O documento discute a cibercultura e seus desafios para a educação, definindo a cibercultura como um conjunto sociotécnico impulsionado pela comunicação em rede. Apresenta três princípios da cibercultura: liberação da emissão, conexão generalizada e reconfiguração social. Argumenta que a educação precisa se adaptar a esta nova realidade, incorporando a dinâmica comunicacional colaborativa e a construção distribuída de conhecimento.
3. CIBERCULTURA representa um “conjunto tecnocultural
impulsionado pela sociabilidade pós-moderna em
sinergia com a microinformática e o surgimento das
redes telemáticas mundiais”.
Lemos e Lévy (2010, pág. 21)
4. Para Eugênio Trivinho
“... a noção de cibercultura nomeia a fase contemporânea
da civilização tecnológica. Abrange, como bloco social-
histórico, o estirão mais avançado da mundialização do
capital, fincada nas tecnologias do virtual e em redes
interativas”.
(Trivinho 2007, pág. 217)
5. Pierre Lévy diz que o termo cibercultura “especifica o
conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas,
de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o desenvolvimento do
ciberespaço”.
(Lévy, 1999, pág. 17)
6. Fica assim subjacente que a CIBERCULTURA emerge da
conjunção e recursão entre as formas de sociabilidade
pós-moderna e o desenvolvimento tecnológico que
caracterizou a segunda metade do século XX de onde
emergiu uma nova forma sociocultural que “revolucionou”
hábitos sociais, práticas de consumo cultural, ritmos de
produção e distribuição de informação que resultaram em
novas relações no trabalho e no lazer, novas formas de
sociabilidade e de comunicação e, até mesmo, novas
relações com o saber, tendo como suporte o
ciberespaço.
7. Para Lévy, o ciberespaço define-se como “o espaço de
comunicação aberto pela interconexão mundial dos
computadores e das memórias dos computadores”. O
termo refere-se “não apenas à infra-estrutura material
da comunicação digital, mas também ao universo
oceânico de informações que ele abriga, assim como
os seres humanos que navegam e alimentam esse
universo” .
(Lévy, 1999, pág. 111)
8. Lemos nos alerta para o fato de toda a economia, a
cultura, o saber, a política do século XXI estar passando
por um processo de negociação, distorção, apropriação a
partir da nova dimensão espaço-temporal de
comunicação e informação planetárias que é o
ciberespaço”.
(Lemos, 2002, pág.127)
9. A CIBERCULTURA traz consigo uma reconfiguração
da paisagem comunicacional onde a comunicação
unidirecional, massificadora corporizada pelos media
de massa como a imprensa e rádio e que encontrou na
televisão sua máxima sofisticação rivaliza agora com a
comunicação dialógica, onde a circulação de
informações não é mais hierarquizada.
10. Por isso Lemos ressalta que é importante considerar as
novas tecnologias de informação em função da
comunicação bidirecional entre grupos e indivíduos,
escapando da difusão centralizada da informação
massiva pois daí decorre a ampliação do espaço de
conversação mundial como o demonstra a expansão de
sistemas e ferramentas de comunicação como blogs,
wikis, podcasting, softwares sociais.
(Lemos, 2002)
11. Lemos e Lévy evocam três princípios básicos da
cibercultura que emergem em decorrência desta
configuração:
• Liberação da emissão
• Conexão generalizada
• Reconfiguração social, cultural, econômica e política.
Estes princípios vão nortear os processos de “evolução
cultural” contemporâneos. Sob o prisma de uma
fenomenologia do social, esse tripé (emissão, conexão,
reconfiguração) tem como corolário a mudança social na
vivência do espaço e do tempo.
(Lemos e Levy, 2010, pág. 45)
12. Uma das características marcantes desta nova pragmática
comunicacional não hierarquizada é a liberação do pólo de
emissão que retira do receptor o caráter passivo e o torna
sujeito ativo e cocriador.
O princípio da liberação do pólo da emissão se constitui na
LIBERAÇÃO DA PALAVRA em seu sentido mais amplo:
sons, imagens, textos, produzidos e distribuídos livremente,
fruto da paisagem comunicacional contemporânea
propiciada pelas novas mídias e suas funções pós-
massivas.
(Lemos e Lévy, 2010, pág. 87)
13. Assim a liberação da emissão, a conexão planetária e a
conseqüente reconfiguração social, política e cultural
emergem da nova potência da liberação da palavra
que as tecnologias digitais possibilitam, servindo para
recombinar e criar processos de inteligência, de
aprendizagem e de produção coletivos e
participativos.
(Lemos e Lévy, 2010, pág. 46)
14. A inteligência coletiva é um dos principais motores da
CIBERCULTURA e, o ciberespaço é assim um dos
instrumentos privilegiados da inteligência coletiva e, como
seu suporte, esta se torna uma das principais condições
do seu desenvolvimento, havendo aqui um processo de
retroação positiva, fenômeno complexo e ambivalente que
resulta na automanutenção da revolução das redes
digitais.
(Lévy, 1999)
15. Quanto mais os processos de inteligência coletiva se
desenvolvem – o que pressupõe, obviamente, o
questionamento de diversos poderes - melhor é a
apropriação, por indivíduos e por grupos, das
alterações técnicas, e menores são os efeitos de
exclusão ou de destruição humana resultantes da
aceleração do movimento tecno-social.
(Lévy, 1999, pág. 28)
16. Levantam-se aqui grandes desafios à EDUCAÇÃO.
Por exemplo, Marco Silva considera infoanalfabeto ou
excluído digital não meramente aquele que não tem
acesso ao computador e à Internet, “mas aquele que
não sabe operá-los para se posicionar criticamente no
espaço e no ciberespaço” ou seja quem apenas divulga
fragmentos do seu cotidiano no twitter, Facebook e
Orkut, envia e-mails e sua declaração de imposto de
renda, não é necessariamente alfabetizado ou incluído
digital.
(Silva, M., entrevista concedida à Cristiane Parente e Wendel Freire
Programa Jornal e Educação)
17. Os desafios da educação, porém, vão muito além, pois
ela deve ajudar o sujeito a construir uma consciência
cidadã, consciência crítica que o engaja no ideal de
construção de um mundo melhor.
Para tal a escola deve habilitá-lo a “aprender a
aprender” condição necessária para que possa dar
conta do ecossistema caótico de informações no qual se
insere, filtrando o necessário para construir
conhecimento.
18. É evidente que a escola centrada na lógica da distribuição,
na qual teima em persistir, não é capaz de aportar ao sujeito
esta educação que o nosso tempo reivindica pelo que é
necessário modificar este modelo, potencializando
efetivamente as bases da comunicação livre.
“No lugar da pedagogia da transmissão baseada em lições-
padrão e no falar-ditar do mestre, ele precisará propor a
construção de conhecimento, em uma arena presencial ou
online, baseada em iniciativas capazes de garantir a
materialidade da comunicação efetiva”.
(Silva, M. entrevista Programa Jornal e Educação)
19. Os alunos de hoje “nativos digitais” ou “geração net” já
lidam facilmente com o hipertexto e com a experiência
comunicacional que lhe permite interferir, modificar,
produzir, partilhar e colaborar. Evitam acompanhar
argumentos lineares que não permitem a sua
interferência e essa sua atitude menos passiva diante da
mensagem é sua exigência de uma sala de aula
sustentada em nova postura comunicacional do
professor.
20. É necessário reconfigurar a sala de aula de modo a
incorporar a dinâmica comunicacional que o novo
contexto sócio-técnico propicia e que contempla a
liberação da palavra.
Este desafio não diz respeito apenas ao professor
pois deste jeito ele não progredirá muito nessa tarefa
se apenas sua sala de aula configurar-se de modo
interativo, enquanto toda a escola se mantém
aferrada à lógica da distribuição.
21. O desafio se estende, pois, para a educação em
geral, para as autoridades que atuam na gestão dos
sistemas gerais de ensino e para os responsáveis
pela gestão de cada unidade escolar.
22. Fica assim claro que o esforço no sentido da
reconfiguração da sala de aula, seja ela presencial ou
virtual, e o esforço tendente a fazer a educação se
apropriar deste modelo comunicacional deve engajar
não apenas alunos e professores, mas, também,
gestores e autoridades em educação.
23. Assim nesta mesa relataremos experiências com
alunos, professores e gestores em educação que
visam justamente redesenhar a educação em
tempos de cibercultura e liberação da palavra.