ANDRADE, E.& BROLLO, M.J. 2015. Perigos e riscos geológicos em Campos do Jordão (SP): diagnóstico em 2014. In: ABGE, Simp. Bras. Cartografia Geotécnica, 9, Cuiabá-MT, 20 a 25 de março de 2015, Anais..., CD-ROM. ISBN 978-85-7270-066-5.
RESUMO
Este trabalho refere-se ao mapeamento das áreas de risco associados a escorregamentos, inundações, erosão e solapamento de margens de drenagens do Município de Campos do Jordão (SP), em diagnóstico finalizado em 2014. Promovido pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, da Casa Militar do Estado de São Paulo e executado pelo Instituto Geológico com o propósito de atualizar a avaliação de riscos no município, abrangendo perigos até então não estudados, como o de inundação.
Em síntese foram identificadas 40 áreas alvo para estudos de detalhe, com a identificação das situações de risco, com graus diferenciados quanto à probabilidade de ocorrência, à tipologia dos processos geodinâmicos envolvidos e à severidade dos potenciais eventos. Os estudos resultaram na delimitação de 175 setores de risco (17% em risco muito alto, 26% em risco alto, 38% em risco médio e 19% em risco baixo), compreendendo 3.985 moradias em risco (com estimativa de 15.940 moradores) e estendendo-se por aproximadamente 5% da mancha urbana do município. Ou seja, cerca de 33% da população do município encontra-se em áreas de risco, sendo que 2,6% situam-se em setores de risco de escorregamento com grau muito alto.
Assim, o mapeamento de áreas de riscos, de posse do poder público municipal, passa a ser importante instrumento de controle e redução do risco de Campos do Jordão, devendo passar por atualização constante pela prefeitura municipal, principal agente no adequado uso e ocupação do território.
ABSTRACT
This paper refers to risk mapping of landslides, floods, erosions processes on Campos do Jordão County (SP). Finalized in 2014, this task was sponsored by Civil Defence Cordenadory of the Military House of the São Paulo State Government, and executed by the Geological Institute in order to update the existent risk evaluations on the studied municipality covering some kinds of hazards never had studied before, such as flood hazard.
It where identified 40 areas for later detailed studies by risk conditions reconnaissance. The studies resulted in 175 risk sectors (17% at very high risk, 26% at high risk, 38% at medium risk, and 19% at low risk), comprising 3,985 houses at risk (15,940 estimated population), and spreading through approximately 5% of the County´s urban sprawl. That means, about 33% of municipality population lives at risk zones, wherein 2,6% lives at sectors classified as very high landslinding risk.
Thus, the risk mapping must be considered an important instrument for control and risk reduction on municipality´s territory and should be appropriated proceed its constant update by the local government.
PERIGOS E RISCOS GEOLÓGICOS EM CAMPOS DO JORDÃO (SP) : DIAGNÓSTICO EM 2014 - Painel
1. Introdução
O município paulista de Campos do Jordão (Figura 1)
apresenta um histórico significativo de acidentes de
natureza geodinâmica, com destaque para três grandes
eventos, ocorridos em 1972, 1991 e 2000.
No período de 1999 a 2013, dados da Defesa Civil
Estadual indicaram 38 ocorrências com acionamento deste
órgão, em sua maioria associadas a eventos de
deslizamentos, muitas das quais recorrentes em
determinados locais (IG 2014)1
. Pesquisa realizada em
jornais da região permitiu a identificação de 97 registros
relacionados a diferentes tipos de eventos ocorridos nos
últimos 14 anos:
- 51 sobre deslizamentos;
- 32 relativos a enchentes/inundações/alagamentos;
- 13 envolvendo venda-vais e temporais; e
- 1 registro sobre sub-sidência/afundamento.
Com o objetivo de fornecer subsídios técnicos
essenciais para a gestão de riscos no Município, foi
elaborado um abrangente estudo envolvendo todo o seu
território e contemplando a avaliação de quatro tipos de
perigos e riscos geológicos: escorregamentos, inundação,
erosão e solapamento de margens (IG 2014). Alguns
resultados deste estudo são aqui sinteticamente
apresentados, enfocando a avaliação de áreas de risco em
escala de detalhe e sua aplicabilidade na gestão de riscos.
Materiais e Métodos
Agradecimentos
O mapeamento de risco, por meio da análise das características do meio físico e do uso e
ocupação territoriais, visa a delimitação de setores conforme a criticidade de cada situação de risco
identificada, configurando-se no suporte mínimo para as soluções de gerenciamento, prevenção,
monitoramento, mitigação e redução dos riscos. Este trabalho adota como base conceitual e
metodológica para avaliação de risco e desastres a apresentada em UN-ISDR (2004, 2009) e
Tominaga et al (2009), onde: Risco = Perigo x Vulnerabilidade x Dano Potencial. Ou seja, no
processo de mapeamento e análise de risco estão envolvidas as etapas de avaliação dos perigos
potenciais e das condições de vulnerabilidade que podem potencializar a ocorrência de danos às
pessoas, bens e propriedades, meios de subsistência e ao meio ambiente dos quais a sociedade
depende.
Os autores agradecem aos colegas do Instituto Geológico, à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil
(CEDEC) e à Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Campos do Jordão.
ÁREAS ALVO PARA ESTUDOS DE DETALHE
MAPEAMENTO de Risco na escala LOCAL
OBTENÇÃO DE ATRIBUTOS RELACIONADOS AO PERIGO,
À VULNERABILIDADE, AO DANO POTENCIAL
MODELAGEM, SETORIZAÇÃO E ANÁLISE DE RISCO
MAPAS DE ÁREAS DE RISCO DE ESCORREGAMENTO,
INUNDAÇÃO, EROSÃO E SOLAPAMENTO DE
MARGENS
MAPEAMENTO de Risco na escala REGIONAL
DEFINIÇÃO DE UNIDADES TERRITORIAIS BÁSICAS
(UTB)
DEFINIÇÃO/OBTENÇÃO DE ATRIBUTOS E SELEÇÃO DE
FATORES DE ANÁLISE DOS PROCESSOS
MODELAGEM E CÁLCULO DAS VARIÁVEIS
DE RISCO
MAPAS DE PERIGOS MAPA DE VULNERABILIDADE MAPA DE DANO POTENCIAL
MAPAS DE RISCO DE ESCORREGAMENTO, INUNDAÇÃO, EROSÃO, COLAPSO E SUBSIDÊNCIA DE SOLOS
CARTOGRAFIA DE RISCO
INVENTÁRIO DE INFORMAÇÕES E DADOS SOBRE EVENTOS E ACIDENTES
- Levantamento em banco de dados da Defesa Civil Municipal e Estadual e notícias veiculadas na mídia impressa e
eletrônica; - Pesquisa bibliográfica; - Interpretação de imagens de sensoriamento remoto
Figura 2. Estrutura metodológica para análise de riscos adotada pelo
Instituto Geológico.
O estudo envolveu as
seguintes etapas metodológicas,
detalhadas em IG (2014) (Figura 2):
1
1. Instituto Geológico - SMA. 2014e. Mapeamento de riscos associados a escorregamentos, inundações, erosão e solapamento de
margens de drenagens - Município de Campos do Jordão, SP. Relatório Técnico / Eduardo de Andrade (Coordenação). – São Paulo :
IG/SMA, 2014. 3 vol. ISBN 978-85-87235-21-3. Disponível em http://www.sidec.sp.gov.br/producao/map_risco/
Figura 1. Localização do Município de
Campos do Jordão – SP. Possui área de 290
km2 e está situado na Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos da Serra
da Mantiqueira (UGRHI-1), a uma altitude de
1.628 metros. População de 48.497
habitantes (SEADE 2013) e densidade
populacional é de 167,2 hab/km2, sendo que
99,38% da população de Campos do Jordão
situam-se em zona considerada urbana .
Figura 3. Distribuição dos 175 setores de risco identificados e caracterizados
no Mapeamento de Áreas de Risco em Campos do Jordão (SP). No detalhe
de uma das áreas de risco (à esquerda), exemplo de setorização de risco de
escorregamento e de perigo (área hachurada) e risco de inundação .
Eduardo de Andrade* - eduardo@igeologico.sp.gov.br; Maria José Brollo* - mjbrollo@igeologico.sp.gov.br
* INSTITUTO GEOLÓGICO – SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. www.igeologico.sp.gov.br
PERIGOS E RISCOS GEOLÓGICOS EM CAMPOS DO
JORDÃO (SP) : DIAGNÓSTICO EM 2014
Resultados e Discussão
Após terem sido definidas 40 áreas alvo para estudos de detalhe (levantamentos de campo,
classificação e setorização em escala 1:3000), os trabalhos resultaram no Mapa de Áreas de Risco
de Campos do Jordão, com a delimitação de 175 setores de risco (17% em risco muito alto, 26% em
risco alto, 38% em risco médio e 19% em risco baixo), compreendendo 3.985 moradias em risco
(com estimativa de 15.940 moradores) que perfazem aproximadamente 5% da mancha urbana do
município. Ou seja, cerca de 33% da população do município encontra-se em áreas de risco,
sendo que 2,6% situam-se em setores de risco de escorregamento com grau muito alto. Estes
resultados estão sintetizados no Quadro 1, Gráficos 1 e 2 e representados no Mapa de Áreas de
Risco e no Mapa de Perigo de Inundação (Figura 3). Alguns exemplos da localização e das
características das ocupações e podem ser observadas nas Fotos 1, 2 e 3.
Quadro 1. Síntese do resultado do Mapeamento de Áreas de Risco em Campos do Jordão. Agrupamento dos setores de
risco conforme tipo de processo e a classificação de risco, apresentando a identificação dos elementos em risco.
SETORES E ELEMENTOS EM RISCO X PROCESSO ANALISADO
R1 - risco baixo R2 - risco médio R3 - risco alto R4 - risco muito alto TOTAL
PROCESSOASSOCIADOAORISCO
ESCORREGAMENTOS
15 setores
(465 moradias)
50 setores
(981 moradias)
33 setores
(801 moradias; 1 grande
equipamento (escola pública); 32
estab. comerciais)
24 setores
(1288 moradias)
122 Setores (70%)
(3535 moradias; 1 grande
equipamento (escola pública); 32
estab. comerciais)
INUNDAÇÃO
18 setores
(92 moradias; 21 estab.
comerciais; 2 grandes
equipamentos; 2758m de vias
pavimentadas; 90m de vias sem
pavimentação)
17 setores
(158 moradias; 3 chalés de uma
pousada; 28 estab. comerciais; 3
grandes equipamentos (galpão;
clube; vila do artesanato);
2330m de vias pavimentadas;
170m de vias sem
pavimentação)
12 setores
(106 moradias; 1 chalé de uma
pousada; 1 hotel; 11 estab
comerciais; 685m de vias
pavimentadas; 115m de vias sem
pavimentação)
4 setores
(33 moradias; 115m de vias sem
pavimentação)
51 setores (29%)
(389 moradias; 4 chalés de uma
pousada; 1 hotel; 60 estab.
comerciais; 5 grandes equipamentos;
5773m de vias pavimentadas;490m de
vias sem pavimentação)
EROSÃO - - -
1 setor
(10 moradias)
1 setor (0,5%)
(10 moradias)
SOLAPAMENTO DE MARGEM
1 setor
(51 moradias)
- - -
1 setor (0,5%)
(51 moradias)
TOTAL
34 setores (19%)
(608 moradias; 21 estab.
comerciais; 2 grandes
equipamentos; 2758m de vias
pavimentadas; 90m de vias sem
pavimentação)
67 setores (38%)
(1139 moradias; 3 chalés de
uma pousada; 28 estab.
comerciais; 3 grandes
equipamentos (galpão; clube;
vila do artesanato); 2330m de
vias pavimentadas; 170m de
vias sem pavimentação)
45 setores (26%)
(907 moradias; 1 chalé de uma
pousada; 1 hotel; 43 estab.
comerciais; 1 grande equipamento
(escola pública); 685m de vias
pavimentadas; 115m de vias sem
pavimentação)
29 setores (17%)
(1331 moradias; 115m de vias sem
pavimentação)
175 setores
(3985 moradias; 4 chalés de uma
pousada; 1 hotel; 92 estab.
comerciais; 6 grandes equipamentos;
5773m de vias pavimentadas;490m de
vias sem pavimentação)
Conclusões
O desenvolvimento urbano desordenado tem como uma de suas consequências o aumento dos
níveis de risco de desastres naturais, principalmente quanto à ocorrência de escorregamentos e
inundações. O instrumento para o planejamento urbano mais utilizado é o Plano Diretor ou Plano de
Ordenamento Territorial, que indica o que pode ser realizado em cada área do município, orientando
as prioridades de investimentos e os instrumentos urbanísticos que devem ser implementados, tendo
como base a carta geotécnica e o mapeamento de áreas de risco.
Assim, o mapeamento de áreas de risco em escala local, munido de propostas estruturais, não
estruturais e preventivas de cunho geral, constitui instrumento fundamental para o gerenciamento
das situações de risco por parte do Poder Público. Os resultados deste estudo permitem ao Governo
Municipal, principal agente na promoção do adequado uso e ocupação do território, dar continuidade
ao gerenciamento de riscos que já vem sendo empreendido, por meio de aprimoramento e
atualização constante, com o propósito de mitigar o risco e evitar a ocupação de áreas inadequadas.
Foto 3. Vista geral do morro do Britador e da Vila
Ferraz, situada no vale formado pelo Rio Capivari,
ambos locais sujeitos a movimentos gravitacionais de
massa e a enchentes/inundações, respectivamente.
a) Inventário de dados e informações sobre
eventos e acidentes em áreas de risco;
b) Definição de unidades de análise (áreas-
alvo);
c) Pré-setorização e obtenção dos atributos
de análise;
d) Modelagem, setorização e análise de
risco;
e) Indicação de recomendações técnicas
gerais;
f) Produção de cartografia de risco em
escala local, alimentação e utilização do
SGI-RISCOS-IG (Sistema Gerenciador de
Informações de Risco do Instituto
Geológico).
15
(8,6%)
50
(28,6%)
33
(18,9%)
24
(13,7%)
18 (10,3%)
17 (9,7%)
1 (0,6%)
4 (2,3%)
51 (29,1%)
12 (6,9%)
1 (0,6%)
122 (69,7%)
TIPO DE PROCESSO (Totalização)
1 (0,6%) 1 (0,6%) 389 (9,8%)3535 (88,7%)
TIPO DE PROCESSO (Totalização)
10 (0,3%) 51 (1,2%)
981
(24,6%)
801
(20,1%)
92 (2,3%)
158 (4,0%)
106(2,7%)
33 (0,8%)
1288
(32,3%)
465
(11,7%) 10 (0,3%) 51 (1,2%)
Gráfico 1. Distribuição dos 175 setores de risco
mapeados no Município de Campos do Jordão segundo
tipo de processo e grau de risco.
Gráfico 2. Distribuição das 3985 moradias presentes nos
setores de risco mapeados no Município de Campos do
Jordão segundo tipo de processo e grau de risco.
Foto 2. Ocupação em
setor de risco muito alto
(R4) de deslizamentos.
Foto 1. Ocupação localizada na Área 40 –
Abernéssia, junto aos taludes de margem do
Rio Capivari, em trecho sujeito a enchentes e
inundações.
ÁREA 18 – VILA ALBERTINA