SlideShare a Scribd company logo
1 of 6
palavras




Conta-me
histórias...
em Beja
Durante três dias, as histórias serão as protagonistas de um encontro de narradores
em Beja. Melhor, de uma festa. É a XI Edição das Palavras Andarilhas, de 16 a 18 de
Setembro. Escutámos quatro contadores profissionais, porque nem só as crianças
precisam de histórias. Ou o leitor não estaria aí com uma revista nas mãos.
Texto Rita Pimenta Ilustração Mariana Soares




C
               omeçou por ser um encontro                Dentro das ofertas desta XI edição, promovi-       sobre álbum ilustrado. Por último, a sessão de
               de narração oral, inspirado            da pela Câmara Municipal e pela Associação de         multileituras de Maria Teresa Meireles, “O Livro
               na Maratón de Cuentos de               Defesa do Património de Beja, algumas não se          Duplicado”. Diz Cristina Taquelim: “Trata da
               Guadalajara, mas foi integrando        podem perder, diz a programadora. Entre elas,         intertextualidade, que textos moram dentro de
               outras áreas: escrita criativa,        a homenagem ao escritor António Torrado, logo         outros textos? É uma área muito grata ao nosso
               ilustração, animação do livro e da     no primeiro dia, a assinalar os 40 anos da sua        trabalho de mediadores. Nós ajudamos a cons-
leitura. E cresceu. Agora, as Palavras Andarilhas     carreira literária. “É um homem que fez muito         truir instrumentos para essa descoberta.”
são “uma festa da palavra falada e escrita, que       pela valorização da infância e foi companheiro           Há um dia dedicado exclusivamente à ora-
chega a milhares de pessoas”, diz Cristina            de armas de Matilde Rosa Araújo na defesa dos         lidade, e aí é dado espaço a um narrador para
Taquelim, da Biblioteca Municipal de Beja e           direitos da criança. Não há um texto do António       falar da sua forma de pensar a narração. “Em
uma das organizadoras. Se não há festa como           que toque o lugar-comum, que não revele um tra-       Portugal, há muito pouca produção teórica de
a outra, como esta também não.                        balho de literatura cuidado e um grande respeito      narradores sobre narração. Esta semana foi
    Contos Fora de Portas, Festival da Narração       pelo leitor. Isto tem de ser homenageado.”            entregue a primeira candidatura para uma tese
— Eu Conto para Que Tu Sonhes, Mercado das                                                                  de doutoramento sobre o tema, do narrador
Artes da Palavra, Biblioteca Andarilha são alguns     Pensar a narração                                     Luís Carmelo. Estamos contentíssimos.” Será
títulos das actividades que durante três dias irão    Três propostas para sexta-feira: conhecer a au-       no dia 18 que se dará então voz a Xabier Puente
mobilizar muitas instituições e profissionais liga-   tora brasileira Fanny Abramovich. “Uma grande         Docampo, Um Alfabeto do Conto. “Escritor e es-
dos à promoção da leitura e do livro, “de Lagos a     comunicadora, pioneira na educação pela arte          pecialista nestas áreas, trabalhou muito com as
Montalegre”. A estafeta da leitura, por exemplo,      no Brasil e que escreve para uma faixa muito          metodologias do Rodari [Ginni] e tem um livro
que começa no encontro de Beja e se prolonga          difícil: dos nove aos 11 anos.” Aqui, Cristina Ta-    publicado em Portugal de contos de terror ga-
por três meses em várias bibliotecas, associações     quelim aproveita para sublinhar a necessidade         legos que escutava em sua casa: Quando à Noite
e escolas do país contabilizou perto de 15 mil        de se “concretizar no terreno uma política de lín-    Batem à Porta (Ambar). Delicioso.”
“ouvidores” na edição de 2008.                        gua portuguesa, que não pode ser definida por            Também Nicolás Buenaventura Vidal é um
   Quem for às Andarilhas, segundo a também           decreto”. Isso faz-se, por exemplo, “trazendo         convidado muito especial e será dada oportu-
narradora Cristina Taquelim, “terá uma expe-          livros e autores brasileiros a Portugal e levando     nidade a uma contadora do concelho, Mariana
riência diferente, de partilha, rica em termos        autores e livros portugueses ao Brasil”. Haverá       Pacheco, de participar. “Vai estar à conversa co-
afectivos e emocionais. E pode contar com uma         uma sala de leitura com as obras da autora e uma      migo, num sinal claro de que é possível encon-
componente muito forte de formação de grande          comunicação que Fanny Abramovich intitulou            trar num espaço de biblioteca uma relação en-
qualidade”. A festa foi nomeada em 2009 para          “Da Cartinha ao Encantamento Literário”.              tre os narradores profissionais e os tradicionais
o importante Prémio ALMA — Astrid Lindgren,              A segunda proposta para dia 17 será a possibili-   das comunidades rurais que nos cercam.”
que distingue autores e entidades de todo o           dade de escutar o autor do Animalário Universal
mundo que promovam a literatura infantil.             do Professor Revillod, Javier Saéz Castán, falar      rpimenta@publico.pt                           c
palavras




                                                                                                           DR
                                                                                                                Rodolfo Castro, argentino,
                                                                                                                vive em Portugal há seis
                                                                                                                meses. Tem propostas de
                                                                                                                formação na Biblioteca
                                                                                                                Municipal de Oeiras,
                                                                                                                Universidade Nova de
                                                                                                                Lisboa e Casa das Histórias




Um narrador é um provocador                                                                A menina bondosa
Não se conta para os outros, mas com            Cada escola era um mundo diferente:        Era uma vez uma menina bondosa que tinha
os outros. Esta é uma das certezas de        “Podiam ser escolas só de rapazes, só de      ganho três medalhas: uma pela sua bondade,
Rodolfo Castro, narrador argentino, 44       raparigas, mistas, públicas, privadas, es-    outra por ser muito obediente e outra ainda
anos. Outra: “Sou um contador de histó-      colas de ricos, de marginais. Foi a gota de   pelas suas boas maneiras.
rias urbano, logo sou escravo do livro.”     ouro.” Esta experiência definiu o rumo da       Um dia, o rei permitiu à menina passear
Isto é, não tem “a memória de pais e avós    sua vida. Uma outra também: “A primeira       pelos jardins do palácio. A menina pôs as três
a contar contos e a resgatar a tradição      vez que li um conto sem livro foi numa        medalhas ao pescoço e foi para o jardim, mas
oral da comunidade”. Por isso, diz: “Há      sessão em que um contador da editora          no jardim não havia flores, só porquinhos. O rei
histórias que não me compete contar.         faltou e eu tive de o substituir.”            adorava porcos e os porcos comiam as flores.
Fazem parte de um estilo essencialmente         Era uma sala com 200 pessoas e lan-          Muitos porquinhos começaram a correr por
oral que não me pertence.”                   çaram-no para a “arena”. Aflito, Rodolfo      entre os pés da menina. De repente, um lobo
   Mas afinal o que é um contador de his-    Castro contou algumas das histórias que       entrou no jardim à procura de um deles. A
tórias? “É um provocador. Uma pessoa         tinha lido vezes sem conta às turmas por      menina escondeu-se atrás de um arbusto. O lobo
que apresenta uma situação, um conto,        onde passara. “Eu não sabia que as sabia”,    não a tinha descoberto, mas a menina tinha
um objecto que é estranho, transgressor,     diz, ainda hoje surpreendido. E conclui:      muito medo e tremia imenso. Tanto que as três
que provoca dúvida, reflexão, medo. Pro-     “Não fui eu que escolhi os contos, foram      medalhas chocaram umas contra as outras e o
vocador porque põe na realidade algo         os contos que me escolheram.” Reconhece       lobo ouviu, saltou detrás do arbusto e devorou
que ultrapassa os limites da realidade. Eu   que estava nervosíssimo, mas houve um         a menina boa. Dela só ficaram os seus sapatos
tento ser um narrador provocador.”           conto que resultou muito bem. “Foi nesse      e as três medalhas que tinha ganho por ser tão
   As suas memórias mais remotas relacio-    momento que percebi que me tinha trans-       obediente.
nadas com contos são as brincadeiras com     formado num contador de histórias.”           Mas não se preocupem, este conto tem um final
as irmãs. “Os meus pais trabalhavam todo        Não tem intenções didácticas nem mo-       feliz: todos os porquinhos conseguiram escapar.
o dia e não nos faltava tempo para nos       ralizadoras e diz que, com as crianças,
‘deseducarmos’ sozinhos. Não tínhamos        “uma sessão de contos tem de ter sempre       Adaptação livre do conto O Contador de
muitos brinquedos, não tínhamos muitos       algum caos. Se isso não acontece, é por-      Histórias, de Saki (um dos que Rodolfo Castro
livros, não tínhamos muito de nada. Então    que algo está mal. A criança tem de gritar,   costuma escolher contar nas suas sessões)
brincávamos a inventar mundos.”              de se emocionar, rir, ficar em silêncio”.
   Até aos 30 anos, foi professor do 1.º     E com os adultos? “Aí, o contador conta
ciclo na Argentina, mas também orga-         o conto exactamente como o preparou.
nizava excursões e férias com miúdos         Os adultos são passivos. Por respeito, mas
e com idosos. “Aproveitava para contar       também por vergonha de serem julgados.
contos. Gostava de inventar histórias à      Gosto do público adulto porque é uma
volta da fogueira.” Esta prática serviu-     oportunidade para uma maior intimida-
lhe quando foi para o México, em 1998.       de, para textos mais psicológicos.”
“Lá, eu não tinha nada. Contar contos foi       Rodolfo Castro tem alguns livros sobre
uma questão de sobrevivência.” Durante       teoria do conto e há um que gostava de
três anos, foi todas as manhãs a todas as    ver traduzido para português, La intui-
escolas do México (“todas, todas”) ler       cion de leer, la intención de narrar.
contos de livros de uma editora que os          Outra certeza: “Um contador que quer
comercializava directamente nos esta-        apoiar quem o escuta não deve fechar a
belecimentos de ensino. “As escolas no       história com um pensamento final. De-
México têm entre mil e 1500 alunos. Eu       ve dar liberdade para pensar. Os contos
ia a umas 20 salas por dia.”                 explicam-se por si só.”
DR
                                                                                                                       Maurício Corrêa Leite,
                                                                                                                       brasileiro, percorre as zonas
                                                                                                                       mais isoladas dos países de
                                                                                                                       expressão portuguesa com
                                                                                                                       a sua Mala de Leitura.
                                                                                                                       Na foto, Kuanza Sul
                                                                                                                       (Angola), 2008




Não gosto de contar histórias                                                                    Ponto de tecer poesia
Maurício Corrêa Leite estudou teatro.         objecto que mudou a minha vida.” Diz               Cada fio é uma poesia,
“Teatro de boneco”, explica. Para dar voz     que faz parte deste “caldeirão dos conta-          cada ponto é um versinho,
e histórias aos fantoches e marionetas,       dores de histórias”, mas com um papel              cada beijo que te mando
“recorria a livros infantis e de banda de-    diferente: “Eu formo leitores, o contador          é voo de passarinho.
senhada”. E nunca mais separou as duas        forma ouvintes.” E defende que os narra-           Cada pena é uma escrita,
artes: “Por isso, eu levo esse mundo de       dores devem sempre divulgar as fontes,             cada flor é borboleta,
teatro na mala.” Quando diz “mala”, não       seja da tradição oral de uma região, seja          cada traço é uma ternura
é metáfora, é mesmo uma mala, azul,           de uma obra. “Não acho justo que não se            que escrevo com caneta.
cheia de livros, fotos, bonecos e uma         cite o autor e o livro.”                           Te amo porque te amo,
caixa de música. Chamou-lhe Mala de              Tem uma grande cumplicidade com as              e te faço um casaquinho
Leitura. É com ela que trabalha.              crianças e quando aparece com uma mala             de fio todo trançado
   Brasileiro, natural de Guiába, Matogros-   daquelas, cheia de magia mesmo antes de            pela aranha tecelã.
so, este homem de 56 anos surpreende          aberta, “elas já amam”. No entanto, sabe           Se hoje teço a poesia,
ao dizer: “Não gosto de contar histórias.     muito bem o que faz: “Eu estudei, sou              talvez te entregue
Sabe porquê? Quando você vira contador        professor, sou alfabetizador, estudei psi-         amanhã.
de histórias, em todo o lugar que você vai,   cologia infantil, psicologia de educação,
no meio do nada, todo o mundo pede:           metodologia de ensino, didáctica. Não              Sylvia Orthof, Editora Ebal
‘Conta uma história?’ E eu não tenho essa     entro numa escola sem ter noção do que
bondade no coração, essa generosidade.”       está acontecendo ali. E sei botar o menino
Tem outra: visita crianças em lugares de      no lugar, se ele me enche o saco.”                 Seguros no escuro
difícil acesso e tudo faz para que conhe-        Tem verdadeira noção do tipo de livros
çam livros e se apaixonem pela leitura.       deve levar para cada contexto: “Quando             Todas as noites
   “O meu trabalho é levar livros para        eu vou para África para uma casa com               olho e procuro
crianças que se encontram em regiões          600 órfãos, não posso levar a história             debaixo da cama
isoladas: na Amazónia, no meio do pan-        de uma mãe que enquanto esperava a                 o monstro escuro.
tanal, no Brasil isolado pela água, em        criança teceu uma manta...”                        Só quando dele
África, por falta de estradas, trabalho em       Procura primeiro o caminho do humor             não tem nem cheiro
regiões de campos minados, todos os lu-       e depois vai proporcionando uma oferta             boto a cabeça no travesseiro.
gares difíceis que você possa imaginar.”      diferente, até que o leitor faça as suas esco-
Um esforço justificado assim: “É impor-       lhas. Classifica os leitores assim: “Pré-leitor,   Todas as noites
tante que as crianças tenham acesso ao        o leitor iniciante e o leitor que já busca a       leve e fagueiro
património cultural da humanidade.”           sua própria leitura.” O que faz é “plantar a       o monstro escuro
   Detesta que lhe falem em “livrinhos”       ideia de que livro é uma coisa bacana, uma         toca a coberta
e não entende o papel da CPLP. Dá um          forma boa até de aprender coisas com os            pra ver se durmo
exemplo: “Consegui editar um livro pa-        personagens, conhecer lugares, até para            ou se estou desperta.
ra crianças de um autor português no          sonhar o conhecimento faz falta”.                  Só quando vê que não há perigo
Brasil. Quando os enviei para cá, foi pre-       E ressalva que “cultura é diferente da          deita comigo
ciso pagar uma taxa na alfândega. Não         escola da instrução”. É aí que ele entra:          e dorme seguro.
podiam ser levantados directamente e a        “Com a parte cultural que dê prazer, que
espera resultou em 3500 euros. Grande         não seja trabalho pedagógico mas artísti-          Marina Colasanti, Minha Ilha Maravilha,
política para a língua portuguesa...”         co. Dar uma noção do que há pelo mun-              Editora Atica
   Só conta histórias com o livro à frente:   do e que a leitura sempre apresenta uma            (poemas que Maurício Leite lê às crianças nas
“Dou voz aos autores, compartilho este        saída.”                                       c    sessões de promoção do livro e da leitura)
palavras




                                                                                                           DR
                                                                                                                António Fontinha, ex-actor,
                                                                                                                fundou o Movimento de
                                                                                                                Narração Oral Portuguesa




O lobo nem sempre é mau                                                                    O rapazito e o Rei Salomão
António Fontinha iniciou o Movimento         tador, já que vivia de contar histórias,      Toda a gente sabe que o Rei Salomão era o
de Narração Oral em Portugal e acredi-       tive de fazer marketing de mim próprio        homem mais sábio do mundo. Sabia de tudo e
ta na “cultura popular como garante da       e da minha actividade. A profissão nem        a todos ensinava e dava bons conselhos. Vivia
identidade nacional”. Não no sentido         existia.” Aliás, tem de se registar para      muito longe mas a sua fama chegava a todo o
nacionalista, mas para “tentar colocar       efeitos de IRS como “profissional de es-      lado.
um pouco de justiça no desajustamento        pectáculos”.                                     Sabei também que naquele tempo não havia
entre as culturas” que se vão impondo.          Noutros países ocidentais, poucos, só      fósforos como hoje há, nem nada do género,
“Porque carga de água eu tenho de me         há 40 anos é reconhecida como activi-         com a mesma finalidade. Nesses tempos, ia-se de
preocupar com o Capuchinho Vermelho?         dade profissional. A falta de produção        casa em casa a pedir lume. As pessoas traziam
Por que é que o lobo tem de ser mau?”,       teórica poderá explicar um pouco isso.        consigo uma pinha que acendiam na altura, ou
pergunta. E logo responde: “Porque eu        “Desde há 3000 anos, com Aristóteles e        então de tição ou cavaco aceso voltavam a casa.
comprei, sem querer, essa ideia. Uma         outros, teorizou-se sobre o teatro, a lite-      Certo dia, bateu à porta do Rei Salomão um
sociedade de consumo entrou por aqui         ratura, a poesia, mas nada sobre narra-       miudinho pedindo-lhe lume. O sábio mirou o
e arrebanhou tudo.”                          ção oral. E sempre existiu.”                  gaiato e disse-lhe admirado:
   O narrador vai lembrando que os ve-          Para António Fontinha, ex-actor (fun-         — Então como queres tu o lume se não trazes
lhos contadores portugueses têm uma re-      dou o Espaço Teatro, primeira compa-          nada para o levares. Não podes levar brasas na
presentação diferente daqueles animais:      nhia portuguesa de teatro e dança), o         mão.
“Na tradição oral portuguesa, o lobo nem     contador “pode ser alguém controver-             O rapazito, meio envergonhado, disse então:
sempre é mau.” E não quer que se fique       so, desbocado, nada politicamente cor-           — Eu apanhava um punhado da cinza e depois
a pensar que considera a tradição cultu-     recto e mesmo assim ser o escolhido”.         Sua Majestade punha uma brasa em cima da
ral portuguesa mais importante que as        Diz ainda que só consegue “encontrar          cinza.
outras: “Há matrizes na nossa educação       essa constante no meio rural mas não             — Está bem, entra lá, disse o sábio Salomão.
cultural, no imaginário da cultura tradi-    no urbano”.                                      O miudinho entrou e apanhou a cinza sobre a
cional portuguesa, que não são melhores         Uma pessoa idosa aproveita o seu           qual o rei colocou uma brasa acesa. Agradeceu e
nem piores que a inglesa, a francesa a       tempo e sabe potenciar o momento. “E          saiu apressado.
mandinga ou outra. Todas são horizon-        depois vêm os da pedagogia chatear o             O rei, ainda meio admirado da inteligência da
talmente irmãs, mas também não acho,         velho: ‘Então você disse aquilo à crian-      criança, virou-se para a mulher e comentou:
desculpem lá, que as outras sejam mais       ça?’ E as crianças: ‘Conta lá outra, conta       — Que tempos estes, eu, Rei Salomão, sábio,
importantes que a minha.”                    lá outra’.” Alguns contadores só sabem        até já tenho que aprender com as crianças!
   Duas máximas norteiam o trabalho          uma história ou duas e estão sempre a
deste narrador desde que iniciou a car-      ser chamados.                                 Luís Henriques, Rabacinas, Proença-a-Nova.
reira, há 15 anos: promoção do imaginá-         Fontinha não ensaia os contos, não         Recolha e redacção de Francisco Henriques, a
rio da tradição e promoção da figura do      usa adereços, mas pode acontecer ex-          partir da versão ouvida em criança
contador de histórias.                       perimentar contar um novo a alguém se
   O que mudou entretanto foi a forma        o momento se propiciar. Ri-se quando          (António Fontinha nunca contou este conto, mas
de pensar o que é um contador. Hoje diz:     lhe perguntamos se testa a narração em        “possivelmente” há-de contá-lo)
“Um contador é alguém que é reconheci-       frente ao espelho ou a uma parede. “Não,
do como tal por aqueles que gostam de        não! Na tradição oral, o mais importante
o ouvir contar histórias.” Quando já não     é o momento em que acontece o encon-
lhe pedirem, deve sair da ribalta. “Mas se   tro entre os que querem ouvir e quem
me tivesse feito a pergunta há 15 anos, a    está a contar. E isso é complexo, não se
minha cartilha era outra”, diz divertido.    esgota naquele dia. É um processo, não
“Quando tive de me assumir como con-         é um espectáculo.”
DR
                                                                                                                 Crsitina Taquelim,
                                                                                                                 narradora, bibliotecária e
                                                                                                                 organizadora das Palavras
                                                                                                                 Andarilhas




Conto o que é significante para mim                                                        O contador antes de começar
Chegou à Biblioteca Municipal de Beja         gente escutava, mas que depois deixou        Fez um gesto em redondo / como se quisesse
“sem saber nada de literatura”, conta         de ser ouvido. No entanto, continuava a      desenhar o sol, / a casca de um caracol, / um balão /
Cristina Taquelim, “nem de Psicologia”,       contar. Um dia, um miúdo pergunta-lhe        a sombra de um pião/ um bombo. / E disse: / A
licenciatura que tinha terminado. “A única    por que continuava ele com as suas his-      história que vou contar/ começa por uma ponta, /
coisa que eu tinha dentro de mim para dar     tórias. Resposta: no princípio, contava      dá uma volta reviravolta / meio tonta, e acaba, / tal
àquelas crianças eram histórias. Felizmen-    para mudar o mundo. Hoje, conto para         e qual mesmo ao lado, / de onde antes tudo tinha
te que a minha avó me tinha contado mui-      que o mundo não me mude a mim.               começado:
tas.” Foi assim que respondeu à pergunta         “Cada contador dará um motivo dife-       / / Por isso / para a cambalhota final/ da história
em como se tinha tornado narradora.           rente para contar”, diz. “Os contos foram    em salto mortal, / onde ninguém corre perigo: / —
   Tem consciência de que, na altura,         uma forma de encontro com a minha his-       Contem, contem comigo:
“não sabia fazer uma actividade expres-       tória, com as minhas memórias, com a         / E o contador contente por contar/ ficou-se a olhar
siva com os miúdos, só sabia contar”.         força da palavra. Não é tanto o que se       para toda aquela gente, / à roda da história/ e dele
Descobriu então que havia qualquer coi-       conta, mas o que se escuta. Cada vez é       contador, / desenhador no ar, / inventor da arte de
sa nesta actividade que levava a que, “em     mais importante para mim escutar do que      saltar sem se mexer.
grupos com comportamentos de grande           contar.” Mas contar “é uma experiência       Ficou-se a olhar, a olhar/ e suspirou de prazer
complexidade, onde nada funcionava, o         pessoal perfeitamente encantatória. Es-      a ponto de se esquecer de continuar./
conto de tradição oral resultasse”. E des-    tarmos perante 60 pessoas sem outros         // — Mas onde é que eu ia — perguntou o contador/
creve: “Eles abriam a boca e durante to-      recursos que não seja a palavra, o gesto e   um pouco perdido no meio do contentamento de
do o conto não ‘tugiam nem mugiam’.”          a voz, e percebermos a emoção que passa      contar/ e ouvir contar, / que é assim a modos que
   Percebeu que afinal o assunto era mais     no olhar do outro”.                          uma espécie de cócega, / virada do avesso, / uma
sério e que valia a pena estudar e explo-        As diferenças de contar para crianças     sede, um sabor, / um sabor a pêssego / antes de o
rar o que se relacionasse com literatura      ou adultos são essencialmente de reper-      pêssego chegar ao céu da boca...
para a infância, técnicas de escrita, ilus-   tório e de ritmo. “Só conto o que é ide-     // — Ah! Lembrou-se o contador, / que às vezes se
tração. “Apercebi-me de que podia juntar      ologicamente significante para mim.” A       distraía dos recados que trazia. / E com um lento
imagem e trabalhar, por exemplo, O Gi-        biblioteca de Beja foi “das primeiras do     aceno/ de quem muda a folha, / de um livro ou do
gante Egoísta, do Oscar Wilde. Se quises-     país a organizar sessões de contos para      pensamento, / o contador concluiu: / A História
se explorar a narração oral, podia deixar     adultos, com a Mil e Uma Noites, Mil e       que vou contar é / nem mais nem menos que uma
o livro de fora e ajudar os miúdos a cons-    Uma Histórias”.                              história circular / como vão poder já já observar.
truir imagens mentais das personagens”,          Cristina sugere: “Temos pessoas nas
e começou a fazer um longo caminho            nossas comunidades, cidades e aldeias,       António Torrado, Conto Contigo, Civilização
em mediação da leitura, mas também            homens e mulheres que ainda contam.          Editora
em narração.                                  Descubram-nos, conversem com eles.”
   “Separo o trabalho de narradora com        Sobre a necessidade de histórias, diz:       (Cristina Taquelim, às vezes, diz este
o de mediadora de leitura, embora ine-        “Um homem muito interessante de Be-          texto em voz alta. “É literatura para a
vitavelmente se cruzem, pois na biblio-       ja chamado Paulo Lima fez um trabalho        infância, sem a qual eu também não
teca tenho de usar os dois recursos.”         sobre a fome no Alentejo. Nesse trabalho,    chegaria aos contos.”)
Mais estratégia na mediação, menos na         há um testemunho de um informante
narração.                                     que dizia que muitas vezes no Alentejo
   Para Cristina Taquelim, um narrador        do latifúndio eram as histórias que ma-
“é alguém que trabalha com a voz, com         tavam a fome.”
o gesto, a palavra, a memória e a iden-          Precisamos de histórias desde o princí-
tidade”. Para que serve? Começa então         pio do tempo. “E continuamos com uma
uma história de um contador que toda a        fome dos diabos.” a

More Related Content

What's hot

Ler nas prisões. pública 02 10-11
Ler nas prisões. pública 02 10-11Ler nas prisões. pública 02 10-11
Ler nas prisões. pública 02 10-11mrvpimenta
 
Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...
Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...
Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...Sara Andrade
 
Newsletter março (2)
Newsletter março (2)Newsletter março (2)
Newsletter março (2)mfsdias
 
Nísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em Letras
Nísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em LetrasNísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em Letras
Nísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em LetrasVal Valença
 
José Jorge Letria - biografia
José Jorge Letria - biografiaJosé Jorge Letria - biografia
José Jorge Letria - biografiaLurdes Augusto
 
Contacto junho 2015 (2)
Contacto junho 2015 (2)Contacto junho 2015 (2)
Contacto junho 2015 (2)Isabel Martins
 
A traça escritora
A traça escritoraA traça escritora
A traça escritoraLuciaFrana4
 
Livro de história a traça escritora
Livro de história  a traça escritoraLivro de história  a traça escritora
Livro de história a traça escritoraDionei Vieira
 

What's hot (20)

Boletim Contacto - março de 2020
Boletim Contacto - março de 2020Boletim Contacto - março de 2020
Boletim Contacto - março de 2020
 
Ler nas prisões. pública 02 10-11
Ler nas prisões. pública 02 10-11Ler nas prisões. pública 02 10-11
Ler nas prisões. pública 02 10-11
 
Contacto marco de 2021
Contacto   marco de 2021Contacto   marco de 2021
Contacto marco de 2021
 
Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...
Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...
Serviço educativo das bibliotecas do agrupamento.agenda cultural.22.09.13.ver...
 
Contacto abril 2017
Contacto abril   2017Contacto abril   2017
Contacto abril 2017
 
Contacto - março 2018
Contacto -   março  2018Contacto -   março  2018
Contacto - março 2018
 
Aquisições - Biblioteca D. Luís de Loureiro
Aquisições - Biblioteca D. Luís de LoureiroAquisições - Biblioteca D. Luís de Loureiro
Aquisições - Biblioteca D. Luís de Loureiro
 
Newsletter março (2)
Newsletter março (2)Newsletter março (2)
Newsletter março (2)
 
Contacto julho 2017
Contacto julho 2017Contacto julho 2017
Contacto julho 2017
 
Nísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em Letras
Nísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em LetrasNísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em Letras
Nísia Floresta, uma dissertação de mestrado profissional em Letras
 
Contacto 1.º período
Contacto   1.º períodoContacto   1.º período
Contacto 1.º período
 
Contacto - junho 2014
Contacto - junho 2014Contacto - junho 2014
Contacto - junho 2014
 
Contacto março 2015
Contacto março 2015Contacto março 2015
Contacto março 2015
 
José Jorge Letria - biografia
José Jorge Letria - biografiaJosé Jorge Letria - biografia
José Jorge Letria - biografia
 
Contacto junho 2015 (2)
Contacto junho 2015 (2)Contacto junho 2015 (2)
Contacto junho 2015 (2)
 
Contacto dezembro 2017
Contacto dezembro  2017Contacto dezembro  2017
Contacto dezembro 2017
 
A traça escritora
A traça escritoraA traça escritora
A traça escritora
 
Livro de história a traça escritora
Livro de história  a traça escritoraLivro de história  a traça escritora
Livro de história a traça escritora
 
Sabe reunião out. 2016
Sabe   reunião out. 2016Sabe   reunião out. 2016
Sabe reunião out. 2016
 
C:\fakepath\agenda setembro 2010
C:\fakepath\agenda setembro 2010C:\fakepath\agenda setembro 2010
C:\fakepath\agenda setembro 2010
 

Viewers also liked

Pág. miúdos râguebi 24 04-11
Pág. miúdos râguebi 24 04-11Pág. miúdos râguebi 24 04-11
Pág. miúdos râguebi 24 04-11mrvpimenta
 
Miudos ecologia
Miudos ecologiaMiudos ecologia
Miudos ecologiamrvpimenta
 
Miudos spa-rtp-270211
Miudos spa-rtp-270211Miudos spa-rtp-270211
Miudos spa-rtp-270211mrvpimenta
 
Miudos 02 01-11
Miudos 02 01-11Miudos 02 01-11
Miudos 02 01-11mrvpimenta
 
Pública22Abr2007
Pública22Abr2007Pública22Abr2007
Pública22Abr2007mrvpimenta
 
Pág Spa Madeira Revista Pública
Pág Spa Madeira Revista PúblicaPág Spa Madeira Revista Pública
Pág Spa Madeira Revista Públicamrvpimenta
 
Miudos 28-11-10 Andante
Miudos 28-11-10 AndanteMiudos 28-11-10 Andante
Miudos 28-11-10 Andantemrvpimenta
 
Brinquedos de Construção revista Pública
Brinquedos de Construção revista PúblicaBrinquedos de Construção revista Pública
Brinquedos de Construção revista Públicamrvpimenta
 
Parque Urbano de Albarquel
Parque Urbano de AlbarquelParque Urbano de Albarquel
Parque Urbano de Albarquelmrvpimenta
 
Miúdos pública 30 maio2010 Bernardo Carvalho
Miúdos pública 30 maio2010 Bernardo CarvalhoMiúdos pública 30 maio2010 Bernardo Carvalho
Miúdos pública 30 maio2010 Bernardo Carvalhomrvpimenta
 
Filosofia para crianças 2
Filosofia para crianças 2Filosofia para crianças 2
Filosofia para crianças 2mrvpimenta
 
Página miúdos pública matilde 25 07-10
Página miúdos pública matilde 25 07-10Página miúdos pública matilde 25 07-10
Página miúdos pública matilde 25 07-10mrvpimenta
 
Pág.miúdos pnl 25091r
Pág.miúdos pnl 25091rPág.miúdos pnl 25091r
Pág.miúdos pnl 25091rmrvpimenta
 
BernardJeunet7
BernardJeunet7BernardJeunet7
BernardJeunet7mrvpimenta
 
Miudos 10 04-11 cata livros
Miudos 10 04-11 cata livrosMiudos 10 04-11 cata livros
Miudos 10 04-11 cata livrosmrvpimenta
 
Pág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista FugasPág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista Fugasmrvpimenta
 

Viewers also liked (20)

Pág. miúdos râguebi 24 04-11
Pág. miúdos râguebi 24 04-11Pág. miúdos râguebi 24 04-11
Pág. miúdos râguebi 24 04-11
 
Miudos ecologia
Miudos ecologiaMiudos ecologia
Miudos ecologia
 
Miudos spa-rtp-270211
Miudos spa-rtp-270211Miudos spa-rtp-270211
Miudos spa-rtp-270211
 
Miudos 02 01-11
Miudos 02 01-11Miudos 02 01-11
Miudos 02 01-11
 
Despereaux
DespereauxDespereaux
Despereaux
 
Pública22Abr2007
Pública22Abr2007Pública22Abr2007
Pública22Abr2007
 
Pág Spa Madeira Revista Pública
Pág Spa Madeira Revista PúblicaPág Spa Madeira Revista Pública
Pág Spa Madeira Revista Pública
 
Miudos 28-11-10 Andante
Miudos 28-11-10 AndanteMiudos 28-11-10 Andante
Miudos 28-11-10 Andante
 
Brinquedos de Construção revista Pública
Brinquedos de Construção revista PúblicaBrinquedos de Construção revista Pública
Brinquedos de Construção revista Pública
 
Mozart+ Bemol
Mozart+ BemolMozart+ Bemol
Mozart+ Bemol
 
Parque Urbano de Albarquel
Parque Urbano de AlbarquelParque Urbano de Albarquel
Parque Urbano de Albarquel
 
Miúdos pública 30 maio2010 Bernardo Carvalho
Miúdos pública 30 maio2010 Bernardo CarvalhoMiúdos pública 30 maio2010 Bernardo Carvalho
Miúdos pública 30 maio2010 Bernardo Carvalho
 
Filosofia para crianças 2
Filosofia para crianças 2Filosofia para crianças 2
Filosofia para crianças 2
 
Página miúdos pública matilde 25 07-10
Página miúdos pública matilde 25 07-10Página miúdos pública matilde 25 07-10
Página miúdos pública matilde 25 07-10
 
Pág.miúdos pnl 25091r
Pág.miúdos pnl 25091rPág.miúdos pnl 25091r
Pág.miúdos pnl 25091r
 
BernardJeunet7
BernardJeunet7BernardJeunet7
BernardJeunet7
 
Miudos 10 04-11 cata livros
Miudos 10 04-11 cata livrosMiudos 10 04-11 cata livros
Miudos 10 04-11 cata livros
 
Pág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista FugasPág. Madeira Revista Fugas
Pág. Madeira Revista Fugas
 
Mf Tempo
Mf TempoMf Tempo
Mf Tempo
 
Vento22 maio
Vento22 maioVento22 maio
Vento22 maio
 

Similar to Andarilhas 2010

Boletim Contacto - abril de 2022.pdf
Boletim Contacto - abril de 2022.pdfBoletim Contacto - abril de 2022.pdf
Boletim Contacto - abril de 2022.pdfBibliotecasEscolares3
 
Resgate feira do livro rotermund
Resgate feira do livro rotermundResgate feira do livro rotermund
Resgate feira do livro rotermundEstado do RS
 
Resgate feira do livro rotermund atualizado
Resgate feira do livro rotermund atualizadoResgate feira do livro rotermund atualizado
Resgate feira do livro rotermund atualizadoEstado do RS
 
Boletim BE Março 2010
Boletim BE Março 2010Boletim BE Março 2010
Boletim BE Março 2010EB2 Mira
 
Apresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da História
Apresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da HistóriaApresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da História
Apresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da HistóriaAna Souza
 
Resgate feira do livro rotermund atualizado completo
Resgate feira do livro rotermund atualizado completoResgate feira do livro rotermund atualizado completo
Resgate feira do livro rotermund atualizado completoEstado do RS
 
Boletim "Contacto" - novembro 2011
Boletim "Contacto" - novembro 2011Boletim "Contacto" - novembro 2011
Boletim "Contacto" - novembro 2011Isabel Martins
 
LITERATURA NA CESTA BÁSICA
LITERATURA NA CESTA BÁSICALITERATURA NA CESTA BÁSICA
LITERATURA NA CESTA BÁSICAMarco Ponce
 

Similar to Andarilhas 2010 (20)

Boletim Informativo 1
Boletim Informativo 1Boletim Informativo 1
Boletim Informativo 1
 
Contacto junho
Contacto  junhoContacto  junho
Contacto junho
 
4º boletim bibliografico
4º boletim bibliografico4º boletim bibliografico
4º boletim bibliografico
 
Contacto - dezembro de 2021
Contacto -   dezembro de 2021Contacto -   dezembro de 2021
Contacto - dezembro de 2021
 
Agenda junho 2010
Agenda junho 2010Agenda junho 2010
Agenda junho 2010
 
Agenda Junho 2010
Agenda Junho 2010Agenda Junho 2010
Agenda Junho 2010
 
Agenda junho 2010
Agenda junho 2010Agenda junho 2010
Agenda junho 2010
 
Agenda janeiro 2013
Agenda janeiro 2013Agenda janeiro 2013
Agenda janeiro 2013
 
Contacto março 2015
Contacto março 2015Contacto março 2015
Contacto março 2015
 
Boletim Contacto - abril de 2022.pdf
Boletim Contacto - abril de 2022.pdfBoletim Contacto - abril de 2022.pdf
Boletim Contacto - abril de 2022.pdf
 
Resgate feira do livro rotermund
Resgate feira do livro rotermundResgate feira do livro rotermund
Resgate feira do livro rotermund
 
Resgate feira do livro rotermund atualizado
Resgate feira do livro rotermund atualizadoResgate feira do livro rotermund atualizado
Resgate feira do livro rotermund atualizado
 
Boletim BE Março 2010
Boletim BE Março 2010Boletim BE Março 2010
Boletim BE Março 2010
 
Apresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da História
Apresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da HistóriaApresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da História
Apresentação UFMG projeto Literatura Caminhos da História
 
Resgate feira do livro rotermund atualizado completo
Resgate feira do livro rotermund atualizado completoResgate feira do livro rotermund atualizado completo
Resgate feira do livro rotermund atualizado completo
 
Boletim "Contacto" - novembro 2011
Boletim "Contacto" - novembro 2011Boletim "Contacto" - novembro 2011
Boletim "Contacto" - novembro 2011
 
Agenda biblioteca julho 2010
Agenda biblioteca julho 2010Agenda biblioteca julho 2010
Agenda biblioteca julho 2010
 
LITERATURA NA CESTA BÁSICA
LITERATURA NA CESTA BÁSICALITERATURA NA CESTA BÁSICA
LITERATURA NA CESTA BÁSICA
 
Contacto - dezembro de 2022.pdf
Contacto - dezembro de 2022.pdfContacto - dezembro de 2022.pdf
Contacto - dezembro de 2022.pdf
 
Contacto março 2014
Contacto   março 2014Contacto   março 2014
Contacto março 2014
 

More from mrvpimenta

Crianças 19 maio pjl47
Crianças   19 maio  pjl47Crianças   19 maio  pjl47
Crianças 19 maio pjl47mrvpimenta
 
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonhaCultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonhamrvpimenta
 
Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.mrvpimenta
 
Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112mrvpimenta
 
Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12mrvpimenta
 
Pág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiroPág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiromrvpimenta
 
Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012mrvpimenta
 
Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112mrvpimenta
 
Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112mrvpimenta
 
Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011mrvpimenta
 
Pág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembroPág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembromrvpimenta
 
Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011mrvpimenta
 
Pág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 novPág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 novmrvpimenta
 
Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111mrvpimenta
 
Pág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembroPág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembromrvpimenta
 
Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011mrvpimenta
 
Pág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubroPág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubromrvpimenta
 
Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11mrvpimenta
 
Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011mrvpimenta
 

More from mrvpimenta (20)

Alice pdf
Alice pdfAlice pdf
Alice pdf
 
Crianças 19 maio pjl47
Crianças   19 maio  pjl47Crianças   19 maio  pjl47
Crianças 19 maio pjl47
 
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonhaCultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
 
Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.
 
Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112
 
Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12
 
Pág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiroPág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiro
 
Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012
 
Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112
 
Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112
 
Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011
 
Pág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembroPág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembro
 
Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011
 
Pág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 novPág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 nov
 
Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111
 
Pág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembroPág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembro
 
Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011
 
Pág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubroPág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubro
 
Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11
 
Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011
 

Recently uploaded

"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......suporte24hcamin
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOAulasgravadas3
 
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdfBlendaLima1
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfFrancisco Márcio Bezerra Oliveira
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 

Recently uploaded (20)

"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
 
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 

Andarilhas 2010

  • 1. palavras Conta-me histórias... em Beja Durante três dias, as histórias serão as protagonistas de um encontro de narradores em Beja. Melhor, de uma festa. É a XI Edição das Palavras Andarilhas, de 16 a 18 de Setembro. Escutámos quatro contadores profissionais, porque nem só as crianças precisam de histórias. Ou o leitor não estaria aí com uma revista nas mãos. Texto Rita Pimenta Ilustração Mariana Soares C omeçou por ser um encontro Dentro das ofertas desta XI edição, promovi- sobre álbum ilustrado. Por último, a sessão de de narração oral, inspirado da pela Câmara Municipal e pela Associação de multileituras de Maria Teresa Meireles, “O Livro na Maratón de Cuentos de Defesa do Património de Beja, algumas não se Duplicado”. Diz Cristina Taquelim: “Trata da Guadalajara, mas foi integrando podem perder, diz a programadora. Entre elas, intertextualidade, que textos moram dentro de outras áreas: escrita criativa, a homenagem ao escritor António Torrado, logo outros textos? É uma área muito grata ao nosso ilustração, animação do livro e da no primeiro dia, a assinalar os 40 anos da sua trabalho de mediadores. Nós ajudamos a cons- leitura. E cresceu. Agora, as Palavras Andarilhas carreira literária. “É um homem que fez muito truir instrumentos para essa descoberta.” são “uma festa da palavra falada e escrita, que pela valorização da infância e foi companheiro Há um dia dedicado exclusivamente à ora- chega a milhares de pessoas”, diz Cristina de armas de Matilde Rosa Araújo na defesa dos lidade, e aí é dado espaço a um narrador para Taquelim, da Biblioteca Municipal de Beja e direitos da criança. Não há um texto do António falar da sua forma de pensar a narração. “Em uma das organizadoras. Se não há festa como que toque o lugar-comum, que não revele um tra- Portugal, há muito pouca produção teórica de a outra, como esta também não. balho de literatura cuidado e um grande respeito narradores sobre narração. Esta semana foi Contos Fora de Portas, Festival da Narração pelo leitor. Isto tem de ser homenageado.” entregue a primeira candidatura para uma tese — Eu Conto para Que Tu Sonhes, Mercado das de doutoramento sobre o tema, do narrador Artes da Palavra, Biblioteca Andarilha são alguns Pensar a narração Luís Carmelo. Estamos contentíssimos.” Será títulos das actividades que durante três dias irão Três propostas para sexta-feira: conhecer a au- no dia 18 que se dará então voz a Xabier Puente mobilizar muitas instituições e profissionais liga- tora brasileira Fanny Abramovich. “Uma grande Docampo, Um Alfabeto do Conto. “Escritor e es- dos à promoção da leitura e do livro, “de Lagos a comunicadora, pioneira na educação pela arte pecialista nestas áreas, trabalhou muito com as Montalegre”. A estafeta da leitura, por exemplo, no Brasil e que escreve para uma faixa muito metodologias do Rodari [Ginni] e tem um livro que começa no encontro de Beja e se prolonga difícil: dos nove aos 11 anos.” Aqui, Cristina Ta- publicado em Portugal de contos de terror ga- por três meses em várias bibliotecas, associações quelim aproveita para sublinhar a necessidade legos que escutava em sua casa: Quando à Noite e escolas do país contabilizou perto de 15 mil de se “concretizar no terreno uma política de lín- Batem à Porta (Ambar). Delicioso.” “ouvidores” na edição de 2008. gua portuguesa, que não pode ser definida por Também Nicolás Buenaventura Vidal é um Quem for às Andarilhas, segundo a também decreto”. Isso faz-se, por exemplo, “trazendo convidado muito especial e será dada oportu- narradora Cristina Taquelim, “terá uma expe- livros e autores brasileiros a Portugal e levando nidade a uma contadora do concelho, Mariana riência diferente, de partilha, rica em termos autores e livros portugueses ao Brasil”. Haverá Pacheco, de participar. “Vai estar à conversa co- afectivos e emocionais. E pode contar com uma uma sala de leitura com as obras da autora e uma migo, num sinal claro de que é possível encon- componente muito forte de formação de grande comunicação que Fanny Abramovich intitulou trar num espaço de biblioteca uma relação en- qualidade”. A festa foi nomeada em 2009 para “Da Cartinha ao Encantamento Literário”. tre os narradores profissionais e os tradicionais o importante Prémio ALMA — Astrid Lindgren, A segunda proposta para dia 17 será a possibili- das comunidades rurais que nos cercam.” que distingue autores e entidades de todo o dade de escutar o autor do Animalário Universal mundo que promovam a literatura infantil. do Professor Revillod, Javier Saéz Castán, falar rpimenta@publico.pt c
  • 2.
  • 3. palavras DR Rodolfo Castro, argentino, vive em Portugal há seis meses. Tem propostas de formação na Biblioteca Municipal de Oeiras, Universidade Nova de Lisboa e Casa das Histórias Um narrador é um provocador A menina bondosa Não se conta para os outros, mas com Cada escola era um mundo diferente: Era uma vez uma menina bondosa que tinha os outros. Esta é uma das certezas de “Podiam ser escolas só de rapazes, só de ganho três medalhas: uma pela sua bondade, Rodolfo Castro, narrador argentino, 44 raparigas, mistas, públicas, privadas, es- outra por ser muito obediente e outra ainda anos. Outra: “Sou um contador de histó- colas de ricos, de marginais. Foi a gota de pelas suas boas maneiras. rias urbano, logo sou escravo do livro.” ouro.” Esta experiência definiu o rumo da Um dia, o rei permitiu à menina passear Isto é, não tem “a memória de pais e avós sua vida. Uma outra também: “A primeira pelos jardins do palácio. A menina pôs as três a contar contos e a resgatar a tradição vez que li um conto sem livro foi numa medalhas ao pescoço e foi para o jardim, mas oral da comunidade”. Por isso, diz: “Há sessão em que um contador da editora no jardim não havia flores, só porquinhos. O rei histórias que não me compete contar. faltou e eu tive de o substituir.” adorava porcos e os porcos comiam as flores. Fazem parte de um estilo essencialmente Era uma sala com 200 pessoas e lan- Muitos porquinhos começaram a correr por oral que não me pertence.” çaram-no para a “arena”. Aflito, Rodolfo entre os pés da menina. De repente, um lobo Mas afinal o que é um contador de his- Castro contou algumas das histórias que entrou no jardim à procura de um deles. A tórias? “É um provocador. Uma pessoa tinha lido vezes sem conta às turmas por menina escondeu-se atrás de um arbusto. O lobo que apresenta uma situação, um conto, onde passara. “Eu não sabia que as sabia”, não a tinha descoberto, mas a menina tinha um objecto que é estranho, transgressor, diz, ainda hoje surpreendido. E conclui: muito medo e tremia imenso. Tanto que as três que provoca dúvida, reflexão, medo. Pro- “Não fui eu que escolhi os contos, foram medalhas chocaram umas contra as outras e o vocador porque põe na realidade algo os contos que me escolheram.” Reconhece lobo ouviu, saltou detrás do arbusto e devorou que ultrapassa os limites da realidade. Eu que estava nervosíssimo, mas houve um a menina boa. Dela só ficaram os seus sapatos tento ser um narrador provocador.” conto que resultou muito bem. “Foi nesse e as três medalhas que tinha ganho por ser tão As suas memórias mais remotas relacio- momento que percebi que me tinha trans- obediente. nadas com contos são as brincadeiras com formado num contador de histórias.” Mas não se preocupem, este conto tem um final as irmãs. “Os meus pais trabalhavam todo Não tem intenções didácticas nem mo- feliz: todos os porquinhos conseguiram escapar. o dia e não nos faltava tempo para nos ralizadoras e diz que, com as crianças, ‘deseducarmos’ sozinhos. Não tínhamos “uma sessão de contos tem de ter sempre Adaptação livre do conto O Contador de muitos brinquedos, não tínhamos muitos algum caos. Se isso não acontece, é por- Histórias, de Saki (um dos que Rodolfo Castro livros, não tínhamos muito de nada. Então que algo está mal. A criança tem de gritar, costuma escolher contar nas suas sessões) brincávamos a inventar mundos.” de se emocionar, rir, ficar em silêncio”. Até aos 30 anos, foi professor do 1.º E com os adultos? “Aí, o contador conta ciclo na Argentina, mas também orga- o conto exactamente como o preparou. nizava excursões e férias com miúdos Os adultos são passivos. Por respeito, mas e com idosos. “Aproveitava para contar também por vergonha de serem julgados. contos. Gostava de inventar histórias à Gosto do público adulto porque é uma volta da fogueira.” Esta prática serviu- oportunidade para uma maior intimida- lhe quando foi para o México, em 1998. de, para textos mais psicológicos.” “Lá, eu não tinha nada. Contar contos foi Rodolfo Castro tem alguns livros sobre uma questão de sobrevivência.” Durante teoria do conto e há um que gostava de três anos, foi todas as manhãs a todas as ver traduzido para português, La intui- escolas do México (“todas, todas”) ler cion de leer, la intención de narrar. contos de livros de uma editora que os Outra certeza: “Um contador que quer comercializava directamente nos esta- apoiar quem o escuta não deve fechar a belecimentos de ensino. “As escolas no história com um pensamento final. De- México têm entre mil e 1500 alunos. Eu ve dar liberdade para pensar. Os contos ia a umas 20 salas por dia.” explicam-se por si só.”
  • 4. DR Maurício Corrêa Leite, brasileiro, percorre as zonas mais isoladas dos países de expressão portuguesa com a sua Mala de Leitura. Na foto, Kuanza Sul (Angola), 2008 Não gosto de contar histórias Ponto de tecer poesia Maurício Corrêa Leite estudou teatro. objecto que mudou a minha vida.” Diz Cada fio é uma poesia, “Teatro de boneco”, explica. Para dar voz que faz parte deste “caldeirão dos conta- cada ponto é um versinho, e histórias aos fantoches e marionetas, dores de histórias”, mas com um papel cada beijo que te mando “recorria a livros infantis e de banda de- diferente: “Eu formo leitores, o contador é voo de passarinho. senhada”. E nunca mais separou as duas forma ouvintes.” E defende que os narra- Cada pena é uma escrita, artes: “Por isso, eu levo esse mundo de dores devem sempre divulgar as fontes, cada flor é borboleta, teatro na mala.” Quando diz “mala”, não seja da tradição oral de uma região, seja cada traço é uma ternura é metáfora, é mesmo uma mala, azul, de uma obra. “Não acho justo que não se que escrevo com caneta. cheia de livros, fotos, bonecos e uma cite o autor e o livro.” Te amo porque te amo, caixa de música. Chamou-lhe Mala de Tem uma grande cumplicidade com as e te faço um casaquinho Leitura. É com ela que trabalha. crianças e quando aparece com uma mala de fio todo trançado Brasileiro, natural de Guiába, Matogros- daquelas, cheia de magia mesmo antes de pela aranha tecelã. so, este homem de 56 anos surpreende aberta, “elas já amam”. No entanto, sabe Se hoje teço a poesia, ao dizer: “Não gosto de contar histórias. muito bem o que faz: “Eu estudei, sou talvez te entregue Sabe porquê? Quando você vira contador professor, sou alfabetizador, estudei psi- amanhã. de histórias, em todo o lugar que você vai, cologia infantil, psicologia de educação, no meio do nada, todo o mundo pede: metodologia de ensino, didáctica. Não Sylvia Orthof, Editora Ebal ‘Conta uma história?’ E eu não tenho essa entro numa escola sem ter noção do que bondade no coração, essa generosidade.” está acontecendo ali. E sei botar o menino Tem outra: visita crianças em lugares de no lugar, se ele me enche o saco.” Seguros no escuro difícil acesso e tudo faz para que conhe- Tem verdadeira noção do tipo de livros çam livros e se apaixonem pela leitura. deve levar para cada contexto: “Quando Todas as noites “O meu trabalho é levar livros para eu vou para África para uma casa com olho e procuro crianças que se encontram em regiões 600 órfãos, não posso levar a história debaixo da cama isoladas: na Amazónia, no meio do pan- de uma mãe que enquanto esperava a o monstro escuro. tanal, no Brasil isolado pela água, em criança teceu uma manta...” Só quando dele África, por falta de estradas, trabalho em Procura primeiro o caminho do humor não tem nem cheiro regiões de campos minados, todos os lu- e depois vai proporcionando uma oferta boto a cabeça no travesseiro. gares difíceis que você possa imaginar.” diferente, até que o leitor faça as suas esco- Um esforço justificado assim: “É impor- lhas. Classifica os leitores assim: “Pré-leitor, Todas as noites tante que as crianças tenham acesso ao o leitor iniciante e o leitor que já busca a leve e fagueiro património cultural da humanidade.” sua própria leitura.” O que faz é “plantar a o monstro escuro Detesta que lhe falem em “livrinhos” ideia de que livro é uma coisa bacana, uma toca a coberta e não entende o papel da CPLP. Dá um forma boa até de aprender coisas com os pra ver se durmo exemplo: “Consegui editar um livro pa- personagens, conhecer lugares, até para ou se estou desperta. ra crianças de um autor português no sonhar o conhecimento faz falta”. Só quando vê que não há perigo Brasil. Quando os enviei para cá, foi pre- E ressalva que “cultura é diferente da deita comigo ciso pagar uma taxa na alfândega. Não escola da instrução”. É aí que ele entra: e dorme seguro. podiam ser levantados directamente e a “Com a parte cultural que dê prazer, que espera resultou em 3500 euros. Grande não seja trabalho pedagógico mas artísti- Marina Colasanti, Minha Ilha Maravilha, política para a língua portuguesa...” co. Dar uma noção do que há pelo mun- Editora Atica Só conta histórias com o livro à frente: do e que a leitura sempre apresenta uma (poemas que Maurício Leite lê às crianças nas “Dou voz aos autores, compartilho este saída.” c sessões de promoção do livro e da leitura)
  • 5. palavras DR António Fontinha, ex-actor, fundou o Movimento de Narração Oral Portuguesa O lobo nem sempre é mau O rapazito e o Rei Salomão António Fontinha iniciou o Movimento tador, já que vivia de contar histórias, Toda a gente sabe que o Rei Salomão era o de Narração Oral em Portugal e acredi- tive de fazer marketing de mim próprio homem mais sábio do mundo. Sabia de tudo e ta na “cultura popular como garante da e da minha actividade. A profissão nem a todos ensinava e dava bons conselhos. Vivia identidade nacional”. Não no sentido existia.” Aliás, tem de se registar para muito longe mas a sua fama chegava a todo o nacionalista, mas para “tentar colocar efeitos de IRS como “profissional de es- lado. um pouco de justiça no desajustamento pectáculos”. Sabei também que naquele tempo não havia entre as culturas” que se vão impondo. Noutros países ocidentais, poucos, só fósforos como hoje há, nem nada do género, “Porque carga de água eu tenho de me há 40 anos é reconhecida como activi- com a mesma finalidade. Nesses tempos, ia-se de preocupar com o Capuchinho Vermelho? dade profissional. A falta de produção casa em casa a pedir lume. As pessoas traziam Por que é que o lobo tem de ser mau?”, teórica poderá explicar um pouco isso. consigo uma pinha que acendiam na altura, ou pergunta. E logo responde: “Porque eu “Desde há 3000 anos, com Aristóteles e então de tição ou cavaco aceso voltavam a casa. comprei, sem querer, essa ideia. Uma outros, teorizou-se sobre o teatro, a lite- Certo dia, bateu à porta do Rei Salomão um sociedade de consumo entrou por aqui ratura, a poesia, mas nada sobre narra- miudinho pedindo-lhe lume. O sábio mirou o e arrebanhou tudo.” ção oral. E sempre existiu.” gaiato e disse-lhe admirado: O narrador vai lembrando que os ve- Para António Fontinha, ex-actor (fun- — Então como queres tu o lume se não trazes lhos contadores portugueses têm uma re- dou o Espaço Teatro, primeira compa- nada para o levares. Não podes levar brasas na presentação diferente daqueles animais: nhia portuguesa de teatro e dança), o mão. “Na tradição oral portuguesa, o lobo nem contador “pode ser alguém controver- O rapazito, meio envergonhado, disse então: sempre é mau.” E não quer que se fique so, desbocado, nada politicamente cor- — Eu apanhava um punhado da cinza e depois a pensar que considera a tradição cultu- recto e mesmo assim ser o escolhido”. Sua Majestade punha uma brasa em cima da ral portuguesa mais importante que as Diz ainda que só consegue “encontrar cinza. outras: “Há matrizes na nossa educação essa constante no meio rural mas não — Está bem, entra lá, disse o sábio Salomão. cultural, no imaginário da cultura tradi- no urbano”. O miudinho entrou e apanhou a cinza sobre a cional portuguesa, que não são melhores Uma pessoa idosa aproveita o seu qual o rei colocou uma brasa acesa. Agradeceu e nem piores que a inglesa, a francesa a tempo e sabe potenciar o momento. “E saiu apressado. mandinga ou outra. Todas são horizon- depois vêm os da pedagogia chatear o O rei, ainda meio admirado da inteligência da talmente irmãs, mas também não acho, velho: ‘Então você disse aquilo à crian- criança, virou-se para a mulher e comentou: desculpem lá, que as outras sejam mais ça?’ E as crianças: ‘Conta lá outra, conta — Que tempos estes, eu, Rei Salomão, sábio, importantes que a minha.” lá outra’.” Alguns contadores só sabem até já tenho que aprender com as crianças! Duas máximas norteiam o trabalho uma história ou duas e estão sempre a deste narrador desde que iniciou a car- ser chamados. Luís Henriques, Rabacinas, Proença-a-Nova. reira, há 15 anos: promoção do imaginá- Fontinha não ensaia os contos, não Recolha e redacção de Francisco Henriques, a rio da tradição e promoção da figura do usa adereços, mas pode acontecer ex- partir da versão ouvida em criança contador de histórias. perimentar contar um novo a alguém se O que mudou entretanto foi a forma o momento se propiciar. Ri-se quando (António Fontinha nunca contou este conto, mas de pensar o que é um contador. Hoje diz: lhe perguntamos se testa a narração em “possivelmente” há-de contá-lo) “Um contador é alguém que é reconheci- frente ao espelho ou a uma parede. “Não, do como tal por aqueles que gostam de não! Na tradição oral, o mais importante o ouvir contar histórias.” Quando já não é o momento em que acontece o encon- lhe pedirem, deve sair da ribalta. “Mas se tro entre os que querem ouvir e quem me tivesse feito a pergunta há 15 anos, a está a contar. E isso é complexo, não se minha cartilha era outra”, diz divertido. esgota naquele dia. É um processo, não “Quando tive de me assumir como con- é um espectáculo.”
  • 6. DR Crsitina Taquelim, narradora, bibliotecária e organizadora das Palavras Andarilhas Conto o que é significante para mim O contador antes de começar Chegou à Biblioteca Municipal de Beja gente escutava, mas que depois deixou Fez um gesto em redondo / como se quisesse “sem saber nada de literatura”, conta de ser ouvido. No entanto, continuava a desenhar o sol, / a casca de um caracol, / um balão / Cristina Taquelim, “nem de Psicologia”, contar. Um dia, um miúdo pergunta-lhe a sombra de um pião/ um bombo. / E disse: / A licenciatura que tinha terminado. “A única por que continuava ele com as suas his- história que vou contar/ começa por uma ponta, / coisa que eu tinha dentro de mim para dar tórias. Resposta: no princípio, contava dá uma volta reviravolta / meio tonta, e acaba, / tal àquelas crianças eram histórias. Felizmen- para mudar o mundo. Hoje, conto para e qual mesmo ao lado, / de onde antes tudo tinha te que a minha avó me tinha contado mui- que o mundo não me mude a mim. começado: tas.” Foi assim que respondeu à pergunta “Cada contador dará um motivo dife- / / Por isso / para a cambalhota final/ da história em como se tinha tornado narradora. rente para contar”, diz. “Os contos foram em salto mortal, / onde ninguém corre perigo: / — Tem consciência de que, na altura, uma forma de encontro com a minha his- Contem, contem comigo: “não sabia fazer uma actividade expres- tória, com as minhas memórias, com a / E o contador contente por contar/ ficou-se a olhar siva com os miúdos, só sabia contar”. força da palavra. Não é tanto o que se para toda aquela gente, / à roda da história/ e dele Descobriu então que havia qualquer coi- conta, mas o que se escuta. Cada vez é contador, / desenhador no ar, / inventor da arte de sa nesta actividade que levava a que, “em mais importante para mim escutar do que saltar sem se mexer. grupos com comportamentos de grande contar.” Mas contar “é uma experiência Ficou-se a olhar, a olhar/ e suspirou de prazer complexidade, onde nada funcionava, o pessoal perfeitamente encantatória. Es- a ponto de se esquecer de continuar./ conto de tradição oral resultasse”. E des- tarmos perante 60 pessoas sem outros // — Mas onde é que eu ia — perguntou o contador/ creve: “Eles abriam a boca e durante to- recursos que não seja a palavra, o gesto e um pouco perdido no meio do contentamento de do o conto não ‘tugiam nem mugiam’.” a voz, e percebermos a emoção que passa contar/ e ouvir contar, / que é assim a modos que Percebeu que afinal o assunto era mais no olhar do outro”. uma espécie de cócega, / virada do avesso, / uma sério e que valia a pena estudar e explo- As diferenças de contar para crianças sede, um sabor, / um sabor a pêssego / antes de o rar o que se relacionasse com literatura ou adultos são essencialmente de reper- pêssego chegar ao céu da boca... para a infância, técnicas de escrita, ilus- tório e de ritmo. “Só conto o que é ide- // — Ah! Lembrou-se o contador, / que às vezes se tração. “Apercebi-me de que podia juntar ologicamente significante para mim.” A distraía dos recados que trazia. / E com um lento imagem e trabalhar, por exemplo, O Gi- biblioteca de Beja foi “das primeiras do aceno/ de quem muda a folha, / de um livro ou do gante Egoísta, do Oscar Wilde. Se quises- país a organizar sessões de contos para pensamento, / o contador concluiu: / A História se explorar a narração oral, podia deixar adultos, com a Mil e Uma Noites, Mil e que vou contar é / nem mais nem menos que uma o livro de fora e ajudar os miúdos a cons- Uma Histórias”. história circular / como vão poder já já observar. truir imagens mentais das personagens”, Cristina sugere: “Temos pessoas nas e começou a fazer um longo caminho nossas comunidades, cidades e aldeias, António Torrado, Conto Contigo, Civilização em mediação da leitura, mas também homens e mulheres que ainda contam. Editora em narração. Descubram-nos, conversem com eles.” “Separo o trabalho de narradora com Sobre a necessidade de histórias, diz: (Cristina Taquelim, às vezes, diz este o de mediadora de leitura, embora ine- “Um homem muito interessante de Be- texto em voz alta. “É literatura para a vitavelmente se cruzem, pois na biblio- ja chamado Paulo Lima fez um trabalho infância, sem a qual eu também não teca tenho de usar os dois recursos.” sobre a fome no Alentejo. Nesse trabalho, chegaria aos contos.”) Mais estratégia na mediação, menos na há um testemunho de um informante narração. que dizia que muitas vezes no Alentejo Para Cristina Taquelim, um narrador do latifúndio eram as histórias que ma- “é alguém que trabalha com a voz, com tavam a fome.” o gesto, a palavra, a memória e a iden- Precisamos de histórias desde o princí- tidade”. Para que serve? Começa então pio do tempo. “E continuamos com uma uma história de um contador que toda a fome dos diabos.” a