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C O G I T O
ANTOLOGIA POÉTICA
Organização
Ivan de Almeida
C O G I T O
ANTOLOGIA POÉTICA
Salvador
2014
C965
Mundo – Antologia Poética / Ivan de Almeida (organizador). – Salvador: Cogito,
2014.
128 p.
ISBN: 978-85-63037-38-1
	 1. Literatura brasileira – poesia. 2. Antologia poética - Brasil. I. Almeida,
Ivan.
			 CDD: 869.91
			 CDU: 869.0(81)-1
Todos os direitos estão reservados. É proibido a reprodução total
ou parcial deste trabalho, seja por meio eletrônico ou impresso,
inclusive fotocópia sem prévia autorização e consentimento dos
autores e da editora.
Copyright © by: Autores
Todos os direitos reservados
Organização:
Ivan de Almeida
Imagem da Capa:
Vintage letter written by ink feather – 40338193
Direito Autoral de Imagem – S-BELOV
Usado sob licença da Shutterstock.com
Revisão:
Solange Fonsêca
Projeto gráfico, editoração eletrônica e Capa:
Ivan de Almeida
Impressão e acabamento:
Empresa Gráfica da Bahia – EGBA
SUMÁRIO Apresentação
Adolfo Stinziani – É noite
Aidner Mendez – Confrade radiante
Allan Call – Ainda tem flores
Alamo Pimentel – Visão da avenida (sob protestos)
Alexandre Brito – Quanto vale a vida
Amélia Ramos Vieira de Carvalho – No tabuleiro de xadrez
André Castro – Trégua
Andreia Costa – Diário de um anjo
Ana Moreira – Vazio
Antonio Carlos Santos da Silva – A rede e o mar
Antonio Picariello – Catedral sagrada
Araildes Maia – A sensibilidade de um inocente
Audelina Macieira – Chance
Bohomila Araujo – Isadora duncan
Carlos A.C liberal – Ódio & esperança – puta que pariu
Carlos Conrado – Abraço do pai
Cássio Jônatas – Rascunho
Celeste Farias – Esquiando em versos
Cecília de Paula – Com - (pu - ta - dor ) amor…
Cilene Canda – Outro retrato
Ciro Daniel Campos – Vermelho
Cláudio Hermínio – Fuga
Clara Maria Alves – Saudade
Cymar Gaivota – Desapego
Daniela Valadares – Lembranças brancas
Durval Kraychete – Nó
Elder Carlos dos Santos – Perséfone
Ely Carvalho – Prazer
Elton Lima – Poema a vácuo
Eulâmpio Neto – Da loucura a paixão
Fábio Haendel – Astronauta andarilho
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Fabrício Soares – Mensagem sem dor
Fernanda Brandão Caymmi – Cíclico Amor
Fernanda Carvalho Veiga – Se declare!
Fernanda Mellvee – Insônia
Geraldo Portela – Reverso
Gibran Sousa – Sex shop show
Giuseppe Ciliberto – Sopro
Heloísa Lima – Autodefinição
Isadora Sampaio – Escambo
Ivone Alves Sol – Versos de mim
Jailson Santos – O que me darás?
Jairo Pinto – Mestranda
Janaina Cruz – Coisas
Jeane Sánchez – Canção de despedida
João Esteves Alves – Cria-quieto
José Eduardo – Do início ao sempre
Josue Ramiro – S a n g r a m e n t o s
Kaique Barros Moraes – A eternidade
Laura Liberato – Lilás
Leandro Flores – Foi e levou a poesia
Luana Bispo – Retrato do eu pelo avesso
Luciene Lima – Mendigo
Lucrécia Rocha – Matizes
Luiz Dantas – Bah ia
Mônica Xavier – Exílio
Manollo Ferreira – Morreu mais um alguém...!!!
Marcelo Gferes – Poemas não morrem
Maria das Graças Prates Maia – Poente
Marianne Franca – Veneza
Marilaine Guadalajara – Cor morena
Mirele Longatti Sousa – Poeta em sonho
Morgana Gazel – O aprendiz
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Nádia Venttura – Meu sonho de vida
Naná Moreira – Á prestação
Noêmia Duque – Bundalização
Newton Silva – Meu sonho de vida
Paulo Santana – Nossa baía
Patrícia Dantas – Á revelia, ele vive com toda a sua morte
Patrícia Lins – Loucura que cura
Rafael Rodrigo Marajá – Passado perfeito
Ricardo Miranda Macedo – Mundo alternativo
Rodolfo Andrade – Poema das músicas internacionais
Rogerio Araujo (rofa) – Olhar… mais que palavras
Ronaldo Magella – De tudo um pouco de ti
Sara Regina – Jerusalém
Sérgio Guerra – Saudade
Sóira Celestino – Imortal
Sueli Lopo – Queria que soubesses
Suzy Kamylla – A brisa
Thaiz Smile – Lua
Tony Fonseca
Valéria Sá Guerra – Resquícios atemporais...
Valéria Valle - A loba
Valdeck Almeida de Jesus – Ele só tinha amigos heterossexual
Vanesca Ferriera – Bela tarde...
Vanina Cruz – Passageiro de avião
Willy Fonseca – Filho de eros
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Apresentação
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	ADOLFOSTINZIANI
Larino/CBMolise–Itália
É NOITE
É noite, o ar deixa beijos na pele,
as tílias cheiram como incenso nos altares sagrados,
ergue-se uma oração, um murmúrio ou um grito.
A estrela do dia vai brilhar novamente no dia seguinte,
após a noite escura, ritual incomparável
de outro dia que morre.
O reino da noite começa,
no jardim impenetrável das Hespérides
são guardados os pomos de ouro,
frutos eróticos e sensuais,
dons preciosos da mãe terra para os deuses soberanos.
E você busca a árvore preciosa, alma frágil:
Você não é Júpiter, você quer ser o lindo Apollo esta
noite?
Talvez Orfeu? Retoma a sua ninfa infeliz, mas não olhe
para trás.
Talvez Hércules? Saqueia o belo jardim, aproveita dos
frutos,
saboreia o conhecimento dos segredos divinos esta noite.
Tradução: Rosana Lapenna.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	AidnerMendez
SALVADOR/BA
CONFRADE RADIANTE
Qual espectro, azul e florescente
Num lampejo de aurora fulgurante
Eis então este lorde triunfante
De centelhas de amores gloriosos
Sertanejos de galopes não ditosos
Num versejo de alhures ruminado
Cavalgando um martelo agalopado
Sendo simples com seus olhos de brilhante
Vira estrela meu confrade radiante!
Nos mistérios deste céu todo estrelado.
Sejas sempre moleque amalucado
Com rompantes de ode declamada
Seja pétala de sonho amalgamada
E regalo de amores suntuosos
Num repente de riachos caudalosos
Seja pedra por Baco edificada.
Sinto falta da letra rabiscada
Um poema de lirismo qual infante
Num remoto atual rápido instante
Mais um brilho nesta noite estrelada.
Verso lasso num compasso diamante
Desmantelo de cenário e nevoeiro
Sentimento de um rastro forasteiro
E tristeza do vazio já dominante
A presença me faz falta doravante
Desde o olho cruzado então primeiro
Tire este meu coração de tal aceiro
Antes que a tristeza nossa então me mate.
Temo que não me socorra amigo vate
Caso eu precise do teu paradeiro.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	ALLANCALL
SALVADOR/BA
AINDA TEM FLORES
O amor acabou-se...
Esvaziou-se no seu ser...
Deixou-se ir aos poucos pelo ralo da vida...
Com isso...
Os casais apaixonados se foram,
Desapareceram...
Terminaram os seus romances, os seus ligues, os seus
casos, e...
Foi como se diz no popular...
Cada um pra seu lado...
Mas...
Ainda ficaram as flores...
Para algum romântico comprar...
Ainda estão lá... Esperando para serem dadas,
Com suas cores marcantes, seus perfumes atuantes, seu
jeito de ser...
Simplesmente flor...
Doidas para produzir o mais belo sorriso feminino...,
masculino...
O que for...
Nisso, vou ao seu encontro e levo-lhe flores
Essas que achei por bem comprar e dar a ela...
Vermelhas, vermelhas, vermelhas
E vejo feliz o resultado da minha ação
Vejo-a sorrindo como uma criança, uma bela menina
Paro no ar, surpreso com o seu olhar
Perdido entre as flores, me dizendo:
Flores...?
Eu ganhei flores...?
Pois é... Penso...
Eis a semente do mais profundo querer
E quem planta com carinho, colhe, muito ou o
suficiente...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
14
Para sentir-se repleto de alegria,
Uma assim, boa de sentir
E me vem outro pensar que diz...
Que bom que ainda tem flores...
Que bom que ainda há um romântico na face do
mundo
Haverá outros...?
Sim, certamente..., escondidos, loucos para dar uma flor
de presente.
Calados pelo mundo das agonias, do mecanismo
absoluto,
do consumismo absurdo...
Perdidos pela não prÁtica do verdadeiro querer...
Dominados pelo fiquei...!
Ainda há flores no jardim, umas abertas, outras
desabrochando
Esperando a mão delicada do romântico para raptá-la,
retirá-la
Esperando a volta do amor verdadeiro..., puro
Esse que somente nós, os que queremos e amamos,
conhecemos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
15
	ALAMOPIMENTEL
SALVADOR/BA
VISÃO DA AVENIDA
(SOB PROTESTOS)
Não era um mar de gente
como indica a efêmera voz do jornal
Eram arquipélagos móveis
Multidões de ilhas virtuais em fúria
Eram criaturas evadidas das solidões urbanas
Eram redes(cobertas) dos feitos de gritar
Eram vozes humanas amontoadas a outras vozes
(dos automóveis)
Era o milagre do encontro
O inominável corpo de fragmentos
[e arranjos de vazios móveis
Eram as pedras do futuro aprendendo a falar
(em coro)
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
16
	ALEXANDREBRITO
BELOHORIZONTE/MG
QUANTO VALE A VIDA
Na noite escura e suja,
Sob marquises insensíveis,
Figuras humanas distorcidas
Tentam esconder a sua miséria.
O grito de fome da esquálida criança
É sufocado entre os seios murchos e ressequidos
da mãe.
Uma prostituta geme o seu prazer barato
E o seu gemido fere os ouvidos da “classe alta”,
Mas preenche o vazio que mora na alma rota
Do homem que absorve a dose ofídica do falso amor.
Um vulto ébrio emerge das sombras, cambaleante,
Cantando a saudade de um amor que se perdeu
no tempo.
Um mendigo tenta se cobrir com um diminuto cober-
tor
Que não consegue aquecer o eterno frio que sente
na alma.
Luzes intermitentes sinalizam que bocas, ávidas
De esperança, sugam com força o crack, a maconha...
Uma arma interrompe a caminhada do operário
Que ficou até mais tarde no trabalho, fazendo serão.
Na porta do hospital, uma gestante pare uma pobre
criança
Que não vive mais que heroicos cinco minutos.
A mãe tem mais sorte: consegue resistir à sua solitária
hemorragia,
Por alucinantes e eternos treze minutos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
17
Um tapa... um grito... um tiro... a queda...
O agonizante e inútil pedido de socorro!
As janelas tapam os olhos e os ouvidos!
Um som de oração quebra a inquietude da noite...
Ah! São freiras rezando para que o mundo
seja melhor.
Movido pelo som da oração e pela força da tentação,
Um homem se esgueira nas sombras, invade o
	convento
E escolhe a freira mais bela, que – atônita! – clama
por
Deus...
Seu grito extrapola as paredes e é levado pelo vento!
Seu corpo profanado, ferido e ultrajado abriga
Os olhos atônitos, descrentes, sem fé!
Ruas desertas... dores incertas... chagas abertas...
Sonhos inúteis... olhos insanos... perdas fúteis...
A aurora se insinua e ilumina a miséria enrustida...
Mas não consegue identificar o preço de uma vida!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
18
	AMÉLIARAMOSVIEIRADECARVALHO
LAURODEFREITAS/BA
NO TABULEIRO DE XADREZ
Velhas contendas, novas pendengas
diárias refregas,
renhidas as lidas entre mim e o eu.
A vida não me apela,
a morte nem sempre intimida.
Fascínio é o devir,
o outro apenas atropela.
Penosos os lances entre mim e eu.
Olho no olho, mente na mente
não é xeque, não é mate
as jogadas se sucedem na busca do vir a ser.
Contendores a marchar lado a lado
– meu eu e o eu – passamos a nos conhecer
a cada embate de um novo combate
até os limites entre mim e eu fincarmos.
A partir do entendimento que agora nos alavanca
a mim acolho na reverente aceitação do eu.
Le roi est mort! Vive le roi!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
19
	ANDRÉCASTRO
SALVADOR/BA
TRÉGUA
Já me fartam meus suspiros furiosos
Que rebentam nas areias da minha praia
Minuto após minuto
Como ondas dos meus mares revoltosos
Já me bastam as paredes golpeadas
Por minhas mãos desnudas, ensanguentadas
E a ponta perfurante da adaga
Que o pulsar dos meus medos me crava
Uma bandeira branca tremula na minha varanda
É o aceno suplicante que
Meu penar abranda, e que resgata
Desse meu degredo
Arranco agora os santos vis do meu altar
Ponho um rio no lugar do meu mar
E peço trégua a mim mesmo em segredo
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
20
	ANDREIACOSTA
ARACATI/CE
DIÁRIO DE UM ANJO
Sinto-me impotente, um verdadeiro nada, quando te
vejo mal e não posso fazer nada. Dói muito em mim,
quando te vejo sofrer, quando te vejo mal e não pos-
so te abraçar e dizer que eu estou aqui.
O mundo desaba sobre mim quando sinto que eu
não posso fazer nada, quando dizes: “Agora não. Não
estou pronta para ser feliz”... Meu maior desejo era
poder proteger aqueles que amo das dores do mun-
do. Queria poder te fazer sorrir desde o momento
em que acordas até quando pegas no sono, depois de
tanto chorar, no vazio da madrugada. Queria poder
te provar o quão és perfeita, maravilhosa e incrível,
pois és obra de Deus. Queria poder te mostrar o
quanto é importante pra mim, o quanto eu te amo
e o quanto eu preciso de ti aqui comigo, buscando
a alegria de viver. Um anjo só retorna para o céu
depois de cumprir sua missão. A minha é seres feliz.
Por diversas vezes, pode não parecer, mas te ver
mal, te ver triste me mata por dentro, me faz chorar
e sentir um medo absurdo de perder-te. Ver-te por
diversas vezes feliz, algo dentro de mim sorri junto.
E não importa se eu estou longe, ou se finjo que não
me importo, a verdade é que estou, sim, muito feliz,
com uma boa sensação de vitória por tua conquista.
Duvide de tudo, tudo mesmo, menos que eu não te
abandonarei mesmo que me peças para te deixar,
ficarei velando por ti a distância. Sou teu anjo, en-
viado por Deus. Meu nome? Muitos me chamam de
espírito de luz, mas o que gosto mesmo é quando me
chamam de “AMIGO”.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
21
	ANAMOREIRA
SALVADOR/BA
Vazio
Esquece-me neste momento
Deixa-me partir
Desfaze o amor
Que gerou, cresceu e nasceu em mim
Deixa-me só lembranças, tolos pensamentos
Mata em mim o amor que te dei ilusão
Mentiras e dor
Tu não soubestes regar o jardim
E deixastes sucumbir o amor
Por mais que ele viva aqui
em mim
Não existe mais amor
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
22
	ANTONIOCARLOSSANTOSDASILVA
SALVADOR/BA
A REDE E O MAR
“Pescador” vem navegar
que a onda do mar ensina
Pega a rede , vem pra cá
na vastidão de sua sina
no ardil do seu pescar
Paciência na investida
segurança na saída
é a lida deste seu sonhar
O tempo manda ,
O vento comanda
O marejo deste aventurar...
Navega no avesso do lume
enxerga longe, marinheiro
olhar pesqueiro se atiça
no cheiro do cardume
Essa onda aonde leva?
pra algo, imenso, perdido
Venta forte,
Agente tenta
Neste vão desconhecido.
Aventuras
À procura longe irei
meu destino
sou menino e nada sei.
O que aprendi,
Investi,
Ensinei.
Trago saudades no peito
me refaço com respeito
todo dia, numa eterna alegria...
É a rede que nos aproxima do mar
Navegando é que se aproxima do amar
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
23
	ANTONIOPICARIELLO
Larino/CBMolise–Itália
CATEDRAL SAGRADA
SUA NOVA ALMA tem CHEIRO DE FRESCO DA
NOITE ESTRELADA.
As pedras suam, a sentem próxima.
Goteja líquida a matéria aqui onde a excitação da san-
gue aumenta. ISSO É o cúmplice secreto do secreto,
SOU A Catedral QUE desaprova O cheiro DE SEUS
FILHOS.
Eu sou a mãe que reconhece a química estendida
do corpo do seu filho, amável mãe TRANCADA NA
PROVETA OUVE, OUVE diz... tem gerado suas
entranhas, reconhece o chamamento dos ecos gerais;
ouve, diz, pertencem a ela.
São células de pedra juntas.
MEU corpo, carne DE mineral que começa a vibrar;
seu corpo de mãe antiga oscila entre os espaços vazios,
percebe a carga de sólidos, derreta o apoio e o aqueci-
mento com a oração solitária do eremita fixo na mon-
tanha que admira você. Mãe.
Nossa catedral onde dormem, nem, em, m, OS pontos
secretos do MEU CORPO. ME DIGA dos magos do
deserto, ME DIGA DA neve ocidental. Neve na noite
do deserto em presépios quentes do inverno.
Doce Catedral solicitada por graus de calor, majestosa,
imensa, se alguma vez eu tinha visto essa semente, se
alguma vez eu vi emitir um grito do alto de suas agu-
lhas espetadas no firmamento, seu GÓTICO bordado
em sua imagem, se eu já vi sair e agora para depois
entrar nas suas estranhas o Concerto dos homens
mudos?
Cidade que ainda farejas tudo: o cheiro das poeiras
explosivas, fragmentos de paredes depõem na fuga do
povo o hálito de pólvora. Recolhes sob o manto dila-
tado em forma de compasso entre as estrelas Pentágo-
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
24
nas AS vozes, OS espelhos, OS MORTOS que PRECI-
SAM DE SEPULTURA. Nossa Cidade mãe, os densos
temores ESTÃO AGORA AMACIADOS.
Você é agora a cidade dos pais, acaba em uma sessão
de fotos para a vitalidade das flores explodidas entre
as varandas e as torres das fornalhas, doces FRAG-
MENTOS de fábrica, trabalhadoras transmutadas em
um cálice de sangue de ENTULHO E VIDROS
SUAVE metalurgia sem PALAVRA Você é carne DE
mineral que amas vibrar no sonho dos novos adoles-
centes. É o choque e a oscilação que removem nas cé-
lulas biológicas dos homens o amor da pedra sagrada
do sangue antigo. Folheia o nosso vivo coração urbano
entre as contrações e a diástole do amor sem fim, im ... m.
Tradução: Rosana Lapenna.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	ARAILDESMAIA
SALVADOR/BA
A SENSIBILIDADE DE UM
INOCENTE
Quando a traição nos pega de surpresa
sentimos um vazio tão grande dentro da gente
que parece que estamos fora do chão!
Nos tornamos frágeis e mais sensíveis
e não conseguimos controlar a situação.
As lágrimas rolam com emoção,
os pensamentos giram numa só direção...
É a vontade de encontrar uma saída
diante da situação,
que parece tão confusa e turbulenta
que, por mais que a gente tente,
não consegue de imediato
promover a união.
Somos inocentes,
mas como comprovar a realidade da questão?
Nos sentimos impotentes
e bate uma tremenda depressão!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	AUDELINAMACIEIRA
SALVADOR/BA
CHANCE
Ainda dá tempo
de olhar para o fundo do poço
e ver que a água secou
E o mar não deu Peixe
Olhem e vejam a carne seca
do pobre professor valente
Aluno foi, mergulhando no saber
Olhem e vejam!
Respeitem os cabelos brancos
de seu José, humilde homem
a gritar em um lamento
Vejam!
Homens, diante dos seus olhos
Cristo apontando a salvação
Agora, sem demora
Não corram
Não se escondam
Não roam a corda como os ratos
Vejam!
Antes que a cortina se feche
Antes que a luz apague
Antes que a comida falte
Antes que tudo se acabe
Vejam!
Há um sol brilhando sobre a cidade
É hora de plantar e colher beleza
de cuidar da natureza.
Ainda dá tempo
Parem o relógio
Olhem para o tempo,
A casa ainda não caiu
O povo ainda não sumiu
A estrada ainda está no seu
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
27
lugar e segue seu rumo
Homens!
Andem, venham,
saiam do deserto
Entendam é hora
de estender as mãos
a um irmão e hora de ressuscitar
o sonho e acordar o sonhador
Vejam!
A esperança brotou
nos olhos que bailam no verde
do seu vestido
livre nasce
uma força
VIVA
insistentemente
a gritar
uma chance para a vida!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
28
	BOHOMILAARAUJO
SALVADOR/BA
ISADORA DUNCAN
Isadora, dançarina e aventureira
Defensora da mulher e da justiça
Era vento e poesia
Séculos de tradição
Presente de inovação
Espírito revolucionário
Rebelde e bela
Trouxe a arte milenar
Dança da humanidade
Exaltação e liberdade
Alegrias e tragédias
Quando dançou
A Marcha Fúnebre de Chopin
Todo mundo no teatro chorou
Quando dançou
A Lenda de São Francisco
Todo mundo se conformou
Quando dançou
A Quarta Sonata de Scriabin
Todo mundo se alegrou
Isadora construiu pontes
Do velho para o novo
Achava-se uma Madona
Subindo o Calvário dançando
Em túnicas transparentes
Descalça
Isadora sofredora
Formosa e brava
Deixa a minha alma dançar contigo
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
29
	CARLOSA.CLIBERAL
PORTO/PT
ODIO & ESPERANÇA
– PUTA QUE PARIU
tomara que o relógio
soltasse a espâdula do seu pêndulo
e não desse mais voltas sequiosas de sacrifício
nesta nobre lentidão do apagar dos fantasmas
que perseguem o lar das infâmias
e remidos de algôzes sabotadores
da verdade e obstruinte da mentira e do ôcio
tomara que o incenso
afaste as lustrices e panágios
deste lar, obsseco de uma leviandade imprudente
e os afaste para longe das miseráveis sustrices
das más banalidades e pegajenta maldades
porporcionais ao dia de um nunca que não nasce de
novo
Ungentos perdidos dos chafarizes e rebentos infecta-
dos
das medicinas incrustas e venenos incuráveis
tomara que a abolição
dos seus fetos nesgos de empecilhos pestes
carborem de lasciva morte
tomara que as mazelas
dos seus incubados lazeres se baleiam
nas encruzadas das nefastas cadências
do lugrume balazio do inerte
tomara que a mescla
insolubre dos seus pecaminosos
e bombásticos encolham nas piramidais
labaredas do terror
tomara que as impávidas
lanjuras dos insosos e cabazes lamentos sejam a pátula
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
30
de obuses
flajelos da permissidade
esperança, do dito não dito,
seja a minha unica aliança
aquela em quem acredito,
mas não digo, esperança,
uma vã palavra do desdém,
vinda não sei lá, do além,
esperança,a quem faço um pedido
a quem me desligo logo a seguir,
esperança, do amanha, do nunca,
tantas frases perdidas,
tanto gasto para nada,
ah sim, há quem acredite ,
naquilo, naquilo que nem os deuses acreditam,
o mal de tudo, é acharmos uma imensidão,
mesmo que vivamos com a esperança na solidão”,
enquanto há vida há esperança”,
uma esperança resignada,
uma esperança alienada,
esperança da vida,
mas a esperança do nada”
aliança do bem!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
31
	CARLOSCONRADO
BELOHORIZONTE/MG
ABRAÇO DO PAI
Errei por eras!... alimentei a dor.
plantei a desgraça no mundo
a raiz infame que me degenerou.
Sendo eu a Humanidade,
só me restava clamar...
Lancei meus olhos aos ares
fiquei rouco de tanto gritar.
Implorei o perdão divino
eu, que da minha carne fui assassino,
cantei o hino da culpa,
quis beber a cicuta
mas Deus mostrava o rosto
estampado nas águas do mar.
Meu coração se fez sincero
Ele que estava a me observar,
trouxe os seus braços com o vento
e atendendo ao meu lamento,
com amor pôs-se a me abraçar.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
32
	CÁSSIOJÔNATAS
SALVADOR/BA
RASCUNHO
Escrevi
à lápis
nas páginas
da vida
Rabisquei
no escuro
meus traços
espúrios
Rasurei
sem pena
solitários
muros
Tentei
passar a limpo
meus versos
sujos
Mas os perdi
de vista
e os deixei
ao vento:
Reféns
da borracha
do tempo.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
33
	CELESTEFARIAS
BELOHORIZONTE/MG
ESQUIANDO EM VERSOS
Ah! Palavras...
Quando sussurros de amor, são encantadas...
Quando jogadas ao vento, são traçadas,
Se há sentimentos, são lançadas.
Ah! Palavras...
Quando estão com o poeta, dispersam...
Os mais misteriosos desejos e devaneios
De um encanto abstrato, de fato!
Ah! Palavras...
Que transpiram minh’alma, a essência em poesia,
Esquiando em versos, aventuras e confessos...
Que no papel, já não são apenas palavras!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
34
	CECÍLIADEPAULA
SALVADOR/BA
COM - (PU - TA - DOR ) AMOR…
Entre-nós. Tão próximos,
Embora distantes.
Tem toque e retoque
Na tela – janela virtual.
No corpo – ciberespaço
Métrico – (Atlético?)
Corporal.
Pegadas rarefeitas, frias.
Num mundo sólido que se desfaz.
Liquido qualquer que espalha
E espelha por entre fibras óticas que
Refletem o prazer do encontro.
Dos corpos – dos poros.
Carnal.
Líquido encarnado de ti,
(embora virtual)
Prazer humano.
Tele virtual.
Pré. Pós. Contínuo.
Real. Corpóreo.
Virtual…
Imaginários que se tocam
Rompendo couraças imagéticas
Corpos sólidos, distantes, se tocam.
Couraça de sonhos em líquidos desejos
Entrega enfumaçada pela distância dos corpos.
Sólidos. Situados.
Amantes.
Rupturas do espaço em trocas estelares.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
35
Moléculas de chips se espalham
Esfregam, respiram, suspiram
Gemidos de ambos os lados
Distantes.
Embora se toquem, se sintam, penetrem.
Na tela.
E como nuvens,
Por entre as estrelas
Os corpos, distantes,
Se espalham, se tocam,
Perfuram
O toque da brisa provoca arrepios;
E longe, distantes, os corpos se aproximam
Palavras aos sussurros são anunciadas
Como sonetos – de amor.
Enrolam-se os corpos, tão próximos
Colados.
Espalham amor.
Num gozo alongado, sentido, suado.
De múltiplos orgasmos.
Registrados na tela
Do computador (Com Amor...).
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
36
	CILENECANDA
SALVADOR/BA
OUTRO RETRATO
Eu não tinha a doçura de hoje
assim expressa em meu rosto
nem estes olhos molhados de beleza
nem nos lábios guardara canções de acalanto.
Eu não tinha essas mãos tão delicadas
tão disponíveis ao carinho, ao afago.
eu não tinha esse coração
que palpita de delicadezas.
Meu rebento me trouxe essa mudança
tão leve, tão doce, tão profunda:
– em que espelho estava escondida
esta minha face?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
37
	CIRODANIELCAMPOS
SALVADOR/BA
VERMELHO
O amor, arena secular do homem,
Farra que enfeita a mesquinhez da vida.
O amor, palavra pelo mundo inteiro dita,
Mas em cuja língua as palavras somem.
O amor, que só se ama quando se domina
Como um boi rumina nossa natureza,
Tem as vistas turvas e sangrenta sina,
Não empresta ao outro a boca que se beija.
Assim que um dia o próprio amor se veja,
Sem saber-se homem nem tampouco fera
A ferir com os mesmos cornos que assume,
Vestirá a capa roja do ciúme,
A julgar tão bela quanto um dia era
Essa lança cega que nos mata e une.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
38
CLÁUDIOHERMÍNIO
BELOHORIZONTE/MG
FUGA
Já não me importo
Se vivo entre vários mundos.
A vida é incerta
E nos leva a caminhos
Tortuosos.
Aprendi bem cedo a navegar
Pelos mares da alma.
Ouço com atenção
O marulho das águas
Na tentativa de desvendá-las
Mas elas sorrateiramente
Correm pelas frestas das rochas
Como quem foge dos encontros
Marcados.
Por um breve momento
Algo me traz a superfície
Como recordações que escrevo
Em folhetins e atiro a esmo
Nas gavetas da memória.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
39
CLARAMARIAALVES
SALVADOR/BA
SAUDADE
Você jurou
talvez voltar
mas não voltou
e eu continuei
te esperando.
Você jurou
talvez me amar
mas não me amou
e eu continuei
te amando.
O tempo passou
o tic-tac do relógio
não parou
e eu continuei
te esperando.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
40
CYMARGAIVOTA
SALVADOR/BA
DESAPEGO
É profundo por demais
É vazio por inteiro
O sentimento do apego
No lampejo de um beijo
Na força de uma paixão
Na íntegra de um sentimento
De um amor
De uma proibição
Foi o êxtase
Foi o máximo
Foi demais sua imaginação
Num encontro proibido
A permanência de uma forte
Tão forte e incontrolável paixão
Nela a essência do proibido
Do fruto de um desejo
De uma paixão
Que proibida
Não liberada
Transformou-se na estrada
De uma ilusão
Uma angústia
Um sufoco
Uma dor
É preciso o desapego do amor
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
41
DANIELAVALADARES
Petrópolis/RJ
LEMBRANÇAS BRANCAS
No decorrer do meu viver
lembranças se tornaram cristais,
se entranharam em delicadas flores
criaram um perfume nostalgicamente mágico,
que me remeteu a momentos inesquecíveis.
Vivi, revivi a serenidade das lembranças doces
amargas, se preciso fosse.
Carreguei, em minhas mãos trêmulas
a viola da vida, com ela compus
canções melódicas
arranjos harmoniosos
dos amores saudosos.
Guardo em uma caixa preta
lembranças brancas
que me envolveram
me embalaram
vivo cada instante
cada minuto constante
guardando recordações
no futuro, doces
lembranças se tornarão.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
42
DURVALKRAYCHETE
SALVADOR/BA
NÓ
Entre um ponto e outro – um nó.
A retenção asfixia para outro olhar.
No nó o tom, o exagero
A palavra de socorro
A palavra do outro
O outro na palavra
O outro do real
A metonímia e a metáfora.
Entre nós a costura se adapta em tecido de água clara
Tudo escorre e respira tranquilo
O tom está nas correções das palavras
e nas palavras codificadas
Não há manchas entre nós
Mas entre nós há palavras
Sempre nos beirando
Como um rio...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
43
ElderCarlosdosSantos
SALVADOR/BA
PERSÉFONE
Sou a eterna adolescente
A filha querida de minha mãe
Mas sou também a grande rainha
Senhora das sombras e do seu senhor
Sou a pureza encarnada
Aquela que encantou a todos os deuses
Despertando paixão intensa
E que, por isso, foi raptada
Meu futuro foi determinado
Pelo pedaço de uma romã
E com ele o de todos os viventes
Já que, assim, se originaram as estações
Entre a superfície e o submundo
Entre o que se vê e o irrevelado
Faço uma eterna dança
Grande ritual sagrado
Vagando entre os mundos
Numa transcendente espiral
Oscilo entre realidades
Entre a matéria e o espiritual
Sou o início da tríade
E também o seu final
A lua crescente e a minguante
O narciso que une vida e morte
Reúno a luz e a sombra
Você sabe o que quer dizer?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
44
São faces da mesma moeda
Os homens devem entender
Desço às profundezas
E morro, tal qual a semente
Para erguer-me renovada
Com as flores da primavera
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
45
ELYCARVALHO
CANAVIEIRA/BA
PRAZER
Ah! O prazer que me faz cometer loucuras
Chegar em você, olhar nos seus olhos –
espelho dos meus sentimentos.
Um simples toque
Palpitação crescente
Aconchegar-me a você, brincar com os seus lábios
Excitante conduzir meu corpo
Enroscar-me no seu
Penetrar na sua pele
Ter a sensação pungente do fazer amor,
E num crescente redemoinho
Beijar os seus lábios
acariciar
e me deslizar sobre a penugem
clara
quase finda
sem fim
Dessa estrutura escandalosa que é você.
Ah! O prazer que me faz delirar
Fazer loucuras, desejar você,
Cometer diabruras.
Ah! O prazer de inebriar-me no sangue
quente
Que queima
em minhas entranhas
no ardor da paixão do seu sexo contra o meu
És potro!
Sou égua!
Esse prazer me escraviza,
E no enlevo do êxtase que me toma
No eterno gozo de ter você,
De estar com você
me envenena
– E o pensamento voa nas asas de Morfeu!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
46
ELTONLIMA
PalmeiradosÍndios/AL
POEMA A VÁCUO
A poesia em celofane já foi embalada em canção.
Mas nomeada no congresso dos abutres e homens
mediante plenária,
Produto pra tolos, matéria ordinária,
sofreu desvio de função.
O lirismo embalado a vácuo
nos vagões de trem, vaga em fibras ópticas ou a jato.
Acorde menor tocado em lira elétrica,
soprado por uma musa da Arcádia cibernética.
Passa tão rápido, é sequer notado, em meio à enxurrada
de embarques-desembarques. É enxotado.
Tantas conexões e nenhuma ligação.
Ofício do raro ócio, a cidade dele fez divórcio.
Campestre bucólico ou pós-moderno, não ligam.
Liga a televisão!
O poema tão boicotado, pior que dólar mal cotado.
Vive na bolsa, sem valor, um papelote amassado.
O poema enlatado, mal digerido, requentado,
enjeitado, regurgitado nos restaurantes gourmets.
Deixou de ser ceia, de ser santo, sequer refeição.
Não causa apetite, nenhuma reação. Está preso na
cadeia
e faço deste, desfeito em migalhas, apenas meu
ganha pão.
O poema não fede nem cheira. Repousa com os
tomates de fim de feira.
Mas pra um cão ou mendigo que ali passeiam
ainda pode ser a salvação.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
47
EULÂMPIONETO
JoãoPessoa/PB
DA LOUCURA A PAIXÃO
O que é a loucura
Ante o devaneio da paixão
Já fui tempo
Já fui ódio
Solidão
Desci as escadas
Nas profundezas do inferno
Sem apegos ou corrimão
O céu não me cabe
Morto é aquele que não sente
Os dentes do rato louco
Corroendo o oco
Expandido em fleimão
Que queima e arde
Já fui nada
Hoje trânsfuga
Para ser Ser
Embalado na comichão
Do devaneio à loucura
Da loucura à paixão
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
48
FÁBIOHAENDEL
SALVADOR/BA
ASTRONAUTA ANDARILHO
Sou andarilho tenho rastros
Sou astronauta tenho astros
Sou andarilho tenho o trilho da rua
Sou astronauta tenho o brilho da lua
Alguns querem ofuscar o nosso brilho
nos criar empecilho, mas não por que...
Sou astronauta andarilho
Tenho astros, rastros, rua, lua, trilhos, brilhos vastos
Mesmo com os meus sapatos gastos
pelo tempo devastados
sou andarilho do asfalto
nada me basta
olho pro alto
da lua alta
sou astronauta
que salta
nada
me faz falta
vou a pé
sou
peralta
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
49
FABRÍCIOSOARES
SALVADOR/BA
MENSAGEM SEM DOR
Beijo esperado,
Beijo cuspido
Beijo amado
Beijo sentido
Uma voz suave de clara alegria
Mão que move lenta
Que me acalenta
Massagem que acaricia
Ouço cantar um passarinho
Enquanto sinto calor
Que parece mais carinho
Um gesto simples de amor
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
50
FERNANDABRANDÃOCAYMMI
SALVADOR/BA
CÍCLICO AMOR
Faço amor
Tudo no computador.
mais amor. com amor
há mais. por amor
amais... Faço música.
a dois. com letra.
no quarto. com melodia.
na cama. de dia.
de noite.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
51
FERNANDACARVALHOVEIGA
Camaçari/BA
SE DECLARE!
Às vezes escrevemos sonhos,
Escrevemos poemas, cartas,
Criamos cordéis, compomos canções,
Viajamos em contos, em fantasias,
Ao escrevermos uma suposta história de amor.
Mas o medo toma conta,
Nos impedindo de mostrar à pessoa amada,
Então engavetamos, por anos...
Até percebermos que a pessoa,
Se tornou a melhor amiga,
E cada vez fica mais difícil de se declarar...
Mas na vida nada é impossível!
Se ama, LUTE!. Se ama, SUPERE!
Enfrente às barreiras! SE LIBERTE!
LIBERTE SENTIMENTOS, SE DECLARE!
NÃO importa como!
Desde que seja de coração aberto!
Desengavete, SE LIBERTE!
Escreva livros, grave vídeos, SE DECLARE!
NÃO importa o que pensarão! SE DECLARE!
Se o acharem tolo...Se o criticarem...
Se forem contra...SE DECLARE!
Se disserem que o seu poema não tem métrica,
Foge regras e não é um poema, SE DECLARE!
Por que ouvir a sociedade? QUEBRE REGRAS!
A verdadeira beleza,
Não é aquela que vem da boca dos outros,
É aquela que vem da boca do seu coração!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
52
FERNANDAMELLVEE
PORTOALEGRE/RS
INSÔNIA
Noites passadas em claro,
em branco.
Tão vagas, tão tristes,
saudosas de encanto.
Momento tão puro,
lavado em pranto.
Tantas lágrimas no escuro,
dolorosas, no entanto.
Não se ouve,
se sente.
Nestas noites confusas
só a insônia intrusa
nos fala e não mente.
Noite que cai e se arrasta
força que vai e arrasa
com a alma antes amena
que não é, e não mais será plena.
Alma que se esvai aos pedaços
pela manhã, à mercê dos percalços
no teatro da vida que o corpo encena.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
53
GERALDOPORTELA
SALVADOR/BA
REVERSO
quem é aquela mulher
que chega na segunda vigília
senta-se na última mesa
de onde se avista o cais
no cais os barcos
lembranças ancoradas no silêncio
dos sonhos
quem é aquela mulher
misteriosa talvez
louca
que mora n’água-furtada
a escada sinuosa leva ao
abismo estrelado
ponte que cruza sem pressa
evocando aurora e ocaso
na trajetória de um tempo
sem réplica
quem é aquela mulher
quem sabe poeta
tem uma máquina de escrever
um gramofone um celular
um gato de porcelana
um relógio de parede sem
tempo para medir
ouve
liszt tchaikovsky mahler
lê
verlaine rimbaud baudelaire
e purga feridas
relembradas
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
54
como histórias de roda
que tocam na memória
fragmentada
quem é aquela mulher
misteriosa poeta louca...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
55
GIBRANSOUSA
SALVADOR/BA
SEX SHOP SHOW
sandras simones sheilas suzanas sílvios
soprando sonoros sustenidos silvos
suspiram surdas sinfonias servis
sob suvenirs
sob suecos
sob saraus
sob sífilis
sob sites
sob $im
salivando sentando
sumindo sugando surgindo supondo
subindo sangrando sambando saudando
ser sem sul sem sutiã sem sempre
swing silepse serpente
síncope sã
silente
ser
-mão: sob sol
suspenso: sobre sub-
missas santidades sodomizadas
sem sal sem salmo sem salmão só senão
sorrindo suando satisfazendo saciando sujos
sádicos secretos sinceros sujeitos
“suicidas sêmen suspeitos”
sem s
sem se
sem ser
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
56
sem sem
sem sede
sem sentir
sequestram-se subornam-se senzalam-se
simulando superlativos sustentam seus sonhos:
servindo sua sugestão seu sexo seus seios sua solidão
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
57
GIUSEPPECILIBERTO
Olbia/TempioSardegna–Itália
SOPRO
Ela engana como as pétalas de uma flor
Ela sabe onde ela está escondendo a razão
No chão em posição fetal
tropeça nos nomes
Brinca com as imagens
mas sem a luz de velas
Além do vidros da janela chuva
O som do céu apenas toca ela
Frio intenso na costas
Pesquisa novamente a resposta
A escreve na pele
a grita sem voz
Algo de mais forte
Fecha as pálpebras do coração
Um pendente rola na pista
E deixa no ar
apenas um sopro enferrujado
Tradução: Rosana Lapenna.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
58
HELOÍSALIMA
SALVADOR/BA
AUTODEFINIÇÃO
Se sou arco-íris que me pintem todas as cores
Se sou tinta que eu contenha todos os pigmentos
Se sou luz que se dissipem em mim todos os espectros.
Se sou alma que me venham todos os sentimentos
Se sou chama que me queimem todos os ardores
Se sou fogo que se incendeiem todas as labaredas .
Que se espalhem em mim todos os azuis das
primaveras
E os vermelhos dos morangos
E dos meus lábios que se derretam os amarelos do
teu mel.
E se sou mar que mergulhem em mim todos os verdes
E borbulhem todos os brancos das espumas
Se sou pincel que me guie a fúria de todos os
maremotos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
59
ISADORASAMPAIO
SALVADOR/BA
ESCAMBO
O tempo, o vento e as tempestades
O velho e o novo numa antiga cidade
Suntuosa arquitetura que vigas escoram
O luxo e a decadência que os homens exploram
Centros Antigos ou Históricos
Que se esvaem com a força do tempo
Terrenos de engorda! Descaso criminoso!
Invasões clandestinas! Omissas! Sabidas!
Em que escombros dilaceram-amputam vidas!
Elevadores modernos! Planos antigos...
Escadarias de pedras, ornadas de limo!
Se ao longe se vê igrejas, ruas e palácios centenários
De perto se percebe: o descaso, o abandono, o estrago.
Estátuas e monumentos colossais
Cobertos por dejetos alados
Servindo-lhes de abrigo – repasto infindo...
Aludindo à história – amiúde esquecido!
Quem dera tudo volver...
Volveria os escombros do que os olhos podem ver.
Cujos cinzéis e bisturis, arquétipos restauradores
Dão à morte vida e à vida cores.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
60
IVONEALVESSOL
PETRÓPOLIS/RJ
VERSOS DE MIM
Hoje eu teço versos de mim
Com fios do sim que não dei
Pondo o talvez depois do fim
Tecendo assim o que não sei
Não sei fazer linha com régua
A métrica não traça destinos
Importam-me instintos e setas
Faço às cegas, meu caminho
Se eu tiver que pousar no chão
Que seja em porção de vento
Nos contratempos da estação
Onde paira meu pensamento
Deixo aos pés minhas diretrizes
Não tem raízes se não tem solo
Não protocolo minhas origens
Mas busco nelas meu repertório
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
61
JAILSONSANTOS
SALVADOR/BA
O QUE ME DARÁS?
O que me darás em troca da dor? Amor
E quando morrer de saudade? Amizade
E para os meus eternos caprichos? Bichos
Estou sendo arrastado por uns guinchos
Que me eleva as grandes alturas
Dar-me-ás amor e loucura?
Ou amor, amizade e bichos?
Com que apagarás minhas mágoas? Águas
E para aniquilar o gosto? Desgosto
E para nos marcar as vidas? Feridas
Tão notáveis que cicatrizam
Sobre atitudes amarguradas
Risos, risadas e gargalhadas
Águas, desgosto, feridas
O que me darás para fechar os cortes? Sorte
E como desculpas pelo que proferi? Ferir
E para que eu venha nascer? Doer
Eu sou um “cego” que vê
O desabrochar de uma flor
A virgem manhã em esplendor
Sorte, ferir, doer.
Virás para mim agora? Senhora
Com que quebras a castidade? Infidelidade
O que me darás em troca deste enredo? Medo
Conta-me agora o teu segredo
E entregue-me o seu eterno corpo
Ainda que vivo ou morto
Senhora, infidelidade, medo.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
62
JAIROPINTO
SALVADOR/BA
MESTRANDA
Para Iramaia
Gostaria de escrever tua dissertação
Para estar mais próximo de ti
Mas teu mestrado é solidão
Mesmo que, por perto, eu te faça rir
Minha lira talvez furte tua atenção
Mas, sou poeta, minha preta
E esta é minha sina
Te escreverei ainda assim alguma rima
Um poema que não roube tanto a cena
Enquanto dissertas, eu verso
Concentrada em tua metodologia,
Desenhas teu objeto a cada fichamento
Enquanto eu, desejando nossa empiria,
Rascunho palavras de acalento,
Sussurros prenhes de malícias
E de amor, nosso alimento...
Sentada ali sozinha, mestranda,
Te vejo tão minha
Que até aprendi a esperar
Por nossas trocas de carícias,
De delícias, de travessuras
E outros pedaços de felicidade...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
63
JANAINACRUZ
JUAZEIRODONORTE/CE
COISAS ETÉREAS
Meus seios em tuas mãos ávidas
Tudo em ti ereto
Silêncio nos lábios
Gritos na alma
Dia circunspecto...
E eu ainda sem saber falar de amor,
Falo dos bichos de revolvem a carcaça,
Do meu sexo úmido, tão espontâneo a tua quilha.
Os bichos morrem no pasto de capim moço
Aves de rapina dão voltas e voltas no céu
Enquanto ergo-me a braçadas de teus mares
Movo-me em teu sal comovente...
Meu ventre mastigando teus gametas...
Eu não sei falar sobre o amor, eu sei fazer amor,
De combinar e conjugar nossos corpos
Ser a tatuagem em tua pele, a vulva e os licores.
Sou eu a ruidosa amante, a que te faz delirante
A lamber-te as feridas...
Abrace-me com força amor,
Amplie as tuas dimensões, teus hábitos loucos
Em meu sorriso rouco
Eco
Eco
Um eco de lobos
Dia circunspecto
Membros despertos
Seios salivas e coisas etéreas
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
64
JeaneSánchez
SALVADOR/BA
CANÇÃO DE DESPEDIDA
O rio no meio do mar secou.
Nasceu um lírio branco n’água
A lembrança, agora, se eternizou
Sem deixar na terra uma só mágoa
O poeta voou leve como uma garça
Livre e faceiro em sonho real
Deixou apenas um forte traço
Tão marcante quanto gosto do sal
Hoje a água do mar para
Pra embalar uma canção
Da perdida aurora fria
Dizendo os sonhos que passam
No dia da despedida:
A minha alma vazia.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
65
JOÃOESTEVESALVES
RiodeJaneiro/rj
CRIA-QUIETO
O tempo dos versos ouvidos por todos
ficou no passado, bem longe pra trás
não se tem mais tempo, nos dias de hoje
pra meros versejos. Quase tanto faz
poder escrevê-los ou não, que leitores
e ouvintes atentos já não se tem mais
no entanto, escrevê-los confere a alegria
que venho incluindo no meu dia-a-dia.
Labor invisível, labor taciturno
buscando expressar-me talvez pra ninguém
trabalho escondido, trabalho noturno
o que re-aliso sem demanda e sem
nem sequer saber se ele irá, por seu turno
ser apreciado de fato, porém
não tenho requintes nenhuns no momento
nem necessidade de refinamento.
Poetas inanes, sem carro do ano
nem estro, nem verve ou dinheiro no banco
entraram solenes de vez pelo cano;
meu caso não foge, no verso aqui manco
da regra geral que põe fora do plano
das prioridades prementes da vida
qualquer pretensão de a poesia ser lida.
Só tenho a dizer que me empenho, teimoso,
no afã de fazer o que tanto me apraz:
usar, bem atento, bem criterioso,
cada ingrediente que, inerte, aqui jaz.
Ser quieto poeta de pouco comer
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
66
JOSÉEDUARDO
RIODEJANEIRO/RJ
DO INÍCIO AO SEMPRE
Sempre pensei em deixar o amor para os poetas,
Nunca pensei que existisse um amor para mim,
O sentimento em mim batia na hora incerta,
Até a noite que lhe descobri.
E assim lhe vi pela primeira vez,
Meu coração bateu descompassado,
Algo se transformou em minha alma,
Algo que nunca fora imaginado.
Seus olhos azuis cor do céu e do mar,
Seu sorriso brilhante como as estrelas,
Tudo em mim mudou ao lhe encontrar,
Tudo que é seu corre em minhas veias.
Vanessa você sempre foi o meu futuro,
Eu serei só seu até morrer,
Nada é tão completo nesse mundo,
Nada eu serei sem ter você.
Nosso amor vai muito além da vida,
Cada traço seu é perfeição,
Seu olhar é plena luz do dia,
Sua ausência em mim é solidão.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
67
JOSUERAMIRO
SALVADOR/BA
S A N G R A M E N T O S
O templo é viagem que sangra
O sangue que sangra do templo
Nunca o templo... estancará!
Os templos estão a sangrar!
O tempo cura feridas
Nascidas
Renhidas
Em idas e vindas
Que o templo jamais curará
Os templos estão a sangrar.
Não é o templo quem vence o tempo
Não é o templo quem sara feridas
Nos tempos do hoje
Os templos se irão
E todas as dores, amores, temores
São sangramentos que os tempos
E nunca os templos
Estancarão!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
68
KAIQUEBARROSMORAES
SÃOPAULO/SP
A ETERNIDADE
Queria ter a marca
da eternidade do
universo que é
tão esplendoroso
que tudo...
queria ter a marca
da nossa amizade
que tão verdadeira
e tão pura...
Queria ser santo
para nunca mais
correr o risco de
te perder...
a nossa amizade
que é tão forte,
tão feroz e
verdadeira não
se pode deixar
se perder na
escuridão das
angústias...
a nossa amizade
que é a aliança
de compromisso
que tem entre nossos
corações...
é o laço de amor que
nos laçou para nunca
mais deslaçar...
o deslaço pode descomprometer
o nosso compromisso...
queria ser perfeito
a ponto de nunca te
perder na escuridão
da solene solidão...
te amo amiga.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
69
LAURALiberato
SALVADOR/BA
LILÁS
Luz do dia, brilha o sol e ainda és neblina.
Brumas e fumaças ao teu redor dançam.
Fusão de luz e sombra por entre minha retina,
do efêmero ao indelével que teus olhos lançam.
Misturam-se em ti a perversão e o sublime,
numa louca poesia que nunca se finda;
A mim tua boca acusa, a mim teu corpo redime,
numa sutil percepção que sempre me deslinda.
Tua mente é labirinto, quase insondável;
Paradoxo Minotauro com mãos de veludo,
busquei-te por milênios de forma incansável.
E agora o tendo novamente em meu destino,
muito embora homem pertencente ao tudo,
em meus braços, meu amor, és só um menino.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
70
LEANDROFLORES
BELOHORIZONTE/MG
FOI E LEVOU A POESIA
Pulou duas linhas,
Tropeçou nas palavras,
Soltou o verbo,
E se perdeu nas entrelinhas
Em silêncio,
Descosturou tudo...
Letra por letra,
Verso por verso
Nenhuma palavra proferida!
Com a agulha na mão
Fiquei a observar, entretido...
Quando não mais havia história,
Só páginas em branco
O livro foi entendido.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
71
LUANABISPO
JoãoPessoa/PB
RETRATO DO EU PELO AVESSO
O verso que me era prosa
Para poesia deu a vez
Levou a estrofe embora
E dissertativo me fez
A linguagem de estripulia
Que assalta o coração
Faz canção virar cordel
Lirismo se tornar narração
Levei o amor na viola
Colori as notas de anil
Casei a letra nas cordas
Reparti a paixão em mil
Sonata virou soneto
Caetano virou Gil
Cazuza rezou o terço
Jobim me invadiu
Trocaram bossa pelo samba
Quase ninguém ouviu
O amor cegou a moça
A paixão causou arrepio
O avesso destas coisas
Leva tudo a desandar
Bagunça minha razão
Faz o coração acelerar
Se era para ser poesia
Virou letras a saltitar
No impulso desta rima
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
72
O AMOR me faz falar
Por isso não se esqueça do verso
Nem da rosa que caiu
Leve para casa o tinteiro
Escreva tudo que sentiu
Da palavra faça a frase
Aninhe ela no lugar
Escute o peito batendo
E não pare de narrar
O sentimento que desperta
Hora tem o seu lugar
Quando invade, assola
Por favor, deixe ficar.
Qualquer sintoma de saudade
Estufe o peito de emoção
O carinho que se invade
Faz esta carta, prosa, poesia e canção.
Se não escrever o que sente
Respire e consiga falar
Só não deixe passar a palavra
Que é nicho sagrado deste lugar.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
73
LUCIENELIMA
SALVADOR/BA
MENDIGO
E assim vai...
Como um mendigo.
Que sem rumo e sem morada,
tendo a lua, sua namorada, se embriaga de amor.
E perambula entre as calçadas desertas da noite
e cai na sarjeta.
Como um bêbado, anda mendigando um pouco de
amor,
um pouco de carinho, em troca, uma dor.
E sem amor,
amador da noite, ébrio da solidão,
cai na madrugada e se embriaga de paixão.
Bebe a noite e se esquece da sua amada,
esta tão sonhada, cuja dor é a razão.
Desespero seu, lúcida embriaguez num convite à per-
dição.
E assim vai...
Como um vagabundo recita o seu nome: vagando em
versos,
tropeçando em frases.
Ruas desertas, becos, lugares num recital de amor.
E assim vai...
Sem coragem.
Como um covarde se rendeu ao amor.
Círculo vicioso, escravizador.
Vês?
Já não tens coragem,
em um covarde te tornastes.
Em trapo foi o que te tornou este amor.
Vai...
Esquece desta dor, nega este amor!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
74
Quem um dia no teu riso se fartou,
hoje, ao te ver em tamanha dor,
teu amor te negou.
Pois já não se importa com essa dor.
Quem dizia te amar, a ti próprio enganou.
E em mendigo te tornou e mendigo serás.
Um mendigo do amor.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
75
LUCRÉCIAROCHA
SALVADOR/BA
MATIZES
Estava a maré distante ...
que vazia deixava à vista,
áreas habitadas por uma imensidão rochosa.
O mar chegava, beijava as pedras
e elas, dengosamente, retribuíam.
Senti inveja delas!
Areia e mar beijando-se
no vai e vem das ondas.
Areia, mar e pedras formavam
um carinhoso trio de afagos
que o vento, formando o quarteto,
acarinhava e sussurrava
generosas palavras,confidências, melodias.
Dancei no hit da nossa canção
Copacabana, Copacabana...
Deixamos o tempo passar
E o nosso amor no ar,
A nos afastar.
E assim nos perdemos,
Como um barco num mar
Sem remos, sem horizonte
à deriva do amar.
Copacabana, Copacabana...
Essa é a nossa música
Que ficou no ar, sem sintonia e sem o final ...
O pôr do sol lindo,
Mágico e intenso
Tentou nos aproximar.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
76
À distância, senti seu calor
Nas atitudes fingidas, senti a sua saudade escondida,
Olhei para o céu, procurei
Nas desenhadas larvas de fogo,
bordadas em ouro, as nossas vidas sem Nós;
Havia imagens distantes, nas nuvens,
que por alguns instantes,
juntavam-se
Formando um nacarado insólito desenho.
As desordenadas, confusas e melífluas imagens,
moldadas entre sombras e reflexos,
despertaram-me o desejo de pintar um quadro
a dois.
76
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
77
LUIZDANTAS
SALVADOR/BA
Bah ia
O mesmo bah que um dia me embriaga de alegria,
me faz sentir na pele, a diáspora dos últimos 6 dias.
Quando se vê mães no afago, sem querer ver suas
sobras partindo-se por aí...
Fortes e sem prantos apenas nos lavam a alma
deixando rolar e cair uma só lágrima que escorre até
a praia do encanto.
E assim é Salvador sem se ter um Salvaon, que se
salve desse único equívoco do sétimo dia.
Bah!!! Bah ia Bahia.
Baía de Todos-os-Santos sem deus.
Porque o que realmente ilumina, nunca se sentou
para descansar nas sombras das praças ou dos terreiros
da Terra
que nunca ia.
Bah!!! assim é, assim ia ser um ponto da jornada do
mundo.
Portanto, Bahia nunca ia e nunca foi concebida.
Só cria do mundo.
Ela, a baía, se fez encher das gotas do suor das Bah
de Salvaon.
daí, a baía de sal e dor (Salvador) se fez verbo
e quem não gostou transformou o lugar.
Hoje o paraíso do inferno está cheio de infernos de
juízos.
E o inferno do paraíso nem Salvaon quer retornar
por lá.
Apenas canta: Bah ia
Bahia terra de ilusão. Terra onde o céu, já se fez chão.
Onde agora, o pós é vil.
Onde as perdas se ganham.
Terra de um mar tamanho.
Terra de um lar estranho.
77
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
78
Terra que até mesmo o próprio deus diria: “ao
deus dará”.
Terra sem mães e que se multiplica.
Quem sabe um dia Deus, na sua infinita escala ou
desvio de rota da jornada,
possa aportar por aqui de novo, para relembrar
não só aquele de um
dos 7, mas um dos 70 x 7 dias.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
79
MÔNICAXAVIER
RiodeJaneiro/rj
EXÍLIO
M’esilo entorpecida na lembrança
Imersa no silencio turbulento
Deste imenso vazio absorvente
Onde a escuridão do verbo empalidecido
Machuca o sonho com seus espinhos
Murchando pela barbárie da dor
Qu’escorre feito lodo
Por minhas fronteiras...
E me arrisco no risco
Que se abriga no abismo
Pernoitando nos escaninhos
D’onde transpasso punhais d’abismo
Mergulhados em trincheiras
Recortando todos os espaços
Que s’encontram em meu caminho
Sem digital ou lastro.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
80
MANOLLOFERREIRA
JUAZEIRO/BA
MORREU MAIS UM ALGUÉM...!!!
Mais um alguém morreu...!!!
...Talvez confundido... Talvez inocente... Talvez
culpado... Talvez... Talvez... Talvez !
Morreu mais um alguém sem oportunidade de
defesa, de explicação, de julgamento, de perdão!
Morreu mais um alguém por uma incontestável
condenação, por uma irremissível punição!
Morreu mais um alguém talvez sem saber por quê...
Morreu mais um alguém talvez sem saber por que ...
Por que morreu...!
...Alguém filho, irmão, amigo... Alguém pai... Mãe...
Alguém pessoa, alguém humano, alguém ser...
Alguém! Alguém! Alguém!
...Morte talvez sem culpados... Morte talvez sem
culpas... De quem morreu talvez.
...Alguém morreu... Alguém com nome e
sobrenome... Alguém com família morreu... Morreu
mais um alguém!
Mais um alguém morreu!!!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
81
MARCELOGFERES
RiodeJaneiro/rj
POEMAS NÃO MORREM
Fazer poesia como disposição de última vontade,
como repetido, último e inútil esforço de todo dia,
Tomar disposição nova ainda ouvindo as músicas
de sempre –
Pobre coitado, poeta, segue, sem outras melhores
disposições de vontade,
Repetindo, a cada momento, o tormento do peso a
ele sempre destinado –
Arrastar-se, pesado, tentando voar sem as asas da
real liberdade –
Da imensidão, jogado do vazio, ainda não nascido,
nestas terras distantes,
Na imensidão de uma totalidade, que de novo
tanto tenta
Tornar-se pacificado, em novo outro vazio, novamen-
te.
Mas, ao ser consciente, é apenas destinado a sentir-se
repleto e eterno,
Enquanto há sempre dias que, ao infindo, se
repetem – Ah! Poetas!
Todos, tornados atormentados, condenados a
voar sentados,
Mesmo se batendo asas apenas em palavras,
Cabisbaixas,
Cansadas,
Absortas,
Terminadas,
Em silêncio –
De pássaro aprisionado, e ferido –
Poeta e pássaro, qual conseguirá fugir de si mesmo,
primeiro?
Voar e cantar são seus mesmos ofícios, prementes.
O pássaro não pode cantar feio, mesmo sofrendo,
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
82
O poeta escreve aos moldes de seu sofrido
encantamento.
Mas beleza nunca traduz sofrimentos – e voam
ambos, parecendo satisfeitos –
O pássaro sofrendo, canta sempre,
O poeta morre em seu forçado e esforçado silêncio.
Somos deuses em nossos mundos e somos infindos,
Morremos em espaços e em tempos,
Jamais em nossas mentes.
Palavras e poemas são asas aos ventos,
Poesias são músicas e somos melodias,
Verdades são apenas histórias que contamos,
Os testemunhos são os nossos testamentos,
Somos seres ainda pequenos, aqui dentro –
Voamos livres!
E sempre ainda sobreviventes –
Poesias!
Poemas! –
Jamais morremos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
83
MARIADASGRAÇASPRATESMAIA
SALVADOR/BA
POENTE
De um lado só;
Duas maravilhas,
Poente, o sol
Acima, a lua
Pôr do sol;
Matizes, azul turquesa
Nuvens luminosas, em mutação,
Chega o anoitecer	
O céu aproxima-se do mar
Anuncia-se o luar
Ilha ponte divisória
História, visão?	
Tudo isto de um lado só?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
84
MARIANNEFRANCA
BRASÍLIA/DF
VENEZA
quem sabe possa algum dia
renascer na città dell`amore
abrir os olhos para a vida
nessa cidade intangível
no berço de uma casa térrea
próxima à coluna
do leão de ouro
com os barcos jogando
as ondas na minha janela
viver a magia da água
o espelho natural reflete
a imagem apaixonada
desse paraíso perdido
me achar me perder
nos labirintos, vielas,
sottoporteghi, campi,
nessa cidade de sonho
santos, querubins,
janelas góticas ou mouriscas,
galerias de palácios,
à sombra sonora de Vivaldi
depois
quando o mundo abdicar de mim
e eu viver à beira dos dias
quando a luz tremer nos meus olhos
deixarei a beleza
um gondoleiro me conduzirá diáfana
à isola numa gôndola muda e escura
sobre mim, um pôr de sol radioso
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
85
MARILAINEGUADALAJARA
OSASCO/SP
COR MORENA
Amo a minha cor morena,
Cor retrato da paixão,
Cor da terra que sacia,
Cor origem da nação.
Amo a minha cor morena,
Que escorre, desce e corre
Das chapadas ao sertão
Cor amor dos sedutores,
Cor das massas multicores,
Cor plebe real nas ruas,
Cor ternura multidão.
Amo ter esta cor morena,
Cor amena incendiada,
Cor serena morenice,
Cor meiguice, cor sagaz.
Amo ser morena
Ter na pele a minha história
Nas misturas, ter a paz.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
86
MireleLongattiSousa
SãoJoãodel-Rei/mg
POETA EM SONHO
Ser diferente é ser poeta.
Ser poeta é ter sede de nada,
é condensar o mundo em um só grito.
É ter o mar como soma de suas lágrimas
e o calor do sol como chama de sua vida.
Ser poeta é sonhar.
Sonhar que das cinzas surjam rosas,
que o eco dos passos dos que caminham pelas ruas
seja mais que sua derradeira rotina.
A qual enfrentamos a favor dos sonhos.
Sonhos altos
cada vez mais altos.
Sonho...
Sonho com grandes versos
inúmeros legados e obras.
Sonho com publicações, em lançar flores ao vento
deixar um pedaço meu em cada ser.
Sonho com uma suntuosa lápide em versos.
Sonho em não ser sombra, mais uma sombra em
meio às sombras.
Sonho com a fumaça que escapa de minha boca
e dedos.
Sonho, como Apolo, a desfolhar as mais belas flores.
Sonho com o êxtase impudor da juventude.
Sonho com a boemia, a vagabundagem e a poesia.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
87
Sonho com o riso vindo da boca fria,
com o luar ouvindo minh’alma.
Sonho em ser miragem, ser estátua, ser coisa, ou
coisa alguma.
Sonho...
Com enigmáticos jardins que me inspirem.
Sonho em ver as lágrimas brotarem de dentro da alma.
Sonho em esquecer para lembrar novamente.
Sonho em viver e embebedar-me de nuvens e flocos
de neve.
Sonho porque adquiri o deslumbre de um poeta
solitário.
Porque me edifiquei sonhadora.
Porque ando atrás de mim sem me largar.
Porque sou demasiado humano.
Sonho porque sonho em ser poeta.
Porque vivo de poesia.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
88
MORGANAGAZEL
SALVADOR/BA
O APRENDIZ
Dores viróticas,
bacterianas,
de células atípicas
te antecipam a morte.
O que diz isto de mim?
A sabedoria se insinua em ti
se perguntas.
Dores de vaidade
inveja, intolerância
de enganosa arrogância
gritam em tua interioridade.
O que diz isto de mim?
A sabedoria se insinua em ti
se perguntas.
Da falta de ética
da crua maldade
da fria indiferença
nascem tuas dores mestras
O que diz isto de mim?
A sabedoria se insinua em ti
se perguntas.
Dores em versos,
de tua necessidade de amor
o lenitivo do vazio interior.
Dores poéticas de equivocados.
O que diz isto de mim?
A sabedoria se insinua em ti
se perguntas.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
89
Dores benditas
se choras a dor do mundo,
do seu igual, da flor ou do animal.
Grãos da dor de um sábio mestre
conseguiste semear em ti.
O que diz isto de mim?
Já não perguntas.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
90
NÁDIAVENTTURA
SALVADOR/BA
MEU SONHO DE VIDA
Tinha sede
Muita sede
Tinha sede
De teus lábios
E como náufrago te sorvi
Para alcançar a imortalidade
Naveguei por tua língua
Qual uma nau bem-vinda
E embriaguei-me como louca
No abismo da tua boca
Mas na luxúria ansiosa do teu beijo
Me perdi na eternidade dos segundos
Oriundos deste beijo desvairado
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
91
NANÁMOREIRA
SALVADOR/BA
À PRESTAÇÃO
Sonhos, risos, momentos
Feitos filas de anseios.
São altos, soltos e leves
Como os dias de outono.
Batem firmes nas horas de espanto
No tempo presente, nos encontros da noite
E lembram-nos do dia marcado
São vidas que se desenrolam
Sem a qualidade das flores
Vencidas tornam-se vivas
Mortas, renovam os desejos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
92
NOÊMIADUQUE
RIODEJANEIRO/RJ
BUNDALIZAÇÃO
Ora, chega de falácia
Que esse papo é mais insosso
Do que fila de farmácia
Tire a bunda, deixe a bunda
Vamos dançar a levada
Nos salões ou nas quebradas
Classe baixa ou elevada
Não importando a demanda
Segue o baile, o som comanda
Como os câmbios que balançam
E as ações que nunca estancam
Pois se a bunda tá na praça
Tanto sobe, quanto abaixa
Até o chão, chão, chão!
Ora, ora, pois se não!
Se os Senhores Doutores
Querem a turba ignara
Não permitindo que o vate
Mostre a cara na vidraça
Tire a bunda da disputa¹
Deixe a bunda, não discuta²
Bunda nossa, que nos valha
Ora, ora, minha gente
Vós que sois brasileiros
Batam no peito com orgulho
Seja aqui ou no estrangeiro
Bunda, mostre a sua cara
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
93
E se afirme ao mundo inteiro
E “já podeis da pátria, filhos”
Afirmar com emoção
Que a bunda é da massa
E quem vai dizer que não?
Diga agora sem demora
O mais alto que se possa:
A bunda é nossa!
Grande, redonda, sem igual
Bela, imensa, fenomenal
Símbolo da soberania nacional
E se alhures inquirires
O que tens ó pátria amada?
A alma de orgulho inunde-se
Mesmo que a plateia emude-se
Erga o peito com orgulho
Alegria abundante e profunda
Força, coragem, vontade!
Não fuja!
Exclame simplesmente
Yes, nós temos bunda!
Ainda que o tempo mude
E a pele empalideça
Ou core
Yes, nós temos bunda!
Quod abundant non nocit!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
94
NEWTONSILVA
SALVADOR/BA
MEU SONHO DE VIDA
Fofinha,
te amo
Fofinha,
te adoro
Fofinha,
Meu sonho
dos sonhos,
querida!
Princesa,
Cesinha!
Senhora
da minha alegria
Formosa
Florzinha
Futura,
Rainha!...
Estou tão feliz
Sou um só sonhar
Porque você
Olhou pra mim
Com aquele olhar
De muito querer bem
Me deixem sonhando
Não quero acordar
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
95
PAULOSANTANA
SALVADOR/BA
NOSSA BAÍA
Baía de Todos-os-Santos!
Baía de todos nós!?
Você tem um encanto
Nunca me deixa a sós
Diversos lugares...
Mar Grande ao Pelourinho
Subindo Ladeira da Montanha
Nunca estou sozinho
Tecendo como aranha
O olhar fixo no caminho
Baía, além do carnaval...
Cigano lendo mão
Vendedor artesanal
Diversos lugares
Descida do elevador
Meu coração aos ares
São Salvador
Lindo Mercado!
Em qualquer época...
Modelo, de que lado!?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
96
PATRÍCIADANTAS
PORTOALEGRE/RS
À REVELIA, ELE VIVE COM
TODA A SUA MORTE
Ouvi passos no corredor dos meus sonhos
era um morto quase vivo que viria sem palavras
o olhar que trazia era avassalador
Ele o homem no sonho não necessitava de sons
sua voz era de dentro corrompida pela respiração
a vida toda eclipsada pelo olhar etéreo impegável
como o vento
tão forte que arrastava meu corpo em movimento
O medo ressoava perto eu tenho alma ofegante
quase tocando a pele suada se confundindo
aglomerado como peças montadas
pisando sutilmente na pedra fria rasgando o instinto
com fogo ardente
de onde não se esperava ele surgia
na imensidão no espaço na relva no susto do sonho
não sabia que podia se guiar
nem podia dominar a argamassa volátil embaixo
dos pés
Derrapante no espaço se aproximou
como uma brisa fria tocou meu cabelo e fez
geometrias entre os dedos
cambalearam seus olhos-esmeralda quase choravam
acariciando os fios
enterrou seu soluço dentro de si não viera para
apreciar tinha pressa
não havia para ele o contentamento das horas estava
cansado
balançava a cabeça como quem pensa em não ser mais
como se pode não ser mais? – irritava o monólogo em si
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
97
À revelia do mundo jamais se enganou nem em vida
nem quando sabia que existia num tempo e espaço
concreto
naquele seu quarto inóspito com algumas revistas
exauridas pelo manuseio
tinha um cheiro de festas noitadas sombras e solidão
ouvia sem suspeitas a música que ecoava das paredes
do clube vizinho
ele disse uma vez que lera coleções de livros dentro
de suas insônias nervosas
traçava as noites em reboliço no travesseiro amarelado
pelo suor que escorria
Em sua alma ainda reluzia beleza havia uma história
não contada
por medo? Insignificância? Incompreensão?
sua sutil percepção anunciava algo novo que pulsava
na alma
fora um detento um fora da lei agora um peregrino
já aguentava a vida de outras formas não soubera
viver como pedem
era a viagem sem volta dentro daquele homem que
sabia pouco de si
e que desejava ardentemente viver com toda a sua
morte?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
98
PATRÍCIALINS
SALVADOR/BA
LOUCURA QUE CURA
Meus olhos dizem aquilo que ninguém quer ver...
Todos alegam que eles mostram o que querem fingir ver.
Eu só os tenho e apenas vejo.
Me recortam em mil pedaços e não me enxergam em
nenhum...
veem a si ou aos seus próprios dilemas e defeitos.
Meu todo se reparte em mil fragmentos que nada
dizem isoladamente.
Meu todo só funciona e faz sentido para os que me sentem,
me amam e me deixam amar.
Meu todo só é todo às vezes, apenas para quem eu
quero mostrar!
Me divirto com os tolos que juram me identificar!
Me perscrutam vagamente e afirmam aprofundar!
Me ignoram, sim, eu sei.
Mas, se ignoram muito mais a si, eu sei! Eu, na
verdade é que bem sei.
Aí, de um jeito tosco eu peço: “dá para parar?”.
Ninguém me ouve... Todo mundo quer seguir o
mundo que aí está.
Eu? Quero ir longe, para meu mundo.
Mesmo estando aqui, fisicamente, no mesmo lugar.
Não adianta... não me tome, não me sente. Se não me
ouvem, eu grito, berro e me agito.
Culpam ao mundo e a todo mundo... Só não são
capazes de “se humilhar”
Reconhecer o quê? Em sua arrogância diz: “eu é
que bem sei o que fazer!”.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
99
E me olham de novo, de um novo jeito... tudo balela,
apenas para se justificar!
Até quando essa arte da falta de arte de experimentar?
Onde está o novo?
E o velho? Onde estás tu, tatu, que nem me ouves,
nem se ouves, nada ouves além de um quase tu qu nem és
tu de verdade... apenas uma fraude do tudo que podes ser!
É... é bem assim comigo. Não me olham, porque mal
desgrudam do umbigo
cego de quem ainda nem nasceu.
Eu? Vou seguindo!
E vocês, me vendo e ouvindo pelas fragmentações
desses outros alguéns!
Vão vendo, vão assim. Sei que um dia vão se encontrar
contigo e consigo
Torço por isso. Rezo, por vocês! Vão lá, voltem, me
olhem. Olhem em meus olhos e deixem o meu olhar guiar!
O que os meus olhos dizem? Ah, fala sério! É só para
eles, de VERDADE, olhar! Para os cegos, fica o tato, para
o tato no impalpável tocar.
Sim, é ele, ser maior: meu coração, para quem vocês
sempre disseram
“não, não existe!”. Tanto existe que posso provar.
Não... não, para vocês... vocês têm mais é que se enxergar!
Depois, quem sabe eu deixe me acessar...
E para o que vocês chamam de loucura
Talvez seja, simplesmente, a cura
do mal que na humanidade há!
Não sou bem eu quem deve se elevar!
O problema é esse: só querem me julgar...
Bom seria se pudessem e quisessem me ajudar!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
100
RafaelRodrigoMarajá
ARACAJU/SE
PASSADO PERFEITO
Fui na partida do trem
O apito do homem a largar
As bagagens e os braços
Da saudade cortante
Da casada amante
Acabei como o brinquedo
Querido inanimado
Das tardes furtivas
Do sorvete a cauda
Escorrendo e sujando, fui
E da água o gelo
Refrigerante do sangue
Da melodia a letra colada
Do piano tocado pelo dom
Na casa do tempo
Fui a alegria da noite.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
101
RICARDOMIRANDAMACEDO
SALVADOR/BA
MUNDO ALTERNATIVO
Legal, hoje o desemprego acaba!
Meus diamantes vão encher aquela caixa...
Mãe, traz a caixa do meu televisor!
Vou banhar de ouro o calhambeque do vovô
Mãe! Recebi uma carta que diz:
“Todo mundo será feliz!”
Tiraram a seção policial dos jornais!
Dinheiro dá em árvores que não se cortam mais...
Não acredito! Algumas coisas estão erradas
Guerras não são mais travadas?
A ganância escorreu pelo bueiro
Não é possível, há paz no mundo inteiro...
A fome sumiu. Não estou mentindo!
Todo mundo continuará sorrindo?
Os dedos não conhecem mais os gatilhos
Esperança é o que resta para os nossos filhos
Parece que tudo virou fantasia
Para onde foi a hipocrisia?
Mãe, para de me beliscar!
Não posso ao menos sonhar
Imaginar não é pecado
Pelo menos me deixa sonhar acordado...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
102
RODOLFOANDRADE
SãoBernardodoCampo/SP
POEMA DAS MÚSICAS
INTERNACIONAIS
A93milhõesdemilhasdoSol(JasonMraz–93MillionMiles)
Eu estou com você (Jenifer Lopez ft. Lil Wayne – I’m
Into You)
Eu e você... (Lady Gaga – You And I)
Na beira do mar (The Kooks – Seaside)
Você foi a melhor coisa que me aconteceu
(Taylor Swift – Mine)
E não é difícil para mim amar você (Jason Mraz – The
World As I See It)
Eu sempre lembrarei de você, minha querida garota
(Mr. Big – Wild Word)
Sempre! (Bon Jovi – Always)
Baby, eu sou seu para sempre (Jason Mraz ft. Lil Wayne
e Jah Cure – I’m Yours Remix)
Eu estou retrocedendo com você (Jason Mraz –
Kicking With You)
Com você... (Chris Brown – With You)
Como um nerd cor-de-rosa (Jason Mraz – Geek
in the Pink)
Domingo de manhã (Marron 5 – Sunday Morning)
E eu oro (4 Non Blondes – What’s Up)
Oh meu Deus, como eu oro! (4 Non Blondes – What’s Up)
Minha doce criança (Guns N’ Roses – Sweet Child O’ Mine)
É isso que você procura em um homem? (Justin Ti berlake
– What Goes Around)
Mais do que palavras... (Extreme – More Than Words)
Meu coração agora é seu (Justin Bieber – One Time)
E eu irei aonde você for. (The Calling – Wherever Will
You Go)
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
103
ROGERIOARAUJO(ROFA)
SãoGonçalo/RJ
OLHAR… MAIS QUE PALAVRAS
Os olhos também falam
São expressões de desejo
Chegam antes do coração
E até mesmo da razão
Despertando a paixão
Num encontro de olhares
Penetrantes, sensuais,
Fulminantes, sexuais,
De cima para baixo,
De baixo para cima,
De frente para trás,
De trás para frente,
Tudo é observado
Pelo ser amado
Amar pelo olhar
Olhar para amar
Falar pelos olhos
Olhos que piscam
Olhos que choram
Olhos que conquistam
Olhos que desejam
Olhos que beijam
Olham que falam
Mais que palavras
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
104
RONALDOMAGELLA
SantaLuzia/PB
DE TUDO UM POUCO DE TI
Quero apenas a eternidade de nós dois
O ontem do nosso amor, o agora da nossa alegria
O amanhã do sentimento, o futuro da nossa vida
Quero todos os teus silêncios e as nossas palavras
Os nossos planos e os nossos gestos emoldurados
Nosso amor num quadro, nossa vida em retrato
Nosso corpo em brasa, nosso beijo na lata
Tua mão suada, teu peito ofegante, teu olhar perdido
O teu melhor momento, o teu pior encanto
Quero o teu tudo e o teu nada, a tua certeza
E tuas dúvidas, teu medo e tua coragem, a beleza
Tuas lágrimas e teus sorrisos, tuas mortes
E teus renascimentos, te quero por inteiro
Faltando um pouco, um pedaço, toda, desde que
sejas tu
Sempre assim, como eu quero, total, normal, pra
sempre
Quero amar os teus lábios e morder as tuas salivas
Cantar tuas noites e dormir em teus dias, morrer em
tua vida
E viver em tua ausência o que sinto por ti e nada mais
Curvar-me em tua sombra e esconder-me da tua
imagem
Caçar teus sentidos e prender tuas angústias
E quero o que te for estranho, aprender tuas normas
E seguir teus padrões, fugir das tuas regras e roubar
teus sistemas
Saber de ti que tanto vive em mim
Quero e, por querer, quero o querer de te querer
O gostar de te amar, o amor de em ti gostar
Quero gostar desse amor e por esse amor amar
Amar pelo sentir, sentir o que amo, o amor em ti
Em ti pulsar o que sinto e sonho, o sonho pulsante
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
105
Que pulsa em mim e desabrocha em ti, que retornas
a mim
Pois o amor que sinto, o gostar, o sentir, o meu viver
Vivo, sinto, gosto por ti e me sinto melhor em mim
Como a sede que mato, a fome que sacio, o sono da
noite
É em mim o amor que sinto por ti, o prazer desse
gostar
A força do meu pensar, a pureza de te olhar em tua
total
Vida.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
106
SARAREGINA
SALVADOR/BA
JERUSALÉM
Cidade de Pedras
Marcada por Lutas travadas com Guerras
Cúpula Dourada
Ilumina a terra
De religiões diversas
Com caminhos de pura devoção
E histórias registradas nas areias
Recontadas a cada geração
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
107
SÉRGIOGUERRA
SALVADOR/BA
SAUDADE
No cheiro dormido em minhas mãos
Tento em vão recuperar o teu gozo,
E busco nas sobras, na mesa da cozinha,
Recuperar de ontem o perdido gosto.
Por todos os vãos sobram vazios,
Daquilo que fomos arrebatados,
Na sua saída de banho busco,
E retalhos dos sonhos esgotados.
O dia rompe estraçalhando madrugadas,
Recolho sobras e bolachas quebradas,
Ontem portadoras de patês na festa.
Bebo o frio café, amargo e forte,
Resto de ti e, por minha sorte,
Rio, de tudo teu é o que me resta.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
108
SÓIRACELESTINO
SÃOPAULO/SP
IMORTAL
O que dizer, que sem ti,
Faltam-me as palavras e o verso,
Que o sol há muito perdi,
Em treva e inverno imerso.
A frágil rosa que teu corpo adubou,
Só demonstra aquilo que tu és,
Cinzas e saudades do que passou,
Da explosão da vida o revés.
A mim resta apenas a dor,
O vazio que nada completa,
Por ter sido apartado do amor,
Pela morte que todo sonho deleta.
Se a ti cabe a eternidade,
A mim, efêmeros momentos,
Diante da veracidade,
Em meio há tantos tormentos.
De que apenas somos pó,
E a ele voltaremos,
Imortal mesmo só
O amor que devotemos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
109
SUELILOPO
SALVADOR/BA
QUERIA QUE SOUBESSES
Queria que soubesse que não esqueci você.
E até hoje você está no meu pensamento,
no meu coração,
na minha alma,
presente na minha vida.
Queria que soubesse que sofro todos os dias a grande
desilusão de ter perdido você um dia. Queria que
soubesse que espero a sua volta para que minha vida
volte a fazer sentido.
Queria que déssemos sequência a nossa historia
de amor,
pois não quero que nosso amor termine como algo
mal resolvido. Queria que soubesse que a melodia de
uma linda música simplifica na sua voz a dor que
sai do meu coração...
Queria que soubesse que no palco, com a arte teatral
que se manifesta em seus movimentos, suaviza o
meu sofrimento.
Queria que soubesse que a sua estreia é como o mar
que com suas ondas quebrando na praia soa melodia.
Queria que soubesse que você me encanta com tantas
semelhanças a Iemanjá soberana das águas!
Queria que soubesse que fico contido nesse olhar tão
profundo que me atrai em um mergulho de
devaneios...
Queria que soubesse que sua boca... Ah! A sua boca...
Comparo-a com o cálice apreciado pelo Rei
Salomão... Queria que soubesse que, quando com
seu amado você estava,
eu apreciava um bom vinho.
Queria que soubesse que assim são seus beijos, como
um bom vinho penetrando em minha boca embria-
gando o meu coração.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
110
SUZYKAMYLLA
PalmeiradosÍndios/AL
A BRISA
Nem aplausos,
Nem recompensa
Que ornem de orgulho
Meu efêmero ser.
Nem o abraço da partida,
Nem o beijo da chegada.
Sem lágrima ou sorriso;
Não tenho bagagem,
Apenas a estrada.
Não esperar é a minha espera.
Fez-me leve.
Faz brisa a minha vida.
Sorri agora a face antes pesada.
Sou dente-de-leão.
Sinto a brevidade do tempo.
Com um sopro; agora livre,
Acompanho o vento despedaçada.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
111
THAIZSMILE
SALVADOR/BA
LUA
Apaixonei-me por ti
Admirei tua silhueta cheia
E brilhante.
Vislumbrei a noite
De tão incandescente estava
Sucumbi aos desejos
De enamorar-me.
Emite a tua luz
No meu corpo
Na minha alma
E digas:
Estarei aqui
Mesmo com as mudanças
Das fases da Lua
A minha luz será intensa
E a ti contemplarei.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
112
TonyFonseca
cabofrio/rj
EU NÃO SABIA...
Eu não sabia que a amava tanto
Até que conheci o sofrimento
Da dor, da saudade, esse tormento
Razão da minha angústia e de meu pranto
Hoje, aqui, distante de seus planos
Sofrendo por sentir sua partida
Minha’alma só, largada, destruída
É triste, remoendo seus enganos
E na distância e no esquecimento
Deito, não durmo, e quando me levanto
Sua lembrança é só meu pensamento
Pedaços de você por todo o canto
Da alma cheia de arrependimento
Por não saber que lhe queria tanto...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
113
VALÉRIASÁGUERRA
Petrópolis/RJ
RESQUÍCIOS ATEMPORAIS...
O carro que passa é passado, ele agasalha o meu
tempo.
A onda do mar espuma o evento, que parece final.
O meu desafio vem dessa extrema trajetória que
não cessa...
Ela se refaz por milenares instantes, com seus tempos
desiguais.
Por entre nuances e saudades, a boneca de louça
se expreme...
E talvez em 1927, eu tenha assistido ao filme
Metropolis...
Afinal aquele pretérito já foi um futuro de alguém.
A porta e a janela de uma casa amarela existem
em algum lugar,
E de algum lugar viemos...trazendo a senda do
bem e do mal.
Ganhei o prêmio de teatro, a medalha poética, e vi a
fuga perpétua
Da morte ceifeira de entes caríssimos: Resquícios...
De rodopios fugazes, onde o vento me acalentou.
Atemporal sempre serei; os novos e velhos são
HORIZONTES...
E a evolução é um plano de Deus!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
114
VALÉRIAVALLE
Anápolis/GO
A LOBA
Eu sou a outra que mora dentro de você.
Costumo andar deslizando à meia-luz,
Vestida de vermelho sangue quente,
Na vida de um homem especial
Sempre convidativa a serventias e desejos.
Minhas madeixas têm todas as cores,
Me alojo nos corações ciganos e desatentos.
Moro no seu pensamento a todo o momento.
Durmo noitadas em carne nua e pele ardente e
Na minha companhia não há dias solitários.
Sei esperar como ninguém que você me ligue.
Sou paciente como ninguém para acolher as
suas palavras.
Sou kafkiana, metamorfoseio-me de sedução e aroma.
Sou nutrida de chuva de sonhos e de crepúsculos da
realidade.
Sou o semicerrar da pálpebra lânguida
Cheia de brilhos prateados que chegam em silêncio.
Sou terremoto afetivo no ópio do desejo.
Sou boca aberta...
Um pecado não mordê-la...
Macia, carnuda, molhada... Absinto...
Sou gosto ardente, impensável não senti-lo.
Não sou a primeira, não sou a noiva,
Sou a Loba uivando nos seus desejos.
Não anseio por beijos, quero mordidas.
Quero garras que arranhem o meu fogo.
Quero asfixiar todas as suas vontades, uma a uma...
Quero realizar todos os seus desejos, um por um...
Quero me esparramar no quarto do seu corpo
Sem nenhum pudor... Revirar... Confessar...
Não ouse existir sem mim.
Sou a outra, decifre-me ou devoro você.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
115
VALDECKALMEIDADEJESUA
SALVADOR/BA
ELE SÓ TINHA AMIGOS
HETEROSSEXUAI
e não sentia vergonha
de nenhum deles
um era ladrão
outro era bicheiro
um era falsário
o outro maconheiro
um traía a esposa
com o mundo inteiro
um era traficante
outro trambiqueiro
um burlava o Fisco
outro dono de puteiro
um traficava órgãos
outro corpo inteiro
um cobrava dízimo
outro fazia dinheiro
um, garoto de programa
outro baderneiro
um explorava puta
outro era cachaceiro
um era separado
outro era fofoqueiro
ele era amigo de todos
e todos eram falsos
com o amigo primeiro
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
116
VANESCAFERRIERA
SALVADOR/BA
BELA TARDE...
Ao entrar em uma sala perfumada
Deparei-me com um espelho
Refletia o oposto do meu ser
Do próprio eu
O eu masculino
Fiquei impressionada
Encantada
Ao vê tamanha semelhança
No modo de...
Agir
Pensar
Gostar
Desejar
Naquele exato momento
Sentimentos adormecidos
Afloraram pelo eu masculino
Sem esperar nada em troca
Vivo um dia após o outro
Mais feliz...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
117
VANINACRUZ
SALVADOR/BA
Passageiro de Avião
Por essas traves de concreto
Solitude, solidão
Passageiro de algum teto
Passageiro de avião
Essa rua que nunca deserta
Sempre passa um alguém por aqui
Com seus pés ligeiros,
Passageiros
Nem se lembra,
Deixou de sorrir
De onde vem
Pra onde vai
Qual seu preço
Qual seu endereço?
Remete-me à dor
ao elevador da dor...
Eu subo, corro, atravesso
Passarela de sons
Fingem que são angelicais
Só porque são normais,
os anormais...
Avisto as traves de concreto
Vejo a solitude, sinto a solidão
Passa o tempo porque tudo é passageiro
Passageiro de algum teto
Passageiro de avião.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
118
WILLYFONSECA
Teofilândia/BA
FILHO DE EROS
Faça ainda mais escrava dos meus desejos
do seu corpo quero sossego
me saciar em você
e tocá-la além do olhar
Fazê-la entrar em profundo transe
Rendendo-me a seu desfrute
quero ter você em mim
e me render um pouco mais aos seus sentidos
Quero sentir seus lábios a me tocar
cada vez mais
Me faz delirar
sentir seu corpo até me embriagar
ainda assim não matarei esta sede insana
filho de Eros
Deus do prazer
vem e me sacie com seu toque.
www.cogitoeditora.com
Transformar pensamentos em realidade
é o nosso compromisso.
Esta obra foi impressa em ofsete
sobre papel Pólen Soft 80 g/m2 na Empresa gráfica da bahia – egba
para a Cogito Editora em março de 2014.

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  • 4. C965 Mundo – Antologia Poética / Ivan de Almeida (organizador). – Salvador: Cogito, 2014. 128 p. ISBN: 978-85-63037-38-1 1. Literatura brasileira – poesia. 2. Antologia poética - Brasil. I. Almeida, Ivan. CDD: 869.91 CDU: 869.0(81)-1 Todos os direitos estão reservados. É proibido a reprodução total ou parcial deste trabalho, seja por meio eletrônico ou impresso, inclusive fotocópia sem prévia autorização e consentimento dos autores e da editora. Copyright © by: Autores Todos os direitos reservados Organização: Ivan de Almeida Imagem da Capa: Vintage letter written by ink feather – 40338193 Direito Autoral de Imagem – S-BELOV Usado sob licença da Shutterstock.com Revisão: Solange Fonsêca Projeto gráfico, editoração eletrônica e Capa: Ivan de Almeida Impressão e acabamento: Empresa Gráfica da Bahia – EGBA
  • 5. SUMÁRIO Apresentação Adolfo Stinziani – É noite Aidner Mendez – Confrade radiante Allan Call – Ainda tem flores Alamo Pimentel – Visão da avenida (sob protestos) Alexandre Brito – Quanto vale a vida Amélia Ramos Vieira de Carvalho – No tabuleiro de xadrez André Castro – Trégua Andreia Costa – Diário de um anjo Ana Moreira – Vazio Antonio Carlos Santos da Silva – A rede e o mar Antonio Picariello – Catedral sagrada Araildes Maia – A sensibilidade de um inocente Audelina Macieira – Chance Bohomila Araujo – Isadora duncan Carlos A.C liberal – Ódio & esperança – puta que pariu Carlos Conrado – Abraço do pai Cássio Jônatas – Rascunho Celeste Farias – Esquiando em versos Cecília de Paula – Com - (pu - ta - dor ) amor… Cilene Canda – Outro retrato Ciro Daniel Campos – Vermelho Cláudio Hermínio – Fuga Clara Maria Alves – Saudade Cymar Gaivota – Desapego Daniela Valadares – Lembranças brancas Durval Kraychete – Nó Elder Carlos dos Santos – Perséfone Ely Carvalho – Prazer Elton Lima – Poema a vácuo Eulâmpio Neto – Da loucura a paixão Fábio Haendel – Astronauta andarilho 09 11 12 13 15 16 18 19 20 21 22 23 25 26 28 29 31 32 33 34 36 37 38 39 40 41 42 43 45 46 47 48
  • 6. Fabrício Soares – Mensagem sem dor Fernanda Brandão Caymmi – Cíclico Amor Fernanda Carvalho Veiga – Se declare! Fernanda Mellvee – Insônia Geraldo Portela – Reverso Gibran Sousa – Sex shop show Giuseppe Ciliberto – Sopro Heloísa Lima – Autodefinição Isadora Sampaio – Escambo Ivone Alves Sol – Versos de mim Jailson Santos – O que me darás? Jairo Pinto – Mestranda Janaina Cruz – Coisas Jeane Sánchez – Canção de despedida João Esteves Alves – Cria-quieto José Eduardo – Do início ao sempre Josue Ramiro – S a n g r a m e n t o s Kaique Barros Moraes – A eternidade Laura Liberato – Lilás Leandro Flores – Foi e levou a poesia Luana Bispo – Retrato do eu pelo avesso Luciene Lima – Mendigo Lucrécia Rocha – Matizes Luiz Dantas – Bah ia Mônica Xavier – Exílio Manollo Ferreira – Morreu mais um alguém...!!! Marcelo Gferes – Poemas não morrem Maria das Graças Prates Maia – Poente Marianne Franca – Veneza Marilaine Guadalajara – Cor morena Mirele Longatti Sousa – Poeta em sonho Morgana Gazel – O aprendiz 49 50 51 52 53 55 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 71 72 73 75 77 79 80 81 83 84 85 86 88
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  • 11. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 11 ADOLFOSTINZIANI Larino/CBMolise–Itália É NOITE É noite, o ar deixa beijos na pele, as tílias cheiram como incenso nos altares sagrados, ergue-se uma oração, um murmúrio ou um grito. A estrela do dia vai brilhar novamente no dia seguinte, após a noite escura, ritual incomparável de outro dia que morre. O reino da noite começa, no jardim impenetrável das Hespérides são guardados os pomos de ouro, frutos eróticos e sensuais, dons preciosos da mãe terra para os deuses soberanos. E você busca a árvore preciosa, alma frágil: Você não é Júpiter, você quer ser o lindo Apollo esta noite? Talvez Orfeu? Retoma a sua ninfa infeliz, mas não olhe para trás. Talvez Hércules? Saqueia o belo jardim, aproveita dos frutos, saboreia o conhecimento dos segredos divinos esta noite. Tradução: Rosana Lapenna.
  • 12. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 12 AidnerMendez SALVADOR/BA CONFRADE RADIANTE Qual espectro, azul e florescente Num lampejo de aurora fulgurante Eis então este lorde triunfante De centelhas de amores gloriosos Sertanejos de galopes não ditosos Num versejo de alhures ruminado Cavalgando um martelo agalopado Sendo simples com seus olhos de brilhante Vira estrela meu confrade radiante! Nos mistérios deste céu todo estrelado. Sejas sempre moleque amalucado Com rompantes de ode declamada Seja pétala de sonho amalgamada E regalo de amores suntuosos Num repente de riachos caudalosos Seja pedra por Baco edificada. Sinto falta da letra rabiscada Um poema de lirismo qual infante Num remoto atual rápido instante Mais um brilho nesta noite estrelada. Verso lasso num compasso diamante Desmantelo de cenário e nevoeiro Sentimento de um rastro forasteiro E tristeza do vazio já dominante A presença me faz falta doravante Desde o olho cruzado então primeiro Tire este meu coração de tal aceiro Antes que a tristeza nossa então me mate. Temo que não me socorra amigo vate Caso eu precise do teu paradeiro.
  • 13. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 13 ALLANCALL SALVADOR/BA AINDA TEM FLORES O amor acabou-se... Esvaziou-se no seu ser... Deixou-se ir aos poucos pelo ralo da vida... Com isso... Os casais apaixonados se foram, Desapareceram... Terminaram os seus romances, os seus ligues, os seus casos, e... Foi como se diz no popular... Cada um pra seu lado... Mas... Ainda ficaram as flores... Para algum romântico comprar... Ainda estão lá... Esperando para serem dadas, Com suas cores marcantes, seus perfumes atuantes, seu jeito de ser... Simplesmente flor... Doidas para produzir o mais belo sorriso feminino..., masculino... O que for... Nisso, vou ao seu encontro e levo-lhe flores Essas que achei por bem comprar e dar a ela... Vermelhas, vermelhas, vermelhas E vejo feliz o resultado da minha ação Vejo-a sorrindo como uma criança, uma bela menina Paro no ar, surpreso com o seu olhar Perdido entre as flores, me dizendo: Flores...? Eu ganhei flores...? Pois é... Penso... Eis a semente do mais profundo querer E quem planta com carinho, colhe, muito ou o suficiente...
  • 14. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 14 Para sentir-se repleto de alegria, Uma assim, boa de sentir E me vem outro pensar que diz... Que bom que ainda tem flores... Que bom que ainda há um romântico na face do mundo Haverá outros...? Sim, certamente..., escondidos, loucos para dar uma flor de presente. Calados pelo mundo das agonias, do mecanismo absoluto, do consumismo absurdo... Perdidos pela não prÁtica do verdadeiro querer... Dominados pelo fiquei...! Ainda há flores no jardim, umas abertas, outras desabrochando Esperando a mão delicada do romântico para raptá-la, retirá-la Esperando a volta do amor verdadeiro..., puro Esse que somente nós, os que queremos e amamos, conhecemos.
  • 15. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 15 ALAMOPIMENTEL SALVADOR/BA VISÃO DA AVENIDA (SOB PROTESTOS) Não era um mar de gente como indica a efêmera voz do jornal Eram arquipélagos móveis Multidões de ilhas virtuais em fúria Eram criaturas evadidas das solidões urbanas Eram redes(cobertas) dos feitos de gritar Eram vozes humanas amontoadas a outras vozes (dos automóveis) Era o milagre do encontro O inominável corpo de fragmentos [e arranjos de vazios móveis Eram as pedras do futuro aprendendo a falar (em coro)
  • 16. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 16 ALEXANDREBRITO BELOHORIZONTE/MG QUANTO VALE A VIDA Na noite escura e suja, Sob marquises insensíveis, Figuras humanas distorcidas Tentam esconder a sua miséria. O grito de fome da esquálida criança É sufocado entre os seios murchos e ressequidos da mãe. Uma prostituta geme o seu prazer barato E o seu gemido fere os ouvidos da “classe alta”, Mas preenche o vazio que mora na alma rota Do homem que absorve a dose ofídica do falso amor. Um vulto ébrio emerge das sombras, cambaleante, Cantando a saudade de um amor que se perdeu no tempo. Um mendigo tenta se cobrir com um diminuto cober- tor Que não consegue aquecer o eterno frio que sente na alma. Luzes intermitentes sinalizam que bocas, ávidas De esperança, sugam com força o crack, a maconha... Uma arma interrompe a caminhada do operário Que ficou até mais tarde no trabalho, fazendo serão. Na porta do hospital, uma gestante pare uma pobre criança Que não vive mais que heroicos cinco minutos. A mãe tem mais sorte: consegue resistir à sua solitária hemorragia, Por alucinantes e eternos treze minutos.
  • 17. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 17 Um tapa... um grito... um tiro... a queda... O agonizante e inútil pedido de socorro! As janelas tapam os olhos e os ouvidos! Um som de oração quebra a inquietude da noite... Ah! São freiras rezando para que o mundo seja melhor. Movido pelo som da oração e pela força da tentação, Um homem se esgueira nas sombras, invade o convento E escolhe a freira mais bela, que – atônita! – clama por Deus... Seu grito extrapola as paredes e é levado pelo vento! Seu corpo profanado, ferido e ultrajado abriga Os olhos atônitos, descrentes, sem fé! Ruas desertas... dores incertas... chagas abertas... Sonhos inúteis... olhos insanos... perdas fúteis... A aurora se insinua e ilumina a miséria enrustida... Mas não consegue identificar o preço de uma vida!
  • 18. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 18 AMÉLIARAMOSVIEIRADECARVALHO LAURODEFREITAS/BA NO TABULEIRO DE XADREZ Velhas contendas, novas pendengas diárias refregas, renhidas as lidas entre mim e o eu. A vida não me apela, a morte nem sempre intimida. Fascínio é o devir, o outro apenas atropela. Penosos os lances entre mim e eu. Olho no olho, mente na mente não é xeque, não é mate as jogadas se sucedem na busca do vir a ser. Contendores a marchar lado a lado – meu eu e o eu – passamos a nos conhecer a cada embate de um novo combate até os limites entre mim e eu fincarmos. A partir do entendimento que agora nos alavanca a mim acolho na reverente aceitação do eu. Le roi est mort! Vive le roi!
  • 19. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 19 ANDRÉCASTRO SALVADOR/BA TRÉGUA Já me fartam meus suspiros furiosos Que rebentam nas areias da minha praia Minuto após minuto Como ondas dos meus mares revoltosos Já me bastam as paredes golpeadas Por minhas mãos desnudas, ensanguentadas E a ponta perfurante da adaga Que o pulsar dos meus medos me crava Uma bandeira branca tremula na minha varanda É o aceno suplicante que Meu penar abranda, e que resgata Desse meu degredo Arranco agora os santos vis do meu altar Ponho um rio no lugar do meu mar E peço trégua a mim mesmo em segredo
  • 20. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 20 ANDREIACOSTA ARACATI/CE DIÁRIO DE UM ANJO Sinto-me impotente, um verdadeiro nada, quando te vejo mal e não posso fazer nada. Dói muito em mim, quando te vejo sofrer, quando te vejo mal e não pos- so te abraçar e dizer que eu estou aqui. O mundo desaba sobre mim quando sinto que eu não posso fazer nada, quando dizes: “Agora não. Não estou pronta para ser feliz”... Meu maior desejo era poder proteger aqueles que amo das dores do mun- do. Queria poder te fazer sorrir desde o momento em que acordas até quando pegas no sono, depois de tanto chorar, no vazio da madrugada. Queria poder te provar o quão és perfeita, maravilhosa e incrível, pois és obra de Deus. Queria poder te mostrar o quanto é importante pra mim, o quanto eu te amo e o quanto eu preciso de ti aqui comigo, buscando a alegria de viver. Um anjo só retorna para o céu depois de cumprir sua missão. A minha é seres feliz. Por diversas vezes, pode não parecer, mas te ver mal, te ver triste me mata por dentro, me faz chorar e sentir um medo absurdo de perder-te. Ver-te por diversas vezes feliz, algo dentro de mim sorri junto. E não importa se eu estou longe, ou se finjo que não me importo, a verdade é que estou, sim, muito feliz, com uma boa sensação de vitória por tua conquista. Duvide de tudo, tudo mesmo, menos que eu não te abandonarei mesmo que me peças para te deixar, ficarei velando por ti a distância. Sou teu anjo, en- viado por Deus. Meu nome? Muitos me chamam de espírito de luz, mas o que gosto mesmo é quando me chamam de “AMIGO”.
  • 21. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 21 ANAMOREIRA SALVADOR/BA Vazio Esquece-me neste momento Deixa-me partir Desfaze o amor Que gerou, cresceu e nasceu em mim Deixa-me só lembranças, tolos pensamentos Mata em mim o amor que te dei ilusão Mentiras e dor Tu não soubestes regar o jardim E deixastes sucumbir o amor Por mais que ele viva aqui em mim Não existe mais amor
  • 22. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 22 ANTONIOCARLOSSANTOSDASILVA SALVADOR/BA A REDE E O MAR “Pescador” vem navegar que a onda do mar ensina Pega a rede , vem pra cá na vastidão de sua sina no ardil do seu pescar Paciência na investida segurança na saída é a lida deste seu sonhar O tempo manda , O vento comanda O marejo deste aventurar... Navega no avesso do lume enxerga longe, marinheiro olhar pesqueiro se atiça no cheiro do cardume Essa onda aonde leva? pra algo, imenso, perdido Venta forte, Agente tenta Neste vão desconhecido. Aventuras À procura longe irei meu destino sou menino e nada sei. O que aprendi, Investi, Ensinei. Trago saudades no peito me refaço com respeito todo dia, numa eterna alegria... É a rede que nos aproxima do mar Navegando é que se aproxima do amar
  • 23. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 23 ANTONIOPICARIELLO Larino/CBMolise–Itália CATEDRAL SAGRADA SUA NOVA ALMA tem CHEIRO DE FRESCO DA NOITE ESTRELADA. As pedras suam, a sentem próxima. Goteja líquida a matéria aqui onde a excitação da san- gue aumenta. ISSO É o cúmplice secreto do secreto, SOU A Catedral QUE desaprova O cheiro DE SEUS FILHOS. Eu sou a mãe que reconhece a química estendida do corpo do seu filho, amável mãe TRANCADA NA PROVETA OUVE, OUVE diz... tem gerado suas entranhas, reconhece o chamamento dos ecos gerais; ouve, diz, pertencem a ela. São células de pedra juntas. MEU corpo, carne DE mineral que começa a vibrar; seu corpo de mãe antiga oscila entre os espaços vazios, percebe a carga de sólidos, derreta o apoio e o aqueci- mento com a oração solitária do eremita fixo na mon- tanha que admira você. Mãe. Nossa catedral onde dormem, nem, em, m, OS pontos secretos do MEU CORPO. ME DIGA dos magos do deserto, ME DIGA DA neve ocidental. Neve na noite do deserto em presépios quentes do inverno. Doce Catedral solicitada por graus de calor, majestosa, imensa, se alguma vez eu tinha visto essa semente, se alguma vez eu vi emitir um grito do alto de suas agu- lhas espetadas no firmamento, seu GÓTICO bordado em sua imagem, se eu já vi sair e agora para depois entrar nas suas estranhas o Concerto dos homens mudos? Cidade que ainda farejas tudo: o cheiro das poeiras explosivas, fragmentos de paredes depõem na fuga do povo o hálito de pólvora. Recolhes sob o manto dila- tado em forma de compasso entre as estrelas Pentágo-
  • 24. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 24 nas AS vozes, OS espelhos, OS MORTOS que PRECI- SAM DE SEPULTURA. Nossa Cidade mãe, os densos temores ESTÃO AGORA AMACIADOS. Você é agora a cidade dos pais, acaba em uma sessão de fotos para a vitalidade das flores explodidas entre as varandas e as torres das fornalhas, doces FRAG- MENTOS de fábrica, trabalhadoras transmutadas em um cálice de sangue de ENTULHO E VIDROS SUAVE metalurgia sem PALAVRA Você é carne DE mineral que amas vibrar no sonho dos novos adoles- centes. É o choque e a oscilação que removem nas cé- lulas biológicas dos homens o amor da pedra sagrada do sangue antigo. Folheia o nosso vivo coração urbano entre as contrações e a diástole do amor sem fim, im ... m. Tradução: Rosana Lapenna.
  • 25. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 25 ARAILDESMAIA SALVADOR/BA A SENSIBILIDADE DE UM INOCENTE Quando a traição nos pega de surpresa sentimos um vazio tão grande dentro da gente que parece que estamos fora do chão! Nos tornamos frágeis e mais sensíveis e não conseguimos controlar a situação. As lágrimas rolam com emoção, os pensamentos giram numa só direção... É a vontade de encontrar uma saída diante da situação, que parece tão confusa e turbulenta que, por mais que a gente tente, não consegue de imediato promover a união. Somos inocentes, mas como comprovar a realidade da questão? Nos sentimos impotentes e bate uma tremenda depressão!
  • 26. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 26 AUDELINAMACIEIRA SALVADOR/BA CHANCE Ainda dá tempo de olhar para o fundo do poço e ver que a água secou E o mar não deu Peixe Olhem e vejam a carne seca do pobre professor valente Aluno foi, mergulhando no saber Olhem e vejam! Respeitem os cabelos brancos de seu José, humilde homem a gritar em um lamento Vejam! Homens, diante dos seus olhos Cristo apontando a salvação Agora, sem demora Não corram Não se escondam Não roam a corda como os ratos Vejam! Antes que a cortina se feche Antes que a luz apague Antes que a comida falte Antes que tudo se acabe Vejam! Há um sol brilhando sobre a cidade É hora de plantar e colher beleza de cuidar da natureza. Ainda dá tempo Parem o relógio Olhem para o tempo, A casa ainda não caiu O povo ainda não sumiu A estrada ainda está no seu
  • 27. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 27 lugar e segue seu rumo Homens! Andem, venham, saiam do deserto Entendam é hora de estender as mãos a um irmão e hora de ressuscitar o sonho e acordar o sonhador Vejam! A esperança brotou nos olhos que bailam no verde do seu vestido livre nasce uma força VIVA insistentemente a gritar uma chance para a vida!
  • 28. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 28 BOHOMILAARAUJO SALVADOR/BA ISADORA DUNCAN Isadora, dançarina e aventureira Defensora da mulher e da justiça Era vento e poesia Séculos de tradição Presente de inovação Espírito revolucionário Rebelde e bela Trouxe a arte milenar Dança da humanidade Exaltação e liberdade Alegrias e tragédias Quando dançou A Marcha Fúnebre de Chopin Todo mundo no teatro chorou Quando dançou A Lenda de São Francisco Todo mundo se conformou Quando dançou A Quarta Sonata de Scriabin Todo mundo se alegrou Isadora construiu pontes Do velho para o novo Achava-se uma Madona Subindo o Calvário dançando Em túnicas transparentes Descalça Isadora sofredora Formosa e brava Deixa a minha alma dançar contigo
  • 29. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 29 CARLOSA.CLIBERAL PORTO/PT ODIO & ESPERANÇA – PUTA QUE PARIU tomara que o relógio soltasse a espâdula do seu pêndulo e não desse mais voltas sequiosas de sacrifício nesta nobre lentidão do apagar dos fantasmas que perseguem o lar das infâmias e remidos de algôzes sabotadores da verdade e obstruinte da mentira e do ôcio tomara que o incenso afaste as lustrices e panágios deste lar, obsseco de uma leviandade imprudente e os afaste para longe das miseráveis sustrices das más banalidades e pegajenta maldades porporcionais ao dia de um nunca que não nasce de novo Ungentos perdidos dos chafarizes e rebentos infecta- dos das medicinas incrustas e venenos incuráveis tomara que a abolição dos seus fetos nesgos de empecilhos pestes carborem de lasciva morte tomara que as mazelas dos seus incubados lazeres se baleiam nas encruzadas das nefastas cadências do lugrume balazio do inerte tomara que a mescla insolubre dos seus pecaminosos e bombásticos encolham nas piramidais labaredas do terror tomara que as impávidas lanjuras dos insosos e cabazes lamentos sejam a pátula
  • 30. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 30 de obuses flajelos da permissidade esperança, do dito não dito, seja a minha unica aliança aquela em quem acredito, mas não digo, esperança, uma vã palavra do desdém, vinda não sei lá, do além, esperança,a quem faço um pedido a quem me desligo logo a seguir, esperança, do amanha, do nunca, tantas frases perdidas, tanto gasto para nada, ah sim, há quem acredite , naquilo, naquilo que nem os deuses acreditam, o mal de tudo, é acharmos uma imensidão, mesmo que vivamos com a esperança na solidão”, enquanto há vida há esperança”, uma esperança resignada, uma esperança alienada, esperança da vida, mas a esperança do nada” aliança do bem!
  • 31. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 31 CARLOSCONRADO BELOHORIZONTE/MG ABRAÇO DO PAI Errei por eras!... alimentei a dor. plantei a desgraça no mundo a raiz infame que me degenerou. Sendo eu a Humanidade, só me restava clamar... Lancei meus olhos aos ares fiquei rouco de tanto gritar. Implorei o perdão divino eu, que da minha carne fui assassino, cantei o hino da culpa, quis beber a cicuta mas Deus mostrava o rosto estampado nas águas do mar. Meu coração se fez sincero Ele que estava a me observar, trouxe os seus braços com o vento e atendendo ao meu lamento, com amor pôs-se a me abraçar.
  • 32. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 32 CÁSSIOJÔNATAS SALVADOR/BA RASCUNHO Escrevi à lápis nas páginas da vida Rabisquei no escuro meus traços espúrios Rasurei sem pena solitários muros Tentei passar a limpo meus versos sujos Mas os perdi de vista e os deixei ao vento: Reféns da borracha do tempo.
  • 33. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 33 CELESTEFARIAS BELOHORIZONTE/MG ESQUIANDO EM VERSOS Ah! Palavras... Quando sussurros de amor, são encantadas... Quando jogadas ao vento, são traçadas, Se há sentimentos, são lançadas. Ah! Palavras... Quando estão com o poeta, dispersam... Os mais misteriosos desejos e devaneios De um encanto abstrato, de fato! Ah! Palavras... Que transpiram minh’alma, a essência em poesia, Esquiando em versos, aventuras e confessos... Que no papel, já não são apenas palavras!
  • 34. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 34 CECÍLIADEPAULA SALVADOR/BA COM - (PU - TA - DOR ) AMOR… Entre-nós. Tão próximos, Embora distantes. Tem toque e retoque Na tela – janela virtual. No corpo – ciberespaço Métrico – (Atlético?) Corporal. Pegadas rarefeitas, frias. Num mundo sólido que se desfaz. Liquido qualquer que espalha E espelha por entre fibras óticas que Refletem o prazer do encontro. Dos corpos – dos poros. Carnal. Líquido encarnado de ti, (embora virtual) Prazer humano. Tele virtual. Pré. Pós. Contínuo. Real. Corpóreo. Virtual… Imaginários que se tocam Rompendo couraças imagéticas Corpos sólidos, distantes, se tocam. Couraça de sonhos em líquidos desejos Entrega enfumaçada pela distância dos corpos. Sólidos. Situados. Amantes. Rupturas do espaço em trocas estelares.
  • 35. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 35 Moléculas de chips se espalham Esfregam, respiram, suspiram Gemidos de ambos os lados Distantes. Embora se toquem, se sintam, penetrem. Na tela. E como nuvens, Por entre as estrelas Os corpos, distantes, Se espalham, se tocam, Perfuram O toque da brisa provoca arrepios; E longe, distantes, os corpos se aproximam Palavras aos sussurros são anunciadas Como sonetos – de amor. Enrolam-se os corpos, tão próximos Colados. Espalham amor. Num gozo alongado, sentido, suado. De múltiplos orgasmos. Registrados na tela Do computador (Com Amor...).
  • 36. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 36 CILENECANDA SALVADOR/BA OUTRO RETRATO Eu não tinha a doçura de hoje assim expressa em meu rosto nem estes olhos molhados de beleza nem nos lábios guardara canções de acalanto. Eu não tinha essas mãos tão delicadas tão disponíveis ao carinho, ao afago. eu não tinha esse coração que palpita de delicadezas. Meu rebento me trouxe essa mudança tão leve, tão doce, tão profunda: – em que espelho estava escondida esta minha face?
  • 37. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 37 CIRODANIELCAMPOS SALVADOR/BA VERMELHO O amor, arena secular do homem, Farra que enfeita a mesquinhez da vida. O amor, palavra pelo mundo inteiro dita, Mas em cuja língua as palavras somem. O amor, que só se ama quando se domina Como um boi rumina nossa natureza, Tem as vistas turvas e sangrenta sina, Não empresta ao outro a boca que se beija. Assim que um dia o próprio amor se veja, Sem saber-se homem nem tampouco fera A ferir com os mesmos cornos que assume, Vestirá a capa roja do ciúme, A julgar tão bela quanto um dia era Essa lança cega que nos mata e une.
  • 38. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 38 CLÁUDIOHERMÍNIO BELOHORIZONTE/MG FUGA Já não me importo Se vivo entre vários mundos. A vida é incerta E nos leva a caminhos Tortuosos. Aprendi bem cedo a navegar Pelos mares da alma. Ouço com atenção O marulho das águas Na tentativa de desvendá-las Mas elas sorrateiramente Correm pelas frestas das rochas Como quem foge dos encontros Marcados. Por um breve momento Algo me traz a superfície Como recordações que escrevo Em folhetins e atiro a esmo Nas gavetas da memória.
  • 39. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 39 CLARAMARIAALVES SALVADOR/BA SAUDADE Você jurou talvez voltar mas não voltou e eu continuei te esperando. Você jurou talvez me amar mas não me amou e eu continuei te amando. O tempo passou o tic-tac do relógio não parou e eu continuei te esperando.
  • 40. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 40 CYMARGAIVOTA SALVADOR/BA DESAPEGO É profundo por demais É vazio por inteiro O sentimento do apego No lampejo de um beijo Na força de uma paixão Na íntegra de um sentimento De um amor De uma proibição Foi o êxtase Foi o máximo Foi demais sua imaginação Num encontro proibido A permanência de uma forte Tão forte e incontrolável paixão Nela a essência do proibido Do fruto de um desejo De uma paixão Que proibida Não liberada Transformou-se na estrada De uma ilusão Uma angústia Um sufoco Uma dor É preciso o desapego do amor
  • 41. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 41 DANIELAVALADARES Petrópolis/RJ LEMBRANÇAS BRANCAS No decorrer do meu viver lembranças se tornaram cristais, se entranharam em delicadas flores criaram um perfume nostalgicamente mágico, que me remeteu a momentos inesquecíveis. Vivi, revivi a serenidade das lembranças doces amargas, se preciso fosse. Carreguei, em minhas mãos trêmulas a viola da vida, com ela compus canções melódicas arranjos harmoniosos dos amores saudosos. Guardo em uma caixa preta lembranças brancas que me envolveram me embalaram vivo cada instante cada minuto constante guardando recordações no futuro, doces lembranças se tornarão.
  • 42. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 42 DURVALKRAYCHETE SALVADOR/BA NÓ Entre um ponto e outro – um nó. A retenção asfixia para outro olhar. No nó o tom, o exagero A palavra de socorro A palavra do outro O outro na palavra O outro do real A metonímia e a metáfora. Entre nós a costura se adapta em tecido de água clara Tudo escorre e respira tranquilo O tom está nas correções das palavras e nas palavras codificadas Não há manchas entre nós Mas entre nós há palavras Sempre nos beirando Como um rio...
  • 43. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 43 ElderCarlosdosSantos SALVADOR/BA PERSÉFONE Sou a eterna adolescente A filha querida de minha mãe Mas sou também a grande rainha Senhora das sombras e do seu senhor Sou a pureza encarnada Aquela que encantou a todos os deuses Despertando paixão intensa E que, por isso, foi raptada Meu futuro foi determinado Pelo pedaço de uma romã E com ele o de todos os viventes Já que, assim, se originaram as estações Entre a superfície e o submundo Entre o que se vê e o irrevelado Faço uma eterna dança Grande ritual sagrado Vagando entre os mundos Numa transcendente espiral Oscilo entre realidades Entre a matéria e o espiritual Sou o início da tríade E também o seu final A lua crescente e a minguante O narciso que une vida e morte Reúno a luz e a sombra Você sabe o que quer dizer?
  • 44. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 44 São faces da mesma moeda Os homens devem entender Desço às profundezas E morro, tal qual a semente Para erguer-me renovada Com as flores da primavera
  • 45. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 45 ELYCARVALHO CANAVIEIRA/BA PRAZER Ah! O prazer que me faz cometer loucuras Chegar em você, olhar nos seus olhos – espelho dos meus sentimentos. Um simples toque Palpitação crescente Aconchegar-me a você, brincar com os seus lábios Excitante conduzir meu corpo Enroscar-me no seu Penetrar na sua pele Ter a sensação pungente do fazer amor, E num crescente redemoinho Beijar os seus lábios acariciar e me deslizar sobre a penugem clara quase finda sem fim Dessa estrutura escandalosa que é você. Ah! O prazer que me faz delirar Fazer loucuras, desejar você, Cometer diabruras. Ah! O prazer de inebriar-me no sangue quente Que queima em minhas entranhas no ardor da paixão do seu sexo contra o meu És potro! Sou égua! Esse prazer me escraviza, E no enlevo do êxtase que me toma No eterno gozo de ter você, De estar com você me envenena – E o pensamento voa nas asas de Morfeu!
  • 46. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 46 ELTONLIMA PalmeiradosÍndios/AL POEMA A VÁCUO A poesia em celofane já foi embalada em canção. Mas nomeada no congresso dos abutres e homens mediante plenária, Produto pra tolos, matéria ordinária, sofreu desvio de função. O lirismo embalado a vácuo nos vagões de trem, vaga em fibras ópticas ou a jato. Acorde menor tocado em lira elétrica, soprado por uma musa da Arcádia cibernética. Passa tão rápido, é sequer notado, em meio à enxurrada de embarques-desembarques. É enxotado. Tantas conexões e nenhuma ligação. Ofício do raro ócio, a cidade dele fez divórcio. Campestre bucólico ou pós-moderno, não ligam. Liga a televisão! O poema tão boicotado, pior que dólar mal cotado. Vive na bolsa, sem valor, um papelote amassado. O poema enlatado, mal digerido, requentado, enjeitado, regurgitado nos restaurantes gourmets. Deixou de ser ceia, de ser santo, sequer refeição. Não causa apetite, nenhuma reação. Está preso na cadeia e faço deste, desfeito em migalhas, apenas meu ganha pão. O poema não fede nem cheira. Repousa com os tomates de fim de feira. Mas pra um cão ou mendigo que ali passeiam ainda pode ser a salvação.
  • 47. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 47 EULÂMPIONETO JoãoPessoa/PB DA LOUCURA A PAIXÃO O que é a loucura Ante o devaneio da paixão Já fui tempo Já fui ódio Solidão Desci as escadas Nas profundezas do inferno Sem apegos ou corrimão O céu não me cabe Morto é aquele que não sente Os dentes do rato louco Corroendo o oco Expandido em fleimão Que queima e arde Já fui nada Hoje trânsfuga Para ser Ser Embalado na comichão Do devaneio à loucura Da loucura à paixão
  • 48. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 48 FÁBIOHAENDEL SALVADOR/BA ASTRONAUTA ANDARILHO Sou andarilho tenho rastros Sou astronauta tenho astros Sou andarilho tenho o trilho da rua Sou astronauta tenho o brilho da lua Alguns querem ofuscar o nosso brilho nos criar empecilho, mas não por que... Sou astronauta andarilho Tenho astros, rastros, rua, lua, trilhos, brilhos vastos Mesmo com os meus sapatos gastos pelo tempo devastados sou andarilho do asfalto nada me basta olho pro alto da lua alta sou astronauta que salta nada me faz falta vou a pé sou peralta
  • 49. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 49 FABRÍCIOSOARES SALVADOR/BA MENSAGEM SEM DOR Beijo esperado, Beijo cuspido Beijo amado Beijo sentido Uma voz suave de clara alegria Mão que move lenta Que me acalenta Massagem que acaricia Ouço cantar um passarinho Enquanto sinto calor Que parece mais carinho Um gesto simples de amor
  • 50. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 50 FERNANDABRANDÃOCAYMMI SALVADOR/BA CÍCLICO AMOR Faço amor Tudo no computador. mais amor. com amor há mais. por amor amais... Faço música. a dois. com letra. no quarto. com melodia. na cama. de dia. de noite.
  • 51. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 51 FERNANDACARVALHOVEIGA Camaçari/BA SE DECLARE! Às vezes escrevemos sonhos, Escrevemos poemas, cartas, Criamos cordéis, compomos canções, Viajamos em contos, em fantasias, Ao escrevermos uma suposta história de amor. Mas o medo toma conta, Nos impedindo de mostrar à pessoa amada, Então engavetamos, por anos... Até percebermos que a pessoa, Se tornou a melhor amiga, E cada vez fica mais difícil de se declarar... Mas na vida nada é impossível! Se ama, LUTE!. Se ama, SUPERE! Enfrente às barreiras! SE LIBERTE! LIBERTE SENTIMENTOS, SE DECLARE! NÃO importa como! Desde que seja de coração aberto! Desengavete, SE LIBERTE! Escreva livros, grave vídeos, SE DECLARE! NÃO importa o que pensarão! SE DECLARE! Se o acharem tolo...Se o criticarem... Se forem contra...SE DECLARE! Se disserem que o seu poema não tem métrica, Foge regras e não é um poema, SE DECLARE! Por que ouvir a sociedade? QUEBRE REGRAS! A verdadeira beleza, Não é aquela que vem da boca dos outros, É aquela que vem da boca do seu coração!
  • 52. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 52 FERNANDAMELLVEE PORTOALEGRE/RS INSÔNIA Noites passadas em claro, em branco. Tão vagas, tão tristes, saudosas de encanto. Momento tão puro, lavado em pranto. Tantas lágrimas no escuro, dolorosas, no entanto. Não se ouve, se sente. Nestas noites confusas só a insônia intrusa nos fala e não mente. Noite que cai e se arrasta força que vai e arrasa com a alma antes amena que não é, e não mais será plena. Alma que se esvai aos pedaços pela manhã, à mercê dos percalços no teatro da vida que o corpo encena.
  • 53. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 53 GERALDOPORTELA SALVADOR/BA REVERSO quem é aquela mulher que chega na segunda vigília senta-se na última mesa de onde se avista o cais no cais os barcos lembranças ancoradas no silêncio dos sonhos quem é aquela mulher misteriosa talvez louca que mora n’água-furtada a escada sinuosa leva ao abismo estrelado ponte que cruza sem pressa evocando aurora e ocaso na trajetória de um tempo sem réplica quem é aquela mulher quem sabe poeta tem uma máquina de escrever um gramofone um celular um gato de porcelana um relógio de parede sem tempo para medir ouve liszt tchaikovsky mahler lê verlaine rimbaud baudelaire e purga feridas relembradas
  • 54. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 54 como histórias de roda que tocam na memória fragmentada quem é aquela mulher misteriosa poeta louca...
  • 55. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 55 GIBRANSOUSA SALVADOR/BA SEX SHOP SHOW sandras simones sheilas suzanas sílvios soprando sonoros sustenidos silvos suspiram surdas sinfonias servis sob suvenirs sob suecos sob saraus sob sífilis sob sites sob $im salivando sentando sumindo sugando surgindo supondo subindo sangrando sambando saudando ser sem sul sem sutiã sem sempre swing silepse serpente síncope sã silente ser -mão: sob sol suspenso: sobre sub- missas santidades sodomizadas sem sal sem salmo sem salmão só senão sorrindo suando satisfazendo saciando sujos sádicos secretos sinceros sujeitos “suicidas sêmen suspeitos” sem s sem se sem ser
  • 56. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 56 sem sem sem sede sem sentir sequestram-se subornam-se senzalam-se simulando superlativos sustentam seus sonhos: servindo sua sugestão seu sexo seus seios sua solidão
  • 57. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 57 GIUSEPPECILIBERTO Olbia/TempioSardegna–Itália SOPRO Ela engana como as pétalas de uma flor Ela sabe onde ela está escondendo a razão No chão em posição fetal tropeça nos nomes Brinca com as imagens mas sem a luz de velas Além do vidros da janela chuva O som do céu apenas toca ela Frio intenso na costas Pesquisa novamente a resposta A escreve na pele a grita sem voz Algo de mais forte Fecha as pálpebras do coração Um pendente rola na pista E deixa no ar apenas um sopro enferrujado Tradução: Rosana Lapenna.
  • 58. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 58 HELOÍSALIMA SALVADOR/BA AUTODEFINIÇÃO Se sou arco-íris que me pintem todas as cores Se sou tinta que eu contenha todos os pigmentos Se sou luz que se dissipem em mim todos os espectros. Se sou alma que me venham todos os sentimentos Se sou chama que me queimem todos os ardores Se sou fogo que se incendeiem todas as labaredas . Que se espalhem em mim todos os azuis das primaveras E os vermelhos dos morangos E dos meus lábios que se derretam os amarelos do teu mel. E se sou mar que mergulhem em mim todos os verdes E borbulhem todos os brancos das espumas Se sou pincel que me guie a fúria de todos os maremotos.
  • 59. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 59 ISADORASAMPAIO SALVADOR/BA ESCAMBO O tempo, o vento e as tempestades O velho e o novo numa antiga cidade Suntuosa arquitetura que vigas escoram O luxo e a decadência que os homens exploram Centros Antigos ou Históricos Que se esvaem com a força do tempo Terrenos de engorda! Descaso criminoso! Invasões clandestinas! Omissas! Sabidas! Em que escombros dilaceram-amputam vidas! Elevadores modernos! Planos antigos... Escadarias de pedras, ornadas de limo! Se ao longe se vê igrejas, ruas e palácios centenários De perto se percebe: o descaso, o abandono, o estrago. Estátuas e monumentos colossais Cobertos por dejetos alados Servindo-lhes de abrigo – repasto infindo... Aludindo à história – amiúde esquecido! Quem dera tudo volver... Volveria os escombros do que os olhos podem ver. Cujos cinzéis e bisturis, arquétipos restauradores Dão à morte vida e à vida cores.
  • 60. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 60 IVONEALVESSOL PETRÓPOLIS/RJ VERSOS DE MIM Hoje eu teço versos de mim Com fios do sim que não dei Pondo o talvez depois do fim Tecendo assim o que não sei Não sei fazer linha com régua A métrica não traça destinos Importam-me instintos e setas Faço às cegas, meu caminho Se eu tiver que pousar no chão Que seja em porção de vento Nos contratempos da estação Onde paira meu pensamento Deixo aos pés minhas diretrizes Não tem raízes se não tem solo Não protocolo minhas origens Mas busco nelas meu repertório
  • 61. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 61 JAILSONSANTOS SALVADOR/BA O QUE ME DARÁS? O que me darás em troca da dor? Amor E quando morrer de saudade? Amizade E para os meus eternos caprichos? Bichos Estou sendo arrastado por uns guinchos Que me eleva as grandes alturas Dar-me-ás amor e loucura? Ou amor, amizade e bichos? Com que apagarás minhas mágoas? Águas E para aniquilar o gosto? Desgosto E para nos marcar as vidas? Feridas Tão notáveis que cicatrizam Sobre atitudes amarguradas Risos, risadas e gargalhadas Águas, desgosto, feridas O que me darás para fechar os cortes? Sorte E como desculpas pelo que proferi? Ferir E para que eu venha nascer? Doer Eu sou um “cego” que vê O desabrochar de uma flor A virgem manhã em esplendor Sorte, ferir, doer. Virás para mim agora? Senhora Com que quebras a castidade? Infidelidade O que me darás em troca deste enredo? Medo Conta-me agora o teu segredo E entregue-me o seu eterno corpo Ainda que vivo ou morto Senhora, infidelidade, medo.
  • 62. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 62 JAIROPINTO SALVADOR/BA MESTRANDA Para Iramaia Gostaria de escrever tua dissertação Para estar mais próximo de ti Mas teu mestrado é solidão Mesmo que, por perto, eu te faça rir Minha lira talvez furte tua atenção Mas, sou poeta, minha preta E esta é minha sina Te escreverei ainda assim alguma rima Um poema que não roube tanto a cena Enquanto dissertas, eu verso Concentrada em tua metodologia, Desenhas teu objeto a cada fichamento Enquanto eu, desejando nossa empiria, Rascunho palavras de acalento, Sussurros prenhes de malícias E de amor, nosso alimento... Sentada ali sozinha, mestranda, Te vejo tão minha Que até aprendi a esperar Por nossas trocas de carícias, De delícias, de travessuras E outros pedaços de felicidade...
  • 63. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 63 JANAINACRUZ JUAZEIRODONORTE/CE COISAS ETÉREAS Meus seios em tuas mãos ávidas Tudo em ti ereto Silêncio nos lábios Gritos na alma Dia circunspecto... E eu ainda sem saber falar de amor, Falo dos bichos de revolvem a carcaça, Do meu sexo úmido, tão espontâneo a tua quilha. Os bichos morrem no pasto de capim moço Aves de rapina dão voltas e voltas no céu Enquanto ergo-me a braçadas de teus mares Movo-me em teu sal comovente... Meu ventre mastigando teus gametas... Eu não sei falar sobre o amor, eu sei fazer amor, De combinar e conjugar nossos corpos Ser a tatuagem em tua pele, a vulva e os licores. Sou eu a ruidosa amante, a que te faz delirante A lamber-te as feridas... Abrace-me com força amor, Amplie as tuas dimensões, teus hábitos loucos Em meu sorriso rouco Eco Eco Um eco de lobos Dia circunspecto Membros despertos Seios salivas e coisas etéreas
  • 64. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 64 JeaneSánchez SALVADOR/BA CANÇÃO DE DESPEDIDA O rio no meio do mar secou. Nasceu um lírio branco n’água A lembrança, agora, se eternizou Sem deixar na terra uma só mágoa O poeta voou leve como uma garça Livre e faceiro em sonho real Deixou apenas um forte traço Tão marcante quanto gosto do sal Hoje a água do mar para Pra embalar uma canção Da perdida aurora fria Dizendo os sonhos que passam No dia da despedida: A minha alma vazia.
  • 65. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 65 JOÃOESTEVESALVES RiodeJaneiro/rj CRIA-QUIETO O tempo dos versos ouvidos por todos ficou no passado, bem longe pra trás não se tem mais tempo, nos dias de hoje pra meros versejos. Quase tanto faz poder escrevê-los ou não, que leitores e ouvintes atentos já não se tem mais no entanto, escrevê-los confere a alegria que venho incluindo no meu dia-a-dia. Labor invisível, labor taciturno buscando expressar-me talvez pra ninguém trabalho escondido, trabalho noturno o que re-aliso sem demanda e sem nem sequer saber se ele irá, por seu turno ser apreciado de fato, porém não tenho requintes nenhuns no momento nem necessidade de refinamento. Poetas inanes, sem carro do ano nem estro, nem verve ou dinheiro no banco entraram solenes de vez pelo cano; meu caso não foge, no verso aqui manco da regra geral que põe fora do plano das prioridades prementes da vida qualquer pretensão de a poesia ser lida. Só tenho a dizer que me empenho, teimoso, no afã de fazer o que tanto me apraz: usar, bem atento, bem criterioso, cada ingrediente que, inerte, aqui jaz. Ser quieto poeta de pouco comer
  • 66. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 66 JOSÉEDUARDO RIODEJANEIRO/RJ DO INÍCIO AO SEMPRE Sempre pensei em deixar o amor para os poetas, Nunca pensei que existisse um amor para mim, O sentimento em mim batia na hora incerta, Até a noite que lhe descobri. E assim lhe vi pela primeira vez, Meu coração bateu descompassado, Algo se transformou em minha alma, Algo que nunca fora imaginado. Seus olhos azuis cor do céu e do mar, Seu sorriso brilhante como as estrelas, Tudo em mim mudou ao lhe encontrar, Tudo que é seu corre em minhas veias. Vanessa você sempre foi o meu futuro, Eu serei só seu até morrer, Nada é tão completo nesse mundo, Nada eu serei sem ter você. Nosso amor vai muito além da vida, Cada traço seu é perfeição, Seu olhar é plena luz do dia, Sua ausência em mim é solidão.
  • 67. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 67 JOSUERAMIRO SALVADOR/BA S A N G R A M E N T O S O templo é viagem que sangra O sangue que sangra do templo Nunca o templo... estancará! Os templos estão a sangrar! O tempo cura feridas Nascidas Renhidas Em idas e vindas Que o templo jamais curará Os templos estão a sangrar. Não é o templo quem vence o tempo Não é o templo quem sara feridas Nos tempos do hoje Os templos se irão E todas as dores, amores, temores São sangramentos que os tempos E nunca os templos Estancarão!
  • 68. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 68 KAIQUEBARROSMORAES SÃOPAULO/SP A ETERNIDADE Queria ter a marca da eternidade do universo que é tão esplendoroso que tudo... queria ter a marca da nossa amizade que tão verdadeira e tão pura... Queria ser santo para nunca mais correr o risco de te perder... a nossa amizade que é tão forte, tão feroz e verdadeira não se pode deixar se perder na escuridão das angústias... a nossa amizade que é a aliança de compromisso que tem entre nossos corações... é o laço de amor que nos laçou para nunca mais deslaçar... o deslaço pode descomprometer o nosso compromisso... queria ser perfeito a ponto de nunca te perder na escuridão da solene solidão... te amo amiga.
  • 69. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 69 LAURALiberato SALVADOR/BA LILÁS Luz do dia, brilha o sol e ainda és neblina. Brumas e fumaças ao teu redor dançam. Fusão de luz e sombra por entre minha retina, do efêmero ao indelével que teus olhos lançam. Misturam-se em ti a perversão e o sublime, numa louca poesia que nunca se finda; A mim tua boca acusa, a mim teu corpo redime, numa sutil percepção que sempre me deslinda. Tua mente é labirinto, quase insondável; Paradoxo Minotauro com mãos de veludo, busquei-te por milênios de forma incansável. E agora o tendo novamente em meu destino, muito embora homem pertencente ao tudo, em meus braços, meu amor, és só um menino.
  • 70. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 70 LEANDROFLORES BELOHORIZONTE/MG FOI E LEVOU A POESIA Pulou duas linhas, Tropeçou nas palavras, Soltou o verbo, E se perdeu nas entrelinhas Em silêncio, Descosturou tudo... Letra por letra, Verso por verso Nenhuma palavra proferida! Com a agulha na mão Fiquei a observar, entretido... Quando não mais havia história, Só páginas em branco O livro foi entendido.
  • 71. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 71 LUANABISPO JoãoPessoa/PB RETRATO DO EU PELO AVESSO O verso que me era prosa Para poesia deu a vez Levou a estrofe embora E dissertativo me fez A linguagem de estripulia Que assalta o coração Faz canção virar cordel Lirismo se tornar narração Levei o amor na viola Colori as notas de anil Casei a letra nas cordas Reparti a paixão em mil Sonata virou soneto Caetano virou Gil Cazuza rezou o terço Jobim me invadiu Trocaram bossa pelo samba Quase ninguém ouviu O amor cegou a moça A paixão causou arrepio O avesso destas coisas Leva tudo a desandar Bagunça minha razão Faz o coração acelerar Se era para ser poesia Virou letras a saltitar No impulso desta rima
  • 72. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 72 O AMOR me faz falar Por isso não se esqueça do verso Nem da rosa que caiu Leve para casa o tinteiro Escreva tudo que sentiu Da palavra faça a frase Aninhe ela no lugar Escute o peito batendo E não pare de narrar O sentimento que desperta Hora tem o seu lugar Quando invade, assola Por favor, deixe ficar. Qualquer sintoma de saudade Estufe o peito de emoção O carinho que se invade Faz esta carta, prosa, poesia e canção. Se não escrever o que sente Respire e consiga falar Só não deixe passar a palavra Que é nicho sagrado deste lugar.
  • 73. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 73 LUCIENELIMA SALVADOR/BA MENDIGO E assim vai... Como um mendigo. Que sem rumo e sem morada, tendo a lua, sua namorada, se embriaga de amor. E perambula entre as calçadas desertas da noite e cai na sarjeta. Como um bêbado, anda mendigando um pouco de amor, um pouco de carinho, em troca, uma dor. E sem amor, amador da noite, ébrio da solidão, cai na madrugada e se embriaga de paixão. Bebe a noite e se esquece da sua amada, esta tão sonhada, cuja dor é a razão. Desespero seu, lúcida embriaguez num convite à per- dição. E assim vai... Como um vagabundo recita o seu nome: vagando em versos, tropeçando em frases. Ruas desertas, becos, lugares num recital de amor. E assim vai... Sem coragem. Como um covarde se rendeu ao amor. Círculo vicioso, escravizador. Vês? Já não tens coragem, em um covarde te tornastes. Em trapo foi o que te tornou este amor. Vai... Esquece desta dor, nega este amor!
  • 74. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 74 Quem um dia no teu riso se fartou, hoje, ao te ver em tamanha dor, teu amor te negou. Pois já não se importa com essa dor. Quem dizia te amar, a ti próprio enganou. E em mendigo te tornou e mendigo serás. Um mendigo do amor.
  • 75. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 75 LUCRÉCIAROCHA SALVADOR/BA MATIZES Estava a maré distante ... que vazia deixava à vista, áreas habitadas por uma imensidão rochosa. O mar chegava, beijava as pedras e elas, dengosamente, retribuíam. Senti inveja delas! Areia e mar beijando-se no vai e vem das ondas. Areia, mar e pedras formavam um carinhoso trio de afagos que o vento, formando o quarteto, acarinhava e sussurrava generosas palavras,confidências, melodias. Dancei no hit da nossa canção Copacabana, Copacabana... Deixamos o tempo passar E o nosso amor no ar, A nos afastar. E assim nos perdemos, Como um barco num mar Sem remos, sem horizonte à deriva do amar. Copacabana, Copacabana... Essa é a nossa música Que ficou no ar, sem sintonia e sem o final ... O pôr do sol lindo, Mágico e intenso Tentou nos aproximar.
  • 76. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 76 À distância, senti seu calor Nas atitudes fingidas, senti a sua saudade escondida, Olhei para o céu, procurei Nas desenhadas larvas de fogo, bordadas em ouro, as nossas vidas sem Nós; Havia imagens distantes, nas nuvens, que por alguns instantes, juntavam-se Formando um nacarado insólito desenho. As desordenadas, confusas e melífluas imagens, moldadas entre sombras e reflexos, despertaram-me o desejo de pintar um quadro a dois. 76
  • 77. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 77 LUIZDANTAS SALVADOR/BA Bah ia O mesmo bah que um dia me embriaga de alegria, me faz sentir na pele, a diáspora dos últimos 6 dias. Quando se vê mães no afago, sem querer ver suas sobras partindo-se por aí... Fortes e sem prantos apenas nos lavam a alma deixando rolar e cair uma só lágrima que escorre até a praia do encanto. E assim é Salvador sem se ter um Salvaon, que se salve desse único equívoco do sétimo dia. Bah!!! Bah ia Bahia. Baía de Todos-os-Santos sem deus. Porque o que realmente ilumina, nunca se sentou para descansar nas sombras das praças ou dos terreiros da Terra que nunca ia. Bah!!! assim é, assim ia ser um ponto da jornada do mundo. Portanto, Bahia nunca ia e nunca foi concebida. Só cria do mundo. Ela, a baía, se fez encher das gotas do suor das Bah de Salvaon. daí, a baía de sal e dor (Salvador) se fez verbo e quem não gostou transformou o lugar. Hoje o paraíso do inferno está cheio de infernos de juízos. E o inferno do paraíso nem Salvaon quer retornar por lá. Apenas canta: Bah ia Bahia terra de ilusão. Terra onde o céu, já se fez chão. Onde agora, o pós é vil. Onde as perdas se ganham. Terra de um mar tamanho. Terra de um lar estranho. 77
  • 78. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 78 Terra que até mesmo o próprio deus diria: “ao deus dará”. Terra sem mães e que se multiplica. Quem sabe um dia Deus, na sua infinita escala ou desvio de rota da jornada, possa aportar por aqui de novo, para relembrar não só aquele de um dos 7, mas um dos 70 x 7 dias.
  • 79. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 79 MÔNICAXAVIER RiodeJaneiro/rj EXÍLIO M’esilo entorpecida na lembrança Imersa no silencio turbulento Deste imenso vazio absorvente Onde a escuridão do verbo empalidecido Machuca o sonho com seus espinhos Murchando pela barbárie da dor Qu’escorre feito lodo Por minhas fronteiras... E me arrisco no risco Que se abriga no abismo Pernoitando nos escaninhos D’onde transpasso punhais d’abismo Mergulhados em trincheiras Recortando todos os espaços Que s’encontram em meu caminho Sem digital ou lastro.
  • 80. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 80 MANOLLOFERREIRA JUAZEIRO/BA MORREU MAIS UM ALGUÉM...!!! Mais um alguém morreu...!!! ...Talvez confundido... Talvez inocente... Talvez culpado... Talvez... Talvez... Talvez ! Morreu mais um alguém sem oportunidade de defesa, de explicação, de julgamento, de perdão! Morreu mais um alguém por uma incontestável condenação, por uma irremissível punição! Morreu mais um alguém talvez sem saber por quê... Morreu mais um alguém talvez sem saber por que ... Por que morreu...! ...Alguém filho, irmão, amigo... Alguém pai... Mãe... Alguém pessoa, alguém humano, alguém ser... Alguém! Alguém! Alguém! ...Morte talvez sem culpados... Morte talvez sem culpas... De quem morreu talvez. ...Alguém morreu... Alguém com nome e sobrenome... Alguém com família morreu... Morreu mais um alguém! Mais um alguém morreu!!!
  • 81. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 81 MARCELOGFERES RiodeJaneiro/rj POEMAS NÃO MORREM Fazer poesia como disposição de última vontade, como repetido, último e inútil esforço de todo dia, Tomar disposição nova ainda ouvindo as músicas de sempre – Pobre coitado, poeta, segue, sem outras melhores disposições de vontade, Repetindo, a cada momento, o tormento do peso a ele sempre destinado – Arrastar-se, pesado, tentando voar sem as asas da real liberdade – Da imensidão, jogado do vazio, ainda não nascido, nestas terras distantes, Na imensidão de uma totalidade, que de novo tanto tenta Tornar-se pacificado, em novo outro vazio, novamen- te. Mas, ao ser consciente, é apenas destinado a sentir-se repleto e eterno, Enquanto há sempre dias que, ao infindo, se repetem – Ah! Poetas! Todos, tornados atormentados, condenados a voar sentados, Mesmo se batendo asas apenas em palavras, Cabisbaixas, Cansadas, Absortas, Terminadas, Em silêncio – De pássaro aprisionado, e ferido – Poeta e pássaro, qual conseguirá fugir de si mesmo, primeiro? Voar e cantar são seus mesmos ofícios, prementes. O pássaro não pode cantar feio, mesmo sofrendo,
  • 82. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 82 O poeta escreve aos moldes de seu sofrido encantamento. Mas beleza nunca traduz sofrimentos – e voam ambos, parecendo satisfeitos – O pássaro sofrendo, canta sempre, O poeta morre em seu forçado e esforçado silêncio. Somos deuses em nossos mundos e somos infindos, Morremos em espaços e em tempos, Jamais em nossas mentes. Palavras e poemas são asas aos ventos, Poesias são músicas e somos melodias, Verdades são apenas histórias que contamos, Os testemunhos são os nossos testamentos, Somos seres ainda pequenos, aqui dentro – Voamos livres! E sempre ainda sobreviventes – Poesias! Poemas! – Jamais morremos.
  • 83. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 83 MARIADASGRAÇASPRATESMAIA SALVADOR/BA POENTE De um lado só; Duas maravilhas, Poente, o sol Acima, a lua Pôr do sol; Matizes, azul turquesa Nuvens luminosas, em mutação, Chega o anoitecer O céu aproxima-se do mar Anuncia-se o luar Ilha ponte divisória História, visão? Tudo isto de um lado só?
  • 84. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 84 MARIANNEFRANCA BRASÍLIA/DF VENEZA quem sabe possa algum dia renascer na città dell`amore abrir os olhos para a vida nessa cidade intangível no berço de uma casa térrea próxima à coluna do leão de ouro com os barcos jogando as ondas na minha janela viver a magia da água o espelho natural reflete a imagem apaixonada desse paraíso perdido me achar me perder nos labirintos, vielas, sottoporteghi, campi, nessa cidade de sonho santos, querubins, janelas góticas ou mouriscas, galerias de palácios, à sombra sonora de Vivaldi depois quando o mundo abdicar de mim e eu viver à beira dos dias quando a luz tremer nos meus olhos deixarei a beleza um gondoleiro me conduzirá diáfana à isola numa gôndola muda e escura sobre mim, um pôr de sol radioso
  • 85. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 85 MARILAINEGUADALAJARA OSASCO/SP COR MORENA Amo a minha cor morena, Cor retrato da paixão, Cor da terra que sacia, Cor origem da nação. Amo a minha cor morena, Que escorre, desce e corre Das chapadas ao sertão Cor amor dos sedutores, Cor das massas multicores, Cor plebe real nas ruas, Cor ternura multidão. Amo ter esta cor morena, Cor amena incendiada, Cor serena morenice, Cor meiguice, cor sagaz. Amo ser morena Ter na pele a minha história Nas misturas, ter a paz.
  • 86. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 86 MireleLongattiSousa SãoJoãodel-Rei/mg POETA EM SONHO Ser diferente é ser poeta. Ser poeta é ter sede de nada, é condensar o mundo em um só grito. É ter o mar como soma de suas lágrimas e o calor do sol como chama de sua vida. Ser poeta é sonhar. Sonhar que das cinzas surjam rosas, que o eco dos passos dos que caminham pelas ruas seja mais que sua derradeira rotina. A qual enfrentamos a favor dos sonhos. Sonhos altos cada vez mais altos. Sonho... Sonho com grandes versos inúmeros legados e obras. Sonho com publicações, em lançar flores ao vento deixar um pedaço meu em cada ser. Sonho com uma suntuosa lápide em versos. Sonho em não ser sombra, mais uma sombra em meio às sombras. Sonho com a fumaça que escapa de minha boca e dedos. Sonho, como Apolo, a desfolhar as mais belas flores. Sonho com o êxtase impudor da juventude. Sonho com a boemia, a vagabundagem e a poesia.
  • 87. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 87 Sonho com o riso vindo da boca fria, com o luar ouvindo minh’alma. Sonho em ser miragem, ser estátua, ser coisa, ou coisa alguma. Sonho... Com enigmáticos jardins que me inspirem. Sonho em ver as lágrimas brotarem de dentro da alma. Sonho em esquecer para lembrar novamente. Sonho em viver e embebedar-me de nuvens e flocos de neve. Sonho porque adquiri o deslumbre de um poeta solitário. Porque me edifiquei sonhadora. Porque ando atrás de mim sem me largar. Porque sou demasiado humano. Sonho porque sonho em ser poeta. Porque vivo de poesia.
  • 88. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 88 MORGANAGAZEL SALVADOR/BA O APRENDIZ Dores viróticas, bacterianas, de células atípicas te antecipam a morte. O que diz isto de mim? A sabedoria se insinua em ti se perguntas. Dores de vaidade inveja, intolerância de enganosa arrogância gritam em tua interioridade. O que diz isto de mim? A sabedoria se insinua em ti se perguntas. Da falta de ética da crua maldade da fria indiferença nascem tuas dores mestras O que diz isto de mim? A sabedoria se insinua em ti se perguntas. Dores em versos, de tua necessidade de amor o lenitivo do vazio interior. Dores poéticas de equivocados. O que diz isto de mim? A sabedoria se insinua em ti se perguntas.
  • 89. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 89 Dores benditas se choras a dor do mundo, do seu igual, da flor ou do animal. Grãos da dor de um sábio mestre conseguiste semear em ti. O que diz isto de mim? Já não perguntas.
  • 90. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 90 NÁDIAVENTTURA SALVADOR/BA MEU SONHO DE VIDA Tinha sede Muita sede Tinha sede De teus lábios E como náufrago te sorvi Para alcançar a imortalidade Naveguei por tua língua Qual uma nau bem-vinda E embriaguei-me como louca No abismo da tua boca Mas na luxúria ansiosa do teu beijo Me perdi na eternidade dos segundos Oriundos deste beijo desvairado
  • 91. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 91 NANÁMOREIRA SALVADOR/BA À PRESTAÇÃO Sonhos, risos, momentos Feitos filas de anseios. São altos, soltos e leves Como os dias de outono. Batem firmes nas horas de espanto No tempo presente, nos encontros da noite E lembram-nos do dia marcado São vidas que se desenrolam Sem a qualidade das flores Vencidas tornam-se vivas Mortas, renovam os desejos.
  • 92. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 92 NOÊMIADUQUE RIODEJANEIRO/RJ BUNDALIZAÇÃO Ora, chega de falácia Que esse papo é mais insosso Do que fila de farmácia Tire a bunda, deixe a bunda Vamos dançar a levada Nos salões ou nas quebradas Classe baixa ou elevada Não importando a demanda Segue o baile, o som comanda Como os câmbios que balançam E as ações que nunca estancam Pois se a bunda tá na praça Tanto sobe, quanto abaixa Até o chão, chão, chão! Ora, ora, pois se não! Se os Senhores Doutores Querem a turba ignara Não permitindo que o vate Mostre a cara na vidraça Tire a bunda da disputa¹ Deixe a bunda, não discuta² Bunda nossa, que nos valha Ora, ora, minha gente Vós que sois brasileiros Batam no peito com orgulho Seja aqui ou no estrangeiro Bunda, mostre a sua cara
  • 93. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 93 E se afirme ao mundo inteiro E “já podeis da pátria, filhos” Afirmar com emoção Que a bunda é da massa E quem vai dizer que não? Diga agora sem demora O mais alto que se possa: A bunda é nossa! Grande, redonda, sem igual Bela, imensa, fenomenal Símbolo da soberania nacional E se alhures inquirires O que tens ó pátria amada? A alma de orgulho inunde-se Mesmo que a plateia emude-se Erga o peito com orgulho Alegria abundante e profunda Força, coragem, vontade! Não fuja! Exclame simplesmente Yes, nós temos bunda! Ainda que o tempo mude E a pele empalideça Ou core Yes, nós temos bunda! Quod abundant non nocit!
  • 94. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 94 NEWTONSILVA SALVADOR/BA MEU SONHO DE VIDA Fofinha, te amo Fofinha, te adoro Fofinha, Meu sonho dos sonhos, querida! Princesa, Cesinha! Senhora da minha alegria Formosa Florzinha Futura, Rainha!... Estou tão feliz Sou um só sonhar Porque você Olhou pra mim Com aquele olhar De muito querer bem Me deixem sonhando Não quero acordar
  • 95. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 95 PAULOSANTANA SALVADOR/BA NOSSA BAÍA Baía de Todos-os-Santos! Baía de todos nós!? Você tem um encanto Nunca me deixa a sós Diversos lugares... Mar Grande ao Pelourinho Subindo Ladeira da Montanha Nunca estou sozinho Tecendo como aranha O olhar fixo no caminho Baía, além do carnaval... Cigano lendo mão Vendedor artesanal Diversos lugares Descida do elevador Meu coração aos ares São Salvador Lindo Mercado! Em qualquer época... Modelo, de que lado!?
  • 96. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 96 PATRÍCIADANTAS PORTOALEGRE/RS À REVELIA, ELE VIVE COM TODA A SUA MORTE Ouvi passos no corredor dos meus sonhos era um morto quase vivo que viria sem palavras o olhar que trazia era avassalador Ele o homem no sonho não necessitava de sons sua voz era de dentro corrompida pela respiração a vida toda eclipsada pelo olhar etéreo impegável como o vento tão forte que arrastava meu corpo em movimento O medo ressoava perto eu tenho alma ofegante quase tocando a pele suada se confundindo aglomerado como peças montadas pisando sutilmente na pedra fria rasgando o instinto com fogo ardente de onde não se esperava ele surgia na imensidão no espaço na relva no susto do sonho não sabia que podia se guiar nem podia dominar a argamassa volátil embaixo dos pés Derrapante no espaço se aproximou como uma brisa fria tocou meu cabelo e fez geometrias entre os dedos cambalearam seus olhos-esmeralda quase choravam acariciando os fios enterrou seu soluço dentro de si não viera para apreciar tinha pressa não havia para ele o contentamento das horas estava cansado balançava a cabeça como quem pensa em não ser mais como se pode não ser mais? – irritava o monólogo em si
  • 97. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 97 À revelia do mundo jamais se enganou nem em vida nem quando sabia que existia num tempo e espaço concreto naquele seu quarto inóspito com algumas revistas exauridas pelo manuseio tinha um cheiro de festas noitadas sombras e solidão ouvia sem suspeitas a música que ecoava das paredes do clube vizinho ele disse uma vez que lera coleções de livros dentro de suas insônias nervosas traçava as noites em reboliço no travesseiro amarelado pelo suor que escorria Em sua alma ainda reluzia beleza havia uma história não contada por medo? Insignificância? Incompreensão? sua sutil percepção anunciava algo novo que pulsava na alma fora um detento um fora da lei agora um peregrino já aguentava a vida de outras formas não soubera viver como pedem era a viagem sem volta dentro daquele homem que sabia pouco de si e que desejava ardentemente viver com toda a sua morte?
  • 98. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 98 PATRÍCIALINS SALVADOR/BA LOUCURA QUE CURA Meus olhos dizem aquilo que ninguém quer ver... Todos alegam que eles mostram o que querem fingir ver. Eu só os tenho e apenas vejo. Me recortam em mil pedaços e não me enxergam em nenhum... veem a si ou aos seus próprios dilemas e defeitos. Meu todo se reparte em mil fragmentos que nada dizem isoladamente. Meu todo só funciona e faz sentido para os que me sentem, me amam e me deixam amar. Meu todo só é todo às vezes, apenas para quem eu quero mostrar! Me divirto com os tolos que juram me identificar! Me perscrutam vagamente e afirmam aprofundar! Me ignoram, sim, eu sei. Mas, se ignoram muito mais a si, eu sei! Eu, na verdade é que bem sei. Aí, de um jeito tosco eu peço: “dá para parar?”. Ninguém me ouve... Todo mundo quer seguir o mundo que aí está. Eu? Quero ir longe, para meu mundo. Mesmo estando aqui, fisicamente, no mesmo lugar. Não adianta... não me tome, não me sente. Se não me ouvem, eu grito, berro e me agito. Culpam ao mundo e a todo mundo... Só não são capazes de “se humilhar” Reconhecer o quê? Em sua arrogância diz: “eu é que bem sei o que fazer!”.
  • 99. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 99 E me olham de novo, de um novo jeito... tudo balela, apenas para se justificar! Até quando essa arte da falta de arte de experimentar? Onde está o novo? E o velho? Onde estás tu, tatu, que nem me ouves, nem se ouves, nada ouves além de um quase tu qu nem és tu de verdade... apenas uma fraude do tudo que podes ser! É... é bem assim comigo. Não me olham, porque mal desgrudam do umbigo cego de quem ainda nem nasceu. Eu? Vou seguindo! E vocês, me vendo e ouvindo pelas fragmentações desses outros alguéns! Vão vendo, vão assim. Sei que um dia vão se encontrar contigo e consigo Torço por isso. Rezo, por vocês! Vão lá, voltem, me olhem. Olhem em meus olhos e deixem o meu olhar guiar! O que os meus olhos dizem? Ah, fala sério! É só para eles, de VERDADE, olhar! Para os cegos, fica o tato, para o tato no impalpável tocar. Sim, é ele, ser maior: meu coração, para quem vocês sempre disseram “não, não existe!”. Tanto existe que posso provar. Não... não, para vocês... vocês têm mais é que se enxergar! Depois, quem sabe eu deixe me acessar... E para o que vocês chamam de loucura Talvez seja, simplesmente, a cura do mal que na humanidade há! Não sou bem eu quem deve se elevar! O problema é esse: só querem me julgar... Bom seria se pudessem e quisessem me ajudar!
  • 100. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 100 RafaelRodrigoMarajá ARACAJU/SE PASSADO PERFEITO Fui na partida do trem O apito do homem a largar As bagagens e os braços Da saudade cortante Da casada amante Acabei como o brinquedo Querido inanimado Das tardes furtivas Do sorvete a cauda Escorrendo e sujando, fui E da água o gelo Refrigerante do sangue Da melodia a letra colada Do piano tocado pelo dom Na casa do tempo Fui a alegria da noite.
  • 101. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 101 RICARDOMIRANDAMACEDO SALVADOR/BA MUNDO ALTERNATIVO Legal, hoje o desemprego acaba! Meus diamantes vão encher aquela caixa... Mãe, traz a caixa do meu televisor! Vou banhar de ouro o calhambeque do vovô Mãe! Recebi uma carta que diz: “Todo mundo será feliz!” Tiraram a seção policial dos jornais! Dinheiro dá em árvores que não se cortam mais... Não acredito! Algumas coisas estão erradas Guerras não são mais travadas? A ganância escorreu pelo bueiro Não é possível, há paz no mundo inteiro... A fome sumiu. Não estou mentindo! Todo mundo continuará sorrindo? Os dedos não conhecem mais os gatilhos Esperança é o que resta para os nossos filhos Parece que tudo virou fantasia Para onde foi a hipocrisia? Mãe, para de me beliscar! Não posso ao menos sonhar Imaginar não é pecado Pelo menos me deixa sonhar acordado...
  • 102. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 102 RODOLFOANDRADE SãoBernardodoCampo/SP POEMA DAS MÚSICAS INTERNACIONAIS A93milhõesdemilhasdoSol(JasonMraz–93MillionMiles) Eu estou com você (Jenifer Lopez ft. Lil Wayne – I’m Into You) Eu e você... (Lady Gaga – You And I) Na beira do mar (The Kooks – Seaside) Você foi a melhor coisa que me aconteceu (Taylor Swift – Mine) E não é difícil para mim amar você (Jason Mraz – The World As I See It) Eu sempre lembrarei de você, minha querida garota (Mr. Big – Wild Word) Sempre! (Bon Jovi – Always) Baby, eu sou seu para sempre (Jason Mraz ft. Lil Wayne e Jah Cure – I’m Yours Remix) Eu estou retrocedendo com você (Jason Mraz – Kicking With You) Com você... (Chris Brown – With You) Como um nerd cor-de-rosa (Jason Mraz – Geek in the Pink) Domingo de manhã (Marron 5 – Sunday Morning) E eu oro (4 Non Blondes – What’s Up) Oh meu Deus, como eu oro! (4 Non Blondes – What’s Up) Minha doce criança (Guns N’ Roses – Sweet Child O’ Mine) É isso que você procura em um homem? (Justin Ti berlake – What Goes Around) Mais do que palavras... (Extreme – More Than Words) Meu coração agora é seu (Justin Bieber – One Time) E eu irei aonde você for. (The Calling – Wherever Will You Go)
  • 103. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 103 ROGERIOARAUJO(ROFA) SãoGonçalo/RJ OLHAR… MAIS QUE PALAVRAS Os olhos também falam São expressões de desejo Chegam antes do coração E até mesmo da razão Despertando a paixão Num encontro de olhares Penetrantes, sensuais, Fulminantes, sexuais, De cima para baixo, De baixo para cima, De frente para trás, De trás para frente, Tudo é observado Pelo ser amado Amar pelo olhar Olhar para amar Falar pelos olhos Olhos que piscam Olhos que choram Olhos que conquistam Olhos que desejam Olhos que beijam Olham que falam Mais que palavras
  • 104. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 104 RONALDOMAGELLA SantaLuzia/PB DE TUDO UM POUCO DE TI Quero apenas a eternidade de nós dois O ontem do nosso amor, o agora da nossa alegria O amanhã do sentimento, o futuro da nossa vida Quero todos os teus silêncios e as nossas palavras Os nossos planos e os nossos gestos emoldurados Nosso amor num quadro, nossa vida em retrato Nosso corpo em brasa, nosso beijo na lata Tua mão suada, teu peito ofegante, teu olhar perdido O teu melhor momento, o teu pior encanto Quero o teu tudo e o teu nada, a tua certeza E tuas dúvidas, teu medo e tua coragem, a beleza Tuas lágrimas e teus sorrisos, tuas mortes E teus renascimentos, te quero por inteiro Faltando um pouco, um pedaço, toda, desde que sejas tu Sempre assim, como eu quero, total, normal, pra sempre Quero amar os teus lábios e morder as tuas salivas Cantar tuas noites e dormir em teus dias, morrer em tua vida E viver em tua ausência o que sinto por ti e nada mais Curvar-me em tua sombra e esconder-me da tua imagem Caçar teus sentidos e prender tuas angústias E quero o que te for estranho, aprender tuas normas E seguir teus padrões, fugir das tuas regras e roubar teus sistemas Saber de ti que tanto vive em mim Quero e, por querer, quero o querer de te querer O gostar de te amar, o amor de em ti gostar Quero gostar desse amor e por esse amor amar Amar pelo sentir, sentir o que amo, o amor em ti Em ti pulsar o que sinto e sonho, o sonho pulsante
  • 105. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 105 Que pulsa em mim e desabrocha em ti, que retornas a mim Pois o amor que sinto, o gostar, o sentir, o meu viver Vivo, sinto, gosto por ti e me sinto melhor em mim Como a sede que mato, a fome que sacio, o sono da noite É em mim o amor que sinto por ti, o prazer desse gostar A força do meu pensar, a pureza de te olhar em tua total Vida.
  • 106. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 106 SARAREGINA SALVADOR/BA JERUSALÉM Cidade de Pedras Marcada por Lutas travadas com Guerras Cúpula Dourada Ilumina a terra De religiões diversas Com caminhos de pura devoção E histórias registradas nas areias Recontadas a cada geração
  • 107. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 107 SÉRGIOGUERRA SALVADOR/BA SAUDADE No cheiro dormido em minhas mãos Tento em vão recuperar o teu gozo, E busco nas sobras, na mesa da cozinha, Recuperar de ontem o perdido gosto. Por todos os vãos sobram vazios, Daquilo que fomos arrebatados, Na sua saída de banho busco, E retalhos dos sonhos esgotados. O dia rompe estraçalhando madrugadas, Recolho sobras e bolachas quebradas, Ontem portadoras de patês na festa. Bebo o frio café, amargo e forte, Resto de ti e, por minha sorte, Rio, de tudo teu é o que me resta.
  • 108. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 108 SÓIRACELESTINO SÃOPAULO/SP IMORTAL O que dizer, que sem ti, Faltam-me as palavras e o verso, Que o sol há muito perdi, Em treva e inverno imerso. A frágil rosa que teu corpo adubou, Só demonstra aquilo que tu és, Cinzas e saudades do que passou, Da explosão da vida o revés. A mim resta apenas a dor, O vazio que nada completa, Por ter sido apartado do amor, Pela morte que todo sonho deleta. Se a ti cabe a eternidade, A mim, efêmeros momentos, Diante da veracidade, Em meio há tantos tormentos. De que apenas somos pó, E a ele voltaremos, Imortal mesmo só O amor que devotemos.
  • 109. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 109 SUELILOPO SALVADOR/BA QUERIA QUE SOUBESSES Queria que soubesse que não esqueci você. E até hoje você está no meu pensamento, no meu coração, na minha alma, presente na minha vida. Queria que soubesse que sofro todos os dias a grande desilusão de ter perdido você um dia. Queria que soubesse que espero a sua volta para que minha vida volte a fazer sentido. Queria que déssemos sequência a nossa historia de amor, pois não quero que nosso amor termine como algo mal resolvido. Queria que soubesse que a melodia de uma linda música simplifica na sua voz a dor que sai do meu coração... Queria que soubesse que no palco, com a arte teatral que se manifesta em seus movimentos, suaviza o meu sofrimento. Queria que soubesse que a sua estreia é como o mar que com suas ondas quebrando na praia soa melodia. Queria que soubesse que você me encanta com tantas semelhanças a Iemanjá soberana das águas! Queria que soubesse que fico contido nesse olhar tão profundo que me atrai em um mergulho de devaneios... Queria que soubesse que sua boca... Ah! A sua boca... Comparo-a com o cálice apreciado pelo Rei Salomão... Queria que soubesse que, quando com seu amado você estava, eu apreciava um bom vinho. Queria que soubesse que assim são seus beijos, como um bom vinho penetrando em minha boca embria- gando o meu coração.
  • 110. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 110 SUZYKAMYLLA PalmeiradosÍndios/AL A BRISA Nem aplausos, Nem recompensa Que ornem de orgulho Meu efêmero ser. Nem o abraço da partida, Nem o beijo da chegada. Sem lágrima ou sorriso; Não tenho bagagem, Apenas a estrada. Não esperar é a minha espera. Fez-me leve. Faz brisa a minha vida. Sorri agora a face antes pesada. Sou dente-de-leão. Sinto a brevidade do tempo. Com um sopro; agora livre, Acompanho o vento despedaçada.
  • 111. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 111 THAIZSMILE SALVADOR/BA LUA Apaixonei-me por ti Admirei tua silhueta cheia E brilhante. Vislumbrei a noite De tão incandescente estava Sucumbi aos desejos De enamorar-me. Emite a tua luz No meu corpo Na minha alma E digas: Estarei aqui Mesmo com as mudanças Das fases da Lua A minha luz será intensa E a ti contemplarei.
  • 112. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 112 TonyFonseca cabofrio/rj EU NÃO SABIA... Eu não sabia que a amava tanto Até que conheci o sofrimento Da dor, da saudade, esse tormento Razão da minha angústia e de meu pranto Hoje, aqui, distante de seus planos Sofrendo por sentir sua partida Minha’alma só, largada, destruída É triste, remoendo seus enganos E na distância e no esquecimento Deito, não durmo, e quando me levanto Sua lembrança é só meu pensamento Pedaços de você por todo o canto Da alma cheia de arrependimento Por não saber que lhe queria tanto...
  • 113. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 113 VALÉRIASÁGUERRA Petrópolis/RJ RESQUÍCIOS ATEMPORAIS... O carro que passa é passado, ele agasalha o meu tempo. A onda do mar espuma o evento, que parece final. O meu desafio vem dessa extrema trajetória que não cessa... Ela se refaz por milenares instantes, com seus tempos desiguais. Por entre nuances e saudades, a boneca de louça se expreme... E talvez em 1927, eu tenha assistido ao filme Metropolis... Afinal aquele pretérito já foi um futuro de alguém. A porta e a janela de uma casa amarela existem em algum lugar, E de algum lugar viemos...trazendo a senda do bem e do mal. Ganhei o prêmio de teatro, a medalha poética, e vi a fuga perpétua Da morte ceifeira de entes caríssimos: Resquícios... De rodopios fugazes, onde o vento me acalentou. Atemporal sempre serei; os novos e velhos são HORIZONTES... E a evolução é um plano de Deus!
  • 114. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 114 VALÉRIAVALLE Anápolis/GO A LOBA Eu sou a outra que mora dentro de você. Costumo andar deslizando à meia-luz, Vestida de vermelho sangue quente, Na vida de um homem especial Sempre convidativa a serventias e desejos. Minhas madeixas têm todas as cores, Me alojo nos corações ciganos e desatentos. Moro no seu pensamento a todo o momento. Durmo noitadas em carne nua e pele ardente e Na minha companhia não há dias solitários. Sei esperar como ninguém que você me ligue. Sou paciente como ninguém para acolher as suas palavras. Sou kafkiana, metamorfoseio-me de sedução e aroma. Sou nutrida de chuva de sonhos e de crepúsculos da realidade. Sou o semicerrar da pálpebra lânguida Cheia de brilhos prateados que chegam em silêncio. Sou terremoto afetivo no ópio do desejo. Sou boca aberta... Um pecado não mordê-la... Macia, carnuda, molhada... Absinto... Sou gosto ardente, impensável não senti-lo. Não sou a primeira, não sou a noiva, Sou a Loba uivando nos seus desejos. Não anseio por beijos, quero mordidas. Quero garras que arranhem o meu fogo. Quero asfixiar todas as suas vontades, uma a uma... Quero realizar todos os seus desejos, um por um... Quero me esparramar no quarto do seu corpo Sem nenhum pudor... Revirar... Confessar... Não ouse existir sem mim. Sou a outra, decifre-me ou devoro você.
  • 115. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 115 VALDECKALMEIDADEJESUA SALVADOR/BA ELE SÓ TINHA AMIGOS HETEROSSEXUAI e não sentia vergonha de nenhum deles um era ladrão outro era bicheiro um era falsário o outro maconheiro um traía a esposa com o mundo inteiro um era traficante outro trambiqueiro um burlava o Fisco outro dono de puteiro um traficava órgãos outro corpo inteiro um cobrava dízimo outro fazia dinheiro um, garoto de programa outro baderneiro um explorava puta outro era cachaceiro um era separado outro era fofoqueiro ele era amigo de todos e todos eram falsos com o amigo primeiro
  • 116. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 116 VANESCAFERRIERA SALVADOR/BA BELA TARDE... Ao entrar em uma sala perfumada Deparei-me com um espelho Refletia o oposto do meu ser Do próprio eu O eu masculino Fiquei impressionada Encantada Ao vê tamanha semelhança No modo de... Agir Pensar Gostar Desejar Naquele exato momento Sentimentos adormecidos Afloraram pelo eu masculino Sem esperar nada em troca Vivo um dia após o outro Mais feliz...
  • 117. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 117 VANINACRUZ SALVADOR/BA Passageiro de Avião Por essas traves de concreto Solitude, solidão Passageiro de algum teto Passageiro de avião Essa rua que nunca deserta Sempre passa um alguém por aqui Com seus pés ligeiros, Passageiros Nem se lembra, Deixou de sorrir De onde vem Pra onde vai Qual seu preço Qual seu endereço? Remete-me à dor ao elevador da dor... Eu subo, corro, atravesso Passarela de sons Fingem que são angelicais Só porque são normais, os anormais... Avisto as traves de concreto Vejo a solitude, sinto a solidão Passa o tempo porque tudo é passageiro Passageiro de algum teto Passageiro de avião.
  • 118. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 118 WILLYFONSECA Teofilândia/BA FILHO DE EROS Faça ainda mais escrava dos meus desejos do seu corpo quero sossego me saciar em você e tocá-la além do olhar Fazê-la entrar em profundo transe Rendendo-me a seu desfrute quero ter você em mim e me render um pouco mais aos seus sentidos Quero sentir seus lábios a me tocar cada vez mais Me faz delirar sentir seu corpo até me embriagar ainda assim não matarei esta sede insana filho de Eros Deus do prazer vem e me sacie com seu toque.
  • 119.
  • 120. www.cogitoeditora.com Transformar pensamentos em realidade é o nosso compromisso. Esta obra foi impressa em ofsete sobre papel Pólen Soft 80 g/m2 na Empresa gráfica da bahia – egba para a Cogito Editora em março de 2014.