SlideShare a Scribd company logo
1 of 33
Monsaraz
no Alentejo
clicar para mudar de slide
AldeiaAldeia
Nove casasNove casas
duas ruasduas ruas
um largoum largo
ao meio do largoao meio do largo
um poço deum poço de áágua fria.gua fria.
Tudo isto tão paradoTudo isto tão parado
e o céu tão baixoe o céu tão baixo
que quando alguém grita para longeque quando alguém grita para longe
um nome familiarum nome familiar
se assustam pombros bravosse assustam pombros bravos
e acordam ecos no descampadoe acordam ecos no descampado
Manuel da FonsecaManuel da Fonseca
tenho duas casas paralelastenho duas casas paralelas
a circular em planos paralelosa circular em planos paralelos
nunca se tocam?nunca se tocam?
por cima das nuvens por baixo da terrapor cima das nuvens por baixo da terra
as duas casas deslocam-seas duas casas deslocam-se
em cartilagens invisem cartilagens invisííveis aproximam-seveis aproximam-se
da honra paralelas aproximam-seda honra paralelas aproximam-se
do aroma paralelas aproximam-sedo aroma paralelas aproximam-se
do encontro marcado do infinitodo encontro marcado do infinito
fixo dois sfixo dois sóóis abro os dois braçosis abro os dois braços
e com uma casa em cada braçoe com uma casa em cada braço
aponto as duas casas aos dois horizontesaponto as duas casas aos dois horizontes
e tento junte tento juntáá-las-las
com o movimento magnéticocom o movimento magnético
da linha escrita nas palmasda linha escrita nas palmas
Paulo CondessaPaulo Condessa
o céu dentro da bocao céu dentro da boca
ALENTEJOALENTEJO
A luz que te ilumina,A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinhaA paz que se adivinha
Na tua solidãoNa tua solidão
Que nenhuma mesquinhaQue nenhuma mesquinha
CondiçãoCondição
Pode compreender e povoar!Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidãoO mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminhaOnde o tempo caminha
Sem chegar!...Sem chegar!...
Miguel TorgaMiguel Torga
DiDiáário XIIrio XII, 20 de Outubro de 1974, 20 de Outubro de 1974
Casas no sol
A casa é branca, branca de cal (que de todos os
brancos é o único que é branco), debruada de azul, por ser à
beira-mar a cor da alegria. Branca e fechada – não vá o sol
que arde nos telhados penetrar insidiosamente por alguma
fresta e incendiar o silêncio melindroso da alcova. A
obscuridade quase não consente a contemplação do rosto
infantil que ali dorme até ao sol ter amansado. Só então
desperta e se refugia nos braços que já o esperam.
Por este rapazito serias capaz de correr o mundo a pé-
coxinho, se ele to pedisse, ou de entrar pelo buraco da
fechadura só para o veres dormir.
Eugénio de Andrade
Vertentes do Olhar
Toda a aldeia era feita de um tempo muitoToda a aldeia era feita de um tempo muito
antigo. Nas casas, nas ruas, nos usos e nosantigo. Nas casas, nas ruas, nos usos e nos
costumes. Mesmo os corpos dos aldeões, nocostumes. Mesmo os corpos dos aldeões, no
jeito especial de os utilizarem, tinham tambémjeito especial de os utilizarem, tinham também
um toque rude e primitivo. O modo de andar,um toque rude e primitivo. O modo de andar,
por exemplo, era desengonçado e langão, comopor exemplo, era desengonçado e langão, como
se levassem às costas a sua carga de séculos.se levassem às costas a sua carga de séculos.
Mas era sobretudo nas casas que o peso doMas era sobretudo nas casas que o peso do
tempo mais se sentia. A gente olhava-as e viatempo mais se sentia. A gente olhava-as e via
logo que tinham sido casas construidas nologo que tinham sido casas construidas no
eterno.eterno.
VergVergíílio Ferreiralio Ferreira
Uma Esplanada sobre o MarUma Esplanada sobre o Mar
O sol às casas, como a montes,O sol às casas, como a montes,
Vagamente doura.Vagamente doura.
Na cidade sem horizontesNa cidade sem horizontes
Uma tristeza loura.Uma tristeza loura.
Como a sombra da tarde desceComo a sombra da tarde desce
E um pouco dE um pouco dóóii
Porque quando é tardePorque quando é tarde
Tudo quanto foi.Tudo quanto foi.
Nesta hora mais que em outra choroNesta hora mais que em outra choro
O que perdi.O que perdi.
Em cinza e ouro o rememoroEm cinza e ouro o rememoro
E nunca o vi.E nunca o vi.
Felicidade por nascer,Felicidade por nascer,
MMáágoa a acabar,goa a acabar,
Ânsia de sÂnsia de sóó aquilo seraquilo ser
Que hQue háá de ficar –de ficar –
Sussurro sem que se ouça, palmaSussurro sem que se ouça, palma
Da isenção.Da isenção.
ÓÓ tarde, fica noite, e almatarde, fica noite, e alma
Tenha perdão.Tenha perdão.
Fernando Pessoa
Cancioneiro
Inverno, manhã cedo. A luz que banhaInverno, manhã cedo. A luz que banha
A paisagem é gélida e cinzenta;A paisagem é gélida e cinzenta;
A vaga pompa do cenária ostenta,A vaga pompa do cenária ostenta,
Ao largo, as serras húmidas de Espanha.Ao largo, as serras húmidas de Espanha.
Hortas, vinhedos e a carcaça estranhaHortas, vinhedos e a carcaça estranha
De Monsaraz, numa ascensão violenta;De Monsaraz, numa ascensão violenta;
A erva tenrinha os gados apascenta,A erva tenrinha os gados apascenta,
Que em tons de bronze a terra desentranha.Que em tons de bronze a terra desentranha.
E eu olho essa paisagem dolorida,E eu olho essa paisagem dolorida,
Testemunha que foi da minha vida,Testemunha que foi da minha vida,
Povoada agora de visões errantes....Povoada agora de visões errantes....
Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,
Que os seus olhos longínquos, rasos de água,Que os seus olhos longínquos, rasos de água,
São hoje os mesmos que me olhavam dantes.São hoje os mesmos que me olhavam dantes.
Antonio de Macedo PapançaAntonio de Macedo Papança
(Conde de Monsaraz(Conde de Monsaraz))
Não basta abrir a janelaNão basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cegoNão é bastante não ser cego
Para ver asPara ver as áárvores e as flores.rvores e as flores.
ÉÉ preciso também não ter filosofia nenhuma.preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não hCom filosofia não háá áárvores: hrvores: háá ideias apenas.ideias apenas.
HHáá ssóó cada um de ncada um de nóós, como uma cave.s, como uma cave.
HHáá ssóó uma janela fechada, e todo o mundo luma janela fechada, e todo o mundo láá fora;fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto CaeiroAlberto Caeiro
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver o Universo …
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura …
Alberto Caeiro
MIRADOIROMIRADOIRO
Não sei se vês, como eu vejo,Não sei se vês, como eu vejo,
Pacificado,Pacificado,
Cair a tardeCair a tarde
SerenaSerena
Sobre o vale,Sobre o vale,
Sobre o rio,Sobre o rio,
Sobre os montesSobre os montes
E sobre a quietaçãoE sobre a quietação
Espraiada da cidade.Espraiada da cidade.
Nos teus olhos não hNos teus olhos não háá serenidadeserenidade
Que o deixe entender.Que o deixe entender.
Vibram na lassidão da claridade.Vibram na lassidão da claridade.
E o lE o líírico poema que me acontecerrico poema que me acontecer
VirViráá toldado de melancolia,toldado de melancolia,
Porque daqui a pouco toda a poesiaPorque daqui a pouco toda a poesia
Vai anoitecer.Vai anoitecer.
Miguel TorgaMiguel Torga
Diario XIVDiario XIV, 5 de setembro de 1986, 5 de setembro de 1986
Fotografias : Agnès Levécot
21 de Abril de 2009

More Related Content

What's hot

Intervenção 003 africa¹ (material)
Intervenção 003   africa¹ (material)Intervenção 003   africa¹ (material)
Intervenção 003 africa¹ (material)
Lucas Grima
 
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...
librarian
 
Encarte - Douglas Germano
Encarte - Douglas GermanoEncarte - Douglas Germano
Encarte - Douglas Germano
alfeuRIO
 
Legendas2
Legendas2Legendas2
Legendas2
shakti5
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3
crepalmela
 

What's hot (19)

Livro de poesia plnm 2b
Livro de poesia  plnm 2bLivro de poesia  plnm 2b
Livro de poesia plnm 2b
 
Poesias 7
Poesias 7Poesias 7
Poesias 7
 
Ameopoema op ed 0003 jun 2015
Ameopoema op ed 0003 jun 2015Ameopoema op ed 0003 jun 2015
Ameopoema op ed 0003 jun 2015
 
04ago14
 04ago14  04ago14
04ago14
 
Intervenção 003 africa¹ (material)
Intervenção 003   africa¹ (material)Intervenção 003   africa¹ (material)
Intervenção 003 africa¹ (material)
 
Romantismo - Gerações Poéticas
Romantismo - Gerações PoéticasRomantismo - Gerações Poéticas
Romantismo - Gerações Poéticas
 
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...
 
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHAO POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
 
Encarte - Douglas Germano
Encarte - Douglas GermanoEncarte - Douglas Germano
Encarte - Douglas Germano
 
Apresentação poesia1
Apresentação poesia1Apresentação poesia1
Apresentação poesia1
 
Legendas2
Legendas2Legendas2
Legendas2
 
25 a2008 poesia
25 a2008 poesia25 a2008 poesia
25 a2008 poesia
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
 
Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino SchneiderPoemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider
 
Poemas del -portugal
Poemas   del -portugalPoemas   del -portugal
Poemas del -portugal
 
Lenison
LenisonLenison
Lenison
 
quotidiano
quotidiano quotidiano
quotidiano
 
Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3
 

Viewers also liked

Benção das rosas com a letra
Benção das rosas com a letraBenção das rosas com a letra
Benção das rosas com a letra
jmpcard
 
Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản
Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản
Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản
Anh Dũng Huỳnh
 
Assignment 2
Assignment 2Assignment 2
Assignment 2
SabrinaM3
 
Meediavahendid
MeediavahendidMeediavahendid
Meediavahendid
Annika Aas
 
Os ninhos
Os ninhosOs ninhos
Os ninhos
jmpcard
 
Carros eletricos by Qualita
Carros eletricos by QualitaCarros eletricos by Qualita
Carros eletricos by Qualita
westdragon
 
лес и человек
лес и человеклес и человек
лес и человек
barmadov
 
Sie3
Sie3Sie3
Sie3
f1989
 
Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1
Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1
Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1
Mascha van Zijverden
 
Caixinha de promessas
Caixinha de promessasCaixinha de promessas
Caixinha de promessas
jmpcard
 

Viewers also liked (20)

Input do wikistedia
Input do wikistediaInput do wikistedia
Input do wikistedia
 
comercio electronico
comercio electronicocomercio electronico
comercio electronico
 
Hablame del mar marinero
Hablame del mar marineroHablame del mar marinero
Hablame del mar marinero
 
Benção das rosas com a letra
Benção das rosas com a letraBenção das rosas com a letra
Benção das rosas com a letra
 
台灣婚紗店 -台南莎士比亞婚紗攝影--中國十大度蜜月推薦
台灣婚紗店 -台南莎士比亞婚紗攝影--中國十大度蜜月推薦台灣婚紗店 -台南莎士比亞婚紗攝影--中國十大度蜜月推薦
台灣婚紗店 -台南莎士比亞婚紗攝影--中國十大度蜜月推薦
 
Hackeando tu CMS
Hackeando tu CMSHackeando tu CMS
Hackeando tu CMS
 
Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản
Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản
Phần 2 : Các điều kiện cần có của sàn giao dịch bất động sản
 
Assignment 2
Assignment 2Assignment 2
Assignment 2
 
A lista
A listaA lista
A lista
 
Meediavahendid
MeediavahendidMeediavahendid
Meediavahendid
 
La Angulación
La AngulaciónLa Angulación
La Angulación
 
Os ninhos
Os ninhosOs ninhos
Os ninhos
 
Carros eletricos by Qualita
Carros eletricos by QualitaCarros eletricos by Qualita
Carros eletricos by Qualita
 
лес и человек
лес и человеклес и человек
лес и человек
 
Sie3
Sie3Sie3
Sie3
 
Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1
Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1
Mascha Van Zijverden_Graduation Thesis and Project_ MEiA 2016_ digital version 1
 
Família
FamíliaFamília
Família
 
Caixinha de promessas
Caixinha de promessasCaixinha de promessas
Caixinha de promessas
 
Cedula de la Villa de Aras
Cedula de la Villa de ArasCedula de la Villa de Aras
Cedula de la Villa de Aras
 
Cercare lavoro o Creare lavoro (ICTDays 2013)
Cercare lavoro o Creare lavoro (ICTDays 2013)Cercare lavoro o Creare lavoro (ICTDays 2013)
Cercare lavoro o Creare lavoro (ICTDays 2013)
 

Similar to Monsaraz

Cancioneiro - Fernando Pessoa -
Cancioneiro - Fernando Pessoa -Cancioneiro - Fernando Pessoa -
Cancioneiro - Fernando Pessoa -
frodemandacaru
 
Jose Gomes Ferreira
Jose Gomes FerreiraJose Gomes Ferreira
Jose Gomes Ferreira
timtim100
 
Alguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andradeAlguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andrade
mariliarosa
 
Figuras de Linguagem
Figuras de LinguagemFiguras de Linguagem
Figuras de Linguagem
Jairo Coêlho
 

Similar to Monsaraz (20)

Monsaraz
MonsarazMonsaraz
Monsaraz
 
Fernando pessoa
Fernando pessoaFernando pessoa
Fernando pessoa
 
31
3131
31
 
Fernando pessoa poema
Fernando pessoa   poemaFernando pessoa   poema
Fernando pessoa poema
 
Cancioneiro - Fernando Pessoa -
Cancioneiro - Fernando Pessoa -Cancioneiro - Fernando Pessoa -
Cancioneiro - Fernando Pessoa -
 
Poema de mil faces
Poema de mil facesPoema de mil faces
Poema de mil faces
 
Poetas da I República
Poetas da I RepúblicaPoetas da I República
Poetas da I República
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
Romantismo
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
Romantismo
 
Jose Gomes Ferreira
Jose Gomes FerreiraJose Gomes Ferreira
Jose Gomes Ferreira
 
A poesia e a música
A poesia e a músicaA poesia e a música
A poesia e a música
 
Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014
 
Sobre as Asas
Sobre as AsasSobre as Asas
Sobre as Asas
 
TOMA LÁ! - Série I - 2010-2011 - Prof.ª Conceição Ludovino
TOMA LÁ! - Série I - 2010-2011 - Prof.ª Conceição LudovinoTOMA LÁ! - Série I - 2010-2011 - Prof.ª Conceição Ludovino
TOMA LÁ! - Série I - 2010-2011 - Prof.ª Conceição Ludovino
 
Alguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andradeAlguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andrade
 
EMBRULHO DE LETRAS
EMBRULHO DE LETRASEMBRULHO DE LETRAS
EMBRULHO DE LETRAS
 
EMBRULHO DE LETRAS
EMBRULHO DE LETRASEMBRULHO DE LETRAS
EMBRULHO DE LETRAS
 
Livro ebook
Livro ebookLivro ebook
Livro ebook
 
EMBRULHO DE LETRAS
EMBRULHO DE LETRASEMBRULHO DE LETRAS
EMBRULHO DE LETRAS
 
Figuras de Linguagem
Figuras de LinguagemFiguras de Linguagem
Figuras de Linguagem
 

More from jmpcard (20)

Agora
AgoraAgora
Agora
 
O bem-volta-para-voce
O bem-volta-para-voceO bem-volta-para-voce
O bem-volta-para-voce
 
A felicidade anda_por_ai
A felicidade anda_por_aiA felicidade anda_por_ai
A felicidade anda_por_ai
 
Ano novo. . um novo começo
Ano novo. . um novo começoAno novo. . um novo começo
Ano novo. . um novo começo
 
A arte de estar com o outro
A arte de estar com o outroA arte de estar com o outro
A arte de estar com o outro
 
Como arvores
Como arvoresComo arvores
Como arvores
 
Pinturas e reflexoes
Pinturas e reflexoesPinturas e reflexoes
Pinturas e reflexoes
 
Tocando em frente
Tocando em frenteTocando em frente
Tocando em frente
 
Viva o agora
Viva o agoraViva o agora
Viva o agora
 
Para viver melhor
Para viver melhorPara viver melhor
Para viver melhor
 
Fragmentos
FragmentosFragmentos
Fragmentos
 
08 goteira
08 goteira08 goteira
08 goteira
 
Um olhar diferente parte 14 (c.m)
Um olhar diferente parte 14 (c.m)Um olhar diferente parte 14 (c.m)
Um olhar diferente parte 14 (c.m)
 
Janelas de lisboa e antónio gedeão
Janelas de lisboa e antónio gedeãoJanelas de lisboa e antónio gedeão
Janelas de lisboa e antónio gedeão
 
Veiculos estranhos
Veiculos estranhosVeiculos estranhos
Veiculos estranhos
 
Italia
Italia Italia
Italia
 
Fotos a Preto e Branco
Fotos a Preto e BrancoFotos a Preto e Branco
Fotos a Preto e Branco
 
Mic jane perkins - kidobott tárgyakból
Mic jane perkins - kidobott tárgyakbólMic jane perkins - kidobott tárgyakból
Mic jane perkins - kidobott tárgyakból
 
Pelas portas do coracao
Pelas portas do coracaoPelas portas do coracao
Pelas portas do coracao
 
07 fruta
07 fruta07 fruta
07 fruta
 

Monsaraz

  • 2.
  • 3. AldeiaAldeia Nove casasNove casas duas ruasduas ruas um largoum largo ao meio do largoao meio do largo um poço deum poço de áágua fria.gua fria. Tudo isto tão paradoTudo isto tão parado e o céu tão baixoe o céu tão baixo que quando alguém grita para longeque quando alguém grita para longe um nome familiarum nome familiar se assustam pombros bravosse assustam pombros bravos e acordam ecos no descampadoe acordam ecos no descampado Manuel da FonsecaManuel da Fonseca
  • 4.
  • 5.
  • 6. tenho duas casas paralelastenho duas casas paralelas a circular em planos paralelosa circular em planos paralelos nunca se tocam?nunca se tocam? por cima das nuvens por baixo da terrapor cima das nuvens por baixo da terra as duas casas deslocam-seas duas casas deslocam-se em cartilagens invisem cartilagens invisííveis aproximam-seveis aproximam-se da honra paralelas aproximam-seda honra paralelas aproximam-se do aroma paralelas aproximam-sedo aroma paralelas aproximam-se do encontro marcado do infinitodo encontro marcado do infinito fixo dois sfixo dois sóóis abro os dois braçosis abro os dois braços e com uma casa em cada braçoe com uma casa em cada braço aponto as duas casas aos dois horizontesaponto as duas casas aos dois horizontes e tento junte tento juntáá-las-las com o movimento magnéticocom o movimento magnético da linha escrita nas palmasda linha escrita nas palmas Paulo CondessaPaulo Condessa o céu dentro da bocao céu dentro da boca
  • 7.
  • 8. ALENTEJOALENTEJO A luz que te ilumina,A luz que te ilumina, Terra da cor dos olhos de quem olha!Terra da cor dos olhos de quem olha! A paz que se adivinhaA paz que se adivinha Na tua solidãoNa tua solidão Que nenhuma mesquinhaQue nenhuma mesquinha CondiçãoCondição Pode compreender e povoar!Pode compreender e povoar! O mistério da tua imensidãoO mistério da tua imensidão Onde o tempo caminhaOnde o tempo caminha Sem chegar!...Sem chegar!... Miguel TorgaMiguel Torga DiDiáário XIIrio XII, 20 de Outubro de 1974, 20 de Outubro de 1974
  • 9.
  • 10.
  • 11. Casas no sol A casa é branca, branca de cal (que de todos os brancos é o único que é branco), debruada de azul, por ser à beira-mar a cor da alegria. Branca e fechada – não vá o sol que arde nos telhados penetrar insidiosamente por alguma fresta e incendiar o silêncio melindroso da alcova. A obscuridade quase não consente a contemplação do rosto infantil que ali dorme até ao sol ter amansado. Só então desperta e se refugia nos braços que já o esperam. Por este rapazito serias capaz de correr o mundo a pé- coxinho, se ele to pedisse, ou de entrar pelo buraco da fechadura só para o veres dormir. Eugénio de Andrade Vertentes do Olhar
  • 12.
  • 13.
  • 14. Toda a aldeia era feita de um tempo muitoToda a aldeia era feita de um tempo muito antigo. Nas casas, nas ruas, nos usos e nosantigo. Nas casas, nas ruas, nos usos e nos costumes. Mesmo os corpos dos aldeões, nocostumes. Mesmo os corpos dos aldeões, no jeito especial de os utilizarem, tinham tambémjeito especial de os utilizarem, tinham também um toque rude e primitivo. O modo de andar,um toque rude e primitivo. O modo de andar, por exemplo, era desengonçado e langão, comopor exemplo, era desengonçado e langão, como se levassem às costas a sua carga de séculos.se levassem às costas a sua carga de séculos. Mas era sobretudo nas casas que o peso doMas era sobretudo nas casas que o peso do tempo mais se sentia. A gente olhava-as e viatempo mais se sentia. A gente olhava-as e via logo que tinham sido casas construidas nologo que tinham sido casas construidas no eterno.eterno. VergVergíílio Ferreiralio Ferreira Uma Esplanada sobre o MarUma Esplanada sobre o Mar
  • 15.
  • 16.
  • 17. O sol às casas, como a montes,O sol às casas, como a montes, Vagamente doura.Vagamente doura. Na cidade sem horizontesNa cidade sem horizontes Uma tristeza loura.Uma tristeza loura. Como a sombra da tarde desceComo a sombra da tarde desce E um pouco dE um pouco dóóii Porque quando é tardePorque quando é tarde Tudo quanto foi.Tudo quanto foi. Nesta hora mais que em outra choroNesta hora mais que em outra choro O que perdi.O que perdi. Em cinza e ouro o rememoroEm cinza e ouro o rememoro E nunca o vi.E nunca o vi. Felicidade por nascer,Felicidade por nascer, MMáágoa a acabar,goa a acabar, Ânsia de sÂnsia de sóó aquilo seraquilo ser Que hQue háá de ficar –de ficar – Sussurro sem que se ouça, palmaSussurro sem que se ouça, palma Da isenção.Da isenção. ÓÓ tarde, fica noite, e almatarde, fica noite, e alma Tenha perdão.Tenha perdão. Fernando Pessoa Cancioneiro
  • 18.
  • 19.
  • 20. Inverno, manhã cedo. A luz que banhaInverno, manhã cedo. A luz que banha A paisagem é gélida e cinzenta;A paisagem é gélida e cinzenta; A vaga pompa do cenária ostenta,A vaga pompa do cenária ostenta, Ao largo, as serras húmidas de Espanha.Ao largo, as serras húmidas de Espanha. Hortas, vinhedos e a carcaça estranhaHortas, vinhedos e a carcaça estranha De Monsaraz, numa ascensão violenta;De Monsaraz, numa ascensão violenta; A erva tenrinha os gados apascenta,A erva tenrinha os gados apascenta, Que em tons de bronze a terra desentranha.Que em tons de bronze a terra desentranha. E eu olho essa paisagem dolorida,E eu olho essa paisagem dolorida, Testemunha que foi da minha vida,Testemunha que foi da minha vida, Povoada agora de visões errantes....Povoada agora de visões errantes.... Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a, Que os seus olhos longínquos, rasos de água,Que os seus olhos longínquos, rasos de água, São hoje os mesmos que me olhavam dantes.São hoje os mesmos que me olhavam dantes. Antonio de Macedo PapançaAntonio de Macedo Papança (Conde de Monsaraz(Conde de Monsaraz))
  • 21.
  • 22.
  • 23.
  • 24. Não basta abrir a janelaNão basta abrir a janela Para ver os campos e o rio.Para ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cegoNão é bastante não ser cego Para ver asPara ver as áárvores e as flores.rvores e as flores. ÉÉ preciso também não ter filosofia nenhuma.preciso também não ter filosofia nenhuma. Com filosofia não hCom filosofia não háá áárvores: hrvores: háá ideias apenas.ideias apenas. HHáá ssóó cada um de ncada um de nóós, como uma cave.s, como uma cave. HHáá ssóó uma janela fechada, e todo o mundo luma janela fechada, e todo o mundo láá fora;fora; E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. Alberto CaeiroAlberto Caeiro
  • 25.
  • 26.
  • 27.
  • 28. Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver o Universo … Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura … Alberto Caeiro
  • 29.
  • 30.
  • 31. MIRADOIROMIRADOIRO Não sei se vês, como eu vejo,Não sei se vês, como eu vejo, Pacificado,Pacificado, Cair a tardeCair a tarde SerenaSerena Sobre o vale,Sobre o vale, Sobre o rio,Sobre o rio, Sobre os montesSobre os montes E sobre a quietaçãoE sobre a quietação Espraiada da cidade.Espraiada da cidade. Nos teus olhos não hNos teus olhos não háá serenidadeserenidade Que o deixe entender.Que o deixe entender. Vibram na lassidão da claridade.Vibram na lassidão da claridade. E o lE o líírico poema que me acontecerrico poema que me acontecer VirViráá toldado de melancolia,toldado de melancolia, Porque daqui a pouco toda a poesiaPorque daqui a pouco toda a poesia Vai anoitecer.Vai anoitecer. Miguel TorgaMiguel Torga Diario XIVDiario XIV, 5 de setembro de 1986, 5 de setembro de 1986
  • 32.
  • 33. Fotografias : Agnès Levécot 21 de Abril de 2009