6. PAUSA
Uma das várias obras de Bansky. Um
grafiteiro, pintor, ativista político e diretor
de cinema inglês. Sua arte de rua satírica
e subversiva combina o humor negro ao
grafite.
A espiral de Fibonacci pode ser usado
para representar uma pausa e
crescimento, precedendo expansão.
7. BIOGRAFIA – MOACYR SCLIAR
Escritor e médico, Moacyr Jaime Scliar nasceu no dia 23 de março de 1937, no bairro do Bom Fim, Porto Alegre, e faleceu no
dia 27 de fevereiro de 2011, aos 73 anos de idade. Em toda sua vida trabalhou como médico e escritor e publicou cerca de 80
livros.
Moacyr Scliar era casado com Judith, com teve um único filho. Scliar era descendente de russos, seus pais eram da Bessarábia e
chegaram no Brasil em 1904. Scliar se formou em Medicina pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), tornou-
se especialista em Saúde Pública, concluiu doutorado em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública.
Em 1962, lançou o seu primeiro livro, “Histórias de médico em formação”, composto por contos inspirados em suas experiências
de estudante. Em 1968, publicou “O carnaval dos animais”, sua primeira obra verdadeiramente literária.
Dentre suas obras destacam-se “O Exército de um homem só”, “A estranha nação de Rafael Mendes” e “O centauro no jardim”.
Escreveu artigos para os jornais Zero Hora e Folha de São Paulo. Foi eleito como membro da ABL (Academia Brasileira de
Letras) no ano de 2003. Recebei o prêmio Jabuti três vezes.
O primeiro prêmio Jabuti foi recebido em 1988, pela obra “O Olho Enigmático”; em 1993, recebeu o segundo, pela obra Sonhos
Tropicais”, ambos na categoria melhor romance; e, em 2009, com a obra “Manual da Paixão Solitária”, na categoria de livro do
ano.
Em 1980, já havia recebido o prêmio de literatura da APCA, pela obra “O Centauro no Jardim”. Em seus livros há sempre a
abordagem de temas médicos, sociais e sobre o judaísmo no Brasil. Seus livros foram traduzidos para doze idiomas.
Como médico alcançou destaque a partir de 1969, assumindo os cargos de chefe da equipe de Educação em Saúde da Secretaria
da Saúde do Rio Grande do Sul e como diretor do Departamento de Saúde Pública. Apesar de sua intensa atividade literária, era
um autor que escrevia muito, conseguiu encontrar tempo para cursar pós-graduação em medicina comunitária em Israel. Em
2002, concluiu doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, o título de sua tese foi “Da Bíblia à
Psicanálise: Saúde, Doença e Medicina na Cultura Judaica”.
A relatar a imigração judaica no Brasil, a obra “O Centauro no Jardim” foi considerado como um dos melhores livros sobre o
tema nos últimos tempos pelo National Yiddish Book Center. O escritor faleceu no dia 27 de fevereiro, no Hospital de Clínicas
em Porto Alegre, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral), o falecimento foi em decorrência de falência múltipla dos
órgãos.
Fonte:
http://www.infoescola.com/biografias/moacyr-scliar/
8. PAUSA
"Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou
da cama, correu para o banheiro, fez a barba e
lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído.
Estava na cozinha, preparando
sanduíches, quando a mulher
apareceu, bocejando:
—Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a
fronte calva; mas as sobrancelhas eram
espessas, a barba, embora recém-feita, deixava
ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto
era uma máscara escura.
— Todos os domingos tu sais cedo — observou a
mulher com azedume na voz.
— Temos muito trabalho no escritório — disse o
marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
—Por que não vens almoçar?
— Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo
um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que
voltasse à carga, Samuel pegou o chapéu:
—Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel
tirou o carro da garagem. Guiava
vagarosamente, ao longo do cais, olhando os
guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o
pacote de sanduíches debaixo do
braço, caminhou apressadamente duas quadras.
Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo.
Olhou para os lados e entrou furtivamente.
Bateu com as chaves do carro no
balcão, acordando um homenzinho que dormia
sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé.
—Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje.
Friozinho bom este, não é? Agente...
—Estou com pressa, seu Raul! —atalhou Samuel.
— Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. —
Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada
vacilante.
Ao chegar ao último andar, duas mulheres
gordas, de chambre floreado, olharam-no com
curiosidade:
9. —Aqui, meu bem!—uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave.
Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um
guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia
d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas
esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de
viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido;
com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a
gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro
sanduíches. Limpou os dedos no papel de
embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco,dormia. Lá embaixo, a cidade começava a
mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros
gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo
luminoso no chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície
imensa, perseguido por índio montado a cavalo. No
quarto abafado ressoava o galope. No planalto da
testa, nas colinas do ventre, no vale entre as
pernas, corriam.
Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde
sentiu
uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos
esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a
lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de
suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno
de um vapor.Depois,silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da
cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se
rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
—Já vai, seu Isidoro?
— Já — disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu
o troco em silêncio.
—Até domingo que vem,seu Isidoro —disse o gerente.
—Não sei se virei—respondeu Samuel, olhando pela porta;
a noite caía.
— O senhor diz isto, mas volta sempre — observou o
homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou, um
instante, ficou olhando os guindastes recortados contra
o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.“
SCLIAR, Moacyr. In:BOSI, Alfredo. O conto brasileiro
contemporâneo. São Paulo: Cutrix, 1997
10. Procedimentos, estratégias e capacidades de leitura
• Ativação de conhecimentos de mundo
Leitura e análise de imagens
•Antecipação ou predição de conteúdos ou propriedades dos textos
Análise do título e da biografia do autor
O autor era um médico. Como é a rotina de um médico?
A causa de sua morte foi um AVC. Por que as pessoas morrem de AVC
atualmente?
Por que o título do texto é Pausa?
•Checagem de hipóteses
Leitura do texto
11. •Localização e/ou cópia de informações
Onde Samuel estava quando sua mulher apareceu?
O que ele estava fazendo?
Descreva fisicamente como era Samuel.
Aonde Samuel disse que iria?
Como Samuel dirigia seu carro e o que via pelo caminho?
Aonde ele chegou? Como era o lugar?
Quem Samuel encontrou no último andar?
Como era o quarto em que Samuel entrou?
O que Samuel fez depois de comer os lanches?
Como foi o caminho de volta para casa?
•Comparação de informações
•Generalização
•Produção de inferências
Como você analisa os seguintes trechos: “observou a mulher com azedume
na voz” e “A mulher coçava a axila esquerda.”?
Por que ele disse que iria trabalhar?
Por que o gerente do hotel o chamou de Isidoro?
12. Capacidades de apreciação e réplica do leitor em relação ao texto
•Recuperação do contexto de produção do texto
Refletindo sobre a leitura, você acha que as pessoas necessitam de uma
pausa?
Se o autor tivesse mais momentos de pausa, evitaria ter um AVC?
•Definição de finalidades e metas da atividade de leitura
É possível aprender alguma lição de vida?
O que você diria a seus pais a respeito de pausas no trabalho?
•Percepção de relações de intertextualidade (no nível temático)
•Percepção de relações de interdiscursividade (no nível discursivo)
Faça uma pesquisa sobre o tema lido.
13. •Percepção de outras linguagens (imagens, som, imagens em movimento,
diagramas, gráficos, mapas etc.) como elementos constitutivos dos sentidos
dos textos e não somente da linguagem verbal escrita.
Leitura com efeitos sonoros ( o despertador tocando, Samuel fazendo
sanduíches, a mulher bocejando etc.)
•Elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas
•Elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos
Como você acha que deve ser o relacionamento de um casal?
Você faria o mesmo que Samuel para ter uma pausa?