O documento apresenta as principais características do romance naturalista, incluindo: 1) a busca por representar a realidade de modo científico, com base nas ciências naturais; 2) o determinismo social e biológico, onde o homem é visto como produto do meio e da hereditariedade; 3) a tipificação de grupos sociais geralmente de classes baixas, com observações objetivas.

1. HISTÓRIA DA LITERATURA
Manoel Neves
NATURALISMO

2. LINHAS GERAIS DO ROMANCE NATURALISTA

3. LINHAS GERAIS DO ROMANCE NATURALISTA
busca-se representar a realidade de modo científico [romance de tese/cientificismo]
fonte: ciências naturais [química, física, biologia]
método: documentação e análise
o rigor científico confere veracidade [verossimilhança] do romance naturalista

4. CARACTERÍSTICAS DA PROSA NATURALISTA

5. DETERMINISMO SOCIAL
Amâncio fora muito mal-educado pelo pai, um português austero, desses
que confundem o respeito com o terror. Em pequeno levou muita bordoada;
tinha um medo horroroso de Vasconcelos; fugia dele como de um inimigo, e
ficava todo frio e a tremer quando lhe ouvia a voz ou lhe sentia os passos. Se
acaso algumas vezes se mostrava dócil e amoroso, era sempre por
conveniência: habituou-se a fingir desde esse tempo. [...] Como exigir de
Amâncio que tivesse agora as virtudes que, em estação propícia, lhe não
plantaram na alma? Como exigir-lhe dedicação, heroísmo, coragem, energia,
entusiasmo e honra, se de nenhuma dessas coisas lhe inocularam em tempo
o germe necessário? Ele, coitado, havia fatalmente de ser mau, covarde e
traiçoeiro.
AZEVEDO, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo: Ática, 2005.
o homem é fruto do meio

6. DETERMINISMO BIOLÓGICO
Um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre,
desafiando, com um formidável sistema de músculos, a morbidez patológica
de toda uma geração decadente e enervada.
CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. São Paulo: Ática, 2008.
o homem é fruto dos traços hereditários

7. TIPIFICAÇÃO SOCIAL
O homem da venda acudiu em camisa de meia, o peito muito cabeludo
aparecendo; pretos e pretas, que andavam nas compras de jantar,
estacionaram em frente ao cortiço com a cesta no braço; negras minas
pararam para olhar, monologando em voz alta, o tabuleiro na cabeça, e na
mão um banquinho de pau; algumas traziam ainda um filho escarranchado
atrás, nos rins, e encueirado numa toalha, cujas pontas elas amarravam na
cintura. A velha Custódia apareceu, levando enfiada nos dedos uma meio,
que cerzia; a tia Zefa e mais a Rosinha, essas não se puderam conter, e foram
logo ao encontro dos carregadores.
AZEVEDO, Aluísio. O homem. Rio de Janeiro: Garnier, 2005.
observação de grupos sociais normalmente de classes baixas

8. DESIDEALIZAÇÃO
Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo desenvolvimento
das proporções. Grande, carnuda, sanguínea e fogosa, era um desses
exemplares excessivos do sexo que parecem conformados expressamente
para esposa da multidão – protestos revolucionários contra o monopólio do
tálamo.
POMPEIA, Raul. O ateneu. São Paulo: Ática, 2003.
personagens apresentadas objetivamente verossimilhança

9. ZOOMORFISMO
A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”,
portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do
campo. Depois seguiam-se a Marciana e a sua filha Florinda. A primeira,
mulata antiga, muito séria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre
úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se
logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a
buscar um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A
filha de quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos
dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas
sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre,
aos rogos de João Romão.
ASSIS, Machado de. O alienista. In.: Papeis avulsos. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.
conferem-se traços animalescos às personagens

10. DESCRIÇÕES DETALHADAS
Campos entrou no seu escritório e foi sentar-se à secretária. Defronte dele,
com uma gravidade oficial, empilhavam-se grandes livros de escrituração
mercantil. Ao lado, uma prensa de copiar, um copo de água, sujo de pó, e um
pincel chato; mais adiante, sobre um mocho de madeira preta muito alto,
via-se o Diário deitado de costas e aberto de par em par...
AZEVEDO, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo: Ática, 2005.
as descrições deixam a narrativa lenta tal procedimento confere efeito de real

11. TEMAS ANTICONVENCIONAIS
Nunca vira formas de homem tão bem torneadas, braços assim quadris rijos
e carnudos como aqueles... Faltavam-lhe os seios para que Aleixo fosse
mulher!... Que beleza de pescoço, que delícia de ombros, que desespero!...
Dentro do negro rugiam desejos de touro ao pressentir a fêmea. [...] Achava
uma graça infinita naquele pedacinho de homem vestido de marinheiro, alvo
e louro, sempre muito bem penteado, o cabelo sedoso, os borzeguins
lustrosos, todo ele cheirando a essência, como uma rapariga que se vai
fazendo mulher.
CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. São Paulo: Ática, 2008.
pedofilia, incesto, homossexualismo, alcoolismo, loucura...

12. ARRIVISMO SOCIAL
Ainda antes de terminar o segundo ano de matrimônio, o Miranda pilhou-a
em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi
de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial
garantia-se com o dote que ela trouxera, uns oitenta contos em prédios e
ações da dívida pública.
AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. São Paulo: Ática, 1992.
as personagens planejam e executam um projeto de ascensão social

13. DIFERENCIANDO REALISMO DE NATURALISMO

14. DIFERENCIANDO REALISMO DE NATURALISMO
REALISMO NATURALISMO
classes médias [burguesia]
doenças da alma
[adultério, arrivismo, ostentação]
temas selecionados
personagens redondas [análise psicológica]
aspectos interiores
indireto na interpretação [leitor analisa]
análise psicológica
classes baixas [povo]
doenças do corpo
[homossexualismo, pedofilia, incesto]
temas baixos, grotescos, degradantes
personagens planas [análise social]
aspectos exteriores
direto na interpretação [narrador analisa]
análise social