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Maria do Carmo S.Freitas 
Prof.: Pércio Davies Schmitz
O QUE FAZ O brasil, BRASIL? 
Roberto da Matta 
CÁPÍTULO 8 
OS CAMINHOS PARA DEUS
Nós, brasileiros, marcamos certos espaços como referências 
especiais de nossa sociedade. Assim como a casa em que 
moramos, nossa rua, bairro e nosso trabalho, onde vivemos com 
parentes, amigos e colegas , temos outro referencial de espaço, um 
espaço do outro mundo demarcado por igrejas, capelas, centros 
espíritas, sinagogas, terreiros – é a nossa religião – um mundo 
habitado por mortos,fantasmas, almas, santos, anjos,orixás, deuses, 
Deus,Virgem Maria e Jesus Cristo, para onde todos vão e de onde 
ninguém retorna, ou pelos menos retorna com facilidade. 
Aqui nosso modo de relacionamento é diferente, a comunicação com 
o além e seus habitantes é formalizado e suplicante, feito de preces, 
rezas e súplicas: ao invés de discursar, rezamos; de ordenar, 
pedimos.
Existem formas individuais e coletivas de se falar com Deus. 
Coletivamente, o mais comum é através da cantoria, onde 
reúnem-se vários pedidos num só que deve “subir” aos céus, 
levado pelas harmonias das vozes que o entoam. 
Nosso modo de conceber o espaço religioso, a linha vertical e 
hierarquizada, que relaciona o céu com a terra e o alto com o 
baixo, é algo dominante e crítico : o “alto” tudo que é superior, mais 
nobre, mais forte, mais poder. É lá que moram os anjos, santos e 
todas as entidades que podem nos proteger. O “baixo” é a terra em 
que vivemos: vale de lágrimas onde sofremos, trabalhamos e 
finalmente morremos. 
A reza, a festividade religiosa e o canto coletivo, são meios de se 
chegar até essas regiões superiores, ligando o aqui e agora com o 
além e o infinito.
As formas individuais seriam normalmente as mais fracas, embora 
a fé, a esperança e a caridade de cada um sejam também 
elementos importantes no atendimento de suas súplicas ou 
preces. 
Promessas, oferendas e sacrifícios, são naturalmente mais fortes 
que um pedido verbal, muitas vezes incidindo gastos financeiros 
para tal. A promessa é um pacto que obriga os dois lados a uma 
ação positiva para solucionar o problema apresentado . 
( Se eu peço uma graça e logo em seguida me sacrifico com a 
oferta de algo precioso para o santo(ou santa) de minha devoção, 
a lógica social faz com que ele (ou ela) também se obrigue a 
resolver meu problema, atendendo cortesmente meu pedido.
As respostas são muitas, mas um fator sociológico básico, é que 
existe a necessidade de construir esse grande espelho a que 
chamamos religião para dar a todos e a cada um de nós,um 
sentimento de comunhão com o universo como um todo, nos 
permitindo uma relação globalizada não só com os deuses, mas 
com todos os homens e seres vivos. 
RELIGIÃO – a palavra deriva do latim: laço, aliança, pacto, 
contrato e relação que deve nortear os elos entre deuses e 
homens entre si. Um modo de ordenar o mundo, facultando nossa 
compreensão para coisas complexas, como a ideia de tempo, de 
eterno, de perda e desaparecimento: o homem é o único ser que 
tem consciência de sua própria morte.
•A religião explica os infortúnios de nossas vidas (acidentes e 
doenças); o porquê de alguém ligado a nós ter sofrido um acidente 
ou ter ficado doente, por exemplo. 
•“Falamos também de religião quando estamos pensando no modo 
pelo qual a sociedade precisa legitimar ou justificar a sua 
organização, a sua maneira de ser e os seus estilos de fazer” – A 
religião pode explicar de modo mais satisfatório que a ciência ou a 
filosofia, por que existem ricos e pobres, fortes e fracos, doentes e 
sãos; por que temos neste mundo sofrimento, calamidade, doença 
injustiça e aflição. 
•A religião marca momentos importantes da vida: nascimentos, 
batizados, crismas, comunhões, casamentos, funerais, com rituais 
e cerimônias específicas para cada situação – legitima com o aval 
divino algo convencionado.
Até 1890 o Catolicismo Romano foi a religião oficial no Brasil e se 
mantém até hoje dominante. Porém essa denominação religiosa é 
acompanhada de outras que a ela estão referidas, que diferem 
pela forma de culto, teologia, tipo de sacerdócio e atitudes gerais. 
A variedade de experiências religiosas brasileiras é ampla e 
limitada ao mesmo tempo: 
Ampla – ao Catolicismo Romano somam-se várias 
denominações Protestantes, outras variações de religiões orientais 
e ocidentais, além das variedades brasileiras de cultos de 
possessão.
Temos de um lado a África dos escravos, com seus terreiros, 
tambores, idiomas secretos, orixás e ritos de sacrifício 
(Umbanda). De outro, há o Espiritismo Kardecista, em que o culto 
dos mortos é uma forma dominante e o ritual se faz sem cantos 
nem tambores.
Limitada - em todas as formas de religiosidade brasileiras, há 
uma enorme e densa ênfase na relação entre este mundo e o 
outro, de modo que a domesticação da morte e do tempo é 
elemento fundamental em todas essas variedades e jeitos de se 
chegar a Deus.
A COMUNICAÇÃO COM DEUS 
•Sempre através de um elo pessoal; 
Nós, brasileiros, temos intimidade com certos santos protetores e 
padroeiros; do mesmo modo,temos como guias certos orixás ou 
espíritos do além, que são nossos protetores. 
Uma relação fundada na simpatia e na lealdade dos 
representantes deste mundo e do outro. 
Somos fiéis devotos de santos do Catolicismo, por exemplo, e 
também cavalos de santo de orixás, e com cada um deles nos 
entendemos bem – por meio de preces, promessas, oferendas, 
despachos, súplicas e obrigações, que mesmo tendo diferenças 
aparentes, constituem um código de comunicação com o além 
que é obviamente comum e brasileira.
Assim como temos pais, padrinhos e patrões, temos também 
entidades sobrenaturais que nos protegem. E elas podem ser de 
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O que pode parecer singular no caso brasileiro, é que cada uma 
dessas formas de religiosidade seja suplementar às outras, 
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A Igreja Romana legitima eventos em nossa vida: nascimento, 
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Por outro lado, suas regras fixas e ritos conduzem a uma certa 
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comportamento religioso, existem formas e estilos pessoais de 
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O milagre nada mais é que uma resposta dos deuses a uma 
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pessoal entres homens e deuses, no caso brasileiro. 
Assim, em vez de opor a religião popular à religião oficial ou 
erudita, entende-se que suas relações complementam-se: como 
as faces de uma mesma moeda. 
O oficial contém tudo que pode legalizar, atuando a partir de fora. 
(atendendo às aparências).
Mas o popular contém todas as formas que lidam com as 
emoções em estado vivo, atuando por dentro (atende aos 
sentimentos propriamente ditos). 
Num caso, a relação com Deus ´”limpa”, educada. No outro, a 
comunicação é sensível, concreta e dramática. O milagre para 
nós, brasileiros, é a não exclusão de qualquer dessas formas 
como necessárias à vida religiosa. 
Mas a adoção de ambas como modos legítimos de se chegar a 
Deus.
No mundo real não posso ter dois sexos, duas mulheres,dois 
partidos políticos ao mesmo tempo..., no caminho para Deus e 
na relação com o outro mundo posso juntar muita coisa: posso 
ser católico e umbandista ou devoto de Ogum e São Jorge, por 
exemplo.Tudo se funde, revelando, talvez, que no sobrenatural 
nada seja impossível. 
A linguagem religiosa no nosso país permite a um povo 
destituído de tudo, que não consegue comunicar-se com seus 
representantes legais, FALAR, SER OUVIDO E RECEBER os 
deuses em seu próprio corpo.
Somos um povo que acredita num outro mundo: onde não 
haveria sofrimento, miséria, poder e impessoalidades 
desumanas; 
Leis universais como “quem dá recebe e quem faz algum mal 
recebe esse mal”, seriam válidas para todos, pois todos teriam 
valor na sua fé e sinceridade.
“ O OUTRO MUNDO TEM MUITAS FORMAS E SÃO 
VÁRIOS OS CAMINHOS DE SE CHEGAR ATÉ ELE 
NO BRASIL. MAS, POR DETRÁS DE TODAS AS DI-FERENÇAS, 
SABEMOS QUE LÁ, NESSE CEU À 
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ESSA, PELO MENOS,É A ESPERANÇA QUE SE 
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Os caminhos para Deus

  • 1. Maria do Carmo S.Freitas Prof.: Pércio Davies Schmitz
  • 2. O QUE FAZ O brasil, BRASIL? Roberto da Matta CÁPÍTULO 8 OS CAMINHOS PARA DEUS
  • 3. Nós, brasileiros, marcamos certos espaços como referências especiais de nossa sociedade. Assim como a casa em que moramos, nossa rua, bairro e nosso trabalho, onde vivemos com parentes, amigos e colegas , temos outro referencial de espaço, um espaço do outro mundo demarcado por igrejas, capelas, centros espíritas, sinagogas, terreiros – é a nossa religião – um mundo habitado por mortos,fantasmas, almas, santos, anjos,orixás, deuses, Deus,Virgem Maria e Jesus Cristo, para onde todos vão e de onde ninguém retorna, ou pelos menos retorna com facilidade. Aqui nosso modo de relacionamento é diferente, a comunicação com o além e seus habitantes é formalizado e suplicante, feito de preces, rezas e súplicas: ao invés de discursar, rezamos; de ordenar, pedimos.
  • 4. Existem formas individuais e coletivas de se falar com Deus. Coletivamente, o mais comum é através da cantoria, onde reúnem-se vários pedidos num só que deve “subir” aos céus, levado pelas harmonias das vozes que o entoam. Nosso modo de conceber o espaço religioso, a linha vertical e hierarquizada, que relaciona o céu com a terra e o alto com o baixo, é algo dominante e crítico : o “alto” tudo que é superior, mais nobre, mais forte, mais poder. É lá que moram os anjos, santos e todas as entidades que podem nos proteger. O “baixo” é a terra em que vivemos: vale de lágrimas onde sofremos, trabalhamos e finalmente morremos. A reza, a festividade religiosa e o canto coletivo, são meios de se chegar até essas regiões superiores, ligando o aqui e agora com o além e o infinito.
  • 5.
  • 6. As formas individuais seriam normalmente as mais fracas, embora a fé, a esperança e a caridade de cada um sejam também elementos importantes no atendimento de suas súplicas ou preces. Promessas, oferendas e sacrifícios, são naturalmente mais fortes que um pedido verbal, muitas vezes incidindo gastos financeiros para tal. A promessa é um pacto que obriga os dois lados a uma ação positiva para solucionar o problema apresentado . ( Se eu peço uma graça e logo em seguida me sacrifico com a oferta de algo precioso para o santo(ou santa) de minha devoção, a lógica social faz com que ele (ou ela) também se obrigue a resolver meu problema, atendendo cortesmente meu pedido.
  • 7. As respostas são muitas, mas um fator sociológico básico, é que existe a necessidade de construir esse grande espelho a que chamamos religião para dar a todos e a cada um de nós,um sentimento de comunhão com o universo como um todo, nos permitindo uma relação globalizada não só com os deuses, mas com todos os homens e seres vivos. RELIGIÃO – a palavra deriva do latim: laço, aliança, pacto, contrato e relação que deve nortear os elos entre deuses e homens entre si. Um modo de ordenar o mundo, facultando nossa compreensão para coisas complexas, como a ideia de tempo, de eterno, de perda e desaparecimento: o homem é o único ser que tem consciência de sua própria morte.
  • 8. •A religião explica os infortúnios de nossas vidas (acidentes e doenças); o porquê de alguém ligado a nós ter sofrido um acidente ou ter ficado doente, por exemplo. •“Falamos também de religião quando estamos pensando no modo pelo qual a sociedade precisa legitimar ou justificar a sua organização, a sua maneira de ser e os seus estilos de fazer” – A religião pode explicar de modo mais satisfatório que a ciência ou a filosofia, por que existem ricos e pobres, fortes e fracos, doentes e sãos; por que temos neste mundo sofrimento, calamidade, doença injustiça e aflição. •A religião marca momentos importantes da vida: nascimentos, batizados, crismas, comunhões, casamentos, funerais, com rituais e cerimônias específicas para cada situação – legitima com o aval divino algo convencionado.
  • 9. Até 1890 o Catolicismo Romano foi a religião oficial no Brasil e se mantém até hoje dominante. Porém essa denominação religiosa é acompanhada de outras que a ela estão referidas, que diferem pela forma de culto, teologia, tipo de sacerdócio e atitudes gerais. A variedade de experiências religiosas brasileiras é ampla e limitada ao mesmo tempo: Ampla – ao Catolicismo Romano somam-se várias denominações Protestantes, outras variações de religiões orientais e ocidentais, além das variedades brasileiras de cultos de possessão.
  • 10. Temos de um lado a África dos escravos, com seus terreiros, tambores, idiomas secretos, orixás e ritos de sacrifício (Umbanda). De outro, há o Espiritismo Kardecista, em que o culto dos mortos é uma forma dominante e o ritual se faz sem cantos nem tambores.
  • 11. Limitada - em todas as formas de religiosidade brasileiras, há uma enorme e densa ênfase na relação entre este mundo e o outro, de modo que a domesticação da morte e do tempo é elemento fundamental em todas essas variedades e jeitos de se chegar a Deus.
  • 12. A COMUNICAÇÃO COM DEUS •Sempre através de um elo pessoal; Nós, brasileiros, temos intimidade com certos santos protetores e padroeiros; do mesmo modo,temos como guias certos orixás ou espíritos do além, que são nossos protetores. Uma relação fundada na simpatia e na lealdade dos representantes deste mundo e do outro. Somos fiéis devotos de santos do Catolicismo, por exemplo, e também cavalos de santo de orixás, e com cada um deles nos entendemos bem – por meio de preces, promessas, oferendas, despachos, súplicas e obrigações, que mesmo tendo diferenças aparentes, constituem um código de comunicação com o além que é obviamente comum e brasileira.
  • 13. Assim como temos pais, padrinhos e patrões, temos também entidades sobrenaturais que nos protegem. E elas podem ser de tradições religiosas divergentes. O que pode parecer singular no caso brasileiro, é que cada uma dessas formas de religiosidade seja suplementar às outras, mantendo com elas uma relação de plena complementaridade. A Igreja Romana legitima eventos em nossa vida: nascimento, batizado, casamento, morte. Funciona como uma forma básica de religião. Por outro lado, suas regras fixas e ritos conduzem a uma certa impessoalidade nossa relação com Deus. Mas ao lado dessas formas impessoais e socialmente aceitas de comportamento religioso, existem formas e estilos pessoais de ligação com o outro mundo, tão populares como o milagre.
  • 14. O milagre nada mais é que uma resposta dos deuses a uma súplica desesperada dos homens, na forma de um atendimento pessoal . Essa pessoalidade é única no catolicismo popular. Parece produzir , no plano religioso, enorme ênfase nas relações pessoais que dão um sentido profundo ao nosso mundo social. É clara essa forma de comunicação familiar e íntima, direta e pessoal entres homens e deuses, no caso brasileiro. Assim, em vez de opor a religião popular à religião oficial ou erudita, entende-se que suas relações complementam-se: como as faces de uma mesma moeda. O oficial contém tudo que pode legalizar, atuando a partir de fora. (atendendo às aparências).
  • 15. Mas o popular contém todas as formas que lidam com as emoções em estado vivo, atuando por dentro (atende aos sentimentos propriamente ditos). Num caso, a relação com Deus ´”limpa”, educada. No outro, a comunicação é sensível, concreta e dramática. O milagre para nós, brasileiros, é a não exclusão de qualquer dessas formas como necessárias à vida religiosa. Mas a adoção de ambas como modos legítimos de se chegar a Deus.
  • 16. No mundo real não posso ter dois sexos, duas mulheres,dois partidos políticos ao mesmo tempo..., no caminho para Deus e na relação com o outro mundo posso juntar muita coisa: posso ser católico e umbandista ou devoto de Ogum e São Jorge, por exemplo.Tudo se funde, revelando, talvez, que no sobrenatural nada seja impossível. A linguagem religiosa no nosso país permite a um povo destituído de tudo, que não consegue comunicar-se com seus representantes legais, FALAR, SER OUVIDO E RECEBER os deuses em seu próprio corpo.
  • 17. Somos um povo que acredita num outro mundo: onde não haveria sofrimento, miséria, poder e impessoalidades desumanas; Leis universais como “quem dá recebe e quem faz algum mal recebe esse mal”, seriam válidas para todos, pois todos teriam valor na sua fé e sinceridade.
  • 18. “ O OUTRO MUNDO TEM MUITAS FORMAS E SÃO VÁRIOS OS CAMINHOS DE SE CHEGAR ATÉ ELE NO BRASIL. MAS, POR DETRÁS DE TODAS AS DI-FERENÇAS, SABEMOS QUE LÁ, NESSE CEU À BRASILEIRA, É POSSÍVEL UMA RELAÇÃO PERFEITA DE TODOS OS ESPAÇOS. ESSA, PELO MENOS,É A ESPERANÇA QUE SE IMPRIME NAS FORMAS MAIS POPULARES DE RELIGIOSIDADE...”