O documento descreve a silvicultura em Portugal, incluindo as principais espécies florestais, sua distribuição geográfica, implicações econômicas, sociais e ambientais. Também discute os declínios de espécies como o ulmeiro e o sobreiro devido a doenças, assim como os impactos das chuvas ácidas e dos incêndios florestais na floresta portuguesa.
2. Silvicultura é a ciência dedicada ao estudo dos métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar os povoamentos florestais com vistas a satisfazer as necessidades do mercado e, ao mesmo tempo, é aplicação desse estudo para a manutenção, o aproveitamento e o uso racional das florestas.
3. A floresta portuguesa é um ecossistema muito antigo, inicialmente com árvores de folha caduca no Norte do país e árvores de folha perene a Sul. Actualmente, a área florestal portuguesa ascende aos 3.3 milhões de hectares. Portugal possui uma das maiores áreas florestadas da Europa (35.8 %). Cerca de 85% da floresta de Portugal é propriedade privada, e apenas 3% pertence ao Estado Português, os restantes 12% são baldios, e pertença de comunidades locais.
4. Quanto à distribuição geográfica, os carvalhos estão presentes em quase todo o território nacional: O carvalho-alvarinho no Noroeste, ao longo da faixa litoral Minho-Leiria , onde a temperatura é amena e a humidade elevada. O carvalho-negral , juntamente com o castanheiro na Beira Interior e Trás-os-Montes. O carvalho-português é dominante no litoral centro, o carrasco aparece mais frequentemente nas serranias calcárias O sobreiro é uma espécie dominante no litoral sul. A azinheira é mais frequente no interior do país. Espécies de árvores em Portugal: (Laranja) carvalho-alvarinho (Rosa) carvalho-negral (Amarelo) carvalho-cerquinho (Azul claro) sobreiro ( Azul escuro) azinheira
5. Implicações económicas: Taxa de arborização (floresta) em Portugal. A floresta e as actividades ligadas a ela representam 3% do bolo de lucro da economia (3100 milhões de euros). Se o declínio da nossa floresta continuar, em breve este lucro deixará de colaborar para uma saudável economia nacional. Em termos de comércio externo, o saldo da balança comercial é extremamente positivo, chegando aos 1024 milhões de euros (2748 milhões em exportações e 1724 em importações). O declínio da floresta representaria uma grande perda para o país.
6. Implicações sociais: Mais de 160 000 pessoas estão empregues em áreas relacionadas com a floresta, representando 3,3% da população activa. Os problemas que têm vindo a surgir, relacionados com a floresta, podem deixar estas pessoas sem emprego, o que poderá prejudicar milhares de famílias já com rendimentos baixos. Trata-se de um problema social, mas também económico, já que estimula o aumento da taxa de desemprego.
7. Implicações ambientais: A nível ambiental, o declínio florestal em Portugal diminui a biodiversidade, pondo algumas espécies em perigo e levando a que outras desapareçam por completo do nosso país. As áreas que sofreram desflorestação rapidamente se tornam áridas, impedindo que as espécies nativas se reinstalem na região, dando lugar a vegetação de baixo porte ou à propagação de espécies de crescimento rápido, como é o caso do eucalipto. A destruição da floresta leva ao desaparecimento da fauna e da flora dessa região, a uma elevada erosão do solo desprotegido, a uma modificação das bacias hidrográficas, muitas vezes com grandes prejuízos materiais e mesmo de vidas humanas.
8. A violência e a extensão dos Incêndio florestal nestes últimos anos têm destruído centenas de hectares de floresta. A ausência de uma política de ordenamento e gestão florestal, o desconhecimento real das áreas florestais, a ineficácia das medidas de prevenção e combate dos fogos florestais, o abandono de extensas áreas florestais, associadas a certas situações atmosféricas ou a acções negligentes e criminosas, são causas deste elevado número de incêndios. Num pinhal pouco cuidado, as agulhas que caem nos arbustos facilitam o caminho do fogo em direcção às copas, estimulando os fogos de temperaturas elevadas, difíceis de dominar. Este tipo de incêndio danifica, inclusivamente, as camadas superficiais do solo, e queima os seus componentes orgânicos, acelerando o processo de erosão.
9. O problema associado ao abate de árvores é o abate desregrado e desenfreado e a ambição pelas áreas ardidas e matéria-prima. Se após o abate de árvores o terreno for abandonado, a reposição do equilíbrio pode demorar décadas, ou mesmo milénios. Se não forem tomadas medidas drásticas, cerca de um sexto das florestas mundiais desaparecerá até 2030.
10. Declínio do ulmeiro Desde 1920, a doença grafiose originou em toda a Europa, um declínio geral da espécie. A doença deve-se a um fungo ( ophiostoma ulmi ) que obstrui os vasos condutores de água da árvore. Os sintomas externos são murchidão e a perda de ramos e de partes da copa até que toda a árvore morre. O fungo difunde-se através do escaravelho do alburno e é considerado uma das piores espécies invasoras a nível mundial, afectando quer a Europa, quer a América do Norte, quer todos os ulmeiros plantados nos jardins das antigas colónias europeias.
11. Declínio do sobreiro Uma praga secundária, o A P. cylindrus , é uma das grandes preocupações em relação aos sobreiros. Atacam essencialmente após o descortiçamento, quando as árvores já estão enfraquecidas. A morte súbita do sobreiro e da azinheira é provocada por um fungo exótico, o Phytophthora cinnamomi . Embora tenha sido identificado apenas em 1993, sintomas idênticos foram observados desde o fim do século XIX, embora não com a intensidade e a gravidade verificada a partir dos anos 1980. Pensa-se que o fungo, por si só, não causa a doença, sendo necessários outros factores que provoquem stress nas árvores, em particular após períodos alternados de seca prolongadas e encharcamento do solo. O fungo destrói as raízes finas das árvores, limitando a absorção de nutrientes e água.
12. Declínio do castanheiro Certas doenças, como é o caso da doença da tinta, afectam grandemente o castanheiro, sendo uma das causas do seu declínio. A doença da tinta é causada pelo mesmo fungo que ataca sobreiros e azinheiras, Phytophthora cinnamomi .
13. A chuva ácida é um fenómeno resultante da dissolução de gases poluentes, derivados do dióxido de enxofre e de dióxido de azoto, nas nuvens e na chuva. Ao reagirem com a água, estes gases formam os ácidos sulfúrico e nítrico, substâncias causadoras de grandes alterações biológicas na floresta. Devido às chuvas ácidas, morrem lotes inteiros de plantas, enquanto outras nem sequer chegam a desenvolver-se. Muitas vezes a chuva ácida não é a causa directa da morte dos seres vivos, mas enfraquece de tal forma as plantas que estas morrem atacadas por insectos e fungos ou derrubadas pelo vento. As plantas coníferas e decíduas são as mais afectadas.
14. De um modo geral, à floresta estão associadas actividades como a produção lenhosa, cortiça, celulose (produção de papel), gema, madeira, silvopastorícia, caça, pesca, apicultura, recreio e lazer, providenciando bens e serviços. Desta forma, são criadas oportunidades de rendimento e de emprego em áreas pouco desenvolvidas. Por exemplo, a celulose é muito importante para o país. Portugal é um dos principais produtores e exportadores na área da indústria do papel. Também a produção de mobiliário se dá numa escala bastante elevada, estando a matéria-prima no nosso país. Quanto ao lazer, a existência de floresta no nosso país é uma mais- valia nacional, já que há bastantes países interessados neste tipo de turismo. Quanto à energia, os resíduos florestais, ou a denominada biomassa, se forem bem aproveitados, podem ser muito importantes para o país. Os subprodutos da floresta ou da exploração da indústria da madeira fornecem matéria-prima capaz de produzir energia térmica ou electricidade. A biomassa é de grande utilidade, sendo uma energia que não polui e que recorre à acção da natureza. A nível ambiental, a floresta contribui para os ciclos da água, do oxigénio e do carbono, assim como para a manutenção da biodiversidade. À medida que a floresta diminui, o mesmo acontece às suas comunidades, em especial aos seres vivos que aí encontram os seus habitats e nichos ecológicos. A diminuição da biodiversidade, de recursos naturais e de todo o ecossistema é uma perda irreparável .
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16. A redução gradual e o correcto ordenamento florestal das monoculturas de eucalipto e pinheiro, e o incentivo à preservação e ampliação das áreas de vegetação autóctone, assume um papel primordial na minimização dos efeitos catastróficos dos fogos. Relativamente ao combate a incêndios, o grau de preparação dos bombeiros e outras entidades de protecção civil e a garantia de acesso a áreas de densa arborização são passos necessários, bem como o investimento intenso no estudo das áreas de maior risco. Nas situações em que o incêndio foi causado por negligência, vandalismo ou criminalidade, há que promover campanhas de sensibilização e informação das populações. Quanto ao abate de árvores, alterações à legislação e desenvolvimento de mecanismos de fiscalização mais eficazes para a reconversão das áreas ardidas, bem como a devida protecção das actuais áreas protegidas e criação de novas Áreas de Protecção Ambiental, poderão ser um passo em frente na protecção dos recursos florestais portugueses. No caso das chuvas ácidas, é necessário ter cuidado com o nível de emissão de poluentes para a atmosfera, tentando de certa forma controlar a sua concentração, sendo esta uma medida de prevenção a nível mundial. O assunto também deverá ser analisado em termos políticos, sendo a criação de comissões especializadas compostas por representantes de todas as partes interessadas e por especialistas, uma das formas de intervenção do poder político de forma a unir objectivos ambientais, sociais e económicos.