Comentário bíblico: 29° Domingo do Tempo Comum - Ano A
- TEMA: "DEUS É O ÚNICO SENHOR DA HISTÓRIA E DAS PESSOAS"
- LEITURAS BÍBLICAS (PERÍCOPES):
http://pt.slideshare.net/josejlima3/29-domingo-do-tempo-comum-ano-a-2014
- TEMAS E COMENTÁRIOS: AUTORIA: Pe. José; Bortolini, Roteiros Homiléticos, Anos A, B, C Festas e Solenidades, Editora Paulus, 3ª edição, 2007
- OUTROS:
http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=326
SOBRE LECIONÁRIOS:
- LUTERANOS: http://www.luteranos.com.br/conteudo/o-lecionario-ecumenico
- LECIONÁRIO PARA CRIANÇAS (Inglês/Espanhol): http://sermons4kids.com
- LECIONÁRIO COMUM REVISADO (Inglês):
http://www.lectionary.org/
http://www.commontexts.org/history/members.html ;
http://lectionary.library.vanderbilt.edu/
- ESPANHOL: http://www.isedet.edu.ar/publicaciones/eeh.htm (Less)
1. DEUS É O ÚNICO SENHOR DA HISTÓRIA E DAS PESSOAS
Pe. José Bortoline – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 29° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. “Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da
terra, e em Jesus Cristo… nosso Senhor… Creio no Espírito
Santo”. Essa profissão de fé assume, neste dia, dimensões
concretas nas lutas das comunidades. Nossa fé nos leva a “de-volver
a César o que é de César”, isto é, a não admitirmos
nenhum tipo de dominação, pois o Deus em quem acreditamos
é o Deus da história que quer liberdade e vida para todos.
Nossa fé nos leva a “devolver a Deus o que é de Deus”, ou
seja, a reconhecer que somente ele e seu Filho Jesus são o
Senhor de nossas vidas e da humanidade como um todo.
2. Celebramos comunitariamente a fé, cujo fruto maduro
são relações de amor e fraternidade, projetando nossa cami-nhada
na esperança rumo ao horizonte de nossa história.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Is 45,1.4-6): Deus é o Senhor da história
3. Um profeta anônimo, que costumamos chamar de Se-gundo-
Isaías (Is 40-55), encontra-se junto aos exilados em
Babilônia a fim de devolver-lhes esperança no Deus que liber-ta
e dá vida. O que lemos na liturgia deste domingo pertence a
um oráculo de investidura real. Mas não se trata de nenhum rei
de Israel. Pelo contrário, o profeta está falando de Ciro, que
governou os persas de 557 a 529 a.C. No ano 538, depois de
conquistar Babilônia, Ciro permitiu que os judeus voltassem à
própria terra e começassem a reconstruir o Templo e a cidade
de Jerusalém.
4. O profeta vê nesses acontecimentos a mão de Deus agin-do
na história do seu povo e da humanidade como um todo.
Ciro é chamado “ungido de Javé” (v. 1a), expressão que se
aplicava somente aos reis de Israel. Vencendo Babilônia e
concedendo liberdade aos exilados, esse pagão está sendo
instrumento escolhido por Deus para o estabelecimento da
justiça na história (parafraseando o evangelho, está “devol-vendo
a Deus o que é de Deus”).
5. Deus escolheu um pagão para realizar a justiça na histó-ria,
vencendo a nação opressora e concedendo liberdade aos
prisioneiros: “Tomei-o pela mão direita, para que ele esmague
as nações em sua presença e desarme completamente os reis,
de modo que se abram para ele de par em par as portas, e os
portões não lhe sejam trancados” (v. 1b). O v. 4 apresenta o
motivo pelo qual Deus age assim: “Em razão a meu servo Jacó
e a Israel, meu eleito”. O povo oprimido é o centro da atenção
de Deus, mas não seu limite. De fato, para exercer a justiça na
história Deus pode se servir de quem não pertence ao povo
escolhido. No exílio não havia Templo, nem religião oficial,
nem instituição. Isso contudo não era impedimento para que
Deus atuasse seu projeto de liberdade, mesmo que para isso
tivesse que chamar de “ungido” (messias) a um pagão que não
o conhecia (cf. vv. 4.5).
6. Os vv. 4-5 são uma espécie de rito de investidura: temos
aí o chamado (“eu te chamei por teu nome”), o título (“dei-te
um título honroso”) e a entrega das insígnias reais (“eu te dei o
poder real”). Mas o poder político é simples instrumento de
Deus para a realização da justiça na história. De fato, os vv. 4-
5 trazem duas vezes a expressão “embora não me conheces-ses”,
e encontramos também duas vezes a expressão “eu sou o
Senhor” (vv. 5.6). A ignorância de Ciro contrasta com o proje-to
calculado de Javé, e o poder do rei dos persas submete-se a
Javé, o único Deus verdadeiro capaz de fazer justiça na histó-ria.
Evangelho (Mt 22,15-21): Deus é o único Senhor da histó-ria
e das pessoas
7. O conflito entre o Mestre da Justiça e as lideranças injus-tas
chega ao ponto máximo. Os que mantêm a sociedade injus-ta
(no evangelho de hoje são os fariseus e os do partido de
Herodes) põem cerco em torno de Jesus com o objetivo de
apanhá-lo nas palavras (v. 15) para, em seguida, ter como
condená-lo. Desse confronto descobrimos quem é quem diante
do Mestre da Justiça, pois, mediante parábolas e debates, Jesus
vai mostrando a sentença que pesa sobre os que dão sustenta-ção
à sociedade fundada na injustiça.
8. Os fariseus são muito espertos e não querem se expor
diretamente. Por isso instruem seus discípulos que, junto com
alguns do partido de Herodes, propõem a Jesus a questão da
liceidade do imposto ao imperador.
9. Sabemos que os do partido de Herodes apoiavam a do-minação
dos romanos na Palestina. Os fariseus, por sua vez,
ficavam em cima do muro, pois haviam encontrado uma saída
acomodada: somos dominados, mas isso não impede que con-tinuemos
sendo fiéis a Deus, pois temos uma Lei, e se formos
fiéis a ela estaremos sendo fiéis a Deus.
10. Esse grupo heterogêneo se apresenta a Jesus elogiando-lhe
a fidelidade na interpretação da Lei e a liberdade com que
age em relação às pessoas: “Mestre, sabemos que és verdadei-ro
e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas
influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem
pelas aparências” (v. 16b). O elogio revela uma verdade, em-bora
tenha sido feito com a intenção de apanhar Jesus em
alguma palavra.
11. Os discípulos dos fariseus e os do partido de Herodes
querem um conselho autorizado de Jesus a respeito do imposto
cobrado pelos dominadores: “Dize-nos, pois, o que pensas: É
lícito ou não pagar imposto a César?” (v. 17).
12. O imposto, ou tributo, era o maior sinal de dominação.
Os que mantêm a sociedade injusta montaram contra o Mestre
da Justiça uma armadilha quase infalível: se Jesus responder
que se deve pagar o imposto cobrado pelo imperador, estará
traindo as expectativas populares por liberdade e vida e legi-timando,
por aquilo que havia de mais sagrado, a opressão. Se
ele afirmar que não se deve pagar, certamente será preso e
condenado como subversivo da “paz romana”.
13. Jesus responde em dois momentos. Em primeiro lugar,
desmascara a falsidade dos discípulos dos fariseus e dos parti-dários
de Herodes: “Ele percebeu a maldade deles e disse:
‘Hipócritas! Por que me preparam uma armadilha?’ ” (v. 18).
“Preparar uma armadilha”, em grego, se diz peirazein. É a
mesma palavra que Mateus usa para falar das ações do diabo
quando tenta Jesus no deserto (cf. 4,1). Jesus não pode esperar
outra coisa dos que sustentam uma sociedade injusta senão
ações que, apesar de maquiladas com verniz de religião, são
expressão da própria ação do diabo.
14. Em seguida, Jesus pede que lhe mostrem uma moeda do
imposto (v. 19). Interrogados, os que pretendiam armar uma
cilada ao Mestre da Justiça caem na contradição ao reconhece-rem
que o dono daquela moeda é o imperador (v. 21a). O
judeu piedoso tinha horror disso, pois a moeda trazia o rosto
2. de César com seus títulos divinos. A imagem do imperador
nas moedas transgredia o primeiro mandamento, assim descri-to
em Ex 20,4: “Não faça para você ídolos, nenhuma represen-tação
daquilo que existe no céu e na terra, ou nas águas que
estão debaixo da terra” (cf. também Dt 6,4: “Ouça, Israel! Javé
nosso Deus é o único Javé”). Não sabemos se foi coincidência,
mas os adversários de Jesus tinham uma moeda, sinal de que
estavam comprometidos com o sistema…
15. Jesus não aprova a dominação do imperador sobre o
povo. E pede que “devolvam a César o que é de César, e de-volvam
a Deus o que é de Deus” (v. 21b). Os adversários de
Jesus perguntam se é lícito pagar. O Mestre da Justiça respon-de
que é preciso devolver (o verbo devolver traduz melhor o
sentido do que o verbo dar) a cada um o que lhe pertence. O
povo pertence a Deus, pois o ser humano foi feito à sua ima-gem
e semelhança (cf. Gn 1,27). Só Deus pode ser considera-do
Senhor das pessoas e do mundo, e ninguém mais, pois em
cada um foi estampada a imagem do Deus da liberdade e da
vida.
16. Os que mantêm a sociedade injusta crêem que é possível
ser fiel a Deus conservando-se ligados a um sistema que opri-me.
E por meio de pretextos tentam legitimar suas posições.
Querem saber do Mestre da Justiça se é lícito ou não pagar.
Ele, porém, responde que é necessário não só deixar de pagar,
mas também sair da dependência econômica. Se os que susten-tam
a sociedade injusta não reconhecerem o imperador como
senhor, não terão necessidade de lhe pagar tributos.
17. Com certeza aquela moeda não apareceu por acaso. Os
fariseus e partidários de Herodes estavam comprometidos com
o sistema opressor e dele se beneficiavam. Era-lhes vantajoso
o povo continuar dependente do poder romano. Em nome de
Deus legitimavam a exploração econômica do povo por sabe-rem
tirar vantagens disso. “Quando forem capazes de renunci-ar
a esse dinheiro e à riqueza de que estão interessados, então
poderão ser fiéis a Deus, a quem devem devolver o povo que
lhe roubaram” (J. Mateos-F. Camacho).
18. Disso tudo deduzimos que a opressão dos romanos sobre
o povo judeu não se faz sem a colaboração dos dirigentes
apegados à ambição e ganância pelo lucro fácil. E por isso
pesa sobre eles o julgamento de Deus. Portanto, o que signifi-ca
seguir o Mestre da Justiça numa sociedade onde poucos
dominam e mantêm cativa a maioria do povo? “Cristão é a-quele
que denuncia todo regime, pessoa ou estrutura que im-pede
ao homem ser ele próprio, isto é, ‘imagem de Deus’ na
liberdade e na justiça” (G. Ravasi). Devolver a César o que é
de César é, portanto, dizer não a todo poder que se absolutiza,
gerando exploração e dominação. E devolver a Deus o que é
de Deus é lutar para que todos tenham liberdade e vida, sejam
quais forem as formas de dominação e de morte.
2ª leitura (1Ts 1,1-5): Povo organizado em torno de Deus
Pai e do Senhor Jesus Cristo
19. 1Ts é o primeiro livro escrito do Novo Testamento. A
carta foi escrita por Paulo com a colaboração de Silvano e
Timóteo na cidade de Corinto em torno do ano 51 da nossa
era. Paulo teve que fugir de Tessalônica para salvar a própria
vida. Pouco tempo depois, enviou para lá Timóteo a fim de
saber como estavam os que haviam abraçado o Evangelho por
ele anunciado. Timóteo voltou com boas notícias e isso levou
Paulo a escrever o primeiro texto do Novo Testamento.
20. Os tessalonicenses são chamados de Igreja, e essa pala-vra
significa uma comunidade organizada e unida em torno de
objetivos claros e de lutas específicas. De fato, estudos recen-tes
afirmam que a maioria dos fiéis de Tessalônica eram pes-soas
empobrecidas e exploradas. O Evangelho é, para eles, a
boa notícia da libertação em Jesus Cristo.
21. A comunidade de Tessalônica se organizou a partir da
catequese fundamental de Paulo e seus companheiros. O cen-tro
de sua organização é o projeto de Deus manifestado na
pessoa de Jesus morto e ressuscitado. É por isso que Paulo
chama os tessalonicenses de “Igreja em Deus Pai e no Senhor
Jesus Cristo”, desejando-lhes graça e paz, isto é, a plenitude da
presença de Deus que gera vida em abundância para o povo (v.
1). Os líderes dessa comunidade que gera o novo na história
são o Pai e Jesus, proclamado Senhor, em oposição a César,
que se faz passar por Deus.
22. Os versículos seguintes (2-4) fazem parte de uma ação de
graças. É o modo como Paulo começa a maioria de suas car-tas.
Descobrimos que ele agradece a Deus a fé, o amor e a
esperança dos tessalonicenses. Encontramos aí a síntese da
vida cristã. Em primeiro lugar a fé que é, fundamentalmente, a
adesão a Jesus morto e ressuscitado. A seguir vem o amor
(caridade) que é a forma como a fé se traduz na vida de uma
comunidade: ela gera novas relações entre as pessoas, e essas
relações têm como eixo o amor que transforma a realidade.
Por fim vem a esperança, que não fecha a comunidade em si
mesma; pelo contrário, projeta-a no horizonte da história, ao
encontro da realização plena do projeto de Deus. A esperança
é a mística que anima a caminhada dos tessalonicenses e de
todas as comunidades.
23. O último versículo da leitura deste domingo (v. 5) fala da
presença do Espírito que anima a catequese e o progresso da
evangelização. Se levarmos em conta o que nos relatam os
Atos dos Apóstolos, Paulo e Silvano chegaram a Tessalônica
com as marcas das torturas sofridas em Filipos. O que levou os
tessalonicenses a acreditar nas palavras de pessoas que se
apresentam dessa forma? Para Paulo, é evidente que o Espírito
Santo vai conduzindo a evangelização, sensibilizando as pes-soas
e dando credibilidade à palavra de quem, à primeira vista,
não merecia consideração. É o Espírito quem dá força e confe-re
eficácia ao Evangelho.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
24. Deus é o único Senhor da história e das pessoas, e se serve de pessoas para criar uma sociedade onde
todos possam ter liberdade e vida (cf. 1ª leitura, (Is 45,1.4-6). Ele não quer opressões, pois o ser humano foi
feito à sua imagem e semelhança (cf. evangelho, Mt 22,15-21). “Cristão é aquele que denuncia todo regi-me,
pessoa ou estrutura que impede ao homem ser ele próprio, isto é, ‘imagem de Deus’ na liberdade e na
justiça”. O que significa, hoje, “devolver a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”?
25. Ser Igreja é ser povo organizado e unido em torno de objetivos claros e lutas específicas (cf. 2ª leitura,
1Ts 1,1-5). Quais são as realidades que exigem organização e luta? Cremos que Deus Pai, Jesus e o Espíri-to
Santo caminham conosco sustentando nossa esperança? Em que consiste a nossa missão de cristãos no
mundo atual? Já conseguimos traduzir a fé em atos de amor?