – António Ferro assume a direção do
Secretariado de Propaganda Nacional;
• O Modernismo torna-se veículo ideológico
António Ferro
do Estado Novo;
• António
Pedro
será
um
dos
principais
promotores do grupo surrealista português
(oposição à «arte oficial» do Estado Novo).
António Pedro, Rapto na
Paisagem Povoada, 1947
ENTRE O NATURALISMO E AS VANGUARDAS
Sim, pois vemos numa mesa, que se supõe de um café, um grupo de pessoas que inclui duas mulheres, estando uma delas a fumar. A pintura reflete a mudança que em Portugal, à semelhança do resto da Europa, se verificou na forma como as mulheres se comportavam em público. Esta mudança foi importante mas a verdade é que foi, por vezes, mais aparente do que real, não se verificando uma mudança significativa no papel atribuído a cada um dos sexos. Também isto está patente de certa forma na pintura, pois as mulheres estão em segundo plano e diríamos que quase apenas como “elementos decorativos”.
Porque abarca influências das mais variadas vanguardas artísticas internacionais, à mistura com um sentimento de frustração relativamente ao meio cultural português, que leva os seus seguidores a preconizar um “novo começo”. É também, um movimento nacionalista, na medida em que pretende que Portugal se torne grande e compita em pé de igualdade com os outros países da Europa. Neste sentido é um movimento que nasce de um certo complexo de inferioridade e que tenta arranjar soluções para ultrapassar aquilo que considera ser o atraso atávico de Portugal.