1. UNIVESIDADE DE CABO VERDE
Departamente das Ciências Sociais e Humanas
Pólo do Mindelo
Disciplina
Filosofia da História
Trabalho de pesquisa
TEMA
“PERSPECTIVA HISTÓRICA DE GIAMBATTISTA VICO ”
Docente:
Mestre. Elisa Silva
Discentes:
Arlindo Rocha
Hélida Lopes
Roberto Andrade
Zenaida Cruz
Elaborado em Junho de 2010
Por: Arlindo Nascimento Rocha, Hélida Lopes,Roberto Andrade, Zenaida Cruz.Alunos do quarto ano do curso de
licenciatura em filosofia .
1
2. ÍNDICE
ÍNDICE ............................................................................................................................................................ 2
2-INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 3
3-CONTEXTO EM QUE SURGIU JÃO VICO........................................................................................................4
4-VIDA E OBRA .......................................................................................................................................... 5
5- A CONCEPÇÃO DA HISTÓRIA DE VICO: A VALORIZAÇÃO DA SABEDORIA POÉTICA E DO
PENSAMENTO MÍTICO ............................................................................................................................. 6
6- A NOVA CIÊNCIA ................................................................................................................................ 12
7- A HISTÓRIA IDEAL ETERNA ............................................................................................................. 13
8-AS TRÊS IDADES DA HISTÓRIA......................................................................................................... 15
9-A PROVIDÊNCIA DIVINA .................................................................................................................... 18
10-A PROBLEMATICIDADE DA HISTÓRIA .......................................................................................... 20
11- CONCLUSÃO....................................................................................................................................... 22
12- BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................... 25
2
3. 2-INTRODUÇÃO
O objecto principal de estudo do trabalho de Vico é a Ciência Nova, cuja meta central era
procurar a origem correcta da história profana e o modo pelo qual ela se ligava à história
considerada a mais antiga e mostrar que a providência governa a história humana. Para ele, o
conhecimento mais seguro era o das origens da história.
Por, isso escolhemos como tema de trabalho: “A PERSPECTIVA HISTÓRICA DE JOÃO
GIAMBATTISTA VICO”, tendo por objectivo conhecer melhor as suas teorias em relação a
história. Tentou demonstrar que a história anterior tinha algumas insuficiências, e que era
necessario novas caracteristicas para uma nova ciência.
Entre os historiadores parece haver um consenso em afirmar que Vico, deu um grande
contributo para a filosofia da história, interessa ao grupo saber qual foi o contributo, em que se
fundamenta.
Este trabalho enquadra-se na disciplina de filosofia da história, foi-nos solicitado pela
Mestre Elisa silva.
No presente trabalho, começaremos por fazer uma breve introdução seguida do contexto,
da Vida e da obra de Vico, seguidamente debrusaremos sobre a sua perspectiva histórica: a
concepção da história de vico: a valorização da sabedoria poética e do pensamento mítico; a nova
ciência; a história ideal eterna; as três idades da história; a providência divina; a problematicidade
da história e por último faremos a conclusão, realcando os aspectos que consideramos mais
importantes da sua teoria.
3
4. 3 – CONTEXTO
O pensamento de Vico está entre os séculos XVII e XVIII. O ponto de partida explícito do
pensamento de Vico é uma crítica à filosofia cartesiana. A sua obra encontra as suas raízes na
cultura filosófica do século XVII, que ele conheceu através das derivações e discussões que
suscitava no ambiente napolitano da época.
Vico, na sua auto-biografia indicava os quatro grandes autores que inspiraram o seu
pensamento: Platão, Tácito,Francis Bacon, por fim, Grócio. Estes quatro autores constituem
pontos de referência simétrica do quadro filosófico de Vico na sua plena maturidade, e nada dizem
sobre as fontes que inspiraram aos traços característicos desta filosofia.
O conceito de uma razão experimentadora e problemática cujo domínio seja o provável e
não só o necessário encontrava-se em Gassendi e encontrou a sua codificação na obra de Locke. A
metafísica que Vico refere a Zenão de Eleia inspira-se em certas formas do neoplatónismo do
século VXII e a noção de Deus como motor da mente humana, que surge repetidas vezes na
mesma obra, é claramente extraída de Malebranche.
Embora imerso na cultura do Século XVII, Vico chega a alguns resultados fundamentais
que o ligam ao século seguinte. Ele não tem decerto nada da audácia inovadora dos iluministas.
O seu pensamento político-religioso esta ancorado no passado e apresenta-se com um
intento declaradamente conservador.
A mesma característica teorética da sua filosofia que quer o certo, ou seja, o peso da
autoridade da tradição, mostra-nos que nele, há a busca de um equilíbrio que é estranho ao
pensamento. Mas liga-o, contudo, a este pensamento devido o carácter limitativo da sua
gnoseologia, e a própria polémica contra a razão cartesiana, que recusava ou parecia recusar toda
a limitação, é um tema fundamental do iluminismo.
A recondução da poesia e do mito á esfera das emoções e a declarada irredutibilidade desta
esfera á do pensamento, a importância na determinação dos caracteres humanos e das formas de
costume, são elementos da doutrina.
O conceito de história de Vico, como curso progressivo de eventos que conduz, ou deve
conduzir, á “razão completamente esclarecida” liga-se á concepção histórica do iluminismo, se
bem que Vico, diversamente deste, não renuncie á linguagem teológica.
4
5. 4-VIDA E OBRA
João Giambattista Vico nasceu em Nápoles a 24 de Junho de 1668. Estudou filosofia
escolástica e direito. Durante nove anos (1689-1695) foi preceptor dos filhos do marquês Rocca
no castelo de Vatolla no Cilento, onde, utilizando a rica biblioteca do marquês, adquiriu a maior
parte da sua cultura.
Regressado a Nápoles, em 1699, obtêm a cadeira de retórica naquela universidade. Em
1723, aspirou Debalde a obter uma cátedra de jurisprudência, que terá melhorado muito a sua
situação e teria sido mais consoante com a natureza dos seus estudos. Ele viveu uma vida pobre e
obscura entre as restrições financeiras e o ambiente familiar, pouco propício ao recolhimento e ao
estudo.
Em 1720 teve a primeira ideia da sua obra fundamental, nela trabalhou até a morte,
fazendo-lhe correcções e acrescentos. Durante a sua vida teve os seus reconhecimentos que eram
escassos e raros. A originalidade e complexidade do seu pensamento em relação a cultura italiana
do seu tempo, a pesada e confusa erudição com que sobrecarregou a sua obra, fizeram que só
numa época lhe fosse conferido o lugar que lhe está reservado na história do pensamento. Morreu
em Nápoles a 23 de Janeiro de 1744.
Com o seu ensino se prendem as cinco orações inaugurais, das quais a mais importante é a
“De nostri temporisstudiorum ratione” (1708). Em 1710 prepara-se para dar expressão sistemática
ao seu pensamento numa obra intitulada “De antiquíssima Italorum sapientia ex linguae latinae
originibuseruenda”. Esta obra devia resultar em três livros, respectivamente dedicados a
metafísica, a física e a moral, resultou apenas do primeiro, porque os outros não chegaram a ser
escritos.
Apresenta a sua metafísica como a verdadeira metafísica daquelas antiquíssimas
populações italianas. Em 1716, Vico publicou uma obra histórica “De rebusgestis Antonii
Caraphei” escrita a pedido do Duque Adriano Carafa.
Em 1720, deu à estampa o escrito que é a primeira formulação das ideias da ciência nova:
“De uno universi juris principio et fine uno”, a qual fez seguir “De constantia jurisprudentis”. Em
1725 publicou a primeira edição da sua obra fundamental “Principi di una scienza nuova intorno
allacomune natura dele nazioni” e a “Autobiografia”. Em seguida, reescrevia inteiramente a
“Ciência nova” (1730) e desta segunda edição não difere substancialmente a outra que viu a luz
em 1744, alguns meses da sua morte.
5
6. 5- A CONCEPÇÃO DA HISTÓRIA DE VICO: A VALORIZAÇÃO DA
SABEDORIA POÉTICA E DO PENSAMENTO MÍTICO
O objecto principal de estudo do trabalho de Vico é a Ciência Nova, cuja meta central era
procurar a origem correcta da história profana e o modo pelo qual ela se ligava à história
considerada a mais antiga, e mostrar que a providência governa a história humana e realiza sua
finalidade através dos actos humanos, ainda que os indivíduos não possuam consciência disso.
Apesar do recurso à providência ser constante, a concepção de história de Vico é essencialmente
secular. Via “as pessoas, grupos, nações e épocas individuais apenas como estágios definidos do
processo abrangente no qual a cultura se desenrola.”
Para Vico, o conhecimento mais seguro era o das origens da história – conhecimento
desacreditado em sua época, por Descartes e Newton. Num caminho diferente ao da metodologia
cartesiana, Vico buscou as leis que governam a história humana, para além da mera descrição de
eventos históricos. Seu objectivo era fazer da História uma ciência tão certa como as ciências da
natureza.
A realidade só havia sido abordada pelo aspecto da ordem natural, que pouco ou nada diz
do universo humano, pois, se o homem está situado na natureza, isso não quer dizer que ele tenha
emergido da natureza. O mundo histórico-humano era ainda algo a ser explorado.
Segundo Marcuse, Vico foi o primeiro filosofo que denominava Providência, ou “reino
das actividades humanas”, pode ser entendido quase como uma racionalidade universal. É uma
instância que impulsiona os seres humanos a criar sociedade e cultura em detrimento de seus
instintos individualistas, egoístas e bárbaros, e foi primeiro a tratar a mudança social como um
problema principalmente sociológico.
Para Vico, somente o mundo humano possuía história e podia ser verdadeiramente
conhecido. Seu argumento era o seguinte: “do mundo natural, só Deus tem o conhecimento, pois
foi Ele quem o criou”. O mais alto objecto do conhecimento humano é aquilo que construímos,
aquilo que é fruto da natureza e do espírito humanos, a realidade histórica, e não as construções
fictícias do entendimento.
O conhecimento humano só pode se dar com base na análise do processo histórico. Os
produtos humanos (Economia, Estado, Direito, Religião, Ciência, Artes etc.) ocorreram na
História e, portanto, só podem ser compreendidos pelo estudo das relações entre os indivíduos, e
não dos indivíduos isolados.
6
7. A Ciência Nova abordou a totalidade da cultura material e não-material, seu
desenvolvimento histórico e a inter-relação entre elas. A grande realização de Vico foi sua
afirmação de que, esta totalidade era “obra do homem”, o que encerrou a busca inútil por leis
cósmicas universais, supra-sociais, que governariam o processo social. Com efeito, “o mundo
social surgiu como o reino das necessidades, desejos e interesses humanos, como a disputa sempre
renovada entre o homem, a natureza e a história.
A base empírica de Vico é o “senso comum,” que os homens aplicam às “necessidades e
utilidades” de sua vida, ele é o contexto de idéias, valores e padrões desenvolvidos por indivíduos
associados na manutenção quotidiana da vida, anteriormente a qualquer reflexão e abstração. O
senso comum constitui a unidade orgânica de uma cultura, e é o único fundamento das leis gerais
que governam o curso da história. Ao contrário do pensamento predominante no Iluminismo, o
filósofo afirmava que as “falsas religiões” não eram produto de um engano, mas de um
desenvolvimento necessário à humanidade.
Ele era contrário à interpretação alegórica dos mitos e via neles a “expressão espontânea da
humanidade primitiva”. Para ele, mesmo sendo imaginada, a história dos pagãos era uma história
verdadeira. Os poetas gregos contaram fielmente, através de suas fábulas, os princípios da história
universal profana.
Todavia, os estudiosos não deram correcta atenção às fantasias destes poetas. Dessa
desatenção, ou má-interpretação, resultou que o princípio da história permaneceu desconhecido,
assim como a cronologia racional da história poética e a história universal profana. Os
testemunhos históricos das épocas primitivas legados pela tradição, e, sobretudo pela mitologia,
constituem o material informativo do qual se deduz o estado primitivo das coisas.
Para Vico, o mito possuía verdade histórica, não eram “reconstruções imaginosas de
eventos naturais”, mas acontecimentos da vida social, ou “política mitologizada”. Sua
interpretação da mitologia foi guiada pela intenção de compreender os conteúdos espirituais a
partir das relações sociais que os condicionam.
Uma grande contribuição de Vico dentro de seu estudo mitológico, foi sua teoria de que as
antigas lendas são portadoras de uma verdade política, sendo assim fontes históricas da vida dos
primeiros povos. Dessa forma, as concepções mitológicas não seriam meras criações livres do
espírito, mas reflectiriam a realidade social, mesmo que de maneira alterada.
Vico voltou a encontrar sempre nos mitos esta dependência que os plebeus têm em relação
aos patriarcas, os servos com relação aos senhores, e que o filósofo identificou às relações
medievais de vassalagem e servidão. Os filhos podem um dia se libertar do monárquico, mas o
7
8. servo vive em uma servidão sem esperança. A pressão que submete os escravos gera
descontentamento e, finalmente, ocorrem as revoluções.
Ele vê a oposição entre as classes como o facto social fundamental, a chave da mitologia
grega. As várias formas de miséria que a escravidão representa têm expressão simbólica nas penas
particulares – neles estão depositados vários outros motivos para rebelião. Todas as formas de
sociedade se desenvolvem a partir da organização das necessidades, depois são determinadas pelas
utilidades e mercadorias e terminam com o domínio do prazer, do luxo e da riqueza (a barbárie
reflectida). “Estas relações irão delinear as formas morais, políticas, artísticas e religiosas que
caracterizam as culturas históricas individuais.”
Para Vico, não é possível apontar um facto isolado como única causa da mudança social:
todos os factores estão inter-relacionados e é sempre o todo que muda. À medida que a cultura
material avança, surgem novas formas de cultura não-material – mas a cultura material não
determina todas as outras esferas, pois ela própria é moldada pelas forças imaginativas e
especulativas, às quais Vico atribui grande valor na evolução da humanidade. Entretanto, o todo se
estrutura depois das relações sociais fundamentais (a luta constante entre senhores e servos).
Em Vico, a mitologia constitui uma forma prévia de conhecimento, necessária e primitiva,
da qual surgiu a Ciência e que corresponde a certo estágio da sociedade, da mesma forma que
nosso tipo de mentalidade corresponde à civilização moderna. A poesia primitiva foi o primeiro
conctato do homem com o mundo desconhecido, fruto da acção das sensações e da imaginação
diante da realidade concreta: “As sensações e a imaginação são as forças modeladoras da poesia,
cujo conteúdo dá significado humano ao mundo. As duas primeiras idades do mundo, a idade dos
deuses e a idade dos heróis, corresponderam ao tempo poético, no qual vigorou uma sabedoria
poética.”
No ambiente ideologicamente conturbado da época de Vico, a História Sagrada era
defendida pelos conservadores como a única história verdadeira, como a única cronologia correcta
do mundo. Já a história profana era tida como fantasiosa, imaginada – isto para refutar a
antiguidade pretendida pelas nacções pagãs. Segundo Vico, o início de toda história gentílica é
fabuloso e as nacções têm inícios bárbaros: a humanidade inicia seu curso histórico em meio ao
obscurantismo e ao terror. Se, por um lado, a sabedoria poética dos primeiros tempos foi rude, por
outro, ela não é menor do que a sabedoria dos filósofos, somente de uma qualidade diferente.
Em sua Ciência Nova, expõe as cinco razões que justificam a importância da sabedoria
poética para os primeiros povos: em primeiro lugar, a reverência da religião – as nacções
gentílicas foram constituídas por fábulas; em segundo, que a ordenação do mundo civil resultou
dessa sabedoria; em terceiro, as fábulas deram material para “investigações filosóficas
8
9. altíssimas”; em quarto lugar, os filósofos puderam explicar várias coisas graças às expressões
legadas pelos poetas; e em quinto lugar, os filósofos fizeram uso da autoridade da religião e da
sabedoria dos poetas para comprovar os assuntos por eles meditados. Assim, não há
necessariamente uma relação de oposição, mas sim de complementaridade, os poetas sábios são os
sentidos e os filósofos são o intelecto da humanidade.
Por Arte Poética, Vico entendia “téchne”, criadora de coisas boas e úteis, e não mera
imitação da natureza física. Embora a poesia seja imitação, ela imita a natureza humana, a
“indefinida natureza da mente humana” que faz de si a regra ordenadora do universo nos
primitivos tempos bárbaros: “O homem primitivo projectou-se sobre o mundo natural e
relacionou-se com ele valendo-se de si próprio.”
Nas palavras de Vico: “foi o temor que ficticiamente forjou os deuses no mundo.” Estes
homens primitivos preencheram tudo no universo com divindades – fantasias projectadas na
natureza, o homem imaginou as causas racionais dos fenômenos que desconhecia, as criou
imaginativamente e depois as tomou por realidade externas a ele.
As primeiras instituições e os primeiros costumes sociais surgiram do medo dos elementos
naturais, personificados pelos humanos primitivos que projectam seu próprio ser no universo.
Assim, a primeira língua dos povos foi poética e ajudou a formar as primeiras leis e a primeira
religião.
A poesia nasceu de uma necessidade natural, não de um projecto intencional, e tinha para
os povos primitivos, um caráter divino. Os sábios eram chamados poetas teólogos, pois
compreendiam a fala dos deuses, os poetas eram os intérpretes dos deuses, aptos a explicar os
mistérios das divindades (oráculos).
Não somente a mitologia foi vista por Vico como reflexo das relações sociais, mas também
a metafísica estava relacionada à realidade histórica. O método de Vico na busca pela natureza das
coisas humanas é uma rigorosa análise dos pensamentos humanos sobre a necessidade e utilidade
da vida social.
Ao afirmar que o mundo das Nacções foi feito pelos homens, e os princípios deste mundo
encontra-se nos homens, Vico recusava qualquer caráter místico ou transcendente para a origem
da história. A natureza animal dos homens só conhece as coisas através dos sentidos. Logo, a
sabedoria poética começou de uma metafísica sentida e imaginada, e não abstrata e racional como
era a metafísica clássica. A origem da poesia, que coincide com o começo da civilização, está na
primitiva interpretação dos fenômenos naturais, que consiste em projectar o próprio ser na
natureza, em dotar de vida as forças naturais.
9
10. Os homens primitivos não dispunham de racionalidade, eram só sentidos e fantasias. Por
isso, a poesia foi quase uma consequência natural dessas faculdades. A mente humana agora é
bastante diferente da mente dessa época, é capaz de abstracções. Por ignorarem as razões das
coisas é que os homens primitivos se maravilhavam tanto com elas.
A poesia começou divina, pois ao fantasiar a razão das coisas, os homens sentiam e
admiravam-nas como divinas. Os homens primitivos conferiam aquilo que admiravam as
qualidades de suas próprias idéias, animando o inanimado, como fazem as crianças.
Vico foi o primeiro a reconhecer, a analogia existente entre a mentalidade dos primitivos
com à das crianças. Fez importantes observações a esse respeito, entre elas, o facto de que as
crianças e os homens primitivos serem incapazes “de formar conceitos genéricos inteligíveis”. As
investigações modernas estão de pleno acordo com esta teoria, segundo a qual os primeiros graus
de intelectualidade carecem de comportamento categorial, e se caracterizam por um pensar pré-
lógico.
Vico estava interessado em como a mente humana havia criado a história civil, apesar de
ter afirmado que a civilização não foi uma construção independente do espírito livre, mas, devido
às circunstâncias materiais.
Vico retoma a tripartição histórica: época obscura (idade dos deuses – predominância de
uma fala muda, de caracteres naturais); época fabulosa ou heróica (idade dos heróis – de fala
metafórica, com insígnias, armas e brasões); época histórica (idade dos homens – fala
convencional, escrita epistolar, leis, cultura). Vico, defende a tese de uma alternância cíclica da
história humana, entretanto, trata somente da formação do homem. Assim, o primeiro período
(Idade dos Deuses) é o da hegemonia dos gigantes – a forma de conhecimento correspondente é a
fantasia e sua expressão é a poesia fantástica. No segundo período (Idade dos Heróis), surgem as
classes e os Estados, os heróis, ou seja, os nobres, se agrupam em classes armadas contra os
plebeus, para proteger a estrutura da propriedade e para defender-se daqueles que não possuem
propriedades. A etapa seguinte, a actual, é a Idade dos Homens, e foi examinada com menos
profundidade por Vico.
A Ciência Nova ocupou-se mais da análise dos dois primeiros períodos. Após a realeza
primitiva, surge a república aristocrática, depois a democrática, o império e, por fim, a decadência
(ou barbárie).
Para Vico, a passagem de um estágio histórico a outro é a passagem de uma forma inferior
de razão a uma forma superior; à medida que a civilização se desenvolve, o ser humano se liberta
do jogo de forças maléficas e inconscientes que governavam sua vida primitiva e expande o
domínio da acção consciente e racional. É a reflexão exercitada sobre si e seu mundo, o progresso
10
11. da consciência que, ela própria estimulada pelo progresso da cultura material, dá ao homem o
controle sobre a natureza, bem como sobre a sociedade, produz riqueza e luxo crescentes, mas, ao
mesmo tempo, promove o declínio de toda a cultura a uma nova era de barbárie.
O processo histórico de todas as nações é denominado por Vico de História Ideal Eterna:
toda sociedade sempre seguirá o mesmo curso, sendo possível estabelecer-se os fundamentos de
uma “história ideal”, segundo a qual todos os destinos das outras civilizações deveriam cumprir-
se. O desenrolar da História de cada nação segue o seguinte percurso: barbárie, desenvolvimento,
apogeu, nova barbárie de trevas, injustiça e decadência moral. Apesar do retorno das velhas
formas de pensar e da derrocada na barbárie, ao final de cada ciclo histórico, a missão eterna é que
no fim reine uma ordem justa – posto existir uma identidade entre a legalidade histórica e a
Providência Divina. A Primeira Barbárie (dos sentidos) é o estágio inicial da vida humana no
mundo, caracterizado pela injustiça social. Esta barbárie inaugural é o protótipo viquiano das
situações bárbaras. Se, por um lado “a história cíclica não é o veredicto da eterna degeneração do
homem”, por outro, mostra que a Idade dos Homens é frágil e corruptível. Uma recaída na
barbárie é sempre possível, seja por catástrofes naturais, seja pela repercussão das tensões
inerentes aos Estados civilizados; a barbárie, que é a realidade nas fases inicial e final da História
Ideal Eterna, aparece como possibilidade ao longo da trajectória.
11
12. 6- A NOVA CIÊNCIA
Reconduzido pelo princípio de identidade do verdadeiro e do real aos seus limites próprios, o
conhecimento humano é capaz de investigar uma certa ordem da realidade e frente as outras
ordens revela-se incapaz. O conhecimento humano é impotente diante do mundo da natureza e do
próprio homem como parte deste mundo, porque a natureza é obra de Deus, mas está-lhe aberto o
mundo das criações humanas.
Vico, na sua obra “De antiquíssima” (a antiga sabedoria dos italianos) reduz o mundo da
criação humana ás abstracções matemáticas, apresentando uma tese que já havia sido defendido
por Hobbes no “De homine”. Mas na “Ciência Nova”, ele reconhece como objecto próprio do
conhecimento humano, enquanto obra humana, o mundo da história. No mundo da história o
homem é produto e criação da sua própria acção e não uma substância física e metafísica, de modo
que este mundo é o mundo humano por excelência. Pois assim sendo, a história não é uma
desligada sucessão de eventos: deve possuir em si mesma, uma ordem fundamental, à qual o
desenrolar dos acontecimentos aponta para o seu significado final. A tentativa que sempre tem
vindo a ser motivo de frustração do homem, a de descobrir a ordem e as leis da natureza, só pode
ser realizada com base no mundo da história, pois só este é verdadeira obra humana.
A ciência nova de Vico, é nova no sentido em que procura estabelecer uma indagação do
mundo histórico que tem como objecto revelar a ordem e as leis deste mundo. Mas é nova apenas
como reflexão sobre a história, visto que, a reflexão nasce apenas de um certo ponto e é um facto
posto em relação à história. Noutro sentido ela é antiquíssima e nasceu com o homem e com a sua
vida social. Segundo Vico, “ as doutrinas devem começar a partir do momento em que começam
as matérias de que tratam”, ou seja, a história começou a partir do momento em que o ser humano
começou a pensar humanamente, e não quando os filósofos começaram a reflectir sobre as ideias
humanas.
A ciência que Vico chamou nova, é a sabedoria originária da qual surgiram todas as ciências
e as artes que formam a humanidade e o homem mesmo no próprio ser do homem. Ela acompanha
toda a história humana e constitui-a essencialmente, verificando nela do modo mais rigoroso a
identidade do verdadeiro e do real. É o próprio homem que pensa e faz a história. As fases da
história são caracterizada pela menor ou maior clareza daquele, humano pensante, que acompanha
e que passa a construir as suas manifestações mais salientes: os costumes, e o direito, o governo, a
língua, etc.
12
13. 7- A HISTÓRIA IDEAL ETERNA
Vico vai reflectir sobre a questão da história ideal eterna, baseia-se na obra de Platão,
especialmente na “república Platónica”. Mas também vai tentar conciliar o ensinamento de Platão
com o de Tácito para falar da situação histórica da humanidade.
A situação originária do homem surge como ponto de partida da história e da meditação de
Vico. Segundo ele, “o homem desesperado de todos os socorros da natureza, deseja uma coisa
superior que o venha socorrer”. Vico assume, o ponto de partida do pensamento religioso na
medida em que afirma que de superior a natureza e ao homem só existe Deus. O homem tende a
sair do seu estado de queda para se dirigir para uma ordem divina, em que ele faz um esforço, para
se subtrair á desordem dos impulsos primitivos.
A ciência histórica surge a Vico como “teologia civil e racional da providência divina”, ou
seja, a demonstração de uma ordem providencial que vai actuando na sociedade á medida que o
homem se subtrai á sua queda e á sua miséria primitiva. A história move-se no tempo, mas tende a
uma ordem que é universal e eterna. Os homens deixam de ser movidos pelos seus impulsos
primitivos para buscarem as suas conveniências particulares, mas sem o pretenderem
explicitamente ou contra sua vontade, a “grande cidade do género humano” vai definindo-se como
meta geral da história.
A grande cidade do género humano é a comunidade humana na sua ordem ideal, pela qual,
a vida associada do homem deve ser na sua realização e através dela, a sucessão temporal adquire
o seu verdadeiro significado. Ao mero reconhecimento do facto substitui-se a valorização; ao foi,
é, será sucede-se o devia, deve, deverá e, portanto, sucede-se a necessidade ideal, em que, o curso
cronológico dos factos pode assumir muitas direcções, uma só é a que ela devia para a ordem da
comunidade ideal. É, portanto só uma alternativa, na série dos possíveis que deve verifica-se. Mas
esta necessidade ideal, não é uma necessidade que anule a possibilidade das outras alternativas.
A história ideal eterna, que é a ordem e o significado universal da história, não se identifica
nunca com a história no tempo. Esta decorre segundo aquela, segundo a história ideal eterna, Vico
afirma que “decorrem no tempo as histórias de todas as nações nos seus surtos, progressos,
estados, decadências e fins.” Ela é a substância que rege a história temporal, a norma que permite
ajuizar. Neste sentido, é o dever ser da história no tempo, mas não anula a problematicidade de tal
história e que pode não se adequar a ela e não alcançar o termo que ela indica.
Ele demonstra que a história ideal eterna é transcendente relativamente á história particular
das nações, mas que esta transcendência não exclui a relação, antes a implica porque trata-se de
13
14. uma relação entre a condição e o condicionado, entre o dever ser e o ser, entre a norma e aquilo
que se deve erigir em norma. Assim, segundo a ideia de Vico, a “república de Platão” é a norma
para a constituição de um estado ideal e é o termo final que a história deve tender.
Vico descreve o curso progressivo da evolução histórica servindo-se da velha ideia de uma
sucessão de idades: idade dos deuses; idade dos heróis e idade dos homens. Vico dá este velho
conceito um novo sentido: para os antigos a sucessão das idades constituía a ordem de decadência
ou de regresso, estando a perfeição no princípio, já para Vico, essa sucessão é uma ordem
progressiva. Para os antigos, a diferença entre as diversas idades não tem um fundamento
histórico-mítico, mas sim antropológico, já para Vico, cada idade é marcada pela prevalência de
uma particular faculdade humana sobre as outras.
Assim, Vico considera, a ciência nova, doutrina da história ideal eterna, também como
“uma história das ideias humanas sobre a qual parece haver de prosseguir a metafísica da mente
humana: ela vem a ser a determinação do desenvolvimento intelectual humano desde as rudes
origens até à “razão inteiramente esclarecida” e inclui uma “crítica filosófica” que mostra a
origem das ideias humanas e a sua sucessão.
A história no tempo pode decorrer sobre a linha da história ideal porque tem em si, como
fundamento a norma de todas as fases, uma relação com ela, isto é, com a totalidade dela e não
apenas com aquela fase que corresponde à fase em acto. Seja qual for a fase de desenvolvimento
da história temporal, seja a divina, da humanidade rude e bestial, seja a heróica, seja a humana, da
reflexão inteiramente esclarecida, o que impede a mobilidade, a dispersão e a morte da
comunidade humana é a relação com a ordem total da história eterna. Essa história, precisamente
por ser eterna, não tem partes, não se divide na sucessão cronológica de modo que um período
desta sucessão corresponda a uma só fase.
A história é uma norma divina, que sustém o homem desde dos primeiros passos incertos
da sua vida temporal. O que constitui a diferença entre as várias fases desta vida temporal é a
mobilidade da relação, ou seja, a forma espiritual por que o homem se apercebe dela.
14
15. 8-AS TRÊS IDADES DA HISTÓRIA
O obscuro sentimento da ordem providencial da história eterna fez o homem abandonar o
estado bestial, iniciar a vida civilizada e a história. A sabedoria primitiva dos homens não possui
clareza da verdade demonstrada, desprovida de racionalidade, é uma simples certeza obtida sem
nenhuma reflexão. É um juízo sentido por toda uma ordem, por todo um povo, ou seja, é um juízo
que é o senso comum das nações, partilhada por todos.
Antes da manifestação clara providencial como verdade na reflexão dos filósofos, ela era
vista como certeza humana, testemunhada pelo senso comum e garantida pela autoridade. Assim a
nova ciência é também uma filosofia de autoridade, a qual esclarece a consciência que o homem
tem da ordem providencial antes de alcançar a ciência dela. Como filosofia de autoridade, ela não
pode prescindir da filologia porque ela é precisamente a consideração da autoridade e da ciência
do certo
Reconheceu-se o senso comum como guia da existência social, antes do nascimento da
reflexão filosófica, deve admitir-se que aquilo que é julgado justo por todos os homens deve ser a
regra da vida social. Em sentido restrito da filosofia este critério vale como um limite às
pretensões da reflexão filosófica. Vico, afirma que não se pode fugir a esses limites, pois quem
fugir delas pode estar a fugir a humanidade.
O primeiro saber humano foi a sabedoria poética. Os homens que fundaram a sociedade
humana eram considerados por Vico de “estúpidos, insensatos, horríveis bichos” sem nenhum
poder de reflexão mas dotados de fortes sentidos e robustíssima fantasia. Vico na Ciência Nova
deu muito ênfase o estudo da sabedoria poética que é produto da sensibilidade e da fantasia dos
homens primitivos. Ele mostrou que há uma independência da sabedoria poética em relação à
reflexão, isto é, à razão ou ao intelecto. Porque a sua base é a fantasia, a sabedoria poética é
essencialmente poesia divina, porque o transcendente visto através da fantasia, toma corpo em
todas as coisas e em toda a parte faz-nos ver a divindade. Poesia que é criação, e criação sublime,
porque é perturbadora em excesso, e, por conseguinte, fontes de emoções violentas; mas criação
de imagens corpóreas, não, como a divina, de coisas reais.
Para ele, linguagem é vista como primeiro elemento fundamental dessa criação, e não é
arbitrário porque nasceu naturalmente da exigência dos homens se entenderem entre si. Sendo que
foi alvo de uma evolução, primeiro se satisfez com gestos (actos mudos), depois com objectos
simbólicos, depois com os sons, e finalmente, com palavras articuladas. A poesia exprime a
natureza do mundo do homem primitivo, ela não é “sabedoria restabelecida”, não contém verdades
15
16. intelectuais envolvidas ou camufladas por imagens, é um modo primitivo mas autónomo, de
entender a verdade, de testemunhar o transcendente. Ela procura entender a realidade, dando vida
às coisas inanimadas, procura testemunhar o transcendente escolhendo como matéria própria o
“impossível crível” e cantando os prodígios e as magias; procura alcançar - se à ordem
providencial “representando o verdadeiro na sua ideia óptima” e assim supondo completa aquela
justiça que nem sempre a história realiza, por obra de uma divindade que atribui prémios ou
castigos segundo os méritos.
Mas Vico afirma que, a poesia desaparece à medida que a reflexão prevalece nos homens,
porque a fantasia que lhe dá origem, é mais forte quanto mais fraco é o raciocínio e os homens se
afastam daquilo que é sensível e corpóreo à medida que são capazes de formular conceitos
universais. Isto acontece tanto na história da humanidade como no desenvolvimento do homem
particular.
A sabedoria poética é um modo de testemunhar de forma obscura e fantástica a ordem
providencial, que é a norma da existência histórica. A filosofia faz essa sabedoria resplandecer
como verdade racional e com isso torna-o objecto da filosofia.
Vico mostra-nos que não se pode sobrepor a filosofia à religião, porque as suas máximas
racionais sobre a virtude são menos eficazes sobre o homem do que essa, a qual faz sentir
imediatamente ao homem a realidade da ordem eterna e o empenho em agir em conformidade com
ela.
Vico entendeu que as religiões só são verdadeiras, quando através delas os povos realizam
obras virtuosas por meio dos sentidos, e que levam os homens a agirem eficazmente.
Eles imaginaram e sentiram nas forças naturais que os ameaçavam divindades terríveis e
punidores, por medo das quais começaram a refrear os impulsos bestiais, criando as famílias e as
primeiras disposições civis. Assim constituíram as repúblicas denominadas por Vico de
monásticas, dominadas pela poder paterna e fundadas no temor de Deus. É esta então a primeira
idade dos Deuses.
Iniciada a vida nas cidades, as repúblicas passaram a ser dominadas pela classe aristocrática,
onde se cultivava os sentimentos como: virtudes heróicas da piedade, da prudência, da
temperança, da bravura e da magnanimidade.
Os homens derivavam ainda a sua nobreza de Deus, a fantasia prevalecia ainda sobre a reflexão. É
a segunda idade, á heróica.
Assim, da metafísica sentida ou fantasiada passa-se a metafísica reflectida e a relação com a
ordem providêncial da história eterna assume a forma da reflexão, onde se busca a ideia do bem
que deve servir de apoio a um acordo entre todos os homens. É nesta fase que nasce a filosofia
16
17. platónica, empenhada em encontrar o mundo das ideias à conciliação dos interesses privados e o
critério de uma justiça comum.
Sendo assim a filosofia surge na idade dos homens e é a última e mais madura manifestação
daquela sabedoria originária, daquele humano pensar, daquela metafísica natural que é estrutura
mesma da existência histórica.
Vico considera que, a história ideal é uma ordem que se revela na sua clareza à medida que
as próprias comunidades evoluem e cuja revelação é a norma do seu desenvolvimento.
As análises de Vico consiste na relação entre a história ideal eterna, e a história no tempo,
mas não consideradas separadamente, visto que só nessa relação a história ideal eterna se revela e
vale como ordem providencial e a história no tempo afirma e realiza como história propriamente
humana.
17
18. 9-A PROVIDÊNCIA DIVINA
Vico nos mostra que o primeiro princípio incontestado da ciência nova, é o de que os
homens apenas criaram o mundo das nações. Contudo este mundo só pode ser entendido mediante
uma relação com ordem providencial, que é a história ideal eterna.
Para Vico os filósofos que tornam impossível entender o mundo da história, são
monásticos ou solitários. Como exemplo disso aponta filósofos como: Epicuro, Hobbes,
Maquiavel, Espinosa e os Estóicos, em que tanto o acaso como o facto tornam a história
impossível porque, o acaso exclui a ordem e o facto a liberdade. Segundo Vico a ordem
providencial garante as duas coisas.
Vico afirma que o mundo das nações saiu de um mente amiúde diferente, por vezes
totalmente contrária e superior a esses fins particulares que esses homens se tinham proposto, fins
restritos, tornados meios para servirem a fins mais amplos, que sempre foram empregues para
conservar a geração humana nesta terra.
Do impulso da libido nasceram os matrimónios e as famílias; da ambição imoderada dos
chefes nasceram as cidades; do abuso da liberdade dos nobres para com os plebeus nasceram as
leis e a liberdade popular. A providência direcciona-se para os fins da conservação e da justiça da
sociedade humana as acções e os impulsos aparentemente mais ruinosos (prejudicial).
A acção da providência não é uma intervenção externa, que tem como função corrigir de
forma milagrosa os erros e as aberrações dos homens, porque se fosse assim o único verdadeiro
agente da história seria Deus, isto é, a providência e não o homem.
A doutrina defendida por Vico exclui que a história ideal com a sua ordem providencial
seja transcendente relativamente a história temporal no sentido de lhe ser externa e estranha e de a
corrigir de fora.
Mas também não admite que a história ideal eterna seja imanente a história temporal
humano, e que a ordem desta seja garantida em todos os casos pela história ideal eterna. Se isto
fosse verdade os acontecimentos humanos deveriam modelar-se pela sucessão ideal das idades, e a
providência divina seria a única verdadeira protagonista da história humana.
Esta providência não pode ser entendida como uma necessidade racional como pertencente
dos acontecimentos históricos, como uma razão impessoal que age em cada homem, promovendo
as suas acções. Neste caso o reproduzir-se da história ideal eterna na história particular de cada
nação seria necessário e uniforme em que nenhuma história particular poderia afastar-se da
sucessão providencial das idades que é próprio daquela (historia ideal).
18
19. Vico negou a transcendência como intervenção miraculosa da providência nos eventos
históricos, afirmando e defendendo que a transcendência no sentido em que o significado último
da história (a sua substância e a sua norma) está para além dos eventos particulares, de que os
homens são os autores, criticando assim os Estóicos e Espinosa que o tomaram como facto
racional.
A providência é transcendental como substancialidade de valores que sustentam os eventos
no seu curso ordenado, ou seja, como norma ideal a que o curso dos acontecimentos nunca se
adequa perfeitamente. Mas a providência transcendente está presente no homem que só pela
relação com ela, consegue subtrair-se à sua queda, fundando o mundo da história e conservá-lo.
Está presente ao homem sob duas formas: a primeira como sabedoria poética, isto é, de
forma obscura, mas com pressentimento certo, e a segunda como sabedoria reflexa, isto é, do
verdadeiro racional filosófico. Apesar dessas duas formas de sabedoria, a sabedoria humana é
essencialmente religiosa porque refere-se a uma ordem transcendente e divina, e assim Vico
explica a função civil da religião na conclusão da ciência nova.
A função civil da religião tem por objecto a transcendência a ordem providencial, mas a
ciência nova é uma teologia civil e racional da providencia divina, enquanto tem por objecto a
presença normativa daquela ordem na história humana, ela é história das ideias humanas, através
da qual parece dever prosseguir a metafísica da mente humana.
19
20. 10-A PROBLEMATICIDADE DA HISTÓRIA
A doutrina de Vico da relação entre a história ideal eterna, a história temporal e a dos
recursos são demonstrações do seu conceito de providência.
A presença da ordem providencial na consciência dos homens serve para dirigir esta
consciência, mas determina essa consciência, porque os homens permanecem livres embora
conhecendo de forma clara ou escura, o termo para que se dirige a evolução da sua história. Por
isso a história temporal de cada nação pode também não seguir o curso normal da história ideal.
Ele afirma e admite que existem nações que não desenvolvem ficando na idade primitiva,
outros na heróica, o que mostra que não desenvolveram de forma completa. Enquanto outras
chegaram a idade última sem passar por todos as idades de forma sequencial.
Segundo Vico quando os filósofos caem no cepticismo, os estados populares que neles estão
assentos se corrompem, as guerras civis agitam as repúblicas e lançam numa desordem total. Ele
nos apresenta três remédios providências: o primeiro é estabelecer um monarca pelo qual a
república se transforma em monarquia absoluta.
O segundo é a sujeição a nações mais aptas. O terceiro é que intervém quando o segundo e o
primeiro se revelam ineficaz, ou seja, impossível, ou seja quando temos o real selvajar, retornando
a dureza primitiva que os dispersa e ceifa até que o escasso número de homens que restam em
abundância das coisas necessárias para a vida torne possível o renascimento de uma ordem civil,
de novo fundada na religião e na justiça.
A história recomeça o seu ciclo, mas é evidente que a decadência das nações, assim como a
repetição dos acontecimentos históricos, são privados de qualquer necessidade. Isso depende dos
homens, ainda que seja um risco sobre eles impendente, a possibilidade de ele se verificar é
puramente problemático.
Se a ordem providencial fosse imanente á história humana, se esta coincidisse e constituísse
um todo com a história eterna, a sucessão das três idades, a decadência das nações e o seu refluxo
histórico (o voltar de um período anterior), não poderia faltar na história de nenhuma nação
particular. Além disso própria acme de uma nação dever-se-ia encontrar os elementos e as causas
de uma decadência necessária.
A obra Ciência Nova “pretende auxiliar a prudência humana onde ela se verifique, para que
a nação que estão em decadência, ou não arruína ou não se apressa para a sua ruína”.
Vico quer colocar os homens frente a alternativa de serem a forma ou a matéria da história.
A matéria da história é constituída pelos homens desprovido de concelho próprio e virtude
20
21. própria, que buscam somente as conveniências e são incapazes de constância. Eles reduziram o
mundo das nações ao caos de que falam os poetas teólogos.
A forma e a mente do mundo das nações é constituído pelos homens que podem aconselhar
ou defender-se a si e aos outros, que se empenham na acção, e assim concorrendo para a harmonia
e a beleza das repúblicas. A esses poucos vem em auxílio da ordem providencial com a religião e
as leis, assistidas pelas forças armas, força que é aceite e dirigida pelos fortes, sofrido pelos
débeis, que aceitam para não dissolver a sociedade humana.
Para Vico na história há sempre a possibilidade da queda e do erro, porque, tal possibilidade
está na natureza do homem, que é a protagonista da história. Por isso, admite que na história possa
haver e possam ter-se dado paragens temporárias, perdas irreparáveis, decadência sem
renascimento. Toda a sua doutrina se recusa ao optimismo do progresso inevitável e inspira-se no
princípio de uma razão problemática que, através do homem e pelo homem, abre o caminho, na
história.
21
22. 11- CONCLUSÃO
Ao longo da elaboração do nosso trabalho pudemos concluír que Vico, é essencialmente um
filosofo da hístoria que esforçou em tornar transparente o mundo do homem na sua estrutura
própria.
A concepção de história de Vico é essencialmente secular. Via, as pessoas, grupos, nações
e épocas individuais apenas como estágios definidos do processo abrangente no qual a cultura se
desenrola.
A história começou a partir do momento em que o ser humano começou a pensar
humanamente, e não quando os filósofos começaram a reflectir sobre as ideias humanas. É o
próprio homem que pensa e faz a história. As fases da história são caracterizada pela menor ou
maior clareza daquele humano pensar que acompanha e que passa a construir as suas
manifestações mais salientes: os costumes, e o direito, o governo, a língua, etc. A história
começou a partir do momento em que o ser humano começou a pensar humanamente, e não
quando os filósofos começaram a reflectir sobre as ideias humanas. É o próprio homem que pensa
e faz a história. As fases da história são caracterizada pela menor ou maior clareza daquele
humano pensar que acompanha e que passa a construir as suas manifestações mais salientes: os
costumes, e o direito, o governo, a língua, etc.
Para Vico, o conhecimento mais seguro era o das origens da história – conhecimento
desacreditado em sua época, por Descartes e Newton.
Para Vico, somente o mundo humano possuía história e podia ser verdadeiramente
conhecido, pois, o mais alto objecto do conhecimento humano é aquilo que construímos, aquilo
que é fruto da natureza e do espírito humanos, a realidade histórica, e não as construções fictícias
do entendimento.
A ciência nova de Vico é nova no sentido em que procura estabelecer uma indagação do
mundo histórico que tem como objecto revelar a ordem e as leis deste mundo.
Em sua Ciência Nova, expõe as cinco razões que justificam a importância da sabedoria
poética para os primeiros povos: em primeiro lugar, a reverência da religião – as nações gentílicas
foram constituídas por fábulas; em segundo, que a ordenação do mundo civil resultou dessa
sabedoria; em terceiro, as fábulas deram material para “investigações filosóficas altíssimas”; em
quarto lugar, os filósofos puderam explicar várias coisas graças às expressões legadas pelos
poetas; e em quinto lugar, os filósofos fizeram uso da autoridade da religião e da sabedoria dos
poetas para comprovar os assuntos por eles meditados. Assim, não há necessariamente uma
22
23. relação de oposição, mas sim de complementaridade, os poetas sábios são os sentidos e os
filósofos são o intelecto da humanidade.
A ciência histórica surge a Vico como “teologia civil e racional da providência divina”, ou
seja, a demonstração de uma ordem providencial que vai actuando na sociedade á medida que o
homem se subtrai á sua queda e á sua miséria primitiva.
Ele demonstra que a história ideal eterna é transcendente relativamente á história particular
das nações, mas que esta transcendência não exclui a relação existente.
A história é uma norma divina, que sustém o homem desde dos primeiros passos incertos da
sua vida temporal.
Vico pretende mostrar determinadas sequências de estados como propriedade característica
do acontecer histórico: assim, à princípio temos “o homem bestial”, que apenas pode ser refreado
pelo medo de uma providência e pela teologia dos poetas. Segue-se a época heróica que, graças ao
domínio dos aristocratas estabeleceu um domínio estadual e finalmente temos a idade humana em
que a consciência moral, a razão e o dever substituem os Deuses e os Heróis e onde a prosa
burguesa expõe a verdade, sendo a época divina estritamente teórica, a época heróica de
verdadeira mitologia e a época humana, racional.
A doutrina de Vico da relação entre a história ideal eterna, a história temporal e a dos
recursos são demonstrações do seu conceito de providência.
Ele afirma e admite que existem nações que não desenvolvem ficando na idade primitiva,
outros na heróica, o que mostra que não desenvolveram de forma completa. Enquanto outras
chegaram a idade última sem passar por todos as idades de forma sequencial.
Para Vico a história nao se compõe só de feitos e acções mas também e ainda mais
basicamentede factos e acontecimentos.Não tem um só objectivo mais dois.
Concordamos com vico quando afirma que o homem pode cair num novo bárbirie, isto
porque, basta-nos observar um pouco ao nosso redor para constatar que o homem esta-se tornando
egocentrico, egoista. Maltratando a natureza, destruindo-o, também a beleza das relações pessoais
esta-se perdendo, dando mais importancia para os bens materiais e aos lucros do que a relacões
interpessoais e a prevervaçõa da natureza.
Nao concordamos porem quando Vico afirma que todas as nocções seguiriam o mesmo
percurso, já que cada nacção tem as suas especificidades culturais, históricas e de origem. Para
provar isso,basta dar uma vista de olhos as sociedades e ver a diferença no nível de
desenvolvimento entr eles.
Também nao concordamoscom Vico quando este afirma que os fundadores da sociedade
humanaeram porque, isso depende do contexto em que estão inseridos. Podem ser considerados
23
24. “menos evoluidos”, mas isso porque o ambiente onde viviam, ainda nao tinham a sua disposição
aquilo que temos hoje.
Apesar dessas críticas, o que podemos dizer é que sem sombras para dúvidas Vico, foi um
filósofo da história, consegiu fazer uma divisão que se pode considerar válida,monstrou uma nova
forma de ver a história e a filosofia da história.
24
25. 12- BIBLIOGRAFIA
- ABBAGNANO, Nicola.(2000).História da Filosofia. Lisboa:Editorial Presença.
- LOWITH, Karl. (1991).O Sentido da História. Lisboa:Edições 70.
- HADDOCK, B. A. (1989). Uma Introdução ao Pensamento Histórico. Lisboa: Gradiva -
Publicação Lda
25