O documento discute a nova literatura marginal produzida nas periferias das grandes cidades brasileiras desde o início dos anos 2000. Apresenta seus principais aspectos históricos e temáticos, como a abordagem da realidade das periferias com linguagem coloquial e forte cunho ideológico, e destaca autores fundamentais como Ferréz e Sacolinha.
16. MANIFESTO DE ABERTURA: LITERATURA MARGINAL
Ao contrário do bandeirante que avançou com as mãos sujas de sangue
sobre nosso território e arrancou a fé verdadeira, doutrinando os nossos
antepassados índios, e ao contrário dos senhores das casas grandes que
escravizaram nossos irmãos africanos e tentaram dominar e apagar toda a
cultura de um pouco massacrado mas não derrotado. Uma coisa é certa,
queimaram nossos documentos, menaram sobre nossa história, mataram
nossos antepassados. Outra coisa também é certa: menarão no futuro,
esconderão e queimarão tudo o que prove que um dia a periferia fez arte.
Jogando contra a massificação que domina e aliena cada vez ais os assim
chamados por eles de “excluídos sociais” e para nos ceraficar de que o
povo da periferia/favela/gueto tenha sua colocação na história e não fique
mais quinhentos anos jogado no limbo cultural de um país que tem nojo de
sua própria cultura, a Caros Amigos/Literatura Marginal vem para
representar a cultura autênaca de um povo composto de minorias, mas em
seu todo maioria. E temos muito a proteger e a mostrar, temos nosso
próprio vocabulário que é muito precioso, principalmente num país
colonizado até os dias de hoje, onde a maioria não tem representaavidade
cultural e social.
FERRÉZ. Caros amigos especial. Literatura Marginal: a cultura da periferia: ato I. São Paulo, agosto de 2001.
22. VIDA
OBRA
Capão pecado Deus foi almoçar
Manual práZco do ódio Os ricos também morrem
Ferréz é o pseudônimo por meio do qual Reginaldo Ferreira da Silva
homenageia Virgulino [Ferre], o Lampião, também Ferreira da Silva, e
Zumbi [Z]. Fundador do movimento cultural denominado 1daSul, publicou,
em 1999, seu primeiro romance, Capão pecado, narraava ficcional
ambientada no Capão Redondo, periferia de São Paulo. Sob sua
coordenação, a revista Caros amigos lançou, nos anos de 2001, 2002 e
2003 os textos fundadores desse movimento literário da nova literatura
marginal.
26. Há muito tempo esse policial estudava uma estratégia para derrubar
Escobar. Não queria chegar de qualquer forma, ou qualquer jeito, se o
plano falhasse, poderia ser descoberto pelos seus superiores e perderia o
crédito e a razão que sempre teve junto aos seus colegas de trabalho. Foi
convocado várias vezes, e recebeu elogios raros do governo por sempre
conseguir pegar os ladrões mais perigosos do momento, porém os
interlocutores dos elogios mal sabiam que Lücio tem um currículo com
vinte e dois assassinatos, cheira cocaína, prende os assaltantes e fica com o
dinheiro dos assaltos, e toda sex-feira tem um ianerário a seguir onde nele
há desmanches e bocas-de-fumo. Enfim, Lúcio é um dos vários policiais que
usa a profissão como um meio de ficar bem na vida, roubando, matando,
extorquindo e esculachando cidadãos.
SACOLINHA. Graduado em marginalidade. São Paulo: Scortecci, 2008.
28. VIDA
OBRA
Graduado em marginalidade 85 letras e um disparo
Peripécias de minha infância Estação terminal
Sacolinha, pseudônimo de Ademiro Alves de Souza, é um dos mais
relevantes autores do movimento da nova literatura marginal. Morador da
periferia de São Paulo, sua trajetória começou com a publicação de um
conto na terceira edição da revista Caros amigos/Literatura marginal, em
2004. Mora em Suzano, onde dá palestras e paracipa de aavidades
culturais de incenavo à leitura. Coordena o projeto literário “Literatura no
Brasil”.
31. São fotografias de uma gente simples que vi crescer neste chão árido e
escuro da senzala moderna chamada periferia. […] A beleza fica por conta
de quem vê, não ave tempo para amenidades, a poesia só registrou a
verdade.
VAZ, Sérgio. A poesia dos deuses inferiores. São Paulo: Cooperifa, 2004.
36. GUIMARÃES, Terena. O popular em foco: literatura marginal ou periférica.
Disponível em: hCp://revistaboitata.portaldepoeacasorais.com.br. Acesso
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