1) O documento descreve o início da Fé Bahá'í no Brasil, com foco nos primeiros pioneiros como Leonora Stirling Holsapple e Margot Worley.
2) Margot Worley ajudou a espalhar a Fé em Salvador e fundou um clube para jovens que resultou na conversão de vários membros.
3) A autora se converteu à Fé Bahá'í após assistir uma palestra na casa de Margot Worley e participar de um congresso em Santiago no Chile.
7. CONTEÚDO
Introdução
VII
LEONORA STIRLING HOLSAPPLE
1
MARGOT WORLEY
5
CARTA AO AMADO GUARDIÃO
13
AS PRIMEIRAS ASSEMBLÉIAS LOCAIS
19
EDITORA BAHÁ’Í DO BRASIL
23
ELEIÇÃO
25
DE
ASSEMBLÉIAS NACIONAIS
FALECIMENTO
ELEIÇÃO
DA
DO
AMADO GUARDIÃO
PRIMEIRA ASSEMBLÉIA ESPIRITUAL
NACIONAL
ELEIÇÃO
DA
29
DOS
BAHÁ’ÍS DO BRASIL
31
PRIMEIRA
CASA UNIVERSAL
DE JUSTIÇA
ASSEMBLÉIA ESPIRITUAL LOCAL
DE
NITERÓI, RIO DE JANEIRO
RUA VISCONDE
DE
38
PIRAJÁ, 48/301
41
44
"
8. Nota:
Os relatos deste trabalho foram tiradas de minhas
memórias e cartas pessoais, não constituindo dados
oficiais da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís
do Brasil. Tenho certeza de que historiadores irão, no
futuro, resgatar toda a trajetória da Fé Bahá’í no Brasil e
seu potentoso e árduo começo.
A Autora
"!
9. INTRODUÇÃO
Os amigos sempre me perguntavam como
me tornei bahá’í mas, uma em especial, a querida
Muriel Miessler, insistia muito para que eu
escrevesse algumas linhas contando a minha
história. Como nunca dispus de muito tempo e,
achava o fato irrelevante, fui deixando sempre
para depois. Em 1996 pediram-me para colaborar
com a publicação do livro Flores do Sagrado
Limiar, e então resolvi apelar para a memória e
escrevi um pouco sobre as circunstâncias que me
aproximaram do grupo bahá’í e de como eu me
tornei um deles. Fiz uma composição simples,
porém autêntica, que respondia as perguntas
daqueles amigos. Todavia, quando a publicação
ficou pronta pude constatar que o trabalho não
"!!
10. era o mesmo que eu escrevera. Havia sido
eliminado o início do texto, que correspondia a
1/3 da página inicial, e os freqüentes erros gráficos
modificaram completamente o sentido do texto,
comprometendo, portanto, a mensagem que era
proposta. Fiquei muito triste e decidi encerrar as
minhas pretensões literárias.
Mas ao completar 80 anos, recebi da nossa
Assembléia Espiritual Nacional, junto com as
felicitações, um pedido para que eu registrasse as
minhas memórias de maneira mais ampla, inclusive
as experiências que tive no campo da
administração; as viagens, congressos, convenções,
etc., dos quais sempre participei. Hoje, apesar do
tempo decorrido, numa tentativa de resgatar a
minha dívida com a nossa Assembléia Nacional,
estou reunindo novamente fatos ainda bem
presentes em minha memória, desde aquela
memorável data em que conheci a Fé Bahá’í em
Salvador. Consciente de que a Bahia foi o berço
da Fé Bahá’í no Brasil, e como participei
ativamente de sua Era Histórica, decidi oferecer
a minha pequena contribuição para aqueles amigos
que se interessam sobre a história da Fé em nosso
país.
"!!!
13. LEONORA STIRLING HOLSAPPLE
Esta extraordinária mulher foi a primeira
pioneira a pisar o solo brasileiro. Tendo chegado
ao Brasil em 1921, se estabeleceu em Salvador
durante alguns anos. A primeira Assembléia
Espiritual de Salvador foi eleita por aclamação em
1940, mas já havia um grupo bahá’í desde 1925.
Entretanto, quando me tornei bahá’í em 1948, ela
não vivia mais em Salvador, porém encontrei
muitos frutos do seu trabalho. Em seguida à minha
declaração, fui eleita para a Assembléia Local de
Salvador e convivi com aquelas pessoas que
Leonora havia ensinado e ainda participei com
várias delas das reuniões da Assembléia e demais
festas comemorativas. Lembro-me bem dos nomes
das pessoas que faziam parte deste grupo:
14. Dr. Fernando Nova
Roy Lee Worley
Hilda Santos
Zuleika Guimarães
Joselina Duarte (Jujú)
José Sacramento
Hortência Guimarães
Telésforo Santos
Maria Santos
Dona Antonia
Dr. Fernando Nova era médico,
reumatologista, muito conceituado em Salvador.
Roy Lee Worley, casado com Margot, era gerente
da Moore Mc Cormack Navegação e fez parte da
Assembléia Espiritual Local de Salvador por
muitos anos. Hilda Santos e Zuleika Guimarães
eram igualmente funcionárias da mesma empresa,
onde também trabalhei por algum tempo. Joselina
Duarte (Jujú) que foi ativa durante toda a vida,
era muito conhecida e querida por todos, pois, uma
de suas características era a de estar sempre pronta
para ajudar.
Alguns deles fizeram parte da nossa
Assembléia Espiritual Local durante muitos anos
e por isso tivemos uma convivência mais próxima
enquanto participei da Comunidade Bahá’í de
Salvador.
2
17. MARGOT WORLEY
Nascida no Brasil, de mãe francesa e pai
escocês, trouxe da Inglaterra o movimento
Bandeirante para as jovens de Salvador, do qual
fiz parte desde 1937. Foi quando tive
oportunidade de conhecê-la. Estávamos sempre
juntas participando de reuniões, chás e festas,
juntamente com as jovens da sociedade baiana.
As bandeirantes eram muito requisitadas para a
organização de chás beneficentes, festas e demais
eventos desta natureza. Ela havia conhecido a Fé
Bahá’í na sua juventude, através de Leonora
Armstrong, mas somente em 1940 se tornou bahá’í
nos Estados Unidos, onde encontrou vários bahá’ís,
inclusive May Maxwell, mãe de Amatu’l-Bahá
Rúhíyyih Khánum, esposa do Guardião, tendo
5
18. visitado o Templo em Wilmette, nos Estados
Unidos, ainda em construção. Ao retornar para o
Brasil encontrou os bahá’ís que Leonora havia
ensinado anteriormente em Salvador. May
Maxwell, com quem ela havia se encontrado e
conversado algumas vezes em Nova Iorque e no
Rio de Janeiro, quando da sua passagem para
Buenos Aires, onde faleceu, foi a sua grande
incentivadora para o trabalho da Fé e a grande
motivação de toda sua vida. Dotada de espírito
muito forte e inteligência brilhante, tinha uma
tenacidade rara. Empreendeu muitas viagens para
o ensino e venceu muitos obstáculos. Sua
capacidade de liderança foi logo sentida por todos;
razão pela qual foi tantas vezes eleita
coordenadora da Assembléia Nacional dos dez
países da América do Sul, depois dos cinco países,
quando o continente foi dividido para duas
Assembléias Nacionais e, posteriormente, para a
Assembléia Espiritual Nacional do Brasil, onde
serviu por muitos anos até 1954, quando foi
designada para servir como Membro do Corpo
Auxiliar para a Mão da Causa de Deus residente
no Brasil, dr. J. Khazéh, servindo nessa função até
o ano de 1963, período em que visitou todos os
países da América do Sul e as três Guianas. Sua
vida foi totalmente dedicada ao trabalho da Fé.
Fundou em sua residência um clube para jovens,
do qual fiz parte, e que foi a origem de vários
bahá’ís nesta Comunidade – Sergio Couto, Rolf
6
19. 4
Sr. Rafi e sra. Mildred Motahedah visitam Salvador, Bahia, em 1946.
Eles foram os portadores do tapete com o Maior Nome enviado pelo Guardião
21. Von Czekús, Edvaldo Andrade, Vivaldo Ramos,
Brian Gleig, Rivadávia da Silva e Paula Sales. E
além destes, seus três filhos: Anthony, Jeanne
Hazel e Anna Lee. Levou a Fé aos índios Kiriris,
na Bahia, com a participação dos jovens da
Comunidade de Salvador, e por fim fundou uma
escolinha para crianças na cidade de Lauro de
Freitas, Bahia, local em que residiu até os últimos
anos da sua vida.
Em 1947 assisti em sua casa a primeira
palestra sobre Bahá’u’lláh, proferida pelo dr.
Fernando Nova, membro da Assembléia Espiritual
Local dos Bahá’ís de Salvador. Lembro-me que a
palestra foi surpreendente. O assunto era
inteiramente novo e também palpitante. Fiz
muitas perguntas e, pelas respostas recebidas, ia
me sentindo muito envolvida e não foi difícil
naquele momento quase acreditar ter sido
Bahá’u’lláh o Mensageiro para o nosso tempo.
Estava vivendo um momento difícil. Minha família
era católica pelo lado materno e sempre vivi de
acordo com os princípios que me haviam ensinado
e, tranqüilamente, aceitava todas as regras ditadas
pela Igreja que ainda me satisfaziam; até que, já
passando da adolescência, comecei a questionar
certos procedimentos os quais, no meu entender,
não faziam mais sentido e, como nunca encontrei
argumentos nem respostas que esclarecessem as
minhas dúvidas, fui me afastando da Igreja. Mas
não estava feliz. Necessitava de algo que me
9
22. devolvesse a paz espiritual, o que só conseguimos
quando em harmonia com o Criador.
Foi justamente por esta época que assisti a
palestra na casa de Margot e dela recebi o convite
para acompanhá-la a Santiago, no Chile, onde ela
participaria do 2º. Congresso Bahá’í de Ensino Sulamericano, seguido de uma Escola de Verão. Achei
muito excitante a perspectiva de uma viagem ao
Chile, mas precisava da aprovação da família. Era
o ano de 1947 e naquela época uma jovem não
viajava sem aprovação dos familiares.
Ponderações feitas, a família concordou e lá fui
eu em busca do desconhecido, que seria, em
realidade, a mudança total da minha vida. E foi
em Santiago, assistindo as reuniões que ali se
realizavam, na companhia de muitos bahá’ís sulamericanos e alguns norte-americanos, num
ambiente de rara beleza e numa atmosfera de paz
e espiritualidade, que senti, pela primeira vez, a
emoção de encontrar a resposta aos meus anseios,
para os quais havia muito tempo andava buscando.
Havia no continente poucas Assembléias
Locais, mas quase todos os países estavam
representados. Estavam presentes delegados do
Peru, Bolívia, Argentina, Paraguai, Uruguai,
Colômbia e Brasil. Isto aconteceu em janeiro de
1948. Todos os delegados traziam uma mensagem
de seu país, e falavam com tanta segurança e
convicção sobre o assunto que me deixava
impressionada. Encantava-me conhecer tantas
10
23. pessoas que demonstravam tanto amor aos novos
amigos, como se já se fossem velhos conhecidos.
A harmonia que reinava naquela casa era tão
evidente que mais parecia a ante-sala do Paraíso.
Certa manhã, quando todos os delegados se
reuniram para dar início aos trabalhos, depois das
orações, e começamos a ouvir o delegado da
Colômbia – dr. Carlos Saul Hernandez – percebi
que algo estava me acontecendo. Comecei a chorar
e, para diminuir o vexame, levantei-me
sorrateiramente e fui até o quarto que estava
ocupando com Margot. Eu já soluçava quando
percebi que ela havia me seguido. Em silêncio,
entregou-me um livro de orações e saiu
silenciosamente do quarto. Recebi o livro, e ao
abri-lo, ao acaso, deparei-me com esta oração de
Bahá’u’lláh:
!
ria em mim um coração
puro,
ó meu Deus, e
renova uma consciência
tranqüila dentro de mim, ó minha
Esperança! Através do espírito do
poder, confirma-me em Tua Causa,
ó meu Bem Amado, e pela luz da Tua
glória revela-me Teu caminho, ó
Alvo do meu desejo! Através do
poder da Tua transcendente
grandeza, eleva-me ao céu da Tua
santidade, ó Origem do meu ser, e
11
24. com os sopros da Tua eternidade
alegra-me, ó Tu que és meu Deus!
Faze Tuas melodias imperecíveis
irradiarem sobre mim tranqüilidade,
ó meu companheiro, e as riquezas do
Teu semblante antigo me livrarem
de tudo, menos de Ti, ó meu Mestre,
e o anúncio da revelação da Tua
incorruptível Essência me trazer
júbilo, ó Tu que és o Mais Manifesto
dos Manifestos, o Mais Oculto dos
Ocultos!*
Esta oração, lida pela primeira vez naquele
momento, teve o efeito de um refrigério espiritual.
Todo o meu ser reagiu à força daquelas palavras, e
naquele exato momento não tive dúvidas de que
havia acontecido uma grande mudança em minha
vida. Meu espírito estava em festa e o que senti
era tão forte, que ainda hoje não consigo explicar
a maravilhosa sensação daquele momento: a
consciência da Fé e a certeza do reencontro.
Contive a emoção e ansiedade e retornei a
Salvador em seguida.
*Referência: Orações Bahá’ís; 10a Edição; p. 244.
12
25. CARTA
AO AMADO
GUARDIÃO
Durante os três meses que se seguiram,
dediquei-me ao estudo das Escrituras Bahá’ís, até
o momento em que senti estar preparada para
assumir compromisso de me declarar, o que
aconteceu em 09 de abril de 1948. Escrevi ao
Guardião contando-lhe ter abraçado a Causa e ele
me respondeu com uma carta cheia de palavras
de incentivo para dedicar-me ao ensino da Fé, o
que tenho feito ao longo de todos estes anos. A
seguir estão as duas cartas na integra:
13
31. AS PRIMEIRAS ASSEMBLÉIAS LOCAIS
Hoje, decorridos 56 anos, todos os dias da
minha vida são de louvores e gratidão a Deus pelo
meu renascimento espiritual. Naquela época, os
congressos eram organizados como Institutos para
o Ensino e as cartas do Guardião eram repletas de
estímulos, incentivos e orientações – elas eram os
únicos instrumentos disponíveis, já que só
tínhamos um livro em português: Bahá’u’lláh e a
Nova Era, de John Esslemont.
O Guardião estava muito atento a todos
os eventos e era ele quem traçava todos os planos
de ensino e os detalhava onde e como deveriam
ser realizados. Os congressos e as conferências de
ensino eram realizados regularmente em diversos
países da América do Sul. Assim, tivemos este tipo
19
32. de atividade na Argentina, Chile, Uruguai, Peru,
Brasil e de todos os países vinham os seus
delegados.
Em 1945 foi formada a Assembléia
Espiritual Local da cidade do Rio de Janeiro e no
ano seguinte a de São Paulo. Durante a Cruzada
de 10 Anos – de 1953 a 1963 – chegaram ao Brasil
muitos bahá’ís iranianos, que contribuíram
bastante para consolidação do trabalho de ensino
e também na abertura de novas localidades em
várias cidades do país e, conseqüentemente, na
formação de novas Assembléias Locais. O Rio de
Janeiro teve o privilégio de receber os primeiros
amigos iranianos. Era o ano de 1954 e estávamos
em reunião na sede local juntamente com alguns
dos membros daquela comunidade – Aureo
Cooper, Acrisio Lacerca, Helio Almeida, Maria
Martins e Regina Schwartz – quando subitamente
chegou o nosso querido e saudoso Habib
Taherzadeh com a família. Era a primeira família
bahá’í do Irã que chegava ao Brasil, para ajudar
no cumprimento das metas da Cruzada de Dez
Anos, que fora estabelecida pelo Guardião.
Logo em seguida chegaram as famílias
Sahihí, Soltani, Eghrari e muitas outras. Naquela
época, eu estava passando uma temporada no Rio,
cuja cidade era o porto de entrada dos imigrantes,
e tive o prazer de conviver com todos os amigos
iranianos que ali aportavam e que eram recebidos
naquela comunidade. Em consulta com a
20
33. Assembléia Local, e conforme as suas
conveniências de trabalho, eles iam se deslocando
para outros estados onde se tornavam pioneiros.
No Rio de Janeiro, só a família de Djalal Eghrari
fixou residência, a qual muito contribuiu não
somente para a consolidação do ensino, como
também na abertura de novas Assembléias Locais
e grupos na região.
21
35. EDITORA BAHÁ’Í
DO
BRASIL
Em 3 de maio de 1957, o Guardião, Shoghi
Effendi, escreveu: “A Editora Bahá’í a ser
estabelecida na capital do Brasil (Rio de Janeiro)
e constituindo um dos primeiros objetivos da
Cruzada de 10 Anos deverá ser rapidamente e
firmemente estabelecida.”
Djalal Eghrari fundou então, naquele
mesmo ano, a Editora Bahá’í do Brasil, da qual foi
gerente por 26 anos, até 1983, quando do seu
passamento.
23
36. 8
Dorothy Baker com os amigos bahá’ís do Brasil no IV Congresso Bahá’í LatinoAmericano de Ensino em Lima, Peru, 1950
37. ELEIÇÃO DE ASSEMBLÉIAS NACIONAIS
Em 1950, ocorreu o 4º Congresso Bahá’í
Sul-Americano, que teve lugar em Lima, Peru, o
qual teve características muito especiais. Podemos
afirmar que aquele foi um congresso preparatório
para a eleição da primeira Assembléia Nacional
do continente sul-americano, que se realizaria em
abril do ano seguinte. Naquela ocasião tivemos o
privilégio da presença da senhora Dorothy Baker,
então membro da Assembléia Nacional dos
Estados Unidos, a qual veio nos ajudar a preparar
o histórico acontecimento. Ela, que mais tarde
seria apontada pelo Guardião como “Mão da
Causa de Deus”, enriqueceu o evento com a sua
presença, que foi um privilégio para todos nós. Era
uma pessoa carismática e muito querida. Com a
25
38. sua experiência e sabedoria, conduziu os delegados
orientando-os passo a passo. Em 1951, então,
nasceria a primeira Assembléia Espiritual
Nacional para a América do Sul que abrangeria
os dez países do continente. Quando o Guardião
anunciou este plano, deu instruções para que fosse
realizado em Lima, Peru, e orientou que todos os
delegados presentes deveriam ficar hospedados no
mesmo local, onde seria realizada a Convenção.
Assim, uma linda recepção foi preparada e
oferecida aos delegados que chegavam ao Hotel
Crillon para a abertura daquela Convenção. Todos
nós estávamos muito alegres e felizes ao encontrar
os amigos e companheiros de reuniões anteriores.
O sr. Paul Haney e sra. Edna True, representaram
a Assembléia Nacional dos Estados Unidos e
vieram ajudar os delegados na condução dos
trabalhos da Convenção, já que era a primeira vez
que participávamos de um evento daquela
magnitude. E foi neste ambiente de alegria e
felicidade que se realizou a eleição da primeira
Assembléia Espiritual Nacional para o continente
sul-americano. Era um fato histórico para o mundo
bahá’í e estávamos muito felizes, pois tínhamos
consciência de que havia sido uma grande
conquista para a Causa de Deus, embora uma
grande responsabilidade pesasse nos ombros de
todos nós.
Durante a Convenção, recebemos do
amado Guardião os seguintes cabogramas:
26
39. 9
A Primeira Assembléia Espiritual Nacional da América do Sul, eleita em 1951,
com o sr. Paul Haney e a sra. Edna True
40. ! "#$%&'()* + ,-(./*! + )%0%('! 1+ 2"%'
23'()4! + 0%563%'! + (*0*! + 4$4%5*!
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*,;45%0*!7+ !:*2:%7
Aquela Assembléia Espiritual Nacional
teve a duração de cinco anos, até quando em 1956
foram eleitas duas Assembléias Espirituais
Nacionais para este continente, uma formada por
cinco países do sul – Chile, Argentina, Uruguai,
Paraguai e Bolívia – e a outra para os cinco países
do norte – Venezuela, Equador, Colômbia, Peru e
Brasil. E assim ficaram constituídas as duas
Assembléias Nacionais da América do Sul até o
ano de 1961, quando cada país elegeu sua própria
Assembléia Nacional.
Aquele período em que uma Assembléia
Espiritual Nacional era composta de vários países
foi uma fase muito difícil e de muito trabalho, mas
também uma oportunidade de treinamento para
todos nós. A extensão do continente sul-americano
é muito grande e os amigos tinham de se deslocar
constantemente a outros países para atender
situações de emergência, seja na área administrativa
ou mesmo para atender aos crentes individuais.
28
41. FALECIMENTO
DO AMADO
GUARDIÃO
Não posso deixar de mencionar a nuvem
de pesar que se abateu sobre o mundo bahá’í no
dia 4 de novembro de 1957 em que o nosso amado
Guardião passou para o Reino de Abhá. No início
tínhamos a sensação de que havíamos ficados
órfãos. Era uma situação de quase desespero, pois
sentíamos que sua vida era insubstituível.
Todavia, aos poucos fomos racionalizando a
situação e pudemos constatar que até parecia ele
previra este acontecimento de sua morte súbita –
pois, a nomeação feita por ele, das Mãos da Causa
de Deus, um pouco antes de seu passamento,
indicava que o mundo bahá’í teria dali em diante
um Corpo que o orientaria até a eleição da
primeira Casa Universal de Justiça, prevista para
29
42. o ano de 1963, o que foi confirmado pela
proclamação assinada pelas Mãos da Causa de
Deus, datada de 25 de novembro, e que reestabeleceu a tranqüilidade do mundo bahá’í e
principalmente das Assembléias Espirituais
Nacionais do mundo para continuarem em seu
trabalho.
30
43. ELEIÇÃO DA PRIMEIRA ASSEMBLÉIA
ESPIRITUAL NACIONAL DOS
BAHÁ’ÍS DO BRASIL
Finalmente, em 1961, com a presença do
dr. Ali Akbar Furutan, representando as Mãos da
Causa de Deus na Terra Santa, foi eleita a primeira
Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do
Brasil, durante a Convenção Nacional, ocorrida
na cidade do Rio de Janeiro, no amplo salão da
Associação Brasileira de Imprensa. Nos dias 21 e
22 de abril daquele ano, quando também
comemorávamos o festival do Ridván, teve início
a Pré-Convenção e nos dias seguintes, de 23 a 25,
teve lugar a Convenção propriamente dita. O sr.
Furutan fez uma linda palestra sobre a “Revelação
Progressiva” e depois leu a mensagem das Mãos
31
44. da Causa, enfatizando que, naquela data, também
estavam sendo eleitas 21 novas Assembléias
Espirituais Nacionais em vários países do mundo
e que elas seriam os pilares da futura Casa
Universal de Justiça.
Tivemos a oportunidade de ouvir algumas
lindas palestras por vários oradores, inclusive do
dr. Furutan, que nos brindou mais uma vez com a
sua sabedoria. Estiveram presentes à Convenção,
além dos delegados, bahá’ís de todo o Brasil,
muitos jovens e crianças. Concluída a votação,
foram eleitos os seguintes membros para a nossa
Assembléia Espiritual Nacional, que ficou assim
constituída:
Margot Worley
Habib Taherzadeh
Edmund Miessler
Rangvald Taetz
Nilza Taetz
Idelmir Lima
Mario Dantas
Vivaldo Ramos
Muriel Miessler
Quando as festividades foram encerradas,
a Assembléia Nacional teve a sua primeira reunião
ali mesmo para eleger os seus oficiais. A sra.
Margot Worley foi eleita a coordenadora daquela
Assembléia. Embora a sua extensão seja menor do
32
47. que a da América do Sul, o Brasil tem um vasto
território; portanto, a recém eleita Assembléia
teria um grande trabalho para estabelecer e
alcançar metas e difundir a mensagem de
Bahá’u’lláh em todo o país. Hoje, 44 anos
decorridos, quero registrar um preito de gratidão
especial para os membros da primeira Assembléia
Espiritual Nacional do Brasil, oito dos quais já no
Reino de Abhá, pelo dedicado trabalho que
fizeram durante os primeiros anos em prol da nossa
amada Fé.
Em 1962, quando também fui eleita
membro daquela instituição, e tive o privilégio
de servi-la por alguns anos, pude conviver com
aqueles dedicados e maravilhosos amigos, e
testemunhar o quilate do trabalho empreendido
por cada um deles e o quanto de sacrifício eles
foram capazes de enfrentar. As reuniões eram
agendadas nas cidades mais próximas de onde
residia a maioria dos membros. Assim, nos
reuníamos com freqüência em São Paulo, Curitiba
e Porto Alegre, sempre nos fins de semana.
Lembro-me que no inverno trabalhávamos com
pequenos aquecedores sob a mesa, pois alguns de
nós, acostumados com um clima mais quente, não
suportavam as baixas temperaturas de algumas
regiões. Mas, apesar das dificuldades, todos
demonstravam muita alegria, pois tínhamos
consciência de que estávamos cumprindo uma
meta divina e isto nos fazia muito felizes.
35
49. Naquela época, no início do ano de 1961,
eu trabalhava no Ministério da Fazenda de
Salvador e fui transferida para o Rio de Janeiro.
Em virtude da mudança da minha residência para
aquela cidade, tive que me desligar da
Comunidade Bahá’í de Salvador e também da sua
Assembléia Local, da qual fiz parte por 13 anos.
Ao residir no Rio de Janeiro, fui eleita para a sua
Assembléia Local, na qual atuei por 42 anos. Foi
uma experiência gratificante no trabalho da Fé, e
também de sucesso na minha carreira profissional.
Tive oportunidade de fazer muitas viagens a
serviço da Fé, de visitar muitas Comunidades
Bahá’ís e participar de muitos eventos que me
tornavam sempre um pouco melhor, não só do
ponto de vista espiritual como também no campo
profissional e humano.
37
50. ELEIÇÃO DA PRIMEIRA CASA
UNIVERSAL DE JUSTIÇA
Não preciso dizer quanto foi importante
este evento para todo o mundo bahá’i. Muitos
planos e muita expectativa viveram-se para a
eleição da primeira Casa Universal de Justiça em
1963. Esse Órgão seria eleito em Haifa, Israel,
pelos membros das Assembléias Espirituais
Nacionais do mundo inteiro e que foi seguido pelo
Congresso Mundial Bahá’i realizado em Londres,
Inglaterra. Os membros das Assembléias Nacionais
que não pudessem ir a Haifa teriam que enviar seus
votos pelo correio. Para isto todos os membros
receberam instruções e material para a votação.
Eu era membro da Assembléia Nacional do
Brasil e como não tive condições para esta viagem
38
51. ao Oriente, naquele momento elaborei meu voto
de acordo com as instruções recebidas e o remeti
pelo correio. Não foi fácil aquela decisão de não
estar presente na eleição da primeira Casa
Universal de Justiça, mas aceitei o fato com
serenidade e viajei para participar do Congresso
em Londres, que foi um pouco mais tarde.
39
53. ASSEMBLÉIA ESPIRITUAL LOCAL DE
NITERÓI, RIO DE JANEIRO
O amado Guardião, nas suas cartas, sempre
insistia que a cidade de Niterói, próxima ao Rio
de Janeiro, na outra margem da baia de
Guanabara, deveria ser aberta à Fé; por esta razão
aquela localidade foi incluída nas metas da
Assembléia Espiritual Local do Rio de Janeiro.
Havia uma família bahá’í em Niterói e então ao
chegar ao Rio me propus ajudar naquela meta.
Durante alguns anos, todos sábados, dediquei-me
ao ensino da Fé naquela cidade. Reuniamo-nos na
residência do dr. Mario Dantas*, e juntos tentamos
atrair as pessoas para a mensagem de Bahá’u’lláh.
Dr. Mário Dantas, paraense, advogado, cuja familia também era
bahá’í.
*
41
55. Assim foi formada a primeira Assembléia
Espiritual Local de Niterói, que teve pouca
duração, devido às freqüentes viagens de seus
membros. Com a chegada da pioneira sra. Paquita
Trujillo Lopes, espanhola, antes residente no
Paraguai, e que alí residiu por algum tempo, foi
possível a reeleição da segunda Assembléia
Espiritual Local. Niterói hoje tem uma sede
própria, uma Comunidade Bahá’í muito ativa, com
muitos jovens cantores, compositores e realiza
muitas atividades de ensino.
43
56. RUA VISCONDE
DE
PIRAJÁ, 48/301
Ao chegar ao Rio de Janeiro adquiri um
apartamento, onde residi até o ano de 2002 e ali
tive a oportunidade de receber inúmeros amigos
bahá’ís não só do Brasil, mas também de outras
partes do mundo. Era uma casa bahá’í e estava
sempre aberta para qualquer atividade espiritual.
Ali realizamos inúmeros ciclos de estudo, várias
palestras de bahá’is que visitavam a comunidade,
muitas reuniões da Assembléia Espiritual Local e
comemorações diversas. Mesmo uma celebração
especial, como a que realizávamos no Naw-Ruz,
era ali preparada e realizada com muito amor e
carinho, durante anos seguidos, onde estavam
sempre presentes muitos amigos e amigos dos
amigos.
44
57. Durante a ECO/92, quando também
recebemos vários amigos de outros estados, tive a
alegria de hospedar alguns deles, incluindo dois
Conselheiros, que ali se alojaram, completando a
alegria daquele lar.
Após 42 anos vividos no Rio de Janeiro, e
já com 88 anos de idade, decidi no ano passado
que era hora de retornar para Salvador, minha
primeira comunidade onde ainda tenho muitos
familiares. Ali reencontrei velhos companheiros,
com os quais me reúno todos os domingos, à tarde,
para reuniões devocionais, atendendo a meta da
Casa Universal de Justiça. Todavia, não posso
deixar de mencionar as vitórias conquistadas para
a nossa amada Fé durante os anos que passei no
Rio de Janeiro, o que me proporcionou uma maior
visão do mundo, não só no campo profissional
como também pelas conquistas que sempre
somaram ao meu crescimento espiritual. Viajei
muitas vezes para várias partes do mundo, e dentre
estas viagens algumas se destacaram, tendo em
vista o seu objetivo espiritual. Assim, tive
oportunidade de passar um mês em Macau,
colônia portuguesa na China, em missão da
Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do
Brasil e também no Panamá, para a comemoração
do Jubileu de Prata do Templo daquele país, e o
privilégio inestimável de visitar a Terra Santa por
várias vezes e fazer a minha peregrinação aos
Santuários Sagrados, inclusive participar da
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58. comemoração do Centenário do passamento de
Bahá’u’lláh, no ano de 1992, que foi o ponto alto
de todas as viagens que empreendi durante toda a
minha vida.
Nunca me esquecerei, com sentimentos de
gratidão muito forte, da emoção que experimentei
naquela comemoração, a qual compartilhei com
centenas de delegados vindos de todas as partes
do mundo. Aquela pequena multidão nos jardins
do Santuário de Bahá’u’lláh, iluminado pela luz
de centenas de velas, dentro de copos, apoiados
nos canteiros, nos convidavam à oração e
agradecimento por aquele sublime momento. Em
seguida, já na madrugada, ao raiar da aurora,
aquela procissão ao redor de Seu Santuário, em
silêncio quase absoluto, que nos deixava ouvir os
pássaros e nossos pés ao pisar os seixos que
circundam aquele mesmo Santuário, foi uma
experiência impar de amor e agradecimento, que
me acompanhará enquanto viver.
Estar em Haifa é como estar na ante-sala
do Paraíso, e praza aos céus que ainda possa voltar
lá algum dia!
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