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Filosofia
Filosofia

Selvino José Assmann
Copyright © 2006. Todos os direitos desta edição reservados ao DEPTO. DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO (CAD/CSE/UFSC).

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               A848f        Assmann, Selvino José
                                Filosofia / Selvino José Assmann. - Florianópolis : CAD/UFSC, 2006.
                               192p.

                                 Curso de Graduação em Administração a Distância
                                 Inclui bibliografia

                                  1. Filosofia – História. 2. Ética. 3. Poder. I. Título.

                                                                                                  CDU: 1

         Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
                          Luiz Inácio Lula da Silva

                       MINISTRO DA EDUCAÇÃO
                             Fernando Haddad

                SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
                               Ronaldo Mota

DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – DPEAD
                             Hélio Chaves Filho

               SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

              UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
                                  REITOR
                             Lúcio José Botelho
                               VICE-REITOR
                              Ariovaldo Bolzan
                 PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
                               Marcos Lafim
                  DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
                            Araci Hack Catapan

                       CENTRO SOCIOECONÔMICO
                                 DIRETOR
                         Maurício Fernandes Pereira
                              VICE-DIRETOR
                               Altair Borguet

            DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO
                       CHEFE DO DEPARTAMENTO
                             João Nilo Linhares
                       COORDENADOR DE CURSO
                          Alexandre Marino Costa
       COMISSÃO DE PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
                          Alexandre Marino Costa
                         Gilberto de Oliveira Moritz
                             João Nilo Linhares
                             Luiz Salgado Klaes
                       Marcos Baptista Lopez Dalmau
                         Maurício Fernandes Pereira
                      Raimundo Nonato de Oliveira Lima
EQUIPE DE REVISÃO
    Profª Liane Carly Hermes Zanella
         Prof. Luis Moretto Neto
        Prof. Luiz Salgado Klaes
 Prof. Raimundo Nonato de Oliveira Lima


       REVISÃO DE PORTUGUÊS
          Sergio Meira (Soma)
ADAPTAÇÃO METODOLÓGICA PARA EAD
         Denise Aparecida Bunn
          PROJETO GRÁFICO
         Annye Cristiny Tessaro
          Mariana Lorenzetti

            DIAGRAMAÇÃO
         Annye Cristiny Tessaro
    ORGANIZAÇÃO DE CONTEÚDO
         Selvino José Assmann
Sumário
Apresentação..............................................................................................07

UNIDADE 1 – O que é Filosofia

O que é Filosofia?.................................................................................15
Principais períodos da História da Filosofia.................................................36
Sócrates e Platão: um confronto entre dois modos de entender a Filosofia.....59
Atividade de aprendizagem........................................................................73
Referências.....................................................................................74

UNIDADE 2 – Ética

Sobre a ética, a partir da crise ética..............................................................79
O problema ético atual e a “ética profissional”..............................................84
O mal existe............................................................................................101
Atividade de aprendizagem.......................................................................107
Referências.....................................................................................107

UNIDADE 3 – Poder

O que é o poder?........................................................................................111
Atividade de aprendizagem......................................................................144
Referências.....................................................................................145

UNIDADE 4 – O ser humano como problema

O ser humano como problema – Por um humanismo trágico e cristão.........149
Atividade de aprendizagem......................................................................186
Referências.....................................................................................186

Mini-currículo.....................................................................................192
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  6
Módulo 2




Apresentação

     CONVITE PARA PENSAR


       Tudo corre. Escorre. Tudo muda. Até na universidade professo-
res e alunos correm cada vez mais. Nada permanece. Todos corremos
(se não o fizermos, seremos preguiçosos ou incompetentes), e em ge-
ral não sabemos para onde, mesmo que daqui a pouco, não se sabe
quando, demos de cara com a morte. Inevitavelmente. E ficamos fa-
zendo, fazendo coisas...
       Precisamos ser competentes tecnicamente para que alguém nos
dê um lugar, um emprego, mas também flexíveis, maleáveis, para po-
dermos nos adaptar sempre ao que se nos pede. É preciso mover-se, a
rede é vasta, os compromissos são tantos, as expectativas muitas, as
oportunidades abundantes, e o tempo é uma mercadoria rara...
       A vida se torna uma loja de doces para apetites transformados,
até pelo marketing, em voracidade cada vez maior. Estamos sempre
na beirada entre estar dentro e estar fora, entre ser “incluído” e poder
ser “excluído” a qualquer hora. Temos que estar atentos, correndo o
risco da depressão, sempre. A insegurança é nossa companheira per-
manente, na companhia de gente insegura. Sei que do meu lado tam-
bém há gente tão insegura quanto eu. Belo consolo! Mas isso, em vez
de criar solidariedade entre os inseguros, aumenta a indiferença, a
irritação, à vontade de competentemente empurrar para longe todos os
concorrentes do meu lado. Em vez de cerrar fileiras na guerra contra a
incerteza, todos querem que os outros fiquem mais inseguros, abando-
nem o barco e o deixem mais tranqüilo para mim. E se diz que isso é a
insofismável lei do mercado, que isso é assim, that’s it, como um tempo
dizia a propaganda de um refrigerante conhecido: esta é a razão das coi-
sas, é uma necessidade, e basta. Isso é liberdade. Mas não há escolha!
       E lá vem Margareth Tatcher, recente primeiro-ministro da Ingla-
terra, defendendo o reinado absoluto da flexibilidade, que nos diz sem


                                                                                7
Curso de Graduação em Administração a distância




                      eufemismos: “Não existe esta coisa chamada sociedade”. Só há ho-
                      mens e mulheres como indivíduos, e pronto!
                            Assim parece ser também com os administradores: administram,
                      executam, organizam a execução de tarefas que em geral não são de-
                      terminadas por eles mesmos, mas por outros, e têm que ser competen-
                      tes. Senão são jogados para fora do jogo, da corrida que está aconte-
                      cendo globalmente, cada vez mais globalmente. Também os adminis-
                      tradores devem correr. E saber apresentar-se, oferecer-se, vender-se
                      no mercado. E deixar-se comprar também. Devem ser líquidos, amol-
                      dando-se cada dia a novas exigências não se sabe por quem, mas são
                      exigências “naturais”, ou melhor, estabelecidas pelo mercado, este
                      estranho senhor sem identidade que é poderoso como ninguém e que
                      tem suas leis, que está em todo lugar, que não deixa ninguém fora de
                      seu controle e não dá tempo para nada mais do que ficar correndo a
                      seu serviço. Até que ele nos diz: “você não me serve mais”!
                            Deixando de ser útil ao mercado, somos jogados à margem e
                      temos que nos contentar em esperar a morte chegar; e às vezes até há
                      gente que fica torcendo para que isso aconteça o mais rápido, para não
                      atrapalharmos o funcionamento do mercado.
                            Tudo isso se tornou normal. Duramente normal. E se diz que
                      não pode ser diferente. Que a história não pode mais mudar, ou até já
                      terminou. Que estamos na fase final da história. E todos passam a vi-
                      ver como se nada pudesse ser mudado neste modo de ser das coisas, e
                      que só nos resta adaptarmo-nos. Também por isso, de nada adianta
                      pensar. Pensar nos faz mal, impedindo que sejamos competitivos. Pen-
                      sar nos faz parar, nos leva provavelmente a sermos expulsos da corri-
                      da por incompetência, por falta de flexibilidade e de produtividade.
                      Ou então – como diriam os franceses que inventaram o prêt-à-porter –
                      agora temos o prêt-à-penser. É só pagar que o mercado já oferece
                      tudo pensado, para ser usado. Temos de ser homo faber, só isso.
                      A globalização nos possibilita o acesso cada vez maior a informações,
                      e maior possibilidade de comunicação. Mas isso de modo algum pare-
                      ce favorecer uma visão mais crítica do que acontece, nem favorece
                      maior comunicação de fato. Pelo contrário, o assédio das informações



  8
Módulo 2




parece impedir que pensemos. Neste contexto, como Cornelius
Castoriádis, podemos afirmar que nossa civilização moderna parou
de se questionar, parou de pensar. E que é esse o nosso problema fun-
damental, pois o preço do silêncio passa a ser pago na dura moeda do
sofrimento humano.
       Com Zygmunt Bauman (BAUMAN, Z., 1999, p. 11), ousamos
arrematar: “Questionar as premissas supostamente inquestionáveis do
nosso modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente que de-
vemos prestar a nossos companheiros humanos e a nós mesmos”.
Talvez nem sempre saibamos quais são as perguntas mais importantes
que devemos fazer, ou então, nós que nos achamos tão estupenda-
mente “modernos”, “criativos”, nos damos conta que estamos repetin-
do as mesmas perguntas que já se fazem há séculos, há milênios. E
esquecemos as respostas já dadas ou os silêncios, sem resposta, já
manifestadas. Já que o passado não interessa, nem o futuro, mas só o
presente, este pode nos enganar a respeito de nossa originalidade e
podemos achar que estamos mudando sempre. Claro que mudam cer-
tas coisas, por exemplo, melhora nossa capacidade técnica.
E o que mais? Nossa “humanidade” também? Nossa liberdade? Nos-
sa felicidade? Por isso, faz bem incluirmos em nossa pergunta pelo
que está acontecendo hoje, uma referência ao que aconteceu ontem.
E faz bem também perguntarmos: por que será que paramos de sonhar
e renunciamos às energias utópicas? Como sabem os historiadores,
há um duplo movimento na compreensão histórica: o presente pode
ser iluminado pelo passado, mas também o passado acaba sendo me-
lhor compreendido a partir do presente. E isso nos fornece um ele-
mento a mais para podermos pensar no que acontece e nas possibilida-
des que temos para mudar o presente.
       Parece que nos esquecemos de que nós, seres humanos, temos
como marca o fato de sermos “seres que falam”; bem mais, ou não só,
seres que fazem, como disse Aristóteles; que somos frágeis, perdendo
em força física, sob todos os aspectos, para algum animal, mas somos
“caniços pensantes” (Pascal). Por mais que repitamos que esta é a era
de Aquário, a era do conhecimento, certamente não é a era do pensa-
mento, da profundidade, da reflexão. Até porque não temos tempo a

                                                                             9
Curso de Graduação em Administração a distância




                           perder. E além de tudo, como já dissemos, pensar é perigoso, para
                           quem pensa e para quem está do lado de quem pensa, pois nos pode
                           fazer perder o lugar no mercado, que precisa produzir e consumir,
                           objetos, coisas, e onde até os seres humanos devem ser só produtores
                           e consumidores. Nada mais.
                                 Pois bem: é nesta paisagem que apresentamos um livro que pre-
                           tende ser apenas um Convite para pensar, convite feito aos estudan-
                           tes do Curso de Graduação em Administração a distância. Escolhi al-
                           guns temas para pensar, em primeiro lugar, eu mesmo, partindo do
                           pressuposto de que filosofar é responder à pergunta: o que está acon-
                           tecendo comigo e com os outros no mundo hoje?
                                 Mais do que apresentar aqui um texto cheio de informações (con-
                           ceitos, doutrinas, nomes) sobre a riquíssima e milenar tradição do pen-
                                                 samento filosófico ocidental, é preferível esco-
Para saber mais
                                                 lher alguns temas, como o do próprio conceito de
A coruja, ave de Minerva, é o símbolo da
                                                 filosofia, com algumas informações gerais sobre
Filosofia, consagrado sobretudo a partir de
Hegel. Ele escreveu que, assim como a co-
                                                 a história da filosofia (Unidade 1), como o da éti-
ruja levanta vôo ao anoitecer, também a fi-      ca, sua crise e suas dificuldades teóricas (Unida-
losofia e os grandes filósofos surgem em         de 2), como o do conceito de poder, de poder
momentos em que a sociedade humana               político, e das relações entre poder e liberdade
começa a anoitecer, a entrar em crise...         (Unidade 3) e, por fim, perguntando-nos sobre o
                                                 que somos nós, seres humanos, ser humano como
                                                 problema e como solução, unindo quem sabe uma
                                                 visão religiosa e uma visão trágica, quando há
                                                 gente que já fala de pós-moderno e de “pós-huma-
                                                 no”, com a globalização em curso (Unidade 4).
                                                 Fazemos esta viagem, que procura ser reflexiva,
                                                 na companhia de alguns autores ou companhei-
                                                 ros – e poderia ser com outros e muitos outros,
                                                 esperando que todos os leitores e leitoras se sin-
                                                 tam bem e, quem sabe, ao final, com mais vonta-
                                                 de de continuar a viagem reflexiva do que ao ler
                           esta Apresentação. Obviamente não será uma disciplina de filosofia
                           que irá tornar os futuros administradores novos “especialistas” em fi-
                           losofia. Insisto: interessa não tanto que o administrador se torne um

     10
Módulo 2




filósofo, conhecendo um conteúdo determinado, muito vasto. Muitos
textos clássicos estão aí disponíveis nas livrarias, e cada vez mais na
internet. Pode ser bom – e talvez os que formularam o currículo míni-
mo do curso de Administração pensassem nisso ao incluir a filosofia –
que o administrador também seja estimulado a pensar por própria conta e
risco, como diziam os Iluministas modernos. Aude sapere! Ousa saber!
Aliás, se queremos tanto ser modernos, ou ser críticos, independente da
profissão, como cidadãos, não há outra saída senão pensar também.
       Claro que nem todos gostarão, com a mesma intensidade, deste
convite; talvez alguns até nem gostem e considerem “chato” ter que
estudar estas “bobagens”. Certamente a filosofia não serve para nada.
Pensar não serve para nada. Concordo. Mas quem disse que são im-
portantes só as coisas que servem, que são meios para alguma coisa?
Para que serve a liberdade? Para que serve a felicidade? Para que ser-
ve o amor? Para que serve o prazer sexual? Para que serve a amizade?
Estas “coisas” são valiosas por si mesmas. Não precisam servir para
nada além de si mesmas. Se, por exemplo, um amigo servir para algu-
ma coisa que não seja a própria amizade, provavelmente a amizade
acabará logo.
       Mas ninguém é obrigado a ter a coragem de pensar! Aliás, esta
atitude é improdutiva, “coisa inútil” no mercado, e é perigosa, como já
disse. Acho, porém, que vale a pena correr este perigo, pois se poderá
perceber que o mundo que temos não é o único possível nem o melhor
dos mundos, levando-nos quem sabe a resistir ao que nos parece acon-
tecer de maneira inevitável, instigando-nos a ficar mais atentos para as
brechas que podem nos surpreender cá e lá, sugerindo, quem sabe,
mudanças mais substantivas, dentro de nós e entre nós, e não apenas
na nossa capacidade de produção e de consumo. Neste sentido, pen-
sar é um jeito de cada um cuidar de si. E se cada um cuida melhor de
si, a nossa convivência com os outros poderá ser mais agradável. Lem-
bro com gosto a sabedoria de Aristóteles: “com amigos se pensa e se
age melhor”. Por isso, repito o convite para pensar: a aceitação do
convite pode tornar a vida mais interessante, mais leve e mais profun-
da, embora menos produtiva e menos consumível. Neste caso,
aristotelicamente, poderei confirmar, mais uma vez: pensar vale a pena!

                                                                               11
Curso de Graduação em Administração a distância




                           Então, vamos caminhar juntos descobrindo e compreendendo a
                      importância do pensar...
                           Bons estudos a todos e contem sempre conosco!


                            Florianópolis, dezembro de 2006.

                            Selvino José Assmann




  12
Módulo 2




            UNIDADE




           1
OO que é Filosofia
  que é Filosofia




                    13
Curso de Graduação em Administração a distância




                                         Objetivo

  Nesta Unidade você vai conhecer ou rever, caso já conheça, algumas

 maneiras de entender o que é a Filosofia e o ato de filosofar, além
                                                     filosofar
de uma breve discussão sobre algumas características de cada período da

   sua história milenar. Vamos também discutir o significado do ato de

filosofar a partir de um confronto entre duas concepções de Filosofia
                                                            Filosofia,

em dois textos de Platão: uma concepção socrática segundo a qual ela
                                        socrática,

       é o amor pela sabedoria, a busca do conhecimento da realidade,

       incluindo-se o auto-conhecimento, e uma concepção platônica
                                                         platônica,

   segundo a qual ela é a realização desta busca do conhecimento, ou

                              seja, é a verdade já encontrada.




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Módulo 2




                               O que é Filosofia?




  Caro estudante, estamos iniciando a disciplina de Filosofia,
  e esta primeira unidade é uma reflexão sobre o que ela
  representa constituindo-se assim um importante referencial
  para embasar as próximas Unidades.
  Leia com atenção e, se tiver dúvidas, releia e busque
  esclarecê-las nas indicações de Saiba mais e também junto
  ao Sistema de Acompanhamento; e vamos juntos cons-
  truir nosso conhecimento. Bons estudos.


      No seu sentido mais comum, o substantivo filosofia ou o verbo
filosofar tem a ver com pensamento ou com o ato de pensar.


     Filosofar é pensar sobre o que nos acontece, sobre o sentido
     do que nos acontece ou sobre o significado da vida humana
     ou da vida biológica como tal. Diz-se assim que se tem uma
     “filosofia de vida”. Mas este significado do termo certamen-
     te é muito amplo e vago. Até mesmo pensar não é a mesma
     coisa para todos.

                                                                              Saiba mais sobre os
      Há um sentido menos comum, em que filosofar significa sa-               Sábios Orientais no
ber viver, ou melhor, saber viver com sabedoria, de acordo com uma           final deste subtítulo.
doutrina, com uma Filosofia. Assim há, por exemplo, sabedorias                 Aliás, chamamos a
diferentes daquela ocidental. Por isso se fala dos sábios orientais       atenção para o seguin-
Confúcio e Lao Tsé (China), Buda (Índia) e Zaratustra (Pérsia), mas            te: sempre valerá a
as suas doutrinas ainda estão vinculadas à religião, e não caracteri-     pena informar-se mais
zadas por uma exclusiva racionalidade.                                     a respeito dos autores
      Existe, porém, um sentido mais específico e preciso de filosofar:         citados. Para isso,
procurar e/ou encontrar a verdade por meio de uma atividade racional.       recomendamos viva-
E a gente encontra a verdade porque precisa e deseja saber a verdade.                mente acessar
E a verdade é necessária para viver. Mas nem todas as perguntas que         www.wikipedia.org.

                                                                                        15
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                      fazemos são perguntas filosóficas, como nem todas as respostas são
                      respostas filosóficas. Não é “filosófico” saber “que dia é hoje?”, mas
                      é filosófico perguntar “o que é o tempo?” O que é a verdade? O que é
                      a mentira? O que é a liberdade? O que é a razão? São todas perguntas
                      filosóficas. E sabemos que nem todos estamos acostumados a fazê-las
                      e nem todos achamos que sejam perguntas que nos interessam.




                         Figura 1: O Pensador. Uma das imagens mais conhecidas para
                         representar o Filósofo é a do escultor francês Auguste RODIN
                            (1840-1917). Fonte: http://homepage.mac.com/oscarmv/
                        Kitsune%20Monogatari/C908379346/E20050630164305/Media/
                                                  pensador.gif


                        Saiba mais...
                            Confúcio nasceu em 551 a.C. e morreu em 479 a.C. Foi a
                      figura histórica mais conhecida na China como mestre, sábio e
                      teórico político. Sua doutrina, o Confucionismo, teve forte influên-
                      cia não apenas sobre a China, mas também sobre toda a Ásia orien-
                      tal. Conhece-se muito pouco da sua vida. Parece que os seus ante-
                      passados foram gente nobre, mas o filósofo e moralista viveu pobre
                      e desde a infância teve de ser mestre de si mesmo. Estas e outras
                      informações sobre a vida de Confúcio podem ser encontradas em
                      http://pt.wikipedia.org/wiki/Conf%C3%BAcio
                          Lao Tse foi um famoso sábio chinês. A ele é atribuída a autoria
                      de uma das obras fundamentais do Taoísmo: o Tao Te Ching.
                      A influência deste livro é tão disseminada que tornou-se na atualida-
                      de um dos livros mais traduzidos em todo o mundo. Estas e outras
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Módulo 2




informações sobre a vida de Lao Tse podem ser encontradas em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lao_Zi
     Buda, do ponto de vista da doutrina budista clássica, é palavra
que denota não apenas um mestre religioso que viveu em uma época
em particular, mas toda uma categoria de seres iluminados que
alcançaram tal realização espiritual. As escrituras budistas tradicio-
nais mencionam pelo menos 24 Budas que surgiram no passado, em
épocas diferentes. O Budismo reconhece três tipos, dentre os quais o
termo Buda é normalmente reservado para o primeiro tipo, o
Samyaksam-buddha (Pali: Samma-Sambuddha). Atualmente, as
referências ao Buda referem-se em geral a Siddhartha Gautama,
mestre religioso e fundador do Budismo no século VI antes de
Cristo. Estas e outras informações sobre Buda podem ser encontra-
das em http://pt.wikipedia.org/wiki/Buda
    Zaratustra foi um profeta nascido na Pérsia (atual Irã), prova-
velmente em meados do século VII a.C. Ele foi o fundador do
Masdeísmo, religião adotada oficialmente pelos Aquemênidas (558 -
330 a.C). A influência de Zaratustra no mundo grego ocorreu por
meio dos magos que emigraram do Oriente. Estas e outras informa-
ções sobre o profeta podem ser encontradas em http://
pt.wikipedia.org/wiki/Zaratustra




  A atitude filosófica


      Podemos dizer que filosofar é criar e ter uma atitude filosófica.
Mas nem todos têm esta atitude. Falamos, portanto, aqui da Filosofia
que quebra com o nosso saber prático do dia a dia, e que nem sempre
nos agrada, pois à primeira vista parece ser perda de tempo ou incô-
modo exagerado com as coisas, deixando-nos, quem sabe, angustia-
dos demais, para além do conveniente.
      Filósofo é quem não se contenta com as coisas óbvias. É quem
toma distância do que acontece, para entender melhor o que acontece.
O antropólogo e educador brasileiro Darcy Ribeiro (1922-1997) re-
petia que pensar é questionar o óbvio. Assim, o filósofo aparece
como desligado da realidade, vivendo nas nuvens, em coisas abstra-
tas, distraído, perdido ou aparentemente alheio aos problemas con-            17
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                           cretos da vida. Reconhece-se também, em geral, que a atitude filosó-
                           fica se confunde com uma atitude crítica, que – diga-se de passagem –
                           não deve ser confundida com “falar mal”, mas com a capacidade de
                           perceber melhor o que se está querendo conhecer, e aí perceber se isso
                           pode ser um mal ou um bem. Neste contexto, o filósofo é inimigo
                           mortal de qualquer fanatismo, de qualquer dogmatismo.
                                  Exemplo da visão depreciativa da Filosofia tem-se com a histó-
                           ria do antigo sábio grego chamado Tales que, ao olhar para o céu a fim
                           de entender os movimentos das estrelas, acabou caindo num poço.
                           Ou com uma definição, ou ditado popular bastante conhecido: a Filoso-
                           fia é a ciência com a qual ou sem a qual tudo continua tal e qual!
                                  Por mais que haja esta visão pejorativa a respeito dos filósofos, tam-
                           bém é verdade que nunca se desconheceu a importância histórica e teóri-
                           ca da atividade filosófica. Não precisamos de muito para perceber que só
                           povos historicamente importantes apresentam grandes pensadores. Por
                           que isso? Mais ainda: podemos facilmente constatar que só existem gran-
                           des pensadores em momentos históricos importantes da vida de um povo.
                           Exemplo disso é o fato de haver grandes pensadores na Itália precisamen-
                           te na Renascença, e não tanto depois, ou o fato de haver grandes filósofos
                           na Inglaterra e na França dos séculos XVII e XVIII, e não antes nem
                           depois. Ou que aparecem filósofos importantes nos Estados Unidos a partir
                                                           do século XX, e não antes.
Para saber mais                                                  Todo filósofo é por assim dizer um
*Georg Wilhelm Friedrich Hegel – nasceu em
                                                           porta-voz consciente de um povo, e nun-
Stuttgart, em 27 de agosto de 1770 e morreu em
                                                           ca apenas um gênio tomado isoladamen-
Berlim a 14 de novembro de 1831. Filósofo idealista
alemão, filósofo da história e da historicidade. A re-     te. Hegel o dizia de maneira melhor: cada
alidade passa com ele a ser vista como histórica em       filosofia é o próprio tempo em pensa-
sua raiz, mas sua Filosofia da Identidade não conce-      mento, e cada filósofo é, portanto, al-
de espaço para o contingente, para a diferença. Sob       guém que pensa o próprio tempo. Filó-
o ponto de vista político, critica o liberalismo, mas     sofo não inventa a realidade, mas inter-
serve de inspiração tanto para o pensamento de di-
                                                          preta a realidade em que vive.
reita quanto para o de esquerda, como Marx. É o
                                                                Claro que podemos ter filósofos
único grande pensador que tem uma “direita” e uma
                                                          que privilegiam uma visão mais conser-
“esquerda”. Hegel levou ao máximo as possibilida-
des da razão humana, indicando assim, ao mesmo            vadora do próprio tempo ou do próprio
tempo, os limites desta razão. Ver mais em Wikipédia.     povo e outros – talvez mais raros na His-

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tória da Filosofia – que acentuam a crítica à própria situação e por isso
são mais utópicos. Mas nenhum pensador se tornou importante ou se
tornou um clássico deixando de se preocupar com a própria situação,
com as raízes do que acontece. Por isso, se pode dizer que toda filoso-
fia é radical, pois não se contenta em ficar na superfície das coisas,
mas procura ir fundo, busca desvendar os porquês das coisas.
       O filósofo faz esse tipo de pergunta: o que é a realidade? Como
a realidade é? E por que a realidade é assim? Procuram-se a essência,
o significado e a origem do que se quer conhecer.
       Fala-se de reflexão, que lembra o espelho, onde a gente se re-
flete. Pois bem: filosofar é refletir. É um movimento de volta sobre si
mesmo. Refletir é, por exemplo, tomar o próprio eu como objeto de
compreensão. E se pode dizer que é esta a capacidade humana que
nos distingue dos seres animais: se dissermos que os animais conhe-
cem, os seres humanos conhecem que conhecem, sabem que sabem.
Por isso somos capazes de rir de nós mesmos. De toda forma, quem
prefere uma vida tranqüila, uma vida mais grudada ao cotidiano, ao
terra-a-terra, fica longe da Filosofia. E quem quer alcançar maior pro-
fundidade, quem gosta de chegar às raízes, ser mais radical, vai preci-
sar dela, mesmo que isso não lhe venha
a trazer certezas ou tranqüilidade... e tal-      Para saber mais
                                                  *Theodor Adorno – Theodor Ludwig Wiesengrund-
vez nem felicidade.
                                                  Adorno nasceu em Frankfurt am Main, 11 de se-
       O pensador alemão contemporâneo
                                                    tembro de 1903 e morreu em Visp, 6 de agosto
Theodor Adorno disse que só se põe a
                                                 de 1969. Foi filósofo, sociólogo, musicólogo e com-
filosofar quem suporta a contradição, o          positor alemão. Membro da Escola de Frankfurt jun-
conflito. Quem gosta de tranqüilidade, não       tamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin,
o faz. Talvez se deva afirmar que o filóso-      Herbert Marcuse. A filosofia de Theodor Adorno,
fo é quem assume correr o risco de viver         considerada uma das mais complexas e profundas
mais inseguro, ter cada vez mais pergun-         do século XX, fundamentando-se na perspectiva da
                                                 dialética, mas da dialética negativa, ou seja, daque-
tas, e não respostas.
                                                 la que nunca alcança uma síntese definitiva, como
       Esta atitude filosófica deve ser cla-
                                                 ocorreria em Hegel. Ver mais em Wikipedia.
ramente separada da mera opinião ou dos
gostos pessoais. Não é filosófico dizer “eu acho que”, “eu gosto de”...
A Filosofia estabeleceu-se como saber lógico, rigoroso, concatenando
as afirmações entre si, superando, como dissemos, o senso comum.

                                                                                              19
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                         Especificidade do conhecimento filosófico


                            Com Marilena Chauí, que nos serve de apoio para várias observa-
                      ções feitas nestas páginas, podemos também afirmar que, do ponto de vista
                      mais específico, a Filosofia se apresenta com quatro definições gerais:

                                em primeiro lugar, fala-se de visão de mundo de um povo,
                                de uma cultura. Visão de mundo é um conjunto de idéias,
                                de valores e de hábitos práticos de um povo, que fazem
                                com que se defina como que uma identidade do povo. Mas
                                definir assim a Filosofia nos faz confundi-la com cultura,
                                o que não convém;

                                em segundo lugar, identifica-se a Filosofia com a sabedoria
                                de vida, ou como “filosofia de vida”. Neste caso provavel-
                                mente incluiríamos como “filosofias” o Budismo, o Cristia-
                                nismo, e não conseguiríamos distinguir entre Filosofia e Re-
                                ligião, o que também não convém;

                                em terceiro lugar, Filosofia é esforço racional, sistemático,
                                rigoroso, para conceber o Universo como uma totalidade or-
                                denada e dotada de sentido (Chauí, 1995 p. 16). E esta defi-
                                nição corresponde mais claramente com a história da Filoso-
                                fia. Assim conseguimos perceber a diferença entre Religião
                                e Filosofia, enquanto aquela tem por base a fé, pela qual se
                                aceitam verdades não demonstráveis e que tantos conside-
                                rarão até mesmo irracionais. Claro que isso não significa
                                que, sob todos os pontos de vista, as verdades de fé não
                                sejam aceitáveis, ou até mesmo razoáveis, como tentou fa-
                                zer um pensador da qualidade de Tomás de Aquino, que se

                  Para saber mais
                  *Marilena de Sousa Chauí – conhecida apenas como Marilena Chauí, nasceu
                  em São Paulo, 4 de setembro de 1941. Filósofa brasileira. Professora de Filoso-
                  fia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e
                  Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Autora de vári-
                  os livros, é reconhecida, não só pela sua produção acadêmica, mas pela partici-
                  pação efetiva no contexto do pensamento e da política brasileira. Fonte Wikipédia
                                                                                    Fonte:

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         esforçou por mostrar que as                Para saber mais
         verdades cristãs não eram                  *Santo Tomás de Aquino – nasceu em Roccasecca,
         contrárias à razão; e                      arredores de Monte Cassino, em 1227 e morreu
                                                    em abadia de Fossanova perto de Priverno, 7 de
         em quarto lugar, a Filosofia é           março de 1274. O frade dominicano italiano, con-
         admitida como fundamenta-                sagrado pela Igreja Católica como o grande filósofo
         ção teórica e crítica dos co-            e teólogo cristão, ao lado de Santo Agostinho, lutou
         nhecimentos e das práticas               aguerridamente para introduzir no pensamento cris-
         (Ibid, p.17): ela preocupa-se            tão medieval o pensamento de Aristóteles, até en-
         costumeira-mente com os                  tão considerado materialista demais. Depois de mais
         princípios do conhecimento               de dez séculos em que o pensamento cristão prefe-
         (por exemplo, do conhecimen-             riu Platão, agora passa a ser aristotélico. Desta for-
         to científico, o que se chama            ma, a Igreja católica romana abriu-se mais para um
         de episte-mologia ou de teo-             diálogo com os não cristãos, por mais que a
         ria do conhecimento científi-            Escolástica tenha sido ainda muito rígida defensora
         co), com a origem, a forma e             de uma verdade dogmática. Ver mais em Wikipédia.
         os conteúdos dos valores éti-
         cos, políticos e estéticos. Assim, a Filosofia é reflexão, é
         crítica, e é análise. Mas isso não a torna um sinônimo de
         ciência, mas uma reflexão crítica sobre a ciência; não a torna
         uma religião, mas uma análise crítica sobre o sentido da expe-
         riência religiosa e sobre a origem das crenças; nem a identifica
         com a Psicologia, com a Sociologia, a História, com a Ciência
         Política, por mais que estas ciências do fenômeno humano te-
         nham parentesco histórico com ela. Neste caso, se costuma di-
         zer que as ciências humanas estudam o “como”, enquanto a Fi-
         losofia estuda o “porquê” e o “que é”, os conceitos.



 Saiba mais...
     Não deixe de ler o interessante artigo de EWING, A.C. O que
é filosofia e por que vale a pena estudá-la, disponível em
<www.cfh.ufsc.br/^wfil/textos.htm>. Neste sítio há também outros
textos interessantes sobre o tema.
     CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática,
1995. Sugere-se a leitura da Unidade I – A Filosofia, para aprofun-
dar a temática e confrontar com o que se diz aqui. O livro está
acessível na sua íntegra em: www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm.
Vale a pena!
                                                                                                21
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                          Os gregos inventam a Filosofia


                              A Filosofia, essa forma de conhecimento sistemático, tem uma
                       história de mais de dois mil e quinhentos anos. Nascida na Grécia
                       Antiga, ali se consolidou, tornando-se uma das principais marcas da
                       civilização ocidental.
                              Os gregos, desde os primórdios (por volta de 1.500 a.C., com a
                       civilização micênica), se concentraram nas costas do Mediterrâneo em
                       pequenas e distintas nações, constituindo posteriormente cidades in-
                       dependentes e rivais entre si. Cada cidade com sua cultura, seus hábi-
                       tos, sua política. Mesmo assim, criou-se uma comunidade de língua e
                       de religião, o que fez com que se constituísse em um povo, aos quais
                       se opunham todos os que não falavam o grego. Eram os bárbaros, e
                       “bárbaro” significa precisamente aquele que não fala o grego.
                              A genialidade grega, reconhecida historicamente – alguns falam
                       do “milagre grego” – afirma-se com Homero, com pintores, esculto-
                       res, ceramistas, e com os primeiros nomes da Ciência e da Filosofia:
                       Tales de Mileto, Heráclito, Anaximandro, Xenófanes e Parmênides.
                       Além da região conhecida como Grécia, havia também a Magna
                       Grécia, incluindo partes do sul da Itália peninsular (Tarento, Nápoles,
                       Crotona) e da Sicília (Siracusa, Agrigento). Ali viveram pensadores
                       como Pitágoras, Empédocles, e foi para Siracusa que depois viajou
                       Platão para tentar aplicar sua teoria.
                              Entre as cidades-estado consolida-se, por volta dos séculos VI e
                       V a. C., a importância de Esparta e Atenas, esta última realizando e
Informações sobre      sofrendo grandes alterações sociais e políticas, com Sólon, Clístenes e
 estes importantes     Péricles, e com o desenvolvimento do comércio e a expansão da colo-
  filósofos no final   nização grega. Todos nos lembramos da Guerra do Peloponeso (431-
         deste item.   401 a. C.), entre Atenas e Esparta, através da qual se afirmou a supe-
                       rioridade da primeira. Atenas criou a democracia direta, e neste con-
                       texto surgem as artes, as tragédias e comédias. Depois disso se conso-
                       lida em Atenas a Filosofia, mostrando que a vida da cidade, a política,
                       é um chão propício no qual pode germinar melhor a atividade filosófi-
                       ca. É em Atenas que vivem os grandes trágicos Ésquilo, Sófocles e

   22
Módulo 2




Eurípedes, o autor de comédias, Aristófanes, e os primeiros historia-
dores, Heródoto e Tucídides. Na mesma cidade, os filósofos
Anaxágoras e Demócrito lecionaram, assim como o fizeram os sofis-
tas, os primeiros professores que se fizeram pagar pelo ensino. E de-
pois, os três maiores expoentes da Filosofia grega: Sócrates, Platão e
Aristóteles. Sócrates (470/469-399 a.C.), condenado à morte por um
governo tirânico (veja na figura 2 uma representação da Morte de
Sócrates), o seu discípulo Platão (428/427-348/347 a. C.), fundador
da Academia, e Aristóteles (384 a.C. – 322 a. C.), fundador do Liceu,
professor de Alexandre Magno, jovem imperador que viria a confir-
mar, depois de seu pai Felipe já ter conquistado a Grécia, o fim da
autonomia das cidades-estado, estabelecendo o império macedônico,
sucedido pelo domínio romano da Grécia. Deixam de existir as cida-
des-estado autônomas e passa a existir a idéia de império, onde prati-
camente já não é mais possível ao cidadão participar da vida política,
obrigando-o a encontrar o sentido da sua vida fora desta. E passa a
existir uma idéia de “universalidade” também na política, o que facili-
ta o estabelecimento da mesma religião para todos, de um só deus para
todos, o que vai acontecer depois com a tradição judaico-cristã.




                                                           Figura 2: Representação da Morte
                                                           de Sócrates. Sócrates preparando-se
                                                           para tomar o veneno mortal, a
                                                           cicuta. Tela de Jacques-Louis David,
                                                           1787. Fonte: Revista História Viva.
                                                           Edição especial temática nº 3, p. 07




                                                                                      23
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                                 Em todo caso, o imperador Alexandre contribui para que a cul-
                          tura grega, que ele aprendeu com seu mestre Aristóteles, se expanda
                          pelo Oriente Médio. Como não lembrar dos períodos “helênico” ou
                          “alexandrino”, que não só conservam as obras clássicas do pensamento
  Veja mais informa-      grego com a posterior criação da biblioteca de Alexandria no norte e
ções sobre a Bibliote-    África, mas também continuam atraindo para as novas cidades artis-
 ca de Alexandria no      tas, sábios e homens letrados. Em todo caso, a Filosofia grega não
          Saiba mais.     morre, mas continua em Roma e depois floresce em toda a Europa, a
                          partir do casamento feito entre a racionalidade grega e a nova religião,
                          o Cristianismo, que aos poucos deixa de ser uma religião marcada
                          pela mentalidade oriental e passa, sobretudo a partir da obra Paulo de
                          Tarso (o apóstolo São Paulo), que é de formação grega, a mesclar a
                          nova religião com o pensamento racional grego. Este casamento entre
                          razão grega e religião judaico-cristã tornou-se a base da Idade Média e
                          – como se reconhece cada vez mais – a base da própria tradição mo-
                          derna. Por tudo isso se pode dizer que a Filosofia é filha da Grécia e
                          que o Ocidente tem lá o seu berço.




                                              Figura 3: Escola de Atenas.
                           Fonte: Il Rinascimento Italiano e L’Europa. Volume Primo Storia e
                                               Storiografia, 2005. p. 691




      24
Módulo 2




     Sobre a história da Filosofia na Grécia, pode-se dizer que há três fases:

         o período pré-socrático ou cosmológico, em que a Filoso-
         fia se ocupa principalmente com a origem do mundo e as
         causas das transformações da natureza;

         o período socrático ou antropológico, ocorrido entre o fi-
         nal do séc. V até o final do Séc. IV a.C., em que o objeto de
         estudo passa a ser o homem, sua vida política e moral e sua
         capacidade de conhecer as coisas; e

         o período helenístico ou greco-romano, entre o final do Sécu-
         lo III a.C até o Séc. II d.C, quando começa a consolidar-se a
         supremacia da visão cristã, sobretudo com Santo Agostinho.                  Mais informações
         Neste período, deixa-se de acreditar em soluções mais coleti-           sobre este importante
         vas para a vida humana e se começa a introduzir uma saída                  teólogo podem ser
         individual, consolidando-se uma nova ética e uma política                encontradas no final
         que deixa de ser vista como boa. É o período dos estóicos*,
                                                                                            deste item.
         dos epicuristas* e dos céticos*.

                                                                                    GLOSSÁRIO
 Saiba mais...                                                                   *Estóicos, epicuristas
    Estóicos, Epicuristas e Céticos – envolve tanto o pensamento                 e céticos – constitu-
grego, quanto o pensamento romano que predomina entre o fim da                   em o que se denomi-
autonomia das cidades-estado gregas, com a morte de Alexandre                    na de Pensamento
Magno em 323 a.C., e a conquista do Antigo Egito em 30 a. C.                     Helenístico. Mais in-
pelos Romanos, e, mais ainda, com a gradual afirmação da perspec-                formações no Saiba
tiva cristã. São estóicos, por exemplo, tanto Zenão, grego, quanto               mais.
Cícero, Sêneca e o imperador romano Marco Aurélio. Todos eles
abandonam o ideal anterior (Platão e Aristóteles), de que tudo se
resolve pela política, e passam a dar importância ao indivíduo, à
individualidade e à vida privada. Os estóicos – chamados assim pois
se reuniam, em Atenas, perto do pórtico, em grego “stoa” – aprego-
am o ideal da fraternidade universal, contrários, portanto, à escravi-
dão, e defendem o ideal da vida austera. Por isso até hoje se mantém
o termo “estóico” com este sentido de austeridade, de capacidade de
suportar o sofrimento. O epicurismo, chamado também de Escola do
Jardim, porque ali se reuniam os discípulos de Epicuro, defende o
valor da vida humana individual, o bem-estar, o prazer espiritual e
físico como fim da existência humana. E os céticos insistem em dizer

                                                                                              25
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                      que os seres humanos, por mais que o queiram, não conseguem
                      conhecer a realidade de forma objetiva e neutra.
                         Homero foi o primeiro grande poeta grego que teria vivido, há
                      cerca de 3.500 anos, e consagrou o género épico com as suas gran-
                      diosas obras, A Ilíada e a Odisséia. Estas e outras informações em
                      http://pt.wikipedia.org/wiki/Homero
                         Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo ocidental. De
                      ascendência fenícia, nasceu em Mileto, antiga colônia grega na Ásia
                      Menor, atual Turquia, por volta de 624/625 a.C., e faleceu aproxi-
                      madamente em 556 ou 558 a.C. É apontado como um dos sete
                      sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola
                      Jônica. Considerado também o primeiro filósofo da physis (nature-
                      za), porque outros, depois dele, seguiram seu caminho buscando o
                      princípio natural das coisas. Estas e outras informações em http://
                      pt.wikipedia.org/wiki/Tales_de_Mileto
                         Heráclito de Éfeso nasceu aproximadamente em 540 a.C. e
                      morreu em 470 a.C. em Éfeso, na Jônia. Filósofo pré-socrático, “pai
                      da dialética”. Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a
                      alcunha de “Obscuro”, pois desprezava a plebe, recusou-se a partici-
                      par da política (que era essencial aos gregos) e tinha também
                      desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Estas e outras infor-
                      mações em http://pt.wikipedia.org/wiki/
                      Her%C3%A1clito_de_%C3%89feso
                         Anaximandro de Mileto nasceu em 609/610 a.C. e morreu em
                      546 a.C. Foi um filósofo pré-Socrático, discípulo de Tales, e tam-
                      bém geógrafo, matemático, astrônomo e político. Atribui-se a ele a
                      confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia
                      do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias entre
                      as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia
                      grega). Estas e outras informações você pode encontrar em http://
                      pt.wikipedia.org/wiki/Anaximandro_de_Mileto
                         Xenófanes de Cólofon nasceu por volta de 570 a.C. e morreu
                      em 460 a.C. Filósofo grego nascido em Cólofon, na Jónia. Escreveu
                      unicamente em versos em oposição aos filósofos jônios como Tales
                      de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto. Da sua
                      obra restaram uma centena de versos. A sua concepção filosófica
                      destaca-se pelo combate ao antropomorfismo, afirmando que se os
                      animais tivessem o dom da pintura, representariam os seus deuses

  26
Módulo 2




em forma de animais, ou seja, à sua própria imagem. Estas e outras
informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/
Xen%C3%B3fanes_de_C%C3%B3lofon
   Parmênides de Eléia nasceu em cerca de 530 a.C. e morreu em
460 a.C. em Eléia, hoje Vélia, Itália. Foi o fundador da escola
eleática. Há uma tradição que afirma ter sido Parmênides o discípulo
de Xenófanes de Cólofon, mas não há certeza sobre o fato, já que
uma tradição distinta afirma ter sido o filósofo pitagórico Amínias
(ou Ameinias) quem despertou a vocação filosófica de Parmênides.
Em geral, é contraposto a Heráclito: enquanto para este, toda a
realidade estaria sempre em movimento, seria processo, para
Parmênides, toda mudança seria mera aparência Mais informações
em http://pt.wikipedia.org/wiki/Parm%C3%AAnides
    Pitágoras foi um filósofo e matemático grego que nasceu em
Samos pelos anos de 571 a.C. e 570 a.C. e morreu provavelmente
em 497 a. C. ou 496 a.C. em Metaponto. A sua biografia está envol-
ta em lendas. Foi o fundador de uma escola de pensamento grega,
chamada de Pitagórica, e foi o criador da palavra “filósofo”. Mais
informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Pit%C3%A1goras
    Empédocles nasceu em Agrigento, 483 a.C. e morreu em
Peloponeso, 430 a.C. Foi um filósofo, médico, legislador, professor,
místico além de profeta; foi defensor da democracia e sustentava a
idéia de que o mundo seria constituído por quatro princípios: água,
ar, fogo e terra. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/
Emp%C3%A9docles
    Sólon, poeta e legislador ateniense, em 594 a.C. iniciou uma
reforma onde as estruturas social, política e econômica da polis
ateniense foram alteradas. Aristocrata por nascimento, trabalhou no
comércio. Fez reformas abrangentes, sem fazer concessões aos
grupos revolucionários e sem manter os privilégios dos eupátridas, e
criou a eclésia (assembléia popular). Profundo conhecedor das leis,
foi convocado como legislador pela aristocracia em meio ao contex-
to de tensão social existente na polis, no qual os demais grupos
sociais viam as reformas de Drácon (ocorridas por volta de 621 a.C.)
como algo insuficiente. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/
wiki/S%C3%B3lon
   Clístenes foi um nobre ateniense que reformou a constituição da
antiga Atenas em 508 a.C., sendo considerado, geralmente, o pai da

                                                                           27
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                      democracia, que aí implantou. Como pertencia à família dos
                      Alcmeónidas, obteve o apoio necessário para a destituição de
                      Hípias, filho do “tirano” Pisístrato, de uma família rival; abriu
                      caminho para a adoção de uma postura democrática para Péricles.
                      Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%ADstenes
                         Péricles nasceu em 495 a.C. e morreu em Atenas 429 a.C. Foi
                      um dos principais líderes democráticos de Atenas, e talvez o mais
                      célebre. Nasceu em meio a uma família da nobreza ateniense, des-
                      cendente do líder reformista Clístenes, responsável pela introdução
                      da maioria das instituições democráticas, durante a revolução de
                      510 a.C., Consagrou-se como a maior personalidade política do
                      século V a.C. A presença dele foi tão marcante, que a época em que
                      ele viveu denominou-se de Século de Péricles. Mais informações em
                      http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9ricles
                         Ésquilo (Elêusis c. 525 a.C. – Gela 456 a.C.) foi um poeta
                      trágico grego, considerado como o fundador da tragédia. Foi solda-
                      do em Maratona, Salamina e Plateias. Ao longo da sua vida assistiu
                      à consolidação da democracia ateniense, tendo posteriormente
                      viajado para Siracusa a convite do tirano Hiéron, onde terá travado
                      conhecimento com os místicos pitagóricos. Na sua obra destaca-se a
                      importância dada ao sofrimento, narrando as sagas dos Deuses e dos
                      Mitos. Diz-se que escreveu 79 tragédias (segundo alguns autores,
                      cerca de 90), das quais se conservaram apenas sete. Mais informa-
                      ções em http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89squilo
                         Sófocles foi um dramaturgo grego que nasceu em 496 a.C. e
                      morreu em (aproximadamente) 406 a.C. Um dos mais importantes
                      escritores gregos de tragédia, ao lado de Ésquilo e Eurípedes, relata
                      a história de personagens nobres e da realeza. Escreveu cerca de 120
                      peças, das quais apenas sete sobreviveram. Trabalhou também como
                      ator, não se limitando à literatura. Foi ordenado sacerdote de
                      Esculápio, o deus da medicina, e eleito duas vezes para a Junta de
                      Generais, que administrava os negócios civis e militares de Atenas.
                      Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3focles
                         Eurípedes nasceu em Salamina c. 485 a.C. e morreu em Pela,
                      Macedônia, 406 a.C. Foi um poeta trágico grego. Pouco se sabe de
                      sua vida, mas parece ter sido austero e pouco sociável. Apaixonado
                      pelo debate de idéias, suas investigações e estudos lhe trouxeram
                      mais aflições do que certezas. Alguns críticos o chamaram de “filó-

  28
Módulo 2




sofo de teatro”, mas não há certeza se Eurípedes, de fato, pertenceu
a alguma escola filosófica. Contudo, parece inegável nele a influên-
cia do filósofo Anaxágoras de Clazômenas e também do movimento
sofístico. É de Eurípedes o maior números de peças trágicas da
Grécia que chegaram até nós: dezoito no total. Mais informações em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eur%C3%ADpedes
   Aristófanes nasceu em 447 a.C. e morreu em 385 a.C. Foi um
dramaturgo grego, considerado o maior representante da Comédia
Antiga. Nasceu em Atenas e, embora sua vida seja pouco conhecida,
sua obra permite deduzir que teve uma formação requintada. Mais
informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3fanes
   Heródoto foi um historiador grego, continuador de Hecateu de
Mileto, nascido no Século V a.C. em Halicarnasso hoje Bodrum, na
Turquia. Foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos
princípios do século V a.C., conhecida simplesmente como As
histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como uma nova
forma de literatura. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/
wiki/Her%C3%B3doto
   Tucídides nasceu em Atenas, entre 460 a.C. e 455 a.C. e morreu
por volta de 400 a.C. Historiador grego, escreveu História da
guerra do Peloponeso, onde, em oito volumes, ele conta a guerra
entre Esparta e Atenas ocorrida no século V a.C. Esta obra é vista
no mundo inteiro como um clássico e representa a primeira obra de
seu estilo. É o historiador mais profundo da Antigüidade. Mais
informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tuc%C3%ADdides
    Anaxágoras de Clazômenas (Clazômenas, c. 500 a.C. –
Lâmpsaco, 428 a.C.) Filósofo grego do período pré-socrático.
Nasceu em Clazômenas, na Jônia, e fundou a primeira escola filosó-
fica de Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosó-
fico e científico desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era
protegido de Péricles, que também era seu discípulo. Em 431 a.C.
foi acusado de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de
Mileto, também na Jônia, e lá fundou uma nova escola. Escreveu um
tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a natureza. Mais
informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/
Anax%C3%A1goras_de_Claz%C3%B4menas
  Demócrito de Abdera nasceu por volta de de 460 a.C. e morreu
em 370 a.C. É tradicionalmente considerado um filósofo pré-

                                                                           29
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                      socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de
                      Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, contudo, faz algum sentido
                      considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento ainda é fortemente
                      influenciado pela problemática da physis. Foi discípulo e depois
                      sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do
                      fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica, ou do
                      atomismo. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/
                      Dem%C3%B3crito
                         Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente em 470 a.C. e
                      morreu em 399 a.C. Foi um filósofo ateniense e um dos mais impor-
                      tantes ícones da tradição filosófica ocidental, e tornou-se um dos
                      principais pensadores da Grécia Antiga. Aprendeu Música e Litera-
                      tura, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico,
                      sem recompensa alguma. Não se sabe ao certo quem foram seus
                      professores de Filosofia. O que se sabe é que Sócrates conhecia as
                      doutrinas de Parmênides, Heráclito, Anaxágoras e dos sofistas.
                      Quanto à política, foi valoroso soldado e rígido magistrado. Foi
                      considerado por Platão “o melhor dos homens de Atenas”. Mais
                      informações podem ser encontradas em http://pt.wikipedia.org/wiki/
                      S%C3%B3crates
                          Platão, ateniense, nasceu em 428/27 a.C. e morreu em 347 a.C.
                      Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de
                      Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido
                      Aristócles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referên-
                      cia à sua característica física, tal como o porte atlético ou os ombros
                      largos, ou ainda à sua ampla capacidade intelectual de tratar de
                      diferentes temas. Há motivos para considerá-lo um dos maiores
                      filósofos de todos os tempos, além de ser um grande escritor. Mais
                      informações http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o
                         Aristóteles nasceu em 384 e morreu em 322 a.C. Foi um filósofo
                      grego nascido em Estagira, um grandiosíssimo pensador e conside-
                      rado o criador do pensamento lógico. Suas reflexões filosóficas –
                      por um lado originais e por outro reformuladoras da tradição grega –
                      acabaram por configurar um modo de pensar que se estenderia por
                      séculos. Prestou inigualáveis contribuições para o pensamento
                      humano, destacando-se: Ética, Política, Física, Metafísica, Lógica,
                      Psicologia, Poesia, Retórica, Zoologia, Biologia, História Natural e
                      outras áreas de conhecimento humano. Mais informações em http://
                      pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles
  30
Módulo 2




    Aurélio Agostinho (do latim, Aurelius Augustinus), Agostinho
de Hipona ou Santo Agostinho foi um bispo católico, teólogo e
filósofo que nasceu em 13 de Novembro de 354 em Tagaste (hoje
Souk-Ahras, na Argélia) e morreu em 28 de Agosto de 430, em
Hipona (hoje Annaba, na Argélia). É considerado pelos católicos
santo e doutor da doutrina da Igreja. Foi professor de retórica em
Milão em 383. Seguiu o Maniqueísmo nos seus dias de estudante e
converteu-se ao Cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão.
Mais informações http://pt.wikipedia.org/wiki/
Agostinho_de_Hipona
   Sobre a Guerra do Peloponeso consulte http://pt.wikipedia.org/
wiki/Guerra_do_Peloponeso
http://br.geocities.com/vinicrashbr/historia/geral/
guerradopaloponeso.htm
   Sobre a Biblioteca de Alexandria consulte http://
pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_de_Alexandria




  O sentido da Filosofia


     A palavra filosofia é originariamente grega: philos (amigo) +
sophia (sabedoria).


     Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor pelo
     saber. De saída já se poderia dizer: para ser filósofo se deve
     amar, e não odiar. O filósofo é o amigo, o amante da sabedo-
     ria. Lembremos, porém, que amante não é alguém que é dono
     daquilo ou de quem ele ama, mas é alguém que pretende sê-lo,
     e não consegue ser dono, nem deve ser dono. Quando se possui
     o objeto amado (coisa ou pessoa), acaba o amor. Assim, filóso-
     fo é quem, como já dissemos, procura chegar ao fundamento
     último, à essência ou à raiz das coisas e dos problemas.


     Esta busca da verdade está vinculada à aposta e ao desejo de
organizar a vida individual e social de maneira mais objetiva, sólida e
                                                                              31
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                            permanente. E isso se faz fundamentando a verdade na razão, e não
                            em alguma crença ou alguma opinião interessada ou interesseira.
                            É importante insistir nisso para não se pensar que a Filosofia seja uma
                            invenção casual de algum gênio, e não uma criação que se inscreve
                            num contexto histórico favorável a tal saber. Filosofia é, pois, um es-
                            forço para se resolver de maneira nova os problemas enfrentados na
                            vida em sociedade. Hegel vai escrever no Século XIX que os gregos
                            inventaram a Filosofia por terem sido o primeiro povo que, ao tentar
                            resolver seus problemas, o fez como se estivesse resolvendo os pro-
                            blemas de todos os seres humanos de todos os tempos. É isso que
                            caracteriza a razão como fundamento da objetividade do conhecimen-
                            to, de um saber objetivo e neutro, de um saber com validade universal.
                                   Um especialista como Jean-Pierre Vernant (2202) afirma que os
                            gregos inventaram a Filosofia não simplesmente para satisfazerem uma
                            curiosidade de entender as coisas, como dizia Aristóteles, mas para
                            resolverem um problema político.
                                   Qual o problema? Como encontrar uma solução segura e defini-
                            tiva para os problemas políticos?
                                   Como encontrar um jeito de se estabelecer uma ordem, uma har-
                            monia, a justiça, na convivência humana? E a solução valesse não só
                            para a ocasião, mas para todas as ocasiões e para todos os povos...
                                   Diante desse problema aparece a extraordinária solução grega,
                            que constitui também o nascimento da Filosofia e da ciência como tal:
  Ao analisar a origem      para se resolver com segurança e vigor os problemas deve-se encon-
da Filosofia na Grécia,     trar um fundamento sólido. Este fundamento sólido é a razão, que está
       não nos detemos      presente na realidade, na natureza, mas também no ser humano.
  devidamente na rela-      Ao invés de fundamentar as soluções dos problemas nos sentimentos
 ção entre a Filosofia e    mutáveis, nos interesses de grupo ou pessoas, nas opiniões das pesso-
   a Mitologia, nem no      as, opiniões que mudam, se tratava de encontrar uma solução firme,
  debate entre filósofos    eterna, imutável, sólida, objetiva, neutra, universal e não particular.
  e sofistas. Sobre este    E esta solução está na razão, que é única, que funciona em tudo e em
     tema há uma vasta      todos os seres humanos do mesmo jeito, e por isso, se a gente for fiel
     literatura . Veja no   à razão, irá chegar a uma verdade segura, assim como se deseja.
             Saiba mais.           Dissemos que a Filosofia é grega, portanto ocidental. Por isso,
                            por mais que haja uma sabedoria oriental, esta não deve ser chamada

        32
Módulo 2




de “Filosofia oriental”, pois a cultura do Oriente se fundamenta em
dois princípios que nunca coincidem, nunca deixam de ser contrários:
o Yin e o Yang. O Yin é o princípio feminino passivo da natureza, en-
quanto o Yang é o princípio masculino ativo na natureza.
      Enquanto isso, a Filosofia tem como princípio e característica a
unidade da realidade, a unicidade do fundamento, a unicidade da ra-
zão. Na Filosofia sempre se busca e se acaba afirmando um princípio
único, e só por isso também será possível afirmar que há um cosmos,
ou seja, uma ordem. Não se trata de dizer que a sabedoria oriental é
melhor ou pior do que a Filosofia, que é a sabedoria ocidental, mas se
trata de assinalar que são coisas diferentes e incompatíveis. É disso
que importa termos clareza para entender melhor a distinção entre
Oriente e Ocidente, e também para tentarmos compreender o que le-
vou o Ocidente a ser vitorioso sobre o Oriente, pelo menos sob certos
pontos de vista.
      E já podemos adiantar que o nascimento da Filosofia entre os
gregos também é, de certa forma, o nascimento da Ciência como tal.
Na Antiguidade e na Idade Média praticamente os dois conceitos se
equivalem, enquanto Ciência e Filosofia se baseiam na razão, em con-
traposição a outros saberes que não privilegiam uma fundamentação
racional, como é o caso da mitologia ou da teologia, que incluem em
si, necessariamente, uma crença ou a fé. Só na modernidade é que se
estabelece mais claramente uma distinção entre ambas: a Filosofia con-
tinua mantendo como sua característica a pretensão de conhecer
o todo como tal, como o estudo dos “porquês”, enquanto a Ciên-
cia nasce e se consolida como o conhecimento da realidade a par-
tir do estudo das partes e como o estudo do “como” da realidade.
      Dito isso, parece que já se tem alguma clareza para definir a
Filosofia. No entanto, ao contrário do que acontece normalmente com
cada uma das ciências naturais ou humanas, percebemos que há prati-
camente uma definição para cada filósofo ou cada doutrina filosófica.
Esta pluralidade de definições, mesmo que todas mantenham a idéia
de se tratar de uma tarefa executada racionalmente, não só serve para
suscitar em nós uma perplexidade ou uma insegurança, mas também
nos convida para que também nós sejamos mais críticos com qualquer

                                                                             33
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                      doutrina ou verdade que nos for apresentada. E com isso também nós
                      nos tornamos mais racionais, ao mesmo tempo em que perceberemos
                      melhor o alcance e os limites da própria razão. Neste sentido, há mo-
                      tivos para continuar afirmando como o sábio Sócrates: que o ato de
                      filosofar em última instância nos leva a perceber que sabemos pouco,
                      ou então, que quanto mais pensamos, mais percebemos o limite de
                      nosso conhecimento. Mas para se saber que sabemos pouco é indis-
                      pensável estudar e pensar muito. Isso também acontece entre os cien-
                      tistas: em geral os grandes cientistas são os que mais reconhecem a
                      precariedade do conhecimento científico, enquanto os cientistas me-
                      dianos ou medíocres tendem a se apresentar como gênios. Em geral,
                      quem pensa pouco imagina saber muito.
                             Platão, um dos maiores filósofos de todos os tempos, reconhece
                      (e o faz em duas ocasiões!) que seu mestre Sócrates é muito mais sá-
                      bio do que ele. E a prova disso é bem singela e surpreendente: Sócrates
                      nunca escreveu um livro ou um artigo! Sócrates nunca se considerou
                      capaz ou no direito de fixar uma verdade por escrito.
                             Se a Filosofia, por um lado, é uma atitude diante dos aconteci-
                      mentos e diante da vida em geral, por outro é também um campo do
                      saber humano, ao lado das ciências, sociais ou naturais, da tecnologia,
                      da teologia, da mitologia, do senso comum. Por mais que ela não pos-
                      sa ser vista como um determinado conteúdo (não tem sentido dizer “a
                      Filosofia afirma que....”), pode-se afirmar que há “filosofias” de perí-
                      odos históricos diferentes (Filosofia Antiga, Medieval, Moderna e
                      Contemporânea), “filosofias” de perspectivas diferentes (Filosofia
                      Grega, que se confunde com Filosofia Antiga, Filosofia Cristã, que em
                      geral se identifica como Filosofia Medieval) e “filosofias” de países dife-
                      rentes (Filosofia Alemã, Francesa, Italiana, Inglesa, Norte-americana...).
                      Por fim, fala-se da “filosofia” de cada filósofo (Filosofia Cartesiana,
                      Kantiana, Platônica, Tomista, Marxiana, e assim por diante).




  34
Módulo 2




 Saiba mais...
   Mais informações sobre Mitologia podem ser encontradas em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia
  Sobre a Mitologia Grega consulte http://pt.wikipedia.org/wiki/
Mitologia_grega
   Mais informações sobre Teologia podem ser encontradas em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia
   Sugerimos, para a relação entre Filosofia e Mitologia, entre
Filosofia e Tragédia, a obra do grande especialista francês, há pouco
falecido: VERNANT, Jean-Pierre. Entre mito e política. 2.ed. São
Paulo: EDUSP, 2002.
   Sobre o debate entre filósofos e sofistas, ver, por exemplo:
GADAMER, G.; HÖSLE, V. e VEGETTI, M. (Entrevista). “As
raízes do pensamento filosófico”. Trad. portuguesa de Selvino
Assmann. Acessível em <http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm>




                                                                            35
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                                                        Principais períodos da
                                                          História da Filosofia




                               Vamos dar continuidade aos nossos estudos fazendo breve
                               referência aos principais períodos da História da Filosofia.
                               Como informação geral a todos os estudantes, vale a pena
                               lembrar a distinção que em geral se faz entre quatro gran-
                               des períodos desta História, que praticamente coincidem
                               com a periodização da História Universal, com uma única
                               e óbvia exceção: esta começou no Oriente, enquanto a
                               Filosofia começa no Ocidente, num determinado momen-
                               to do período histórico denominado “antigo”. Sabemos
                               que todas as periodizações são questionáveis, e também a
       Apresentamos na         da Filosofia. Sem entrar em pormenores, mantemos aqui a
 página 57 um quadro,          periodização mais aceita pelos historiadores.
intitulado Esquema da
História da Racionali-
                                  Pela periodização mais aceita pelos historiadores a Filosofia é
   dade Ocidental, que
                            dividida em quatro grandes períodos:
    poderá servir como
       referência para a              Filosofia Antiga: do Séc.VI a.C até o Séc.V d.C.;
     tentativa de síntese
                                      Filosofia Medieval: do Século V d.C até o Séc. XIV ou XV;
       que se faz nestas
páginas. Neste Esque-
                                      Filosofia Moderna: do Século XV/XVI, período da Renas-
            ma, além da
                                      cença, passando pelos Sécs. XVII e XVIII, e alcançando o
periodização da Histó-                período do Iluminismo, Séc. XVIII e metade do Séc. XIX; e
  ria da Filosofia, assi-
        nalam-se alguns               Filosofia Contemporânea: da metade do Século XIX até hoje.
conceitos importantes,
   marcando-se as mu-
    danças havidas nos
    diferentes períodos.




        36
Módulo 2




   A Filosofia Antiga


      Já falamos brevemente da Filosofia Antiga, embora praticamente
nos tenhamos restringido ao período anterior ao Cristianismo.
De toda maneira, já acenamos para o Período Helenístico, cuja impor-
tância é cada vez mais estudada e reconhecida por inaugurar o concei-
to de indivíduo humano e por estabelecer a idéia de universalidade e
de lei natural, que servirá tanto para os cristãos (para defender que é
possível seguir a lei natural e obter a salvação eterna quando alguém
não fosse formalmente cristão) quanto para os modernos (sobretudo a
Teoria do Contrato Social, que tem por base a distinção entre estado
de natureza e estado civil). Se pensarmos mais no início da tradição
cristã, importa lembrar o debate entre os Padres, nome dado aos teólo-
gos de tradição oriental (patrística oriental) e àqueles de tradição greco-
latina (patrística ocidental).
      Os teólogos e pastores de tradição grega e latina lutam para que
o cristianismo como instituição, que estabelece sua sede em Roma,
passe a adotar a racionalidade grega a fim de conseguir convencer e
converter pagãos à nova verdade, mesmo que a doutrina original de
Jesus Cristo tivesse sido apresentada nos moldes da cultura oriental,
ou melhor, semita. Para dar apenas um exemplo: na tradição oriental,
não é possível separar o corpo e alma. Sendo assim, quando alguém
morria, morria o ser humano inteiro, e não apenas o corpo; e isso era
admitido também pelos primeiros cristãos de tradição oriental. Já de
acordo com a mentalidade dualista grega, só morria o corpo, como se
pensa até hoje entre nós. Ambos eram cristãos. Foi nos primeiros sé-
culos do Cristianismo que se decidiu, aos poucos, como dogma, a se-
paração entre corpo e alma, o que constitui a vitória da tradição greco-
romana no cristianismo. A figura mais importante para que isso acon-
tecesse foi São Paulo, o apóstolo de formação grega, que convenceu
Pedro a estabelecer-se em Roma, sede do Império Romano, como chefe
da nova comunidade religiosa. Houve assim – poderíamos dizer – uma
racionalização de uma verdade religiosa, racionalização que se tornou
fundamental para a história da Idade Média, mas também da Idade

                                                                                  37
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                           Moderna. Isso fez com que um filósofo como Hegel dissesse que a
                           modernidade é a definitiva realização do Cristianismo, e não a ruptura
                           com este, como se costuma dizer ao falar da Idade Média como Idade
                           das Trevas.




                              A Filosofia Medieval


                                  A Filosofia Medieval inclui pensadores europeus, árabes e ju-
                           deus. É o período em que predomina a Igreja Católica Romana, e
                           criam-se, ao lado das catedrais, as primeiras Universidades (Bolonha,
                           Paris e Pádua), cujo curso principal era a Teologia, tornando-se a Filo-
                           sofia uma “serva da Teologia”. O pensamento cristão adota em pri-
                           meiro lugar, durante bons séculos, Platão e Plotino como matriz teóri-
                           ca da doutrina cristã, excluindo-se Aristóteles, por ser materialista de-
Veja ao final deste item   mais. Lembre-se de passagem a importância dos árabes, não só como
uma pequena biografia      grandes pensadores (Avicena e Averróis são os maiores exemplos),
     destes importantes    mas também como grandes cientistas e também como aqueles que têm
    pensadores árabes.     o mérito de terem conservado as obras originais de Aristóteles e terem
                           feito que as universidades medievais redescobrissem o pensamento gre-
    Do qual você já viu    go. Um dos maiores pensadores medievais foi Santo Agostinho. Quem
 uma pequena biografia     lutou para usar Aristóteles na teologia cristã foi Alberto Magno, e sobre-
 e ainda falaremos mais    tudo seu discípulo Tomás de Aquino, que se torna, com Agostinho, um
  adiante, quando anali-   dos dois maiores filósofos cristãos. Pode-se dizer que é difícil distinguir
 saremos alguns aspec-     entre Filosofia e Teologia quando se fala de “Filosofia Cristã”.
tos da ética e falaremos          Quando se fala da Filosofia Medieval também se fala da
   do conceito de poder.   Escolástica, criada a partir do Séc. XII: é a filosofia ensinada nas es-
                           colas. E com isso se introduz um método, conhecido como disputa:
                           apresentava-se uma tese e esta devia ser defendida ou refutada por
                           argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros
                           Padres da Igreja.




       38
Módulo 2




      Basta citarmos alguns importantes nomes da Filosofia Medieval
para se perceber a vitalidade do pensamento da época:

         Santo Anselmo (1050-1117), um dos mais consistentes
                                                                           O filme Em nome de
         formuladores de uma prova da existência de Deus;
                                                                           Deus, narra a famosa
         Abelardo, importante lógico e um dos primeiros professores       história do amor entre
         universitários a exigir salário para trabalhar, não sendo ele     Abelardo e Heloísa...
         um teólogo sustentado pela Igreja;                               Se alguém não o tiver
                                                                         visto, vale a pena, para
         Duns Scoto (1265-1308), que insiste em defender a liberda-          se ter uma idéia da
         de humana mesmo no contexto teológico; e                                 vida medieval.

         Guilherme de Ockham (1280-1349), acusado de heresia* que
         inaugura um novo modo de fazer teologia, enfatizando a con-        GLOSSÁRIO
         veniência de provas empíricas para as afirmações e não te-       *Heresia – é qual-
         mendo confrontar-se com os teólogos anteriores.                  quer doutrina cristã
                                                                          contrária aos dogmas
      Pode-se verificar imediatamente que a Idade Média não pode          da Igreja Católica.
ser denominada período de interrupção da história, e nem de período       Fonte: Wikipédia
de trevas. Cada vez mais se estuda e cada vez mais se tem argumentos
para sustentar uma “nova idéia de Idade Média”, conforme ensina o
historiador francês Jacques Le Goff, um período cheio de vitalidade                Não deixe de
teórica, de muito debate e de muita controvérsia.                             pesquisar as obras
                                                                                deste importante
                                                                           historiador indicadas
 Saiba mais...                                                                    no Saiba mais.
    Abu Ali al-Hussayn ibn Abd-Allah ibn Sina – filósofo e
médico árabe conhecido no Ocidente como Avicena, nasceu em
Bucara, Pérsia, 980 e morreu em Hamadã, também na Pérsia, 1037.
Além de Gramática, Geometria, Física, Medicina, Jurisprudência e
Teologia, estudou profundamente a Filosofia platônica e aristotélica.
Suas obras sobre Medicina ainda eram reimpressas no século XVII.
Pressupondo a unidade da Filosofia, tentou conciliar as doutrinas de
Platão e Aristóteles. Avicena considerava o universo formado por
três ordens: o mundo terrestre, o mundo celeste e Deus. Fonte:
Wikipédia.



                                                                                       39
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                          Abu al-Walid Muhammad Ibn Ahmad Ibn Munhammad Ibn
                      Ruchd – filósofo árabe também conhecido pelo nome de Averróis,
                      nasceu em Córdoba, 1126 e morreu em Marrakech, 1198. Foi um
                      dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles. Aliás, o
                      próprio Aristóteles foi redescoberto na Europa graças aos árabes, e
                      os comentários de Averróis muito contribuíram para a recepção do
                      pensamento aristotélico. Também se ocupou com Astronomia,
                      Medicina e Direito Canônico muçulmano. Sua filosofia é um misto
                      de aristotelismo com algumas nuanças platônicas. A influência
                      aristotélica se revela em sua idéia da existência do mundo de modo
                      independente de Deus (ambos são co-eternos) e de que também não
                      existe providência divina. Já seu platonismo aparece em sua concep-
                      ção de que a inteligência, fora dos seres, existe como unidade
                      impessoal. Fonte: Wikipédia.
                         Sobre a nova visão da Idade Média, consulte as obras do grande
                      historiador Jaques Le Goff:
                      LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média.
                      Lisboa: Estampa, 1980;
                      ________. Os intelectuais na Idade Média. São Paulo:
                      Brasiliense, 1988;
                      ________. Mercadores e banqueiros da Idade Média. São Paulo:
                      Martins Fontes, 1991;
                      ________. O nascimento do purgatório. Lisboa: Estampa, 1993.
                      (Este livro narra como, na história da Igreja Romana, passa-se de
                      uma rejeição total do empréstimo de dinheiro, da usura, para sua
                      aceitação. A sua aceitação moral vincula-se ao fato de a Igreja
                      precisar de dinheiro emprestado para construir catedrais.
                      Para tornar perdoável o pecado da usura, a Igreja cria então a idéia
                      de purgatório, para onde irão todos os usurários).
                      ________. A civilização do Ocidente medieval. Bauru: EDUSAC,
                      2005;




  40
Módulo 2




   A Filosofia Moderna


      Quando se fala da Filosofia Moderna, começa-se citando o pe-
ríodo conhecido como Renascença, talvez um dos mais criativos perí-
odos da História Ocidental, e que encontra na Itália o seu centro. É o
período em que a Europa sai para a conquista da América, em que se
faz a Reforma Protestante (Lutero e Calvino), em que se cria a ciência
moderna (Leonardo da Vinci, Bacon, Copérnico, Galileu, Kepler),
em que se formulam as utopias ( Tomás Morus, Campanella), em que
se inaugura a ciência política (Maquiavel, Bodin), em que se procura
romper com o domínio ideológico da Igreja Romana (Galileu, Giordano
Bruno) e em que se dá uma revolução artística (Leonardo da Vinci,                 Conheça um pouco
Miguel Ângelo Buonarrotti, Rafael, El Greco).                                   mais sobre os intelec-
       Na Filosofia, passa a predominar uma visão naturalista: o ho-             tuais modernos aqui
mem é parte da natureza e pode agir sobre ela através da alquimia, da           citados no final deste
magia natural e da astrologia; por outro lado, ao contrário do que                               item.
acontecia antes, quando se valorizava a vida contemplativa, começa a
ser valorizada a vida ativa, a ação prática, a fabricação, e na política, o
ideal republicano contra o governo autocrático dos Papas. Assim, o
ser humano passa a ser apresentado como artífice de seu destino, atra-
vés do conhecimento (ciência), da política, das técnicas (medicina, ar-
quitetura e navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura e teatro).
Se antes o trabalho era visto como castigo devido ao pecado original,
agora o trabalho começa a ser visto como algo positivo, como único
meio pelo qual alguém pode se tornar humano e se tornar livre.
      Até mesmo a ciência ressalta o trabalho no laboratório como
fonte do conhecimento, enquanto antes se chegava à verdade sem que
se trabalhe. Para dar mais um exemplo de que os seres humanos se
tornam o centro de tudo, e que a natureza deixa de ser irmã do ho-
mem, como queria São Francisco de Assis, para se tornar serva dos
homens, lembremos as afirmações de Bacon e de Galileu: o ser huma-
no deve se tornar senhor e possuidor da natureza! E por isso “conhe-
cer é poder”. Pelo saber se domina o que se conhece, e não se contem-
pla, conforme se pensava antes. Por outro lado, a centralidade do ser

                                                                                            41
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                      humano também se torna visível na pintura: se na Idade Média os pin-
                      tores representam principalmente figuras sagradas, na Renascença o
                      objeto é o ser humano, homem e mulher. Pense-se na Mona Lisa de
                      Leonardo (Figura 4): ao invés de Nossa Senhora ou outra santa, uma
                      mulher no centro da natureza. Ou pense-se na imponência do homem
                      criado por Deus, no grande afresco de Miguel Ângelo, da Capela
                      Sistina (Figura 5).




                      Figura 4: Mona Lisa de Leonardo da Vinci (1503 – 1507). Museu do
                       Louvre. Fonte: Il Rinascimento Italiano e L’Europa. Volume Primo
                                       Storia e Storiografia, 2005. p. 667




                        Figura 5: A criação do homem, Michelangelo, Capela Sistina, no
                                           Vaticano. Fonte: Wikipedia

  42
Módulo 2




      Após a Renascença, há o grande raci-
                                                      Para saber mais
onalismo clássico moderno. Figura mais co-            *René Descartes – nasceu em 31 de Março
nhecida é René Descartes, considerado o pri-          de 1596, em La Haye em Touraine, França,
meiro filósofo moderno que insiste ainda mais         e morreu em 11 de Fevereiro de 1650, em
de que se deve fazer o que é necessário racio-        Estocolmo, Suécia. É conhecido como
nalmente para que o ser humano se torne se-           Cartesius Foi filósofo, físico e matemáti-
                                                      Cartesius.

nhor do mundo. É o primeiro a escrever, de-           co francês. Notabilizou-se sobretudo pelo
                                                      seu trabalho revolucionário da Filosofia, ten-
pois de séculos de domínio do latim, em lín-
                                                      do também sido famoso por ser o inventor
gua moderna, no caso o francês.
                                                      do sistema de coordenadas cartesianas, que
      Autor de O discurso do Método, Des-             influenciou o desenvolvimento do cálculo
cartes propõe-se a duvidar de tudo o que se           moderno. Fonte: Wikipédia
sabia até então e a procurar alguma verdade
que não pudesse ser posta em dúvida. Ela deveria ser a nova base para
todo conhecimento. Pode-se duvidar da existência de Deus. Pode-se
duvidar de tudo o que se conhece pelos sentidos. Pode-se até duvidar
da existência do mundo físico fora de mim. Mas não se pode duvidar
de que eu duvido, ou seja, da existência da dúvida e da existência de
quem duvida. Portanto, se eu duvido, eu sou. Se eu penso, então eu
existo. E a existência de Deus, do mundo, deve ser baseada neste fun-
damento: eu. Eu, o sujeito humano, a razão humana, que deve ser o
único ponto de partida para qualquer verdade. Este é o princípio da
ciência. Mas também da ética: só será bom aquilo que for bom para o
homem. Um exemplo no campo do conheci-
                                                       Para saber mais
mento: só se o ser humano provar que Deus exis-
                                                       *Thomas Hobbes – nasceu em
te, Deus existirá. Se não o conseguir provar, en-
                                                       Malmesbury, 5 de abril de 1588 e mor-
tão Deus não existirá. Como se vê, a existência        reu em Hardwick Hall, 4 de dezembro de
de Deus passa a depender da prova do ser hu-           1679. Foi matemático, teórico político, e
mano. É isso que se pode denominar de visão            filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e
antropocêntrica da modernidade. Se a visão             Do cidadão (1651). Ainda escreveu mui-
medieval é teocêntrica, e a antiga é fisiocêntrica,    tos outros livros falando sobre Filosofia
                                                       Política e outros assuntos, oferecendo uma
agora se passa ao antropocentrismo.
                                                       descrição da natureza humana como coo-
      Demos outro exemplo do pensamento
                                                       peração em interesse próprio. Ele foi con-
moderno. Thomas Hobbes, filósofo inglês,
                                                          temporâneo de Descartes e escreveu uma
além de defender uma visão materialista (tudo             das respostas para a obra Meditações sobre
é apenas corpo) e mecanicista (toda a realida-            a filosofia primeira. Fonte: Wikipédia.


                                                                                               43
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  • 2. Copyright © 2006. Todos os direitos desta edição reservados ao DEPTO. DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO (CAD/CSE/UFSC). Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, do autor. A848f Assmann, Selvino José Filosofia / Selvino José Assmann. - Florianópolis : CAD/UFSC, 2006. 192p. Curso de Graduação em Administração a Distância Inclui bibliografia 1. Filosofia – História. 2. Ética. 3. Poder. I. Título. CDU: 1 Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071
  • 3. PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ronaldo Mota DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – DPEAD Hélio Chaves Filho SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA REITOR Lúcio José Botelho VICE-REITOR Ariovaldo Bolzan PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO Marcos Lafim DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Araci Hack Catapan CENTRO SOCIOECONÔMICO DIRETOR Maurício Fernandes Pereira VICE-DIRETOR Altair Borguet DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO CHEFE DO DEPARTAMENTO João Nilo Linhares COORDENADOR DE CURSO Alexandre Marino Costa COMISSÃO DE PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO Alexandre Marino Costa Gilberto de Oliveira Moritz João Nilo Linhares Luiz Salgado Klaes Marcos Baptista Lopez Dalmau Maurício Fernandes Pereira Raimundo Nonato de Oliveira Lima
  • 4. EQUIPE DE REVISÃO Profª Liane Carly Hermes Zanella Prof. Luis Moretto Neto Prof. Luiz Salgado Klaes Prof. Raimundo Nonato de Oliveira Lima REVISÃO DE PORTUGUÊS Sergio Meira (Soma) ADAPTAÇÃO METODOLÓGICA PARA EAD Denise Aparecida Bunn PROJETO GRÁFICO Annye Cristiny Tessaro Mariana Lorenzetti DIAGRAMAÇÃO Annye Cristiny Tessaro ORGANIZAÇÃO DE CONTEÚDO Selvino José Assmann
  • 5. Sumário Apresentação..............................................................................................07 UNIDADE 1 – O que é Filosofia O que é Filosofia?.................................................................................15 Principais períodos da História da Filosofia.................................................36 Sócrates e Platão: um confronto entre dois modos de entender a Filosofia.....59 Atividade de aprendizagem........................................................................73 Referências.....................................................................................74 UNIDADE 2 – Ética Sobre a ética, a partir da crise ética..............................................................79 O problema ético atual e a “ética profissional”..............................................84 O mal existe............................................................................................101 Atividade de aprendizagem.......................................................................107 Referências.....................................................................................107 UNIDADE 3 – Poder O que é o poder?........................................................................................111 Atividade de aprendizagem......................................................................144 Referências.....................................................................................145 UNIDADE 4 – O ser humano como problema O ser humano como problema – Por um humanismo trágico e cristão.........149 Atividade de aprendizagem......................................................................186 Referências.....................................................................................186 Mini-currículo.....................................................................................192
  • 6. Curso de Graduação em Administração a distância 6
  • 7. Módulo 2 Apresentação CONVITE PARA PENSAR Tudo corre. Escorre. Tudo muda. Até na universidade professo- res e alunos correm cada vez mais. Nada permanece. Todos corremos (se não o fizermos, seremos preguiçosos ou incompetentes), e em ge- ral não sabemos para onde, mesmo que daqui a pouco, não se sabe quando, demos de cara com a morte. Inevitavelmente. E ficamos fa- zendo, fazendo coisas... Precisamos ser competentes tecnicamente para que alguém nos dê um lugar, um emprego, mas também flexíveis, maleáveis, para po- dermos nos adaptar sempre ao que se nos pede. É preciso mover-se, a rede é vasta, os compromissos são tantos, as expectativas muitas, as oportunidades abundantes, e o tempo é uma mercadoria rara... A vida se torna uma loja de doces para apetites transformados, até pelo marketing, em voracidade cada vez maior. Estamos sempre na beirada entre estar dentro e estar fora, entre ser “incluído” e poder ser “excluído” a qualquer hora. Temos que estar atentos, correndo o risco da depressão, sempre. A insegurança é nossa companheira per- manente, na companhia de gente insegura. Sei que do meu lado tam- bém há gente tão insegura quanto eu. Belo consolo! Mas isso, em vez de criar solidariedade entre os inseguros, aumenta a indiferença, a irritação, à vontade de competentemente empurrar para longe todos os concorrentes do meu lado. Em vez de cerrar fileiras na guerra contra a incerteza, todos querem que os outros fiquem mais inseguros, abando- nem o barco e o deixem mais tranqüilo para mim. E se diz que isso é a insofismável lei do mercado, que isso é assim, that’s it, como um tempo dizia a propaganda de um refrigerante conhecido: esta é a razão das coi- sas, é uma necessidade, e basta. Isso é liberdade. Mas não há escolha! E lá vem Margareth Tatcher, recente primeiro-ministro da Ingla- terra, defendendo o reinado absoluto da flexibilidade, que nos diz sem 7
  • 8. Curso de Graduação em Administração a distância eufemismos: “Não existe esta coisa chamada sociedade”. Só há ho- mens e mulheres como indivíduos, e pronto! Assim parece ser também com os administradores: administram, executam, organizam a execução de tarefas que em geral não são de- terminadas por eles mesmos, mas por outros, e têm que ser competen- tes. Senão são jogados para fora do jogo, da corrida que está aconte- cendo globalmente, cada vez mais globalmente. Também os adminis- tradores devem correr. E saber apresentar-se, oferecer-se, vender-se no mercado. E deixar-se comprar também. Devem ser líquidos, amol- dando-se cada dia a novas exigências não se sabe por quem, mas são exigências “naturais”, ou melhor, estabelecidas pelo mercado, este estranho senhor sem identidade que é poderoso como ninguém e que tem suas leis, que está em todo lugar, que não deixa ninguém fora de seu controle e não dá tempo para nada mais do que ficar correndo a seu serviço. Até que ele nos diz: “você não me serve mais”! Deixando de ser útil ao mercado, somos jogados à margem e temos que nos contentar em esperar a morte chegar; e às vezes até há gente que fica torcendo para que isso aconteça o mais rápido, para não atrapalharmos o funcionamento do mercado. Tudo isso se tornou normal. Duramente normal. E se diz que não pode ser diferente. Que a história não pode mais mudar, ou até já terminou. Que estamos na fase final da história. E todos passam a vi- ver como se nada pudesse ser mudado neste modo de ser das coisas, e que só nos resta adaptarmo-nos. Também por isso, de nada adianta pensar. Pensar nos faz mal, impedindo que sejamos competitivos. Pen- sar nos faz parar, nos leva provavelmente a sermos expulsos da corri- da por incompetência, por falta de flexibilidade e de produtividade. Ou então – como diriam os franceses que inventaram o prêt-à-porter – agora temos o prêt-à-penser. É só pagar que o mercado já oferece tudo pensado, para ser usado. Temos de ser homo faber, só isso. A globalização nos possibilita o acesso cada vez maior a informações, e maior possibilidade de comunicação. Mas isso de modo algum pare- ce favorecer uma visão mais crítica do que acontece, nem favorece maior comunicação de fato. Pelo contrário, o assédio das informações 8
  • 9. Módulo 2 parece impedir que pensemos. Neste contexto, como Cornelius Castoriádis, podemos afirmar que nossa civilização moderna parou de se questionar, parou de pensar. E que é esse o nosso problema fun- damental, pois o preço do silêncio passa a ser pago na dura moeda do sofrimento humano. Com Zygmunt Bauman (BAUMAN, Z., 1999, p. 11), ousamos arrematar: “Questionar as premissas supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente que de- vemos prestar a nossos companheiros humanos e a nós mesmos”. Talvez nem sempre saibamos quais são as perguntas mais importantes que devemos fazer, ou então, nós que nos achamos tão estupenda- mente “modernos”, “criativos”, nos damos conta que estamos repetin- do as mesmas perguntas que já se fazem há séculos, há milênios. E esquecemos as respostas já dadas ou os silêncios, sem resposta, já manifestadas. Já que o passado não interessa, nem o futuro, mas só o presente, este pode nos enganar a respeito de nossa originalidade e podemos achar que estamos mudando sempre. Claro que mudam cer- tas coisas, por exemplo, melhora nossa capacidade técnica. E o que mais? Nossa “humanidade” também? Nossa liberdade? Nos- sa felicidade? Por isso, faz bem incluirmos em nossa pergunta pelo que está acontecendo hoje, uma referência ao que aconteceu ontem. E faz bem também perguntarmos: por que será que paramos de sonhar e renunciamos às energias utópicas? Como sabem os historiadores, há um duplo movimento na compreensão histórica: o presente pode ser iluminado pelo passado, mas também o passado acaba sendo me- lhor compreendido a partir do presente. E isso nos fornece um ele- mento a mais para podermos pensar no que acontece e nas possibilida- des que temos para mudar o presente. Parece que nos esquecemos de que nós, seres humanos, temos como marca o fato de sermos “seres que falam”; bem mais, ou não só, seres que fazem, como disse Aristóteles; que somos frágeis, perdendo em força física, sob todos os aspectos, para algum animal, mas somos “caniços pensantes” (Pascal). Por mais que repitamos que esta é a era de Aquário, a era do conhecimento, certamente não é a era do pensa- mento, da profundidade, da reflexão. Até porque não temos tempo a 9
  • 10. Curso de Graduação em Administração a distância perder. E além de tudo, como já dissemos, pensar é perigoso, para quem pensa e para quem está do lado de quem pensa, pois nos pode fazer perder o lugar no mercado, que precisa produzir e consumir, objetos, coisas, e onde até os seres humanos devem ser só produtores e consumidores. Nada mais. Pois bem: é nesta paisagem que apresentamos um livro que pre- tende ser apenas um Convite para pensar, convite feito aos estudan- tes do Curso de Graduação em Administração a distância. Escolhi al- guns temas para pensar, em primeiro lugar, eu mesmo, partindo do pressuposto de que filosofar é responder à pergunta: o que está acon- tecendo comigo e com os outros no mundo hoje? Mais do que apresentar aqui um texto cheio de informações (con- ceitos, doutrinas, nomes) sobre a riquíssima e milenar tradição do pen- samento filosófico ocidental, é preferível esco- Para saber mais lher alguns temas, como o do próprio conceito de A coruja, ave de Minerva, é o símbolo da filosofia, com algumas informações gerais sobre Filosofia, consagrado sobretudo a partir de Hegel. Ele escreveu que, assim como a co- a história da filosofia (Unidade 1), como o da éti- ruja levanta vôo ao anoitecer, também a fi- ca, sua crise e suas dificuldades teóricas (Unida- losofia e os grandes filósofos surgem em de 2), como o do conceito de poder, de poder momentos em que a sociedade humana político, e das relações entre poder e liberdade começa a anoitecer, a entrar em crise... (Unidade 3) e, por fim, perguntando-nos sobre o que somos nós, seres humanos, ser humano como problema e como solução, unindo quem sabe uma visão religiosa e uma visão trágica, quando há gente que já fala de pós-moderno e de “pós-huma- no”, com a globalização em curso (Unidade 4). Fazemos esta viagem, que procura ser reflexiva, na companhia de alguns autores ou companhei- ros – e poderia ser com outros e muitos outros, esperando que todos os leitores e leitoras se sin- tam bem e, quem sabe, ao final, com mais vonta- de de continuar a viagem reflexiva do que ao ler esta Apresentação. Obviamente não será uma disciplina de filosofia que irá tornar os futuros administradores novos “especialistas” em fi- losofia. Insisto: interessa não tanto que o administrador se torne um 10
  • 11. Módulo 2 filósofo, conhecendo um conteúdo determinado, muito vasto. Muitos textos clássicos estão aí disponíveis nas livrarias, e cada vez mais na internet. Pode ser bom – e talvez os que formularam o currículo míni- mo do curso de Administração pensassem nisso ao incluir a filosofia – que o administrador também seja estimulado a pensar por própria conta e risco, como diziam os Iluministas modernos. Aude sapere! Ousa saber! Aliás, se queremos tanto ser modernos, ou ser críticos, independente da profissão, como cidadãos, não há outra saída senão pensar também. Claro que nem todos gostarão, com a mesma intensidade, deste convite; talvez alguns até nem gostem e considerem “chato” ter que estudar estas “bobagens”. Certamente a filosofia não serve para nada. Pensar não serve para nada. Concordo. Mas quem disse que são im- portantes só as coisas que servem, que são meios para alguma coisa? Para que serve a liberdade? Para que serve a felicidade? Para que ser- ve o amor? Para que serve o prazer sexual? Para que serve a amizade? Estas “coisas” são valiosas por si mesmas. Não precisam servir para nada além de si mesmas. Se, por exemplo, um amigo servir para algu- ma coisa que não seja a própria amizade, provavelmente a amizade acabará logo. Mas ninguém é obrigado a ter a coragem de pensar! Aliás, esta atitude é improdutiva, “coisa inútil” no mercado, e é perigosa, como já disse. Acho, porém, que vale a pena correr este perigo, pois se poderá perceber que o mundo que temos não é o único possível nem o melhor dos mundos, levando-nos quem sabe a resistir ao que nos parece acon- tecer de maneira inevitável, instigando-nos a ficar mais atentos para as brechas que podem nos surpreender cá e lá, sugerindo, quem sabe, mudanças mais substantivas, dentro de nós e entre nós, e não apenas na nossa capacidade de produção e de consumo. Neste sentido, pen- sar é um jeito de cada um cuidar de si. E se cada um cuida melhor de si, a nossa convivência com os outros poderá ser mais agradável. Lem- bro com gosto a sabedoria de Aristóteles: “com amigos se pensa e se age melhor”. Por isso, repito o convite para pensar: a aceitação do convite pode tornar a vida mais interessante, mais leve e mais profun- da, embora menos produtiva e menos consumível. Neste caso, aristotelicamente, poderei confirmar, mais uma vez: pensar vale a pena! 11
  • 12. Curso de Graduação em Administração a distância Então, vamos caminhar juntos descobrindo e compreendendo a importância do pensar... Bons estudos a todos e contem sempre conosco! Florianópolis, dezembro de 2006. Selvino José Assmann 12
  • 13. Módulo 2 UNIDADE 1 OO que é Filosofia que é Filosofia 13
  • 14. Curso de Graduação em Administração a distância Objetivo Nesta Unidade você vai conhecer ou rever, caso já conheça, algumas maneiras de entender o que é a Filosofia e o ato de filosofar, além filosofar de uma breve discussão sobre algumas características de cada período da sua história milenar. Vamos também discutir o significado do ato de filosofar a partir de um confronto entre duas concepções de Filosofia Filosofia, em dois textos de Platão: uma concepção socrática segundo a qual ela socrática, é o amor pela sabedoria, a busca do conhecimento da realidade, incluindo-se o auto-conhecimento, e uma concepção platônica platônica, segundo a qual ela é a realização desta busca do conhecimento, ou seja, é a verdade já encontrada. 14
  • 15. Módulo 2 O que é Filosofia? Caro estudante, estamos iniciando a disciplina de Filosofia, e esta primeira unidade é uma reflexão sobre o que ela representa constituindo-se assim um importante referencial para embasar as próximas Unidades. Leia com atenção e, se tiver dúvidas, releia e busque esclarecê-las nas indicações de Saiba mais e também junto ao Sistema de Acompanhamento; e vamos juntos cons- truir nosso conhecimento. Bons estudos. No seu sentido mais comum, o substantivo filosofia ou o verbo filosofar tem a ver com pensamento ou com o ato de pensar. Filosofar é pensar sobre o que nos acontece, sobre o sentido do que nos acontece ou sobre o significado da vida humana ou da vida biológica como tal. Diz-se assim que se tem uma “filosofia de vida”. Mas este significado do termo certamen- te é muito amplo e vago. Até mesmo pensar não é a mesma coisa para todos. Saiba mais sobre os Há um sentido menos comum, em que filosofar significa sa- Sábios Orientais no ber viver, ou melhor, saber viver com sabedoria, de acordo com uma final deste subtítulo. doutrina, com uma Filosofia. Assim há, por exemplo, sabedorias Aliás, chamamos a diferentes daquela ocidental. Por isso se fala dos sábios orientais atenção para o seguin- Confúcio e Lao Tsé (China), Buda (Índia) e Zaratustra (Pérsia), mas te: sempre valerá a as suas doutrinas ainda estão vinculadas à religião, e não caracteri- pena informar-se mais zadas por uma exclusiva racionalidade. a respeito dos autores Existe, porém, um sentido mais específico e preciso de filosofar: citados. Para isso, procurar e/ou encontrar a verdade por meio de uma atividade racional. recomendamos viva- E a gente encontra a verdade porque precisa e deseja saber a verdade. mente acessar E a verdade é necessária para viver. Mas nem todas as perguntas que www.wikipedia.org. 15
  • 16. Curso de Graduação em Administração a distância fazemos são perguntas filosóficas, como nem todas as respostas são respostas filosóficas. Não é “filosófico” saber “que dia é hoje?”, mas é filosófico perguntar “o que é o tempo?” O que é a verdade? O que é a mentira? O que é a liberdade? O que é a razão? São todas perguntas filosóficas. E sabemos que nem todos estamos acostumados a fazê-las e nem todos achamos que sejam perguntas que nos interessam. Figura 1: O Pensador. Uma das imagens mais conhecidas para representar o Filósofo é a do escultor francês Auguste RODIN (1840-1917). Fonte: http://homepage.mac.com/oscarmv/ Kitsune%20Monogatari/C908379346/E20050630164305/Media/ pensador.gif Saiba mais... Confúcio nasceu em 551 a.C. e morreu em 479 a.C. Foi a figura histórica mais conhecida na China como mestre, sábio e teórico político. Sua doutrina, o Confucionismo, teve forte influên- cia não apenas sobre a China, mas também sobre toda a Ásia orien- tal. Conhece-se muito pouco da sua vida. Parece que os seus ante- passados foram gente nobre, mas o filósofo e moralista viveu pobre e desde a infância teve de ser mestre de si mesmo. Estas e outras informações sobre a vida de Confúcio podem ser encontradas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Conf%C3%BAcio Lao Tse foi um famoso sábio chinês. A ele é atribuída a autoria de uma das obras fundamentais do Taoísmo: o Tao Te Ching. A influência deste livro é tão disseminada que tornou-se na atualida- de um dos livros mais traduzidos em todo o mundo. Estas e outras 16
  • 17. Módulo 2 informações sobre a vida de Lao Tse podem ser encontradas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Lao_Zi Buda, do ponto de vista da doutrina budista clássica, é palavra que denota não apenas um mestre religioso que viveu em uma época em particular, mas toda uma categoria de seres iluminados que alcançaram tal realização espiritual. As escrituras budistas tradicio- nais mencionam pelo menos 24 Budas que surgiram no passado, em épocas diferentes. O Budismo reconhece três tipos, dentre os quais o termo Buda é normalmente reservado para o primeiro tipo, o Samyaksam-buddha (Pali: Samma-Sambuddha). Atualmente, as referências ao Buda referem-se em geral a Siddhartha Gautama, mestre religioso e fundador do Budismo no século VI antes de Cristo. Estas e outras informações sobre Buda podem ser encontra- das em http://pt.wikipedia.org/wiki/Buda Zaratustra foi um profeta nascido na Pérsia (atual Irã), prova- velmente em meados do século VII a.C. Ele foi o fundador do Masdeísmo, religião adotada oficialmente pelos Aquemênidas (558 - 330 a.C). A influência de Zaratustra no mundo grego ocorreu por meio dos magos que emigraram do Oriente. Estas e outras informa- ções sobre o profeta podem ser encontradas em http:// pt.wikipedia.org/wiki/Zaratustra A atitude filosófica Podemos dizer que filosofar é criar e ter uma atitude filosófica. Mas nem todos têm esta atitude. Falamos, portanto, aqui da Filosofia que quebra com o nosso saber prático do dia a dia, e que nem sempre nos agrada, pois à primeira vista parece ser perda de tempo ou incô- modo exagerado com as coisas, deixando-nos, quem sabe, angustia- dos demais, para além do conveniente. Filósofo é quem não se contenta com as coisas óbvias. É quem toma distância do que acontece, para entender melhor o que acontece. O antropólogo e educador brasileiro Darcy Ribeiro (1922-1997) re- petia que pensar é questionar o óbvio. Assim, o filósofo aparece como desligado da realidade, vivendo nas nuvens, em coisas abstra- tas, distraído, perdido ou aparentemente alheio aos problemas con- 17
  • 18. Curso de Graduação em Administração a distância cretos da vida. Reconhece-se também, em geral, que a atitude filosó- fica se confunde com uma atitude crítica, que – diga-se de passagem – não deve ser confundida com “falar mal”, mas com a capacidade de perceber melhor o que se está querendo conhecer, e aí perceber se isso pode ser um mal ou um bem. Neste contexto, o filósofo é inimigo mortal de qualquer fanatismo, de qualquer dogmatismo. Exemplo da visão depreciativa da Filosofia tem-se com a histó- ria do antigo sábio grego chamado Tales que, ao olhar para o céu a fim de entender os movimentos das estrelas, acabou caindo num poço. Ou com uma definição, ou ditado popular bastante conhecido: a Filoso- fia é a ciência com a qual ou sem a qual tudo continua tal e qual! Por mais que haja esta visão pejorativa a respeito dos filósofos, tam- bém é verdade que nunca se desconheceu a importância histórica e teóri- ca da atividade filosófica. Não precisamos de muito para perceber que só povos historicamente importantes apresentam grandes pensadores. Por que isso? Mais ainda: podemos facilmente constatar que só existem gran- des pensadores em momentos históricos importantes da vida de um povo. Exemplo disso é o fato de haver grandes pensadores na Itália precisamen- te na Renascença, e não tanto depois, ou o fato de haver grandes filósofos na Inglaterra e na França dos séculos XVII e XVIII, e não antes nem depois. Ou que aparecem filósofos importantes nos Estados Unidos a partir do século XX, e não antes. Para saber mais Todo filósofo é por assim dizer um *Georg Wilhelm Friedrich Hegel – nasceu em porta-voz consciente de um povo, e nun- Stuttgart, em 27 de agosto de 1770 e morreu em ca apenas um gênio tomado isoladamen- Berlim a 14 de novembro de 1831. Filósofo idealista alemão, filósofo da história e da historicidade. A re- te. Hegel o dizia de maneira melhor: cada alidade passa com ele a ser vista como histórica em filosofia é o próprio tempo em pensa- sua raiz, mas sua Filosofia da Identidade não conce- mento, e cada filósofo é, portanto, al- de espaço para o contingente, para a diferença. Sob guém que pensa o próprio tempo. Filó- o ponto de vista político, critica o liberalismo, mas sofo não inventa a realidade, mas inter- serve de inspiração tanto para o pensamento de di- preta a realidade em que vive. reita quanto para o de esquerda, como Marx. É o Claro que podemos ter filósofos único grande pensador que tem uma “direita” e uma que privilegiam uma visão mais conser- “esquerda”. Hegel levou ao máximo as possibilida- des da razão humana, indicando assim, ao mesmo vadora do próprio tempo ou do próprio tempo, os limites desta razão. Ver mais em Wikipédia. povo e outros – talvez mais raros na His- 18
  • 19. Módulo 2 tória da Filosofia – que acentuam a crítica à própria situação e por isso são mais utópicos. Mas nenhum pensador se tornou importante ou se tornou um clássico deixando de se preocupar com a própria situação, com as raízes do que acontece. Por isso, se pode dizer que toda filoso- fia é radical, pois não se contenta em ficar na superfície das coisas, mas procura ir fundo, busca desvendar os porquês das coisas. O filósofo faz esse tipo de pergunta: o que é a realidade? Como a realidade é? E por que a realidade é assim? Procuram-se a essência, o significado e a origem do que se quer conhecer. Fala-se de reflexão, que lembra o espelho, onde a gente se re- flete. Pois bem: filosofar é refletir. É um movimento de volta sobre si mesmo. Refletir é, por exemplo, tomar o próprio eu como objeto de compreensão. E se pode dizer que é esta a capacidade humana que nos distingue dos seres animais: se dissermos que os animais conhe- cem, os seres humanos conhecem que conhecem, sabem que sabem. Por isso somos capazes de rir de nós mesmos. De toda forma, quem prefere uma vida tranqüila, uma vida mais grudada ao cotidiano, ao terra-a-terra, fica longe da Filosofia. E quem quer alcançar maior pro- fundidade, quem gosta de chegar às raízes, ser mais radical, vai preci- sar dela, mesmo que isso não lhe venha a trazer certezas ou tranqüilidade... e tal- Para saber mais *Theodor Adorno – Theodor Ludwig Wiesengrund- vez nem felicidade. Adorno nasceu em Frankfurt am Main, 11 de se- O pensador alemão contemporâneo tembro de 1903 e morreu em Visp, 6 de agosto Theodor Adorno disse que só se põe a de 1969. Foi filósofo, sociólogo, musicólogo e com- filosofar quem suporta a contradição, o positor alemão. Membro da Escola de Frankfurt jun- conflito. Quem gosta de tranqüilidade, não tamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, o faz. Talvez se deva afirmar que o filóso- Herbert Marcuse. A filosofia de Theodor Adorno, fo é quem assume correr o risco de viver considerada uma das mais complexas e profundas mais inseguro, ter cada vez mais pergun- do século XX, fundamentando-se na perspectiva da dialética, mas da dialética negativa, ou seja, daque- tas, e não respostas. la que nunca alcança uma síntese definitiva, como Esta atitude filosófica deve ser cla- ocorreria em Hegel. Ver mais em Wikipedia. ramente separada da mera opinião ou dos gostos pessoais. Não é filosófico dizer “eu acho que”, “eu gosto de”... A Filosofia estabeleceu-se como saber lógico, rigoroso, concatenando as afirmações entre si, superando, como dissemos, o senso comum. 19
  • 20. Curso de Graduação em Administração a distância Especificidade do conhecimento filosófico Com Marilena Chauí, que nos serve de apoio para várias observa- ções feitas nestas páginas, podemos também afirmar que, do ponto de vista mais específico, a Filosofia se apresenta com quatro definições gerais: em primeiro lugar, fala-se de visão de mundo de um povo, de uma cultura. Visão de mundo é um conjunto de idéias, de valores e de hábitos práticos de um povo, que fazem com que se defina como que uma identidade do povo. Mas definir assim a Filosofia nos faz confundi-la com cultura, o que não convém; em segundo lugar, identifica-se a Filosofia com a sabedoria de vida, ou como “filosofia de vida”. Neste caso provavel- mente incluiríamos como “filosofias” o Budismo, o Cristia- nismo, e não conseguiríamos distinguir entre Filosofia e Re- ligião, o que também não convém; em terceiro lugar, Filosofia é esforço racional, sistemático, rigoroso, para conceber o Universo como uma totalidade or- denada e dotada de sentido (Chauí, 1995 p. 16). E esta defi- nição corresponde mais claramente com a história da Filoso- fia. Assim conseguimos perceber a diferença entre Religião e Filosofia, enquanto aquela tem por base a fé, pela qual se aceitam verdades não demonstráveis e que tantos conside- rarão até mesmo irracionais. Claro que isso não significa que, sob todos os pontos de vista, as verdades de fé não sejam aceitáveis, ou até mesmo razoáveis, como tentou fa- zer um pensador da qualidade de Tomás de Aquino, que se Para saber mais *Marilena de Sousa Chauí – conhecida apenas como Marilena Chauí, nasceu em São Paulo, 4 de setembro de 1941. Filósofa brasileira. Professora de Filoso- fia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Autora de vári- os livros, é reconhecida, não só pela sua produção acadêmica, mas pela partici- pação efetiva no contexto do pensamento e da política brasileira. Fonte Wikipédia Fonte: 20
  • 21. Módulo 2 esforçou por mostrar que as Para saber mais verdades cristãs não eram *Santo Tomás de Aquino – nasceu em Roccasecca, contrárias à razão; e arredores de Monte Cassino, em 1227 e morreu em abadia de Fossanova perto de Priverno, 7 de em quarto lugar, a Filosofia é março de 1274. O frade dominicano italiano, con- admitida como fundamenta- sagrado pela Igreja Católica como o grande filósofo ção teórica e crítica dos co- e teólogo cristão, ao lado de Santo Agostinho, lutou nhecimentos e das práticas aguerridamente para introduzir no pensamento cris- (Ibid, p.17): ela preocupa-se tão medieval o pensamento de Aristóteles, até en- costumeira-mente com os tão considerado materialista demais. Depois de mais princípios do conhecimento de dez séculos em que o pensamento cristão prefe- (por exemplo, do conhecimen- riu Platão, agora passa a ser aristotélico. Desta for- to científico, o que se chama ma, a Igreja católica romana abriu-se mais para um de episte-mologia ou de teo- diálogo com os não cristãos, por mais que a ria do conhecimento científi- Escolástica tenha sido ainda muito rígida defensora co), com a origem, a forma e de uma verdade dogmática. Ver mais em Wikipédia. os conteúdos dos valores éti- cos, políticos e estéticos. Assim, a Filosofia é reflexão, é crítica, e é análise. Mas isso não a torna um sinônimo de ciência, mas uma reflexão crítica sobre a ciência; não a torna uma religião, mas uma análise crítica sobre o sentido da expe- riência religiosa e sobre a origem das crenças; nem a identifica com a Psicologia, com a Sociologia, a História, com a Ciência Política, por mais que estas ciências do fenômeno humano te- nham parentesco histórico com ela. Neste caso, se costuma di- zer que as ciências humanas estudam o “como”, enquanto a Fi- losofia estuda o “porquê” e o “que é”, os conceitos. Saiba mais... Não deixe de ler o interessante artigo de EWING, A.C. O que é filosofia e por que vale a pena estudá-la, disponível em <www.cfh.ufsc.br/^wfil/textos.htm>. Neste sítio há também outros textos interessantes sobre o tema. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 1995. Sugere-se a leitura da Unidade I – A Filosofia, para aprofun- dar a temática e confrontar com o que se diz aqui. O livro está acessível na sua íntegra em: www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm. Vale a pena! 21
  • 22. Curso de Graduação em Administração a distância Os gregos inventam a Filosofia A Filosofia, essa forma de conhecimento sistemático, tem uma história de mais de dois mil e quinhentos anos. Nascida na Grécia Antiga, ali se consolidou, tornando-se uma das principais marcas da civilização ocidental. Os gregos, desde os primórdios (por volta de 1.500 a.C., com a civilização micênica), se concentraram nas costas do Mediterrâneo em pequenas e distintas nações, constituindo posteriormente cidades in- dependentes e rivais entre si. Cada cidade com sua cultura, seus hábi- tos, sua política. Mesmo assim, criou-se uma comunidade de língua e de religião, o que fez com que se constituísse em um povo, aos quais se opunham todos os que não falavam o grego. Eram os bárbaros, e “bárbaro” significa precisamente aquele que não fala o grego. A genialidade grega, reconhecida historicamente – alguns falam do “milagre grego” – afirma-se com Homero, com pintores, esculto- res, ceramistas, e com os primeiros nomes da Ciência e da Filosofia: Tales de Mileto, Heráclito, Anaximandro, Xenófanes e Parmênides. Além da região conhecida como Grécia, havia também a Magna Grécia, incluindo partes do sul da Itália peninsular (Tarento, Nápoles, Crotona) e da Sicília (Siracusa, Agrigento). Ali viveram pensadores como Pitágoras, Empédocles, e foi para Siracusa que depois viajou Platão para tentar aplicar sua teoria. Entre as cidades-estado consolida-se, por volta dos séculos VI e V a. C., a importância de Esparta e Atenas, esta última realizando e Informações sobre sofrendo grandes alterações sociais e políticas, com Sólon, Clístenes e estes importantes Péricles, e com o desenvolvimento do comércio e a expansão da colo- filósofos no final nização grega. Todos nos lembramos da Guerra do Peloponeso (431- deste item. 401 a. C.), entre Atenas e Esparta, através da qual se afirmou a supe- rioridade da primeira. Atenas criou a democracia direta, e neste con- texto surgem as artes, as tragédias e comédias. Depois disso se conso- lida em Atenas a Filosofia, mostrando que a vida da cidade, a política, é um chão propício no qual pode germinar melhor a atividade filosófi- ca. É em Atenas que vivem os grandes trágicos Ésquilo, Sófocles e 22
  • 23. Módulo 2 Eurípedes, o autor de comédias, Aristófanes, e os primeiros historia- dores, Heródoto e Tucídides. Na mesma cidade, os filósofos Anaxágoras e Demócrito lecionaram, assim como o fizeram os sofis- tas, os primeiros professores que se fizeram pagar pelo ensino. E de- pois, os três maiores expoentes da Filosofia grega: Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates (470/469-399 a.C.), condenado à morte por um governo tirânico (veja na figura 2 uma representação da Morte de Sócrates), o seu discípulo Platão (428/427-348/347 a. C.), fundador da Academia, e Aristóteles (384 a.C. – 322 a. C.), fundador do Liceu, professor de Alexandre Magno, jovem imperador que viria a confir- mar, depois de seu pai Felipe já ter conquistado a Grécia, o fim da autonomia das cidades-estado, estabelecendo o império macedônico, sucedido pelo domínio romano da Grécia. Deixam de existir as cida- des-estado autônomas e passa a existir a idéia de império, onde prati- camente já não é mais possível ao cidadão participar da vida política, obrigando-o a encontrar o sentido da sua vida fora desta. E passa a existir uma idéia de “universalidade” também na política, o que facili- ta o estabelecimento da mesma religião para todos, de um só deus para todos, o que vai acontecer depois com a tradição judaico-cristã. Figura 2: Representação da Morte de Sócrates. Sócrates preparando-se para tomar o veneno mortal, a cicuta. Tela de Jacques-Louis David, 1787. Fonte: Revista História Viva. Edição especial temática nº 3, p. 07 23
  • 24. Curso de Graduação em Administração a distância Em todo caso, o imperador Alexandre contribui para que a cul- tura grega, que ele aprendeu com seu mestre Aristóteles, se expanda pelo Oriente Médio. Como não lembrar dos períodos “helênico” ou “alexandrino”, que não só conservam as obras clássicas do pensamento Veja mais informa- grego com a posterior criação da biblioteca de Alexandria no norte e ções sobre a Bibliote- África, mas também continuam atraindo para as novas cidades artis- ca de Alexandria no tas, sábios e homens letrados. Em todo caso, a Filosofia grega não Saiba mais. morre, mas continua em Roma e depois floresce em toda a Europa, a partir do casamento feito entre a racionalidade grega e a nova religião, o Cristianismo, que aos poucos deixa de ser uma religião marcada pela mentalidade oriental e passa, sobretudo a partir da obra Paulo de Tarso (o apóstolo São Paulo), que é de formação grega, a mesclar a nova religião com o pensamento racional grego. Este casamento entre razão grega e religião judaico-cristã tornou-se a base da Idade Média e – como se reconhece cada vez mais – a base da própria tradição mo- derna. Por tudo isso se pode dizer que a Filosofia é filha da Grécia e que o Ocidente tem lá o seu berço. Figura 3: Escola de Atenas. Fonte: Il Rinascimento Italiano e L’Europa. Volume Primo Storia e Storiografia, 2005. p. 691 24
  • 25. Módulo 2 Sobre a história da Filosofia na Grécia, pode-se dizer que há três fases: o período pré-socrático ou cosmológico, em que a Filoso- fia se ocupa principalmente com a origem do mundo e as causas das transformações da natureza; o período socrático ou antropológico, ocorrido entre o fi- nal do séc. V até o final do Séc. IV a.C., em que o objeto de estudo passa a ser o homem, sua vida política e moral e sua capacidade de conhecer as coisas; e o período helenístico ou greco-romano, entre o final do Sécu- lo III a.C até o Séc. II d.C, quando começa a consolidar-se a supremacia da visão cristã, sobretudo com Santo Agostinho. Mais informações Neste período, deixa-se de acreditar em soluções mais coleti- sobre este importante vas para a vida humana e se começa a introduzir uma saída teólogo podem ser individual, consolidando-se uma nova ética e uma política encontradas no final que deixa de ser vista como boa. É o período dos estóicos*, deste item. dos epicuristas* e dos céticos*. GLOSSÁRIO Saiba mais... *Estóicos, epicuristas Estóicos, Epicuristas e Céticos – envolve tanto o pensamento e céticos – constitu- grego, quanto o pensamento romano que predomina entre o fim da em o que se denomi- autonomia das cidades-estado gregas, com a morte de Alexandre na de Pensamento Magno em 323 a.C., e a conquista do Antigo Egito em 30 a. C. Helenístico. Mais in- pelos Romanos, e, mais ainda, com a gradual afirmação da perspec- formações no Saiba tiva cristã. São estóicos, por exemplo, tanto Zenão, grego, quanto mais. Cícero, Sêneca e o imperador romano Marco Aurélio. Todos eles abandonam o ideal anterior (Platão e Aristóteles), de que tudo se resolve pela política, e passam a dar importância ao indivíduo, à individualidade e à vida privada. Os estóicos – chamados assim pois se reuniam, em Atenas, perto do pórtico, em grego “stoa” – aprego- am o ideal da fraternidade universal, contrários, portanto, à escravi- dão, e defendem o ideal da vida austera. Por isso até hoje se mantém o termo “estóico” com este sentido de austeridade, de capacidade de suportar o sofrimento. O epicurismo, chamado também de Escola do Jardim, porque ali se reuniam os discípulos de Epicuro, defende o valor da vida humana individual, o bem-estar, o prazer espiritual e físico como fim da existência humana. E os céticos insistem em dizer 25
  • 26. Curso de Graduação em Administração a distância que os seres humanos, por mais que o queiram, não conseguem conhecer a realidade de forma objetiva e neutra. Homero foi o primeiro grande poeta grego que teria vivido, há cerca de 3.500 anos, e consagrou o género épico com as suas gran- diosas obras, A Ilíada e a Odisséia. Estas e outras informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Homero Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo ocidental. De ascendência fenícia, nasceu em Mileto, antiga colônia grega na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 624/625 a.C., e faleceu aproxi- madamente em 556 ou 558 a.C. É apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola Jônica. Considerado também o primeiro filósofo da physis (nature- za), porque outros, depois dele, seguiram seu caminho buscando o princípio natural das coisas. Estas e outras informações em http:// pt.wikipedia.org/wiki/Tales_de_Mileto Heráclito de Éfeso nasceu aproximadamente em 540 a.C. e morreu em 470 a.C. em Éfeso, na Jônia. Filósofo pré-socrático, “pai da dialética”. Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de “Obscuro”, pois desprezava a plebe, recusou-se a partici- par da política (que era essencial aos gregos) e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Estas e outras infor- mações em http://pt.wikipedia.org/wiki/ Her%C3%A1clito_de_%C3%89feso Anaximandro de Mileto nasceu em 609/610 a.C. e morreu em 546 a.C. Foi um filósofo pré-Socrático, discípulo de Tales, e tam- bém geógrafo, matemático, astrônomo e político. Atribui-se a ele a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Estas e outras informações você pode encontrar em http:// pt.wikipedia.org/wiki/Anaximandro_de_Mileto Xenófanes de Cólofon nasceu por volta de 570 a.C. e morreu em 460 a.C. Filósofo grego nascido em Cólofon, na Jónia. Escreveu unicamente em versos em oposição aos filósofos jônios como Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto. Da sua obra restaram uma centena de versos. A sua concepção filosófica destaca-se pelo combate ao antropomorfismo, afirmando que se os animais tivessem o dom da pintura, representariam os seus deuses 26
  • 27. Módulo 2 em forma de animais, ou seja, à sua própria imagem. Estas e outras informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/ Xen%C3%B3fanes_de_C%C3%B3lofon Parmênides de Eléia nasceu em cerca de 530 a.C. e morreu em 460 a.C. em Eléia, hoje Vélia, Itália. Foi o fundador da escola eleática. Há uma tradição que afirma ter sido Parmênides o discípulo de Xenófanes de Cólofon, mas não há certeza sobre o fato, já que uma tradição distinta afirma ter sido o filósofo pitagórico Amínias (ou Ameinias) quem despertou a vocação filosófica de Parmênides. Em geral, é contraposto a Heráclito: enquanto para este, toda a realidade estaria sempre em movimento, seria processo, para Parmênides, toda mudança seria mera aparência Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Parm%C3%AAnides Pitágoras foi um filósofo e matemático grego que nasceu em Samos pelos anos de 571 a.C. e 570 a.C. e morreu provavelmente em 497 a. C. ou 496 a.C. em Metaponto. A sua biografia está envol- ta em lendas. Foi o fundador de uma escola de pensamento grega, chamada de Pitagórica, e foi o criador da palavra “filósofo”. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Pit%C3%A1goras Empédocles nasceu em Agrigento, 483 a.C. e morreu em Peloponeso, 430 a.C. Foi um filósofo, médico, legislador, professor, místico além de profeta; foi defensor da democracia e sustentava a idéia de que o mundo seria constituído por quatro princípios: água, ar, fogo e terra. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/ Emp%C3%A9docles Sólon, poeta e legislador ateniense, em 594 a.C. iniciou uma reforma onde as estruturas social, política e econômica da polis ateniense foram alteradas. Aristocrata por nascimento, trabalhou no comércio. Fez reformas abrangentes, sem fazer concessões aos grupos revolucionários e sem manter os privilégios dos eupátridas, e criou a eclésia (assembléia popular). Profundo conhecedor das leis, foi convocado como legislador pela aristocracia em meio ao contex- to de tensão social existente na polis, no qual os demais grupos sociais viam as reformas de Drácon (ocorridas por volta de 621 a.C.) como algo insuficiente. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/ wiki/S%C3%B3lon Clístenes foi um nobre ateniense que reformou a constituição da antiga Atenas em 508 a.C., sendo considerado, geralmente, o pai da 27
  • 28. Curso de Graduação em Administração a distância democracia, que aí implantou. Como pertencia à família dos Alcmeónidas, obteve o apoio necessário para a destituição de Hípias, filho do “tirano” Pisístrato, de uma família rival; abriu caminho para a adoção de uma postura democrática para Péricles. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%ADstenes Péricles nasceu em 495 a.C. e morreu em Atenas 429 a.C. Foi um dos principais líderes democráticos de Atenas, e talvez o mais célebre. Nasceu em meio a uma família da nobreza ateniense, des- cendente do líder reformista Clístenes, responsável pela introdução da maioria das instituições democráticas, durante a revolução de 510 a.C., Consagrou-se como a maior personalidade política do século V a.C. A presença dele foi tão marcante, que a época em que ele viveu denominou-se de Século de Péricles. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9ricles Ésquilo (Elêusis c. 525 a.C. – Gela 456 a.C.) foi um poeta trágico grego, considerado como o fundador da tragédia. Foi solda- do em Maratona, Salamina e Plateias. Ao longo da sua vida assistiu à consolidação da democracia ateniense, tendo posteriormente viajado para Siracusa a convite do tirano Hiéron, onde terá travado conhecimento com os místicos pitagóricos. Na sua obra destaca-se a importância dada ao sofrimento, narrando as sagas dos Deuses e dos Mitos. Diz-se que escreveu 79 tragédias (segundo alguns autores, cerca de 90), das quais se conservaram apenas sete. Mais informa- ções em http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89squilo Sófocles foi um dramaturgo grego que nasceu em 496 a.C. e morreu em (aproximadamente) 406 a.C. Um dos mais importantes escritores gregos de tragédia, ao lado de Ésquilo e Eurípedes, relata a história de personagens nobres e da realeza. Escreveu cerca de 120 peças, das quais apenas sete sobreviveram. Trabalhou também como ator, não se limitando à literatura. Foi ordenado sacerdote de Esculápio, o deus da medicina, e eleito duas vezes para a Junta de Generais, que administrava os negócios civis e militares de Atenas. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3focles Eurípedes nasceu em Salamina c. 485 a.C. e morreu em Pela, Macedônia, 406 a.C. Foi um poeta trágico grego. Pouco se sabe de sua vida, mas parece ter sido austero e pouco sociável. Apaixonado pelo debate de idéias, suas investigações e estudos lhe trouxeram mais aflições do que certezas. Alguns críticos o chamaram de “filó- 28
  • 29. Módulo 2 sofo de teatro”, mas não há certeza se Eurípedes, de fato, pertenceu a alguma escola filosófica. Contudo, parece inegável nele a influên- cia do filósofo Anaxágoras de Clazômenas e também do movimento sofístico. É de Eurípedes o maior números de peças trágicas da Grécia que chegaram até nós: dezoito no total. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Eur%C3%ADpedes Aristófanes nasceu em 447 a.C. e morreu em 385 a.C. Foi um dramaturgo grego, considerado o maior representante da Comédia Antiga. Nasceu em Atenas e, embora sua vida seja pouco conhecida, sua obra permite deduzir que teve uma formação requintada. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3fanes Heródoto foi um historiador grego, continuador de Hecateu de Mileto, nascido no Século V a.C. em Halicarnasso hoje Bodrum, na Turquia. Foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.C., conhecida simplesmente como As histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/ wiki/Her%C3%B3doto Tucídides nasceu em Atenas, entre 460 a.C. e 455 a.C. e morreu por volta de 400 a.C. Historiador grego, escreveu História da guerra do Peloponeso, onde, em oito volumes, ele conta a guerra entre Esparta e Atenas ocorrida no século V a.C. Esta obra é vista no mundo inteiro como um clássico e representa a primeira obra de seu estilo. É o historiador mais profundo da Antigüidade. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tuc%C3%ADdides Anaxágoras de Clazômenas (Clazômenas, c. 500 a.C. – Lâmpsaco, 428 a.C.) Filósofo grego do período pré-socrático. Nasceu em Clazômenas, na Jônia, e fundou a primeira escola filosó- fica de Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosó- fico e científico desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era protegido de Péricles, que também era seu discípulo. Em 431 a.C. foi acusado de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jônia, e lá fundou uma nova escola. Escreveu um tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a natureza. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/ Anax%C3%A1goras_de_Claz%C3%B4menas Demócrito de Abdera nasceu por volta de de 460 a.C. e morreu em 370 a.C. É tradicionalmente considerado um filósofo pré- 29
  • 30. Curso de Graduação em Administração a distância socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis. Foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica, ou do atomismo. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/ Dem%C3%B3crito Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente em 470 a.C. e morreu em 399 a.C. Foi um filósofo ateniense e um dos mais impor- tantes ícones da tradição filosófica ocidental, e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Aprendeu Música e Litera- tura, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma. Não se sabe ao certo quem foram seus professores de Filosofia. O que se sabe é que Sócrates conhecia as doutrinas de Parmênides, Heráclito, Anaxágoras e dos sofistas. Quanto à política, foi valoroso soldado e rígido magistrado. Foi considerado por Platão “o melhor dos homens de Atenas”. Mais informações podem ser encontradas em http://pt.wikipedia.org/wiki/ S%C3%B3crates Platão, ateniense, nasceu em 428/27 a.C. e morreu em 347 a.C. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Aristócles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referên- cia à sua característica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda à sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Há motivos para considerá-lo um dos maiores filósofos de todos os tempos, além de ser um grande escritor. Mais informações http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o Aristóteles nasceu em 384 e morreu em 322 a.C. Foi um filósofo grego nascido em Estagira, um grandiosíssimo pensador e conside- rado o criador do pensamento lógico. Suas reflexões filosóficas – por um lado originais e por outro reformuladoras da tradição grega – acabaram por configurar um modo de pensar que se estenderia por séculos. Prestou inigualáveis contribuições para o pensamento humano, destacando-se: Ética, Política, Física, Metafísica, Lógica, Psicologia, Poesia, Retórica, Zoologia, Biologia, História Natural e outras áreas de conhecimento humano. Mais informações em http:// pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles 30
  • 31. Módulo 2 Aurélio Agostinho (do latim, Aurelius Augustinus), Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho foi um bispo católico, teólogo e filósofo que nasceu em 13 de Novembro de 354 em Tagaste (hoje Souk-Ahras, na Argélia) e morreu em 28 de Agosto de 430, em Hipona (hoje Annaba, na Argélia). É considerado pelos católicos santo e doutor da doutrina da Igreja. Foi professor de retórica em Milão em 383. Seguiu o Maniqueísmo nos seus dias de estudante e converteu-se ao Cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão. Mais informações http://pt.wikipedia.org/wiki/ Agostinho_de_Hipona Sobre a Guerra do Peloponeso consulte http://pt.wikipedia.org/ wiki/Guerra_do_Peloponeso http://br.geocities.com/vinicrashbr/historia/geral/ guerradopaloponeso.htm Sobre a Biblioteca de Alexandria consulte http:// pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_de_Alexandria O sentido da Filosofia A palavra filosofia é originariamente grega: philos (amigo) + sophia (sabedoria). Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor pelo saber. De saída já se poderia dizer: para ser filósofo se deve amar, e não odiar. O filósofo é o amigo, o amante da sabedo- ria. Lembremos, porém, que amante não é alguém que é dono daquilo ou de quem ele ama, mas é alguém que pretende sê-lo, e não consegue ser dono, nem deve ser dono. Quando se possui o objeto amado (coisa ou pessoa), acaba o amor. Assim, filóso- fo é quem, como já dissemos, procura chegar ao fundamento último, à essência ou à raiz das coisas e dos problemas. Esta busca da verdade está vinculada à aposta e ao desejo de organizar a vida individual e social de maneira mais objetiva, sólida e 31
  • 32. Curso de Graduação em Administração a distância permanente. E isso se faz fundamentando a verdade na razão, e não em alguma crença ou alguma opinião interessada ou interesseira. É importante insistir nisso para não se pensar que a Filosofia seja uma invenção casual de algum gênio, e não uma criação que se inscreve num contexto histórico favorável a tal saber. Filosofia é, pois, um es- forço para se resolver de maneira nova os problemas enfrentados na vida em sociedade. Hegel vai escrever no Século XIX que os gregos inventaram a Filosofia por terem sido o primeiro povo que, ao tentar resolver seus problemas, o fez como se estivesse resolvendo os pro- blemas de todos os seres humanos de todos os tempos. É isso que caracteriza a razão como fundamento da objetividade do conhecimen- to, de um saber objetivo e neutro, de um saber com validade universal. Um especialista como Jean-Pierre Vernant (2202) afirma que os gregos inventaram a Filosofia não simplesmente para satisfazerem uma curiosidade de entender as coisas, como dizia Aristóteles, mas para resolverem um problema político. Qual o problema? Como encontrar uma solução segura e defini- tiva para os problemas políticos? Como encontrar um jeito de se estabelecer uma ordem, uma har- monia, a justiça, na convivência humana? E a solução valesse não só para a ocasião, mas para todas as ocasiões e para todos os povos... Diante desse problema aparece a extraordinária solução grega, que constitui também o nascimento da Filosofia e da ciência como tal: Ao analisar a origem para se resolver com segurança e vigor os problemas deve-se encon- da Filosofia na Grécia, trar um fundamento sólido. Este fundamento sólido é a razão, que está não nos detemos presente na realidade, na natureza, mas também no ser humano. devidamente na rela- Ao invés de fundamentar as soluções dos problemas nos sentimentos ção entre a Filosofia e mutáveis, nos interesses de grupo ou pessoas, nas opiniões das pesso- a Mitologia, nem no as, opiniões que mudam, se tratava de encontrar uma solução firme, debate entre filósofos eterna, imutável, sólida, objetiva, neutra, universal e não particular. e sofistas. Sobre este E esta solução está na razão, que é única, que funciona em tudo e em tema há uma vasta todos os seres humanos do mesmo jeito, e por isso, se a gente for fiel literatura . Veja no à razão, irá chegar a uma verdade segura, assim como se deseja. Saiba mais. Dissemos que a Filosofia é grega, portanto ocidental. Por isso, por mais que haja uma sabedoria oriental, esta não deve ser chamada 32
  • 33. Módulo 2 de “Filosofia oriental”, pois a cultura do Oriente se fundamenta em dois princípios que nunca coincidem, nunca deixam de ser contrários: o Yin e o Yang. O Yin é o princípio feminino passivo da natureza, en- quanto o Yang é o princípio masculino ativo na natureza. Enquanto isso, a Filosofia tem como princípio e característica a unidade da realidade, a unicidade do fundamento, a unicidade da ra- zão. Na Filosofia sempre se busca e se acaba afirmando um princípio único, e só por isso também será possível afirmar que há um cosmos, ou seja, uma ordem. Não se trata de dizer que a sabedoria oriental é melhor ou pior do que a Filosofia, que é a sabedoria ocidental, mas se trata de assinalar que são coisas diferentes e incompatíveis. É disso que importa termos clareza para entender melhor a distinção entre Oriente e Ocidente, e também para tentarmos compreender o que le- vou o Ocidente a ser vitorioso sobre o Oriente, pelo menos sob certos pontos de vista. E já podemos adiantar que o nascimento da Filosofia entre os gregos também é, de certa forma, o nascimento da Ciência como tal. Na Antiguidade e na Idade Média praticamente os dois conceitos se equivalem, enquanto Ciência e Filosofia se baseiam na razão, em con- traposição a outros saberes que não privilegiam uma fundamentação racional, como é o caso da mitologia ou da teologia, que incluem em si, necessariamente, uma crença ou a fé. Só na modernidade é que se estabelece mais claramente uma distinção entre ambas: a Filosofia con- tinua mantendo como sua característica a pretensão de conhecer o todo como tal, como o estudo dos “porquês”, enquanto a Ciên- cia nasce e se consolida como o conhecimento da realidade a par- tir do estudo das partes e como o estudo do “como” da realidade. Dito isso, parece que já se tem alguma clareza para definir a Filosofia. No entanto, ao contrário do que acontece normalmente com cada uma das ciências naturais ou humanas, percebemos que há prati- camente uma definição para cada filósofo ou cada doutrina filosófica. Esta pluralidade de definições, mesmo que todas mantenham a idéia de se tratar de uma tarefa executada racionalmente, não só serve para suscitar em nós uma perplexidade ou uma insegurança, mas também nos convida para que também nós sejamos mais críticos com qualquer 33
  • 34. Curso de Graduação em Administração a distância doutrina ou verdade que nos for apresentada. E com isso também nós nos tornamos mais racionais, ao mesmo tempo em que perceberemos melhor o alcance e os limites da própria razão. Neste sentido, há mo- tivos para continuar afirmando como o sábio Sócrates: que o ato de filosofar em última instância nos leva a perceber que sabemos pouco, ou então, que quanto mais pensamos, mais percebemos o limite de nosso conhecimento. Mas para se saber que sabemos pouco é indis- pensável estudar e pensar muito. Isso também acontece entre os cien- tistas: em geral os grandes cientistas são os que mais reconhecem a precariedade do conhecimento científico, enquanto os cientistas me- dianos ou medíocres tendem a se apresentar como gênios. Em geral, quem pensa pouco imagina saber muito. Platão, um dos maiores filósofos de todos os tempos, reconhece (e o faz em duas ocasiões!) que seu mestre Sócrates é muito mais sá- bio do que ele. E a prova disso é bem singela e surpreendente: Sócrates nunca escreveu um livro ou um artigo! Sócrates nunca se considerou capaz ou no direito de fixar uma verdade por escrito. Se a Filosofia, por um lado, é uma atitude diante dos aconteci- mentos e diante da vida em geral, por outro é também um campo do saber humano, ao lado das ciências, sociais ou naturais, da tecnologia, da teologia, da mitologia, do senso comum. Por mais que ela não pos- sa ser vista como um determinado conteúdo (não tem sentido dizer “a Filosofia afirma que....”), pode-se afirmar que há “filosofias” de perí- odos históricos diferentes (Filosofia Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea), “filosofias” de perspectivas diferentes (Filosofia Grega, que se confunde com Filosofia Antiga, Filosofia Cristã, que em geral se identifica como Filosofia Medieval) e “filosofias” de países dife- rentes (Filosofia Alemã, Francesa, Italiana, Inglesa, Norte-americana...). Por fim, fala-se da “filosofia” de cada filósofo (Filosofia Cartesiana, Kantiana, Platônica, Tomista, Marxiana, e assim por diante). 34
  • 35. Módulo 2 Saiba mais... Mais informações sobre Mitologia podem ser encontradas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia Sobre a Mitologia Grega consulte http://pt.wikipedia.org/wiki/ Mitologia_grega Mais informações sobre Teologia podem ser encontradas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia Sugerimos, para a relação entre Filosofia e Mitologia, entre Filosofia e Tragédia, a obra do grande especialista francês, há pouco falecido: VERNANT, Jean-Pierre. Entre mito e política. 2.ed. São Paulo: EDUSP, 2002. Sobre o debate entre filósofos e sofistas, ver, por exemplo: GADAMER, G.; HÖSLE, V. e VEGETTI, M. (Entrevista). “As raízes do pensamento filosófico”. Trad. portuguesa de Selvino Assmann. Acessível em <http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm> 35
  • 36. Curso de Graduação em Administração a distância Principais períodos da História da Filosofia Vamos dar continuidade aos nossos estudos fazendo breve referência aos principais períodos da História da Filosofia. Como informação geral a todos os estudantes, vale a pena lembrar a distinção que em geral se faz entre quatro gran- des períodos desta História, que praticamente coincidem com a periodização da História Universal, com uma única e óbvia exceção: esta começou no Oriente, enquanto a Filosofia começa no Ocidente, num determinado momen- to do período histórico denominado “antigo”. Sabemos que todas as periodizações são questionáveis, e também a Apresentamos na da Filosofia. Sem entrar em pormenores, mantemos aqui a página 57 um quadro, periodização mais aceita pelos historiadores. intitulado Esquema da História da Racionali- Pela periodização mais aceita pelos historiadores a Filosofia é dade Ocidental, que dividida em quatro grandes períodos: poderá servir como referência para a Filosofia Antiga: do Séc.VI a.C até o Séc.V d.C.; tentativa de síntese Filosofia Medieval: do Século V d.C até o Séc. XIV ou XV; que se faz nestas páginas. Neste Esque- Filosofia Moderna: do Século XV/XVI, período da Renas- ma, além da cença, passando pelos Sécs. XVII e XVIII, e alcançando o periodização da Histó- período do Iluminismo, Séc. XVIII e metade do Séc. XIX; e ria da Filosofia, assi- nalam-se alguns Filosofia Contemporânea: da metade do Século XIX até hoje. conceitos importantes, marcando-se as mu- danças havidas nos diferentes períodos. 36
  • 37. Módulo 2 A Filosofia Antiga Já falamos brevemente da Filosofia Antiga, embora praticamente nos tenhamos restringido ao período anterior ao Cristianismo. De toda maneira, já acenamos para o Período Helenístico, cuja impor- tância é cada vez mais estudada e reconhecida por inaugurar o concei- to de indivíduo humano e por estabelecer a idéia de universalidade e de lei natural, que servirá tanto para os cristãos (para defender que é possível seguir a lei natural e obter a salvação eterna quando alguém não fosse formalmente cristão) quanto para os modernos (sobretudo a Teoria do Contrato Social, que tem por base a distinção entre estado de natureza e estado civil). Se pensarmos mais no início da tradição cristã, importa lembrar o debate entre os Padres, nome dado aos teólo- gos de tradição oriental (patrística oriental) e àqueles de tradição greco- latina (patrística ocidental). Os teólogos e pastores de tradição grega e latina lutam para que o cristianismo como instituição, que estabelece sua sede em Roma, passe a adotar a racionalidade grega a fim de conseguir convencer e converter pagãos à nova verdade, mesmo que a doutrina original de Jesus Cristo tivesse sido apresentada nos moldes da cultura oriental, ou melhor, semita. Para dar apenas um exemplo: na tradição oriental, não é possível separar o corpo e alma. Sendo assim, quando alguém morria, morria o ser humano inteiro, e não apenas o corpo; e isso era admitido também pelos primeiros cristãos de tradição oriental. Já de acordo com a mentalidade dualista grega, só morria o corpo, como se pensa até hoje entre nós. Ambos eram cristãos. Foi nos primeiros sé- culos do Cristianismo que se decidiu, aos poucos, como dogma, a se- paração entre corpo e alma, o que constitui a vitória da tradição greco- romana no cristianismo. A figura mais importante para que isso acon- tecesse foi São Paulo, o apóstolo de formação grega, que convenceu Pedro a estabelecer-se em Roma, sede do Império Romano, como chefe da nova comunidade religiosa. Houve assim – poderíamos dizer – uma racionalização de uma verdade religiosa, racionalização que se tornou fundamental para a história da Idade Média, mas também da Idade 37
  • 38. Curso de Graduação em Administração a distância Moderna. Isso fez com que um filósofo como Hegel dissesse que a modernidade é a definitiva realização do Cristianismo, e não a ruptura com este, como se costuma dizer ao falar da Idade Média como Idade das Trevas. A Filosofia Medieval A Filosofia Medieval inclui pensadores europeus, árabes e ju- deus. É o período em que predomina a Igreja Católica Romana, e criam-se, ao lado das catedrais, as primeiras Universidades (Bolonha, Paris e Pádua), cujo curso principal era a Teologia, tornando-se a Filo- sofia uma “serva da Teologia”. O pensamento cristão adota em pri- meiro lugar, durante bons séculos, Platão e Plotino como matriz teóri- ca da doutrina cristã, excluindo-se Aristóteles, por ser materialista de- Veja ao final deste item mais. Lembre-se de passagem a importância dos árabes, não só como uma pequena biografia grandes pensadores (Avicena e Averróis são os maiores exemplos), destes importantes mas também como grandes cientistas e também como aqueles que têm pensadores árabes. o mérito de terem conservado as obras originais de Aristóteles e terem feito que as universidades medievais redescobrissem o pensamento gre- Do qual você já viu go. Um dos maiores pensadores medievais foi Santo Agostinho. Quem uma pequena biografia lutou para usar Aristóteles na teologia cristã foi Alberto Magno, e sobre- e ainda falaremos mais tudo seu discípulo Tomás de Aquino, que se torna, com Agostinho, um adiante, quando anali- dos dois maiores filósofos cristãos. Pode-se dizer que é difícil distinguir saremos alguns aspec- entre Filosofia e Teologia quando se fala de “Filosofia Cristã”. tos da ética e falaremos Quando se fala da Filosofia Medieval também se fala da do conceito de poder. Escolástica, criada a partir do Séc. XII: é a filosofia ensinada nas es- colas. E com isso se introduz um método, conhecido como disputa: apresentava-se uma tese e esta devia ser defendida ou refutada por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros Padres da Igreja. 38
  • 39. Módulo 2 Basta citarmos alguns importantes nomes da Filosofia Medieval para se perceber a vitalidade do pensamento da época: Santo Anselmo (1050-1117), um dos mais consistentes O filme Em nome de formuladores de uma prova da existência de Deus; Deus, narra a famosa Abelardo, importante lógico e um dos primeiros professores história do amor entre universitários a exigir salário para trabalhar, não sendo ele Abelardo e Heloísa... um teólogo sustentado pela Igreja; Se alguém não o tiver visto, vale a pena, para Duns Scoto (1265-1308), que insiste em defender a liberda- se ter uma idéia da de humana mesmo no contexto teológico; e vida medieval. Guilherme de Ockham (1280-1349), acusado de heresia* que inaugura um novo modo de fazer teologia, enfatizando a con- GLOSSÁRIO veniência de provas empíricas para as afirmações e não te- *Heresia – é qual- mendo confrontar-se com os teólogos anteriores. quer doutrina cristã contrária aos dogmas Pode-se verificar imediatamente que a Idade Média não pode da Igreja Católica. ser denominada período de interrupção da história, e nem de período Fonte: Wikipédia de trevas. Cada vez mais se estuda e cada vez mais se tem argumentos para sustentar uma “nova idéia de Idade Média”, conforme ensina o historiador francês Jacques Le Goff, um período cheio de vitalidade Não deixe de teórica, de muito debate e de muita controvérsia. pesquisar as obras deste importante historiador indicadas Saiba mais... no Saiba mais. Abu Ali al-Hussayn ibn Abd-Allah ibn Sina – filósofo e médico árabe conhecido no Ocidente como Avicena, nasceu em Bucara, Pérsia, 980 e morreu em Hamadã, também na Pérsia, 1037. Além de Gramática, Geometria, Física, Medicina, Jurisprudência e Teologia, estudou profundamente a Filosofia platônica e aristotélica. Suas obras sobre Medicina ainda eram reimpressas no século XVII. Pressupondo a unidade da Filosofia, tentou conciliar as doutrinas de Platão e Aristóteles. Avicena considerava o universo formado por três ordens: o mundo terrestre, o mundo celeste e Deus. Fonte: Wikipédia. 39
  • 40. Curso de Graduação em Administração a distância Abu al-Walid Muhammad Ibn Ahmad Ibn Munhammad Ibn Ruchd – filósofo árabe também conhecido pelo nome de Averróis, nasceu em Córdoba, 1126 e morreu em Marrakech, 1198. Foi um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles. Aliás, o próprio Aristóteles foi redescoberto na Europa graças aos árabes, e os comentários de Averróis muito contribuíram para a recepção do pensamento aristotélico. Também se ocupou com Astronomia, Medicina e Direito Canônico muçulmano. Sua filosofia é um misto de aristotelismo com algumas nuanças platônicas. A influência aristotélica se revela em sua idéia da existência do mundo de modo independente de Deus (ambos são co-eternos) e de que também não existe providência divina. Já seu platonismo aparece em sua concep- ção de que a inteligência, fora dos seres, existe como unidade impessoal. Fonte: Wikipédia. Sobre a nova visão da Idade Média, consulte as obras do grande historiador Jaques Le Goff: LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa: Estampa, 1980; ________. Os intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1988; ________. Mercadores e banqueiros da Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1991; ________. O nascimento do purgatório. Lisboa: Estampa, 1993. (Este livro narra como, na história da Igreja Romana, passa-se de uma rejeição total do empréstimo de dinheiro, da usura, para sua aceitação. A sua aceitação moral vincula-se ao fato de a Igreja precisar de dinheiro emprestado para construir catedrais. Para tornar perdoável o pecado da usura, a Igreja cria então a idéia de purgatório, para onde irão todos os usurários). ________. A civilização do Ocidente medieval. Bauru: EDUSAC, 2005; 40
  • 41. Módulo 2 A Filosofia Moderna Quando se fala da Filosofia Moderna, começa-se citando o pe- ríodo conhecido como Renascença, talvez um dos mais criativos perí- odos da História Ocidental, e que encontra na Itália o seu centro. É o período em que a Europa sai para a conquista da América, em que se faz a Reforma Protestante (Lutero e Calvino), em que se cria a ciência moderna (Leonardo da Vinci, Bacon, Copérnico, Galileu, Kepler), em que se formulam as utopias ( Tomás Morus, Campanella), em que se inaugura a ciência política (Maquiavel, Bodin), em que se procura romper com o domínio ideológico da Igreja Romana (Galileu, Giordano Bruno) e em que se dá uma revolução artística (Leonardo da Vinci, Conheça um pouco Miguel Ângelo Buonarrotti, Rafael, El Greco). mais sobre os intelec- Na Filosofia, passa a predominar uma visão naturalista: o ho- tuais modernos aqui mem é parte da natureza e pode agir sobre ela através da alquimia, da citados no final deste magia natural e da astrologia; por outro lado, ao contrário do que item. acontecia antes, quando se valorizava a vida contemplativa, começa a ser valorizada a vida ativa, a ação prática, a fabricação, e na política, o ideal republicano contra o governo autocrático dos Papas. Assim, o ser humano passa a ser apresentado como artífice de seu destino, atra- vés do conhecimento (ciência), da política, das técnicas (medicina, ar- quitetura e navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura e teatro). Se antes o trabalho era visto como castigo devido ao pecado original, agora o trabalho começa a ser visto como algo positivo, como único meio pelo qual alguém pode se tornar humano e se tornar livre. Até mesmo a ciência ressalta o trabalho no laboratório como fonte do conhecimento, enquanto antes se chegava à verdade sem que se trabalhe. Para dar mais um exemplo de que os seres humanos se tornam o centro de tudo, e que a natureza deixa de ser irmã do ho- mem, como queria São Francisco de Assis, para se tornar serva dos homens, lembremos as afirmações de Bacon e de Galileu: o ser huma- no deve se tornar senhor e possuidor da natureza! E por isso “conhe- cer é poder”. Pelo saber se domina o que se conhece, e não se contem- pla, conforme se pensava antes. Por outro lado, a centralidade do ser 41
  • 42. Curso de Graduação em Administração a distância humano também se torna visível na pintura: se na Idade Média os pin- tores representam principalmente figuras sagradas, na Renascença o objeto é o ser humano, homem e mulher. Pense-se na Mona Lisa de Leonardo (Figura 4): ao invés de Nossa Senhora ou outra santa, uma mulher no centro da natureza. Ou pense-se na imponência do homem criado por Deus, no grande afresco de Miguel Ângelo, da Capela Sistina (Figura 5). Figura 4: Mona Lisa de Leonardo da Vinci (1503 – 1507). Museu do Louvre. Fonte: Il Rinascimento Italiano e L’Europa. Volume Primo Storia e Storiografia, 2005. p. 667 Figura 5: A criação do homem, Michelangelo, Capela Sistina, no Vaticano. Fonte: Wikipedia 42
  • 43. Módulo 2 Após a Renascença, há o grande raci- Para saber mais onalismo clássico moderno. Figura mais co- *René Descartes – nasceu em 31 de Março nhecida é René Descartes, considerado o pri- de 1596, em La Haye em Touraine, França, meiro filósofo moderno que insiste ainda mais e morreu em 11 de Fevereiro de 1650, em de que se deve fazer o que é necessário racio- Estocolmo, Suécia. É conhecido como nalmente para que o ser humano se torne se- Cartesius Foi filósofo, físico e matemáti- Cartesius. nhor do mundo. É o primeiro a escrever, de- co francês. Notabilizou-se sobretudo pelo seu trabalho revolucionário da Filosofia, ten- pois de séculos de domínio do latim, em lín- do também sido famoso por ser o inventor gua moderna, no caso o francês. do sistema de coordenadas cartesianas, que Autor de O discurso do Método, Des- influenciou o desenvolvimento do cálculo cartes propõe-se a duvidar de tudo o que se moderno. Fonte: Wikipédia sabia até então e a procurar alguma verdade que não pudesse ser posta em dúvida. Ela deveria ser a nova base para todo conhecimento. Pode-se duvidar da existência de Deus. Pode-se duvidar de tudo o que se conhece pelos sentidos. Pode-se até duvidar da existência do mundo físico fora de mim. Mas não se pode duvidar de que eu duvido, ou seja, da existência da dúvida e da existência de quem duvida. Portanto, se eu duvido, eu sou. Se eu penso, então eu existo. E a existência de Deus, do mundo, deve ser baseada neste fun- damento: eu. Eu, o sujeito humano, a razão humana, que deve ser o único ponto de partida para qualquer verdade. Este é o princípio da ciência. Mas também da ética: só será bom aquilo que for bom para o homem. Um exemplo no campo do conheci- Para saber mais mento: só se o ser humano provar que Deus exis- *Thomas Hobbes – nasceu em te, Deus existirá. Se não o conseguir provar, en- Malmesbury, 5 de abril de 1588 e mor- tão Deus não existirá. Como se vê, a existência reu em Hardwick Hall, 4 de dezembro de de Deus passa a depender da prova do ser hu- 1679. Foi matemático, teórico político, e mano. É isso que se pode denominar de visão filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e antropocêntrica da modernidade. Se a visão Do cidadão (1651). Ainda escreveu mui- medieval é teocêntrica, e a antiga é fisiocêntrica, tos outros livros falando sobre Filosofia Política e outros assuntos, oferecendo uma agora se passa ao antropocentrismo. descrição da natureza humana como coo- Demos outro exemplo do pensamento peração em interesse próprio. Ele foi con- moderno. Thomas Hobbes, filósofo inglês, temporâneo de Descartes e escreveu uma além de defender uma visão materialista (tudo das respostas para a obra Meditações sobre é apenas corpo) e mecanicista (toda a realida- a filosofia primeira. Fonte: Wikipédia. 43