O documento discute como valores como compromisso, engajamento e apreciação pelo trabalho bem feito são desenvolvidos naturalmente através da aprendizagem prática e do envolvimento com atividades significativas, e não de forma abstrata em salas de aula. Ele argumenta que os professores de disciplinas técnicas são os principais agentes de valores nas escolas e sugere dar mais ênfase às obras produzidas e celebrar publicamente o trabalho dos alunos.
4. Casos pra pensar
• Solange não consegue “dar um tapa” na faxina
• O aprendiz de eletricista vai refazer o trabalho
que está feio, embora correto
• Dentes provisórios do Gerson “dão raiva” de
tanta perfeição
• Seu Neca aprecia a beleza dos azulejos que
assentou
5.
6. Ponto de partida
Observações em oficinas, laboratórios, ateliês
... e até salas de aula, em trinta e três escolas
de EPT em diversas partes do país.
7. Minhas circunstâncias
• Professor desde 1967.
• Graduação em filosofia e pedagogia.
• Trinta anos de atuação no SENAC
• Mestrado em tecnologia educacional
• Doutorado em educação
• Atualmente, consultor da UNESCO e da OIT
8. Minhas observações recentes nas
escolas geraram histórias. Conto
quatro
• O menino magrinho da marcenaria
• O companheiro da soldagem
• A costureira de vestidos infantis
• A manicure que fotografa unhas
9.
10. Carícias na madeira
• Uma emenda no fundo do rack
• Trabalho bem feito. A emenda ficou invisível
• Demorados gestos de apreciação da obra
11.
12. Dia decisivo na soldagem
• Ensaio para o teste final
• Bom emprego à vista
• Trabalho intenso nas cabines de soldagem
• Otávio cede sua cabine para o vizinho
• Otávio descreve seu ato de altruísmo como
“companheirismo”
13.
14. O espelho da costureira
• Observo trabalho em moldes
• Jovem senhora quer que eu veja seus vestidos
infantis
• Na arara, cinco lindos vestidos para crianças
• A costureira me diz que se vê nos vestidos que
fez
15.
16. Celebração da beleza das mãos
• Observo trabalho convencional de manicure
• Conversas, entrevistas com cheiro de esmalte
• Surpresa: sessão de fotos de mãos bem feitas
17. DESTAQUE
“... tenho muito orgulho da minha arte e sei
o quanto é satisfatório o
reconhecimento de um trabalho de qualidade.
Por isso faço questão fotografar as artes de minhas
MENINAS, postá-las e ver a felicidade no rosto
de cada uma. Nada se compara a essa emoção.
Os problemas, os aborrecimentos ficam esquecidos,
tudo que interessa é cortar, lixar, polir, esmaltar;
as horas passam voando.
Quando finalmente vemos o trabalho realizado
nossa alma se enche de alegria, é uma festa
para a mente. ‘Fui eu que fiz!’ ”
19. Na marcenaria
• Apreciação do trabalho bem feito
• Compromisso com a obra
• Compromisso com qualidade
• Sentimento de realização
20. No ateliê de costura
• Identificação com a obra
• Apreciação da beleza
• Sentimento de realização
• Orgulho profissional
* Observação: muitos são os significados de profissionalismo. Todos eles
tem a ver com valores.
21. Na oficina de soldagem
• Cuidado com o outro
• Companheirismo
• Altruísmo – ajuda desinteressada
• Compartilhamento de saberes
* Observação: para muita gente, o principal base da ética é o
altruísmo.
22. No salão de beleza
• Sentimento de realização
• Apreciação do trabalho bem feito
• Afirmação pessoal/profissional
• Reconhecimento do saber profissional
compartilhado
25. Atributos comuns
• Celebração do trabalho/aprendizagem
• Compromisso com obra
• Revelação de valores intrínsecos ao trabalho
• Saber das coisas se desvelando no
engajamento numa comunidade de prática
26. Sobre celebração
• Esquecida em muitas aprendizagens escolares
• Reconhecida no pré, desconhecida no ensino
médio
• Praticada em profissões manuais
• Ignorada na aprendizagem de disciplinas
escolares
27. “VOCÊ É O QUE VOCÊ FAZ”
Compromisso com a obra
28. Você é o que você faz
• Isso é identidade [não faço bobagens...]
• Isso é ética [minha moralidade transparece nos meus atos]
• Isso é axiologia [meus atos mostram o que julgo importante]
• Isso é estética [território da beleza e da compreensão das coisas
que me cercam]
29. Revelação de valores intrínsecos ao
trabalho
• Alerta 1: impossibilidade de agregar valor a
trabalho degradado. [não é o indivíduo que dá sentido à ação,
é a ação que que dá sentido à vida pessoal e coletiva]
• Alerta 2: necessidade de reconhecer valores
engastados na ação
30. Destaque
Quem mais ensina valores nas escolas
são os professores de disciplinas
técnicas, principalmente aqueles que
coordenam atividades em oficinas.
31. Saber das coisas desveladas: momento
filosófico
• “As coisas estão no mundo; eu só preciso
aprender” (Paulinho da Viola)
• “O pensamento parece uma coisa à toa, mas
como é que gente voa quando começa a
pensar” (Lupicínio Rodrigues)
• As coisas se desvelam ou se escondem
historicamente (Heidegger)
32. “Estou argumentando que nossas relações com o mundo vêm
em primeiro lugar. Somente por meio de interações intencionais
com o mundo e os padrões de sucesso ou insucesso que emergem
dele é que nossas interpretações adquirem sentido
e o mundo se torna determinado. O real é aquilo
que manipulamos, que nos oferece resistência,
que nós notamos. E do qual nos apropriamos
mesmo quando não o notamos explicitamente.” (Rouse, p.155)
33.
34. FIZEMOS UM EXERCÍCIO.
LEMBRAM?
O saber do trabalho exige engajamento. Ele se parece com um bom jogo.
Mergulhamos na atividade e outras coisas da vida ficam de fora.
Engajamento e compromisso são vizinhos. Quando visito um, o outro
vem atrás.
35. Comunidades de paixão
• Aprender segredos do jogo pode durar horas,
mas eles não desistem...
• Todo mundo aprende, todo mundo ensina,
todos –iniciantes e mestres- participam
• Compromisso, engajamento e envolvimento
são evidentes
40. O que é esquecido?
A ação. A atividade humana que
gera compromisso.
41. Os valores, na vida e também na
escola...
• São construídos a partir de nossas relações
com aquilo que nos compromete
• Nascem da negociação de significados para
entender as coisas do mundo que precisamos
aprender
42. Quem mais ensina valores nas
escolas?
• Os ambientes que resultam em cenários nos
quais os alunos convivem com outros alunos e
com os educadores
• Os professores de conteúdos que envolvem os
alunos com a produção de obras
44. Os valores vão sendo construídos em atividades que
são significativas para os alunos, dado o envolvimento
com certas dimensões do mundo...
45. Indicações
• Reconhecer a ação...
• Reconhecer que os professores de conteúdos
técnicos e tecnológicos são os principais
agentes de valores nas escolas
• Refletir sobre os valores tácitos que estão
sendo promovidos nas aprendizagens do fazer
46. Sugestões
• Organizar a EPT tendo como referências obras
típicas da profissão
• Celebrar publicamente o trabalho e a
aprendizagem
• Desvelar os valores que os professores de
tecnologia promovem junto que o saber fazer
• Começar o ensino de ética pelo trabalho
concreto, não por proposições genéricas
47. Sugestões para gestores, pedagogos e
outros
• Aprender valores com os profissionais do
ramo
• Frequentar oficinas e outros locais de
trabalho/aprendizagem
• Mergulhar em estudos de ética e estética que
nascem da ação [exemplos: teoria da atividade, pragmatismo]
48. Referências
• Moral do trabalhador e educação profissional:
http://www.senac.br/media/30696/bts_intra_2b.
pdf
• Formación profesional: saberes del ócio o saberes
del trabajo? :
http://www.ilo.org/public//spanish/region/ampr
o/cinterfor/publ/barato/index.htm
• Comunidades de prática, comunidades de paixão
e aprendizagem na web:
http://tecnologiasnaeducacao.pro.br/revista/a1n
1/pal1.pdf
49. Onde me encontrar
• No Boteco escola:
https://jarbas.wordpress.com/
• No Facebook: Jarbas Novelino
• No e-mail jarbas.barato@gmail.com