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Intoxicação por Esporão do Centeio<br />R. D. T. 24 anos, maquiadora de funerária, da entrada no hospital devido a um ataque epilético, precedido de alucinações. Paciente sem histórico de epilepsias, traumas crânio encefálico. Nega uso de drogas. Relata ser adepta de hábitos vegetarianos.<br /> Após as primeiras investigações excluiu-se intoxicação por produtos químicos ou moléstias adquiridas a partir dos cadáveres. <br />Exames realizados:<br />- Tomografia computadorizada de crânio sem alterações<br />- Ressonância magnética com contraste sem alterações<br />- Eletroencefalograma normal<br />- Punção lombar sem alterações<br />- Hemograma completo sem alterações<br />Paciente medicada com Diazepam.<br />Observado então que a paciente encontrava-se em estado de delírio (conversando com a mãe já falecida, e insistindo que a mesma ainda estava viva), caracterizando piora dos sintomas neurológicos. <br />Visto que a mãe faleceu aos 25 anos, levantou-se a hipótese de associação de fatores hereditários à sua condição. A partir de relatos da mesma sobre sua infância, a paciente foi diagnosticada como tendo mal de Parkinson. <br />Iniciado tratamento com Levodopa e Bromocriptina.<br />Paciente seguiu com novas alucinações e surgimento de lesões no antebraço, dificuldade de concentração e de retenção urinária, excluindo o diagnóstico de Parkinson. Suspeitando-se de problemas vasculares solicitou novos exames.<br />Durante a realização do mapeamento da retina, a paciente queixa-se de dor forte abdominal e em seguida apresenta hematêmese. Submetida a uma laparotomia de emergência verificou-se necrose do fígado e aumento do baço. Solicitado então angiograma visceral, durante o qual a paciente apresenta nova convulsão. Medicamento administrado Lorazepam. Excluíram-se então problemas vasculares e chegou-se ao diagnóstico de intoxicação por esporão de centeio proveniente da ingesta de pão orgânico, que fazia parte de sua dieta diária.<br />DISCUSSÃO DE CASO<br />Na Idade Média, em todos os países europeus, houve intoxicações em proporções epidêmicas pela ingestão de farinha de centeio infestada pelo fungo. A intoxicação crônica é chamada de ergotismo a qual pode ser dividida em duas formas; gangrenoso (resultante do comprometimento da circulação das extremidades) e o convulsivo (comprometimento do Sistema Nervoso Central, com a ocorrência de convulsões frequentes). A etiologia correta do ergotismo, como intoxicação pelo esporão-de-centeio, e seu ciclo de desenvolvimento só foram confirmadas no século 19. No século 20 também ocorreram epidemias esporádicas de ergotismo, entre as quais uma na França e outra na Etiópia em 1951, onde morreram dezenas de pessoas (Simões et al, 2010 apud Teuscher e LIndequist,1994)<br />Questões<br />Explique os sintomas apresentados pela paciente a partir do mecanismo de ação do agente intoxicante.<br />Explique a piora do quadro da paciente após a administração de Bromocriptina.<br />Qual é o tratamento indicado?<br />Respostas<br />A semelhança estrutural com as aminas biogênicas promove a interação com receptores noradrenérgicos, dopaminérgicos e serotoninérgicos exercendo efeitos agonistas e antagonistas.<br />A atividade dos alcalóides indólicos é mediada através da interação com um ou mais receptor específico e a ação nesses receptores promove uma hiperatividade  no SNC causando as convulsões descritas. Sua atuação também pode ser observada no sistema cardiovascular através dos efeitos de vasoconstrição, depressão dos centros vasomotores e bloqueio adrenérgico periférico, resultando em falência hepática e esplenomegalia.<br />A paciente piorou porque a Bromocriptina atua como agonista parcial dos receptores dopaminérgicos, ocasionando uma interação farmacológica de sinergismo.<br />O tratamento farmacológico inclui o uso de expansores plasmáticos e hidratação intensa, bloqueios anestésicos são feitos previamente ao uso de heparinização sistêmica, vasodilatadores (nitroglicerina, papaverina) e bloqueadores de canal de cálcio. Em casos mais dramáticos, já foi utilizada a dilatação intraluminal para combater o vasoespasmo. Em nosso meio, tem recomendado a administração de    nitroprussiato de sódio na dose de 0,5 a 3,0 g/kg/min, até o retorno clínico normal, que na literatura pode variar de 1 hora a 46 horas.<br />REFERÊNCIAS<br />SIMÕES, Cláudia M.O. et al. Farmacognosia da Planta ao Medicamento. 6ªed. UFSC, Florianópolis, SC, 2010. Pág. 832.<br />
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