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Imaginários urbanos
1. Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM 1
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 1
FICHAMENTO DA OBRA “IMAGINÁRIOS URBANOS”
1) Título do
Livro:
Silva, Armando.
Imaginários urbanos /
Armando Silva. São
Paulo: Perspectiva;
Bogotá, Col: Convenio
Andres Bello, 2011.
(Estudos;173)
2) Autor (Perfil):
Armando Silva, PhD pela
Universidade da Califórnia, com estudos
em filosofia, semiótica e psicanálise, é
fundador da área de Comunicação Visual
da Universidade Nacional da Colômbia,
onde atualmente ensina e dirige o
Instituto de Estudos em Comunicação.
Autor de numerosos ensaios, alguns
deles traduzidos para o inglês, francês,
italiano e português, e de vários livros,
entre eles cabe destacar Graffiti: una
ciudad imaginada e Imaginarios
Urbanos publicados por Tecer Mundo
Editores; Álbum de Família (em inglês,
UMI nos E.U.A. e, brevemente, em
alemão por Weiner Symposiun, da
Áustria), pesquisa visual realizada tanto
na Colômbia, quanto nos Estados
Unidos. Seu trabalho teórico abrange a
arte, a cidade e os meios de
comunicação, sobre os quais costuma
desenvolver a sua reflexão a partir das
disciplinas do simbólico: a psicanálise, a
semiótica, a filosofia crítica e a
antropologia. Atualmente dirige o
projeto sobre culturas urbanas na
América Latina e Espanha, sob a ótica
dos seus imaginários sociais.
3) Quando foi escrito: 2001
4) Questões:
O que é ser urbano nas nossas
sociedades na América Latina? (p. XXIII)
5) Ideias-chave:
O urbano também deve ser
analisado pela perspectiva imaginária e
simbólica. O imaginário de uma cidade é
construído a partir de seus habitantes.
6) Palavras-chave:
Imaginários Urbanos, Percepção,
Cidade.
7) Etapas Metodológicas:
Análise de fotografias de diversos
acontecimentos urbanos;
Reunião de fichas técnicas onde se
descrevem episódios e organizam
tecnicamente dados de localização;
Recorte e avaliação de discursos e
imagens de jornais em comparação
com os acontecimentos urbanos;
Técnicas de observação contínua
para estabelecer possíveis lógicas
de percepção social;
Elaboração de um formulário-
padrão de questionário sobre
projeções imaginárias de cidadãos
segundo explicações de croquis
urbanos
2. 2 Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 2
8) Transcrições:
Apresentação
“Isso não quer dizer que
deixamos de ver a cidade como
espaço da linguagem, de evocações e
sonhos, de imagens de variadas
escrituras. Não nos deve causar
estranheza pois que a cidade tenha
sido definida como a imagem de um
mundo, mas essa ideia se
completaria dizendo-se que a cidade
é também o contrário: o mundo de
uma imagem que lenta e
coletivamente vai sendo construída e
volta a construir-se,
incessantemente.
Com isso quero ressaltar que
me proponho a estudar a cidade
como o lugar do acontecimento
cultural e como cenário de um efeito
imaginário.” (p. XXIII)
“É assim que o urbano da
cidade se constrói. Cada cidade tem
seu próprio estilo. Se aceitamos que
a relação entre coisa física, a cidade,
sua vida social, seu uso e
representação, suas escrituras,
formam um conjunto de trocas
constantes, então vamos concluir
que em uma cidade o físico produz
efeitos no simbólico: suas escrituras
e representações. “(p. XXIV)
“Além disso, uma cidade se faz
por suas expressões. A cidade é
também a construção de uma
mentalidade urbana. A vida moderna
vai pondo tudo em um tempo, um
ritmo, umas imagens, em uma
tecnologia, em um espaço que é não
só real (como se diz daquele lugar
onde cabem e se colocam as coisas)
mas também simulado, para indicar
o lugar da ficção que nos atravessa
diariamente: os outdoors, as
publicidades, os grafites, as placas de
sinalização, os publik, os
pictogramas, os cartazes de cinema e
tantas outras fantasmagorias.”(p.
XXV)
“Por último, uma cidade se
autodefine por seus próprios
cidadãos, seus vizinhos e seus
visitantes.” (p. XXV)
“Uma cidade então, do ponto
de vista da construção imaginária do
que representa, deve responder, ao
menos, por condições físicas
naturais e físicas construídas; por
alguns usos sociais; por algumas
modalidades de expressão; por um
tipo especial de cidadãos em relação
com os de outros contextos,
nacionais, continentais ou
internacionais; uma cidade faz uma
mentalidade urbana que lhe é
própria.” (p. XXV)
“O que faz uma cidade
diferente da outra não é só sua
capacidade arquitetônica que ficou
para trás após o modernismo
unificador, em avançada crise, mas
os símbolos que os seus próprios
habitantes constroem para
representá-la. E os símbolos mudam
como mudam as fantasias que uma
coletividade elabora para fazer sua a
urbanização de uma cidade.”(p.
XXVI)
“Só através do exercício
contínuo da pesquisa, registrando a
participação cidadã em cada
participação simbólica, poderemos
averiguar como os cidadãos usam a
sua cidade e também como eles
imaginam que a cidade se segmenta
para mostrar-se aos seus moradores
e aos estranhos.” (p. XXVI)
3. Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM 3
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 3
“É nesse sentido que a
construção da imagem de uma
cidade, em seu nível superior, aquele
que se faz por segmentação e cortes
imaginários de seus moradores,
produz um encontro de especial
subjetividade com a cidade: cidade
vivida, interiorizada e projetada por
grupos sociais que a habitam e que
em suas relações de uso com a urbe
não só a percorrem mas interferem
dialogicamente, reconstruindo-a
como imagem urbana.” (p. XXVII)
1. Cidade Vista: As imagens
da cidade
“Por ponto de vista cidadão
entendo, precisamente, uma série de
estratégias discursivas por meio das
quais os cidadãos narram as
histórias de sua cidade, mesmo
quando tais relatos possam,
igualmente, ser representados em
imagens visuais.” (p. 9)
“A soma imaginável dos pontos
de vista dos cidadãos de uma cidade
integra a leitura simbólica que se faz
da cidade. (...) Quando tais pontos de
vista podem ser projetados por
grupos sociais ou outras marcas
demográficas (sexo, idade, etc.),
passamos a perceber formas
imperantes de percepção cidadã.”
(p.11)
“ O estudo sobre o olhar levou-
me finalmente a compreender que o
que qualifica o ponto de vista urbano
é a exposição pública e, portanto,
não estamos ante o olhar de um
espectador ou de um assistente, mas
de um cidadão. Daí se depreendem
consequências importantes, pois tais
conjuntos iconográficos não apenas
cumprem a função de mostrar-se
mas, simultaneamente, definem uma
cidade: trata-se de uma definição
socioletal, na qual a cidade é vista
por seus cidadãos, mas em que
também os cidadãos são recebidos e
inscritos por sua própria cidade
como exercício de escrita e
hieróglifo urbano.” (p. 13)
2. A CIDADE MARCADA:
TERRITÓRIOS URBANOS
“O território é uma noção
desenvolvida nos estudos sobre
comportamento animal por parte
dos etólogos, mas também uma
categoria utilizada pelos geógrafos e
antropólogos em suas considerações
sobre o uso dos espaços.” (p.15)
“Dentro do mapa de um país,
os habitantes podem visualizar seus
territórios, mas nem sempre o
território tem um suporte icônico;
na maioria dos casos funciona
eventualmente como um croqui e
então o imaginamos, mas nem por
isso é menos real. É sem dúvida esse
poder evocador da nossa imaginação
que proporciona ao território a sua
maior consistência.” (p.18)
“Quando falo em limites quero
apontar um aspecto não só
indicativo, mas também cultural. O
uso social marca as margens dentro
das quais os usuários
“familiarizados” se auto-reconhecem
e fora das quais se localiza o
estrangeiro ou, em outras palavras,
aquele que não pertence ao
território. Reconhece-se um
território precisamente em virtude
da “visita” do estrangeiro, que sob
diversas circunstâncias deve ser-
indicado fora do campo respectivo.
Cumpre dizer que em nosso
vocabulário o território
“territorializa-se” na medida em que
estreita os seus limites e não permite
4. 4 Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 4
(sobretura exclui) a presença
estrangeira.” (p. 19)
“A busca de métodos e técnicas
de estudo foi uma preocupação
constante em meus trabalhos, uma
vez que se aceite que as pesquisas
sobre o urbano ainda se mantêm
dentro dos critérios do conhecido
senso comum ou dentro de enfoques
tradicionais, em geral, dominados
por análises sociológicas ou
econômicas nas quais, quando
surgem perguntas relacionadas com
sua imagem, são resolvidas como
problemas visuais, sem
problematizar precisamente a
própria noção de imagem.
Nesse sentido, poderia
remeter-me a diversos estudos
realizados por arquitetos e
sociólogos que, embora possam ser
úteis para os estudos de
planejamento ou do espaço urbano,
carecem claramente de uma reflexão
sobre o problema comunicativo que
nos cumpriria solucionar
relativamente aos procedimentos
coletivos na construção da imagem
de uma cidade. Seu estudo no âmbito
da comunicação, como o presente,
aponta para uma definição do
urbano, para que assim cada cidade
possa falar de uma “urbanização
dentro de sua urbanidade” além de
sua instrumentação física e estética
ou, talvez melhor, envolvendo tais
aspectos nos horizontes da sua
própria definição.” (p. 20-21)
2.4Cenários Urbanos
“A noção de centro e periferia
interessam-me para ressaltar o fluxo
social da cidade. O centro alude ao
que é cêntrico e focal, ponto de vista
ou de uso, com base no qual o que o
rodeia, em maior ou menor
distância, chamar-se-á periférico. O
periférico alude ao que margeia o
centro. Mas o que nos importa
destacar é que o centro e periferia
estão em constante deslocamento.
Não só o centro em seu sentido
físico, como o centro da cidade se
desloca permanentemente, mas o
centro de poder ideológico.” (p.25)
“Tudo isso me leva a
apresentar as cidades não só como o
exercício dos setores dominantes
sobre o povo indefeso, segundo
diversas apreciações marxistas, que
não só descuraram da estruturação
simbólica da cidade em sua
totalidade, mas como o lugar da
mestiçagem e do encontro cultural. A
cidade mescla hábitos, percepções,
histórias, enfim é “cultura se fazendo
como costura”, como diz um escritor
espanhol, falando da estética
contemporânea permeável do light
(P. Salbert, 1988: 10); é
precisamente na fusão de todas
essas intermediações e costuras que
vai aflorando a própria urbanidade
ou personalidade coletiva da cidade.
Com tal empenho, os territórios des-
marcam-se, permanentemente, do
centro para a periferia e vice-versa.
Assim, essas categorias se mantêm
não em seu sentido estrito, mas
dialético, sintético e sincrético.” (p.
26)
2.5Olhares Cidadãos
“A vitrina é uma janela. Nela
construímos um espaço para que os
outros nos olhem, mas também para
olharmos através dela. Mais ainda,
pela maneira como nos olham
podemos compreender como nos
projetamos e, pela forma como a
vitrina é projetada, podemos
entender como ela quer ser vista.
Assim, a vitrina constitui-se num
jogo de olhares, uns que mostram,
outros que vêem, uns que olham
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como os vêem, outros que vêem sem
saber que são vistos.” (p. 27)
“A vitrina é uma janela urbana.
Contudo, se pudermos olhar a vitrina
de fora da constelação comercial,
ultrapassando o umbral da interação
simbólica com os passantes, se
pudermos olhá-la sem que ela nos
olhe, descobriremos outra vitrina ou
o seu outro espaço: aquele no qual
os seus operadores (de trás para
frente) podem ser observados como
sujeitos sociais; espaço no qual
poderíamos aprender em que
consistem as suas cumplicidades e
repensá-las como códigos
produzidos por uma máquina que
envolve uns e outros.
Isso significa que cada comunidade
produz os significados simbólicos de
suas vitrinas. Que cada cidade
concebe a sua estilística. E também
que em cada cidade vários tipos de
cenários sociais e estéticos serão
feitos segundo os seus habitantes;
segundo as suas condições
econômicas, segundo sua etnia,
segundo sua educação, a vitrina, tão
permeável quanto o enunciado,
acomoda-se à retórica de seus
usuários.
Portanto é a sua permanência
que a fará nossa, algo da nossa
cidade, da nossa cultura, da nossa
forma de perceber a realidade. Uma
vitrina indica a forma como os
usuários percebem o mundo, suas
distâncias, seus anseios. Cada vitrina
resolve à sua maneira, teatralmente,
a relação das coisas com as pessoas,
gera uma epistemologia, uma forma
de conhecer e sentir. As coisas que
circulam pelas vitrinas
correspondem às coisas que as
pessoas usam; por isso os limites das
vitrinas, suas verdadeiras fronteiras,
serão nada menos que a própria
cidade; e dentro destes limites é a
própria cidade que é vista por suas
vitrinas. As vitrinas identificam a
cidade. A cidade toda é uma grande
vitrina.” (p28-29)
2.6Outras Marcas
Territoriais
“No interior das cidades
coexistem diferentes territórios, hoje
mimetizados pelo cruzamento
planetário da comunicação dos mass
media e pelo poder de sedução de
modas, músicas, estilos e modos de
vida do international style. Se defino
os territórios como a sobrevivência
necessária dos espaços de auto-
realização de sujeitos identificados
por práticas similares que em tal
sentido são impregnados e
caracterizados, pode-se
consequentemente deduzir que os
territórios são de naturezas
diferentes. Há os de exercício da
linguagem, como encenação de um
imaginário que se materializa em
qualquer imagem, ou como marcas
inscritas no próprio uso do espaço,
que as torna inconfundíveis como o
patrimônio de um setor social.”
(p.33-34)
“Pelo caminho descrito
anteriormente, podemos encontrar-
nos com diferentes sujeitos sociais
que atualizam a sua competência
urbana produzindo
simultaneamente uma marca
territorial. Se prevemos a cidade
como o lugar do encontro das
diferenças entre sujeitos
competentes, podemos pensar em
várias estratégias de representação.”
(p.34)
6. 6 Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 6
3. Cidade Imaginada:
Imaginários Urbanos
3.2 Percepção Imaginária da
Cidade
“A rigor, o imaginário radical
implica a “capacidade de fazer surgir
como imagem algo que não é e nem
foi” (Castoriadis: 20). Também
estaria ligado ao que chamamos
mentira, que “consiste em dar
voluntariamente a um interlocutor
uma visão da realidade diferente
daquela que a pessoa sabe que é
verdadeira” (em Durandin, 193;J.
Escamila, 1989). E, também diria
que junto à mentira está o segredo,
que “consiste em privar o
interlocutor de uma informação e, se
possível, não deixar sequer que se
possa adivinhar essa omissão”.
Nesse último caso há uma intenção
deliberada de calar, de não dizer
tudo, de cumprir o combinado.
E o que se diz, como colocá-lo
na cidade? Este trabalho levou em
consideração as discussões que
transcrevi anteriormente, e seus
pontos de vista eu os introduzi como
parte da estrutura metodológica na
análise prática dos imaginários
urbanos.” (p. 42)
“Se consegui fazer-me
entender, então é bem possível
aceitar que na percepçãoo da cidade
há um processo de seleção e
reconhecimento que vai construindo
esse objeto simbólico chamado
cidade; e que em todo símbolo ou
simbolismo subsiste um componente
imaginário. Esse procedimento
corresponde a um percurso similar
aceito, segundo modernas
aproximações para qualquer
reconstrução lógica das
manifestações concebidas como
“inconsistentes”, como seria o caso
dos mitos: “Os mitos são fluidos, pois
neles pode ocorrer qualquer coisa e
a emoção substitui a lógica e faz
imperceptíveis as inconsistências”
(L. Bruhl, citado por G. Páramo,
1990:81). Trata-se se uma
“mitologia dos comportamentos
expressivos”, e, em seu estudo sobre
o tema, G. Páramo (p.123) concluía
dizendo, com palavras que tomo
emprestadas para os meus objetivos
de análise simbólica da cidade: no
mundo mítico (e eu acrescentaria,
em qualquer manifestação humana
onde haja maior função simbólica no
seu processo comunicativo), para a
sua avaliação, “a questão é aprender
a classificá-los olhar como se
comportam uns com os outros e
averiguar por que razão vivem
assim.” (p. 47-48)
“Segundo o que foi dito,
podemos compreender que o corte
imaginário que proponho no estudo
da cidade nos conduz a um
enfrentamento diferente da
dinâmica perceptiva. Estamos diante
de eventos apenas textualizados que
são, melhor dizendo, patrimônio de
estruturas explícitas de
intercomunicação. Sustento pois o
seguinte: a percepção imaginária
corresponde a um nível superior de
percepção. Isso significa que nesse
ponto já ultrapassamos duas
instâncias anteriores. A primeira, a
percepção como registro visual, no
caso de ver uma imagem para o seu
estudo, com independência do seu
eventual observador, e a segunda,
quando se estuda a imagem de
acordo com as marcas de leitura,
pontos de vista, com previsão do seu
executor material (ou em outros
níveis seu enunciador), ou no
sentido de estudar a imagem
segundo o patrimônio cultural
7. Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM 7
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 7
implícito na imagem, como eu já
havia explicado.
Mas quando falo da percepção
imaginária, faço-o já, não enquanto
seja “verdadeira” ou não a sua
percepção; tampouco enquanto seja
ou não uma mensagem prevista por
seu enunciador, mas na medida em
que a sua percepção, digamos
inconsistente, é afetada pelas
interseções fantasiosas da sua
construção social e recai sobre
cidadãos reais da urbe.” (p.48)
“Elaborar os imaginários não é
uma questão de capricho. Obedece a
regras e formações discursivas e
sociais muito profundas de densa
manifestação cultural.” (p. 49)
“O imaginário afeta e modela a
nossa percepção da vida e tem
grande impacto na elaboração dos
relatos da cotidianidade, contada
pelos cidadãos diariamente, e tais
pronunciamentos, a fabulação, o
segredo ou a mentira, constituem
entre outras, três estratégicas na
narração do ser urbano. Os relatos
urbanos focalizam a cidade gerando
diferentes pontos de vista.” (p. 50)
Narração Urbana e Estratégias de
Representação
“Pode-se pensar que ante o
fracasso doutrinário de levar o
Terceiro Mundo ao Primeiro Mundo
pela via revolucionária, como se
supôs desde a concepção marxista,
aparecem outras opções de auto-
afirmação de cada região cultural
para iniciar assim, uma
reincorporação a si mesma, agora
pelos canais da cultura, concebida
como a única fonte verdadeiramente
emancipadora. Desse modo aparece
uma nova contradição: enquanto o
mundo se internacionaliza, ao mesmo
tempo se regionaliza e, inclusive, se
interioriza em cada comunidade.
Cada cultura é primeira na sua
própria escala. Por que não olhar de
dentro para fora, buscando uma
imagem reflexo-sincrética e não o
reflexo como eco que repete na
cultura colonizada a imagem do seu
superior, de fora para dentro, como
toda imposição? Essa poderia ser
uma enunciação da estratégia
territorial interiorizada que busca
interromper a linha divisória entre
dois mundos. (p. 62-63)
3.5 As metáforas urbanas
“A compreensão do símbolo
urbano como expressão possível de
ser deduzida da imagem da cidade,
entendida como construção social de
um imaginário, requer um esforço de
segmentação por categorias, em
princípio formuláveis de maneira
abstrata, mas não obstante com uma
suficiente operatividade, já que
tratamos de experiências que
emergem da própria vida social.
Poderíamos pensar em um quadro
de categorias com as quais não só
fosse possível estabelecer um nível
de formalização da relação homem-
urbe, mas que, ao mesmo tempo, tal
quadro de eixos semânticos nos
permitisse observar a produção de
um sentido urbano. É de se supor
que um quadro como o que
apresento naturalmente incompleto
(já que a lista é suscetível de ser
ampliada e atualizada conforme as
circunstâncias de estudo), e só como
maneira de mostrar um
funcionamento semântico da cidade,
funciona em abstrato para ser
aplicado em cada cidade-real
concreta.” (P. 67)
“Proponho inicialmente uma
lista de sete sentidos contrapostos
8. 8 Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM
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como eixos metafóricos. Através de
tais limites, o melhor dentro deles, a
cidade não só significa, mas se
ritualiza, estabelecendo diversas
mediações. As metáforas seguintes,
apresento-as segundo marcas de
espacialidade, temporalidade,
visibilidade e interiorização e
exteriorização. Algumas marcas
aludem ao espacial e geométrico da
cidade, outras se referem a
condições narrativas mas, de
qualquer modo, todas atendem a
procedimentos retóricos de
representar o urbano da cidade.”
(p.68)
Eixos-Metafóricos
Dentro e Fora (Espaço Pós-
moderno): “Mesmo com as
ambiguidades apresentadas, na
cidade há um eixo que a percorre,
que é o estar fora e estar dentro de
algo da mesma cidade. Quando
dizemos que entramos e quando já
saímos?” (p.68)
Diante e Atrás (Espaço
Prospectivo): “O eixo diante-atrás
tem sua melhor expressão em
relação com a visão da paisagem
urbana: se está atrás da catedral,
diante de um restaurante, ou mesmo
na esquina de uma quadra, de onde
eu vivo a paisagem de um parque.”
(p.69)
Publico e Privado (Interiores
da Rua): “Trata-se aqui de um eixo
em franca evolução, hoje, quando os
meios de comunicação franqueiam
com tanta facilidade as “fronteiras”
de um e de outro”.
“Diria que esses eixos se
decompõem e se recompõem nas
culturas urbanas contemporâneas e
que da sua redefinição aparecerá
uma consciência maior na avaliação
da sobreposição dos espaços que
podem ser declarados como
fundamentais.” (p.69)
Antes e Depois (Ordem Visual e
Narrativa): “Esse eixo se acha dentro
de uma divisão temporal da cidade.”
(p.69)
“O antes e o depois tornam-se
assim categorias narrativas
fundamentais para contar uma
cidade em seus sentidos e tecidos
históricos, topológicos, tímicos e
utópicos.” (p.70)
Ver e/ou Ser Visto (Curto-
circuito de olhares): “Além de uma
experiência entre sujeitos, as
imagens da cidade jogam com o
mesmo curto-circuito para
enganchar ou livrar alguém em uma
cadeia de mensagens previstas para
o cidadão.” (p.70)
Centro/Periferia, Circuito/
Fronteira e os Rizomas Urbanos: “O
que foi dito não é motivo para
desconhecer o espaço rizomático de
falam autores como Deleuze e
Guattari e que U. Eco retoma
(1987:23) para propor uma
concepção diferente da de centro e
periferia. Trata-se do rizoma no qual
“cada rua pode conectar-se com
qualquer outra”. Não tem centro,
nem periferia, nem saída, porque é
“potencialmente infinita”. Por isso o
rizoma, segundo o mesmo autor, é “o
lugas das conjecturas, das apostas,
do acaso, das reconstruções, das
inspeções locais descritíveis, das
hipóteses”. Essa noção labiríntica
pode ter vigência na construção
simbólica da cidade.” (p.72)
“Talvez, em busca de uma
resposta que integre as duas
posições centro/periferia e
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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 9
circuito/fronteira, se possa
argumentar outro tipo de território,
não só aquele ligado às condições
físicas do lugar, mas à
territorialidade simbólica, vale dizer,
cultural, pois não se pode pensar que
uma reconstrução de caráter
imaginário, como a que se propôs no
espacial, não conduza a labirintos
simbólicos, por onde se narra o
urbano.” (p.73)
Interior/Exterior (A relação
Norte/Sul): “Este último plano
metafórico da cidade eu o proporia
como uma instância de maior
envergadura simbólica, pois quer
expressar uma relação imaginária
vivida pelos habitantes das urbes,
afetados por diversos modelos de
comportamento, o qual se vive, em
algumas ocasiões, d maneira mais
dramática nas cidades da América
Latina, por sua consciência de
“terceirismo marginal” com relação
aos acontecimentos europeus ou
norte-americanos.” (p.74)
3.6 O Sujeito da Cidade
O sujeito da cidade e seus
pactos de comunicação
“A partir das categorias
desenvolvidas pelo estudioso
francês J.A. Greimas para a análise
do relato, propõe-se conceber o
sujeito da cidade como um sujeito
em processo; sujeito virtual – sujeito
atualizado (competência); sujeito
realizado (performance).” (p.76)
“O indivíduo potencial pode,
tem a virtualidade de atualizar-se
como cidadão por possuir
competência para isso.” (p.76)
“De modo descritivo, o
“contrato”, ou melhor, o “pacto”,
permite o uso e a apropriação da
cidade, dentro de certa competência,
por aqueles que têm capacidade de
executá-lo. O indivíduo urbano se faz,
pois, sujeito competente na medida
em que atualiza os diversos contratos
sociais que lhe outorga o ser urbano
de uma cidade, porém tais convênios
passam pela cenificação territorial.
Em tal nível ele se realiza como
urbano e sua atuação ou atuações
corresponderão à mesma
teatralização que leva implícita a
vida da cidade, isto é, sua condição
performática, acolhendo-nos atos de
linguagem estudados por Austin
(1962), que têm plena vigência
tratando-se da cidade.” (p.76-77)
“Se alguém vê um aviso, se
deduz o seu sentido ou se responde
com atos reais a uma motivação
urbana, em todos os casos fala com a
cidade.” (p.77)
O Sujeito em Construção
A cidade, assim, corresponde a
uma organização cultural de um
espaço físico e social. Enquanto tal,
uma cidade tem a ver com a
construção dos seus sentidos.
Haveria, conforme disse, vários
espaços que pontuo deste modo em
uma divisão fundamental: um
espaço histórico, que se relaciona
com a capacidade para entendê-la
em seu desenvolvimento e em cada
momento; um espaço tópico em que
se manifesta fisicamente o espaço e
sua transformação; um espaço
tímico que se relaciona com a
capacidade para entendê-la em seu
desenvolvimento e em cada
momento; um espaço tópico em que
se manifesta fisicamente o espaço e
sua transformação; um espaço
tímico que se relaciona com a
percepção do corpo humano, com o
10. 10 Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amazônia - GEPDAM
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corpo da cidade e com outros
objetos que o circundam, e outro não
menos importante, o espaço utópico,
onde observamos os seus
imaginários, os seus desejos, as suas
fantasias, que se realizam com a vida
diária.” (p.77)
“Então torna-se óbvio que as
“atuações urbanas”, nossa
teatralidade diária, fazem com que
se vincule o indivíduo à cidade, à sua
cidade, de maneira permanente e
performativa. Dessa modo a cidade
está aberta para ser percorrida, e
tais confrontações com a urbe vão
gerando as múltiplas leituras dos
seus cidadãos.” (p.78)
“A idéia brusca e
determinística de que na cidade o
que importa é o “real”, o
“econômico”, o “social” deixou fora
outras considerações mais abstratas,
mas não menos reais; podemos dizer
que o real de uma cidade não são só
a sua economia, a sua planificação
física ou os seus conflitos sociais,
mas também as imagens imaginadas
construídas a partir de tais
fenômenos, e também as
imaginações construídas por fora
deles, como exercício fabulatório, em
qualidade de representação de seus
espaços e de suas escrituras.” (p.79)
9) Resumo do Texto:
Em sua obra, Armando Silva
desenvolve um caminho
metodológico para interpretar os
imaginários urbanos que são
formados a partir da imagem que os
cidadãos constroem através das
relações com a cidade. O olhar sobre
a cidade é apoiado em três
categorias:
1. A cidade vista: É fruto da
interação dos seus habitantes
com os espaços.
2. A cidade marcada: É
delimitada a partir de seus
territórios.
3. A cidade Imaginada: É
construída a partir das
representações evocadas da
cidade.
10) Análise:
Ao olhar para a cidade que está
sendo construída nesse início do
século XXI, podemos observar as
mudanças que estão ocorrendo,
segundo (MORAES, 2011) estamos
saindo do modelo moderno de
sociedade, focado no acúmulo de
riquezas e na conquista de status
sociais, o que revela uma busca pela
estabilidade, para um modelo
complexo, num cenário de
constantes mudanças e choques
entre as realidades que coexistem.
Novos modelos estéticos, políticos,
sociais e econômicos estão sendo
construídos, para que possa suprir
as novas demandas da modernidade.
Segundo Silva, quando os cidadãos
mudam, a cidade muda e acompanha
esse ritmo de transformação.
Acompanhar a transformações no
imaginário de uma cidade é prevê
tendências, ser assertivo quanto a
intervenções e desenvolver um
planejamento coerente quanto a
necessidade de seus cidadãos.
Marcus Vinícius Ferreira
Gomes.
Manaus, 02 de Outubro de
2014