O documento discute a importância de cuidar e educar na educação infantil de forma integrada, respeitando as características e necessidades individuais de cada criança. Defende que a instituição infantil deve proporcionar um ambiente onde a criança possa desfrutar da infância com seus direitos respeitados, ao invés de ser vista apenas como um local assistencialista. Também ressalta que cuidar e educar devem acontecer de forma simultânea e indissociável para construir a identidade e autonomia da criança.
1. O EDUCAR E O CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Quando se propõe a trabalhar com crianças bem pequenas, deve-se ter como
princípio, conhecer seus interesses e necessidades. Isso significa saber
verdadeiramente quem são, saber um pouco da história de cada uma,
conhecer a família, as características de sua faixa etária e a fase de
desenvolvimento em que se encontra, além de considerar o tempo que
permanecem na escola. Só assim pode-se compreender quais são as reais
possibilidades dessas crianças, lembrando que, para elas, a classe inicial é a
porta de entrada para uma vida social mais ampla longe do ambiente familiar.
Antigamente, a escola de educação infantil tinha uma conotação assistencial,
onde as crianças ali passassem o dia todo e seus pais pudessem trabalhar. As
monitoras
passavam os dias olhando as crianças brincarem e era o professor quem ficava
com o desenvolvimento intelectual planejado (quando havia planejamento).
Nesse período, os papéis dentro da instituição infantil eram bem claros: um
cuidava e o outro educava. Para o leigo em educação infantil pode soar estranho,
ouvir que a instituição infantil é um direito da criança, como um espaço que ela
sente prazer em freqüentar. Quem pensa assim vê esse ambiente como tendo
mero caráter assistencialista, no qual apenas o cuidar é focalizado; considera a
instituição infantil freqüentada apenas por crianças que foram deixadas lá pela
família. Tal visão deve ser superada porque se revela preconceituosa e sem
fundamentação diante da realidade em que se encontra e que, cada vez, mais se
procura trilhar, que é a de garantir espaço para que a criança possa ter os seus
direitos respeitados e, entre eles, o de viver a infância.
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de consciência, estabelecendo
uma visão integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções
que respeitem a diversidade, o momento e a realidade peculiares à infância.
Desta forma, o educador deve estar em permanente estado de observação e
vigilância para que não transforme as ações em rotinas mecanizadas, guiadas
por regras. Consciência é a ferramenta de sua prática, que embasa teoricamente,
inova tanto a ação quanto à própria teoria. Cuidar e educar implica reconhecer
que o desenvolvimento, a construção dos saberes, a constituição do ser não
ocorre em momentos e compartimentados. A criança é um ser completo, tendo
sua interação social e construção como ser humano permanentemente
estabelecido em tempo integral. Cuidar e educar significa compreender que o
espaço/tempo em que a criança vive exige seu esforço particular e a mediação
dos adultos como forma de proporcionar ambientes que estimulem a curiosidade
com consciência e responsabilidade.
Cuidar e educar caminham simultaneamente e de maneira indissociável,
possibilitando que ambas as ações construam na totalidade, a identidade e a
autonomia da criança.
2. Afinal, quem cuida? Quem educa?
Torna-se necessária uma parceria de todos para o bem-estar do educando.
Cuidar e educar envolve estudo, dedicação, cooperação, cumplicidade e,
principalmente, amor de todos os responsáveis pelo processo, que se mostra
dinâmico e em constante evolução.
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Fonte: http://www.icpg.com.br/artigos/rev03-07.pdf