SlideShare a Scribd company logo
1 of 4
Download to read offline
Universidade do Estado de Santa Catarina
Arquitetura e Urbanismo
Urbanismo e Arquitetura Brasileira
Professora Danielle Benício
Acadêmicos: Ana Carolina Martins, Luccas Zanluca, Mauro Bock, Mustafa
Hassan e Natália Foppa
Análise do movimento moderno em relação à obra de Severiano Porto
Este exercício tem como objetivo analisar a produção do movimento
modernista brasileiro, através de um estudo de caso de uma obra
compreendida na época, comparando os elementos apresentados com os
supostos do movimento em questão e o contexto o qual está inserido.
O Brasil após o fim da época Imperial era comandado pelas oligarquias
cafeeiras. Logo após, durante a primeira Republica, o país era dominado pelo
controle de mercado Inglês. O projeto de modernização brasileiro iniciou-se nos
anos 30 e durou até o fim dos anos 70, quando chegou ao fim o regime militar.
A arquitetura desse período foi trazida a campo exatamente no momento em
que a revolução para a modernização segue em direção ao autoritarismo da
ditadura de Getúlio Vargas. A arquitetura moderna serviria para cumprir uma
função ideológica numa sociedade que, em um pequeno intervalo, saiu do
escravismo para o Estado Moderno, centralizador e autoritário. É nesse
contexto que Severiano Porto trabalha. Ao se formar pela Faculdade de
Arquitetura da Universidade do Brasil (atual UFRJ) é convidado, após uma
viagem de turismo, à realizar alguns projetos na cidade de Manaus, onde logo
fixa residência. Imerso no contexto do modernismo, Severiano consegue
aplicar os preceitos do movimento à realidade da Amazônia, de tal maneira que
cria uma arquitetura única e legitima brasileira. As principais características
desse movimento são o uso de formas geométricas, sem ornamento,
valorizando a veracidade dos materiais, sem reboco ou pintura para “mascarar”
os mesmos, e tentam conciliar ao máximo a forma e a função de maneira
harmônica, no Brasil esse estilo assumiu duas vertentes, a escola carioca –
que incorporou formas arredondadas e construiu um estilo brasileiro de
modernismo – e a escola paulista – marcada pela ênfase na técnica
construtiva, adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura.
Como estudo de caso e comparativo foi escolhida a Residência Robert
Schuster, projeto de Severiano Porto na cidade de Manaus (AM). O arquiteto
consegue conciliar as ideias modernistas com as tradições construtivas dos
povos da região. Pode-se notar a presença na casa de elementos típicos do
modernismo, tais quais o uso de formas geométricas, a estrutura sobre os
pilotis, a veracidade dos materiais aplicados (neste caso a madeira) e a planta
que embora seja mais compartimentada integra todos os cômodos de certa
maneira.
Estudo de Caso: Residência Robert Schuster
Arquiteto: Severiano Porto
Localização: Tarumã, Manaus, Amazonas
Ano do projeto: 1978
Conclusão: 1981
Dono original: O topógrafo austríaco Robert Schuster
Dono atual: O publicitário paulista Edmar Costa
A única reforma encontrada na residência se deu em meados dos anos
2000 quando a propriedade foi adquirida pelo publicitário paulista Edmar Costa.
Responsável pelo projeto dos "ajustes", como prefere falar, o arquiteto Roberto
Moita, que se diz discípulo de Severiano Porto, fez o possível para adequar as
mudanças às características originais da obra. O projeto contemplou reforma
de banheiros, ampliando sua integração com a floresta e copa das árvores,
troca do piso térreo por pedra rústica serrana tipo quartzito, recuperação das
estruturas em madeira que estavam parcialmente comprometidas por ação de
cupins e nova iluminação interna e externa. Além disso, foram criadas novas
edificações - residência do caseiro, pavilhão de hóspedes, churrasqueira,
sauna e garagem de barcos, todos conectados por meio de caminhos e jardins.
Segundo Moita:
"A principal mudança foi de atmosfera: a original era de uma rusticidade
franciscana. Com a mudança de proprietário - passou de um topógrafo
austríaco para um publicitário paulista - havia o interesse de ter maior
conforto, dai nos dirigimos para algo com mais acabamentos".
Concepção estética
Percebe-se que a madeira além de função estrutural tem presença
fundamental na estética da casa. É usada de diferentes formas, nenhuma em
seu estado natural, proporcionando diferentes padrões dependendo a forma
que ela for agrupada, como em painéis semelhantes ao muxarabi por exemplo.
Suas fachadas não são simétricas porem há equilíbrio de volume. O ritmo é
presente principalmente nos pilares. A casa apresenta elementos típicos do
movimento modernista. É toda estruturada sobre elementos que remetem aos
pilotis, o que configura um vão livre no térreo, sem divisórias. Também estão
presentes as formas geométricas, que assemelham-se a cubos dispostos sobre
pilotis e cobertos por uma forma triangular. Os materiais estão presentes de
maneira verdadeira, não como encontrados na natureza, mas com sua textura
e aparência originais. A planta não é livre no segundo pavimento, contudo o
vão central consegue integrar todas as dependências com exceção dos
banheiros. A configuração moderna é utilizada para se adaptar as
necessidades da Amazônia, a cobertura se projeta com beirais generosos.
Assim como as aberturas para a melhor captação dos ventos. Ao projetar a
Residência Robert Schuster, o arquiteto Severiano Porto deu especial atenção
ao local em que seria inserida, tentando modificar a vegetação e o terreno o
mínimo quanto fosse possível. Utilizando-se de conceitos bioclimáticos e
fortemente influenciado pela cultura local, Severiano gera um conceito muito
forte na relação da casa com a vegetação, que acaba por fazer parte da
mesma e até mesmo confundindo-se o natural com o construído. Sua planta
parte de uma divisão em forma de grelha, que define os pontos estruturais em
seus cruzamentos. Essa divisão se transpõe volumetricamente, criando blocos
de arestas bem definidas pela madeira. Através da repetição ritmada desses
módulos, e com o preenchimento ou não de suas faces, surgem as definições
de volumes cheios e vazios que circundam um grande vão central e formam os
ambientes. O telhado quebra a regularidade ortogonal marcante da casa ao se
dividir em duas águas de grande declividade, mas acompanhando a forma
volumétrica de suas fachadas. A casa está camuflada no meio da mata, isolada
de demais residências. Foi planejada em três pavimentos com o intuito de não
impactar o terreno, conforme era o objetivo inicial do projeto.
Concepção Funcional
A casa se organiza em torno de um vão central que interliga os
pavimentos, este mesmo vão também tem função de ventilação. Cada nível
cumpre sua função que está relacionada ao partido. O térreo, todo aberto, se
distribui de maneira livre sem interferir na paisagem local. O primeiro pavimento
serve para as funções intimas de repouso e as atividades diárias de uma casa
comum. E o ultimo pavimento serve para contemplar a área externa. Há um
desnível no primeiro pavimento, onde a área intima encontra-se em um nível
um pouco mais elevado que a área social. Os fluxos dentro da edificação são
bem definidos. A cobertura se projeta com beirais generosos para oferecer
maior proteção contra a insolação equatorial, e também certificar que as
tempestades comuns na região não atinjam as partes interiores da casa
Concepção Material e Tecnológica
O elemento marcante presente na edificação é a madeira, material
natural da região. Os únicos cômodos onde há presença de alvenaria são nos
banheiros e cozinhas por conta das instalações hidráulicas. As esquadrias
também são feitas em madeira. A estrutura é feita no mesmo material em uma
associação de barras utilizadas como pilar, vigas e mãos-francesas.
Concepção Ambiental
A casa foi pensada desde o seu início de maneira que interagisse com o
entorno, tudo foi planejado para que a obra fizesse parte da mata presente no
local. Os pilotis do piso térreo são colocados estrategicamente para relembrar o
ritmo e padrão das árvores da mata nativa. O vão principal no centro da casa é
um instrumento chave para manter o conforto térmico em uma região de clima
extremamente quente, dessa maneira economizando energia com possíveis
climatizadores. O fato de essa abertura ser uma ameaça a entrada de animais
não foi um problema para o proprietário, que queria o máximo de naturalidade
em sua residência.
O modernismo face à contemporaneidade da Casa Cobogó
Ao comparar a residência Robert Schuster com a casa Cobogó, verifica-
se alguns pontos que o arquiteto da casa contemporânea busca do
modernismo, como integrar os cômodos e principalmente o interior com o
exterior. Outra característica marcante que há nas duas é o muxarabi,
elemento de ripas de madeira entrelaçadas que serve de divisória, um resgate
de tempos antigos empregado de forma contemporânea. Preocupação com o
meio ambiente, busca de materiais e formas ecologicamente corretos e que
agridam o mínimo possível à natureza. Enquanto a casa cobogó traz uma
brasilidade baseada no modernismo tradicional a residência Robert Schuster
se constrói sobre a premissa de um movimento adaptado as necessidades
amazônicas, uma das principais faces que representam a cultura do país.
Considerações Finais
O arquiteto Severiano Porto mostrou em toda a sua obra e
especificamente na Residência Schuster uma real preocupação com o local
onde suas edificações seriam construídas. Sem abrir mão de conceitos
modernistas como a presença de pilotis, a mínima ornamentação e a
veracidade dos materiais utilizados, ele utilizou-se de um viés ambiental e eco
efetivo no projeto, mostrando sua preocupação com o tema já na década de 80
e que, atualmente, é assunto em voga nos principais meios de informação com
a criação de “edifícios sustentáveis” e/ou “verdes”. Com um conceito de
arquitetura vernacular muito forte, Severiano faz uso de materiais locais da
Amazônia, como a madeira estrutural e os revestimentos. Preocupado com a
relação do interior com o exterior, faz uso de seus conhecimentos modernistas
para melhor adaptar a casa ao entorno e integrá-la com a floresta. Duas
palavras que conseguem definir o conceito do projeto são: Adaptação e
Integração. A equipe gostou muito de pesquisar e trabalhar com essa obra,
pois, considerando o mundo atual, a preocupação com a natureza é essencial
para uma boa arquitetura, não temos mais espaço para causar impacto
ambiental e sim para resolvê-los e adaptar aos nossos projetos. Contudo,
apesar de propor a melhor solução para integrar o interno e o externo, não é a
melhor proposta para ser inserida no ambiente em questão – floresta
amazônica e sua fauna.
Referências Bibliográficas
GALVÃO, F. A Concepção Estrutural como Expressão Plástica. 1. ed. UFRN, 2009.
277 p. 64 – 69.
MOITA, R. Casa Robert Schuster: depoimento [09/10/2013]. Laguna. Entrevista
concedida a Luccas Zanluca
CLASSICOS da arquitetura: Residência Robert Schuster/Severiano Porto. 07 fev.
2013. Disponível em:<http://www.archdaily.com.br/br/01-96594/classicos-da-
arquitetura-residencia-robert-schuster-severiano-porto>.Acesso em: 9 out. 2013..
POR um regionalismo eco-eficiente: a obra de Severiano Mário Porto no Amazonas.
04 abr.2004. Disponível em:
<http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.047/594>.Acesso em: 9 out. 2013.
SEVERIANO Mario Porto. 07 mar. 2012. Disponível em:
<http://www.arquitetonico.ufsc.br/severiano-mario-porto>.Acesso em: 9 out. 2013.

More Related Content

Viewers also liked

Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...
Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...
Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...Mustafa Hassan
 
A segunda geração modernista no brasil
A segunda geração modernista no brasilA segunda geração modernista no brasil
A segunda geração modernista no brasilMaria De Lourdes Ramos
 
HCA 11º, Espaço Virtual, Arquitetura
HCA 11º, Espaço Virtual, ArquiteturaHCA 11º, Espaço Virtual, Arquitetura
HCA 11º, Espaço Virtual, ArquiteturaValeriya Rozhkova
 
Casa da cascata
Casa da cascataCasa da cascata
Casa da cascataceufaias
 
Início da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaInício da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaViviane Marques
 
Trabalho em slides
Trabalho em slidesTrabalho em slides
Trabalho em slidessimoneberton
 
A arquitetura da 1ª metade século xx
A arquitetura da 1ª metade século xxA arquitetura da 1ª metade século xx
A arquitetura da 1ª metade século xxAna Barreiros
 

Viewers also liked (12)

Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...
Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...
Avaliação modernismo no brasil, estudo de caso sobre a Casa Robert Schuster/S...
 
Arquitetura moderna
Arquitetura modernaArquitetura moderna
Arquitetura moderna
 
Arquitetura moderna
Arquitetura modernaArquitetura moderna
Arquitetura moderna
 
Modernismo
ModernismoModernismo
Modernismo
 
A segunda geração modernista no brasil
A segunda geração modernista no brasilA segunda geração modernista no brasil
A segunda geração modernista no brasil
 
HCA 11º, Espaço Virtual, Arquitetura
HCA 11º, Espaço Virtual, ArquiteturaHCA 11º, Espaço Virtual, Arquitetura
HCA 11º, Espaço Virtual, Arquitetura
 
Aula 4
Aula 4Aula 4
Aula 4
 
Casa na cascata principal
Casa na cascata   principalCasa na cascata   principal
Casa na cascata principal
 
Casa da cascata
Casa da cascataCasa da cascata
Casa da cascata
 
Início da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaInício da arquitetura moderna
Início da arquitetura moderna
 
Trabalho em slides
Trabalho em slidesTrabalho em slides
Trabalho em slides
 
A arquitetura da 1ª metade século xx
A arquitetura da 1ª metade século xxA arquitetura da 1ª metade século xx
A arquitetura da 1ª metade século xx
 

Similar to Avaliação modernismo no brasil

Escritório Brasil Arquitetura
Escritório Brasil Arquitetura Escritório Brasil Arquitetura
Escritório Brasil Arquitetura Matheus Garcia
 
Palácio de mateus - guião
Palácio de mateus - guiãoPalácio de mateus - guião
Palácio de mateus - guiãoRita Namora
 
Palácio de mateus
Palácio de mateusPalácio de mateus
Palácio de mateusRita Namora
 
Urbanismo e mobilidade
Urbanismo e mobilidadeUrbanismo e mobilidade
Urbanismo e mobilidadeefaturmag2011
 
Paulo Mendes da Rocha - Apresentação
Paulo Mendes da Rocha -  ApresentaçãoPaulo Mendes da Rocha -  Apresentação
Paulo Mendes da Rocha - ApresentaçãoJanaína Bandeira
 
Casa lemke_mies van der rohe
Casa lemke_mies van der roheCasa lemke_mies van der rohe
Casa lemke_mies van der rohep1_ufrgs_2012-1
 
Artigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ
Artigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁArtigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ
Artigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁDiane Oliveira
 
Arquitetura vernacular
Arquitetura vernacularArquitetura vernacular
Arquitetura vernacularCharles Dantas
 
Introducao-e-evolucao-historica.ppt
Introducao-e-evolucao-historica.pptIntroducao-e-evolucao-historica.ppt
Introducao-e-evolucao-historica.pptJulianaPimentelMacar
 
20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdf
20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdf20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdf
20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdfPoderdosChas
 
Relatório de Visita Técnica: Casa de Vidro
Relatório de Visita Técnica: Casa de VidroRelatório de Visita Técnica: Casa de Vidro
Relatório de Visita Técnica: Casa de VidroIZIS PAIXÃO
 
Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02
Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02
Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02Eliane Parente
 
Apresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy Ohtake
Apresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy OhtakeApresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy Ohtake
Apresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy OhtakeLarZenArt Arquitetura
 

Similar to Avaliação modernismo no brasil (20)

Escritório Brasil Arquitetura
Escritório Brasil Arquitetura Escritório Brasil Arquitetura
Escritório Brasil Arquitetura
 
Palácio de mateus - guião
Palácio de mateus - guiãoPalácio de mateus - guião
Palácio de mateus - guião
 
Palácio de mateus
Palácio de mateusPalácio de mateus
Palácio de mateus
 
Urbanismo e mobilidade
Urbanismo e mobilidadeUrbanismo e mobilidade
Urbanismo e mobilidade
 
Arquitetura brutalismo
Arquitetura brutalismoArquitetura brutalismo
Arquitetura brutalismo
 
Paulo Mendes da Rocha - Apresentação
Paulo Mendes da Rocha -  ApresentaçãoPaulo Mendes da Rocha -  Apresentação
Paulo Mendes da Rocha - Apresentação
 
Diacronia e sincronia
Diacronia e sincroniaDiacronia e sincronia
Diacronia e sincronia
 
Álvaro Siza Vieira
Álvaro Siza VieiraÁlvaro Siza Vieira
Álvaro Siza Vieira
 
Casa lemke_mies van der rohe
Casa lemke_mies van der roheCasa lemke_mies van der rohe
Casa lemke_mies van der rohe
 
Artigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ
Artigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁArtigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ
Artigo: ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ
 
Arquitetura vernacular
Arquitetura vernacularArquitetura vernacular
Arquitetura vernacular
 
Introducao-e-evolucao-historica.ppt
Introducao-e-evolucao-historica.pptIntroducao-e-evolucao-historica.ppt
Introducao-e-evolucao-historica.ppt
 
Casa da Cascata
Casa da CascataCasa da Cascata
Casa da Cascata
 
Jardim Contemporâneo
Jardim ContemporâneoJardim Contemporâneo
Jardim Contemporâneo
 
20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdf
20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdf20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdf
20 Tendências de Design de Interiores para 2023.pdf
 
Relatório de Visita Técnica: Casa de Vidro
Relatório de Visita Técnica: Casa de VidroRelatório de Visita Técnica: Casa de Vidro
Relatório de Visita Técnica: Casa de Vidro
 
Leandro coser
Leandro coserLeandro coser
Leandro coser
 
Casa schoroeder
Casa schoroederCasa schoroeder
Casa schoroeder
 
Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02
Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02
Varandaoquintaldacasa2 141209065852-conversion-gate02
 
Apresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy Ohtake
Apresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy OhtakeApresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy Ohtake
Apresentação Obra do Arquiteto paulistano Ruy Ohtake
 

Avaliação modernismo no brasil

  • 1. Universidade do Estado de Santa Catarina Arquitetura e Urbanismo Urbanismo e Arquitetura Brasileira Professora Danielle Benício Acadêmicos: Ana Carolina Martins, Luccas Zanluca, Mauro Bock, Mustafa Hassan e Natália Foppa Análise do movimento moderno em relação à obra de Severiano Porto Este exercício tem como objetivo analisar a produção do movimento modernista brasileiro, através de um estudo de caso de uma obra compreendida na época, comparando os elementos apresentados com os supostos do movimento em questão e o contexto o qual está inserido. O Brasil após o fim da época Imperial era comandado pelas oligarquias cafeeiras. Logo após, durante a primeira Republica, o país era dominado pelo controle de mercado Inglês. O projeto de modernização brasileiro iniciou-se nos anos 30 e durou até o fim dos anos 70, quando chegou ao fim o regime militar. A arquitetura desse período foi trazida a campo exatamente no momento em que a revolução para a modernização segue em direção ao autoritarismo da ditadura de Getúlio Vargas. A arquitetura moderna serviria para cumprir uma função ideológica numa sociedade que, em um pequeno intervalo, saiu do escravismo para o Estado Moderno, centralizador e autoritário. É nesse contexto que Severiano Porto trabalha. Ao se formar pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil (atual UFRJ) é convidado, após uma viagem de turismo, à realizar alguns projetos na cidade de Manaus, onde logo fixa residência. Imerso no contexto do modernismo, Severiano consegue aplicar os preceitos do movimento à realidade da Amazônia, de tal maneira que cria uma arquitetura única e legitima brasileira. As principais características desse movimento são o uso de formas geométricas, sem ornamento, valorizando a veracidade dos materiais, sem reboco ou pintura para “mascarar” os mesmos, e tentam conciliar ao máximo a forma e a função de maneira harmônica, no Brasil esse estilo assumiu duas vertentes, a escola carioca – que incorporou formas arredondadas e construiu um estilo brasileiro de modernismo – e a escola paulista – marcada pela ênfase na técnica construtiva, adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura. Como estudo de caso e comparativo foi escolhida a Residência Robert Schuster, projeto de Severiano Porto na cidade de Manaus (AM). O arquiteto consegue conciliar as ideias modernistas com as tradições construtivas dos povos da região. Pode-se notar a presença na casa de elementos típicos do modernismo, tais quais o uso de formas geométricas, a estrutura sobre os pilotis, a veracidade dos materiais aplicados (neste caso a madeira) e a planta que embora seja mais compartimentada integra todos os cômodos de certa maneira. Estudo de Caso: Residência Robert Schuster Arquiteto: Severiano Porto Localização: Tarumã, Manaus, Amazonas Ano do projeto: 1978 Conclusão: 1981
  • 2. Dono original: O topógrafo austríaco Robert Schuster Dono atual: O publicitário paulista Edmar Costa A única reforma encontrada na residência se deu em meados dos anos 2000 quando a propriedade foi adquirida pelo publicitário paulista Edmar Costa. Responsável pelo projeto dos "ajustes", como prefere falar, o arquiteto Roberto Moita, que se diz discípulo de Severiano Porto, fez o possível para adequar as mudanças às características originais da obra. O projeto contemplou reforma de banheiros, ampliando sua integração com a floresta e copa das árvores, troca do piso térreo por pedra rústica serrana tipo quartzito, recuperação das estruturas em madeira que estavam parcialmente comprometidas por ação de cupins e nova iluminação interna e externa. Além disso, foram criadas novas edificações - residência do caseiro, pavilhão de hóspedes, churrasqueira, sauna e garagem de barcos, todos conectados por meio de caminhos e jardins. Segundo Moita: "A principal mudança foi de atmosfera: a original era de uma rusticidade franciscana. Com a mudança de proprietário - passou de um topógrafo austríaco para um publicitário paulista - havia o interesse de ter maior conforto, dai nos dirigimos para algo com mais acabamentos". Concepção estética Percebe-se que a madeira além de função estrutural tem presença fundamental na estética da casa. É usada de diferentes formas, nenhuma em seu estado natural, proporcionando diferentes padrões dependendo a forma que ela for agrupada, como em painéis semelhantes ao muxarabi por exemplo. Suas fachadas não são simétricas porem há equilíbrio de volume. O ritmo é presente principalmente nos pilares. A casa apresenta elementos típicos do movimento modernista. É toda estruturada sobre elementos que remetem aos pilotis, o que configura um vão livre no térreo, sem divisórias. Também estão presentes as formas geométricas, que assemelham-se a cubos dispostos sobre pilotis e cobertos por uma forma triangular. Os materiais estão presentes de maneira verdadeira, não como encontrados na natureza, mas com sua textura e aparência originais. A planta não é livre no segundo pavimento, contudo o vão central consegue integrar todas as dependências com exceção dos banheiros. A configuração moderna é utilizada para se adaptar as necessidades da Amazônia, a cobertura se projeta com beirais generosos. Assim como as aberturas para a melhor captação dos ventos. Ao projetar a Residência Robert Schuster, o arquiteto Severiano Porto deu especial atenção ao local em que seria inserida, tentando modificar a vegetação e o terreno o mínimo quanto fosse possível. Utilizando-se de conceitos bioclimáticos e fortemente influenciado pela cultura local, Severiano gera um conceito muito forte na relação da casa com a vegetação, que acaba por fazer parte da mesma e até mesmo confundindo-se o natural com o construído. Sua planta parte de uma divisão em forma de grelha, que define os pontos estruturais em seus cruzamentos. Essa divisão se transpõe volumetricamente, criando blocos de arestas bem definidas pela madeira. Através da repetição ritmada desses módulos, e com o preenchimento ou não de suas faces, surgem as definições de volumes cheios e vazios que circundam um grande vão central e formam os ambientes. O telhado quebra a regularidade ortogonal marcante da casa ao se
  • 3. dividir em duas águas de grande declividade, mas acompanhando a forma volumétrica de suas fachadas. A casa está camuflada no meio da mata, isolada de demais residências. Foi planejada em três pavimentos com o intuito de não impactar o terreno, conforme era o objetivo inicial do projeto. Concepção Funcional A casa se organiza em torno de um vão central que interliga os pavimentos, este mesmo vão também tem função de ventilação. Cada nível cumpre sua função que está relacionada ao partido. O térreo, todo aberto, se distribui de maneira livre sem interferir na paisagem local. O primeiro pavimento serve para as funções intimas de repouso e as atividades diárias de uma casa comum. E o ultimo pavimento serve para contemplar a área externa. Há um desnível no primeiro pavimento, onde a área intima encontra-se em um nível um pouco mais elevado que a área social. Os fluxos dentro da edificação são bem definidos. A cobertura se projeta com beirais generosos para oferecer maior proteção contra a insolação equatorial, e também certificar que as tempestades comuns na região não atinjam as partes interiores da casa Concepção Material e Tecnológica O elemento marcante presente na edificação é a madeira, material natural da região. Os únicos cômodos onde há presença de alvenaria são nos banheiros e cozinhas por conta das instalações hidráulicas. As esquadrias também são feitas em madeira. A estrutura é feita no mesmo material em uma associação de barras utilizadas como pilar, vigas e mãos-francesas. Concepção Ambiental A casa foi pensada desde o seu início de maneira que interagisse com o entorno, tudo foi planejado para que a obra fizesse parte da mata presente no local. Os pilotis do piso térreo são colocados estrategicamente para relembrar o ritmo e padrão das árvores da mata nativa. O vão principal no centro da casa é um instrumento chave para manter o conforto térmico em uma região de clima extremamente quente, dessa maneira economizando energia com possíveis climatizadores. O fato de essa abertura ser uma ameaça a entrada de animais não foi um problema para o proprietário, que queria o máximo de naturalidade em sua residência. O modernismo face à contemporaneidade da Casa Cobogó Ao comparar a residência Robert Schuster com a casa Cobogó, verifica- se alguns pontos que o arquiteto da casa contemporânea busca do modernismo, como integrar os cômodos e principalmente o interior com o exterior. Outra característica marcante que há nas duas é o muxarabi, elemento de ripas de madeira entrelaçadas que serve de divisória, um resgate de tempos antigos empregado de forma contemporânea. Preocupação com o
  • 4. meio ambiente, busca de materiais e formas ecologicamente corretos e que agridam o mínimo possível à natureza. Enquanto a casa cobogó traz uma brasilidade baseada no modernismo tradicional a residência Robert Schuster se constrói sobre a premissa de um movimento adaptado as necessidades amazônicas, uma das principais faces que representam a cultura do país. Considerações Finais O arquiteto Severiano Porto mostrou em toda a sua obra e especificamente na Residência Schuster uma real preocupação com o local onde suas edificações seriam construídas. Sem abrir mão de conceitos modernistas como a presença de pilotis, a mínima ornamentação e a veracidade dos materiais utilizados, ele utilizou-se de um viés ambiental e eco efetivo no projeto, mostrando sua preocupação com o tema já na década de 80 e que, atualmente, é assunto em voga nos principais meios de informação com a criação de “edifícios sustentáveis” e/ou “verdes”. Com um conceito de arquitetura vernacular muito forte, Severiano faz uso de materiais locais da Amazônia, como a madeira estrutural e os revestimentos. Preocupado com a relação do interior com o exterior, faz uso de seus conhecimentos modernistas para melhor adaptar a casa ao entorno e integrá-la com a floresta. Duas palavras que conseguem definir o conceito do projeto são: Adaptação e Integração. A equipe gostou muito de pesquisar e trabalhar com essa obra, pois, considerando o mundo atual, a preocupação com a natureza é essencial para uma boa arquitetura, não temos mais espaço para causar impacto ambiental e sim para resolvê-los e adaptar aos nossos projetos. Contudo, apesar de propor a melhor solução para integrar o interno e o externo, não é a melhor proposta para ser inserida no ambiente em questão – floresta amazônica e sua fauna. Referências Bibliográficas GALVÃO, F. A Concepção Estrutural como Expressão Plástica. 1. ed. UFRN, 2009. 277 p. 64 – 69. MOITA, R. Casa Robert Schuster: depoimento [09/10/2013]. Laguna. Entrevista concedida a Luccas Zanluca CLASSICOS da arquitetura: Residência Robert Schuster/Severiano Porto. 07 fev. 2013. Disponível em:<http://www.archdaily.com.br/br/01-96594/classicos-da- arquitetura-residencia-robert-schuster-severiano-porto>.Acesso em: 9 out. 2013.. POR um regionalismo eco-eficiente: a obra de Severiano Mário Porto no Amazonas. 04 abr.2004. Disponível em: <http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.047/594>.Acesso em: 9 out. 2013. SEVERIANO Mario Porto. 07 mar. 2012. Disponível em: <http://www.arquitetonico.ufsc.br/severiano-mario-porto>.Acesso em: 9 out. 2013.