O documento discute a evolução histórica da profissão docente, desde a estatização do ensino no século XVIII até os desafios atuais. A formação de professores passou por processos de profissionalização e institucionalização ao longo dos séculos XIX e XX, porém persistem problemas como salários baixos e funções indefinidas, gerando insatisfação. É necessário qualificar a formação inicial e contínua dos professores para enfrentar as demandas sociais atuais.
2. "O educador que acaba de se formar não pode ficar com as piores turmas nem ser alocado nas unidades mais difíceis, sem acompanhamento"
3. Manter-se atualizado sobre as novas metodologias de ensino e desenvolver práticas pedagógicas mais eficientes são alguns dos principais desafios da profissão de educador. Concluir o Magistério ou a licenciatura é apenas uma das etapas do longo processo de capacitação que não pode ser interrompido enquanto houver jovens querendo aprender. Revista Nova Escola – 09/2008
4. “ Quando pensamos a profissão docente, não conseguimos omitir a realização de uma reflexão sobre vários assuntos, diversos conceitos e uma complexidade de concepções do “ser professor” que carregamos ao longo de nosso ofício docente. Assim, muitas questões permeiam a nossa profissão, sendo importante refletir sobre a imagem e a função do professor ao longo do tempo, e como elas se estabelecem hoje”.
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7. No século XIX, segundo Nóvoa (1999), ocorreu a expansão da escola pela grande procura da sociedade devido à crença na superioridade social por meio desta instituição. Juntamente a este acontecimento, ocorreu a institucionalização da formação específica e especializada para o professor: as escolas normais , que consolidaram a imagem e o estatuto do professor, mas também oportunizaram um maior controle estatal. A partir da segunda metade do século XIX, a profissão docente passou a ser marcada por ambigüidades, pois os professores não são burgueses, não são do povo, não devem ser intelectuais, devem ter instrução e relacionar-se com todos os grupos sociais. Todas estas questões reforçam a feminização, o isolamento social e a indefinição do estatuto da nossa profissão, mas por outro lado também avigoram a solidariedade interna entre os profissionais e a formação de uma identidade decente. No começo do século XX iniciou-se um maior prestígio do professor devido às ações das Associações Profissionais de Professores e à adesão a um conjunto de normas e valores.
8. Nóvoa (1999) salienta que os professores não são valorizados de forma íntegra e digna: nosso salário, muitas vezes, não serve nem para o sustento; nossa função é múltipla; as regras para entrada no curso de formação de professores são inadequadas; a formação inicial e continuada são, muitas vezes, ineficazes. Para Nóvoa (1999) os professores, há muito tempo, vêm sofrendo de uma situação de mal-estar na profissão, que causa desmotivação pessoal com a docência, abandono, insatisfação, indisposição, desinvestimento e ausência de reflexão crítica, entre outros sintomas que demonstram uma autodepreciação do professor. Esta situação abarca a crise da profissão docente, que vem sendo bastante analisada e discutida pelos teóricos contemporâneos.
9. Daniel Hameline destaca que agir é um processo que requer um “desvendamento de nós”. Para Hameline (1999), não precisamos nem devemos tentar fazer o máximo na educação, pois excelência é diferente de maximização. Ele ressalta que os professores “práticos”, que produzem teses a partir da análise das suas escolas, suas práticas ou seus alunos, são questionados sobre a validade deste trabalho. Porém, na maioria das vezes estes docentes são os que mais se preocupam com a qualidade da educação de seus alunos. Há professores que buscam “modelizar” suas práticas, o que empobrece suas ações, pois as padronizam de forma sistemática e metódica. O ideal, segundo o autor, não é “modelizar”, mas sim “modalizar” as práticas, pois assim enriquecem as suas ações através de várias “modalidades”, ou várias maneiras de realizar o processo.
10. "É no espaço concreto de cada escola, em torno de problemas reais, que se desenvolve a verdadeira formação"
11. Gimeno Sacristán considera a definição cultural da função do professor, determinada pelas necessidades sociais que a educação deve dar resposta. Dessa forma, o autor destaca que o debate social sobre a educação constrói diferentes exigências em relação à função docente, pois a evolução em que a sociedade se encontra acarreta cada vez mais atividades e responsabilidades a serem cumpridas pela escola e mais aspirações educativas a serem assumidas pelos professores.
12. Tudo isso ocasiona a indefinição da real função do professor, pois as exigências frente à profissão abrangem aspectos de ensino-aprendizagem, de cuidados à infância, de higiene, de saúde, de administração escolar, de respeito e trabalho com os diferentes contextos sociais, econômicos e culturais, bem como com as diferentes estruturas familiares de hoje. Podemos considerar que os professores, em certos momentos, assumem o papel de psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, e mesmo de pai e mãe. Assumir a profissão docente hoje é um desafio, pois além desta indefinição em suas funções, Sacristán (1999) destaca que o professor não detém a exclusividade na responsabilidade de suas ações educativas, devido às influências políticas, econômicas, culturais e à desprofissionalização do professorado.
13. “ Há práticas de caráter antropológico, práticas institucionalizadas e práticas concorrentes (que são os mecanismos de supervisão). Esta diversidade de funções provoca a superabundância de saberes docentes, pois cada tarefa exige conhecimentos específicos, sendo necessária uma consciência progressiva da prática, sem a desvalorização da teoria”.
14. R essaltando que as mudanças justificam a tentativa de reforma do ensino, pois embora a sociedade tenha sofrido tantas transformações, nosso sistema educacional permanece igual. Há um desgaste da imagem social do ensino e dos professores; com a passagem do sistema de ensino de elite para o sistema de ensino de massa, aumentou-se a quantidade de alunos, heterogeneizando as turmas; ensinar não é mais fácil como antigamente. Assim, encontramo-nos num ceticismo em relação à educação, pois a sociedade não acredita mais que esta pode ser melhorada ou pode melhorar o nosso futuro.
15. Os professores sentem-se perdidos frente ao novo cenário da educação e, as reações perante este desajuste, é o que conhecemos por “mal-estar docente”, que vem sendo muito discutido por grandes teóricos da contemporaneidade, pois pode ocasionar uma crise de identidade nos professores. Nesse mal-estar docente, há diferentes reações dos professores, apontadas por Esteve (1999), como: desajustamento e insatisfação perante os problemas reais da prática; pedidos de transferência para fugir das situações problemas; inibição de envolvimento pessoal; desejo de abandono da profissão; absentismo laboral; esgotamento; estresse; ansiedade; autodepreciação; reações neuróticas; depressões. No que se refere à formação dos professores perante todas estas transformações e os problemas ocasionados por elas, é preciso identificarmos erros e incorporarmos novos modelos na formação inicial para evitar o aumento de profissionais da educação desajustados às demandas sociais, bem como articularmos estruturas de apoio aos professores.
16. Cada situação de ensino é única, devido ao uso da criatividade, que pode ser produto de uma experimentação ou inesperada e repentina. Mas que, em ambas as maneiras, a criatividade proporciona a capacidade de o professor elaborar seu próprio trabalho e ter satisfação e realização pessoal e profissional. A criatividade docente pode ser uma forma muito eficaz para a libertação do profissional docente na contemporaneidade, pois uma vez desenvolvida nos professores pode trazer inovações, alargando fronteiras do convencional, introduzindo ou combinando novos fatores na prática docente.
17. “ Se a escola se organizar para acolher os novos docentes, abrindo o caminho para que possam refletir e ultrapassar de forma pertinente e ajustada as suas dificuldades, se assumir coletivamente a responsabilidade do seu encaminhamento através de projetos de formação profissional, talvez contribua para inverter, por essa via, a atual tendência para a descrença generalizada que se associa à desvalorização social da imagem do professor”. (Cavaco, 1999, p.168)
18. As escolas, juntamente com as instituições de formação de professores, têm grande poder para a transformação desta realidade em que se encontra a profissão docente, pois a parceria destas duas instâncias pode, sem dúvida, qualificar a formação do profissional para uma educação mais adequada e pertinente à sociedade contemporânea.
19. “ A escola deve estimular as crianças a aprenderem a estudar e pensar e também a aprenderem a se comunicar e a viver em conjunto. Aprender a estudar e a pensar é essencial no mundo marcado pelo excesso de informações e conhecimentos que envelhecem muito rapidamente, mas não é menos importante aprender a se comunicar e viver em conjunto, estimulando a criança a falar, ouvir, construir em conjunto”. Antonio Novoa, Caderno de Empregos, JB de 03/06/99