SlideShare a Scribd company logo
1 of 20
Download to read offline
Universidade Presbiteriana Mackenzie


A SATISFAÇÃO               COM      O     USO      DO      TWITTER       E    A    SUBJETIVIDADE
ADMINISTRADA
Gabriel Monteiro da Fonseca Leal Maia (IC) e Ednilton José Santa-Rosa (Orientador)
Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa


Resumo

O presente trabalho teve como objetivo investigar os elementos subjetivos envolvidos na utilização do
sítio da internet Twitter. Foram realizadas três sessões de grupo focal com usuários regulares do sítio,
pertencentes à faixa etária de 18 a 24 anos. As sessões foram gravadas e posteriormente transcritas.
Desse modo, após uma série de leituras das transcrições, foram identificados nas falas dos sujeitos
elementos que se relacionavam direta e indiretamente com a satisfação no uso do Twitter. Em
seguida foram definidas categorias de análise que diziam respeito às satisfações dos sujeitos em
relação: à integração do Twitter com a televisão, à publicidade no sítio, à utilidade e praticidade
proporcionadas pelo sítio, ao narcisismo, ao isolamento e ao hiper-realismo. A teoria crítica da
sociedade embasou a pesquisa, destacando-se as discussões sobre a formação do indivíduo,
considerando os conceitos de indústria cultural, subjetividade administrada, entre outros. Concluiu-se
que as falsas necessidades individuais produzidas pelas instâncias de controle social, objetivando a
administração das forças contrárias ao progresso e à dominação, encontram boa parte de sua
satisfação no uso do Twitter.

Palavras-chave: Twitter, subjetividade, teoria crítica da sociedade


Abstract

The aim of this paper was to study the subjective elements involved in the use of the website Twitter.
Three focus group sessions were carried out with site’s regular users between 18 and 24 years old.
The discussions that took place at the sessions were audio taped and later transcript. Thereby, after
the reading of the transcripts, elements related both direct and indirectly to the satisfaction on the use
of Twitter were identified in the subject’s speech. Categories of analysis regarding to subject’s
satisfaction were defined in relation to: the integration of Twitter with television, the publicity on the
website, the utility and practicality provided by the website, narcissism, isolation and hyper-realism.
The paper was based in the critical theory of society, highlighting the discussions about human
individual development, considering the concepts of cultural industry, administrated subjectivity,
among others. It was concluded that fake individual necessities produced by social control instances,
whose aim is the subjective administration of the forces opposed to progress and domination, find a
great part of its satisfaction in the use of Twitter.

Key-words: Twitter, subjectivity, critical theory of society




                                                                                                        1
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


INTRODUÇÂO

Segundo dados de 2009, publicados em 2010 (CGI BRASIL, 2010), 45% da população
brasileira já acessou a Internet ao menos uma vez, e destes, 58% o fazem diariamente - de
casa (41%), do trabalho (14%) ou de centros públicos de acesso pago (30%). Dentre as
atividades desenvolvidas pelos usuários de Internet, 90 % se destina à comunicação, sendo
que 67% destas relacionadas a sítios de relacionamento ou “redes sociais da Internet”
(RECUERO, 2009) como o Twitter, uma ferramenta na qual se é convidado a responder em,
no máximo 140 caracteres, à pergunta “O que você está fazendo?”. O sítio, fundado em
2006, foi se caracterizando ao longo de sua história por outras funções, pois os usuários não
se limitam a responder a pergunta-título da ferramenta, praticando atividades como a troca
de informação e o estabelecimento de conversações (MISCHAUD, 2007; HONEYCUTT &
HERRING, 2009 apud RECUERO e ZAGO, 2009). Além dos usuários comuns, empresas e
pessoas famosas também estão cadastradas no sítio, praticando atividades como o
comércio de mercadorias (BALDOCCHI, 2010) e o contato com celebridades (PRIMO,
2009).

Castells (2000) afirma que, além da propriedade interativa da internet, sua diferença em
relação aos meios de comunicação de massa reside na possibilidade do receptor da
informação exercer também o papel de emissor, o que revolucionaria as relações de poder
dos tradicionais processos de comunicação em favor dos usuários. Mas estariam essas
propriedades de interação e individualização “tecnologicamente embutidas” (CASTELLS,
2000) na internet efetivamente criando condições para a reversão, não só do processo de
comunicação, mas do crescente processo de aniquilamento da autonomia individual e de
cessão da subjetividade ao controle e administração externos, conforme nos alerta Marcuse
(1967)? Recuero e Zago (2009) afirmam que a troca de mensagens em rede no Twitter
favorece “o acesso a novas informações, a novas discussões e, por isso, auxiliam na
construção do conhecimento” (p. 8). Mas o grande acesso às informações e a participação
em discussões possibilitariam, de fato, a construção de conhecimento? Ou, pelo contrário,
significam o esvaziamento da experiência no mundo administrado por meio da veiculação
frenética de informações, opiniões, manifestações, etc, - sobretudo com um limite pré-
estabelecido de palavras - já que, segundo Adorno (1993), é na “experiência intensa” que o
conhecimento tem lugar? O fato de as pessoas mostrarem voluntariamente suas vidas
privadas e estabelecerem conversas e trocas de informação em público pela Internet não
estaria justamente exercendo a função de desacostumá-las da subjetividade ao tornar
públicos até os seus desejos mais íntimos, como afirmam Adorno e Horkheimer (1985)? Não
seria o Twitter uma ferramenta tecnológica de grande eficácia ao detectar e computar
estatisticamente as necessidades – ao mesmo tempo em que expõe a popularidade - dos
                                                                                               2
Universidade Presbiteriana Mackenzie


consumidores, tornando-se assim um instrumento de alta precisão em favor dos mentores
do processo produtivo por favorecer a ampliação da produção e do consumo de falsas
necessidades, nos moldes daquilo que aqueles autores definem como “indústria cultural”? O
que a crescente popularização de um sítio que permite a comunicação à distância - mediada
pelo computador – entre os indivíduos, entre empresas e indivíduos, entre famosos e
anônimos, poderia nos dizer a respeito da subjetividade na atual sociedade? É objetivo
deste trabalho investigar os elementos subjetivos envolvidos na utilização do Twitter por
parte dos indivíduos.



REFERENCIAL TEÓRICO

Castells (2000) afirma que o sistema de massa outrora predominante estruturado em torno
da televisão teria sido sucedido – em função de inovações tecnológicas como a fibra ótica e
o processamento digital – pela fusão entre uma “mídia descentralizada e diversificada”
(p.355) (cuja emissão de informações especializadas e diversificadas à audiência permite a
adequação da mídia a públicos-alvo específicos, como acontece na TV a cabo) e um
sistema organizado em função da comunicação mediada por computadores conectados em
rede, a atual internet. Para o autor, enquanto nos tradicionais meios de comunicação ou se
emite ou se recebe a comunicação, a partir do surgimento e popularização da comunicação
mediada por computadores seria possível uma “reversão dos jogos de poder tradicionais no
processo de comunicação” (p. 384). Entretanto, o grande potencial comercial que a
integração da propriedade interativa da rede mundial de computadores com o conteúdo
veiculado pelos meios de comunicação de massa pode proporcionar (PÓVOA, 2000) não
deixou de determinar os rumos da internet. Dados de 2009 (CGI BRASIL, 2010) mostraram
que 86% dos brasileiros usuários da rede o fazem com finalidades como o lazer: 53%
destes com o consumo de filmes ou vídeos, 44% para ler jornais e revistas, 40% para ouvir
rádio e 39% para a obtenção de filmes, músicas entre outros itens. Para Marcuse (1967), na
medida em que a tecnologia facilita e induz o acesso às mercadorias, prepara a
subjetividade para a aceitação inconteste dos sacrifícios impostos por esta sociedade. O
encurtamento do caminho entre os produtos culturais e seus consumidores, que os obtém
rapidamente por meio de seus computadores pessoais, valendo-se do mínimo esforço, nos
leva a considerar a hipótese de que a internet, assim como afirma Adorno (2000) sobre a
televisão, constitua “um momento no sistema conjunto da cultura de massa dirigista
contemporânea orientada numa perspectiva industrial” (p. 88), e possa também ser
entendida enquanto parte de uma totalidade que opera em função da “modelagem conjunta
da consciência e do inconsciente” (p.88).




                                                                                          3
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


A possibilidade de emissão da comunicação pelos indivíduos – e não somente recepção -
abre caminho para a divulgação maciça de dados pessoais e a elaboração de perfis de
consumo, não só por meio dos cadastros realizados durante as compras, mas também pela
exposição da vida privada em sítios públicos de relacionamento, como o Twitter. No sítio, a
pergunta-título “O que você está fazendo?”, que precede o campo destinado à escrita das
mensagens, já contém em si um incentivo à exposição. Não somente pessoas, mas
empresas e instituições podem ter acesso a essas informações, o que facilita o
aperfeiçoamento do processo de aproximação dos produtos às necessidades individuais e o
aumento da eficácia na manipulação dessas necessidades por parte dos meios de
produção. Resta saber se os indivíduos realmente permitem o acesso irrestrito às suas
informações. Talvez aí resida uma possível relação entre o Twitter e a indústria cultural
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985), pois uma vez expostas, as informações pessoais servem
à publicidade, que pode ser direcionada não só à massa como um todo, mas direta e
imediatamente a uma espécie de “massa de indivíduos”, de acordo com a prévia detecção
de perfis de consumo. A aparente aproximação, tecnologicamente produzida, entre produto
e consumidor (ADORNO, 1981) esconde o real distanciamento entre produção e consumo,
entre o poder das instâncias sociais que exercem o controle e os indivíduos a ele
submetidos (MARCUSE, 1998). Além de empresas e instituições, o Twitter abriga também
figuras famosas nos meios de comunicação de massa (PRIMO, 2009) – como atores,
músicos, jornalistas, apresentadores, entre outros – que publicam mensagens, fotos e
vídeos no sítio. A ilusão de proximidade que o acesso a partes da intimidade dessas
pessoas possibilita, aparentemente coloca os modelos de identificação veiculados pelos
meios de comunicação de massa - antes idealizados e mantidos à distância - mais próximos
dos espectadores. Mais próximo se torna também o ideal socialmente produzido no
indivíduo de tornar-se um dia, ele mesmo, uma celebridade: o usuário “comum” do Twitter
pode também mensurar sua própria popularidade de acordo com o número de “seguidores”
que seu perfil possui. Se o uso do Twitter incentiva a exposição de partes da vida privada
em troca de pretensa popularidade, não estaria ele alçando ainda mais o indivíduo ao status
mercadológico de celebridade, ou seja, de objeto? Tais características do Twitter também
nos remetem à tese de que a atual fase do modo de produção capitalista favorece a
consciência passiva do indivíduo-consumidor, submetido ao controle externo de sua
subjetividade e confinado ao seu bem-estar privado (SODRÉ,1987). Para Ramos (2008),
esse confinamento também decorre de um sentimento geral de medo: de perder o emprego,
de não cumprir as metas, de sair de casa, do outro, de si mesmo, de acabar inteiramente
integrado e de ficar à margem. E as soluções oferecidas pela mesma sociedade que oprime
o indivíduo ajudam-no a esquecer dos sacrifícios e ameaças que lhe são infringidas. O autor
aponta que o isolamento é compensado não só pelas gratificações proporcionadas pela
                                                                                  4
Universidade Presbiteriana Mackenzie


indústria cultural, mas também pelas satisfações decorrentes do próprio confinamento.
Ainda segundo Ramos (2008), a comunicação mediada por computadores reproduz as
condições totalitárias da sociedade na medida em que exclui as mediações corporais do
contato com o outro.



MÉTODO

Foram realizados 3 encontros utilizando o instrumento do grupo focal: o primeiro reunindo 3
participantes, o segundo 9 participantes e o terceiro 3 participantes, na faixa etária entre 18
e 24 anos. A escolha da faixa etária se deu em razão dos dados apresentados na pesquisa
do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2009) que apontam que 71% dos jovens entre 16 e
24 anos usaram computador nos 3 meses anteriores à realização, e destes, 60% são
usuários diários. Participaram da pesquisa somente pessoas que afirmassem ser usuários
do Twitter. A divulgação do trabalho, realizada conforme descrito logo abaixo, não
determinava como critério de exclusão para a participação na pesquisa o gênero dos
possíveis participantes. Mesmo assim, todos os sujeitos que participaram das 3 sessões de
grupo focal são do gênero feminino. O recrutamento dos participantes foi realizado por meio
da divulgação do trabalho pelo pesquisador aos alunos do curso de Psicologia, no espaço
do campus da mesma universidade em que foram realizadas as sessões de grupo focal.
Uma vez manifestado o interesse em participar, os sujeitos forneceram seus endereços
eletrônicos para corresponderem-se com o pesquisador afim de determinar um dia e um
horário em comum para a realização dos encontros. As sessões de grupo focal tiveram, em
média, aproximadamente 1 hora de duração. Nas três sessões foi utilizado um equipamento
para registrar o áudio das discussões – sob o devido consentimento dos sujeitos, mediante
a assinatura do “Termo de consentimento livre e esclarecido”. O local para os encontros,
como é sugerido por Gomes (2003), foi uma sala arejada, com boa iluminação e cadeiras
confortáveis em volta de uma mesa. Após a verificação do horário e dia disponíveis aos
participantes para a realização do grupo focal, foi solicitada junto ao representante de uma
universidade da cidade de São Paulo a utilização de uma de suas salas para a realização
dos encontros. O procedimento de análise das informações colhidas no grupo focal foi
realizado a partir da transcrição das sessões gravadas. Foram identificadas categorias
presentes nos discursos, levantando as principais idéias presentes nas falas dos sujeitos, as
coincidências e diferenças entre as opiniões e as direções trilhadas nas discussões
travadas. A análise destas categorias teve como base o referencial teórico adotado na
revisão teórica. Anteriormente à realização da pesquisa, tanto o instrumento quanto os
procedimentos foram avaliados e aprovados pelo Comitê de ética em Pesquisa da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, que autorizou a continuidade do trabalho. Os riscos


                                                                                             5
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


físicos e/ou psicológicos que a pesquisa apresentou foram mínimos. Os sujeitos foram
devidamente informados que, no caso de se sentirem em situação de desconforto, poderiam
abandonar a pesquisa a qualquer momento, se assim o desejassem – o que não aconteceu.
Previamente ao início de cada sessão de grupo focal, foi entregue a cada um dos
participantes a carta de informação ao sujeito de pesquisa, contendo uma breve e clara
descrição do projeto, solicitando a autorização para a gravação e utilização sigilosa das
informações colhidas para a pesquisa. A mesma carta continha o termo de consentimento
livre e esclarecido, que foi devidamente assinado por todos os participantes. Uma cópia
deste documento ficou com cada um dos participantes, enquanto outra ficou com o
pesquisador.

O grupo focal, instrumento utilizado para a coleta de informações que permitiram investigar
os elementos subjetivos envolvidos na utilização do sítio Twitter, é uma técnica qualitativa,
não-diretiva, que consiste na mediação da discussão de um grupo de pessoas que não se
conhecem, porém tem características comuns. Diferentemente da entrevista em grupo, o
papel do pesquisador é o de facilitador da discussão e visa favorecer a interação entre os
participantes, promover a participação de todos, evitar a dispersão dos objetivos da
discussão e a monopolização de alguns participantes sobre outros (GOMES, 2003). A
utilização do grupo focal favorece a participação ativa dos integrantes, sendo fonte de
informações de alta fidedignidade, pois o ambiente de grupo minimiza o risco de opiniões
falsas ou extremadas (GOMES, 2003). Outra vantagem é que devido ao formato flexível, o
moderador pode explorar perguntas não previstas anteriormente. Ao iniciar o encontro, após
a leitura e assinatura das cartas de informação ao sujeito, foi proposta uma breve auto-
apresentação aos participantes. Em seguida, foram esclarecidos os objetivos do encontro, o
modo de seleção dos participantes, o uso do gravador, o sigilo das informações obtidas, a
duração do encontro e a importância de cada pessoa falar na sua vez, permitindo a boa
gravação das falas. Deixou-se claro também que todas as opiniões eram importantes e
interessantes para a pesquisa. Uma rodada inicial de falas foi então promovida,
possibilitando a todos um comentário geral sobre o tema. Como incentivo à discussão, o
pesquisador fez perguntas abertas sobre o tema, tendo consigo uma lista de questões que
poderiam ou não ser usadas, de acordo com a pertinência na discussão. O pesquisador
também procurou evitar a monopolização da discussão por um dos participantes e encorajar
os mais reticentes.




                                                                                               6
Universidade Presbiteriana Mackenzie


RESULTADOS E DISCUSSÃO

O procedimento de análise das informações colhidas teve como objetivo identificar trechos
das falas dos participantes que contribuíssem para o entendimento dos elementos
subjetivos envolvidos na utilização do Twitter. Foram obtidos dados referentes a diversos
usos que os sujeitos ou outras pessoas conhecidas dos sujeitos - segundo eles próprios -
fazem do sítio, assim como às motivações, justificativas e opiniões relativas a tais usos. Os
trechos das falas foram identificados por sujeito e, em seguida, por grupo - por exemplo:
“Sujeito 1G2” significa que a fala é do sujeito 1 do grupo 2, e assim por diante. De acordo
com a análise do material colhido nas três sessões de grupo focal, percebeu-se a presença
de alguns tipos de satisfações que os participantes relataram obter com o uso do Twitter.
Contudo, uma série de insatisfações com relação ao Twitter também foram observadas nas
discussões, mas esse descontentamento não chegou a interferir na intensidade de uso dos
participantes e nem indica a presença de uma consciência crítica desenvolvida, já que, em
sua maioria, referiu-se a possíveis aperfeiçoamentos nos mecanismos de satisfação de
necessidades produzidas. Houve também sujeitos que citaram descontentamentos com o
uso do sítio de maneira contraditória, destacando as mesmas razões para justificar tanto os
malefícios quanto os benefícios do uso. Não se pode desconsiderar os descontentamentos
citados como possíveis focos de resistência à submissão do indivíduo ao controle social,
restando-nos incentivar o investimento na potencialização dos mesmos em direção a uma
consciência crítica e de negação do todo repressivo. Entretanto, nas sessões realizadas, os
relatos sobre as satisfações com o uso superaram em muito a aparição destes possíveis
focos de resistência. Sendo assim, a análise foi dividida nas seguintes categorias de
satisfação: satisfação na integração com a televisão, satisfação com a publicidade,
satisfação com a utilidade e a praticidade, satisfação narcísica, satisfação no isolamento e
satisfação com o hiper-realismo. Entendemos que o lugar ocupado pelas satisfações
individuais na atual sociedade relaciona-se intimamente com o papel desempenhado pelas
instâncias de controle desta mesma sociedade. Diante das renúncias impostas ao princípio
do prazer na fundação da civilização humana, a fruição do prazer nesta sociedade só seria
possível mediante a sublimação das pulsões, que preserva tanto a consciência das
renúncias infligidas pela repressão ao indivíduo, quanto a necessidade de liberação – a
oposição à ordem vigente (MARCUSE, 1967). Porém, a necessidade de controle e
administração das forças contrárias à manutenção da ordem capitalista produz meios de
redirecionamento das pulsões na forma de satisfações não-sublimadas, o que representa
antes uma contração do que uma extensão do desenvolvimento das necessidades
pulsionais do indivíduo por não tratarem-se de satisfações autênticas e de caráter autônomo
e sim compensatórias e de caráter heterônomo. Para Adorno e Horkheimer (1985), a



                                                                                           7
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


satisfação proporcionada pelos produtos da indústria cultural não é sublimada, mas
repressiva, pois apenas excita o prazer preliminar não sublimado, conservando oculta a
necessidade de liberação e impedido o desenvolvimento da consciência que se opõe ao
estabelecido. Desse modo, o aparato tecnológico se encarrega da produção de
necessidades cuja satisfação aparentemente reconcilia o indivíduo com a sociedade
repressiva por meio da consciência feliz (MARCUSE, 1967), da aceitação sem oposição dos
malefícios da sociedade.



A satisfação na integração com a televisão

As informações coletadas apontam para a necessidade de se compreender o Twitter como
parte de uma totalidade, de um sistema que abarca outros meios de comunicação como o
rádio e, principalmente, a televisão. Tanto a televisão aparece como extensão do Twitter e
incorpora ao programa o que lhe convém das opiniões dos telespectadores (“eles já
interagem com o Twitter diretamente e já mostra aquilo na televisão” (SUJEITO 1G2),
quanto o Twitter aparece como uma extensão da televisão, já que transmite
simultaneamente a programação televisiva por meio de mensagens de texto, assim como
também realiza o anúncio de programas. O Sujeito 8G2 afirma que a interação dos
telespectadores com um programa de televisão por meio do Twitter é requisitada pela
própria emissora: “Ela pede os comentários”. A televisão promove o uso do Twitter entre os
telespectadores por meio de suas celebridades, como afirma o Sujeito 3G1: “Pra ver TV
agora tem que tá o Twitter lá pra ver o que a galera tá falando [...] até os próprios
apresentadores, eles mandam as pessoas seguirem os programas no Twitter”. A satisfação
do indivíduo com sua participação nos programas de televisão não provém de uma
necessidade dele e sim da televisão. Segundo Adorno e Horkheimer (1985) “o poder da
indústria cultural provém de sua identificação com a necessidade produzida” (p.128),
necessidade imposta aos indivíduos também por programas de televisão que determinam o
consumo da massa. Quando o Sujeito 3G1 afirma haver uma necessidade de usar o Twitter
enquanto se assiste televisão, aponta também para outra necessidade: “pra ver o que a
galera tá falando”. Ou seja, já não basta assistir ao programa, é preciso mais, é preciso
estar em contato com os outros telespectadores, identificados com a mesma necessidade
produzida. Se por um lado a necessidade do contato com o apresentador de um programa
de televisão e com todos os outros telespectadores ao mesmo tempo pelo Twitter revela a
sujeição dos homens ao controle, por outro lado denuncia o afastamento do indivíduo de si
mesmo. Como afirma Marcuse (1998), separado dos grandes, o indivíduo é condenado à
solidão, ao vazio, ao ódio ou mesmo aos sonhos do próprio eu – condição que é evitada
pela “antena em cada casa, o rádio em cada praia, a vitrola em cada bar” (p. 97) e, segundo
                                                                                          8
Universidade Presbiteriana Mackenzie


parece indicar o material colhido neste trabalho, também pelo uso do Twitter. A solução para
a angústia do indivíduo em seu encontro consigo mesmo lhe é imposta de fora e favorece,
dessa maneira, a administração de sua subjetividade. Ao mesmo tempo, o encontro consigo
mesmo e com sua impotência diante da realidade poderia favorecer o desenvolvimento da
consciência a respeito da dominação à qual o indivíduo está submetido e o encontro de uma
solução na recusa à administração externa. Se a internet oferece a possibilidade de
reversão do processo de comunicação como afirma Castells (2000), o indivíduo não parece
favorecido por essa possibilidade pois, no caso do Twitter, sua integração à indústria cultural
converte a possibilidade do exercício da consciência autônoma no indivíduo em mais um
mecanismo social de satisfação de necessidades individuais hetenonomamente produzidas.
A possibilidade de expressão da individualidade, potencialidade técnica inerente à Internet,
não é o que mais parece cativar o Sujeito 1G2 a fazer uso do sítio: “enquanto vai passando
o clipe, tem os tweets [...] na tela da TV [...] você quer porque quer que seu post apareça na
televisão”. O desejo narcísico de onipotência camufla a impotência do indivíduo diante da
realidade. Ver sua mensagem veiculada na televisão satisfaz a necessidade de tornar sua
voz única e onipresente, ser reconhecido em sua particularidade mesmo que por uma fração
ínfima de tempo. Não é suficiente expressar-se: é imposta ao indivíduo a necessidade de
aparecer para a massa, o que o torna ainda mais dependente das instâncias produtoras de
sua necessidade para que ele se satisfaça, do grande meio de comunicação de massa para
que seu desejo – que é o desejo do meio - se realize.



A satisfação com a publicidade

Para Adorno e Horkheimer (1985) a publicidade e a indústria cultural se confundem tanto
técnica quanto economicamente, pois a repetição das mercadorias culturais coincide com a
repetição dos slogans de propaganda. Um meio individualizado de comunicação como a
internet torna possível o envio de propagandas diretamente aos indivíduos de maneira
particular, tornando-se o aperfeiçoamento da publicidade de massa. Como afirma Póvoa
(2000), “a observação do comportamento dos usuários é o caminho para uma experiência
verdadeiramente ‘sem costura’ entre conteúdo e comércio” (p. 44). Essa estratégia parece
ter sido adotada amplamente no Twitter e os sujeitos apontam para alguns supostos
benefícios ao receber publicidade em seus perfis. O Sujeito 1G1 prefere abrir mão da
possibilidade de buscar informações por conta própria e concede esse papel à fonte das
informações: “ao invés de entrar em todos os sites você recebe na sua página tudo que
você quer saber sobre novidades”. Da mesma maneira, o Sujeito 2G2 pensa ser positivo o
fato de que a publicidade individualizada “atinge mais diretamente a pessoa, ao invés de ser
um sítio em que você tem que mandar um e-mail, esperar dias”, apontando a facilidade em


                                                                                             9
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


se ter o que se deseja como um benefício. Percebe-se nos trechos acima que aquilo que é
citado como benefício é, na verdade, um sinal da cessão de autonomia ao controle externo.
Marcuse (1998) afirma que ao receber de fora o que ele mesmo desejaria, o indivíduo cede
à administração externa o poder de controle da sua subjetividade. E a “intensidade com que
é capaz de ‘entregar as mercadorias’ em escala cada vez maior” (MARCUSE, 1967, p. 17) é
o que reprime no indivíduo a necessidade de se opor ao controle: “só de você colocar [...]
‘eu preciso de tal coisa’, aí quando você vai ver alguma empresa [...] te mandou uma
mensagem” (SUJEITO 8G2). As promoções oferecidas pelos anunciantes foram bastante
citadas como motivações para que os sujeitos autorizassem o recebimento de publicidade
em suas páginas pessoais no Twitter. Mais do que o prazer que o produto consumido pode
oferecer, é a promessa que vai além desse prazer que impulsiona ainda mais o consumo
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985). O sentido das promoções é produzir nos indivíduos a
sensação de que estão obtendo alguma vantagem ao consumir, o que lhes condiciona a
participar. Trata-se portanto de uma necessidade produzida. Observou-se claramente, em
determinados relatos, a presença da administração e do controle: não só a necessidade é
imposta (a vantagem em participar de uma promoção) mas são igualmente impostas as
condições para que o indivíduo satisfaça essa necessidade. Condições que condicionam o
indivíduo tanto a permanecer atento às mensagens, quanto a praticamente trabalhar pela
empresa, divulgando imediatamente a outras pessoas a promoção em questão, ou seja,
auxiliando as instâncias de controle a implementar sua estratégia de dominação da
subjetividade. Ocorre aquilo que Adorno e Horkheimer (1985) afirmam a respeito da
indústria cultural: em nome da eficácia, a técnica converte-se em psicotécnica, em
procedimento de manipulação das pessoas. Ao comentar sobre a publicidade de empresas
no Twitter, o Sujeito 2 G1 diz que “é uma forma de você atingir a população, você vai falar e
as pessoas vão te seguir”. Já outro participante afirma que esse mesmo fim publicitário é
também almejado por ele em relação a si mesmo: “você joga no Twitter, ‘veja meu video tal’,
acho que ele é uma forma dessa divulgação rápida mesmo” (SUJEITO 3G1). Não só os
produtos da indústria cultural se valem do Twitter para fins publicitários, mas os próprios
indivíduos aceitam ocupar a posição de mercadoria à venda quando usam o sítio, e se
satisfazem com isso. Assim como afirmam Adorno e Horkheimer (1985) que todo close de
uma atriz de cinema serve de publicidade de seu nome, a exposição e divulgação de fotos e
videos pessoais pelo Twitter são, para o Sujeito 3 G1, uma forma de autopromoção. Pelo
que vemos, o sítio não se constitui somente como parte de uma estratégia eficaz para a
publicidade das empresas, mas também como publicidade dos indivíduos, que expõem os
registros de suas vidas privadas, divulgando-os a um grande número de pessoas. A
dinâmica entre publicidade e indústria cultural, cuja identificação dos consumidores com as
mercadorias é ponto central, parece culminar na própria equivalência entre indivíduo e
                                                                                    10
Universidade Presbiteriana Mackenzie


mercadoria, significando a objetificação do primeiro. No capitalismo atual a mercadoria deve
coincidir com sua publicidade, já que o prazer que promete enquanto mercadoria não passa
de uma simples promessa, o que a tornaria intragável (ADORNO; HORKHEIMER, 1985)
não fosse a imagem a ela associada, à qual os indivíduos se identificam. Quando os
indivíduos, confinados no bem-estar de suas vidas privadas, são tolhidos do contato
corporal e consequentemente das possibilidades de identificação com o outro (RAMOS,
2008), restam-lhes para tanto as imagens produzidas pela indústria cultural. Segundo Sodré
(1987), a produção de uma realidade imaginária aos indivíduos que identifique-se ao real
alia-se atualmente à produção de imagens eletrônicas, tornando o ato de ver e ser visto
como medida de poder e de existência legítima. A integração, em um mesmo ambiente
tecnológico (neste caso, o Twitter), entre as esferas da publicidade e das relações humanas,
subjuga esta última ao modo de funcionamento da primeira. A publicidade de si-mesmo, por
meio de fotos, vídeos e outros recursos imagéticos, como o Sujeito 3 G1 afirma fazer no
Twitter, configura-se como objetificação de sua subjetividade por meio do desvelamento das
características próprias ao particular em nome de sua dissolução em um código universal
baseado em imagens, assim como a publicidade faz com as mercadorias.



A satisfação com a utilidade e a praticidade

Segundo Adorno e Horkheimer (1985) como a promessa de satisfação dos produtos da
indústria cultural nunca é plenamente cumprida, estes precisam ser úteis ao indivíduo
também para outras coisas. Para o Sujeito 6G2 o Twitter “não só diverte, facilita a nossa
vida”. Já para o Sujeito 2G1, o sítio facilita a satisfação com o consumo: “torna a vida muito
mais prática, né? Você não precisa sair de um lugar pra ver as coisas”. Já o Sujeito 3G1, a
pesar de assumir que “perde” seu tempo usando o Twitter, não deixa de usar o programa,
mas procura até encontrar satisfação no uso: “Virou útil pra mim de certa forma [...] eu era
muito desinformada, aproveitei já que eu perco tempo naquilo, eu agora tô caçando algumas
coisas”. O princípio da utilidade da sociedade, do qual falam Adorno e Horkheimer (1985),
coincide com o imperativo da produção, pois considera inútil qualquer atividade que não
esteja de acordo com a lógica de produção e consumo. Útil, portanto, é aquilo que pode
proporcionar satisfação. Algumas das utilidades do Twitter, de acordo com os participantes,
são a possibilidade de conquista de popularidade e a aparente aproximação com as
celebridades. Identificados aos modelos da indústria cultural, os indivíduos consideram o
Twitter uma maneira prática de também alcançarem eles mesmos a popularidade: “Se o
pessoal começa a te seguir, vai indicando, que foi isso que aconteceu com eles, você pode
conseguir muito mais fácil (SUJEITO 1G1). “Eles”, neste caso, são pessoas que tornaram-se
famosas pelo Twitter. Além de popularidade, o contato com os outros é facilitado pela ilusão


                                                                                           11
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


de proximidade: “você faz mais amizades com as pessoas porque como elas tão meio que
fazendo parte do seu cotidiano, é muito mais fácil se aproximar” (SUJEITO 2G1). A ilusão de
grandeza que provoca a falsa sensação de estar perto dos ídolos é a mesma onipotência
que almeja a popularidade. E tanto uma quanto a outra contribuem para fazer os indivíduos
esquecerem-se de sua impotência diante das instâncias que os controlam. As relações
humanas não mais possuem um fim em si, são incorporadas pela frieza da técnica que as
converte em meios que proporcionam alguma utilidade. A aliança entre a frieza e o
isolamento protetor decorrente do medo das relações (RAMOS, 2008) fica clara na
declaração de alguns dos participantes. O fato de poder acessar conversas rapidamente ao
mesmo tempo em que pode parar de conversar sem a necessidade de se reportar ao outro
representa “praticidade” para o Sujeito 1G1. O Sujeito 2G1 também concorda que a
ausência de mediação humana nas relações proporcionada pelo Twitter torna mais prático
relacionar-se: “você [...] dá tchau geral e para de falar”. O que parece é que do mesmo
modo com que os produtos da indústria cultural, para atenuar a incapacidade de cumprir por
inteiro suas promessas de satisfação, precisam demonstrar utilidade para além de seus fins
originais, a cada vez mais longínqua possibilidade de identificação com a figura paterna
(MARCUSE, 1998) - progressivamente substituída por modelos pré-fabricados – e com
outras pessoas pela mediação corporal – esvaziada devido ao confinamento do isolamento
protetor (RAMOS, 2008) – é atenuada por compensações que acabam determinando a
impossibilidade da experiência nas relações humanas. Assim como, segundo Ramos
(2008), a negação do corpo nas relações mediadas por computador evita a percepção das
causas dessa negação, os indivíduos entendem como utilidade e praticidade o
aperfeiçoamento técnico da satisfação com o consumo, da onipotência e da frieza nas
relações - justamente aquilo que os afasta do reconhecimento da promessa de felicidade
negada pela sociedade.



A satisfação narcísica

O enfraquecimento do papel do pai na formação subjetiva do indivíduo, cedendo lugar aos
mecanismos de dominação social (MARCUSE, 1998) compromete a autonomia individual
não só em razão da atrofia da função mediadora do ego, mas também devido à fragilidade
na constituição do superego. O princípio de realidade administrado que atualmente ocupa o
lugar antes pertencente à função paterna oferece uma grande variedade de modelos
identificatórios que não variam qualitativamente – relacionam-se com os indivíduos de
maneira distante, não sendo introjetados adequadamente, assim fragilizando a formação do
ego que “não pode, de um lado, dar conta das exigências do id e nem responder a elas de
forma adequada, e de outro lado, dificulta a formação do superego” (CROCHÍK, 1990, p.
                                                                                   12
Universidade Presbiteriana Mackenzie


151). Comprometido em sua constituição, o superego não é capaz de exercer a censura à
entidade censora, ou seja, de fundar a consciência (MARCUSE, 1967) no indivíduo, que
passa a ter sua existência reduzida aos outros – não só abdicando do papel de sujeito
socio-histórico que se opõe ao status quo, mas também deixando de se sentir responsável
pelos seus atos e alienando-se do sentimento de culpa. O narcisista, segundo Crochík
(2000), é justamente aquele que se julga independente do mundo e do sofrimento que este
provoca, privando-se de relações amorosas (e, portanto, conflituosas) com os outros ao
redirecionar a libido para o próprio eu. Desprovido da capacidade de negar o existente,
assim como da auto-crítica, o indivíduo submetido à heteronomia defende-se criando uma
auto-imagem especular onipotente, fundida ao imaginário disseminado pelos meios de
comunicação de massa.

Nas sessões de grupo focal, o Sujeito 3G1 afirmou entender o Twitter como um meio de ser
visto rapidamente pelos outros: “você joga o link lá no Twitter que você postou uma foto
nova [...] você joga no Twitter, ‘veja meu video tal’, acho que ele é uma forma dessa
divulgação rápida mesmo”. Já o Sujeito 2G1 disse: “você tinha que passar o link pra todo
mundo ler, tem que fazer toda uma elaboração e no Twitter não, você posta e tá lá pra todo
mundo ver”. Percebe-se que no Twitter a exibição de si mesmo é tecnologicamente
facilitada às custas da exclusão do contato com o outro, o que nos remete ao o narcisismo
em suas relações com a ideologia da racionalidade tecnológica. A ideologia que sustenta a
falsa neutralidade da tecnologia, seu formalismo característico (a redução científica do
homem e da natureza a equivalentes gerais), o pragmatismo e a frieza do cálculo, invade a
esfera das relações individuais e sociais (CROCHÍK, 2000) produzindo ao invés de uma
consciência política, uma consciência tecnológica “que reduz a si mesmo e aos outros, a
objetos técnicos” (CROCHÍK, 1990, p. 153). Abstendo-se do contato com o outro, o
indivíduo alimenta a sensação de onipotência e evita o sofrimento do desamparo: “Você não
tem a frustração de conferir quem leu ou não” (SUJEITO 3G1). “Exato, não tem esse
negócio de comentar. Tá ali” (SUJEITO 2G1). O distanciamento do outro também se revela
na busca por relações que se baseiem somente na semelhança, no espelho, evitando-se
assim o conflito com o diferente. “No Twitter você vai saber o que a pessoa tem em comum
com você, eu não vou seguir alguém que não goste do que eu goste” (SUJEITO 3G2). As
características de onipotência, exibicionismo e do direcionamento da libido para o próprio eu
aparecem ainda mais claramente no trecho a seguir: “O Twitter é uma forma de você falar
coisas de si mesma pra você e pro resto do mundo, é uma forma de você se expor, mas não
se expor de forma tão consciente” (SUJEITO 2G1). Segundo Sodré (1987), os meios de
comunicação de massa, ao reproduzirem a auto-imagem da sociedade tecnológica,
produzem um imaginário controlado, uma realidade simulada na qual se identificam e



                                                                                          13
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


“investem narcisicamente as consciências” (p. 60). É o que vemos na integração entre
Twitter e televisão: “você quer porque quer que seu post apareça na televisão [...] Então
você vai lá e fica no Twitter e assistindo a televisão toda hora” (SUJEITO 1G2). O “prazer de
se ver tecnologicamente reproduzido” (SODRÉ, 1987, p. 67) determina também as relações
que se estabelecem em um mundo reduzido a imagens: o aparente encontro com o outro
configura-se na verdade em um encontro consigo mesmo por meio do “reconhecimento
autoritário, mimético, que serve de pretexto ao sujeito para exprimir seu narcisismo
individual” (SODRÉ, 1987, p. 67). Um recurso do Twitter bastante citado pelos participantes
foi o Trending Topics. Por meio de um sinal característico (#) digitado imediatamente antes
da palavra desejada, este recurso permite ao usuário cadastrar termos que são
automaticamente elencados em uma mesma página, segundo a freqüência com que são
citados no sítio. Um dos participantes argumenta que esse recurso não necessariamente
massifica a comunicação no Twitter: “Não é todo mundo falando a mesma coisa” (SUJEITO
1G2). Mas por trás desta suposta “democratização das opiniões”, reside a redução destas
mesmas opiniões a equivalentes, já que não importa o conteúdo do que é escrito, o
importante mesmo é ser visto: “é uma forma de você atingir o resto do mundo também né?
[...] todo mundo quer ter alguma coisa do seu país lá” (SUJEITO 2G1). O exibicionismo e a
onipotência narcísicos aliam-se à estatística na mensuração do potencial manipulador que
cada um é capaz de alcançar: “A intenção é deixar ele famoso. Todo mundo usar e ir lá pro
top, pros Topics” (SUJEITO 1G1). A relação entre o elenco das palavras mais citadas pelos
usuários do sítio e a possibilidade de conquista de popularidade parece ter sido percebida
pelos administradores do Twitter: “Principalmente em Trending Topics [...] tem lá ‘Clique
aqui pra conseguir mais seguidores’” (SUJEITO 1G2). A frieza estatística e o
aperfeiçoamento tecnológico servem à auto-adoração narcisista: “Tem um site [...] que eles
te dão seguidor [...] em 3 semanas ela tava com trezentas e tantas pessoas seguindo ela. É
automático” (SUJEITO 1G3 ). E a própria indústria cultural reforça essa ideologia, como
observou o Sujeito 8G2: “Acho que na última ‘Superinteressante’ tinha assim ‘Como
conseguir mais seguidores’ e eles davam as dicas”. A objetificação do outro para fins
satisfatórios de característica narcisista por meio do uso do Twitter parece se dar pela falsa
intenção de contato que encobre uma finalidade exibicionista: “te segue só pra você seguir
[...] só pra aumentar os seguidores” (SUJEITO 8G2). O mesmo processo também é
observado, segundo o Sujeito 5G2, em outros sítios de redes sociais: “Orkut lotado é status
alto [...] o bom era ter o Orkut lotado”. No Twitter, o alcance da popularidade sujeita o próprio
pensamento à objetificação: “você vai ser, tipo, popular pelo que você escreve [...], pelo que
você tá pensando” (SUJEITO 3G2). Com todo o aparato disponível nos sítios de redes
sociais como o Twitter, o exibicionismo individual, se comprovado o seu valor de uso pelo
mercado por meio da mensuração estatística de sua aprovação, é recompensado pela
                                                                              14
Universidade Presbiteriana Mackenzie


teleorganização, que promove o narcisista a celebridade: “Ele conseguiu um programa na
MTV [...] de tantos acessos que teve” (SUJEITO 3G1). Essa possibilidade parece rondar os
sonhos do Sujeito 2G1, seus ideais narcísicos de auto-adoração: “por mais desconhecido
que você seja, você é importante o bastante pra as pessoas te seguirem cada segundo do
seu dia-a-dia, como uma estrela”. Para Sodré (1987), em suas relações com a tecnologia
atual, o ego do indivíduo narcisista se define “por princípios de visibilidade absoluta ou de
tactilidade universal – suscitados pela ligação global (através da imagem e do som) do
mundo sensível com os sentidos de cada um” (p. 67). Os modelos produzidos pela
realidade, responsáveis pela constituição do indivíduo como um “Narciso onipotente” (p. 68),
correspondem à “obsessão contemporânea de tudo ver, falar, ouvir, sentir – a exacerbação
tecnológica dos sentidos – e de pretender definir-se por um espaço-tempo de imediatez e
ubiquidade” (SODRÉ, 1987, p. 67-68). Imerso no que o autor define como “telerealidade”, o
narcisista vê o outro como um prolongamento de si mesmo, sem diferenças, ao mesmo
tempo em que a sociedade para ele se apresenta como redutível ao universo individual por
meio de um controle de ordem tecnocrática.



A satisfação com o isolamento

A consciência feliz (MARCUSE, 1967) daqueles que permanecem passivamente confinados
em suas casas, usufruindo de meios de comunicação à distância como o Twitter para que
não se percebam isolados, auxilia na justificação da dominação, ocultando o fato de que o
isolamento protetor é na verdade seu resultado. Diante dos sacrifícios e ameaças impostos
pela sociedade, os homens “correm para suas casas e não para as ruas” (RAMOS, 2008, p.
84), encontrando solução para o desamparo em satisfações que não demandam o
abandono de seus domicílios. E a ausência de encontros presenciais aparentemente
encontra solução na tecnologia: “na sua casa, a pessoa na casa dela, mas tá
compartilhando o que tá acontecendo” (SUJEITO 3G3). Entretanto, o isolamento não se
caracteriza apenas pelo confinamento domiciliar. Diante da possibilidade de comunicar-se
individual e instantaneamente em escala global mesmo fora de casa (por meio de aparelhos
móveis como o telefone celular), o indivíduo sente-se permanentemente “conectado” às
pessoas que deseja. Como o Sujeito 2G1 que disse ser possível “encontrar todo mundo no
Twitter” e o Sujeito 3G2 que afirmou: “a pessoa pode estar do outro lado do mundo [...]
vocês conseguem se conversar pelo Twitter”. Assim, enquanto se satisfaz com sua pretensa
onipresença, o indivíduo alimenta a indiferença narcísica por todo real externo à consciência
individual (SODRÉ, 1987) e ameniza qualquer vestígio de solidão que possa decorrer do
isolamento decorrente dos sacrifícios exigidos pela sociedade. O Sujeito 2G1 defende que
parte da satisfação que desfruta ao utilizar o Twitter se dá em razão da facilidade em


                                                                                          15
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


construir laços: “um monte de pessoas com quem eu mal falava vieram falar comigo [...]
você faz mais amizades com as pessoas porque, como elas tão meio que fazendo parte do
seu cotidiano, é muito mais fácil se aproximar”. “Saber o que a pessoa está fazendo”, “fazer
mais parte da vida da pessoa” ou “ficar mais próximo do cotidiano da pessoa” foram
satisfações citadas de modo recorrente nas sessões de grupo focal. Ramos (2008) afirma
que, no que diz respeito à exposição da vida privada pela Internet, a contrapartida do
narcisismo daquele que se expõe é a solidão daquele que assiste. O gozo vouyerista de
quem invade a privacidade alheia se alia à noção do outro enquanto um “completo estranho
a ser desvendado” (p. 84), pois o tipo de contato que exclui a mediação corporal exclui
também a identificação e reforça o isolamento. Portanto, “ficar mais próximo do cotidiano da
pessoa”, como afirmou o Sujeito 3G1, não significa estar mais próximo do outro. Na
escassez de relações mediadas pelo corpo, o indivíduo recorre às identificações produzidas
pela indústria cultural, o que reforça sua heteronomia. Segundo o Sujeito 4G2, o Twitter “é a
melhor forma de você estar presente ou sabendo da vida dos artistas”. Isolado, o indivíduo
se contenta com a ilusão de proximidade com seus ídolos pré-fabricados: “dá aquela
sensação de proximidade, ‘Eu te conheço’, então faz o fã ficar mais tipo ‘Ai, eu sigo ele, eu
conheço o Justin Bieber, eu sei da vida dele’” (SUJEITO 3G2). O Sujeito 2G1 argumentou
que, após acompanhar o cotidiano de uma pessoa, “se você quer se aproximar, você
conversa com ela”. Contudo, segundo Ramos (2008), nas novas formas de relação
mediadas por computador “o olhar e quaisquer outras mediações corporais podem ser
evitados, [...] o anonimato pode estar garantido, [...] a identificação e o rompimento da
proteção do isolamento e da solidão não são necessários” (p.84). Para indivíduos
amedrontados e cada vez menos afeitos às relações presenciais (que implicam a mediação
do corpo, ou da “materialidade sobre a qual incide a opressão” (RAMOS, 2008, p. 84), a
realização do encontro real torna-se quase insuportável: “Tem muitas coisas que eu falo no
Twitter que eu não falo para as pessoas normalmente [...] porque cara a cara eu não
consigo interagir com a pessoa” (SUJEITO 3G2). Protegido do contato corporal e fortalecido
pelo anonimato, o indivíduo pode assim escoar energia psíquica na direção do objeto ao
qual ela se dirige: “É uma forma de você por alguma coisa que está dentro de você e que
você não sabe expressar e que você põe pra fora” (SUJEITO 3G2). “E com a oportunidade
ainda de ser anônimo, não saber que é você que está expondo aquilo” (SUJEITO 6G2). As
relações mediadas pelo Twitter contribuem para o isolamento pois proporcionam satisfação
na solidão, como podemos observar nos trechos seguintes: “É a forma de você estar em
contato com todo mundo mesmo quando você está sozinho” (SUJEITO 3G2). “Mesmo que
não seja pra outra pessoa você quer falar do seu dia” (SUJEITO 2G1).



                                                                                              16
Universidade Presbiteriana Mackenzie


A satisfação com o hiper-realismo

Segundo Adorno (2000) o movimento de adaptação dos indivíduos ao status quo relaciona-
se com o modo com que a realidade se apresenta à eles: como uma comprovação da
própria realidade. Como afirma Crochik (2006), a ideologia “fixa e expressa a realidade
existente, impedindo qualquer tentativa de alteração” (p. 126), pois desse modo impede que
haja pensamento sobre essa realidade, o que criaria condições para a sua transformação.
Os indivíduos “precisam impor a adaptação a si mesmos de um modo dolorido, exagerando
o realismo em relação a si mesmo, e, nos termos de Freud, identificando-se ao agressor”
(ADORNO, 2000, p. 145). Ou seja, quando a realidade torna-se tão poderosa na sua
imposição aos homens, estes reproduzem eles mesmos a realidade que os oprime,
afirmando o existente. Uma vez que a realidade não pode ser apresentada de outra forma, o
culto aos fatos - a descrição do objeto sem a negação que permita o pensar sobre ele - é
expressão atualmente do hiper-realismo (CROCHIK, 2006, p. 126). Em geral, aquilo que os
participantes das sessões de grupo focal relataram como sendo o conteúdo de suas
mensagens no Twitter, possui uma característica em comum: a revelação de fatos sobre
seus cotidianos, “tem dia que eu fico o dia inteiro assim, eu respiro, eu anoto ‘tô respirando’”
(SUJEITO 3G3). Tida pelos sujeitos como suposto benefício do uso do Twitter, a reprodução
da realidade e o acesso constante a essa reprodução se mostra bastante atraente: “Sabe
aquela rádio CBN? [...] fica mandando mensagem, assim, de informações do que está
acontecendo no dia” (SUJEITO 7G2). Segundo os participantes, alguns recursos
proporcionados pelo Twitter promovem a sensação de participação nos acontecimentos:
“[...] blogueiros [...] filmam ao vivo [...] e você vai fazendo pergunta e ele vai respondendo ao
vivo” (SUJEITO 2G1). O limite imposto para a extensão das mensagens veiculadas no
Twitter torna ainda mais rápida a atualização das informações: “você fala menos, só tem 140
caracteres, mais direto” (SUJEITO 3G1). Apesar da clara redução da expressão individual
devido ao limite imposto pelo sítio, o Sujeito 2G1 não parece se importar: “você faz tipo uns
três, quatro posts tentando resumir o máximo e às vezes não dá. Bem interessante”. Dentre
os sítios de relacionamento da internet, o Twitter parece ser aquele que aperfeiçoou a união
entre a afirmação imediata da realidade e o imperativo da velocidade: “Começou com o
MSN1, que aí você põe no seu nick ‘Estou na casa da A. vendo filme’. Aí foi pro Orkut ‘Festa
de não-sei-quem amanhã’ [...] o Facebook segue a mesma linha. Aí de repente entra o
Twitter [...] ‘Estou na festa’”. O Sujeito 3G2 completa “’Continuo na festa’. ‘A festa está
legal’”. Observando a fala a seguir do Sujeito 2G2, percebe-se que a velocidade é uma
exigência do culto aos fatos da realidade: “’Agora estou triste’. [...] cinco minutos depois,

1
 Programa de computador que permite o envio e o recebimento de mensagens de texto
imediatamente (CGI BRASIL, 2010)



                                                                                              17
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


meu, o ‘estou triste’ de antes já foi, já passou a frase”. A demanda por rapidez exige atenção
total aos estímulos, o que reduz a consciência ao sistema perceptivo: “sem o relaxamento e
o despreendimento necessários ao trato dos estímulos, a compreensão da realidade não
consegue ultrapassar a superfície e o instantâneo da captação dessas satisfações”
(RAMOS, 2008, p. 91). E a reprodução excessiva do fato torna-o praticamente inapreensível
para a memória, pois assim “o estímulo fica imediatamente velho após sua apreensão
instantânea” (RAMOS, 2008, p. 91). Perguntado por outro participante se iria escrever sobre
a sessão de grupo focal no Twitter, o Sujeito 3G2 respondeu: “[...] provavelmente não.
Porque eu vou chegar 6 horas da tarde em casa e já vai ter acontecido muita coisa hoje [...]
se eu lembrar o que aconteceu hoje eu vou escrever”. Sem poder sequer se lembrar dos
fatos devido à rapidez com que a realidade estimula sua percepção, o indivíduo fica ainda
mais sujeito a interpretações prontas da realidade, impostas de fora. De acordo com Ramos
(2008), “a organização do mundo se reduz ao processo superficial e limitado da ação
perceptiva e se fragiliza, assim, às imposições de modelos administrados” (p.91). Se “o ritmo
de videoclipe da vida contemporânea impede a percepção e a compreensão paciente e
reflexiva do todo, o que caracterizaria a experiência particular e mediada” (RAMOS, 2008, p.
91), o pensamento submetido a esse ritmo não chega a elaborar a reflexão pois é excluído
de sua dimensão subjetiva e convertido em realidade no ato da sua concepção: “Eu acho
que é aquele estilo do pensamento, né? Porque, tipo, o pensamento ele é uma coisa muito
rápida” (SUJEITO 2G2). Ao encontrar satisfação com a conversão de seu pensamento em
fato, ao objetificar sua subjetividade, o indivíduo se priva da reflexão, de pensar seu próprio
pensamento. A dimensão particular, que deveria se opor à realidade totalitária para pensá-la
e transformá-la (CROCHÍK, 1998) é tornada pública e integrada à essa mesma realidade.



CONCLUSÃO

A presente investigação sobre os elementos subjetivos envolvidos no uso do Twitter
encontrou alguns fatores que parecem indicar que o sítio contribui para intensificar o
processo de supressão da autonomia individual, mediante a cessão da subjetividade ao
controle e manipulação externos. Se o aparato produtivo como um todo determina as
necessidades dos indivíduos, o Twitter - por promover não a contestação da opressão, mas
a coesão e o contentamento sociais – aparenta ser um meio de satisfação dessas
necessidades concedido pela própria sociedade tecnológica. As diversas formas de
satisfação obtidas por meio do uso do sítio segundo as palavras dos sujeitos participantes,
talvez nos permitam classificá-lo como pertencente ao sistema produtor de necessidades
denominado por Adorno e Horkheimer de indústria cultural. Isso porque tratam-se de
satisfações que dão conta apenas de necessidades produzidas – e não legítimas do
                                                                              18
Universidade Presbiteriana Mackenzie


indivíduo – e que justamente por isso perpetuam a ordem repressiva existente. Alguns
fatores em relação aos procedimentos nos levam a vislumbrar outras possibilidades para
pesquisas futuras. O fato de haver participado da pesquisa somente pessoas do mesmo
gênero (feminino) sugere a realização de um trabalho semelhante somente com pessoas do
gênero masculino, com o objetivo de comparar os resultados de ambos. O nível de
escolaridade, que não foi estabelecido como critério de participação, também sugere a
comparação futura dos resultados entre os diferentes níveis.



REFERÊNCIAS

ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max; Dialética do Esclarecimento: fragmentos
filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

ADORNO, T.W. Mínima moralia. São Paulo: Ática, 1993.

______. Educação e emancipação. Trad. Wolfgang Leo Maar. 2 ed. São Paulo. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2000.

______. Televisão, consciência e indústria cultural. In: Cohn, Gabriel (org). Meios de
comunicação de massa e indústria cultural. São Paulo, Cultrix, p. 346-354, 1981.

CASTELLS, M. A sociedade em Rede. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000.

COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL (CGI BRASIL). Pesquisa sobre o Uso das
Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2009. São Paulo, 2010.

CROCHÍK, J. L. A personalidade narcisista segundo a Escola de Frankfurt e a ideologia da
racionalidade tecnológica. Psicologia-USP, São Paulo, 1 (2): 141-154, 1990.

CROCHÍK, J. L. O computador no ensino e a limitação da consciência. 1. ed. São Paulo:
Editora Casa do Psicólogo, v. 1., 198 p., 1998.

______. Tecnologia e individualismo: um estudo de uma das relações contemporâneas
entre ideologia e personalidade. Análise Psicológica, nov. 2000, vol.18, no.4, p.529-543,
2000.

______. Preconceito, Indivíduo e Cultura. 3. ed. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, v. 1.
174 p., 2006.

GOMES, Alberto Albuquerque. Usos e possibilidades do grupo focal e outras alternativas
metodológicas. Revista dos alunos do programa de pós-graduação em sociologia
antropologia da UFRJ, V. 2. n. 1 - julho de 2003.

MARCUSE, H. Eros e civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.



                                                                                          19
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


______. A Obsolescência da Psicanálise. In: Cultura e Sociedade. Vol 2. São Paulo: Paz e
Terra, 1998.

______. A Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

PÓVOA, Marcello. Anatomia da Internet: investigações estratégicas sobre o universo digital.
Rio de Janeiro: Casa da Palavra. 2000.

PRIMO, Alex. A busca por fama na web: reputação e narcisismo na grande mídia, em blogs
e no Twitter. Trabalho apresentado no GP Cibercultura, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de
Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, 2009.

RAMOS, C.. Indústria cultural, consumismo e a dinâmica das satisfações no mundo
administrado. In: Fábio Akcelrud Durão; Antônio Zuin; Alexandre Fernandez Vaz. (Org.). A
indústria cultural hoje. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, p. 79-93, 2008.

RECUERO, Raquel. Diga-me com quem falas e dir-te-ei quem és: a conversação mediada
pelo computador e as redes sociais na internet. Revista da Famecos, Vol. 1, No 38 , 2009.

RECUERO, R. e ZAGO, G. Em busca das "redes que importam": Redes Sociais e Capital
Social no Twitter. Anais do XVIII Encontro da Compós: Belo Horizonte, MG, junho de 2009.

SODRÉ, Muniz. Televisão e Psicanálise. São Paulo: Ática, 1987.




Contato: bilomaia@gmail.com e ednilton@mackenzie.com.br




                                                                                               20

More Related Content

What's hot

Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...
Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...
Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...Viviane de Carvalho
 
Livro Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede
Livro Comunicação, Tecnologia e Cultura de RedeLivro Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede
Livro Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rededocs_teccred
 
O Poder das Mídias Sociais, by FSB Comunicações
O Poder das Mídias Sociais, by FSB ComunicaçõesO Poder das Mídias Sociais, by FSB Comunicações
O Poder das Mídias Sociais, by FSB ComunicaçõesFSB Comunicação
 
Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]
Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]
Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]Tarcízio Silva
 
Jornalismo cidadão na internet
Jornalismo cidadão na internetJornalismo cidadão na internet
Jornalismo cidadão na internetmichelemitsue
 
Cultura Digital - Social bookmarking
Cultura Digital - Social bookmarkingCultura Digital - Social bookmarking
Cultura Digital - Social bookmarkingMarcilio Duarte
 
Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...
Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...
Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...Julia Travaglini
 
Mídias sociais na educação inteligência coletiva entre docentes e discentes
Mídias sociais na educação   inteligência coletiva entre docentes e discentesMídias sociais na educação   inteligência coletiva entre docentes e discentes
Mídias sociais na educação inteligência coletiva entre docentes e discentesTiago Nogueira
 
Cibercultura em tempos de mobilidade e Redes Sociais
Cibercultura em tempos de mobilidade e Redes SociaisCibercultura em tempos de mobilidade e Redes Sociais
Cibercultura em tempos de mobilidade e Redes SociaisRosemary Santos
 
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...Universidade Federal do Paraná
 
Desvendando as Redes Sociais
Desvendando as Redes SociaisDesvendando as Redes Sociais
Desvendando as Redes SociaisIbrahim Cesar
 
Monografia | Web Marketing
Monografia | Web MarketingMonografia | Web Marketing
Monografia | Web MarketingPatricia Melo
 
Jornalismo online e redes sociais na internet
Jornalismo online e redes sociais na internetJornalismo online e redes sociais na internet
Jornalismo online e redes sociais na internetTiago Nogueira
 

What's hot (20)

Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...
Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...
Quando o virtual transforma-se em real: as Redes Sociais como Ferramentas da ...
 
Thay
ThayThay
Thay
 
Prova cibercultura 1 anab
Prova cibercultura 1 anabProva cibercultura 1 anab
Prova cibercultura 1 anab
 
Livro Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede
Livro Comunicação, Tecnologia e Cultura de RedeLivro Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede
Livro Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede
 
O Poder das Mídias Sociais, by FSB Comunicações
O Poder das Mídias Sociais, by FSB ComunicaçõesO Poder das Mídias Sociais, by FSB Comunicações
O Poder das Mídias Sociais, by FSB Comunicações
 
Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]
Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]
Ciberculturas Juveniles - Marcelo Urresti [Resenha]
 
Cartilha Eleições
Cartilha EleiçõesCartilha Eleições
Cartilha Eleições
 
Jornalismo cidadão na internet
Jornalismo cidadão na internetJornalismo cidadão na internet
Jornalismo cidadão na internet
 
Cultura Digital - Social bookmarking
Cultura Digital - Social bookmarkingCultura Digital - Social bookmarking
Cultura Digital - Social bookmarking
 
Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...
Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...
Os elementos da teoria da comunicação aplicados à publicidade online - Teoria...
 
Mídias sociais na educação inteligência coletiva entre docentes e discentes
Mídias sociais na educação   inteligência coletiva entre docentes e discentesMídias sociais na educação   inteligência coletiva entre docentes e discentes
Mídias sociais na educação inteligência coletiva entre docentes e discentes
 
Artigo Intercom
Artigo IntercomArtigo Intercom
Artigo Intercom
 
Apostila 01 / Mídias Digitais: Panorama Histórico e Conceiitual
Apostila 01 / Mídias Digitais: Panorama Histórico e ConceiitualApostila 01 / Mídias Digitais: Panorama Histórico e Conceiitual
Apostila 01 / Mídias Digitais: Panorama Histórico e Conceiitual
 
Artigo_Jorge Santana Junior - A influência das redes sociais para o crescimen...
Artigo_Jorge Santana Junior - A influência das redes sociais para o crescimen...Artigo_Jorge Santana Junior - A influência das redes sociais para o crescimen...
Artigo_Jorge Santana Junior - A influência das redes sociais para o crescimen...
 
Cibercultura em tempos de mobilidade e Redes Sociais
Cibercultura em tempos de mobilidade e Redes SociaisCibercultura em tempos de mobilidade e Redes Sociais
Cibercultura em tempos de mobilidade e Redes Sociais
 
Apostila 02 / Novas Profissões: O Papel do Analista de Mídias Sociais
Apostila 02 / Novas Profissões: O Papel do Analista de Mídias SociaisApostila 02 / Novas Profissões: O Papel do Analista de Mídias Sociais
Apostila 02 / Novas Profissões: O Papel do Analista de Mídias Sociais
 
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
 
Desvendando as Redes Sociais
Desvendando as Redes SociaisDesvendando as Redes Sociais
Desvendando as Redes Sociais
 
Monografia | Web Marketing
Monografia | Web MarketingMonografia | Web Marketing
Monografia | Web Marketing
 
Jornalismo online e redes sociais na internet
Jornalismo online e redes sociais na internetJornalismo online e redes sociais na internet
Jornalismo online e redes sociais na internet
 

Viewers also liked (20)

Modulo iii
Modulo iiiModulo iii
Modulo iii
 
Folha de Boituva 2784
Folha de Boituva 2784 Folha de Boituva 2784
Folha de Boituva 2784
 
Avaré e suas bandas musicais
Avaré e suas bandas musicaisAvaré e suas bandas musicais
Avaré e suas bandas musicais
 
Diário Oficial de Guarujá
Diário Oficial de GuarujáDiário Oficial de Guarujá
Diário Oficial de Guarujá
 
Eleiçoes municipais 2012 itararé (1)
Eleiçoes municipais 2012   itararé (1)Eleiçoes municipais 2012   itararé (1)
Eleiçoes municipais 2012 itararé (1)
 
Diário Oficial de Guarujá - 21-12-11
Diário Oficial de Guarujá - 21-12-11Diário Oficial de Guarujá - 21-12-11
Diário Oficial de Guarujá - 21-12-11
 
Folha de Boituva nº 2783
Folha de Boituva nº 2783Folha de Boituva nº 2783
Folha de Boituva nº 2783
 
Diário Oficial de Guarujá
Diário Oficial de GuarujáDiário Oficial de Guarujá
Diário Oficial de Guarujá
 
Igarapava 53
Igarapava 53Igarapava 53
Igarapava 53
 
Diário Oficial de Guarujá - 10/08/2013
Diário Oficial de Guarujá - 10/08/2013Diário Oficial de Guarujá - 10/08/2013
Diário Oficial de Guarujá - 10/08/2013
 
Arte moderna
Arte modernaArte moderna
Arte moderna
 
Diário Oficial de Guarujá - 16-05-12
Diário Oficial de Guarujá - 16-05-12Diário Oficial de Guarujá - 16-05-12
Diário Oficial de Guarujá - 16-05-12
 
Para que servem os jornais[2012]
Para que servem os jornais[2012]Para que servem os jornais[2012]
Para que servem os jornais[2012]
 
La Vista CalçAda Barra Bonita E Mail
La Vista   CalçAda Barra Bonita E MailLa Vista   CalçAda Barra Bonita E Mail
La Vista CalçAda Barra Bonita E Mail
 
Aparecida document
Aparecida documentAparecida document
Aparecida document
 
Cajobi Senador
Cajobi SenadorCajobi Senador
Cajobi Senador
 
Cajobi Presidente
Cajobi PresidenteCajobi Presidente
Cajobi Presidente
 
Guaraci Estadual
Guaraci EstadualGuaraci Estadual
Guaraci Estadual
 
IPB em Echaporã
IPB em EchaporãIPB em Echaporã
IPB em Echaporã
 
Barra Bonita - Eclusa
Barra Bonita - EclusaBarra Bonita - Eclusa
Barra Bonita - Eclusa
 

Similar to Gabriel monteiro

Medindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TA
Medindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TAMedindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TA
Medindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TAErika Heidi
 
Projeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves Considerações
Projeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves ConsideraçõesProjeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves Considerações
Projeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves ConsideraçõesVívian Freitas
 
Teorias da Comunicação Digital 01
Teorias da Comunicação Digital 01Teorias da Comunicação Digital 01
Teorias da Comunicação Digital 01Pablo Moreno
 
Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...
Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...
Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...Victoria Siqueira
 
Interrogando plataformas e algoritmos digitais
Interrogando plataformas e algoritmos digitaisInterrogando plataformas e algoritmos digitais
Interrogando plataformas e algoritmos digitaisTarcízio Silva
 
Novas Tecnologias da Comunicação
Novas Tecnologias da ComunicaçãoNovas Tecnologias da Comunicação
Novas Tecnologias da ComunicaçãoSuzana Cohen
 
O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...
O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...
O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...Ana Lidia Alencar
 
A+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacao
A+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacaoA+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacao
A+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacaoMoisés Costa Pinto
 
Monografia FECAP | Pós-Graduação Marketing Digital
Monografia FECAP | Pós-Graduação Marketing DigitalMonografia FECAP | Pós-Graduação Marketing Digital
Monografia FECAP | Pós-Graduação Marketing DigitalMárjorye Cruz
 
Catrata livre estado do conhecimento na Intercom
Catrata livre   estado do conhecimento na IntercomCatrata livre   estado do conhecimento na Intercom
Catrata livre estado do conhecimento na IntercomDouglas Gonçalves
 
A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...
A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...
A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...Marina Amâncio
 
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...Universidade Federal do Paraná
 
As Novas Tecnologias O Individuo E A Sociedade
As Novas Tecnologias O Individuo E A SociedadeAs Novas Tecnologias O Individuo E A Sociedade
As Novas Tecnologias O Individuo E A Sociedadeclaudia amaral
 
Seminário paty joana aula 12-25-05-2011
Seminário paty joana aula 12-25-05-2011Seminário paty joana aula 12-25-05-2011
Seminário paty joana aula 12-25-05-2011Patricia Neubert
 
Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...
Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...
Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...Marcelo Veloso
 
Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)
Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)
Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)ACORN-REDECOM
 
O impacto das novas tecnologias na sociedade
O impacto das novas tecnologias na sociedadeO impacto das novas tecnologias na sociedade
O impacto das novas tecnologias na sociedadeCeli Jandy Moraes Gomes
 
Artigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacional
Artigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacionalArtigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacional
Artigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacionalLaís Bueno
 

Similar to Gabriel monteiro (20)

Medindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TA
Medindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TAMedindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TA
Medindo influência nas mídias sociais: estudo de caso do Índice TA
 
Apresentação trabalho sincult 2015 salvador
Apresentação trabalho sincult 2015 salvadorApresentação trabalho sincult 2015 salvador
Apresentação trabalho sincult 2015 salvador
 
Projeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves Considerações
Projeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves ConsideraçõesProjeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves Considerações
Projeto de Monografia - Marketing Digital e Direito Online: Breves Considerações
 
Adriana rabassa
Adriana rabassaAdriana rabassa
Adriana rabassa
 
Teorias da Comunicação Digital 01
Teorias da Comunicação Digital 01Teorias da Comunicação Digital 01
Teorias da Comunicação Digital 01
 
Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...
Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...
Relacionamento 2.0: a dinâmica entre influenciadores digitais e as marcas em ...
 
Interrogando plataformas e algoritmos digitais
Interrogando plataformas e algoritmos digitaisInterrogando plataformas e algoritmos digitais
Interrogando plataformas e algoritmos digitais
 
Novas Tecnologias da Comunicação
Novas Tecnologias da ComunicaçãoNovas Tecnologias da Comunicação
Novas Tecnologias da Comunicação
 
O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...
O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...
O uso das redes sociais como ferramenta de comunicação no ambiente jurídico: ...
 
A+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacao
A+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacaoA+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacao
A+internet+e+suas+especificidades+uma+ferramenta+de+segmentacao
 
Monografia FECAP | Pós-Graduação Marketing Digital
Monografia FECAP | Pós-Graduação Marketing DigitalMonografia FECAP | Pós-Graduação Marketing Digital
Monografia FECAP | Pós-Graduação Marketing Digital
 
Catrata livre estado do conhecimento na Intercom
Catrata livre   estado do conhecimento na IntercomCatrata livre   estado do conhecimento na Intercom
Catrata livre estado do conhecimento na Intercom
 
A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...
A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...
A Utilização das Mídias Digitais nas Manifestações Ocorridas no Brasil em 201...
 
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
 
As Novas Tecnologias O Individuo E A Sociedade
As Novas Tecnologias O Individuo E A SociedadeAs Novas Tecnologias O Individuo E A Sociedade
As Novas Tecnologias O Individuo E A Sociedade
 
Seminário paty joana aula 12-25-05-2011
Seminário paty joana aula 12-25-05-2011Seminário paty joana aula 12-25-05-2011
Seminário paty joana aula 12-25-05-2011
 
Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...
Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...
Artigo CONSAD 2014 - Mídias Sociais Como Recurso Para o Governo Eletrônico: O...
 
Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)
Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)
Inclusão digital no brasil - Lucilene Cury, Ligia Capobianco (2010)
 
O impacto das novas tecnologias na sociedade
O impacto das novas tecnologias na sociedadeO impacto das novas tecnologias na sociedade
O impacto das novas tecnologias na sociedade
 
Artigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacional
Artigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacionalArtigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacional
Artigo - Os microblogs como ferramenta de comunicação organizacional
 

More from Carlos Elson Cunha

Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Carlos Elson Cunha
 
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...Carlos Elson Cunha
 
Alexandria sem muros monografia 2016
Alexandria sem muros   monografia 2016Alexandria sem muros   monografia 2016
Alexandria sem muros monografia 2016Carlos Elson Cunha
 
Atitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoAtitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoCarlos Elson Cunha
 
Introduções para falar em público
Introduções para falar em públicoIntroduções para falar em público
Introduções para falar em públicoCarlos Elson Cunha
 
Xadrez é fácil com o aluno eterno
Xadrez é fácil   com o aluno eternoXadrez é fácil   com o aluno eterno
Xadrez é fácil com o aluno eternoCarlos Elson Cunha
 
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Carlos Elson Cunha
 
Guindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléGuindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléCarlos Elson Cunha
 
Todas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaTodas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaCarlos Elson Cunha
 
Levantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasLevantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasCarlos Elson Cunha
 
Lançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqLançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqCarlos Elson Cunha
 
Cdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCarlos Elson Cunha
 

More from Carlos Elson Cunha (20)

Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
 
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
 
Alexandria sem muros monografia 2016
Alexandria sem muros   monografia 2016Alexandria sem muros   monografia 2016
Alexandria sem muros monografia 2016
 
Shopping das artes
Shopping das artesShopping das artes
Shopping das artes
 
Atitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoAtitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em público
 
Introduções para falar em público
Introduções para falar em públicoIntroduções para falar em público
Introduções para falar em público
 
O temor de falar em público
O temor de falar em públicoO temor de falar em público
O temor de falar em público
 
Mec solo ms
Mec solo msMec solo ms
Mec solo ms
 
Xadrez é fácil com o aluno eterno
Xadrez é fácil   com o aluno eternoXadrez é fácil   com o aluno eterno
Xadrez é fácil com o aluno eterno
 
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
 
B n
B nB n
B n
 
Guindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléGuindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picolé
 
Atribuições arquiteto
Atribuições arquitetoAtribuições arquiteto
Atribuições arquiteto
 
Todas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaTodas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdia
 
R caetano pinto
R caetano pintoR caetano pinto
R caetano pinto
 
Levantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasLevantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr bras
 
Lançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqLançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparq
 
Drenagem urbana.2007
Drenagem urbana.2007Drenagem urbana.2007
Drenagem urbana.2007
 
Domótica em bibliotecas
Domótica em bibliotecasDomótica em bibliotecas
Domótica em bibliotecas
 
Cdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologias
 

Gabriel monteiro

  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie A SATISFAÇÃO COM O USO DO TWITTER E A SUBJETIVIDADE ADMINISTRADA Gabriel Monteiro da Fonseca Leal Maia (IC) e Ednilton José Santa-Rosa (Orientador) Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa Resumo O presente trabalho teve como objetivo investigar os elementos subjetivos envolvidos na utilização do sítio da internet Twitter. Foram realizadas três sessões de grupo focal com usuários regulares do sítio, pertencentes à faixa etária de 18 a 24 anos. As sessões foram gravadas e posteriormente transcritas. Desse modo, após uma série de leituras das transcrições, foram identificados nas falas dos sujeitos elementos que se relacionavam direta e indiretamente com a satisfação no uso do Twitter. Em seguida foram definidas categorias de análise que diziam respeito às satisfações dos sujeitos em relação: à integração do Twitter com a televisão, à publicidade no sítio, à utilidade e praticidade proporcionadas pelo sítio, ao narcisismo, ao isolamento e ao hiper-realismo. A teoria crítica da sociedade embasou a pesquisa, destacando-se as discussões sobre a formação do indivíduo, considerando os conceitos de indústria cultural, subjetividade administrada, entre outros. Concluiu-se que as falsas necessidades individuais produzidas pelas instâncias de controle social, objetivando a administração das forças contrárias ao progresso e à dominação, encontram boa parte de sua satisfação no uso do Twitter. Palavras-chave: Twitter, subjetividade, teoria crítica da sociedade Abstract The aim of this paper was to study the subjective elements involved in the use of the website Twitter. Three focus group sessions were carried out with site’s regular users between 18 and 24 years old. The discussions that took place at the sessions were audio taped and later transcript. Thereby, after the reading of the transcripts, elements related both direct and indirectly to the satisfaction on the use of Twitter were identified in the subject’s speech. Categories of analysis regarding to subject’s satisfaction were defined in relation to: the integration of Twitter with television, the publicity on the website, the utility and practicality provided by the website, narcissism, isolation and hyper-realism. The paper was based in the critical theory of society, highlighting the discussions about human individual development, considering the concepts of cultural industry, administrated subjectivity, among others. It was concluded that fake individual necessities produced by social control instances, whose aim is the subjective administration of the forces opposed to progress and domination, find a great part of its satisfaction in the use of Twitter. Key-words: Twitter, subjectivity, critical theory of society 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 INTRODUÇÂO Segundo dados de 2009, publicados em 2010 (CGI BRASIL, 2010), 45% da população brasileira já acessou a Internet ao menos uma vez, e destes, 58% o fazem diariamente - de casa (41%), do trabalho (14%) ou de centros públicos de acesso pago (30%). Dentre as atividades desenvolvidas pelos usuários de Internet, 90 % se destina à comunicação, sendo que 67% destas relacionadas a sítios de relacionamento ou “redes sociais da Internet” (RECUERO, 2009) como o Twitter, uma ferramenta na qual se é convidado a responder em, no máximo 140 caracteres, à pergunta “O que você está fazendo?”. O sítio, fundado em 2006, foi se caracterizando ao longo de sua história por outras funções, pois os usuários não se limitam a responder a pergunta-título da ferramenta, praticando atividades como a troca de informação e o estabelecimento de conversações (MISCHAUD, 2007; HONEYCUTT & HERRING, 2009 apud RECUERO e ZAGO, 2009). Além dos usuários comuns, empresas e pessoas famosas também estão cadastradas no sítio, praticando atividades como o comércio de mercadorias (BALDOCCHI, 2010) e o contato com celebridades (PRIMO, 2009). Castells (2000) afirma que, além da propriedade interativa da internet, sua diferença em relação aos meios de comunicação de massa reside na possibilidade do receptor da informação exercer também o papel de emissor, o que revolucionaria as relações de poder dos tradicionais processos de comunicação em favor dos usuários. Mas estariam essas propriedades de interação e individualização “tecnologicamente embutidas” (CASTELLS, 2000) na internet efetivamente criando condições para a reversão, não só do processo de comunicação, mas do crescente processo de aniquilamento da autonomia individual e de cessão da subjetividade ao controle e administração externos, conforme nos alerta Marcuse (1967)? Recuero e Zago (2009) afirmam que a troca de mensagens em rede no Twitter favorece “o acesso a novas informações, a novas discussões e, por isso, auxiliam na construção do conhecimento” (p. 8). Mas o grande acesso às informações e a participação em discussões possibilitariam, de fato, a construção de conhecimento? Ou, pelo contrário, significam o esvaziamento da experiência no mundo administrado por meio da veiculação frenética de informações, opiniões, manifestações, etc, - sobretudo com um limite pré- estabelecido de palavras - já que, segundo Adorno (1993), é na “experiência intensa” que o conhecimento tem lugar? O fato de as pessoas mostrarem voluntariamente suas vidas privadas e estabelecerem conversas e trocas de informação em público pela Internet não estaria justamente exercendo a função de desacostumá-las da subjetividade ao tornar públicos até os seus desejos mais íntimos, como afirmam Adorno e Horkheimer (1985)? Não seria o Twitter uma ferramenta tecnológica de grande eficácia ao detectar e computar estatisticamente as necessidades – ao mesmo tempo em que expõe a popularidade - dos 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie consumidores, tornando-se assim um instrumento de alta precisão em favor dos mentores do processo produtivo por favorecer a ampliação da produção e do consumo de falsas necessidades, nos moldes daquilo que aqueles autores definem como “indústria cultural”? O que a crescente popularização de um sítio que permite a comunicação à distância - mediada pelo computador – entre os indivíduos, entre empresas e indivíduos, entre famosos e anônimos, poderia nos dizer a respeito da subjetividade na atual sociedade? É objetivo deste trabalho investigar os elementos subjetivos envolvidos na utilização do Twitter por parte dos indivíduos. REFERENCIAL TEÓRICO Castells (2000) afirma que o sistema de massa outrora predominante estruturado em torno da televisão teria sido sucedido – em função de inovações tecnológicas como a fibra ótica e o processamento digital – pela fusão entre uma “mídia descentralizada e diversificada” (p.355) (cuja emissão de informações especializadas e diversificadas à audiência permite a adequação da mídia a públicos-alvo específicos, como acontece na TV a cabo) e um sistema organizado em função da comunicação mediada por computadores conectados em rede, a atual internet. Para o autor, enquanto nos tradicionais meios de comunicação ou se emite ou se recebe a comunicação, a partir do surgimento e popularização da comunicação mediada por computadores seria possível uma “reversão dos jogos de poder tradicionais no processo de comunicação” (p. 384). Entretanto, o grande potencial comercial que a integração da propriedade interativa da rede mundial de computadores com o conteúdo veiculado pelos meios de comunicação de massa pode proporcionar (PÓVOA, 2000) não deixou de determinar os rumos da internet. Dados de 2009 (CGI BRASIL, 2010) mostraram que 86% dos brasileiros usuários da rede o fazem com finalidades como o lazer: 53% destes com o consumo de filmes ou vídeos, 44% para ler jornais e revistas, 40% para ouvir rádio e 39% para a obtenção de filmes, músicas entre outros itens. Para Marcuse (1967), na medida em que a tecnologia facilita e induz o acesso às mercadorias, prepara a subjetividade para a aceitação inconteste dos sacrifícios impostos por esta sociedade. O encurtamento do caminho entre os produtos culturais e seus consumidores, que os obtém rapidamente por meio de seus computadores pessoais, valendo-se do mínimo esforço, nos leva a considerar a hipótese de que a internet, assim como afirma Adorno (2000) sobre a televisão, constitua “um momento no sistema conjunto da cultura de massa dirigista contemporânea orientada numa perspectiva industrial” (p. 88), e possa também ser entendida enquanto parte de uma totalidade que opera em função da “modelagem conjunta da consciência e do inconsciente” (p.88). 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 A possibilidade de emissão da comunicação pelos indivíduos – e não somente recepção - abre caminho para a divulgação maciça de dados pessoais e a elaboração de perfis de consumo, não só por meio dos cadastros realizados durante as compras, mas também pela exposição da vida privada em sítios públicos de relacionamento, como o Twitter. No sítio, a pergunta-título “O que você está fazendo?”, que precede o campo destinado à escrita das mensagens, já contém em si um incentivo à exposição. Não somente pessoas, mas empresas e instituições podem ter acesso a essas informações, o que facilita o aperfeiçoamento do processo de aproximação dos produtos às necessidades individuais e o aumento da eficácia na manipulação dessas necessidades por parte dos meios de produção. Resta saber se os indivíduos realmente permitem o acesso irrestrito às suas informações. Talvez aí resida uma possível relação entre o Twitter e a indústria cultural (ADORNO; HORKHEIMER, 1985), pois uma vez expostas, as informações pessoais servem à publicidade, que pode ser direcionada não só à massa como um todo, mas direta e imediatamente a uma espécie de “massa de indivíduos”, de acordo com a prévia detecção de perfis de consumo. A aparente aproximação, tecnologicamente produzida, entre produto e consumidor (ADORNO, 1981) esconde o real distanciamento entre produção e consumo, entre o poder das instâncias sociais que exercem o controle e os indivíduos a ele submetidos (MARCUSE, 1998). Além de empresas e instituições, o Twitter abriga também figuras famosas nos meios de comunicação de massa (PRIMO, 2009) – como atores, músicos, jornalistas, apresentadores, entre outros – que publicam mensagens, fotos e vídeos no sítio. A ilusão de proximidade que o acesso a partes da intimidade dessas pessoas possibilita, aparentemente coloca os modelos de identificação veiculados pelos meios de comunicação de massa - antes idealizados e mantidos à distância - mais próximos dos espectadores. Mais próximo se torna também o ideal socialmente produzido no indivíduo de tornar-se um dia, ele mesmo, uma celebridade: o usuário “comum” do Twitter pode também mensurar sua própria popularidade de acordo com o número de “seguidores” que seu perfil possui. Se o uso do Twitter incentiva a exposição de partes da vida privada em troca de pretensa popularidade, não estaria ele alçando ainda mais o indivíduo ao status mercadológico de celebridade, ou seja, de objeto? Tais características do Twitter também nos remetem à tese de que a atual fase do modo de produção capitalista favorece a consciência passiva do indivíduo-consumidor, submetido ao controle externo de sua subjetividade e confinado ao seu bem-estar privado (SODRÉ,1987). Para Ramos (2008), esse confinamento também decorre de um sentimento geral de medo: de perder o emprego, de não cumprir as metas, de sair de casa, do outro, de si mesmo, de acabar inteiramente integrado e de ficar à margem. E as soluções oferecidas pela mesma sociedade que oprime o indivíduo ajudam-no a esquecer dos sacrifícios e ameaças que lhe são infringidas. O autor aponta que o isolamento é compensado não só pelas gratificações proporcionadas pela 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie indústria cultural, mas também pelas satisfações decorrentes do próprio confinamento. Ainda segundo Ramos (2008), a comunicação mediada por computadores reproduz as condições totalitárias da sociedade na medida em que exclui as mediações corporais do contato com o outro. MÉTODO Foram realizados 3 encontros utilizando o instrumento do grupo focal: o primeiro reunindo 3 participantes, o segundo 9 participantes e o terceiro 3 participantes, na faixa etária entre 18 e 24 anos. A escolha da faixa etária se deu em razão dos dados apresentados na pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2009) que apontam que 71% dos jovens entre 16 e 24 anos usaram computador nos 3 meses anteriores à realização, e destes, 60% são usuários diários. Participaram da pesquisa somente pessoas que afirmassem ser usuários do Twitter. A divulgação do trabalho, realizada conforme descrito logo abaixo, não determinava como critério de exclusão para a participação na pesquisa o gênero dos possíveis participantes. Mesmo assim, todos os sujeitos que participaram das 3 sessões de grupo focal são do gênero feminino. O recrutamento dos participantes foi realizado por meio da divulgação do trabalho pelo pesquisador aos alunos do curso de Psicologia, no espaço do campus da mesma universidade em que foram realizadas as sessões de grupo focal. Uma vez manifestado o interesse em participar, os sujeitos forneceram seus endereços eletrônicos para corresponderem-se com o pesquisador afim de determinar um dia e um horário em comum para a realização dos encontros. As sessões de grupo focal tiveram, em média, aproximadamente 1 hora de duração. Nas três sessões foi utilizado um equipamento para registrar o áudio das discussões – sob o devido consentimento dos sujeitos, mediante a assinatura do “Termo de consentimento livre e esclarecido”. O local para os encontros, como é sugerido por Gomes (2003), foi uma sala arejada, com boa iluminação e cadeiras confortáveis em volta de uma mesa. Após a verificação do horário e dia disponíveis aos participantes para a realização do grupo focal, foi solicitada junto ao representante de uma universidade da cidade de São Paulo a utilização de uma de suas salas para a realização dos encontros. O procedimento de análise das informações colhidas no grupo focal foi realizado a partir da transcrição das sessões gravadas. Foram identificadas categorias presentes nos discursos, levantando as principais idéias presentes nas falas dos sujeitos, as coincidências e diferenças entre as opiniões e as direções trilhadas nas discussões travadas. A análise destas categorias teve como base o referencial teórico adotado na revisão teórica. Anteriormente à realização da pesquisa, tanto o instrumento quanto os procedimentos foram avaliados e aprovados pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que autorizou a continuidade do trabalho. Os riscos 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 físicos e/ou psicológicos que a pesquisa apresentou foram mínimos. Os sujeitos foram devidamente informados que, no caso de se sentirem em situação de desconforto, poderiam abandonar a pesquisa a qualquer momento, se assim o desejassem – o que não aconteceu. Previamente ao início de cada sessão de grupo focal, foi entregue a cada um dos participantes a carta de informação ao sujeito de pesquisa, contendo uma breve e clara descrição do projeto, solicitando a autorização para a gravação e utilização sigilosa das informações colhidas para a pesquisa. A mesma carta continha o termo de consentimento livre e esclarecido, que foi devidamente assinado por todos os participantes. Uma cópia deste documento ficou com cada um dos participantes, enquanto outra ficou com o pesquisador. O grupo focal, instrumento utilizado para a coleta de informações que permitiram investigar os elementos subjetivos envolvidos na utilização do sítio Twitter, é uma técnica qualitativa, não-diretiva, que consiste na mediação da discussão de um grupo de pessoas que não se conhecem, porém tem características comuns. Diferentemente da entrevista em grupo, o papel do pesquisador é o de facilitador da discussão e visa favorecer a interação entre os participantes, promover a participação de todos, evitar a dispersão dos objetivos da discussão e a monopolização de alguns participantes sobre outros (GOMES, 2003). A utilização do grupo focal favorece a participação ativa dos integrantes, sendo fonte de informações de alta fidedignidade, pois o ambiente de grupo minimiza o risco de opiniões falsas ou extremadas (GOMES, 2003). Outra vantagem é que devido ao formato flexível, o moderador pode explorar perguntas não previstas anteriormente. Ao iniciar o encontro, após a leitura e assinatura das cartas de informação ao sujeito, foi proposta uma breve auto- apresentação aos participantes. Em seguida, foram esclarecidos os objetivos do encontro, o modo de seleção dos participantes, o uso do gravador, o sigilo das informações obtidas, a duração do encontro e a importância de cada pessoa falar na sua vez, permitindo a boa gravação das falas. Deixou-se claro também que todas as opiniões eram importantes e interessantes para a pesquisa. Uma rodada inicial de falas foi então promovida, possibilitando a todos um comentário geral sobre o tema. Como incentivo à discussão, o pesquisador fez perguntas abertas sobre o tema, tendo consigo uma lista de questões que poderiam ou não ser usadas, de acordo com a pertinência na discussão. O pesquisador também procurou evitar a monopolização da discussão por um dos participantes e encorajar os mais reticentes. 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie RESULTADOS E DISCUSSÃO O procedimento de análise das informações colhidas teve como objetivo identificar trechos das falas dos participantes que contribuíssem para o entendimento dos elementos subjetivos envolvidos na utilização do Twitter. Foram obtidos dados referentes a diversos usos que os sujeitos ou outras pessoas conhecidas dos sujeitos - segundo eles próprios - fazem do sítio, assim como às motivações, justificativas e opiniões relativas a tais usos. Os trechos das falas foram identificados por sujeito e, em seguida, por grupo - por exemplo: “Sujeito 1G2” significa que a fala é do sujeito 1 do grupo 2, e assim por diante. De acordo com a análise do material colhido nas três sessões de grupo focal, percebeu-se a presença de alguns tipos de satisfações que os participantes relataram obter com o uso do Twitter. Contudo, uma série de insatisfações com relação ao Twitter também foram observadas nas discussões, mas esse descontentamento não chegou a interferir na intensidade de uso dos participantes e nem indica a presença de uma consciência crítica desenvolvida, já que, em sua maioria, referiu-se a possíveis aperfeiçoamentos nos mecanismos de satisfação de necessidades produzidas. Houve também sujeitos que citaram descontentamentos com o uso do sítio de maneira contraditória, destacando as mesmas razões para justificar tanto os malefícios quanto os benefícios do uso. Não se pode desconsiderar os descontentamentos citados como possíveis focos de resistência à submissão do indivíduo ao controle social, restando-nos incentivar o investimento na potencialização dos mesmos em direção a uma consciência crítica e de negação do todo repressivo. Entretanto, nas sessões realizadas, os relatos sobre as satisfações com o uso superaram em muito a aparição destes possíveis focos de resistência. Sendo assim, a análise foi dividida nas seguintes categorias de satisfação: satisfação na integração com a televisão, satisfação com a publicidade, satisfação com a utilidade e a praticidade, satisfação narcísica, satisfação no isolamento e satisfação com o hiper-realismo. Entendemos que o lugar ocupado pelas satisfações individuais na atual sociedade relaciona-se intimamente com o papel desempenhado pelas instâncias de controle desta mesma sociedade. Diante das renúncias impostas ao princípio do prazer na fundação da civilização humana, a fruição do prazer nesta sociedade só seria possível mediante a sublimação das pulsões, que preserva tanto a consciência das renúncias infligidas pela repressão ao indivíduo, quanto a necessidade de liberação – a oposição à ordem vigente (MARCUSE, 1967). Porém, a necessidade de controle e administração das forças contrárias à manutenção da ordem capitalista produz meios de redirecionamento das pulsões na forma de satisfações não-sublimadas, o que representa antes uma contração do que uma extensão do desenvolvimento das necessidades pulsionais do indivíduo por não tratarem-se de satisfações autênticas e de caráter autônomo e sim compensatórias e de caráter heterônomo. Para Adorno e Horkheimer (1985), a 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 satisfação proporcionada pelos produtos da indústria cultural não é sublimada, mas repressiva, pois apenas excita o prazer preliminar não sublimado, conservando oculta a necessidade de liberação e impedido o desenvolvimento da consciência que se opõe ao estabelecido. Desse modo, o aparato tecnológico se encarrega da produção de necessidades cuja satisfação aparentemente reconcilia o indivíduo com a sociedade repressiva por meio da consciência feliz (MARCUSE, 1967), da aceitação sem oposição dos malefícios da sociedade. A satisfação na integração com a televisão As informações coletadas apontam para a necessidade de se compreender o Twitter como parte de uma totalidade, de um sistema que abarca outros meios de comunicação como o rádio e, principalmente, a televisão. Tanto a televisão aparece como extensão do Twitter e incorpora ao programa o que lhe convém das opiniões dos telespectadores (“eles já interagem com o Twitter diretamente e já mostra aquilo na televisão” (SUJEITO 1G2), quanto o Twitter aparece como uma extensão da televisão, já que transmite simultaneamente a programação televisiva por meio de mensagens de texto, assim como também realiza o anúncio de programas. O Sujeito 8G2 afirma que a interação dos telespectadores com um programa de televisão por meio do Twitter é requisitada pela própria emissora: “Ela pede os comentários”. A televisão promove o uso do Twitter entre os telespectadores por meio de suas celebridades, como afirma o Sujeito 3G1: “Pra ver TV agora tem que tá o Twitter lá pra ver o que a galera tá falando [...] até os próprios apresentadores, eles mandam as pessoas seguirem os programas no Twitter”. A satisfação do indivíduo com sua participação nos programas de televisão não provém de uma necessidade dele e sim da televisão. Segundo Adorno e Horkheimer (1985) “o poder da indústria cultural provém de sua identificação com a necessidade produzida” (p.128), necessidade imposta aos indivíduos também por programas de televisão que determinam o consumo da massa. Quando o Sujeito 3G1 afirma haver uma necessidade de usar o Twitter enquanto se assiste televisão, aponta também para outra necessidade: “pra ver o que a galera tá falando”. Ou seja, já não basta assistir ao programa, é preciso mais, é preciso estar em contato com os outros telespectadores, identificados com a mesma necessidade produzida. Se por um lado a necessidade do contato com o apresentador de um programa de televisão e com todos os outros telespectadores ao mesmo tempo pelo Twitter revela a sujeição dos homens ao controle, por outro lado denuncia o afastamento do indivíduo de si mesmo. Como afirma Marcuse (1998), separado dos grandes, o indivíduo é condenado à solidão, ao vazio, ao ódio ou mesmo aos sonhos do próprio eu – condição que é evitada pela “antena em cada casa, o rádio em cada praia, a vitrola em cada bar” (p. 97) e, segundo 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie parece indicar o material colhido neste trabalho, também pelo uso do Twitter. A solução para a angústia do indivíduo em seu encontro consigo mesmo lhe é imposta de fora e favorece, dessa maneira, a administração de sua subjetividade. Ao mesmo tempo, o encontro consigo mesmo e com sua impotência diante da realidade poderia favorecer o desenvolvimento da consciência a respeito da dominação à qual o indivíduo está submetido e o encontro de uma solução na recusa à administração externa. Se a internet oferece a possibilidade de reversão do processo de comunicação como afirma Castells (2000), o indivíduo não parece favorecido por essa possibilidade pois, no caso do Twitter, sua integração à indústria cultural converte a possibilidade do exercício da consciência autônoma no indivíduo em mais um mecanismo social de satisfação de necessidades individuais hetenonomamente produzidas. A possibilidade de expressão da individualidade, potencialidade técnica inerente à Internet, não é o que mais parece cativar o Sujeito 1G2 a fazer uso do sítio: “enquanto vai passando o clipe, tem os tweets [...] na tela da TV [...] você quer porque quer que seu post apareça na televisão”. O desejo narcísico de onipotência camufla a impotência do indivíduo diante da realidade. Ver sua mensagem veiculada na televisão satisfaz a necessidade de tornar sua voz única e onipresente, ser reconhecido em sua particularidade mesmo que por uma fração ínfima de tempo. Não é suficiente expressar-se: é imposta ao indivíduo a necessidade de aparecer para a massa, o que o torna ainda mais dependente das instâncias produtoras de sua necessidade para que ele se satisfaça, do grande meio de comunicação de massa para que seu desejo – que é o desejo do meio - se realize. A satisfação com a publicidade Para Adorno e Horkheimer (1985) a publicidade e a indústria cultural se confundem tanto técnica quanto economicamente, pois a repetição das mercadorias culturais coincide com a repetição dos slogans de propaganda. Um meio individualizado de comunicação como a internet torna possível o envio de propagandas diretamente aos indivíduos de maneira particular, tornando-se o aperfeiçoamento da publicidade de massa. Como afirma Póvoa (2000), “a observação do comportamento dos usuários é o caminho para uma experiência verdadeiramente ‘sem costura’ entre conteúdo e comércio” (p. 44). Essa estratégia parece ter sido adotada amplamente no Twitter e os sujeitos apontam para alguns supostos benefícios ao receber publicidade em seus perfis. O Sujeito 1G1 prefere abrir mão da possibilidade de buscar informações por conta própria e concede esse papel à fonte das informações: “ao invés de entrar em todos os sites você recebe na sua página tudo que você quer saber sobre novidades”. Da mesma maneira, o Sujeito 2G2 pensa ser positivo o fato de que a publicidade individualizada “atinge mais diretamente a pessoa, ao invés de ser um sítio em que você tem que mandar um e-mail, esperar dias”, apontando a facilidade em 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 se ter o que se deseja como um benefício. Percebe-se nos trechos acima que aquilo que é citado como benefício é, na verdade, um sinal da cessão de autonomia ao controle externo. Marcuse (1998) afirma que ao receber de fora o que ele mesmo desejaria, o indivíduo cede à administração externa o poder de controle da sua subjetividade. E a “intensidade com que é capaz de ‘entregar as mercadorias’ em escala cada vez maior” (MARCUSE, 1967, p. 17) é o que reprime no indivíduo a necessidade de se opor ao controle: “só de você colocar [...] ‘eu preciso de tal coisa’, aí quando você vai ver alguma empresa [...] te mandou uma mensagem” (SUJEITO 8G2). As promoções oferecidas pelos anunciantes foram bastante citadas como motivações para que os sujeitos autorizassem o recebimento de publicidade em suas páginas pessoais no Twitter. Mais do que o prazer que o produto consumido pode oferecer, é a promessa que vai além desse prazer que impulsiona ainda mais o consumo (ADORNO; HORKHEIMER, 1985). O sentido das promoções é produzir nos indivíduos a sensação de que estão obtendo alguma vantagem ao consumir, o que lhes condiciona a participar. Trata-se portanto de uma necessidade produzida. Observou-se claramente, em determinados relatos, a presença da administração e do controle: não só a necessidade é imposta (a vantagem em participar de uma promoção) mas são igualmente impostas as condições para que o indivíduo satisfaça essa necessidade. Condições que condicionam o indivíduo tanto a permanecer atento às mensagens, quanto a praticamente trabalhar pela empresa, divulgando imediatamente a outras pessoas a promoção em questão, ou seja, auxiliando as instâncias de controle a implementar sua estratégia de dominação da subjetividade. Ocorre aquilo que Adorno e Horkheimer (1985) afirmam a respeito da indústria cultural: em nome da eficácia, a técnica converte-se em psicotécnica, em procedimento de manipulação das pessoas. Ao comentar sobre a publicidade de empresas no Twitter, o Sujeito 2 G1 diz que “é uma forma de você atingir a população, você vai falar e as pessoas vão te seguir”. Já outro participante afirma que esse mesmo fim publicitário é também almejado por ele em relação a si mesmo: “você joga no Twitter, ‘veja meu video tal’, acho que ele é uma forma dessa divulgação rápida mesmo” (SUJEITO 3G1). Não só os produtos da indústria cultural se valem do Twitter para fins publicitários, mas os próprios indivíduos aceitam ocupar a posição de mercadoria à venda quando usam o sítio, e se satisfazem com isso. Assim como afirmam Adorno e Horkheimer (1985) que todo close de uma atriz de cinema serve de publicidade de seu nome, a exposição e divulgação de fotos e videos pessoais pelo Twitter são, para o Sujeito 3 G1, uma forma de autopromoção. Pelo que vemos, o sítio não se constitui somente como parte de uma estratégia eficaz para a publicidade das empresas, mas também como publicidade dos indivíduos, que expõem os registros de suas vidas privadas, divulgando-os a um grande número de pessoas. A dinâmica entre publicidade e indústria cultural, cuja identificação dos consumidores com as mercadorias é ponto central, parece culminar na própria equivalência entre indivíduo e 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie mercadoria, significando a objetificação do primeiro. No capitalismo atual a mercadoria deve coincidir com sua publicidade, já que o prazer que promete enquanto mercadoria não passa de uma simples promessa, o que a tornaria intragável (ADORNO; HORKHEIMER, 1985) não fosse a imagem a ela associada, à qual os indivíduos se identificam. Quando os indivíduos, confinados no bem-estar de suas vidas privadas, são tolhidos do contato corporal e consequentemente das possibilidades de identificação com o outro (RAMOS, 2008), restam-lhes para tanto as imagens produzidas pela indústria cultural. Segundo Sodré (1987), a produção de uma realidade imaginária aos indivíduos que identifique-se ao real alia-se atualmente à produção de imagens eletrônicas, tornando o ato de ver e ser visto como medida de poder e de existência legítima. A integração, em um mesmo ambiente tecnológico (neste caso, o Twitter), entre as esferas da publicidade e das relações humanas, subjuga esta última ao modo de funcionamento da primeira. A publicidade de si-mesmo, por meio de fotos, vídeos e outros recursos imagéticos, como o Sujeito 3 G1 afirma fazer no Twitter, configura-se como objetificação de sua subjetividade por meio do desvelamento das características próprias ao particular em nome de sua dissolução em um código universal baseado em imagens, assim como a publicidade faz com as mercadorias. A satisfação com a utilidade e a praticidade Segundo Adorno e Horkheimer (1985) como a promessa de satisfação dos produtos da indústria cultural nunca é plenamente cumprida, estes precisam ser úteis ao indivíduo também para outras coisas. Para o Sujeito 6G2 o Twitter “não só diverte, facilita a nossa vida”. Já para o Sujeito 2G1, o sítio facilita a satisfação com o consumo: “torna a vida muito mais prática, né? Você não precisa sair de um lugar pra ver as coisas”. Já o Sujeito 3G1, a pesar de assumir que “perde” seu tempo usando o Twitter, não deixa de usar o programa, mas procura até encontrar satisfação no uso: “Virou útil pra mim de certa forma [...] eu era muito desinformada, aproveitei já que eu perco tempo naquilo, eu agora tô caçando algumas coisas”. O princípio da utilidade da sociedade, do qual falam Adorno e Horkheimer (1985), coincide com o imperativo da produção, pois considera inútil qualquer atividade que não esteja de acordo com a lógica de produção e consumo. Útil, portanto, é aquilo que pode proporcionar satisfação. Algumas das utilidades do Twitter, de acordo com os participantes, são a possibilidade de conquista de popularidade e a aparente aproximação com as celebridades. Identificados aos modelos da indústria cultural, os indivíduos consideram o Twitter uma maneira prática de também alcançarem eles mesmos a popularidade: “Se o pessoal começa a te seguir, vai indicando, que foi isso que aconteceu com eles, você pode conseguir muito mais fácil (SUJEITO 1G1). “Eles”, neste caso, são pessoas que tornaram-se famosas pelo Twitter. Além de popularidade, o contato com os outros é facilitado pela ilusão 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 de proximidade: “você faz mais amizades com as pessoas porque como elas tão meio que fazendo parte do seu cotidiano, é muito mais fácil se aproximar” (SUJEITO 2G1). A ilusão de grandeza que provoca a falsa sensação de estar perto dos ídolos é a mesma onipotência que almeja a popularidade. E tanto uma quanto a outra contribuem para fazer os indivíduos esquecerem-se de sua impotência diante das instâncias que os controlam. As relações humanas não mais possuem um fim em si, são incorporadas pela frieza da técnica que as converte em meios que proporcionam alguma utilidade. A aliança entre a frieza e o isolamento protetor decorrente do medo das relações (RAMOS, 2008) fica clara na declaração de alguns dos participantes. O fato de poder acessar conversas rapidamente ao mesmo tempo em que pode parar de conversar sem a necessidade de se reportar ao outro representa “praticidade” para o Sujeito 1G1. O Sujeito 2G1 também concorda que a ausência de mediação humana nas relações proporcionada pelo Twitter torna mais prático relacionar-se: “você [...] dá tchau geral e para de falar”. O que parece é que do mesmo modo com que os produtos da indústria cultural, para atenuar a incapacidade de cumprir por inteiro suas promessas de satisfação, precisam demonstrar utilidade para além de seus fins originais, a cada vez mais longínqua possibilidade de identificação com a figura paterna (MARCUSE, 1998) - progressivamente substituída por modelos pré-fabricados – e com outras pessoas pela mediação corporal – esvaziada devido ao confinamento do isolamento protetor (RAMOS, 2008) – é atenuada por compensações que acabam determinando a impossibilidade da experiência nas relações humanas. Assim como, segundo Ramos (2008), a negação do corpo nas relações mediadas por computador evita a percepção das causas dessa negação, os indivíduos entendem como utilidade e praticidade o aperfeiçoamento técnico da satisfação com o consumo, da onipotência e da frieza nas relações - justamente aquilo que os afasta do reconhecimento da promessa de felicidade negada pela sociedade. A satisfação narcísica O enfraquecimento do papel do pai na formação subjetiva do indivíduo, cedendo lugar aos mecanismos de dominação social (MARCUSE, 1998) compromete a autonomia individual não só em razão da atrofia da função mediadora do ego, mas também devido à fragilidade na constituição do superego. O princípio de realidade administrado que atualmente ocupa o lugar antes pertencente à função paterna oferece uma grande variedade de modelos identificatórios que não variam qualitativamente – relacionam-se com os indivíduos de maneira distante, não sendo introjetados adequadamente, assim fragilizando a formação do ego que “não pode, de um lado, dar conta das exigências do id e nem responder a elas de forma adequada, e de outro lado, dificulta a formação do superego” (CROCHÍK, 1990, p. 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie 151). Comprometido em sua constituição, o superego não é capaz de exercer a censura à entidade censora, ou seja, de fundar a consciência (MARCUSE, 1967) no indivíduo, que passa a ter sua existência reduzida aos outros – não só abdicando do papel de sujeito socio-histórico que se opõe ao status quo, mas também deixando de se sentir responsável pelos seus atos e alienando-se do sentimento de culpa. O narcisista, segundo Crochík (2000), é justamente aquele que se julga independente do mundo e do sofrimento que este provoca, privando-se de relações amorosas (e, portanto, conflituosas) com os outros ao redirecionar a libido para o próprio eu. Desprovido da capacidade de negar o existente, assim como da auto-crítica, o indivíduo submetido à heteronomia defende-se criando uma auto-imagem especular onipotente, fundida ao imaginário disseminado pelos meios de comunicação de massa. Nas sessões de grupo focal, o Sujeito 3G1 afirmou entender o Twitter como um meio de ser visto rapidamente pelos outros: “você joga o link lá no Twitter que você postou uma foto nova [...] você joga no Twitter, ‘veja meu video tal’, acho que ele é uma forma dessa divulgação rápida mesmo”. Já o Sujeito 2G1 disse: “você tinha que passar o link pra todo mundo ler, tem que fazer toda uma elaboração e no Twitter não, você posta e tá lá pra todo mundo ver”. Percebe-se que no Twitter a exibição de si mesmo é tecnologicamente facilitada às custas da exclusão do contato com o outro, o que nos remete ao o narcisismo em suas relações com a ideologia da racionalidade tecnológica. A ideologia que sustenta a falsa neutralidade da tecnologia, seu formalismo característico (a redução científica do homem e da natureza a equivalentes gerais), o pragmatismo e a frieza do cálculo, invade a esfera das relações individuais e sociais (CROCHÍK, 2000) produzindo ao invés de uma consciência política, uma consciência tecnológica “que reduz a si mesmo e aos outros, a objetos técnicos” (CROCHÍK, 1990, p. 153). Abstendo-se do contato com o outro, o indivíduo alimenta a sensação de onipotência e evita o sofrimento do desamparo: “Você não tem a frustração de conferir quem leu ou não” (SUJEITO 3G1). “Exato, não tem esse negócio de comentar. Tá ali” (SUJEITO 2G1). O distanciamento do outro também se revela na busca por relações que se baseiem somente na semelhança, no espelho, evitando-se assim o conflito com o diferente. “No Twitter você vai saber o que a pessoa tem em comum com você, eu não vou seguir alguém que não goste do que eu goste” (SUJEITO 3G2). As características de onipotência, exibicionismo e do direcionamento da libido para o próprio eu aparecem ainda mais claramente no trecho a seguir: “O Twitter é uma forma de você falar coisas de si mesma pra você e pro resto do mundo, é uma forma de você se expor, mas não se expor de forma tão consciente” (SUJEITO 2G1). Segundo Sodré (1987), os meios de comunicação de massa, ao reproduzirem a auto-imagem da sociedade tecnológica, produzem um imaginário controlado, uma realidade simulada na qual se identificam e 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 “investem narcisicamente as consciências” (p. 60). É o que vemos na integração entre Twitter e televisão: “você quer porque quer que seu post apareça na televisão [...] Então você vai lá e fica no Twitter e assistindo a televisão toda hora” (SUJEITO 1G2). O “prazer de se ver tecnologicamente reproduzido” (SODRÉ, 1987, p. 67) determina também as relações que se estabelecem em um mundo reduzido a imagens: o aparente encontro com o outro configura-se na verdade em um encontro consigo mesmo por meio do “reconhecimento autoritário, mimético, que serve de pretexto ao sujeito para exprimir seu narcisismo individual” (SODRÉ, 1987, p. 67). Um recurso do Twitter bastante citado pelos participantes foi o Trending Topics. Por meio de um sinal característico (#) digitado imediatamente antes da palavra desejada, este recurso permite ao usuário cadastrar termos que são automaticamente elencados em uma mesma página, segundo a freqüência com que são citados no sítio. Um dos participantes argumenta que esse recurso não necessariamente massifica a comunicação no Twitter: “Não é todo mundo falando a mesma coisa” (SUJEITO 1G2). Mas por trás desta suposta “democratização das opiniões”, reside a redução destas mesmas opiniões a equivalentes, já que não importa o conteúdo do que é escrito, o importante mesmo é ser visto: “é uma forma de você atingir o resto do mundo também né? [...] todo mundo quer ter alguma coisa do seu país lá” (SUJEITO 2G1). O exibicionismo e a onipotência narcísicos aliam-se à estatística na mensuração do potencial manipulador que cada um é capaz de alcançar: “A intenção é deixar ele famoso. Todo mundo usar e ir lá pro top, pros Topics” (SUJEITO 1G1). A relação entre o elenco das palavras mais citadas pelos usuários do sítio e a possibilidade de conquista de popularidade parece ter sido percebida pelos administradores do Twitter: “Principalmente em Trending Topics [...] tem lá ‘Clique aqui pra conseguir mais seguidores’” (SUJEITO 1G2). A frieza estatística e o aperfeiçoamento tecnológico servem à auto-adoração narcisista: “Tem um site [...] que eles te dão seguidor [...] em 3 semanas ela tava com trezentas e tantas pessoas seguindo ela. É automático” (SUJEITO 1G3 ). E a própria indústria cultural reforça essa ideologia, como observou o Sujeito 8G2: “Acho que na última ‘Superinteressante’ tinha assim ‘Como conseguir mais seguidores’ e eles davam as dicas”. A objetificação do outro para fins satisfatórios de característica narcisista por meio do uso do Twitter parece se dar pela falsa intenção de contato que encobre uma finalidade exibicionista: “te segue só pra você seguir [...] só pra aumentar os seguidores” (SUJEITO 8G2). O mesmo processo também é observado, segundo o Sujeito 5G2, em outros sítios de redes sociais: “Orkut lotado é status alto [...] o bom era ter o Orkut lotado”. No Twitter, o alcance da popularidade sujeita o próprio pensamento à objetificação: “você vai ser, tipo, popular pelo que você escreve [...], pelo que você tá pensando” (SUJEITO 3G2). Com todo o aparato disponível nos sítios de redes sociais como o Twitter, o exibicionismo individual, se comprovado o seu valor de uso pelo mercado por meio da mensuração estatística de sua aprovação, é recompensado pela 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie teleorganização, que promove o narcisista a celebridade: “Ele conseguiu um programa na MTV [...] de tantos acessos que teve” (SUJEITO 3G1). Essa possibilidade parece rondar os sonhos do Sujeito 2G1, seus ideais narcísicos de auto-adoração: “por mais desconhecido que você seja, você é importante o bastante pra as pessoas te seguirem cada segundo do seu dia-a-dia, como uma estrela”. Para Sodré (1987), em suas relações com a tecnologia atual, o ego do indivíduo narcisista se define “por princípios de visibilidade absoluta ou de tactilidade universal – suscitados pela ligação global (através da imagem e do som) do mundo sensível com os sentidos de cada um” (p. 67). Os modelos produzidos pela realidade, responsáveis pela constituição do indivíduo como um “Narciso onipotente” (p. 68), correspondem à “obsessão contemporânea de tudo ver, falar, ouvir, sentir – a exacerbação tecnológica dos sentidos – e de pretender definir-se por um espaço-tempo de imediatez e ubiquidade” (SODRÉ, 1987, p. 67-68). Imerso no que o autor define como “telerealidade”, o narcisista vê o outro como um prolongamento de si mesmo, sem diferenças, ao mesmo tempo em que a sociedade para ele se apresenta como redutível ao universo individual por meio de um controle de ordem tecnocrática. A satisfação com o isolamento A consciência feliz (MARCUSE, 1967) daqueles que permanecem passivamente confinados em suas casas, usufruindo de meios de comunicação à distância como o Twitter para que não se percebam isolados, auxilia na justificação da dominação, ocultando o fato de que o isolamento protetor é na verdade seu resultado. Diante dos sacrifícios e ameaças impostos pela sociedade, os homens “correm para suas casas e não para as ruas” (RAMOS, 2008, p. 84), encontrando solução para o desamparo em satisfações que não demandam o abandono de seus domicílios. E a ausência de encontros presenciais aparentemente encontra solução na tecnologia: “na sua casa, a pessoa na casa dela, mas tá compartilhando o que tá acontecendo” (SUJEITO 3G3). Entretanto, o isolamento não se caracteriza apenas pelo confinamento domiciliar. Diante da possibilidade de comunicar-se individual e instantaneamente em escala global mesmo fora de casa (por meio de aparelhos móveis como o telefone celular), o indivíduo sente-se permanentemente “conectado” às pessoas que deseja. Como o Sujeito 2G1 que disse ser possível “encontrar todo mundo no Twitter” e o Sujeito 3G2 que afirmou: “a pessoa pode estar do outro lado do mundo [...] vocês conseguem se conversar pelo Twitter”. Assim, enquanto se satisfaz com sua pretensa onipresença, o indivíduo alimenta a indiferença narcísica por todo real externo à consciência individual (SODRÉ, 1987) e ameniza qualquer vestígio de solidão que possa decorrer do isolamento decorrente dos sacrifícios exigidos pela sociedade. O Sujeito 2G1 defende que parte da satisfação que desfruta ao utilizar o Twitter se dá em razão da facilidade em 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 construir laços: “um monte de pessoas com quem eu mal falava vieram falar comigo [...] você faz mais amizades com as pessoas porque, como elas tão meio que fazendo parte do seu cotidiano, é muito mais fácil se aproximar”. “Saber o que a pessoa está fazendo”, “fazer mais parte da vida da pessoa” ou “ficar mais próximo do cotidiano da pessoa” foram satisfações citadas de modo recorrente nas sessões de grupo focal. Ramos (2008) afirma que, no que diz respeito à exposição da vida privada pela Internet, a contrapartida do narcisismo daquele que se expõe é a solidão daquele que assiste. O gozo vouyerista de quem invade a privacidade alheia se alia à noção do outro enquanto um “completo estranho a ser desvendado” (p. 84), pois o tipo de contato que exclui a mediação corporal exclui também a identificação e reforça o isolamento. Portanto, “ficar mais próximo do cotidiano da pessoa”, como afirmou o Sujeito 3G1, não significa estar mais próximo do outro. Na escassez de relações mediadas pelo corpo, o indivíduo recorre às identificações produzidas pela indústria cultural, o que reforça sua heteronomia. Segundo o Sujeito 4G2, o Twitter “é a melhor forma de você estar presente ou sabendo da vida dos artistas”. Isolado, o indivíduo se contenta com a ilusão de proximidade com seus ídolos pré-fabricados: “dá aquela sensação de proximidade, ‘Eu te conheço’, então faz o fã ficar mais tipo ‘Ai, eu sigo ele, eu conheço o Justin Bieber, eu sei da vida dele’” (SUJEITO 3G2). O Sujeito 2G1 argumentou que, após acompanhar o cotidiano de uma pessoa, “se você quer se aproximar, você conversa com ela”. Contudo, segundo Ramos (2008), nas novas formas de relação mediadas por computador “o olhar e quaisquer outras mediações corporais podem ser evitados, [...] o anonimato pode estar garantido, [...] a identificação e o rompimento da proteção do isolamento e da solidão não são necessários” (p.84). Para indivíduos amedrontados e cada vez menos afeitos às relações presenciais (que implicam a mediação do corpo, ou da “materialidade sobre a qual incide a opressão” (RAMOS, 2008, p. 84), a realização do encontro real torna-se quase insuportável: “Tem muitas coisas que eu falo no Twitter que eu não falo para as pessoas normalmente [...] porque cara a cara eu não consigo interagir com a pessoa” (SUJEITO 3G2). Protegido do contato corporal e fortalecido pelo anonimato, o indivíduo pode assim escoar energia psíquica na direção do objeto ao qual ela se dirige: “É uma forma de você por alguma coisa que está dentro de você e que você não sabe expressar e que você põe pra fora” (SUJEITO 3G2). “E com a oportunidade ainda de ser anônimo, não saber que é você que está expondo aquilo” (SUJEITO 6G2). As relações mediadas pelo Twitter contribuem para o isolamento pois proporcionam satisfação na solidão, como podemos observar nos trechos seguintes: “É a forma de você estar em contato com todo mundo mesmo quando você está sozinho” (SUJEITO 3G2). “Mesmo que não seja pra outra pessoa você quer falar do seu dia” (SUJEITO 2G1). 16
  • 17. Universidade Presbiteriana Mackenzie A satisfação com o hiper-realismo Segundo Adorno (2000) o movimento de adaptação dos indivíduos ao status quo relaciona- se com o modo com que a realidade se apresenta à eles: como uma comprovação da própria realidade. Como afirma Crochik (2006), a ideologia “fixa e expressa a realidade existente, impedindo qualquer tentativa de alteração” (p. 126), pois desse modo impede que haja pensamento sobre essa realidade, o que criaria condições para a sua transformação. Os indivíduos “precisam impor a adaptação a si mesmos de um modo dolorido, exagerando o realismo em relação a si mesmo, e, nos termos de Freud, identificando-se ao agressor” (ADORNO, 2000, p. 145). Ou seja, quando a realidade torna-se tão poderosa na sua imposição aos homens, estes reproduzem eles mesmos a realidade que os oprime, afirmando o existente. Uma vez que a realidade não pode ser apresentada de outra forma, o culto aos fatos - a descrição do objeto sem a negação que permita o pensar sobre ele - é expressão atualmente do hiper-realismo (CROCHIK, 2006, p. 126). Em geral, aquilo que os participantes das sessões de grupo focal relataram como sendo o conteúdo de suas mensagens no Twitter, possui uma característica em comum: a revelação de fatos sobre seus cotidianos, “tem dia que eu fico o dia inteiro assim, eu respiro, eu anoto ‘tô respirando’” (SUJEITO 3G3). Tida pelos sujeitos como suposto benefício do uso do Twitter, a reprodução da realidade e o acesso constante a essa reprodução se mostra bastante atraente: “Sabe aquela rádio CBN? [...] fica mandando mensagem, assim, de informações do que está acontecendo no dia” (SUJEITO 7G2). Segundo os participantes, alguns recursos proporcionados pelo Twitter promovem a sensação de participação nos acontecimentos: “[...] blogueiros [...] filmam ao vivo [...] e você vai fazendo pergunta e ele vai respondendo ao vivo” (SUJEITO 2G1). O limite imposto para a extensão das mensagens veiculadas no Twitter torna ainda mais rápida a atualização das informações: “você fala menos, só tem 140 caracteres, mais direto” (SUJEITO 3G1). Apesar da clara redução da expressão individual devido ao limite imposto pelo sítio, o Sujeito 2G1 não parece se importar: “você faz tipo uns três, quatro posts tentando resumir o máximo e às vezes não dá. Bem interessante”. Dentre os sítios de relacionamento da internet, o Twitter parece ser aquele que aperfeiçoou a união entre a afirmação imediata da realidade e o imperativo da velocidade: “Começou com o MSN1, que aí você põe no seu nick ‘Estou na casa da A. vendo filme’. Aí foi pro Orkut ‘Festa de não-sei-quem amanhã’ [...] o Facebook segue a mesma linha. Aí de repente entra o Twitter [...] ‘Estou na festa’”. O Sujeito 3G2 completa “’Continuo na festa’. ‘A festa está legal’”. Observando a fala a seguir do Sujeito 2G2, percebe-se que a velocidade é uma exigência do culto aos fatos da realidade: “’Agora estou triste’. [...] cinco minutos depois, 1 Programa de computador que permite o envio e o recebimento de mensagens de texto imediatamente (CGI BRASIL, 2010) 17
  • 18. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 meu, o ‘estou triste’ de antes já foi, já passou a frase”. A demanda por rapidez exige atenção total aos estímulos, o que reduz a consciência ao sistema perceptivo: “sem o relaxamento e o despreendimento necessários ao trato dos estímulos, a compreensão da realidade não consegue ultrapassar a superfície e o instantâneo da captação dessas satisfações” (RAMOS, 2008, p. 91). E a reprodução excessiva do fato torna-o praticamente inapreensível para a memória, pois assim “o estímulo fica imediatamente velho após sua apreensão instantânea” (RAMOS, 2008, p. 91). Perguntado por outro participante se iria escrever sobre a sessão de grupo focal no Twitter, o Sujeito 3G2 respondeu: “[...] provavelmente não. Porque eu vou chegar 6 horas da tarde em casa e já vai ter acontecido muita coisa hoje [...] se eu lembrar o que aconteceu hoje eu vou escrever”. Sem poder sequer se lembrar dos fatos devido à rapidez com que a realidade estimula sua percepção, o indivíduo fica ainda mais sujeito a interpretações prontas da realidade, impostas de fora. De acordo com Ramos (2008), “a organização do mundo se reduz ao processo superficial e limitado da ação perceptiva e se fragiliza, assim, às imposições de modelos administrados” (p.91). Se “o ritmo de videoclipe da vida contemporânea impede a percepção e a compreensão paciente e reflexiva do todo, o que caracterizaria a experiência particular e mediada” (RAMOS, 2008, p. 91), o pensamento submetido a esse ritmo não chega a elaborar a reflexão pois é excluído de sua dimensão subjetiva e convertido em realidade no ato da sua concepção: “Eu acho que é aquele estilo do pensamento, né? Porque, tipo, o pensamento ele é uma coisa muito rápida” (SUJEITO 2G2). Ao encontrar satisfação com a conversão de seu pensamento em fato, ao objetificar sua subjetividade, o indivíduo se priva da reflexão, de pensar seu próprio pensamento. A dimensão particular, que deveria se opor à realidade totalitária para pensá-la e transformá-la (CROCHÍK, 1998) é tornada pública e integrada à essa mesma realidade. CONCLUSÃO A presente investigação sobre os elementos subjetivos envolvidos no uso do Twitter encontrou alguns fatores que parecem indicar que o sítio contribui para intensificar o processo de supressão da autonomia individual, mediante a cessão da subjetividade ao controle e manipulação externos. Se o aparato produtivo como um todo determina as necessidades dos indivíduos, o Twitter - por promover não a contestação da opressão, mas a coesão e o contentamento sociais – aparenta ser um meio de satisfação dessas necessidades concedido pela própria sociedade tecnológica. As diversas formas de satisfação obtidas por meio do uso do sítio segundo as palavras dos sujeitos participantes, talvez nos permitam classificá-lo como pertencente ao sistema produtor de necessidades denominado por Adorno e Horkheimer de indústria cultural. Isso porque tratam-se de satisfações que dão conta apenas de necessidades produzidas – e não legítimas do 18
  • 19. Universidade Presbiteriana Mackenzie indivíduo – e que justamente por isso perpetuam a ordem repressiva existente. Alguns fatores em relação aos procedimentos nos levam a vislumbrar outras possibilidades para pesquisas futuras. O fato de haver participado da pesquisa somente pessoas do mesmo gênero (feminino) sugere a realização de um trabalho semelhante somente com pessoas do gênero masculino, com o objetivo de comparar os resultados de ambos. O nível de escolaridade, que não foi estabelecido como critério de participação, também sugere a comparação futura dos resultados entre os diferentes níveis. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max; Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. ADORNO, T.W. Mínima moralia. São Paulo: Ática, 1993. ______. Educação e emancipação. Trad. Wolfgang Leo Maar. 2 ed. São Paulo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. ______. Televisão, consciência e indústria cultural. In: Cohn, Gabriel (org). Meios de comunicação de massa e indústria cultural. São Paulo, Cultrix, p. 346-354, 1981. CASTELLS, M. A sociedade em Rede. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000. COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL (CGI BRASIL). Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2009. São Paulo, 2010. CROCHÍK, J. L. A personalidade narcisista segundo a Escola de Frankfurt e a ideologia da racionalidade tecnológica. Psicologia-USP, São Paulo, 1 (2): 141-154, 1990. CROCHÍK, J. L. O computador no ensino e a limitação da consciência. 1. ed. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, v. 1., 198 p., 1998. ______. Tecnologia e individualismo: um estudo de uma das relações contemporâneas entre ideologia e personalidade. Análise Psicológica, nov. 2000, vol.18, no.4, p.529-543, 2000. ______. Preconceito, Indivíduo e Cultura. 3. ed. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, v. 1. 174 p., 2006. GOMES, Alberto Albuquerque. Usos e possibilidades do grupo focal e outras alternativas metodológicas. Revista dos alunos do programa de pós-graduação em sociologia antropologia da UFRJ, V. 2. n. 1 - julho de 2003. MARCUSE, H. Eros e civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 19
  • 20. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 ______. A Obsolescência da Psicanálise. In: Cultura e Sociedade. Vol 2. São Paulo: Paz e Terra, 1998. ______. A Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. PÓVOA, Marcello. Anatomia da Internet: investigações estratégicas sobre o universo digital. Rio de Janeiro: Casa da Palavra. 2000. PRIMO, Alex. A busca por fama na web: reputação e narcisismo na grande mídia, em blogs e no Twitter. Trabalho apresentado no GP Cibercultura, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2009. RAMOS, C.. Indústria cultural, consumismo e a dinâmica das satisfações no mundo administrado. In: Fábio Akcelrud Durão; Antônio Zuin; Alexandre Fernandez Vaz. (Org.). A indústria cultural hoje. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, p. 79-93, 2008. RECUERO, Raquel. Diga-me com quem falas e dir-te-ei quem és: a conversação mediada pelo computador e as redes sociais na internet. Revista da Famecos, Vol. 1, No 38 , 2009. RECUERO, R. e ZAGO, G. Em busca das "redes que importam": Redes Sociais e Capital Social no Twitter. Anais do XVIII Encontro da Compós: Belo Horizonte, MG, junho de 2009. SODRÉ, Muniz. Televisão e Psicanálise. São Paulo: Ática, 1987. Contato: bilomaia@gmail.com e ednilton@mackenzie.com.br 20