SlideShare a Scribd company logo
1 of 66
Download to read offline
Educação
                                                  sem fronteiras

                                      SERVIÇO
                                       SOCIAL

                                                                       Autores
                                                 Edilene Maria de Oliveira Araújo
                                             Elisa Cléia Pinheiro Rodrigues Nobre
                                     Helenrose Aparecida da Silva Pedroso Coelho
                                                          Maria Aparecida da Silva
                                                 Maria Roney de Queiroz Leandro


                                                                              5
                                                         www.interativa.uniderp.br
                                                       www.unianhanguera.edu.br


                                                           Anhanguera Publicações
                                                                  Valinhos/SP, 2009




00 - Servico Social - 5 Sem.indd 1                                                    1/5/09 3:52:57 PM
© 2009 Anhanguera Publicações
                                                                                                                          Ficha Catalográfica produzida pela Biblioteca Central da
              Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica,                                  Anhanguera Educacional
              resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma.
              Impresso no Brasil 2009
                                                                                                               S514    Serviço social / Edilene Maria de Oliveira Araújo ...[et al]. - Valinhos :
                                                                                                                       Anhanguera Publicações, 2009.
                                                                                                                       224 p. - (Educação sem fronteiras ; 5).


                                                                                                                       ISBN: 978-85-62280-06


                                                                                                                       1. Serviço social – Processo de trabalho. 2. Serviço social –
                                                                                                                       Cidadania. I. Araújo, Edilene Maria de Oliveira. II. Título. III. Série.


              ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.                                                                              CDD: 360
              CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CAMPO GRANDE/MS

              Presidente
              Prof. Antonio Carbonari Netto

              Diretor Acadêmico
              Prof. José Luis Poli

              Diretor Administrativo
              Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior

              CAMPUS I

              Reitor                                                                                                                                          ANHANGUERA PUBLICAÇÕES
              Prof. Guilherme Marback Neto
              Vice-Reitor                                                                                                                                                               Diretor
              Profa. Heloísa Gianotti Pereira                                                                                                                     Prof. Diógenes da Silva Júnior
              Pró-Reitores
              Pró-Reitor Administrativo: Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior                                                                                            Gerente Acadêmico
              Pró-Reitora de Graduação: Prof. Paulo de Tarso Camillo de Carvalho                                                                                            Prof. Adauto Damásio
              Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto: Prof. Ivo Arcângelo Vendrúsculo
              Busato                                                                                                                                                  Gerente Administrativo
                                                                                                                                                                    Prof. Cássio Alvarenga Netto




                                                                                                          PROJETO DOS CURSOS
                                                                                                          Administração: Prof. Wilson Correa da Silva / Profa. Mônica Ferreira Satolani
              ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.                                                                 Ciências Contábeis: Prof. Ruberlei Bulgarelli
              UNIDERP INTERATIVA                                                                          Enfermagem: Profa. Cátia Cristina Valadão Martins /
                                                                                                          Profa. Roberta Machado Pereira
              Diretor                                                                                     Letras: Profa. Márcia Cristina Rocha
              Prof. Ednilson Aparecido Guioti                                                             Pedagogia: Profa. Vivina Dias Sol Queiroz / Profa. Líliam Cristina Caldeira
                                                                                                          Serviço Social: Profa. Maria de Fátima Bregolato Rubira de Assis /
              Coodernação                                                                                 Profa. Ana Lucia Américo Antonio
              Prof. Wilson Buzinaro                                                                       Tecnologia em Gestão e Marketing de Pequenas e Médias Empresas:
                                                                                                          Profa. Fabiana Annibal Faria de Oliveira
              COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA                                                                      Tecnologia em Gestão e Serviço de Saúde: Profa. Irma Marcario
              Profa. Terezinha Pereira Braz / Profa. Eva Maria Katayama Negrisolli /                      Tecnologia em Logística: Prof. Jefferson Levy Espíndola Dias
              Profa.Evanir Bordim Sandim / Profa. Maria Massae Sakate /                                   Tecnologia em Marketing: Prof. Jefferson Levy Espíndola Dias
              Profa. Lúcia Helena Paula Canto (revisora)                                                  Tecnologia em Recursos Humanos: Prof. Jefferson Levy Espíndola Dias




00 - Servico Social - 5 Sem.indd 2                                                                                                                                                                  1/5/09 3:52:57 PM
AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico


            Nossa Missão, Nossos Valores
               ____________________

  A Anhanguera Educacional completa, em 2009, 15 anos. Desde sua fundação, buscou a ino-
vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de
Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação
dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho.
  A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre
preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis-
tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor
relação qualidade/custo, adotou-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições de
ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores da
Anhanguera.
  Atuando também no Ensino à Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es-
tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da UNIDERP Interativa, nos seus pólos
espalhados por todo o Brasil.


                                                              Boa aprendizagem e bons estudos!




                                                                  Prof. Antonio Carbonari Netto
                                                          Presidente — Anhanguera Educacional




                                                    iii
Apresentação
                      ____________________

  A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no
desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos,
arrojados, pluralistas, democráticos.
  Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par-
ceiros e congêneres no País e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou
para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo seu compromisso com
a qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos seus
propósitos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e ascensão social.
   Reconhecida por sua ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais
um desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportuni-
dades de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação
a Distância.
  Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que em pouco tempo saiu das fronteiras
do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do País, possibilitando o
acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída.
  O Centro de Educação a Distância, atua por meio de duas unidades operacionais, a Uniderp
Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN), em função dos modelos alternativos ofe-
recidos e seus respectivos pólos de apoio presencial, localizados em diversas regiões do País e ex-
terior, oferecendo cursos de graduação, pós-graduação e educação continuada e possibilitando,
dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias dinâmicas e inovadoras.
  Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da
Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na sua estrutura organizacional e acadêmica, com
reflexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro-
Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza
a compra pelos alunos de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado e
estimula-os a formar sua própria biblioteca, promovendo, dessa forma, a melhoria na qualidade
de sua aprendizagem.
  É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de
formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos,
preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena em sociedade.




                                                                   Prof. Guilherme Marback Neto
AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico


              Autores
        ____________________

                                               EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO
Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidades Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1986
               Especialização: Formação de Formadores em Educação de Jovens e Adultos –
                                           Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003
                                              Especialização: Gestão de Iniciativas Sociais –
                                      Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – 2002

                                         ELISA CLÉIA PINHEIRO RODRIGUES NObRE
              Graduação: Serviço Social – Universidade Católica Dom Bosco, UCDB – 1992
                                     Especialização em Políticas Sociais – Universidade do
                                       Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP – 2003
        Mestrado em Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS – 2007

                                HELENROSE APARECIDA DA SILVA PEDROSO COELHO
                                      Graduação: Ciências Sociais/Universidade Estadual de
                                              Campinas – UNICAMP, Campinas /SP – 1982
                                               Graduação: Psicologia/Universidade Católica
                                           Dom Bosco – UCDB, Campo Grande/MS – 1992
                               Graduação: Direito/Universidade para o Desenvolvimento do
                     Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, Campo Grande/MS – 2004
                                                Especialização: Gestão Judiciária Estratégica
                 Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso, CEFETMT – 2007
                                       Mestrado: A Construção dos Sentidos de Promoção e
                 Prevenção de Saúde na Mídia Impressa – UCDB – Campo Grande/MS, 2006

                                                           MARIA APARECIDA DA SILVA
                                               Graduação: Serviço Social/Faculdades Unidas
                                Católicas Dom Bosco – FUCMT/ Campo Grande-MS – 1984
                         Especialização: Educação na Área da Saúde/Universidade Federal do
                                                      Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ, 1985
                                             Mestrado: Saúde Coletiva/Universidade Federal
                                          de Mato Grosso do Sul – Campo Grande/MS, 1998

                                                MARIA RONEY DE QUEIROZ LEANDRO
                                               Graduação: Serviço Social/Faculdades Unidas
                                  Católicas Dom Bosco – FUCMT/Campo Grande-MS/1987
                                             Especialização: Saúde Pública – Escola Nacional
                                            de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz/1993




                                              v
Servico social 2009_5_2
AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico


                                     Sumário
                               ____________________
MÓDULO – PROCESSO DE TRAbALHO EM SERVIÇO SOCIAL

UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁGIO SUPERVIONADO EM SERVIÇO SOCIAL
AULA 1
  O diagnóstico como ferramenta de trabalho do serviço social .........................................                                    3
AULA 2
  Projetos sociais: solucionando problemas ..........................................................................                     10


UNIDADE DIDÁTICA – PROCESSO DE TRAbALHO EM SERVIÇO SOCIAL
AULA 1
  Trabalho e relações sociais na sociedade contemporânea .................................................                                19
AULA 2
  Divisão social do trabalho ...................................................................................................          24
AULA 3
  Produção social e valor ........................................................................................................        29
AULA 4
  Trabalho assalariado, capital e propriedade ........................................................................                    37
AULA 5
  Processos de trabalho e produção da riqueza social ...........................................................                          43
AULA 6
  O trabalho coletivo – trabalho e cooperação ......................................................................                      48
AULA 7
  Trabalho produtivo e improdutivo ......................................................................................                 52
AULA 8
  A polêmica em torno da crise da sociedade do trabalho ....................................................                              59
AULA 9
  Trabalho e sociedade em rede ..............................................................................................             65


UNIDADE DIDÁTICA – ESTRATÉGIAS DE TRAbALHO EM SERVIÇO SOCIAL
AULA 1
  A inserção do assistente social nos processos do trabalho e as estratégias de trabalho
  em serviço social ...................................................................................................................   75
AULA 2
  Trabalho e serviço social: demandas tradicionais e demandas atuais ................................                                     78
AULA 3
  O redimensionamento da profissão: o mercado, as condições de trabalho, as
  perspectivas e competências profissionais...........................................................................                    81

                                                                              vii
AULA 4
  Condições de trabalho e respostas profissionais. A relação assistente social e usuários
  dos serviços sociais ............................................................................................................... 86
AULA 5
  As demandas e a intervenção profissional no âmbito das relações entre o estado e a
  sociedade ............................................................................................................................... 89
AULA 6
  A dimensão ético-política da prática profissional e o serviço social como instrumento
  de cidadania e garantia de direitos....................................................................................... 92
AULA 7
  Estratégia profissional e instrumental técnico-operativo utilizados no desempenho do
  trabalho profissional – Parte 1 ............................................................................................. 95
AULA 8
  Estratégia profissional e instrumental técnico-operativo utilizados no desempenho do
  trabalho profissional – Parte 2 ............................................................................................. 99
AULA 9
  Instrumentos, metodologias e técnicas utilizados pelo serviço social na busca de
  respostas as demandas do trabalho...................................................................................... 103

SEMINÁRIO INTEGRADO...................................................................................................... 108


MÓDULO – SOCIEDADE E CIDADANIA

UNIDADE DIDÁTICA – TERCEIRO SETOR E SERVIÇO SOCIAL
AULA 1
  Considerações históricas sobre a emergência do terceiro setor .........................................                                  111
AULA 2
  Terceiro setor: conceitos, objetivos e características ...........................................................                       114
AULA 3
  Questões sociais, serviço social e as relações com o terceiro setor .....................................                                118
AULA 4
  Organizações de interesse público e legislações pertinentes ..............................................                               122
AULA 5
  As organizações de interesse público e a gestão das políticas sociais .................................                                  127
AULA 6
  Responsabilidade social e suas dimensões...........................................................................                      131
AULA 7
  Voluntariado .........................................................................................................................   135
AULA 8
  O voluntariado no terceiro setor..........................................................................................               140
AULA 9
  Financiamento do terceiro setor ..........................................................................................               144
AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico

UNIDADE DIDÁTICA – CONSELHOS POPULARES E CIDADANIA
AULA 1
  Contexto da cidadania ..........................................................................................................   153
AULA 2
  Participação e controle social: instâncias de cidadania.......................................................                     159
AULA 3
  Conselhos de políticas públicas: assistência social ..............................................................                 169
AULA 4
  Conselhos de políticas públicas: saúde ................................................................................            174
AULA 5
  Conselhos de defesa de direitos: do idoso e da pessoa com deficiência .............................                                179
AULA 6
  Conselhos de defesa de direitos: da criança e do adolescente (ECA).................................                                187
AULA 7
  Conselhos de defesa de direitos: da mulher ........................................................................                192
AULA 8
  Conselhos de defesa de direitos: do indígena e do negro ...................................................                        199
AULA 9
  Atuação do profissional na efetivação do controle social ...................................................                       207

SEMINÁRIO INTEGRADO...................................................................................................... 215




                                                                            ix
Servico social 2009_5_2
AULA 3 — Produção Social e Valor




                                            Módulo

                  PROCESSO DE
                 TRABALHO EM
                SERVIÇO SOCIAL




      Professora Especialista Edilene Maria de Oliveira Araújo
     Professora Especialista Maria Roney de Queiroz Leandro
Professora MSc. Helenrose Aparecida da Silva Pedroso Coelho

                       17
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social


    Apresentação

  Prezados acadêmicos!

   Sejam bem-vindos ao módulo TRABALHO E SOCIEDADE. Espero que vocês estejam preparados para
promover boas reflexões sobre a questão do trabalho e sua importância para nós, seres humanos.
   O tema é bastante instigante porque faz parte de uma realidade que nos é muito familiar e por isso mesmo
nos provoca tanto envolvimento, ora para criticar o modo capitalista de produção, ora para considerá-lo im-
portante para o desenvolvimento social.
   De qualquer forma, são imprescindíveis para o futuro profissional do serviço social o conhecimento da
força-motriz de nossa sociedade e as relações decorrentes do trabalho. O entendimento de como se dão as
relações no trabalho e quais são as origens do capital e da força de trabalho promoverão uma melhor compre-
ensão do processo de alienação e da cristalização de ideologias dominantes. Assim, teremos um profissional
apto para lidar com as relações advindas do ambiente de trabalho, posto que compreenderá os mecanismos
de produção de valor em nossa sociedade.
   Desejamos as boas-vindas e sigamos o nosso curso.

                                                     Professora Helenrose Aparecida da Silva Pedroso Coelho




                                                    18
AULA 1 — Trabalho e Relações Sociais na Sociedade Contemporânea


                                              AULA

                       ____________________        1




                                                                                                            Unidade Didática – Processo de Trabalho em Serviço Social
               TRABALHO E RELAÇõES SOCIAIS nA
                SOCIEDADE COnTEMPORânEA

  Conteúdo
  • Noções sobre trabalho
  • Importância do trabalho na sociedade capitalista
  • As relações sociais que envolvem o ser humano e o trabalho

  Competências e habilidades
  • Compreender a importância do trabalho em nossa sociedade
  • Refletir sobre as relações oriundas das relações do trabalho e sua importância para o serviço social


  Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal
  • Os textos para auto-estudo e as atividades serão disponibilizados no portal.
  • Sites relacionados: http://www.dieese.org.br
  • Filme: O Germinal. Diretor: Claude Berri
    Caracteriza perfeitamente o processo de produção do trabalho do modelo capitalista, a expansão
    do chamado capital, mostrando assim, de uma forma bem clara, os opostos entre as necessidades
    humanas e as materiais. O filme se passa na França do século XIX e transmite muito bem aquele
    determinado momento histórico e seu contexto social, econômico e político e, é claro, cultural. Para
    obtermos uma análise satisfatória se torna necessário o conhecimento dos antecedentes da Revolu-
    ção Industrial, nele presentes.

  Duração
  2h/a – via satélite com o professor interativo
  2h/a – presenciais com o professor local
  6h/a – mínimo sugerido para auto-estudo




INTRODUÇÃO                                                    elemento inerente à existência do homem e como
   Vamos verificar nos nossos estudos a impor-                mola propulsora de seu desenvolvimento perante as
tância do trabalho para o ser humano. O trabalho              limitações primitivas impostas pela sua fragilidade
aparece desde os primórdios como a necessidade                diante do meio ambiente.
de o homem intervir sobre a natureza, produzindo                 A partir do trabalho, o homem foi tornando-se
os meios de sua sobrevivência e, dessa forma, clari-          capaz de criar novas formas de interação com a
fica-se a noção de que o trabalho afigura-se como             natureza, as quais permitiram o desenvolvimento

                                                         19
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social

amplo do gênero humano, estendendo-se às formas                 atores sociais que buscam apresentar soluções e
de organização social, sempre alicerçadas na orga-              fazer reflexões para um dos principais problemas
nização do trabalho e da produção social, conforme              enfrentados por grande parte dos países. E não
entendimento de Engels, 1979, p. 269-280.                       apenas a isso se resume o debate. Distribuição de
   Com a consolidação do sistema capitalista, como              renda, diminuição de desigualdades e promoção de
modo de produção, essa noção de centralidade do                 desenvolvimento social são temas recorrentes, des-
trabalho na sociabilidade humana desvendado sob                 dobramentos, ainda que superficiais, daquilo que
a ótica de exploração dentro de uma sociedade de                pode ser considerado uma das principais crises no
classes foi objeto de vasta produção teórica e políti-          mundo do trabalho dentro da sociedade burgue-
ca, impulsionando grandes transformações e revo-                sa. E daí a importância do profissional do serviço
luções sociais a partir de meados do século XIX.                social na compreensão e reflexão sobre essas ques-
   Dentro do processo histórico, inúmeros abusos                tões, compreendendo sua origem e os rumos toma-
foram cometidos dentro do mundo do trabalho e                   dos na atualidade.
impulsionaram a luta social pelo reconhecimento                    Não é só a sobrevivência que dá significado ao
de direitos mínimos da dignidade humana e, com                  trabalho, mas, no dizer de Engels, op. cit., também
base no desenvolvimento de ideários novos de or-                o desenvolvimento de habilidades manuais e inte-
ganização social do trabalho, instaurou-se, no cam-             lectuais é proporcionado por ele, porque o homem
po ideológico, uma grande disputa no seio da so-                com a necessidade desenvolveu técnicas utilizando
ciedade burguesa, até mesmo dentro do campo de                  o corpo nas atividades de trabalho e iniciou uma
atuação do assistente social, pois o trabalho na área           nova forma de vida em grupo, desenvolvendo a lin-
social vai saindo paulatinamente das mãos da Igreja             guagem e as relações sociais.
e do ideário da caridade e passando ao Estado e à                  Graças à cooperação das mãos, dos órgãos da
sociedade dentro das idéias capitalistas.                       linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo,
                                                                mas também na sociedade, os homens foram apren-
 No art. 193, Título VIII, Capítulo II, Seção I – Da Or-        dendo a executar operações cada vez mais comple-
 dem Social, a Constituição Federal de 1988 aponta              xas, a propor-se a alcançar objetivos cada vez mais
 que a ordem social brasileira tem como base o prima-           elevados (ENGELS, 1979, p. 275).
 do do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça            A especialização da mão implica o aparecimento
 sociais.                                                       da ferramenta, que, por sua vez, implica atividade
                                                                especificamente humana, a ação do homem sobre a
   Assim, grande parte da história do século XX en-             natureza, que resultará na produção de bens. E esse
cerrou a disputa entre concepções diversas no que               homem vai cada vez mais exercer sua força sobre
tange à organização social do trabalho, e o mundo               a natureza, para dominá-la, diferenciando-se dos
dividiu-se geopoliticamente na afirmação dessa dis-             animais.
puta, com conseqüências como a Guerra Fria, a Cri-                 No início o homem praticava a caça e a pesca e,
se do Petróleo etc.                                             mais tarde, a agricultura. Com o passar do tempo
   Nos dias de hoje, o debate sobre o mundo do tra-             surgem a fiação, a tecelagem, a elaboração de me-
balho continua desenvolvendo-se com enfoque na                  tais, a olaria e a navegação, tudo graças a esse de-
hegemonia político-ideológica capitalista. Obser-               senvolvimento de habilidades oriundas do trabalho.
va-se essa questão discutida através do espaço cada             Aparecem o comércio e os ofícios acompanhados
vez maior que se dá ao debate cujo tópico é em rela-            das artes e das ciências, bem como as nações e os
ção ao emprego na sociedade contemporânea, im-                  Estados. De acordo com Engels, 1979, p. 275, o rá-
pulsionando pesquisadores, políticos, movimentos                pido progresso da civilização foi atribuído exclusi-
sociais, organizações internacionais e tantos outros            vamente à cabeça, ao desenvolvimento e à atividade

                                                           20
AULA 1 — Trabalho e Relações Sociais na Sociedade Contemporânea

do cérebro, e os homens acostumaram-se a explicar            tituindo a divisão do trabalho entre as diversas cor-
seus atos pelos seus pensamentos em vez de procu-            porações pela divisão do trabalho dentro de cada
rar essa explicação em suas necessidades.                    oficina.
                                                                Continuando a crescer, vemos o mercado da ma-
 Diferentemente dos animais que utilizam a natureza e        nufatura também se tornando insuficiente para abas-
 a modificam pelo simples fato de sua presença, o ho-        tecê-lo, tomando o seu lugar a grande indústria mo-
 mem modifica a natureza, dominando-a por meio do            derna, através da Revolução Industrial, onde a má-
 trabalho.                                                   quina a vapor revolucionou a produção industrial.
                                                                A grande indústria criou o mercado mundial,
                                                             para o qual a descoberta da América preparou o
RETROSPECTIVA HISTÓRICA                                      terreno. O mercado mundial deu um imenso desen-
   Ao fazermos uma rápida retrospectiva histórica,           volvimento ao comércio, à navegação e às comuni-
percebemos que a Grécia Antiga valorizava o ócio             cações por terra. Esse desenvolvimento, por sua vez,
para seus cidadãos, o qual somente era possível pela         reagiu sobre a extensão da indústria; e na proporção
exploração do trabalho escravo. Em um determi-               em que a indústria, o comércio, a navegação, as fer-
nado momento, quem sabe por oposição aos ideais              rovias cresciam, a burguesia também se desenvolvia,
greco-romanos de ócio, o cristianismo intentou               aumentava seus capitais e colocava num plano se-
recuperar o valor do trabalho sem colocá-lo como             cundário todas as classes legadas pela Idade Média.
valor maior da existência. Podemos observar até                 Entretanto, a partir da segunda metade do sécu-
os dias de hoje que o trabalho ainda é utilizado e           lo XVIII, iniciou-se na Inglaterra a mecanização
valorizado como ponto central da dinâmica social             industrial, desviando a acumulação de capitais da
em que atuamos, sem que haja uma reflexão maior              atividade comercial para o setor da produção. Esse
sobre o contexto em que ela foi gerada e com que             fato trouxe grandes mudanças, tanto de ordem eco-
finalidade, pois à época era necessário incutir esse         nômica quanto social, que possibilitaram o desapa-
ideal, pois o capitalismo iniciava seu processo de           recimento dos restos das relações e práticas feudais
desenvolvimento como novo modelo econômico e                 ainda existentes e a definitiva implantação do modo
precisava conquistar aliados para seu ideal.                 de produção capitalista.
   Para o entendimento dos fatores que envolvem
a crise do mundo do trabalho atual, é fundamen-               Simultaneamente ao desenvolvimento do capital tam-
tal a compreensão do desenvolvimento histórico da             bém se desenvolve o proletariado, a classe operária
sociedade capitalista. Para tanto é preciso situar a          moderna, que para Marx e Engels, (2001):
transição do regime feudal ao capitalista pela expan-         (...) vivem apenas na medida em que encontram tra-
são ultramarina e a formação de novos mercados: o             balho e que só encontram trabalho na medida em que
mercado das Índias Orientais e da China, a coloni-            o seu trabalho aumente o capital. Tais operários, obri-
zação da América, o intercâmbio com as colônias, o            gados a se vender por peça, são uma mercadoria como
aumento dos meios de troca e das mercadorias em               qualquer outro artigo de comércio...”
geral deram ao comércio, à navegação e à indústria
um impulso jamais conhecido e, em conseqüência,                 Nessa fase inicial do capitalismo notadamente, o
favoreceram o rápido desenvolvimento do elemen-              proletariado acaba concentrado em grandes massas,
to revolucionário na sociedade feudal em decom-              submetidas a péssimas condições de trabalho.
posição.                                                        A primeira metade do século XX foi marcada por
   Diante do crescimento desses novos mercados,              uma série de calamidades: as duas guerras mun-
o modo de exploração feudal não atendia mais às              diais, os impérios coloniais que ruíram, duas ondas
suas necessidades, dando lugar à manufatura, subs-           de rebelião e revolução que significaram a ascensão

                                                        21
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social

ao poder de um sistema colocado como alternativa              ma capitalista, um grau esclarecedor do processo
histórica à sociedade burguesa e que, após a Segunda          de desenvolvimento filogenético da espécie e repre-
Guerra Mundial, representou um terço da popula-               sentativo da condição humana. O exercício de ativi-
ção mundial. Além disso, o ano de 1929 apresentou             dades coletivas e de trabalho conjunto é apontado
uma crise econômica sem precedentes, até mesmo                como responsável pelo surgimento das especifici-
abalando economias capitalistas mais fortes, cau-             dades próprias do homo sapiens, como pensamento,
sando o quase desaparecimento das instituições e              consciência e linguagem (LEONTIEV, 1978). Por
da democracia liberal.                                        meio da análise do trabalho alienado, Marx (1989)
  Enquanto a economia balançava, as instituições              o apresenta como conferindo a qualificação de hu-
da democracia liberal praticamente desapareceram              mano ao seu portador, a partir de uma concepção
entre 1917 e 1942; restaram apenas uma borda da               de natureza humana que se constitui na inserção no
Europa e partes da América do Norte e da Austrália.           mundo das relações sociais.
Enquanto isso, avançavam o fascismo e os movi-                   O trabalho é um momento efetivo de colocação
mentos e regimes autoritários.                                de finalidades humanas, dotado de intrínseca di-
    A democracia só se salvou porque houve uma                mensão teleológica. E, como tal, mostra-se como
aliança temporária entre o capitalismo liberal e o co-        uma experiência elementar da vida cotidiana, nas
munismo: basicamente a vitória sobre a Alemanha               respostas que oferece às necessidades sociais. Reco-
de Hitler foi conseqüência do Exército Vermelho.              nhecer o papel fundamental do trabalho na gênese
De muitas maneiras, esse período de aliança capita-           e no fazer-se do ser social nos remete diretamente à
lista-comunista contra o fascismo – sobretudo nas             dimensão decisiva dada pela esfera da vida cotidia-
décadas de 1930 e 1940 – constitui o ponto crítico            na, como ponto de partida para a generalidade para
                                                              si dos homens (ANTUNES, 2001, p. 168).
da história do século XX e seu momento decisivo.
                                                                 O trabalho aparece, definitivamente, como um
  Após a depressão de 1929, o fascismo e a guerra,
                                                              operador fundamental na própria construção do
houve um surpreendente salto para a Era do Ouro
                                                              sujeito, revelando-se também como um mediador
(denominação de Eric Hobsbawn), que dura de
                                                              privilegiado, senão único, entre inconsciente e cam-
1947 a 1973.
                                                              po social e entre ordem singular e ordem coletiva.
   Neste contexto a recuperação dos estragos da
                                                              Não é apenas um teatro aberto ao investimento
guerra foi a prioridade para os países europeus e
                                                              subjetivo, mas um espaço de construção do sentido
o Japão, sendo que ela significava, acima de tudo,
                                                              e, portanto, de conquista de identidade, da conti-
o medo de revolução social e avanço comunista. A
                                                              nuidade e da historicização do sujeito (DEJOURS e
partir de meados da década de 1950, os avanços ma-
                                                              ABDOUCHELI, 1994).
teriais se tornaram palpáveis para estas nações.
                                                                 Em uma perspectiva materialista histórico-dialé-
   Este grande desenvolvimento foi alcançado gra-
                                                              tica, o trabalho é a fonte de toda riqueza, conforme
ças à implantação de modelos de produção que se
                                                              explicitado por Engels no texto O papel do trabalho
disseminaram pelas indústrias de todo o mundo,                na transformação do macaco em homem, fonte tam-
buscando a ampliação de mercados a partir da pro-             bém de prazer e de realização humanas. A categoria
dução para um mercado de massa. Estudaremos                   ontológica do marxismo permite entender que, ao
mais detalhadamente esses modelos de produção                 realizar trabalho, o ser humano abandona a depen-
nas próximas aulas.                                           dência para com a natureza e adentra a aventura do
                                                              especificamente humano. Visto assim, o trabalho é
CONSIDERAÇÕES FINAIS                                          produto do homem e ao mesmo tempo produtor
  O trabalho alcançou, na sociedade ocidental, a              do ser, da cultura e da civilização humana, objeti-
partir da implantação e da consolidação do siste-             vando sistemas de comunicação e de inter-relação

                                                         22
AULA 1 — Trabalho e Relações Sociais na Sociedade Contemporânea

humanos que determinaram o desenvolvimento de               existência em tempos distintos, porém articulados à
nossa sociedade. Trabalhar, então, tem o significado        dimensão da produção necessária ao capital. A alie-
de garantir as condições objetivas e subjetivas para        nação do trabalho consiste no fato de o trabalhador
a manutenção e o desenvolvimento da existência do           não conseguir ter a visão de pertencer ao processo
homem, o que só poderia trazer satisfação e prazer.         de produção, de ser o gerador de um determinado
   Entretanto, quando se analisa o sistema produ-           produto, de fazer parte daquele trabalho; ele acaba
tivo capitalista, o trabalho, para uma grande fatia         não se reconhecendo como parte do produto final.
da população, deixa de possuir tais possibilidades e        Esse conceito é muito importante para o futuro pro-
expectativas e se consolida, na verdade, como fon-          fissional de serviço social, porque ele é fator gerador
te de desprazer, causando tensão e sofrimento, não          de sérios mecanismos desencadeadores de mal-es-
permitindo a criatividade e até mesmo o usufruto            tar, sofrimento e desigualdades na esfera social.
de seus resultados. Todos esses motivos consolidam             Assim, concluindo, observamos a importância do
um tipo de trabalho chamado por Marx de traba-              trabalho na interação do ser humano com os outros
lho alienado, haja vista que se baseia na exploração        e na formação da sociedade e sua estruturação em
do tempo de trabalho do trabalhador e divide sua            torno do trabalho.



  *    AnOTAÇõES




                                                       23
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social
Unidade Didática – Processo de Trabalho em Serviço Social
                                                                                                        AULA

                                                                                 ____________________          2
                                                                              DIVISãO SOCIAL DO TRABALHO

                                                            Conteúdo
                                                            • A divisão social do trabalho
                                                            • A estruturação da sociedade capitalista


                                                            Competências e habilidades
                                                            • Entender como se dão a divisão social do trabalho e os seus reflexos em outros setores da sociedade
                                                            • Compreender a importância para o serviço social da divisão social do trabalho
                                                            • Refletir sobre a repercussão da divisão social do trabalho no cotidiano dos trabalhadores


                                                            Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal
                                                            • Os textos para auto-estudo e as atividades serão disponibilizados no portal.
                                                            • Sites relacionados: http://mariag.multiply.com/reviews/item/135
                                                            • Filme: Tempos Modernos. De e com Charles Chaplin, fala sobre o modo da produção capitalista,
                                                              retratando a exploração do trabalho e a forma mecanicista adotada no trabalho da indústria a partir
                                                              do início do século XX.


                                                            Duração
                                                            2h/a – via satélite com o professor interativo
                                                            2h/a – presenciais com o professor local
                                                            6h/a – mínimo sugerido para auto-estudo




     INTRODUÇÃO                                                                                              ria e determinado pelo tempo de trabalho socialmen-
        Veremos como nasceram as teorias clássicas da                                                        te necessário para a produção da mercadoria.
     Economia para podermos entender como foram                                                                 Desenvolveu o estudo sobre a mercadoria a partir
     elaboradas as teorias sobre o trabalho.                                                                 do pressuposto de que a riqueza das sociedades, regi-
        A economia política clássica nasceu na Inglaterra, o                                                 das pela produção capitalista, é a acumulação de mer-
     mais evoluído país capitalista. Estudando o seu regime                                                  cadorias (considerada em qualidade e quantidade) e
     econômico, Adam Smith e David Ricardo lançaram as                                                       que a mercadoria, a forma elementar dessa riqueza,
     bases da teoria do valor do trabalho. Marx deu um                                                       possui dois fatores: valor de uso e valor de troca.
     fundamento estritamente científico a essa teoria, de-                                                      O valor de uso está relacionado à utilidade da
     senvolvendo-a de maneira coerente, e inovou-a com o                                                     mercadoria, sua utilização ou seu consumo, e é con-
     conceito de valor como sendo intrínseco à mercado-                                                      siderado como o conteúdo material da riqueza.

                                                                                                      24
AULA 2 — Divisão Social do Trabalho

                                                                      e sua aplicação tecnológica, a organização social
 Marx observa que para se chegar ao valor-de-uso e
                                                                      do processo de produção e as condições naturais.
 como conseqüência gerar a riqueza material não basta
                                                                      (...) Generalizando: quanto maior a produtividade
 apenas o trabalho, é necessário combiná-lo com os re-
                                                                      do trabalho, tanto menor o tempo de trabalho re-
 cursos naturais, como nessa passagem:
                                                                      querido para produzir uma mercadoria, e quanto
         “O homem, ao produzir, só pode atuar como
                                                                      menor a quantidade de trabalho que nela se crista-
         a própria natureza, isto é, mudando as formas
                                                                      liza, tanto menor seu valor. Inversamente, quanto
         da matéria. E mais. Nesse trabalho de trans-
                                                                      menor a produtividade do trabalho, tanto maior
         formação, é constantemente ajudado pelas
                                                                      o tempo de trabalho necessário para produzir um
         forças naturais. O trabalho não é, por conse-
                                                                      artigo e tanto maior seu valor. A grandeza do valor
         guinte, a única fonte dos valores de uso que
                                                                      de uma mercadoria varia na razão direta da quanti-
         produz da riqueza material. Conforme diz
                                                                      dade e na inversa da produtividade do trabalho que
         Willian Petty, o trabalho é o pai, mas a mãe é
                                                                      nela se aplica.”
         a terra.” (p. 50)
                                                                 DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
   Quando a mercadoria passa a ser trocada por ou-                  Para Marx, em seu livro Manifesto Comunista, a
tra, ela adquire um valor de troca e, se for trocada             sociedade moderna não substituiu a luta de clas-
por mais de uma mercadoria, diz-se que pode ter                  ses, apenas trocou classes antigas por novas, novas
um ou mais valores de troca de espécies diferentes.              condições de opressão e, da mesma forma, novas
Como exemplo, Marx cita a possibilidade de uma                   formas de condições de luta. Nessa época da bur-
quantidade de trigo ser trocada por uma quantida-                guesia a sociedade cada vez mais caminhava para
de de seda, outra de ouro e outra de graxa.                      dois grandes blocos inimigos – o proletariado e a
   Na relação de troca entre a quantidade de um                  burguesia –, tendo passado, para Marx e Engels, por
produto e a de outro é que se percebe o seu valor. E             um longo processo de desenvolvimento, pelos dife-
o valor é entendido como a quantidade de dispên-                 rentes modos de produção, haja vista o vertiginoso
dio do trabalho humano, da força de trabalho gas-                papel fundamental que ocupou a burguesia ao lon-
ta em sua produção ou, melhor, da quantidade de                  go da história.
trabalho humano que nele se armazenou (trabalho                     Marx concebe a idéia de que a sociedade está
humano abstrato). A quantidade de trabalho mede-                 dividida em classes, cada uma com suas regras e
se pelo tempo de sua duração e o tempo de trabalho,              condutas apropriadas, mas que estão inseridas em
por frações do tempo, como hora, dia, etc.                       um único sistema, que é o modo de produção ca-
   Há desdobramentos a serem considerados para                   pitalista. A divisão social do trabalho é para Marx
se compreender a substância do valor de uma mer-                 “a totalidade das formas heterogêneas de trabalho
cadoria, que é o trabalho. Valor é mais bem enten-               útil, que diferem em ordem, gênero, espécie e va-
dido conjugando quantidade produzida com a pro-                  riedade” (O Capital I, Cap. I).
dutividade alcançada nesse processo de produção,                    É interessante observar que Marx considera a
conforme Marx (p. 46-47) explana:                                divisão do trabalho não só como um meio para se
                                                                 alcançar a produção de mercadorias, mas considera
     “A grandeza do valor de uma mercadoria perma-
     neceria, portanto, invariável, se fosse constante o
                                                                 a divisão de tarefas entre os indivíduos, e ainda nas
     tempo do trabalho requerido para sua produção.              relações de propriedade. Assim, a divisão do traba-
     Mas este muda com qualquer variação na produti-             lho e a especialização das atividades em classes são
     vidade (força produtiva) do trabalho. A produtivi-          basicamente a divisão dos meios de produção e da
     dade do trabalho é determinada pelas mais diversas          força de trabalho. Modernamente, essa divisão se
     circunstâncias, entre elas a destreza média dos tra-        refere também à divisão internacional do trabalho,
     balhadores, o grau de desenvolvimento da ciência            que trata do trabalho nos diversos países e da divi-

                                                            25
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social

são sexual do trabalho, referindo-se às diferencia-            Revolução Industrial que se intensificaram-se e se
ções de gênero e de sexo feitas no trabalho.                   fragmentaram as tarefas, aumentando, por sua vez,
                                                               a produtividade.
 No dicionário do Pensamento Marxista de Tom Bot-                  Observem que, nesse contexto, a força de traba-
 tomore (p. 112) encontramos a seguinte definição              lho se torna uma mercadoria, vendida ao empresá-
 para a divisão do trabalho:                                   rio capitalista por um salário, o que vem a reforçar
         Primeiro, há a divisão social do trabalho, en-        a teoria do economista inglês Adam Smith, de que
         tendida como o sistema complexo de todas              o trabalho seria a verdadeira fonte de riqueza da
         formas úteis de trabalho que são levadas a            sociedade. Esse conceito foi apropriado e ampliado
         cabo independentemente umas das outras                por Marx, o qual demonstra que a força de traba-
         por produtores privados, ou seja, no caso do          lho significa criação de valor, mas este é um valor
         capitalismo, uma divisão do trabalho que se           apropriado pelo capitalista e que aparentemente se
         dá na troca entre capitalistas individuais e          “perde” dentro do produto.
         independentes que competem uns com os
                                                                   A força de trabalho, ao ser negociado como mer-
         outros.
                                                               cadoria, promove a completa separação do traba-
         Em segundo lugar, a divisão de trabalho en-
                                                               lhador dos meios de produção, alienando o homem
         tre trabalhadores, cada um dos quais execu-
                                                               de sua própria essência, que é o trabalho. Assim, a
         ta uma operação parcial de um conjunto de
         operações que são todas executadas simulta-
                                                               divisão social do trabalho e a divisão industrial do
         neamente e cujo resultado é o produto social          trabalho promovem a alienação e destroem as rela-
         do trabalhador coletivo. Esta é uma divisão           ções entre os homens, uma vez que eles não têm do-
         de trabalho que se dá na produção, entre o            mínio do processo de produção e não se beneficiam
         capital e o trabalho em seu confronto dentro          do produto de seu trabalho.
         do processo de produção. Embora esta divi-                É sobre essa base material que se ergue a superes-
         são do trabalho na produção e a divisão de            trutura da sociedade moderna, segundo Marx. A su-
         trabalho na troca estejam mutuamente rela-            perestrutura é formada pela esfera jurídica, política e
         cionadas, suas origens e seu desenvolvimento          ideológica da sociedade, que, por sua vez, representa a
         são de todo diferentes.                               forma como os homens estão organizados no proces-
                                                               so produtivo. Como afirma Marx: “O modo de pro-
   Para Marx, as relações sociais de produção divi-            dução condiciona o desenvolvimento da vida social,
dem os homens entre proprietários e não-proprie-               política e intelectual em geral.” Nesse sentido, o Esta-
tários dos meios de produção. Esta formação, carac-            do surge para garantir o interesse da classe dominan-
terística da sociedade capitalista, expressa as desi-          te. Apesar de o Estado liberal difundir a idéia da defe-
gualdades nas quais se baseiam as classes sociais.             sa da igualdade, Marx assim denuncia no Manifesto
   Aqui cabe salientar que, no entender de Marx, a             do Partido Comunista (1848): “A sociedade burguesa
divisão social do trabalho sempre existiu em todas             moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal,
as sociedades. Essa divisão é inerente ao trabalho             não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão
humano e ocorre em relação a tarefas econômicas,               substituir novas classes, novas condições de opressão,
políticas e culturais. Desde as sociedades tradicio-           novas formas de luta às que existiram no passado”,
nais, a divisão do trabalho correspondia à divisão de          referindo-se aos nobres e senhores feudais.
papéis por gênero, sendo sucedidas, mais tarde, pela               Marx ressalta aqui a idéia de que é a burguesia a
divisão das atividades como a agricultura, o artesa-           classe social que irá controlar o poder político, ide-
nato e o comércio. A divisão do trabalho surge com             ológico e jurídico da sociedade.
o excedente da produção e a apropriação privada                    O estado de alienação do proletariado, resultado
das condições de produção. Foi ainda por meio da               da divisão do trabalho, também se reflete nessas for-

                                                          26
AULA 2 — Divisão Social do Trabalho

mas de dominação da burguesia. Marx afirma que                   tão integrados na coletividade pela tradição e pelo
o Estado é um instrumento criado pela burguesia                  costume, ou seja, por uma consciência coletiva que
para garantir seu domínio econômico sobre o pro-                 indica suas formas padronizadas de pensamento ou
letariado, preservando e protegendo a propriedade                conduta. O tipo de solidariedade apresentado nes-
privada dos meios de produção. O aparato jurídi-                 sas sociedades é a solidariedade mecânica.
co, por sua vez, seria o responsável por garantir a                 A solidariedade orgânica seria a solidariedade
igualdade entre os homens, camuflando a divisão                  típica da sociedade capitalista moderna. Essa soli-
da sociedade entre classes sociais distintas e com in-           dariedade decorre da evolução da sociedade, que
teresses opostos. A ideologia seria a encarregada de             promove a diferenciação social por meio da divi-
difundir a visão de mundo e os valores burgueses,                são do trabalho. Portanto, a função da divisão so-
legitimando e consolidando seu poder. Conforme                   cial do trabalho seria a de criar um sentimento de
afirma Marx (1993):                                              solidariedade entre os homens. Para Dürkheim, as
                                                                 diferenças sociais criadas pela divisão social do tra-
     “As idéias da classe dominante são, em cada época,
                                                                 balho unem os indivíduos pela necessidade de troca
     as idéias dominantes, isto é, a classe que é a força
     material dominante da sociedade é, ao mesmo tem-            de serviços e pela sua interdependência: “O ideal de
     po, sua força espiritual dominante. A classe que tem        fraternidade humana só pode ser realizado na razão
     à sua disposição os meios de produção material dis-         do progresso da divisão do trabalho.”
     põe, ao mesmo tempo, dos meios de produção es-                 Esta é uma das diferenças fundamentais entre
     piritual, o que faz com que a ela sejam submetidas,         a teoria marxista e a teoria durkheimiana. Para
     ao mesmo tempo e em média, as idéias daqueles               Marx, as sociedades tradicionais apresentam uma
     aos quais faltam os meios de produção espiritual.           forma de divisão do trabalho, mesmo que baseadas
     As idéias dominantes nada mais são do que a ex-             na idade, gênero ou força física. O que diferencia
     pressão ideal das relações materiais dominantes, as         essa forma de divisão natural do trabalho pela divi-
     relações dominantes concebidas como idéias; por-
                                                                 são do trabalho no capitalismo é a ausência de um
     tanto, a expressão das relações que tomam a classe
                                                                 excedente na produção.
     dominante; portanto, as idéias de sua dominação.”
                                                                    Se para Dürkheim a divisão social do trabalho
   Para Marx, a divisão do trabalho se estende para              gera solidariedade, para Marx, a divisão do trabalho
além da produção material e exerce uma função de                 expressa os meios de segmentação da sociedade. Em
dominação da classe burguesa sobre a classe prole-               caráter primeiro, a divisão do trabalho se refere à
tariada. Essa dominação se expressa nas formas de                apropriação dos meios de produção pelo empresário
segmentação da sociedade, seja pela divisão social               capitalista; em segundo, essa apropriação que distan-
do trabalho ou pela sua divisão industrial.                      cia o trabalhador dos meios de produção distancia o
   No que se refere à divisão do trabalho, Dürkheim,             trabalhador de si mesmo, provocando nele um estado
sociólogo e autor de um estudo sobre a divisão so-               de alienação. Como vemos, ao se dividir a sociedade
cial do trabalho, considera que a característica fun-            entre proprietários e não-proprietários dos meios de
damental da sociedade moderna é a divisão social                 produção, as classes sociais que daí surgem passam
do trabalho, porque suas diferentes esferas se dife-             a lutar por interesses antagônicos, apesar da interde-
renciam entre si e se especializam, o que concorre               pendência que se estabelece entre elas.
para a integração dos indivíduos na sociedade.                      Para Marx, a sociedade moderna está organizada
   Dürkheim considera a existência da divisão social             sobre a produção econômica da mais-valia, ou seja,
do trabalho como determinante do grau de coesão                  a exploração da força de trabalho proletária pela
entre os indivíduos de uma determinada sociedade.                classe burguesa. Portanto, o sistema capitalista pro-
No caso das sociedades tradicionais, como não há                 porciona à burguesia a difusão de suas ideologias
uma divisão social do trabalho, os indivíduos es-                por meio do controle do aparelho do Estado.

                                                            27
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social

   Enfim, para Dürkheim, a divisão social do tra-                divisão do trabalho gera uma relação de exploração
balho irá ocupar o lugar da Igreja, do Estado e das              da classe burguesa sobre o proletariado, promoven-
demais instituições sociais na função de integrar o              do a sua alienação por meio da propriedade priva-
indivíduo ao corpo social, promovendo a coesão na                da dos meios de produção. Nesse caso, a alternativa
sociedade, levando-a ao progresso, o que se dará                 para a classe proletária será promover uma revolu-
por meio da especialização de funções que cria uma               ção capaz de solucionar os antagonismos sociais,
interdependência entre os indivíduos. Para Marx, a               eliminando a sociedade de classes.


                                                        SÍnTESE

         QUAL O SIGNIFICADO DO TRABALHO?                         • QUAL O SIGNIFICADO DO TRABALHO NO CAPITALIS-
 • É a expressão de funcionamento, “metabólica”, entre o           MO?
   ser social e a natureza.                                      • O trabalho se transforma em valor de troca.
 • O homem, por meio do trabalho, transforma a natureza          • O homem vende sua força de trabalho para realizar a
   e produz coisas com valor de uso.                               reprodução social – consumir e produzir.
 • O trabalho tem, desde o seu nascimento, uma in-               • É um trabalho alienado – o trabalhador não se reconhe-
   tenção voltada para o processo de humanização do                ce naquilo que produz, não conhece nem domina todo
   homem em seu sentido amplo – nas inter(ações) que               o processo de produção.
   realiza.                                                      • O trabalhador não é o dono dos meios de produção e de
 • É por meio do trabalho que o homem se reconhece en-             trabalho.
   quanto sujeito histórico capaz de agir e transformar a        • Baseia-se no lucro e na mais-valia, ou seja, no excedente do
   sua realidade.                                                  trabalho humano, que não é repassado ao trabalhador.




                                            ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO:


 • É FEITA POR MEIO DA DIVISÃO DO TRABALHO
 • DIVISÃO DE TAREFAS: O CONTEÚDO, O RITMO
 • DIVISÃO DE HOMENS: RESPONSABILIDADES, SISTEMA HIERÁRQUICO, RELAÇÕES DE PODER E CONTROLE
 • DIVISÃO BASEADA NA ESPECIALIZAÇÃO FUNCIONAL DO TRABALHO = BUROCRACIA




  *    AnOTAÇõES




                                                            28
AULA 3 — Produção Social e Valor


                                              AULA

                                                     3




                                                                                                              Unidade Didática – Processo de Trabalho em Serviço Social
                       ____________________
                       PRODUÇãO SOCIAL E VALOR

  Conteúdo
  • O trabalho social
  • O processo de produção social

  Competências e habilidades
  • Aprofundar o conhecimento sobre relações de trabalho
  • Analisar a importância do trabalho como fator de geração de capital e de riqueza
  • Refletir sobre a importância para o serviço social dos aspectos relacionados com a geração de riqueza
    e os efeitos sobre o ser humano

  Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal
  • Os textos para auto-estudo e as atividades serão disponibilizados no portal
  • Sites relacionados: http://www.mpt.gov.br
  • Filme: Gaijin – Caminhos da Liberdade – 1980, Brasil
    Diretora: Tizuka Yamazaki
    Em meio às festas comemorativas ao centenário da imigração japonesa para o Brasil, este filme nos
    faz refletir sobre o contexto e os conflitos em que se deu este processo histórico. A miséria e a falta
    de perspectivas de trabalho no Japão “empurraram” muitos nativos a emigrarem em busca de novas
    oportunidades.

  Duração
  • 2h/a – via satélite com o professor interativo
  • 2h/a – presenciais com o professor local
  • 6h/a – mínimo sugerido para auto-estudo




INTRODUÇÃO                                                     emprego ou em outras formas de atuação na socie-
   Colocamos no primeiro capítulo a importância                dade. Deriva daí, assim, a importância que tantos
do trabalho para o desenvolvimento físico, psicoló-            estudiosos dão ao tema trabalho.
gico e social do ser humano, pois é pelo exercício                A centralidade do trabalho precisa ser focalizada
de determinadas tarefas que sentimos a necessidade             tendo em vista o processo de produção e reprodu-
de desenvolver habilidades técnicas, tanto manuais             ção material da vida humana em sociedade, em sua
como mentais, e também nos relacionamos com                    interação com os outros homens e com a natureza.
os outros, ampliando nosso círculo de relações no              É dessa maneira que os homens produzem para si

                                                          29
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social

próprios, a sociedade e as próprias formas sociais
                                                               Nessa sociedade atual o nexo com o trabalho é contra-
em que produzem, ou seja, é por essa forma que o
                                                               ditório. A melhor formulação disso ainda é de Marx:
homem produz as riquezas humanas e consegue dar
                                                               “O capital é, ele próprio, a contradição em processo
prosseguimento ao desenvolvimento social.                      (porque) procura reduzir o tempo de trabalho a um
   O trabalho social tem uma dupla “natureza”, por-            mínimo, ao mesmo tempo em que, de outro lado, dis-
que ele é tanto o trabalho envolvido no processo de            põe o tempo de trabalho como única medida e fonte
produção da sociedade em que se trabalha, que de-              da riqueza (...) Por um lado conclama à vida todos os
termina socialmente, quanto o trabalho concreto na             poderes da ciência e da natureza, bem como da com-
sociedade vigente, socialmente determinado, isto é,            binação social e do intercâmbio social para tornar a
uma via de mão dupla onde temos o homem exer-                  criação da riqueza (relativamente) independente do
cendo suas habilidades socialmente e a sociedade               tempo de trabalho neles aplicado. De outro lado, pre-
determinando a forma de atuação do ser humano.                 tende medir as enormes forças sociais assim criadas
                                                               pelo tempo de trabalho e aprisioná-las nos limites exi-
   De volta a Marx, um dos maiores estudiosos do
                                                               gidos para conservar como valor o valor já criado.”
tema trabalho, ele se refere a essa questão no capítu-
lo seis, Inédito, de O Capital:
   “(...) os economistas burgueses, enredados nas                Percebam que o capitalismo se estrutura na so-
idéias capitalistas, vêem sem dúvida como se pro-             ciedade de forma a tentar manter-se e por isso apre-
duz no interior da relação capitalista, mas não como          senta a relação capital e trabalho como a necessária
se produz esta relação propriamente dita (...)”               para a manutenção da vida social, para gerar rique-
   Temos assim que a denominada “sociedade do                 zas, gerando um nexo de dependência da socieda-
trabalho” é uma construção social constituída por             de em todas as suas formas sociais com o trabalho,
homens e mulheres no curso do processo de re-                 ao mesmo tempo em que ocorre uma dominação
produção de sua vida material, na interação social            social em função desse trabalho, que se exerce por
e com a natureza. Vivemos numa sociedade capi-                meio do próprio trabalho, “aprisionado nos limites
talista focada no trabalho sob a forma social de-             exigidos para conservar como valor o valor já cria-
terminada da acumulação do capital. O processo                do”. Ou melhor, junto com uma tendência à genera-
de construção da sociedade capitalista exigiu uma             lização da “natureza” social capitalista como socie-
série de condições históricas antes não existentes            dade do trabalho, há uma imposição dos critérios e
– uma ética do trabalho, a conversão de trabalho              das condições da acumulação em todos os âmbitos
em mercadoria, o apoio social à acumulação sem                das relações dos homens entre si. O próprio modo
propósito de uso – apontadas de modo exemplar                 de apreender a sociedade por parte de seus sujeitos
na obra de Max Weber, A ética protestante e o espí-           efetivos se encontra marcado pelas determinações
rito do capitalismo.                                          da sociedade do capital, tudo girando em torno da
   Para nós, em nosso dia-a-dia, a formação social            produção de riquezas e consumo. O capitalismo
assim constituída parece natural, como produto                quer, mediante os mecanismos sociais, manter-se,
abstraído do processo de formação material. En-               privilegiando o capital em detrimento da mão-de-
caramos a constituição atual da sociedade, pautada            obra, que trabalha por meio do convencimento de
no trabalho com base na ideologia capitalista, como           que essa é a única forma de se produzir trabalho. E
sendo parte integrante e imutável de nossa socieda-           as instituições são organizadas de forma a reprodu-
de. Mas esquecemos que nem sempre foi assim, já               zir as formas de vida social necessárias à prolonga-
passamos por diversos modelos de produção, como               ção da vida dessa forma de exploração econômica.
o feudalismo, por exemplo, e continuaremos ainda                 Existe uma relação necessária entre formação
adiante vivenciando outras formas de geração de               social, capital e trabalho, isso é evidente, porque o
riquezas.                                                     trabalho representa algo de muito valor para o ser

                                                         30
AULA 3 — Produção Social e Valor

humano, mas há uma tendência à dominação do                  bendo por ele menos do que muitas vezes produziu
capital sobre o trabalho que configura uma deter-            no mês.
minada formação social. Portanto, há na formação                “Sem produção”, afirma Marx, “não há consumo,
social vigente uma estrutura de dominação no que             porém sem consumo tampouco há produção, já que
se apresenta como relações entre capital e trabalho.         neste caso a produção não teria objeto.” A reprodu-
A sociedade capitalista existente é uma sociedade            ção social revela-se inicialmente como um processo
do trabalho pela perspectiva dominante do capital,           produtivo, forma pela qual o ser social integra-se
que desenvolve formas de dominação. A base des-              à natureza, garantindo sua autoperpetuação. Marx
sa dominação seria apreendida por Marx enquanto              alinha produção, distribuição, intercâmbio e consu-
processo de alienação na relação dos homens com              mo, afirmando que: “O resultado a que chegamos
a sociedade e a natureza, a partir de sua análise do         não é que a produção, a distribuição, o intercâmbio
trabalho alienado enquanto processo de objetiva-             e o consumo sejam idênticos, senão que constituem
ção invertida, em que se constitui uma abstração do          as articulações de uma totalidade, diferenciações
produto em relação ao seu processo de produção.              dentro de uma unidade.”
   Nas palavras de Marx, trata-se de “uma formação              Marx, por sua vez, abre O Capital chamando a
social onde o processo de produção domina os ho-             atenção para o fato de que a riqueza – uma catego-
mens e os homens ainda não dominam o processo                ria aparentemente absoluta – é, na verdade, histórica
de produção”.                                                e socialmente determinada. No modo de produção
   Isso porque para esse autor poderia ser diferen-          capitalista, a unidade essencial da riqueza não é o
te. A sociedade poderia não privilegiar o capital e a        bem material – o valor de uso –, mas a mercadoria,
propriedade privada, dando ênfase ao proprietário            marcada pela dupla determinação de valor de uso –
da mão-de-obra, o trabalhador, mas tal não ocorre            conteúdo material da riqueza – e valor de troca – seu
devido ao processo que denominou de alienação, no            conteúdo social. O valor de troca, que historicamente
qual o trabalhador não se vê como proprietário dos           se sobrepõe ao valor de uso, é uma unidade absoluta-
bens produzidos, pois não detém a propriedade das            mente social, cuja grandeza é determinada pelo tem-
ferramentas de produção e por isso se deixa explo-           po de trabalho socialmente necessário à produção de
rar vendendo o que possui, sua força de trabalho, ao         um determinado valor de uso – reduzido a mero su-
empresário, dono da indústria ou da empresa, por             porte daquele. Se seguirmos acompanhando a análise
um determinado valor.                                        de Marx ao longo do primeiro capítulo de O Capital,
   Ocorre que isso gera o que Marx chamou de mais-           ao duplo caráter da mercadoria corresponde o duplo
valia, que é o valor que não é entregue ao empregado         caráter do trabalho: trabalho concreto – produtor de
pelo desempenho de seu trabalho. Exemplificando,             valor de uso, riqueza material – e trabalho abstrato –
o valor que o proprietário da empresa paga ao tra-           produtor de valor, cuja objetividade é absolutamente
balhador não inclui na realidade tudo o que deveria          social. Nesse contexto, a contradição entre as forças
ser pago a ele, porque o empresário paga somen-              produtivas e as relações de produção, tal como postu-
te um valor que atribui na categoria salário e nesse         lada por Marx, está diretamente vinculada ao caráter
valor não está incluído todo o valor da mercadoria           social da riqueza, ou seja, ao valor, que é a manifesta-
que foi produzida. Então, o que resta e não é pago           ção social desta sob o capitalismo. É importante ob-
ao trabalhador fica nas mãos do empresário, que se           servar que, da perspectiva marxista, o trabalho não é
utiliza do valor da forma que lhe aprouver. A aliena-        compreendido como forma absoluta de produção do
ção ocorre porque o trabalhador não se apercebe do           mundo e da riqueza, mas num sentido absolutamen-
que produz porque não consegue ter consciência de            te histórico. O trabalho como elemento essencial da
todo processo produtivo e não visualiza em termos            riqueza sob o capitalismo é a abstração do trabalho
financeiros quanto é o valor do seu trabalho, rece-          concreto – dispêndio de força de trabalho (cérebro,

                                                        31
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social

músculos, nervos, mãos etc.) sem consideração pela            reitos estabelecidos na vida em sociedade, mas se o
forma como foi despendida – seja ele manual ou in-            sujeito é o mercado, o capital, o determinante social
telectual, que se desenvolve sobre certas condições           é a acumulação do capital, e toda a estrutura social
sociais específicas, ou seja, como trabalho assalaria-        irá girar em torno do crescimento desse capital.
do posto a serviço da valorização do capital. Assim, o           As condições de produção da mercadoria envol-
trabalho não é considerado como a forma universal             vem a divisão e a hierarquização do trabalho dos
e absoluta de atividade humana, de relação sujeito e          indivíduos, que vão fazer parte de um processo de
objeto, mas a forma social a que são convertidas as           trabalho que é coletivo. A divisão do trabalho não
atividades humanas em geral sob o capitalismo.                só potencia, dinamiza a capacidade produtiva, mas
   Para Marx, o trabalho é o próprio elemento es-             também limita o trabalhador a tarefas cada vez mais
truturador das relações sociais, haja vista constituir        “parciais”, mais “simples”, tarefas que restringem,
esse a atividade que permite a satisfação das ne-             no trabalhador, o uso de sua sensibilidade, de sua
cessidades básicas do indivíduo. O autor referido             criatividade, para executar com rigor aquilo que a
reconhece que a divisão do trabalho é responsável             máquina pede.
por um grande progresso material, mas contrapõe a                A história da sociedade industrial é uma história
esse um processo ininterrupto de alienação do indi-           de lutas dos trabalhadores contra a imposição da
víduo, ou seja, à medida que o modo capitalista de            disciplina do trabalho, da disciplina de quartel, da
produção evolui, o trabalho dos indivíduos passa a            organização e racionalização dos processos de tra-
ser encarado na sua forma abstrata, as mercadorias            balho, que geram o esvaziamento completo dos in-
parecem que adquirem vida própria e as relações               teresses e motivações pessoais no ato de trabalhar.
sociais passam a ser encaradas como relações entre               A produção da existência humana e a aquisição
coisas. A produção capitalista desenvolve-se em bus-          da consciência se dão pelo trabalho, pela ação sobre
ca do aumento da mais-valia relativa, visando a di-           a natureza. O trabalho, nesse sentido, não é empre-
minuir o valor da força de trabalho pela redução do           go, não é apenas uma forma histórica do trabalho
tempo necessário para a produção. Segundo Marx,               em sociedade, é a atividade fundamental pela qual
os indivíduos se realizam, por meio da execução de            o ser humano se humaniza, se cria, se expande em
alguma tarefa, também pelo trabalho. Entretanto,              conhecimento, se aperfeiçoa. O trabalho é a base
o modo capitalista de produção, ao impor um tra-              estruturante de um novo tipo de ser, de uma nova
balho parcelado e repetitivo, retira dos indivíduos a         concepção de história. O que nos permite fazer a
oportunidade de criar algo novo, colocando-os sub-            distinção entre duas formas fundamentais de traba-
missos à lógica capitalista de produção.                      lho: o trabalho como relação criadora, do homem
                                                              com a natureza, produzindo a existência humana,
O QUE É O TRABALHO ENTÃO?                                     o trabalho como atividade de autodesenvolvimen-
   O trabalho humano efetiva-se, concretiza-se em             to físico, material, cultural, social, o trabalho como
coisas, objetos, formas, gestos, palavras, ações coti-        manifestação de vida; e o trabalho nas suas formas
dianas, realizações materiais e espirituais. O ser hu-        históricas de sujeição, de servidão ou de escravidão,
mano cria e recria os elementos da natureza que es-           ou do trabalho moderno, assalariado, alienado na
tão ao seu redor e lhes confere novas formas e novos          sociedade capitalista.
sentidos. Dessa forma, o trabalho é o fundamento                 Dessa forma, entendemos que o trabalho funcio-
da produção material e espiritual do ser humano               na como uma forma que gera um produto que pode
para sua sobrevivência e reprodução.                          trazer satisfação ao ser humano, mas isso não ocor-
   O trabalho ou as atividades a que as pessoas se            re na sociedade capitalista porque existe o mascara-
dedicam são formas de satisfazer as suas necessida-           mento das contradições entre capital e trabalho para
des que, por sua vez, são os fundamentos dos di-              que essa forma de produção nunca deixe de existir.

                                                         32
AULA 3 — Produção Social e Valor

Ao mesmo tempo, existe o movimento contrário                     uma concepção de natureza humana que se consti-
para que se reorganize o trabalho, direcionem-se                 tui na inserção no mundo das relações sociais.
os objetivos para a realização do trabalhador por
meio de movimentos sociais, grupos organizados                    O trabalho é, portanto, um momento efetivo de co-
e inúmeras outras maneiras de questionamento e                    locação de finalidades humanas, dotado de intrínseca
reflexão.                                                         dimensão teleológica. E como tal mostra-se como uma
   Em síntese, as relações de trabalho na constru-                experiência elementar da vida cotidiana, nas respostas
ção da personalidade do trabalhador influenciam                   que oferece aos carecimentos e necessidades sociais.
os processos da alienação ou a reificação (coisifica-             Reconhecer o papel fundante do trabalho na gênese
                                                                  e no fazer-se do ser social nos remete diretamente à
ção), cujas origens residem nas relações capitalistas
                                                                  dimensão decisiva dada pela esfera da vida cotidiana,
de produção.
                                                                  como ponto de partida para a generacidade para si dos
   Quer se trate de caça num clã primitivo, quer do               homens (ANTUNES, 2001, p. 168).
trabalho agrícola de um servo ou da corvéia na terra
do senhor, os homens têm sempre consciência, em
                                                                    Os diversos locais de trabalho vão constituir-se
maior ou menor escala, da necessidade de produzir
                                                                 em oportunidades diferenciadas para a aquisição de
certos bens para alimentar-se, vestir-se etc. (GOLD-
                                                                 atributos qualificativos da identidade de trabalha-
MANN, 1967, p. 126).
                                                                 dor. São inúmeros os estudos que têm como tema
                                                                 a investigação de características identificatórias
 Para Goldmann (1967), é a sobrevivência que dá signi-
                                                                 próprias da classe operária e/ou de determinadas
 ficado ao trabalho, sendo que, nas sociedades de econo-
                                                                 categorias profissionais, os quais apontam que o
 mia de troca, o produto do trabalho tinha apenas valor
                                                                 exercício de certas atividades e o convívio com algu-
 de uso, trocava-se pela importância daquilo naquele
 momento. É nas sociedades pré-capitalistas (economia            mas relações sociais constituem modos de ser que
 mercantil) que o produto do trabalho passa a ser um             qualificam os pares como iguais (mesmo facultando
 bem, isto é, transforma-se em mercadoria. Essa trans-           diferenças individuais) e se expressam em compor-
 formação desloca o valor de uso do produto para o               tamentos similares (modos de vestir e de falar etc.).
 consumidor final e acrescenta o valor de troca, mas esse        Apontam, ainda, a incorporação desses modos de
 valor não é agregado ao salário do trabalhador.                 ser como constitutivos da identidade.
 Desse modo, o trabalho propriamente dito, aquele que
 envolve o produtor e o produto numa relação tal que a
                                                                 O PROCESSO DE PRODUÇÃO SOCIAL
 produção é como um objeto fabricado pelo produtor,
 reconhecendo-se em sua obra, passa a ser um traba-
                                                                    O processo de tornar-se homem acontece na cor-
 lho “abstrato”, em que a produção é qualitativamente            relação com o ambiente natural e humano, ou seja,
 igual, pois, seja o que for produzido, o valor de troca         o ser humano em desenvolvimento não somente se
 igualará tudo pelo nivelador comum – o preço – e o              correlaciona com o ambiente natural, como tam-
 produto do trabalho será todo dirigido para o mer-              bém com uma ordem cultural e social. Em suma,
 cado.                                                           está submetido a uma contínua interferência social-
                                                                 mente determinada; na verdade, a uma multiplici-
   O exercício de atividades coletivas e de trabalho             dade de determinações socioculturais. Embora se
conjunto é apontado como responsável pelo sur-                   possa dizer que o homem tem uma natureza, é mais
gimento das especificidades próprias do Homo sa-                 significativo dizer que ele constrói sua natureza, que
piens, como pensamento, consciência e linguagem                  ele se produz a si mesmo.
(LEONTIEV, 1978). Pela análise do trabalho alie-                    Os pressupostos genéticos do eu são, está claro,
nado, Marx (1989) o apresenta como conferindo a                  dados no nascimento. Mas o eu, tal como é experi-
qualificação de humano ao seu portador, a partir de              mentado mais tarde como uma identidade subjeti-

                                                            33
Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social

va e objetivamente reconhecível, não é. Os mesmos            trabalho e/ou categorias profissionais, pelas suas es-
processos sociais que determinam a constituição do           pecificidades próprias, em geral associadas a prestí-
organismo produzem o eu em sua forma particular,             gio ou desprestígio social, proporcionam atributos
culturalmente relativa (BERGER, 1985, p. 73).                de qualificação ou desqualificação do eu.
   O eu como produto social não se limita a como                Dejours (1993) relata que, a partir de seus estu-
o indivíduo entende ou se identifica como sendo              dos, foi possível mostrar que as pressões do trabalho,
ele mesmo, mas abrange o equipamento psicológi-              que põem particularmente em causa o equilíbrio
co (emoções, por exemplo) amplo, que serve como              psíquico e a saúde mental, provêm da organização
complemento. Disso tudo, deduz-se que o organis-             do trabalho em contraposição aos constrangimen-
mo humano e o eu não podem ser compreendidos                 tos perigosos para a saúde somática, que se situa
fora do contexto social em que se formaram. A                nas condições de trabalho, mais precisamente nas
instabilidade do organismo humano gera uma ne-               condições físicas, químicas e biológicas, cujo alvo
cessidade de que o homem forneça a si mesmo um               principal é o corpo.
ambiente estável para sua conduta.                              O trabalho também pode ser fonte de prazer e,
   A humanidade e a socialidade do homem estão               mesmo, mediador da saúde. Conforme Dejours
entrelaçadas, ou seja, ao se organizarem os fenôme-          (1993), em sua luta contra o sofrimento, às vezes,
nos humanos está-se entrando no reino do social.             o sujeito elabora soluções originais, que são favo-
Nesse reino, há uma ordem social que precede o de-           ráveis tanto à produção quanto à saúde. Tal forma
senvolvimento individual orgânico. Essa ordem so-            de sofrimento foi por ele denominada “sofrimento
cial é entendida por Berger (1985) como uma pro-             criativo”. Quando, ao contrário, nessa luta contra
gressiva produção humana, existindo como produ-              o sofrimento, o sujeito chega a soluções desfavo-
to da atividade humana. O ser humano, por sua vez,           ráveis tanto à produção quanto à sua saúde, esse
tem de estar continuamente se exteriorizando na              sofrimento caracteriza-se como “sofrimento pato-
atividade. As ações humanas tornadas habituais ad-           gênico”.
quirem um caráter significativo para o indivíduo.               Por intermédio do trabalho, o sujeito engaja-se
   Afirma Berger (1985, p. 87): “A sociedade é um            nas relações sociais, para onde transfere questões
produto humano. A sociedade é uma realidade ob-              herdadas de seu passado e de sua história afetiva.
jetiva. O homem é um produto social.”                        Cada vez que o trabalhador encontra solução para
   O sujeito aprende-se a si mesmo como essencial-           os problemas que lhe são colocados (atividade de
mente identificado com a ação socialmente obje-              concepção) e que obtém em troca reconhecimento
tivada. Depois da ação, acontece uma importante              social de seu trabalho, é também o sujeito sofredor,
conseqüência, que é a reflexão do sujeito sobre ela.         mobilizador de seu pensamento que recebe reco-
   Enquanto apresentada como um processo dialé-              nhecimento subjetivo à sua capacidade para conju-
tico, a identidade social facilita a incorporação de         rar a angústia e dominar seu sofrimento.
normas do grupo social, implica uma participação                Porém, o prazer obtido dessa gratificação tem
ativa do sujeito na construção da identidade gru-            curta duração, ressurgindo o sofrimento, impelin-
pal e afeta o contexto histórico onde ocorrem essas          do-o para outras situações de trabalho, novas apos-
relações concretas. Por sua vez, as estruturas socio-        tas organizacionais e novos desafios simbólicos. Por
lógicas influenciam as representações que os indi-           outro lado, sendo o reconhecimento a retribuição
víduos fazem de si enquanto representações do eu.            fundamental da sublimação, isso significa que esta
Da mesma forma, o caráter inter-relacional entre             representa um importante papel na conquista da
identidade pessoal e social pressupõe que não haja           identidade. Identidade e reconhecimento social
identidade pessoal que não, ao mesmo tempo e da              como condição de sublimação conferem à primeira
mesma forma, identidade social. Alguns espaços de            uma função essencial na saúde mental.

                                                        34
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2
Servico social 2009_5_2

More Related Content

What's hot

Servico social 2009_4_1
Servico social 2009_4_1Servico social 2009_4_1
Servico social 2009_4_1Léia Mayer
 
Servico social 2009_4_5
Servico social 2009_4_5Servico social 2009_4_5
Servico social 2009_4_5Léia Mayer
 
Servico social 2009_6_4
Servico social 2009_6_4Servico social 2009_6_4
Servico social 2009_6_4Léia Mayer
 
Servico social 2009_6_5
Servico social 2009_6_5Servico social 2009_6_5
Servico social 2009_6_5Léia Mayer
 
Servico social 2009_6_1
Servico social 2009_6_1Servico social 2009_6_1
Servico social 2009_6_1Léia Mayer
 
Servico social 2009_6_2
Servico social 2009_6_2Servico social 2009_6_2
Servico social 2009_6_2Léia Mayer
 
Administração escolar e pedagogia social2
Administração escolar e pedagogia social2Administração escolar e pedagogia social2
Administração escolar e pedagogia social2José Matias Alves
 
Jornal escolar 2011
Jornal escolar 2011Jornal escolar 2011
Jornal escolar 2011anabelaac
 
Guia de planejamento e orientações didáticas 4º ano
Guia de planejamento e orientações didáticas 4º anoGuia de planejamento e orientações didáticas 4º ano
Guia de planejamento e orientações didáticas 4º anoorientacoesdidaticas
 
Informatica para Administradores: usando o BR Office
Informatica para Administradores: usando o BR OfficeInformatica para Administradores: usando o BR Office
Informatica para Administradores: usando o BR OfficeRogerio P C do Nascimento
 
Guia de planejamento e orientações didáticas 2º ano vol 1
Guia de planejamento e orientações didáticas  2º ano vol 1Guia de planejamento e orientações didáticas  2º ano vol 1
Guia de planejamento e orientações didáticas 2º ano vol 1orientacoesdidaticas
 
Informativo 28 UERJ 1ª semana paulo freire
Informativo 28  UERJ 1ª semana paulo freireInformativo 28  UERJ 1ª semana paulo freire
Informativo 28 UERJ 1ª semana paulo freireRafael Martins Farias
 
Caderno professor alfabetizador 2º ano
Caderno professor alfabetizador 2º anoCaderno professor alfabetizador 2º ano
Caderno professor alfabetizador 2º anoorientacoesdidaticas
 

What's hot (18)

Servico social 2009_4_1
Servico social 2009_4_1Servico social 2009_4_1
Servico social 2009_4_1
 
Servico social 2009_4_5
Servico social 2009_4_5Servico social 2009_4_5
Servico social 2009_4_5
 
Servico social 2009_6_4
Servico social 2009_6_4Servico social 2009_6_4
Servico social 2009_6_4
 
Servico social 2009_6_5
Servico social 2009_6_5Servico social 2009_6_5
Servico social 2009_6_5
 
Servico social 2009_6_1
Servico social 2009_6_1Servico social 2009_6_1
Servico social 2009_6_1
 
Servico social 2009_6_2
Servico social 2009_6_2Servico social 2009_6_2
Servico social 2009_6_2
 
Administração escolar e pedagogia social2
Administração escolar e pedagogia social2Administração escolar e pedagogia social2
Administração escolar e pedagogia social2
 
Jornal escolar 2011
Jornal escolar 2011Jornal escolar 2011
Jornal escolar 2011
 
Convite e programa
Convite e programaConvite e programa
Convite e programa
 
Catalogo ASAS 2009
Catalogo ASAS 2009Catalogo ASAS 2009
Catalogo ASAS 2009
 
Guia de planejamento e orientações didáticas 4º ano
Guia de planejamento e orientações didáticas 4º anoGuia de planejamento e orientações didáticas 4º ano
Guia de planejamento e orientações didáticas 4º ano
 
Informatica para Administradores: usando o BR Office
Informatica para Administradores: usando o BR OfficeInformatica para Administradores: usando o BR Office
Informatica para Administradores: usando o BR Office
 
Por Escrito
Por EscritoPor Escrito
Por Escrito
 
Guia de planejamento e orientações didáticas 2º ano vol 1
Guia de planejamento e orientações didáticas  2º ano vol 1Guia de planejamento e orientações didáticas  2º ano vol 1
Guia de planejamento e orientações didáticas 2º ano vol 1
 
Coletânea de atividades
Coletânea de atividadesColetânea de atividades
Coletânea de atividades
 
Prop hist comp_red_md_20_03
Prop hist comp_red_md_20_03Prop hist comp_red_md_20_03
Prop hist comp_red_md_20_03
 
Informativo 28 UERJ 1ª semana paulo freire
Informativo 28  UERJ 1ª semana paulo freireInformativo 28  UERJ 1ª semana paulo freire
Informativo 28 UERJ 1ª semana paulo freire
 
Caderno professor alfabetizador 2º ano
Caderno professor alfabetizador 2º anoCaderno professor alfabetizador 2º ano
Caderno professor alfabetizador 2º ano
 

Similar to Servico social 2009_5_2

Pibid. ana márcia.2
Pibid. ana márcia.2Pibid. ana márcia.2
Pibid. ana márcia.2pibidmat
 
Servico social 1b
Servico social 1bServico social 1b
Servico social 1bLéia Mayer
 
Servico social 5b
Servico social 5bServico social 5b
Servico social 5bLéia Mayer
 
Servico social 4b
Servico social 4bServico social 4b
Servico social 4bLéia Mayer
 
Servico social 3b
Servico social 3bServico social 3b
Servico social 3bLéia Mayer
 
Servico social 2b
Servico social 2bServico social 2b
Servico social 2bLéia Mayer
 
Servico social 5
Servico social 5Servico social 5
Servico social 5Léia Mayer
 
Servico social 1
Servico social 1Servico social 1
Servico social 1Léia Mayer
 
Servico social 3
Servico social 3Servico social 3
Servico social 3Léia Mayer
 
Servico social 4
Servico social 4Servico social 4
Servico social 4Léia Mayer
 
Servico social 2
Servico social 2Servico social 2
Servico social 2Léia Mayer
 
Servico social 2a
Servico social 2aServico social 2a
Servico social 2aLéia Mayer
 
Servico social 3a
Servico social 3aServico social 3a
Servico social 3aLéia Mayer
 
Servico social 4a
Servico social 4aServico social 4a
Servico social 4aLéia Mayer
 
Servico social 2a (1)
Servico social 2a (1)Servico social 2a (1)
Servico social 2a (1)Léia Mayer
 
Servico social 1a
Servico social 1aServico social 1a
Servico social 1aLéia Mayer
 
Servico social 5a
Servico social 5aServico social 5a
Servico social 5aLéia Mayer
 
Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4
Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4
Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4Prefeitura de Olinda
 
Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...
Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...
Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...Gley Borges
 

Similar to Servico social 2009_5_2 (20)

Pibid. ana márcia.2
Pibid. ana márcia.2Pibid. ana márcia.2
Pibid. ana márcia.2
 
Servico social 1b
Servico social 1bServico social 1b
Servico social 1b
 
Servico social 5b
Servico social 5bServico social 5b
Servico social 5b
 
Servico social 4b
Servico social 4bServico social 4b
Servico social 4b
 
Servico social 3b
Servico social 3bServico social 3b
Servico social 3b
 
Servico social 2b
Servico social 2bServico social 2b
Servico social 2b
 
Servico social 5
Servico social 5Servico social 5
Servico social 5
 
Servico social 1
Servico social 1Servico social 1
Servico social 1
 
Servico social 3
Servico social 3Servico social 3
Servico social 3
 
Servico social 4
Servico social 4Servico social 4
Servico social 4
 
Servico social 2
Servico social 2Servico social 2
Servico social 2
 
Servico social 2a
Servico social 2aServico social 2a
Servico social 2a
 
Servico social 3a
Servico social 3aServico social 3a
Servico social 3a
 
Servico social 4a
Servico social 4aServico social 4a
Servico social 4a
 
Servico social 2a (1)
Servico social 2a (1)Servico social 2a (1)
Servico social 2a (1)
 
Servico social 1a
Servico social 1aServico social 1a
Servico social 1a
 
Servico social 5a
Servico social 5aServico social 5a
Servico social 5a
 
Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4
Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4
Revista Troca-Troca: experiências educacionais Nº 4
 
Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...
Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...
Cead 20131 administracao_pr_-_administracao_-_gestao_de_projetos_-_nr_(a2_ead...
 
Formação de Estudantes
Formação de EstudantesFormação de Estudantes
Formação de Estudantes
 

Servico social 2009_5_2

  • 1. Educação sem fronteiras SERVIÇO SOCIAL Autores Edilene Maria de Oliveira Araújo Elisa Cléia Pinheiro Rodrigues Nobre Helenrose Aparecida da Silva Pedroso Coelho Maria Aparecida da Silva Maria Roney de Queiroz Leandro 5 www.interativa.uniderp.br www.unianhanguera.edu.br Anhanguera Publicações Valinhos/SP, 2009 00 - Servico Social - 5 Sem.indd 1 1/5/09 3:52:57 PM
  • 2. © 2009 Anhanguera Publicações Ficha Catalográfica produzida pela Biblioteca Central da Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, Anhanguera Educacional resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. Impresso no Brasil 2009 S514 Serviço social / Edilene Maria de Oliveira Araújo ...[et al]. - Valinhos : Anhanguera Publicações, 2009. 224 p. - (Educação sem fronteiras ; 5). ISBN: 978-85-62280-06 1. Serviço social – Processo de trabalho. 2. Serviço social – Cidadania. I. Araújo, Edilene Maria de Oliveira. II. Título. III. Série. ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. CDD: 360 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CAMPO GRANDE/MS Presidente Prof. Antonio Carbonari Netto Diretor Acadêmico Prof. José Luis Poli Diretor Administrativo Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior CAMPUS I Reitor ANHANGUERA PUBLICAÇÕES Prof. Guilherme Marback Neto Vice-Reitor Diretor Profa. Heloísa Gianotti Pereira Prof. Diógenes da Silva Júnior Pró-Reitores Pró-Reitor Administrativo: Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior Gerente Acadêmico Pró-Reitora de Graduação: Prof. Paulo de Tarso Camillo de Carvalho Prof. Adauto Damásio Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto: Prof. Ivo Arcângelo Vendrúsculo Busato Gerente Administrativo Prof. Cássio Alvarenga Netto PROJETO DOS CURSOS Administração: Prof. Wilson Correa da Silva / Profa. Mônica Ferreira Satolani ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. Ciências Contábeis: Prof. Ruberlei Bulgarelli UNIDERP INTERATIVA Enfermagem: Profa. Cátia Cristina Valadão Martins / Profa. Roberta Machado Pereira Diretor Letras: Profa. Márcia Cristina Rocha Prof. Ednilson Aparecido Guioti Pedagogia: Profa. Vivina Dias Sol Queiroz / Profa. Líliam Cristina Caldeira Serviço Social: Profa. Maria de Fátima Bregolato Rubira de Assis / Coodernação Profa. Ana Lucia Américo Antonio Prof. Wilson Buzinaro Tecnologia em Gestão e Marketing de Pequenas e Médias Empresas: Profa. Fabiana Annibal Faria de Oliveira COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Tecnologia em Gestão e Serviço de Saúde: Profa. Irma Marcario Profa. Terezinha Pereira Braz / Profa. Eva Maria Katayama Negrisolli / Tecnologia em Logística: Prof. Jefferson Levy Espíndola Dias Profa.Evanir Bordim Sandim / Profa. Maria Massae Sakate / Tecnologia em Marketing: Prof. Jefferson Levy Espíndola Dias Profa. Lúcia Helena Paula Canto (revisora) Tecnologia em Recursos Humanos: Prof. Jefferson Levy Espíndola Dias 00 - Servico Social - 5 Sem.indd 2 1/5/09 3:52:57 PM
  • 3. AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico Nossa Missão, Nossos Valores ____________________ A Anhanguera Educacional completa, em 2009, 15 anos. Desde sua fundação, buscou a ino- vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho. A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis- tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor relação qualidade/custo, adotou-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições de ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores da Anhanguera. Atuando também no Ensino à Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es- tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da UNIDERP Interativa, nos seus pólos espalhados por todo o Brasil. Boa aprendizagem e bons estudos! Prof. Antonio Carbonari Netto Presidente — Anhanguera Educacional iii
  • 4. Apresentação ____________________ A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos, arrojados, pluralistas, democráticos. Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par- ceiros e congêneres no País e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo seu compromisso com a qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos seus propósitos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e ascensão social. Reconhecida por sua ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais um desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportuni- dades de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação a Distância. Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que em pouco tempo saiu das fronteiras do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do País, possibilitando o acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída. O Centro de Educação a Distância, atua por meio de duas unidades operacionais, a Uniderp Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN), em função dos modelos alternativos ofe- recidos e seus respectivos pólos de apoio presencial, localizados em diversas regiões do País e ex- terior, oferecendo cursos de graduação, pós-graduação e educação continuada e possibilitando, dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias dinâmicas e inovadoras. Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na sua estrutura organizacional e acadêmica, com reflexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro- Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza a compra pelos alunos de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado e estimula-os a formar sua própria biblioteca, promovendo, dessa forma, a melhoria na qualidade de sua aprendizagem. É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos, preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena em sociedade. Prof. Guilherme Marback Neto
  • 5. AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico Autores ____________________ EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidades Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1986 Especialização: Formação de Formadores em Educação de Jovens e Adultos – Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003 Especialização: Gestão de Iniciativas Sociais – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – 2002 ELISA CLÉIA PINHEIRO RODRIGUES NObRE Graduação: Serviço Social – Universidade Católica Dom Bosco, UCDB – 1992 Especialização em Políticas Sociais – Universidade do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP – 2003 Mestrado em Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS – 2007 HELENROSE APARECIDA DA SILVA PEDROSO COELHO Graduação: Ciências Sociais/Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas /SP – 1982 Graduação: Psicologia/Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande/MS – 1992 Graduação: Direito/Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, Campo Grande/MS – 2004 Especialização: Gestão Judiciária Estratégica Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso, CEFETMT – 2007 Mestrado: A Construção dos Sentidos de Promoção e Prevenção de Saúde na Mídia Impressa – UCDB – Campo Grande/MS, 2006 MARIA APARECIDA DA SILVA Graduação: Serviço Social/Faculdades Unidas Católicas Dom Bosco – FUCMT/ Campo Grande-MS – 1984 Especialização: Educação na Área da Saúde/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ, 1985 Mestrado: Saúde Coletiva/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campo Grande/MS, 1998 MARIA RONEY DE QUEIROZ LEANDRO Graduação: Serviço Social/Faculdades Unidas Católicas Dom Bosco – FUCMT/Campo Grande-MS/1987 Especialização: Saúde Pública – Escola Nacional de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz/1993 v
  • 7. AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico Sumário ____________________ MÓDULO – PROCESSO DE TRAbALHO EM SERVIÇO SOCIAL UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁGIO SUPERVIONADO EM SERVIÇO SOCIAL AULA 1 O diagnóstico como ferramenta de trabalho do serviço social ......................................... 3 AULA 2 Projetos sociais: solucionando problemas .......................................................................... 10 UNIDADE DIDÁTICA – PROCESSO DE TRAbALHO EM SERVIÇO SOCIAL AULA 1 Trabalho e relações sociais na sociedade contemporânea ................................................. 19 AULA 2 Divisão social do trabalho ................................................................................................... 24 AULA 3 Produção social e valor ........................................................................................................ 29 AULA 4 Trabalho assalariado, capital e propriedade ........................................................................ 37 AULA 5 Processos de trabalho e produção da riqueza social ........................................................... 43 AULA 6 O trabalho coletivo – trabalho e cooperação ...................................................................... 48 AULA 7 Trabalho produtivo e improdutivo ...................................................................................... 52 AULA 8 A polêmica em torno da crise da sociedade do trabalho .................................................... 59 AULA 9 Trabalho e sociedade em rede .............................................................................................. 65 UNIDADE DIDÁTICA – ESTRATÉGIAS DE TRAbALHO EM SERVIÇO SOCIAL AULA 1 A inserção do assistente social nos processos do trabalho e as estratégias de trabalho em serviço social ................................................................................................................... 75 AULA 2 Trabalho e serviço social: demandas tradicionais e demandas atuais ................................ 78 AULA 3 O redimensionamento da profissão: o mercado, as condições de trabalho, as perspectivas e competências profissionais........................................................................... 81 vii
  • 8. AULA 4 Condições de trabalho e respostas profissionais. A relação assistente social e usuários dos serviços sociais ............................................................................................................... 86 AULA 5 As demandas e a intervenção profissional no âmbito das relações entre o estado e a sociedade ............................................................................................................................... 89 AULA 6 A dimensão ético-política da prática profissional e o serviço social como instrumento de cidadania e garantia de direitos....................................................................................... 92 AULA 7 Estratégia profissional e instrumental técnico-operativo utilizados no desempenho do trabalho profissional – Parte 1 ............................................................................................. 95 AULA 8 Estratégia profissional e instrumental técnico-operativo utilizados no desempenho do trabalho profissional – Parte 2 ............................................................................................. 99 AULA 9 Instrumentos, metodologias e técnicas utilizados pelo serviço social na busca de respostas as demandas do trabalho...................................................................................... 103 SEMINÁRIO INTEGRADO...................................................................................................... 108 MÓDULO – SOCIEDADE E CIDADANIA UNIDADE DIDÁTICA – TERCEIRO SETOR E SERVIÇO SOCIAL AULA 1 Considerações históricas sobre a emergência do terceiro setor ......................................... 111 AULA 2 Terceiro setor: conceitos, objetivos e características ........................................................... 114 AULA 3 Questões sociais, serviço social e as relações com o terceiro setor ..................................... 118 AULA 4 Organizações de interesse público e legislações pertinentes .............................................. 122 AULA 5 As organizações de interesse público e a gestão das políticas sociais ................................. 127 AULA 6 Responsabilidade social e suas dimensões........................................................................... 131 AULA 7 Voluntariado ......................................................................................................................... 135 AULA 8 O voluntariado no terceiro setor.......................................................................................... 140 AULA 9 Financiamento do terceiro setor .......................................................................................... 144
  • 9. AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico UNIDADE DIDÁTICA – CONSELHOS POPULARES E CIDADANIA AULA 1 Contexto da cidadania .......................................................................................................... 153 AULA 2 Participação e controle social: instâncias de cidadania....................................................... 159 AULA 3 Conselhos de políticas públicas: assistência social .............................................................. 169 AULA 4 Conselhos de políticas públicas: saúde ................................................................................ 174 AULA 5 Conselhos de defesa de direitos: do idoso e da pessoa com deficiência ............................. 179 AULA 6 Conselhos de defesa de direitos: da criança e do adolescente (ECA)................................. 187 AULA 7 Conselhos de defesa de direitos: da mulher ........................................................................ 192 AULA 8 Conselhos de defesa de direitos: do indígena e do negro ................................................... 199 AULA 9 Atuação do profissional na efetivação do controle social ................................................... 207 SEMINÁRIO INTEGRADO...................................................................................................... 215 ix
  • 11. AULA 3 — Produção Social e Valor Módulo PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL Professora Especialista Edilene Maria de Oliveira Araújo Professora Especialista Maria Roney de Queiroz Leandro Professora MSc. Helenrose Aparecida da Silva Pedroso Coelho 17
  • 12. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social Apresentação Prezados acadêmicos! Sejam bem-vindos ao módulo TRABALHO E SOCIEDADE. Espero que vocês estejam preparados para promover boas reflexões sobre a questão do trabalho e sua importância para nós, seres humanos. O tema é bastante instigante porque faz parte de uma realidade que nos é muito familiar e por isso mesmo nos provoca tanto envolvimento, ora para criticar o modo capitalista de produção, ora para considerá-lo im- portante para o desenvolvimento social. De qualquer forma, são imprescindíveis para o futuro profissional do serviço social o conhecimento da força-motriz de nossa sociedade e as relações decorrentes do trabalho. O entendimento de como se dão as relações no trabalho e quais são as origens do capital e da força de trabalho promoverão uma melhor compre- ensão do processo de alienação e da cristalização de ideologias dominantes. Assim, teremos um profissional apto para lidar com as relações advindas do ambiente de trabalho, posto que compreenderá os mecanismos de produção de valor em nossa sociedade. Desejamos as boas-vindas e sigamos o nosso curso. Professora Helenrose Aparecida da Silva Pedroso Coelho 18
  • 13. AULA 1 — Trabalho e Relações Sociais na Sociedade Contemporânea AULA ____________________ 1 Unidade Didática – Processo de Trabalho em Serviço Social TRABALHO E RELAÇõES SOCIAIS nA SOCIEDADE COnTEMPORânEA Conteúdo • Noções sobre trabalho • Importância do trabalho na sociedade capitalista • As relações sociais que envolvem o ser humano e o trabalho Competências e habilidades • Compreender a importância do trabalho em nossa sociedade • Refletir sobre as relações oriundas das relações do trabalho e sua importância para o serviço social Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal • Os textos para auto-estudo e as atividades serão disponibilizados no portal. • Sites relacionados: http://www.dieese.org.br • Filme: O Germinal. Diretor: Claude Berri Caracteriza perfeitamente o processo de produção do trabalho do modelo capitalista, a expansão do chamado capital, mostrando assim, de uma forma bem clara, os opostos entre as necessidades humanas e as materiais. O filme se passa na França do século XIX e transmite muito bem aquele determinado momento histórico e seu contexto social, econômico e político e, é claro, cultural. Para obtermos uma análise satisfatória se torna necessário o conhecimento dos antecedentes da Revolu- ção Industrial, nele presentes. Duração 2h/a – via satélite com o professor interativo 2h/a – presenciais com o professor local 6h/a – mínimo sugerido para auto-estudo INTRODUÇÃO elemento inerente à existência do homem e como Vamos verificar nos nossos estudos a impor- mola propulsora de seu desenvolvimento perante as tância do trabalho para o ser humano. O trabalho limitações primitivas impostas pela sua fragilidade aparece desde os primórdios como a necessidade diante do meio ambiente. de o homem intervir sobre a natureza, produzindo A partir do trabalho, o homem foi tornando-se os meios de sua sobrevivência e, dessa forma, clari- capaz de criar novas formas de interação com a fica-se a noção de que o trabalho afigura-se como natureza, as quais permitiram o desenvolvimento 19
  • 14. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social amplo do gênero humano, estendendo-se às formas atores sociais que buscam apresentar soluções e de organização social, sempre alicerçadas na orga- fazer reflexões para um dos principais problemas nização do trabalho e da produção social, conforme enfrentados por grande parte dos países. E não entendimento de Engels, 1979, p. 269-280. apenas a isso se resume o debate. Distribuição de Com a consolidação do sistema capitalista, como renda, diminuição de desigualdades e promoção de modo de produção, essa noção de centralidade do desenvolvimento social são temas recorrentes, des- trabalho na sociabilidade humana desvendado sob dobramentos, ainda que superficiais, daquilo que a ótica de exploração dentro de uma sociedade de pode ser considerado uma das principais crises no classes foi objeto de vasta produção teórica e políti- mundo do trabalho dentro da sociedade burgue- ca, impulsionando grandes transformações e revo- sa. E daí a importância do profissional do serviço luções sociais a partir de meados do século XIX. social na compreensão e reflexão sobre essas ques- Dentro do processo histórico, inúmeros abusos tões, compreendendo sua origem e os rumos toma- foram cometidos dentro do mundo do trabalho e dos na atualidade. impulsionaram a luta social pelo reconhecimento Não é só a sobrevivência que dá significado ao de direitos mínimos da dignidade humana e, com trabalho, mas, no dizer de Engels, op. cit., também base no desenvolvimento de ideários novos de or- o desenvolvimento de habilidades manuais e inte- ganização social do trabalho, instaurou-se, no cam- lectuais é proporcionado por ele, porque o homem po ideológico, uma grande disputa no seio da so- com a necessidade desenvolveu técnicas utilizando ciedade burguesa, até mesmo dentro do campo de o corpo nas atividades de trabalho e iniciou uma atuação do assistente social, pois o trabalho na área nova forma de vida em grupo, desenvolvendo a lin- social vai saindo paulatinamente das mãos da Igreja guagem e as relações sociais. e do ideário da caridade e passando ao Estado e à Graças à cooperação das mãos, dos órgãos da sociedade dentro das idéias capitalistas. linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram apren- No art. 193, Título VIII, Capítulo II, Seção I – Da Or- dendo a executar operações cada vez mais comple- dem Social, a Constituição Federal de 1988 aponta xas, a propor-se a alcançar objetivos cada vez mais que a ordem social brasileira tem como base o prima- elevados (ENGELS, 1979, p. 275). do do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça A especialização da mão implica o aparecimento sociais. da ferramenta, que, por sua vez, implica atividade especificamente humana, a ação do homem sobre a Assim, grande parte da história do século XX en- natureza, que resultará na produção de bens. E esse cerrou a disputa entre concepções diversas no que homem vai cada vez mais exercer sua força sobre tange à organização social do trabalho, e o mundo a natureza, para dominá-la, diferenciando-se dos dividiu-se geopoliticamente na afirmação dessa dis- animais. puta, com conseqüências como a Guerra Fria, a Cri- No início o homem praticava a caça e a pesca e, se do Petróleo etc. mais tarde, a agricultura. Com o passar do tempo Nos dias de hoje, o debate sobre o mundo do tra- surgem a fiação, a tecelagem, a elaboração de me- balho continua desenvolvendo-se com enfoque na tais, a olaria e a navegação, tudo graças a esse de- hegemonia político-ideológica capitalista. Obser- senvolvimento de habilidades oriundas do trabalho. va-se essa questão discutida através do espaço cada Aparecem o comércio e os ofícios acompanhados vez maior que se dá ao debate cujo tópico é em rela- das artes e das ciências, bem como as nações e os ção ao emprego na sociedade contemporânea, im- Estados. De acordo com Engels, 1979, p. 275, o rá- pulsionando pesquisadores, políticos, movimentos pido progresso da civilização foi atribuído exclusi- sociais, organizações internacionais e tantos outros vamente à cabeça, ao desenvolvimento e à atividade 20
  • 15. AULA 1 — Trabalho e Relações Sociais na Sociedade Contemporânea do cérebro, e os homens acostumaram-se a explicar tituindo a divisão do trabalho entre as diversas cor- seus atos pelos seus pensamentos em vez de procu- porações pela divisão do trabalho dentro de cada rar essa explicação em suas necessidades. oficina. Continuando a crescer, vemos o mercado da ma- Diferentemente dos animais que utilizam a natureza e nufatura também se tornando insuficiente para abas- a modificam pelo simples fato de sua presença, o ho- tecê-lo, tomando o seu lugar a grande indústria mo- mem modifica a natureza, dominando-a por meio do derna, através da Revolução Industrial, onde a má- trabalho. quina a vapor revolucionou a produção industrial. A grande indústria criou o mercado mundial, para o qual a descoberta da América preparou o RETROSPECTIVA HISTÓRICA terreno. O mercado mundial deu um imenso desen- Ao fazermos uma rápida retrospectiva histórica, volvimento ao comércio, à navegação e às comuni- percebemos que a Grécia Antiga valorizava o ócio cações por terra. Esse desenvolvimento, por sua vez, para seus cidadãos, o qual somente era possível pela reagiu sobre a extensão da indústria; e na proporção exploração do trabalho escravo. Em um determi- em que a indústria, o comércio, a navegação, as fer- nado momento, quem sabe por oposição aos ideais rovias cresciam, a burguesia também se desenvolvia, greco-romanos de ócio, o cristianismo intentou aumentava seus capitais e colocava num plano se- recuperar o valor do trabalho sem colocá-lo como cundário todas as classes legadas pela Idade Média. valor maior da existência. Podemos observar até Entretanto, a partir da segunda metade do sécu- os dias de hoje que o trabalho ainda é utilizado e lo XVIII, iniciou-se na Inglaterra a mecanização valorizado como ponto central da dinâmica social industrial, desviando a acumulação de capitais da em que atuamos, sem que haja uma reflexão maior atividade comercial para o setor da produção. Esse sobre o contexto em que ela foi gerada e com que fato trouxe grandes mudanças, tanto de ordem eco- finalidade, pois à época era necessário incutir esse nômica quanto social, que possibilitaram o desapa- ideal, pois o capitalismo iniciava seu processo de recimento dos restos das relações e práticas feudais desenvolvimento como novo modelo econômico e ainda existentes e a definitiva implantação do modo precisava conquistar aliados para seu ideal. de produção capitalista. Para o entendimento dos fatores que envolvem a crise do mundo do trabalho atual, é fundamen- Simultaneamente ao desenvolvimento do capital tam- tal a compreensão do desenvolvimento histórico da bém se desenvolve o proletariado, a classe operária sociedade capitalista. Para tanto é preciso situar a moderna, que para Marx e Engels, (2001): transição do regime feudal ao capitalista pela expan- (...) vivem apenas na medida em que encontram tra- são ultramarina e a formação de novos mercados: o balho e que só encontram trabalho na medida em que mercado das Índias Orientais e da China, a coloni- o seu trabalho aumente o capital. Tais operários, obri- zação da América, o intercâmbio com as colônias, o gados a se vender por peça, são uma mercadoria como aumento dos meios de troca e das mercadorias em qualquer outro artigo de comércio...” geral deram ao comércio, à navegação e à indústria um impulso jamais conhecido e, em conseqüência, Nessa fase inicial do capitalismo notadamente, o favoreceram o rápido desenvolvimento do elemen- proletariado acaba concentrado em grandes massas, to revolucionário na sociedade feudal em decom- submetidas a péssimas condições de trabalho. posição. A primeira metade do século XX foi marcada por Diante do crescimento desses novos mercados, uma série de calamidades: as duas guerras mun- o modo de exploração feudal não atendia mais às diais, os impérios coloniais que ruíram, duas ondas suas necessidades, dando lugar à manufatura, subs- de rebelião e revolução que significaram a ascensão 21
  • 16. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social ao poder de um sistema colocado como alternativa ma capitalista, um grau esclarecedor do processo histórica à sociedade burguesa e que, após a Segunda de desenvolvimento filogenético da espécie e repre- Guerra Mundial, representou um terço da popula- sentativo da condição humana. O exercício de ativi- ção mundial. Além disso, o ano de 1929 apresentou dades coletivas e de trabalho conjunto é apontado uma crise econômica sem precedentes, até mesmo como responsável pelo surgimento das especifici- abalando economias capitalistas mais fortes, cau- dades próprias do homo sapiens, como pensamento, sando o quase desaparecimento das instituições e consciência e linguagem (LEONTIEV, 1978). Por da democracia liberal. meio da análise do trabalho alienado, Marx (1989) Enquanto a economia balançava, as instituições o apresenta como conferindo a qualificação de hu- da democracia liberal praticamente desapareceram mano ao seu portador, a partir de uma concepção entre 1917 e 1942; restaram apenas uma borda da de natureza humana que se constitui na inserção no Europa e partes da América do Norte e da Austrália. mundo das relações sociais. Enquanto isso, avançavam o fascismo e os movi- O trabalho é um momento efetivo de colocação mentos e regimes autoritários. de finalidades humanas, dotado de intrínseca di- A democracia só se salvou porque houve uma mensão teleológica. E, como tal, mostra-se como aliança temporária entre o capitalismo liberal e o co- uma experiência elementar da vida cotidiana, nas munismo: basicamente a vitória sobre a Alemanha respostas que oferece às necessidades sociais. Reco- de Hitler foi conseqüência do Exército Vermelho. nhecer o papel fundamental do trabalho na gênese De muitas maneiras, esse período de aliança capita- e no fazer-se do ser social nos remete diretamente à lista-comunista contra o fascismo – sobretudo nas dimensão decisiva dada pela esfera da vida cotidia- décadas de 1930 e 1940 – constitui o ponto crítico na, como ponto de partida para a generalidade para si dos homens (ANTUNES, 2001, p. 168). da história do século XX e seu momento decisivo. O trabalho aparece, definitivamente, como um Após a depressão de 1929, o fascismo e a guerra, operador fundamental na própria construção do houve um surpreendente salto para a Era do Ouro sujeito, revelando-se também como um mediador (denominação de Eric Hobsbawn), que dura de privilegiado, senão único, entre inconsciente e cam- 1947 a 1973. po social e entre ordem singular e ordem coletiva. Neste contexto a recuperação dos estragos da Não é apenas um teatro aberto ao investimento guerra foi a prioridade para os países europeus e subjetivo, mas um espaço de construção do sentido o Japão, sendo que ela significava, acima de tudo, e, portanto, de conquista de identidade, da conti- o medo de revolução social e avanço comunista. A nuidade e da historicização do sujeito (DEJOURS e partir de meados da década de 1950, os avanços ma- ABDOUCHELI, 1994). teriais se tornaram palpáveis para estas nações. Em uma perspectiva materialista histórico-dialé- Este grande desenvolvimento foi alcançado gra- tica, o trabalho é a fonte de toda riqueza, conforme ças à implantação de modelos de produção que se explicitado por Engels no texto O papel do trabalho disseminaram pelas indústrias de todo o mundo, na transformação do macaco em homem, fonte tam- buscando a ampliação de mercados a partir da pro- bém de prazer e de realização humanas. A categoria dução para um mercado de massa. Estudaremos ontológica do marxismo permite entender que, ao mais detalhadamente esses modelos de produção realizar trabalho, o ser humano abandona a depen- nas próximas aulas. dência para com a natureza e adentra a aventura do especificamente humano. Visto assim, o trabalho é CONSIDERAÇÕES FINAIS produto do homem e ao mesmo tempo produtor O trabalho alcançou, na sociedade ocidental, a do ser, da cultura e da civilização humana, objeti- partir da implantação e da consolidação do siste- vando sistemas de comunicação e de inter-relação 22
  • 17. AULA 1 — Trabalho e Relações Sociais na Sociedade Contemporânea humanos que determinaram o desenvolvimento de existência em tempos distintos, porém articulados à nossa sociedade. Trabalhar, então, tem o significado dimensão da produção necessária ao capital. A alie- de garantir as condições objetivas e subjetivas para nação do trabalho consiste no fato de o trabalhador a manutenção e o desenvolvimento da existência do não conseguir ter a visão de pertencer ao processo homem, o que só poderia trazer satisfação e prazer. de produção, de ser o gerador de um determinado Entretanto, quando se analisa o sistema produ- produto, de fazer parte daquele trabalho; ele acaba tivo capitalista, o trabalho, para uma grande fatia não se reconhecendo como parte do produto final. da população, deixa de possuir tais possibilidades e Esse conceito é muito importante para o futuro pro- expectativas e se consolida, na verdade, como fon- fissional de serviço social, porque ele é fator gerador te de desprazer, causando tensão e sofrimento, não de sérios mecanismos desencadeadores de mal-es- permitindo a criatividade e até mesmo o usufruto tar, sofrimento e desigualdades na esfera social. de seus resultados. Todos esses motivos consolidam Assim, concluindo, observamos a importância do um tipo de trabalho chamado por Marx de traba- trabalho na interação do ser humano com os outros lho alienado, haja vista que se baseia na exploração e na formação da sociedade e sua estruturação em do tempo de trabalho do trabalhador e divide sua torno do trabalho. * AnOTAÇõES 23
  • 18. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social Unidade Didática – Processo de Trabalho em Serviço Social AULA ____________________ 2 DIVISãO SOCIAL DO TRABALHO Conteúdo • A divisão social do trabalho • A estruturação da sociedade capitalista Competências e habilidades • Entender como se dão a divisão social do trabalho e os seus reflexos em outros setores da sociedade • Compreender a importância para o serviço social da divisão social do trabalho • Refletir sobre a repercussão da divisão social do trabalho no cotidiano dos trabalhadores Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal • Os textos para auto-estudo e as atividades serão disponibilizados no portal. • Sites relacionados: http://mariag.multiply.com/reviews/item/135 • Filme: Tempos Modernos. De e com Charles Chaplin, fala sobre o modo da produção capitalista, retratando a exploração do trabalho e a forma mecanicista adotada no trabalho da indústria a partir do início do século XX. Duração 2h/a – via satélite com o professor interativo 2h/a – presenciais com o professor local 6h/a – mínimo sugerido para auto-estudo INTRODUÇÃO ria e determinado pelo tempo de trabalho socialmen- Veremos como nasceram as teorias clássicas da te necessário para a produção da mercadoria. Economia para podermos entender como foram Desenvolveu o estudo sobre a mercadoria a partir elaboradas as teorias sobre o trabalho. do pressuposto de que a riqueza das sociedades, regi- A economia política clássica nasceu na Inglaterra, o das pela produção capitalista, é a acumulação de mer- mais evoluído país capitalista. Estudando o seu regime cadorias (considerada em qualidade e quantidade) e econômico, Adam Smith e David Ricardo lançaram as que a mercadoria, a forma elementar dessa riqueza, bases da teoria do valor do trabalho. Marx deu um possui dois fatores: valor de uso e valor de troca. fundamento estritamente científico a essa teoria, de- O valor de uso está relacionado à utilidade da senvolvendo-a de maneira coerente, e inovou-a com o mercadoria, sua utilização ou seu consumo, e é con- conceito de valor como sendo intrínseco à mercado- siderado como o conteúdo material da riqueza. 24
  • 19. AULA 2 — Divisão Social do Trabalho e sua aplicação tecnológica, a organização social Marx observa que para se chegar ao valor-de-uso e do processo de produção e as condições naturais. como conseqüência gerar a riqueza material não basta (...) Generalizando: quanto maior a produtividade apenas o trabalho, é necessário combiná-lo com os re- do trabalho, tanto menor o tempo de trabalho re- cursos naturais, como nessa passagem: querido para produzir uma mercadoria, e quanto “O homem, ao produzir, só pode atuar como menor a quantidade de trabalho que nela se crista- a própria natureza, isto é, mudando as formas liza, tanto menor seu valor. Inversamente, quanto da matéria. E mais. Nesse trabalho de trans- menor a produtividade do trabalho, tanto maior formação, é constantemente ajudado pelas o tempo de trabalho necessário para produzir um forças naturais. O trabalho não é, por conse- artigo e tanto maior seu valor. A grandeza do valor guinte, a única fonte dos valores de uso que de uma mercadoria varia na razão direta da quanti- produz da riqueza material. Conforme diz dade e na inversa da produtividade do trabalho que Willian Petty, o trabalho é o pai, mas a mãe é nela se aplica.” a terra.” (p. 50) DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO Quando a mercadoria passa a ser trocada por ou- Para Marx, em seu livro Manifesto Comunista, a tra, ela adquire um valor de troca e, se for trocada sociedade moderna não substituiu a luta de clas- por mais de uma mercadoria, diz-se que pode ter ses, apenas trocou classes antigas por novas, novas um ou mais valores de troca de espécies diferentes. condições de opressão e, da mesma forma, novas Como exemplo, Marx cita a possibilidade de uma formas de condições de luta. Nessa época da bur- quantidade de trigo ser trocada por uma quantida- guesia a sociedade cada vez mais caminhava para de de seda, outra de ouro e outra de graxa. dois grandes blocos inimigos – o proletariado e a Na relação de troca entre a quantidade de um burguesia –, tendo passado, para Marx e Engels, por produto e a de outro é que se percebe o seu valor. E um longo processo de desenvolvimento, pelos dife- o valor é entendido como a quantidade de dispên- rentes modos de produção, haja vista o vertiginoso dio do trabalho humano, da força de trabalho gas- papel fundamental que ocupou a burguesia ao lon- ta em sua produção ou, melhor, da quantidade de go da história. trabalho humano que nele se armazenou (trabalho Marx concebe a idéia de que a sociedade está humano abstrato). A quantidade de trabalho mede- dividida em classes, cada uma com suas regras e se pelo tempo de sua duração e o tempo de trabalho, condutas apropriadas, mas que estão inseridas em por frações do tempo, como hora, dia, etc. um único sistema, que é o modo de produção ca- Há desdobramentos a serem considerados para pitalista. A divisão social do trabalho é para Marx se compreender a substância do valor de uma mer- “a totalidade das formas heterogêneas de trabalho cadoria, que é o trabalho. Valor é mais bem enten- útil, que diferem em ordem, gênero, espécie e va- dido conjugando quantidade produzida com a pro- riedade” (O Capital I, Cap. I). dutividade alcançada nesse processo de produção, É interessante observar que Marx considera a conforme Marx (p. 46-47) explana: divisão do trabalho não só como um meio para se alcançar a produção de mercadorias, mas considera “A grandeza do valor de uma mercadoria perma- neceria, portanto, invariável, se fosse constante o a divisão de tarefas entre os indivíduos, e ainda nas tempo do trabalho requerido para sua produção. relações de propriedade. Assim, a divisão do traba- Mas este muda com qualquer variação na produti- lho e a especialização das atividades em classes são vidade (força produtiva) do trabalho. A produtivi- basicamente a divisão dos meios de produção e da dade do trabalho é determinada pelas mais diversas força de trabalho. Modernamente, essa divisão se circunstâncias, entre elas a destreza média dos tra- refere também à divisão internacional do trabalho, balhadores, o grau de desenvolvimento da ciência que trata do trabalho nos diversos países e da divi- 25
  • 20. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social são sexual do trabalho, referindo-se às diferencia- Revolução Industrial que se intensificaram-se e se ções de gênero e de sexo feitas no trabalho. fragmentaram as tarefas, aumentando, por sua vez, a produtividade. No dicionário do Pensamento Marxista de Tom Bot- Observem que, nesse contexto, a força de traba- tomore (p. 112) encontramos a seguinte definição lho se torna uma mercadoria, vendida ao empresá- para a divisão do trabalho: rio capitalista por um salário, o que vem a reforçar Primeiro, há a divisão social do trabalho, en- a teoria do economista inglês Adam Smith, de que tendida como o sistema complexo de todas o trabalho seria a verdadeira fonte de riqueza da formas úteis de trabalho que são levadas a sociedade. Esse conceito foi apropriado e ampliado cabo independentemente umas das outras por Marx, o qual demonstra que a força de traba- por produtores privados, ou seja, no caso do lho significa criação de valor, mas este é um valor capitalismo, uma divisão do trabalho que se apropriado pelo capitalista e que aparentemente se dá na troca entre capitalistas individuais e “perde” dentro do produto. independentes que competem uns com os A força de trabalho, ao ser negociado como mer- outros. cadoria, promove a completa separação do traba- Em segundo lugar, a divisão de trabalho en- lhador dos meios de produção, alienando o homem tre trabalhadores, cada um dos quais execu- de sua própria essência, que é o trabalho. Assim, a ta uma operação parcial de um conjunto de operações que são todas executadas simulta- divisão social do trabalho e a divisão industrial do neamente e cujo resultado é o produto social trabalho promovem a alienação e destroem as rela- do trabalhador coletivo. Esta é uma divisão ções entre os homens, uma vez que eles não têm do- de trabalho que se dá na produção, entre o mínio do processo de produção e não se beneficiam capital e o trabalho em seu confronto dentro do produto de seu trabalho. do processo de produção. Embora esta divi- É sobre essa base material que se ergue a superes- são do trabalho na produção e a divisão de trutura da sociedade moderna, segundo Marx. A su- trabalho na troca estejam mutuamente rela- perestrutura é formada pela esfera jurídica, política e cionadas, suas origens e seu desenvolvimento ideológica da sociedade, que, por sua vez, representa a são de todo diferentes. forma como os homens estão organizados no proces- so produtivo. Como afirma Marx: “O modo de pro- Para Marx, as relações sociais de produção divi- dução condiciona o desenvolvimento da vida social, dem os homens entre proprietários e não-proprie- política e intelectual em geral.” Nesse sentido, o Esta- tários dos meios de produção. Esta formação, carac- do surge para garantir o interesse da classe dominan- terística da sociedade capitalista, expressa as desi- te. Apesar de o Estado liberal difundir a idéia da defe- gualdades nas quais se baseiam as classes sociais. sa da igualdade, Marx assim denuncia no Manifesto Aqui cabe salientar que, no entender de Marx, a do Partido Comunista (1848): “A sociedade burguesa divisão social do trabalho sempre existiu em todas moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, as sociedades. Essa divisão é inerente ao trabalho não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão humano e ocorre em relação a tarefas econômicas, substituir novas classes, novas condições de opressão, políticas e culturais. Desde as sociedades tradicio- novas formas de luta às que existiram no passado”, nais, a divisão do trabalho correspondia à divisão de referindo-se aos nobres e senhores feudais. papéis por gênero, sendo sucedidas, mais tarde, pela Marx ressalta aqui a idéia de que é a burguesia a divisão das atividades como a agricultura, o artesa- classe social que irá controlar o poder político, ide- nato e o comércio. A divisão do trabalho surge com ológico e jurídico da sociedade. o excedente da produção e a apropriação privada O estado de alienação do proletariado, resultado das condições de produção. Foi ainda por meio da da divisão do trabalho, também se reflete nessas for- 26
  • 21. AULA 2 — Divisão Social do Trabalho mas de dominação da burguesia. Marx afirma que tão integrados na coletividade pela tradição e pelo o Estado é um instrumento criado pela burguesia costume, ou seja, por uma consciência coletiva que para garantir seu domínio econômico sobre o pro- indica suas formas padronizadas de pensamento ou letariado, preservando e protegendo a propriedade conduta. O tipo de solidariedade apresentado nes- privada dos meios de produção. O aparato jurídi- sas sociedades é a solidariedade mecânica. co, por sua vez, seria o responsável por garantir a A solidariedade orgânica seria a solidariedade igualdade entre os homens, camuflando a divisão típica da sociedade capitalista moderna. Essa soli- da sociedade entre classes sociais distintas e com in- dariedade decorre da evolução da sociedade, que teresses opostos. A ideologia seria a encarregada de promove a diferenciação social por meio da divi- difundir a visão de mundo e os valores burgueses, são do trabalho. Portanto, a função da divisão so- legitimando e consolidando seu poder. Conforme cial do trabalho seria a de criar um sentimento de afirma Marx (1993): solidariedade entre os homens. Para Dürkheim, as diferenças sociais criadas pela divisão social do tra- “As idéias da classe dominante são, em cada época, balho unem os indivíduos pela necessidade de troca as idéias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tem- de serviços e pela sua interdependência: “O ideal de po, sua força espiritual dominante. A classe que tem fraternidade humana só pode ser realizado na razão à sua disposição os meios de produção material dis- do progresso da divisão do trabalho.” põe, ao mesmo tempo, dos meios de produção es- Esta é uma das diferenças fundamentais entre piritual, o que faz com que a ela sejam submetidas, a teoria marxista e a teoria durkheimiana. Para ao mesmo tempo e em média, as idéias daqueles Marx, as sociedades tradicionais apresentam uma aos quais faltam os meios de produção espiritual. forma de divisão do trabalho, mesmo que baseadas As idéias dominantes nada mais são do que a ex- na idade, gênero ou força física. O que diferencia pressão ideal das relações materiais dominantes, as essa forma de divisão natural do trabalho pela divi- relações dominantes concebidas como idéias; por- são do trabalho no capitalismo é a ausência de um tanto, a expressão das relações que tomam a classe excedente na produção. dominante; portanto, as idéias de sua dominação.” Se para Dürkheim a divisão social do trabalho Para Marx, a divisão do trabalho se estende para gera solidariedade, para Marx, a divisão do trabalho além da produção material e exerce uma função de expressa os meios de segmentação da sociedade. Em dominação da classe burguesa sobre a classe prole- caráter primeiro, a divisão do trabalho se refere à tariada. Essa dominação se expressa nas formas de apropriação dos meios de produção pelo empresário segmentação da sociedade, seja pela divisão social capitalista; em segundo, essa apropriação que distan- do trabalho ou pela sua divisão industrial. cia o trabalhador dos meios de produção distancia o No que se refere à divisão do trabalho, Dürkheim, trabalhador de si mesmo, provocando nele um estado sociólogo e autor de um estudo sobre a divisão so- de alienação. Como vemos, ao se dividir a sociedade cial do trabalho, considera que a característica fun- entre proprietários e não-proprietários dos meios de damental da sociedade moderna é a divisão social produção, as classes sociais que daí surgem passam do trabalho, porque suas diferentes esferas se dife- a lutar por interesses antagônicos, apesar da interde- renciam entre si e se especializam, o que concorre pendência que se estabelece entre elas. para a integração dos indivíduos na sociedade. Para Marx, a sociedade moderna está organizada Dürkheim considera a existência da divisão social sobre a produção econômica da mais-valia, ou seja, do trabalho como determinante do grau de coesão a exploração da força de trabalho proletária pela entre os indivíduos de uma determinada sociedade. classe burguesa. Portanto, o sistema capitalista pro- No caso das sociedades tradicionais, como não há porciona à burguesia a difusão de suas ideologias uma divisão social do trabalho, os indivíduos es- por meio do controle do aparelho do Estado. 27
  • 22. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social Enfim, para Dürkheim, a divisão social do tra- divisão do trabalho gera uma relação de exploração balho irá ocupar o lugar da Igreja, do Estado e das da classe burguesa sobre o proletariado, promoven- demais instituições sociais na função de integrar o do a sua alienação por meio da propriedade priva- indivíduo ao corpo social, promovendo a coesão na da dos meios de produção. Nesse caso, a alternativa sociedade, levando-a ao progresso, o que se dará para a classe proletária será promover uma revolu- por meio da especialização de funções que cria uma ção capaz de solucionar os antagonismos sociais, interdependência entre os indivíduos. Para Marx, a eliminando a sociedade de classes. SÍnTESE QUAL O SIGNIFICADO DO TRABALHO? • QUAL O SIGNIFICADO DO TRABALHO NO CAPITALIS- • É a expressão de funcionamento, “metabólica”, entre o MO? ser social e a natureza. • O trabalho se transforma em valor de troca. • O homem, por meio do trabalho, transforma a natureza • O homem vende sua força de trabalho para realizar a e produz coisas com valor de uso. reprodução social – consumir e produzir. • O trabalho tem, desde o seu nascimento, uma in- • É um trabalho alienado – o trabalhador não se reconhe- tenção voltada para o processo de humanização do ce naquilo que produz, não conhece nem domina todo homem em seu sentido amplo – nas inter(ações) que o processo de produção. realiza. • O trabalhador não é o dono dos meios de produção e de • É por meio do trabalho que o homem se reconhece en- trabalho. quanto sujeito histórico capaz de agir e transformar a • Baseia-se no lucro e na mais-valia, ou seja, no excedente do sua realidade. trabalho humano, que não é repassado ao trabalhador. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: • É FEITA POR MEIO DA DIVISÃO DO TRABALHO • DIVISÃO DE TAREFAS: O CONTEÚDO, O RITMO • DIVISÃO DE HOMENS: RESPONSABILIDADES, SISTEMA HIERÁRQUICO, RELAÇÕES DE PODER E CONTROLE • DIVISÃO BASEADA NA ESPECIALIZAÇÃO FUNCIONAL DO TRABALHO = BUROCRACIA * AnOTAÇõES 28
  • 23. AULA 3 — Produção Social e Valor AULA 3 Unidade Didática – Processo de Trabalho em Serviço Social ____________________ PRODUÇãO SOCIAL E VALOR Conteúdo • O trabalho social • O processo de produção social Competências e habilidades • Aprofundar o conhecimento sobre relações de trabalho • Analisar a importância do trabalho como fator de geração de capital e de riqueza • Refletir sobre a importância para o serviço social dos aspectos relacionados com a geração de riqueza e os efeitos sobre o ser humano Textos e atividades para auto-estudo disponibilizados no Portal • Os textos para auto-estudo e as atividades serão disponibilizados no portal • Sites relacionados: http://www.mpt.gov.br • Filme: Gaijin – Caminhos da Liberdade – 1980, Brasil Diretora: Tizuka Yamazaki Em meio às festas comemorativas ao centenário da imigração japonesa para o Brasil, este filme nos faz refletir sobre o contexto e os conflitos em que se deu este processo histórico. A miséria e a falta de perspectivas de trabalho no Japão “empurraram” muitos nativos a emigrarem em busca de novas oportunidades. Duração • 2h/a – via satélite com o professor interativo • 2h/a – presenciais com o professor local • 6h/a – mínimo sugerido para auto-estudo INTRODUÇÃO emprego ou em outras formas de atuação na socie- Colocamos no primeiro capítulo a importância dade. Deriva daí, assim, a importância que tantos do trabalho para o desenvolvimento físico, psicoló- estudiosos dão ao tema trabalho. gico e social do ser humano, pois é pelo exercício A centralidade do trabalho precisa ser focalizada de determinadas tarefas que sentimos a necessidade tendo em vista o processo de produção e reprodu- de desenvolver habilidades técnicas, tanto manuais ção material da vida humana em sociedade, em sua como mentais, e também nos relacionamos com interação com os outros homens e com a natureza. os outros, ampliando nosso círculo de relações no É dessa maneira que os homens produzem para si 29
  • 24. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social próprios, a sociedade e as próprias formas sociais Nessa sociedade atual o nexo com o trabalho é contra- em que produzem, ou seja, é por essa forma que o ditório. A melhor formulação disso ainda é de Marx: homem produz as riquezas humanas e consegue dar “O capital é, ele próprio, a contradição em processo prosseguimento ao desenvolvimento social. (porque) procura reduzir o tempo de trabalho a um O trabalho social tem uma dupla “natureza”, por- mínimo, ao mesmo tempo em que, de outro lado, dis- que ele é tanto o trabalho envolvido no processo de põe o tempo de trabalho como única medida e fonte produção da sociedade em que se trabalha, que de- da riqueza (...) Por um lado conclama à vida todos os termina socialmente, quanto o trabalho concreto na poderes da ciência e da natureza, bem como da com- sociedade vigente, socialmente determinado, isto é, binação social e do intercâmbio social para tornar a uma via de mão dupla onde temos o homem exer- criação da riqueza (relativamente) independente do cendo suas habilidades socialmente e a sociedade tempo de trabalho neles aplicado. De outro lado, pre- determinando a forma de atuação do ser humano. tende medir as enormes forças sociais assim criadas pelo tempo de trabalho e aprisioná-las nos limites exi- De volta a Marx, um dos maiores estudiosos do gidos para conservar como valor o valor já criado.” tema trabalho, ele se refere a essa questão no capítu- lo seis, Inédito, de O Capital: “(...) os economistas burgueses, enredados nas Percebam que o capitalismo se estrutura na so- idéias capitalistas, vêem sem dúvida como se pro- ciedade de forma a tentar manter-se e por isso apre- duz no interior da relação capitalista, mas não como senta a relação capital e trabalho como a necessária se produz esta relação propriamente dita (...)” para a manutenção da vida social, para gerar rique- Temos assim que a denominada “sociedade do zas, gerando um nexo de dependência da socieda- trabalho” é uma construção social constituída por de em todas as suas formas sociais com o trabalho, homens e mulheres no curso do processo de re- ao mesmo tempo em que ocorre uma dominação produção de sua vida material, na interação social social em função desse trabalho, que se exerce por e com a natureza. Vivemos numa sociedade capi- meio do próprio trabalho, “aprisionado nos limites talista focada no trabalho sob a forma social de- exigidos para conservar como valor o valor já cria- terminada da acumulação do capital. O processo do”. Ou melhor, junto com uma tendência à genera- de construção da sociedade capitalista exigiu uma lização da “natureza” social capitalista como socie- série de condições históricas antes não existentes dade do trabalho, há uma imposição dos critérios e – uma ética do trabalho, a conversão de trabalho das condições da acumulação em todos os âmbitos em mercadoria, o apoio social à acumulação sem das relações dos homens entre si. O próprio modo propósito de uso – apontadas de modo exemplar de apreender a sociedade por parte de seus sujeitos na obra de Max Weber, A ética protestante e o espí- efetivos se encontra marcado pelas determinações rito do capitalismo. da sociedade do capital, tudo girando em torno da Para nós, em nosso dia-a-dia, a formação social produção de riquezas e consumo. O capitalismo assim constituída parece natural, como produto quer, mediante os mecanismos sociais, manter-se, abstraído do processo de formação material. En- privilegiando o capital em detrimento da mão-de- caramos a constituição atual da sociedade, pautada obra, que trabalha por meio do convencimento de no trabalho com base na ideologia capitalista, como que essa é a única forma de se produzir trabalho. E sendo parte integrante e imutável de nossa socieda- as instituições são organizadas de forma a reprodu- de. Mas esquecemos que nem sempre foi assim, já zir as formas de vida social necessárias à prolonga- passamos por diversos modelos de produção, como ção da vida dessa forma de exploração econômica. o feudalismo, por exemplo, e continuaremos ainda Existe uma relação necessária entre formação adiante vivenciando outras formas de geração de social, capital e trabalho, isso é evidente, porque o riquezas. trabalho representa algo de muito valor para o ser 30
  • 25. AULA 3 — Produção Social e Valor humano, mas há uma tendência à dominação do bendo por ele menos do que muitas vezes produziu capital sobre o trabalho que configura uma deter- no mês. minada formação social. Portanto, há na formação “Sem produção”, afirma Marx, “não há consumo, social vigente uma estrutura de dominação no que porém sem consumo tampouco há produção, já que se apresenta como relações entre capital e trabalho. neste caso a produção não teria objeto.” A reprodu- A sociedade capitalista existente é uma sociedade ção social revela-se inicialmente como um processo do trabalho pela perspectiva dominante do capital, produtivo, forma pela qual o ser social integra-se que desenvolve formas de dominação. A base des- à natureza, garantindo sua autoperpetuação. Marx sa dominação seria apreendida por Marx enquanto alinha produção, distribuição, intercâmbio e consu- processo de alienação na relação dos homens com mo, afirmando que: “O resultado a que chegamos a sociedade e a natureza, a partir de sua análise do não é que a produção, a distribuição, o intercâmbio trabalho alienado enquanto processo de objetiva- e o consumo sejam idênticos, senão que constituem ção invertida, em que se constitui uma abstração do as articulações de uma totalidade, diferenciações produto em relação ao seu processo de produção. dentro de uma unidade.” Nas palavras de Marx, trata-se de “uma formação Marx, por sua vez, abre O Capital chamando a social onde o processo de produção domina os ho- atenção para o fato de que a riqueza – uma catego- mens e os homens ainda não dominam o processo ria aparentemente absoluta – é, na verdade, histórica de produção”. e socialmente determinada. No modo de produção Isso porque para esse autor poderia ser diferen- capitalista, a unidade essencial da riqueza não é o te. A sociedade poderia não privilegiar o capital e a bem material – o valor de uso –, mas a mercadoria, propriedade privada, dando ênfase ao proprietário marcada pela dupla determinação de valor de uso – da mão-de-obra, o trabalhador, mas tal não ocorre conteúdo material da riqueza – e valor de troca – seu devido ao processo que denominou de alienação, no conteúdo social. O valor de troca, que historicamente qual o trabalhador não se vê como proprietário dos se sobrepõe ao valor de uso, é uma unidade absoluta- bens produzidos, pois não detém a propriedade das mente social, cuja grandeza é determinada pelo tem- ferramentas de produção e por isso se deixa explo- po de trabalho socialmente necessário à produção de rar vendendo o que possui, sua força de trabalho, ao um determinado valor de uso – reduzido a mero su- empresário, dono da indústria ou da empresa, por porte daquele. Se seguirmos acompanhando a análise um determinado valor. de Marx ao longo do primeiro capítulo de O Capital, Ocorre que isso gera o que Marx chamou de mais- ao duplo caráter da mercadoria corresponde o duplo valia, que é o valor que não é entregue ao empregado caráter do trabalho: trabalho concreto – produtor de pelo desempenho de seu trabalho. Exemplificando, valor de uso, riqueza material – e trabalho abstrato – o valor que o proprietário da empresa paga ao tra- produtor de valor, cuja objetividade é absolutamente balhador não inclui na realidade tudo o que deveria social. Nesse contexto, a contradição entre as forças ser pago a ele, porque o empresário paga somen- produtivas e as relações de produção, tal como postu- te um valor que atribui na categoria salário e nesse lada por Marx, está diretamente vinculada ao caráter valor não está incluído todo o valor da mercadoria social da riqueza, ou seja, ao valor, que é a manifesta- que foi produzida. Então, o que resta e não é pago ção social desta sob o capitalismo. É importante ob- ao trabalhador fica nas mãos do empresário, que se servar que, da perspectiva marxista, o trabalho não é utiliza do valor da forma que lhe aprouver. A aliena- compreendido como forma absoluta de produção do ção ocorre porque o trabalhador não se apercebe do mundo e da riqueza, mas num sentido absolutamen- que produz porque não consegue ter consciência de te histórico. O trabalho como elemento essencial da todo processo produtivo e não visualiza em termos riqueza sob o capitalismo é a abstração do trabalho financeiros quanto é o valor do seu trabalho, rece- concreto – dispêndio de força de trabalho (cérebro, 31
  • 26. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social músculos, nervos, mãos etc.) sem consideração pela reitos estabelecidos na vida em sociedade, mas se o forma como foi despendida – seja ele manual ou in- sujeito é o mercado, o capital, o determinante social telectual, que se desenvolve sobre certas condições é a acumulação do capital, e toda a estrutura social sociais específicas, ou seja, como trabalho assalaria- irá girar em torno do crescimento desse capital. do posto a serviço da valorização do capital. Assim, o As condições de produção da mercadoria envol- trabalho não é considerado como a forma universal vem a divisão e a hierarquização do trabalho dos e absoluta de atividade humana, de relação sujeito e indivíduos, que vão fazer parte de um processo de objeto, mas a forma social a que são convertidas as trabalho que é coletivo. A divisão do trabalho não atividades humanas em geral sob o capitalismo. só potencia, dinamiza a capacidade produtiva, mas Para Marx, o trabalho é o próprio elemento es- também limita o trabalhador a tarefas cada vez mais truturador das relações sociais, haja vista constituir “parciais”, mais “simples”, tarefas que restringem, esse a atividade que permite a satisfação das ne- no trabalhador, o uso de sua sensibilidade, de sua cessidades básicas do indivíduo. O autor referido criatividade, para executar com rigor aquilo que a reconhece que a divisão do trabalho é responsável máquina pede. por um grande progresso material, mas contrapõe a A história da sociedade industrial é uma história esse um processo ininterrupto de alienação do indi- de lutas dos trabalhadores contra a imposição da víduo, ou seja, à medida que o modo capitalista de disciplina do trabalho, da disciplina de quartel, da produção evolui, o trabalho dos indivíduos passa a organização e racionalização dos processos de tra- ser encarado na sua forma abstrata, as mercadorias balho, que geram o esvaziamento completo dos in- parecem que adquirem vida própria e as relações teresses e motivações pessoais no ato de trabalhar. sociais passam a ser encaradas como relações entre A produção da existência humana e a aquisição coisas. A produção capitalista desenvolve-se em bus- da consciência se dão pelo trabalho, pela ação sobre ca do aumento da mais-valia relativa, visando a di- a natureza. O trabalho, nesse sentido, não é empre- minuir o valor da força de trabalho pela redução do go, não é apenas uma forma histórica do trabalho tempo necessário para a produção. Segundo Marx, em sociedade, é a atividade fundamental pela qual os indivíduos se realizam, por meio da execução de o ser humano se humaniza, se cria, se expande em alguma tarefa, também pelo trabalho. Entretanto, conhecimento, se aperfeiçoa. O trabalho é a base o modo capitalista de produção, ao impor um tra- estruturante de um novo tipo de ser, de uma nova balho parcelado e repetitivo, retira dos indivíduos a concepção de história. O que nos permite fazer a oportunidade de criar algo novo, colocando-os sub- distinção entre duas formas fundamentais de traba- missos à lógica capitalista de produção. lho: o trabalho como relação criadora, do homem com a natureza, produzindo a existência humana, O QUE É O TRABALHO ENTÃO? o trabalho como atividade de autodesenvolvimen- O trabalho humano efetiva-se, concretiza-se em to físico, material, cultural, social, o trabalho como coisas, objetos, formas, gestos, palavras, ações coti- manifestação de vida; e o trabalho nas suas formas dianas, realizações materiais e espirituais. O ser hu- históricas de sujeição, de servidão ou de escravidão, mano cria e recria os elementos da natureza que es- ou do trabalho moderno, assalariado, alienado na tão ao seu redor e lhes confere novas formas e novos sociedade capitalista. sentidos. Dessa forma, o trabalho é o fundamento Dessa forma, entendemos que o trabalho funcio- da produção material e espiritual do ser humano na como uma forma que gera um produto que pode para sua sobrevivência e reprodução. trazer satisfação ao ser humano, mas isso não ocor- O trabalho ou as atividades a que as pessoas se re na sociedade capitalista porque existe o mascara- dedicam são formas de satisfazer as suas necessida- mento das contradições entre capital e trabalho para des que, por sua vez, são os fundamentos dos di- que essa forma de produção nunca deixe de existir. 32
  • 27. AULA 3 — Produção Social e Valor Ao mesmo tempo, existe o movimento contrário uma concepção de natureza humana que se consti- para que se reorganize o trabalho, direcionem-se tui na inserção no mundo das relações sociais. os objetivos para a realização do trabalhador por meio de movimentos sociais, grupos organizados O trabalho é, portanto, um momento efetivo de co- e inúmeras outras maneiras de questionamento e locação de finalidades humanas, dotado de intrínseca reflexão. dimensão teleológica. E como tal mostra-se como uma Em síntese, as relações de trabalho na constru- experiência elementar da vida cotidiana, nas respostas ção da personalidade do trabalhador influenciam que oferece aos carecimentos e necessidades sociais. os processos da alienação ou a reificação (coisifica- Reconhecer o papel fundante do trabalho na gênese e no fazer-se do ser social nos remete diretamente à ção), cujas origens residem nas relações capitalistas dimensão decisiva dada pela esfera da vida cotidiana, de produção. como ponto de partida para a generacidade para si dos Quer se trate de caça num clã primitivo, quer do homens (ANTUNES, 2001, p. 168). trabalho agrícola de um servo ou da corvéia na terra do senhor, os homens têm sempre consciência, em Os diversos locais de trabalho vão constituir-se maior ou menor escala, da necessidade de produzir em oportunidades diferenciadas para a aquisição de certos bens para alimentar-se, vestir-se etc. (GOLD- atributos qualificativos da identidade de trabalha- MANN, 1967, p. 126). dor. São inúmeros os estudos que têm como tema a investigação de características identificatórias Para Goldmann (1967), é a sobrevivência que dá signi- próprias da classe operária e/ou de determinadas ficado ao trabalho, sendo que, nas sociedades de econo- categorias profissionais, os quais apontam que o mia de troca, o produto do trabalho tinha apenas valor exercício de certas atividades e o convívio com algu- de uso, trocava-se pela importância daquilo naquele momento. É nas sociedades pré-capitalistas (economia mas relações sociais constituem modos de ser que mercantil) que o produto do trabalho passa a ser um qualificam os pares como iguais (mesmo facultando bem, isto é, transforma-se em mercadoria. Essa trans- diferenças individuais) e se expressam em compor- formação desloca o valor de uso do produto para o tamentos similares (modos de vestir e de falar etc.). consumidor final e acrescenta o valor de troca, mas esse Apontam, ainda, a incorporação desses modos de valor não é agregado ao salário do trabalhador. ser como constitutivos da identidade. Desse modo, o trabalho propriamente dito, aquele que envolve o produtor e o produto numa relação tal que a O PROCESSO DE PRODUÇÃO SOCIAL produção é como um objeto fabricado pelo produtor, reconhecendo-se em sua obra, passa a ser um traba- O processo de tornar-se homem acontece na cor- lho “abstrato”, em que a produção é qualitativamente relação com o ambiente natural e humano, ou seja, igual, pois, seja o que for produzido, o valor de troca o ser humano em desenvolvimento não somente se igualará tudo pelo nivelador comum – o preço – e o correlaciona com o ambiente natural, como tam- produto do trabalho será todo dirigido para o mer- bém com uma ordem cultural e social. Em suma, cado. está submetido a uma contínua interferência social- mente determinada; na verdade, a uma multiplici- O exercício de atividades coletivas e de trabalho dade de determinações socioculturais. Embora se conjunto é apontado como responsável pelo sur- possa dizer que o homem tem uma natureza, é mais gimento das especificidades próprias do Homo sa- significativo dizer que ele constrói sua natureza, que piens, como pensamento, consciência e linguagem ele se produz a si mesmo. (LEONTIEV, 1978). Pela análise do trabalho alie- Os pressupostos genéticos do eu são, está claro, nado, Marx (1989) o apresenta como conferindo a dados no nascimento. Mas o eu, tal como é experi- qualificação de humano ao seu portador, a partir de mentado mais tarde como uma identidade subjeti- 33
  • 28. Unidade Didática — Processo de Trabalho em Serviço Social va e objetivamente reconhecível, não é. Os mesmos trabalho e/ou categorias profissionais, pelas suas es- processos sociais que determinam a constituição do pecificidades próprias, em geral associadas a prestí- organismo produzem o eu em sua forma particular, gio ou desprestígio social, proporcionam atributos culturalmente relativa (BERGER, 1985, p. 73). de qualificação ou desqualificação do eu. O eu como produto social não se limita a como Dejours (1993) relata que, a partir de seus estu- o indivíduo entende ou se identifica como sendo dos, foi possível mostrar que as pressões do trabalho, ele mesmo, mas abrange o equipamento psicológi- que põem particularmente em causa o equilíbrio co (emoções, por exemplo) amplo, que serve como psíquico e a saúde mental, provêm da organização complemento. Disso tudo, deduz-se que o organis- do trabalho em contraposição aos constrangimen- mo humano e o eu não podem ser compreendidos tos perigosos para a saúde somática, que se situa fora do contexto social em que se formaram. A nas condições de trabalho, mais precisamente nas instabilidade do organismo humano gera uma ne- condições físicas, químicas e biológicas, cujo alvo cessidade de que o homem forneça a si mesmo um principal é o corpo. ambiente estável para sua conduta. O trabalho também pode ser fonte de prazer e, A humanidade e a socialidade do homem estão mesmo, mediador da saúde. Conforme Dejours entrelaçadas, ou seja, ao se organizarem os fenôme- (1993), em sua luta contra o sofrimento, às vezes, nos humanos está-se entrando no reino do social. o sujeito elabora soluções originais, que são favo- Nesse reino, há uma ordem social que precede o de- ráveis tanto à produção quanto à saúde. Tal forma senvolvimento individual orgânico. Essa ordem so- de sofrimento foi por ele denominada “sofrimento cial é entendida por Berger (1985) como uma pro- criativo”. Quando, ao contrário, nessa luta contra gressiva produção humana, existindo como produ- o sofrimento, o sujeito chega a soluções desfavo- to da atividade humana. O ser humano, por sua vez, ráveis tanto à produção quanto à sua saúde, esse tem de estar continuamente se exteriorizando na sofrimento caracteriza-se como “sofrimento pato- atividade. As ações humanas tornadas habituais ad- gênico”. quirem um caráter significativo para o indivíduo. Por intermédio do trabalho, o sujeito engaja-se Afirma Berger (1985, p. 87): “A sociedade é um nas relações sociais, para onde transfere questões produto humano. A sociedade é uma realidade ob- herdadas de seu passado e de sua história afetiva. jetiva. O homem é um produto social.” Cada vez que o trabalhador encontra solução para O sujeito aprende-se a si mesmo como essencial- os problemas que lhe são colocados (atividade de mente identificado com a ação socialmente obje- concepção) e que obtém em troca reconhecimento tivada. Depois da ação, acontece uma importante social de seu trabalho, é também o sujeito sofredor, conseqüência, que é a reflexão do sujeito sobre ela. mobilizador de seu pensamento que recebe reco- Enquanto apresentada como um processo dialé- nhecimento subjetivo à sua capacidade para conju- tico, a identidade social facilita a incorporação de rar a angústia e dominar seu sofrimento. normas do grupo social, implica uma participação Porém, o prazer obtido dessa gratificação tem ativa do sujeito na construção da identidade gru- curta duração, ressurgindo o sofrimento, impelin- pal e afeta o contexto histórico onde ocorrem essas do-o para outras situações de trabalho, novas apos- relações concretas. Por sua vez, as estruturas socio- tas organizacionais e novos desafios simbólicos. Por lógicas influenciam as representações que os indi- outro lado, sendo o reconhecimento a retribuição víduos fazem de si enquanto representações do eu. fundamental da sublimação, isso significa que esta Da mesma forma, o caráter inter-relacional entre representa um importante papel na conquista da identidade pessoal e social pressupõe que não haja identidade. Identidade e reconhecimento social identidade pessoal que não, ao mesmo tempo e da como condição de sublimação conferem à primeira mesma forma, identidade social. Alguns espaços de uma função essencial na saúde mental. 34