O documento resume a vida e obra do poeta brasileiro Alphonsus de Guimaraens no contexto literário e cultural do fim do século XIX e início do século XX. Alphonsus nasceu em 1870 em Ouro Preto e publicou seus primeiros livros de poemas em 1899, dedicando-se ao simbolismo. Viveu seus últimos anos como juiz em Mariana, onde faleceu em 1921, deixando uma obra marcada pelo misticismo e culto à morte após a perda precoce de sua noiva.
3. Musica "Prélude à l'après-midi d'un Faune" (Prelúdio à Tarde de um Fauno) – poema Sinfônico composto por Claude Debussy, músico clássico francês, entre 1892 e 1894, baseado em um poema de Stéphane Mallarmé. Fauno de Magnus Enckell, 1914. Assim como na pintura, a música Impressionista não possui linhas (melódicas) nítidas. O efeito dos sons é muito importante no contexto da obra, muitas vezes mais importante que a própria melodia. A música Impressionista não segue o clássico sistema tonal Ocidental.
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6. 1907 Picasso, Les Demoiselles d'Avignon 1918 Final da Primeira Guerra Mundial 1906 Santos Dumont voa com o 14-bis em Paris 1917 Kafka, A Metamorfose 1899 Publicação de The Interpretation of Dreams de Freud 1914 Primeira Guerra Mundial 1895 Primeira amostra cinematográfica dos Irmãos Lumière 1912 Jung, The Psychology of the Unconscious 1889 Proclamação da Republica 1910 Exposição Pós-Impressionista em Londres 1888 Abolição da escravidão no Brasil 1909 Model T do Henry Ford 1872 Impressão, nascer do sol , de Claude Monet e o Impressionismo
7. Contexto Literário Geral (1870-1922) 1870 Em Ouro Preto, 24 de julho nasce Alphonsus de Guimaraens Publicação de 'La Bonne Chanson' (obra de Paul Verlaine) 1871 Publicação de 'Le Bâteau Ivre' (obra de Arthur Rimbaud) 1872 Publicação de 'Le Bâteau Ivre' (obra de Arthur Rimbaud) Publicação de 'Ressurreição' (obra de Machado de Assis) 1873 Publicação de Clepsidra, obra de Camilo Pessanha 1875 Publicação de "O crime do padre Amaro", de Eça de Queiroz Publicação de 'Gonzaga' (obra de Castro Alves) Publicação de 'Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica' (obra de Tobias Barreto)
8. 1876 Publicação de "L'Après-midi d'un faune" de Stéphane Mallarmé Publicação de 'Michel Strogoff' (obra de Júlio Verne) Publicação de 'L'uomo delinquente' (obra de Cesare Lombroso) Publicação do livro "O cabeleira", de Franklin Távora 1880 Publicação de 'Sagesse' (obra de Paul Verlaine) Publicação de 'Boule de Suif' (obra de Guy de Maupassant) 1881 Publicação do livro "O mulato", de Aluísio Azevedo 1884 Publicação do livro "Casa de pensão", de Aluísio Azevedo 1885 Publicação do livro "Tropos e fantasias", de Virgilio Várzea/Cruz e Sousa
9. 1888 Publicação do livro "O ateneu", de Raul Pompéia Publicação de "Poesias" de Olavo Bilac 1890 Publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro Publicação do livro "O cortiço", de Aluísio Azevedo 1891 Publicação do livro "Quincas Borba", de Machado de Assis 1893 Publicação de 'Positivismo e Idealismo' de Eça de Queiroz (A Gazeta de Notícias) Publicações de Marcel Proust no 'Revue Blanche Publicação do livro "Missal e broquéis", de Cruz e Sousa, primeira obra simbolista brasileira Publicação do livro "O normalista", de Adolfo Caminha
10. 1894 Publicação de 'The Memoirs of Sherlock Holmes' (obra de Arthur Conan Doyle Publicação de 'The Jungle Book' (obra de Rudyard Kipling) 1897 Publicaçao de "Un coup de dés jamais n'abolira le hasard" de Stéphane Mallarmé 1898 Publicação de 'The Ballad of Reading Gaol' (obra de Oscar Wilde) 1899 Publicação do livro "Dom Casmurro", de Machado de Assis Publicação do livro "Setenário das dores de nossa senhora", de Alphonsus de Guimaraens Publicação do livro "Câmara ardente", de Alphonsus de Guimaraens Publicação do livro "Dona mística", de Alphonsus de Guimaraens
11. 1902 Publicação de 'The Hound of the Baskervilles' (obra de Arthur Conan Doyle) Fernando Pessoa escreve o poema 'Quando ela passa’ Publicação do livro "Os sertões", de Euclides da Cunha Publicação do livro "Kiriale", de Alphonsus de Guimaraens 1903 Augusto de Lima é eleito para a Academia Brasileira de Letras Euclides da Cunha é eleito para a Academia Brasileira de Letras 1908 Publicação de 'A Lume Spento' (obra de Ezra Pound) Publicado o poema 'The Unknown Love' de Raymond Chandler 1909 Publicação de 'Personae' (obra de Ezra Pound) Publicação do livro "Recordações do escrivão Isaías Caminha", de Lima Barreto
12. 1912 Publicação de 'Eu' (obra de Augusto dos Anjos) Oswaldo Cruz é eleito para a Academia Brasileira de Letras 1914 Publicação de 'O lamento das Coisas' (obra de Augusto dos Anjos) 1915 Lançamento da revista Orpheu em Portugal 1918 Publicação de 'Impresiones Y Paisajes' (obra de Federico García Lorca) O poema 'Mis Ojos', de Pablo Neruda, é publicado na revista 'Corre-Vuela'. Publicação do livro "Urupês", de Monteiro Lobato
13. 1919 Publicação de 'Cuentos de la selva' de Horácio Quiroga Publicação de 'Espectro' primeiro livro de Cecília Meireles Publicação de 'Tarde' de Olavo Bilac 1920 Publicação de 'Le côté de Guermantes I' (obra de Marcel Proust) Publicação de 'The Mysterious Affair at Styles' (obra de Agatha Christie) Publicaçao de Mendigos de Alphonsus de Guimaraens 1921 Mariana, 15 de julho – Morre Alphonsus de Guimaraens Publicação de 'Libro de Poemas' (obra de Federico García Lorca) Publicação de 'Sodome et Gomorrhe' (obra de Marcel Proust) Carlos Drummond de Andrade publica seus primeiros trabalhos na seção "Sociais" do Diário de Minas. 1922 Ínicio do modernismo Semana de arte moderna de São Paulo
14. Pintura Na pintura o impressionismo foi um movimento que tratava de retratar paissagens, pessoas, e objetos e sentimentos de uma maneira não realista. Surge na Europa e leva o nome de um quadro de Claude Monet Impressão, nascer do sol em 1872. Os maiores nomes do movimento foram: Édouard Manet, Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Van Gogh, Odilon Redon (também simbolista), assim como Edvard Munch que mais tarde seria considerado expressionista. No Brasil os grandes nomes a serem resaltados são os de Eliseu Visconti e Rodolfo Amoedo.
55. Imagem do vídeo musical Amaranth , Nightwish, 2007 O Anjo Ferido , Hugo Simberg, 1903
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57. Entre brumas ao longe surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu risonho, Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" A Catedral
58. O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a benção de Jesus. E o sino clama em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
59. Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a luz a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu tristonho, Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
60. O céu e todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino geme em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" In: Pastoral aos crentes do amor e da morte.
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62. Entre brumas ao longe surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu risonho, Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" Esquema rímico A A B C C B D D
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68. Comparação semântica: a poesia cria impressões sensíveis e estéticas Relâmpagos Raios de luz Céu = trevas Astro = glorioso Lua Sol Céu tristonho Céu risonho NEGATIVO POSITIVO
69. Intertextualidade Uma das características do Simbolismo foi a fusão da música, da pintura e da literatura. A pintura emprestou as demais artes a luz, a cor e o ambiente. Por outro lado, o impressionista pretende registrar a impressão que a realidade provoca no espírito do artista e por ele é produzido. O mais importante não é objeto, mas as sensações e emoções que ele desperta. (Afrânio Coutinho, In: A literatura no Brasil . Página 33).
71. Comparando a poesia A Catedral de Alphonsus de Guimaraens e a pintura Catedral de Rouen de Monet temos que, o poeta, assim como o pintor, sentiram e exprimiram um momento. Visualizaram e captaram uma imagem nas suas impressões, valorizando as cores, a atmosfera. Nas palavras de Afrânio Coutinho: “uma mesma paisagem é diferente em horas diversas do dia, - ao artista cumpre capturar os estados da alma criados no contato desse fluxo (...), os episódios em seu resvelar contínuo”. (página 36). Alphonsus de Guimaraens se incorpora a paisagem catedralesca. Segundo Massaud Moises, “(...) seguindo a rota de Verlaine e de Antônio Nobre, o poeta mineiro instilou em sua poesia (...) meios-tons e um cromatismo impressionista, centrado na cor branca e suas várias gradações”. (Massaud Moises. In: História da literatura brasileira. Vol. 2).
72. “ Alphonsus de Guimaraens foi Poeta. Poeta no sentido pleno da palavra, poeta que traduziu a vida em beleza, poeta que viu, sentiu, captou e exprimiu. Sim, porque o poeta é o homem que fixa a beleza que passa. O mundo cósmico e o mundo humano, social e interior, a paisagem telúrica e a paisagem humana, no seu perpétuo movimento, apresentam a cada passo aspectos de beleza. Aspectos fugazes, instantes fugidios, semostrações esquivas e rápidas da beleza, reflexo constante da Perfeição”. (Gladstone Chaves de Mello. In: Nossos Clássicos )
73. Ária do Luar O luar, sonora barcarola, Aroma de argental caçoula, Azul, azul em fora rola... Cauda de virgem lacrimosa, Sobre montanhas negras pousa, Da luz na quietação radiosa. Como lençóis claros de neve, Que o sol filtrando em luz esteve, É transparente, é branco, é leve.
74. Eurritmia celestial das cores, Parece feito dos menores E mais transcendentes odores. Por essas noites, brancas telas, Cheias de esperanças de estrelas, O luar é o sonho das donzelas. Tem cabalísticos poderes Como os olhares das mulheres: Melancoliza e enerva os seres.
75. Afunda na água o alvo cabelo, E brilha logo, algente e belo, Em cada lago um sete-estrelo. Cantos de amor, salmos de prece, Gemidos, tudo anda por esse Olhar que Deus à terra desce. Pela sua asa, no ar revolta, Ao coração do amante volta A Alma da amada aos beijos solta. Rola, sonora barcarola, Aroma de argental caçoula, O luar, azul em fora, rola... In: Pastoral dos Crentes do Amor e da Morte
76. Ária: Composição musical para uma só voz por vezes acompanhada de coros; melodia; canção;cantiga;parte final da cantata. Barcarola: Canção dos gondoleiros de Veneza; peça musical à imitação das árias dos gondoleiros; composição poética acomodada ao estilo musical das barcarolas. Argental : Adjetivação do verbo Argentar: pratear; dar a cor da prata; branquear. Caçoula: caçarola; recipiente largo e baixo, próprio para cozinhar. Vocabulário
77. Lacrimosa: chorosa; aflita; banhada em lágrimas. Eurritmia: justa proporção entre as partes de um todo; regularidade da pulsação; simetria; beleza. Cabalísticos: que se refere à cabala; secreto; obscuro; misterioso; enigmático; indecifrável, incompreensível. Enerva: tirar a força física ou moral; debilitar;enfraquecer;deprimir;excitar os nervos a Algente: álgido; frigidíssimo; gélido; glacial. Sete-estrelo: grupo das Plêiades, na constelação do Touro
80. Esquema rímico O luar, sonora barcarola, Aroma de argental caçoula, Azul, azul em fora rola... Cauda de virgem lacrimosa, Sobre montanhas negras pousa, Da luz na quietação radiosa. Como lençóis claros de neve, Que o sol filtrando em luz esteve, É transparente, é branco, é leve. Eurritmia celestial das cores, Parece feito dos menores E mais transcendentes odores. Por essas noites, brancas telas, Cheias de esperanças de estrelas, O luar é o sonho das donzelas. Tem cabalísticos poderes Como os olhares das mulheres: Melancoliza e enerva os seres. Afunda na água o alvo cabelo, E brilha logo, algente e belo, Em cada lago um sete-estrelo. Cantos de amor, salmos de prece, Gemidos, tudo anda por esse Olhar que Deus à terra desce. Pela sua asa, no ar revolta, Ao coração do amante volta A Alma da amada aos beijos solta. Rola, sonora barcarola, Aroma de argental caçoula, O luar, azul em fora, rola... A B B C D C E E E F F F G G G H H H I I I J J J L L L A B A
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84. Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... Ismália
85. E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar...
86. E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... (1923)
99. Esquema de contrastes e gradações lexicais alma X corpo pender X voar subir X descer perto X longe ver X perder-se céu X mar Esquema de conceitos contrastivos voar -> subir sonho -> perder-se pender -> cair sonhar -> desvario Esquema de conceitos gradativos
102. Gradação semântico-lexical -> -> -> -> -> -> -> -> -> -> -> -> -> -> -> -> ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ descer querer estar (perto) queria descer ver 4 subir querer estar (longe) queria subir ver 3 ruflar voar pôr-se a cantar banhar-se (em luar) pôr-se a sonhar 2 dar (asas) pender *** perder-se enlouquecer 1 ESTROFE E ESTROFE D ESTROFE C ESTROFE B ESTROFE A VERSO S
103. Figuras de construção 1. Epístrofe: repetição da mesma palavra no final de período ou trecho “ Viu uma lua no céu ” – “Estava perto do céu ” “ Queria a lua do mar ” – “Viu outra lua no mar ” 2. Paralelismo sintático: simetria entre a formação sintática das estrofes; 3. Cesura: quebra do verso, criando um efeito de suspensão, que potencializa o elemento destacado “ E, no desvario seu ,”