João e Maria são duas crianças ainda não nascidas, uma brasileira e outra iugoslava, que enfrentam desafios devido às circunstâncias de onde nascerão. João nascerá na pobreza no Brasil e terá poucas chances de ter sorte, enquanto Maria corre o risco de nascer durante bombardeios na Iugoslávia e ser a última vítima. Nem João nem Maria podem decidir quando nascerão ou sobreviverão aos riscos que enfrentam.
2. Sejamos melodramáticos. Sejamos primários e sejamos piegas. Imaginemos duas crianças. João e Maria. O João brasileiro, a Maria iugoslava. Os dois ainda não nasceram. O João ainda não foi nem concebido. É uma hipótese, não é nem um feto. A Maria está para nascer.
3. Não importa muito de onde o João vai ser, se do Nordeste ou ali da esquina. Ele vai nascer no grande estado brasileiro da Miséria, o maior estado da federação. Não importa muito de que classe ou de que etnia seja Maria. Ela vai nascer numa periferia dos erros da Otan.
4. Os dois não sabem, mas estão envolvidos numa luta pela sorte e contra o tempo. A luta pela sorte, o João já vai nascer perdendo. Na Miséria só nasce gente sem sorte, com poucas possibilidades de tê-la. A Maria tem mais chances de ter sorte, ou mais sorte de ter chances, do que o João.
5. Se escapar da bomba perdida, vai receber ajuda de todo o mundo. Mas o inimigo dos dois é o tempo. Os dois ainda não estão nem respirando e já estão correndo contra o tempo. Se o João for esperto ou se, por sorte, tiver sorte, não nasce agora. Espera para nascer quando tivermos, como é que eles dizem?
6. Um desenvolvimento sustentado com produtividade e estabilidade, depois das reformas, depois do bolo crescido para ser dividido, depois do mercado dar certo. Enfim, depois. Aquele estranho dia que nunca chega, pois quando chega vira agora, e depois fica para depois. Se nascer antes de depois e sobreviver à maternidade superlotada, ao SUS, às doenças endêmicas da Miséria, ao extermínio, às guerras de gangues
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8. A Maria só precisa esperar que as negociações dêem certo e os bombardeios acabem para nascer sem o risco de ser, quem sabe, a última vítima da última bomba errada. Um dia a mais, um dia a menos de bombardeios: a vida de Maria pode depender dessa tênue diferença de uma noite. Mas a decisão também não é dela.
9. FORMATAÇÃO: Mima (Wilma) Badan [email_address] MÚSICA: What child is this (Repasse com os devidos créditos) BLOG: www.mimabadan.blogspot.com OUTROS PPSs em: www.slideshare.net/mimabadan