O documento resume as características gerais da obra de Adonias Filho, incluindo a linguagem lírica e o uso de símbolos. Também descreve os personagens e enredos de alguns contos, como "A moça dos pãezinhos de queijo", "Um avô muito velho" e "Um corpo sem nome", que se passam no Largo da Palma em Salvador e abordam temas como amor, morte e mistério.
6. Enredo O pão traz a idéia do divino, do maravilhoso. O milagre do pão, a multiplicação, o fazer o pão tem o efeito de sentido de recuperar, de salvação. O fermento simbolicamente representa transformação, com a noção de pureza e de sacrifício. O menino que ficou mudo pela perda da mãe, embora rico, acarinhado pela família, recupera a voz através do amor, isto é evidente pela primeira palavra que consegue pronunciar. A moça através de seu amor, de seu trabalho, devolve a fala do namorado, traz o mistério que os sentimentos podem operar. O Jardim de Nazaré embora seja um espaço físico, nesse episódio, ganha a conotação de Jardim do Éden, o lugar do milagre, a voz que nasce, pode ser relacionada com o Menino que nasceu em Belém, mas que viveu humildemente em Nazaré.
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8. Enredo Eliane, “cabelos brancos”, sozinha, morando num quarto muito pobre e pequeno na rua Bângala, vai a um encontro. Ela foi abandonada por seu companheiro, Geraldo, depois de 30 anos, ficando sem recursos. Ela vai encontrar-se com Odilon, seu primeiro marido de quem ela tinha se separado há trinta anos. Ele estava voltando a Salvador e queria um encontro, “naquele dia mesmo, ao meio dia, no Largo da Palma. Em frente, bem em frente da igreja” Na carta ele lhe dizia que soubera de sua situação e queria vê-la. Eliane tendo como sua infância, o nascimento da irmãzinha, Joanita, a alegria da mãe, sempre a sorrir, o pai calado, cada vez mais calado. Depois, o tempo em que o pai chega bêbado, até o dia em que cai, deitado de bruços, como um morto. A ambulância chega, vem o médico e um estudante, que Eliane ouve o médico chamar de Odilon. O pai é levado, e Odilon vai todo dia dar notícias, até o dia em que o pai volta, e finalmente morre. Conclui que Odilon não é um homem comum. A casa fica triste, a mãe perde o riso, a família está na miséria. A morte do pai foi um alívio.
9. Todos viam que Odilon estava apaixonado por Eliane. Eles ficam noivos, casam. Ela entende, então que para o marido o que interessava a ele eram os doentes, o hospital, o ambulatório, chegando ao ponto de comprar remédios para os doentes, mesmo sabendo que a mãe e a irmã precisavam muito de dinheiro. Algumas vezes, irritada, zangada, dirigia-se a ele ofendendo-o, dizendo palavrões. Ele era incapaz de zangar-se. No último dia o agrediu aos gritos, saiu batendo a porta. Foi para um hotelzinho, à beira da praia, e foi lá que viu Geraldo, o homem mais bonito que tinha conhecido. Quando ele se aproximou, olhou-a, não teve coragem de se afastar. Agora, depois de trinta anos, Odilon voltava, sabendo do abandono, queria vê-la. Ela sentiu fome e lembrou que, talvez “A Casa dos Pãezinhos de Queijo” estivesse aberta. Mas ela se aproxima da igreja, e vê Odilon. Enredo
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11. A narrativa inicia-se anunciando que algo aconteceu ao avô Loio, muito velho. Morava no Gravatá a poucos passos do Largo da Palma aonde chegava sem pressa, sentindo o cheiro do incenso que vinha da igreja se misturando com o aroma dos pãezinhos de queijo. A neta Pintinha é a alegria do avô. Desde os primeiros passos ela anda com ele; ele a leva à escola, depois ela vai com as amigas e, finalmente, chega o dia em que Pintinha recebe o diploma de professora. O velho Loio era tocador de sanfona. Numa ocasião, Aparecida põe as cartas e lhe diz que viu que há uma morte nas mãos dele. Um dia a polícia chegou e ele foi reconhecer Aparecida no chão, morta, numa poça do próprio sangue Continuou a tocar a sanfona, mas nunca aceitou convites para tocar nas festas Vem a recordação do dia em que Pintinha é professora nomeada, e vai ensinar na Amaralina. Encanta-se com a dedicação da neta com os alunos, filhos de pescadores. Mas naquela noite, Pintinha não voltou das aulas. Enredo
12. O desespero e a loucura tomam conta de Maria Eponina e de Chico Timóteo. A polícia veio dizer que Pintinha foi agredida, bateram, violentaram e atiraram nela e agora está entre a vida e a morte. Três meses de dor, de sofrimento. Duas operações depois voltou para casa. Tão doente, com tantas dores, não reconhecia ninguém. O velho negro Loio buscava paz no Largo da Palma. Um dia vai falar com o médico, Dr. Eulálio Sá, e soube que as operações só prolongaram um pouco a vida, mas que as dores seriam insuportáveis. Quando foi ver a neta, doeu muito seu coração de velho e saiu de cabeça baixa para o Largo da Palma. Procurou o farmacêutico, pediu um veneno para matar um cachorro que estava velho e doente. Ao chegar em casa, dissolve o veneno na água e dá para Pintinha. Lavou o copo muito bem, depois e ficou na sala. Agora ele tem uma morte nas mãos. A filha veio do quarto, “indiferente, sem lágrimas e quase sem voz: Traga uma vela, pai, Pintinha acaba de morrer.”
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14. Logo se verifica ser cocaína, uma saboneteira com mais de dez dentes da criatura humana. O laudo médico é conclusivo; a morte foi por tóxico. Dois meses depois, o narrador volta ao Largo da Palma. A visão humanizada do largo cuja memória não abarca todos os acontecimentos, talvez tenha esquecido a mulher sem nome. O narrador se aproxima de “A Casa dos Pãezinhos de Queijo”, o ar tem o perfume de trigo, misturado com o incenso que vem da igreja. Ao falar com o inspetor fica sabendo que não identificaram a mulher, o corpo com tóxico em todos os poros, o mistério dos dentes guardados nunca foi desvendado, só há conhecimento de que eles pertenciam a ela mesma. Agora, à noite, o narrador vê os gatos, que na madrugada se tornam os donos do largo porque os homens e os pombos estão dormindo. E sobre a mulher: “A morte não a matou, porque morreu fora do corpo. E, por isso, não morreu no Largo da Palma”. A presença dos gatos, simbolicamente, relacionado com o mistério da vida e da morte, segundo a tradição oriental, está encarregado de transportar as almas para o outro mundo.
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16. Esta narrativa está localizada temporalmente. Através de um cego, a história da revolução dos alfaiates é contada numa perspectiva de pessoas que assistiram ao enforcamento dos revolucionários acusados. O ceguinho do Largo da Palma, como era chamado, sentiu que o largo estava vazio, que a igreja tinha poucos fiéis e todos saíram apressados. Ficou sabendo que era o dia dos enforcados. Como não recebe nenhuma esmola, vai para a Piedade, mas antes pára na birosca do Valentim. É o Valentim que vai narrar o enforcamento para o ceguinho, ele que tinha uma voz de sermão, hoje fala baixo, tem medo fruto das prisões e das torturas. A cidade traz a marca da tragédia: — A cidade parece triste. — A Bahia nunca foi alegre — Valentim, abaixando a voz disse por sua vez. — Uma cidade com escravos é sempre triste. É muito triste mesmo. Quando os quatro condenados estão chegando, a multidão se agita. O cego tudo tomava conhecimento pela voz de Valentim, voz emocionada, afinal era ele quem via. Enredo
17. Quando a morte do último condenado aconteceu Valentim sumiu, deixando o ceguinho só, tão só, apenas com o porrete na mão. Andou até reconhecer o Largo da Palma. Tudo o que queria era seu canto do pátio da igreja. “ E ao aproximar-se, ao sentir o cheiro de incenso, pensou que naquele momento já cortavam as cabeças e as mãos dos enforcados. Colocadas em exposição, no Cruzeiro de São Francisco ou na Rua Direita do Palácio, até que ficassem os ossos. O Largo da Palma, porque sem povo e movimento, seria poupado. Ajoelhou-se, então, pondo as mãos na porta da Igreja.” E, única vez em toda a vida, agradeceu à Santa Palma ter ficado cego.
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19. Esta narrativa faz referência ao período da peste bubônica na Bahia. Nesse período era proibido terreno baldio. As casas e os sobradinhos foram se erguendo ao redor da igreja, tão antiga. “O sino da igreja, aqui na Palma, anuncia finados dia e noite. Maior que a peste, de verdade, só o medo”. Se o terreno estava barato, a construção era cara porque naqueles dias o rei acabou com a escravidão. Um negociante português construiu uma casa no terreno baldio próximo à igreja: uma casa comum, pequena, baixa. Quem a comprou foi Cícero Amaro, um garimpeiro de Jacobina. A narrativa descreve o temperamento folgado de Cícero, a vida dura de sua mulher Zefa, até o dia em que ele achou um brilhante do tamanho do caroço de uma azeitona. Vendeu e veio com a Zefa para a capital. Aqui comprou a casa do português, comprou uma quitanda para a Zefa e foi para a ladeira de Montanha, todo caprichado em busca de uma aventura. Lá encontra Flor que tira dele tudo que pode e lhe dá o fora. Quando está empobrecido, volta para Zefa que não o quer mais. Acha que é uma grande ingratidão, mas pensa em arrumar algum dinheiro para voltar a Jacobina e retornar à sua vida de garimpeiro. Enredo